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DOCÊNCIA EM SAÚDE LABIRINTOPATIA 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842l Labirintopatia / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 113p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-548-1 1. Sistema vestibular. 2. Labirintite. Atuação fonoaudiológica I. Portal Educação. II. Título. CDD 617.882 2 SUMÁRIO 1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA VESTIBULAR ........................................................ 3 1.1 ORELHA INTERNA .................................................................................................................... 5 1.2 INERVAÇÃO ............................................................................................................................. 16 1.3 IRRIGAÇÃO .............................................................................................................................. 17 2 NÚCLEOS VESTIBULARES .................................................................................................... 20 2.1 CEREBELO ............................................................................................................................... 20 2.2 CONTROLE POSTURAL .......................................................................................................... 21 2.3 EQUILÍBRIO, TONTURA E VERTIGEM .................................................................................... 22 3 LABIRINTOPATIA E SUAS COMPLICAÇÕES ........................................................................ 28 3.1 ESPAÇO PERILINFÁTICO ........................................................................................................ 41 3.2 ESPAÇO ENDOLINFÁTICO ...................................................................................................... 42 3.3 QUADRO CLÍNICO DA INFÂNCIA À TERCEIRA IDADE ......................................................... 43 4 AVALIAÇÃO OTONEUROLÓGICA .......................................................................................... 60 5 PATOLOGIAS ASSOCIADAS ÀS ALTERAÇÕES DO APARELHO VESTIBULAR................ 85 6 INTERPRETAÇÃO DOS EXAMES ........................................................................................... 88 7 ORIENTAÇÕES AO PACIENTE ............................................................................................... 94 8 ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA ........................................................................................... 102 3 1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA VESTIBULAR Para darmos início ao estudo da Labirintopatia e suas complicações, bem como diagnóstico, tratamento e orientações, faz-se necessário um estudo esquematizado e detalhado da anatomia e fisiologia do aparelho vestibular. Grandes cientistas ao longo dos anos demonstraram interesse especial no sistema vestibular, na função labiríntica e suas correlações com a via oculomotora, equilíbrio e marcha. É de suma importância citar Friedrich Leopold Goltz, o primeiro cientista a reconhecer o valor da hidrodinâmica dos fluídos endolinfáticos dos canais semicirculares (falaremos com mais detalhes durante o curso), que seria determinada pelos mecanismos de movimentos estimulantes. Em 1892 Julius Richard Ewald foi o pioneiro ao demonstrar a existência do tônus vestibular nos canais semicirculares laterais. Barany em 1906 apresentou um clássico ensaio sobre os aspectos envolvidos no sistema vestibular, recebendo reconhecimento internacional, chegando ao prêmio Nobel de Fisiologia em 1915. Em 1911 Rudolf Lidler e Julius Bauer descobriram as influências inibitórias provocadas pelo cerebelo sobre o nistagmo vestibular e com o passar do tempo os estudos e interesses progridem. As labirintopatias são patologias do sistema vestibular que tem como principal sintoma a tontura e são empiricamente chamadas de labirintites. Para que sejam empregados os processos terapêuticos eficazes, é de extrema importância o conhecimento aprofundado da anatomia e fisiologia vestibular, a seguir será estudado toda a anatomia e fisiologia que envolve as complicações, vestibular e labiríntica. O sistema vestibular tem participação no equilíbrio do corpo, visão (fornece informações da relação espacial do corpo com o ambiente) e propriocepção (fornece informação da posição do corpo, das articulações e o grau de contração/relaxamente dos grupos musculares). A informação da posição e movimentação da cabeça é dada pelo sistema vestibular que com a integração central das informações propicia o movimento harmônico e equilíbrio do corpo. O aparelho vestibular é responsável por três funções: controle do equilíbrio, orientação espacial e estabilização da imagem. O aparelho vestibular funciona continuamente, inclusive durante o sono de forma inconsciente. A assimetria da resposta labiríntica, seja pela estimulação excessiva ou pela hipoestimulação, leva a vertigem, nistagmo e reflexo vagal que são sensações conscientes. 4 São funções do Aparelho vestibular: Transformar as forças provocadas pela aceleração da cabeça e da gravidade em um sinal biológico. Informar os centros nervosos sobre a velocidade da cabeça e sua posição no espaço. Iniciar alguns reflexos necessários para a estabilização do olhar, da cabeça e do corpo. TONTURA EQUILÍBRIO PROPRIOCEPÇÃO MOVIMENTO 5 Todas as funções citadas acima são de suma importância para o equilíbrio, que é a capacidade de manter a postura apesar de circunstâncias adversas. Vale salientar que além do aparelho vestibular periférico, o equilíbrio é também determinado pelos olhos, com sua percepção das relações espaciais. Os distúrbios do equilíbrio e do sistema vestibular envolvendo o ouvido interno afligem pessoas de todo o mundo. 1.1 ORELHA INTERNA O sistema auditivo como um todo é composto por orelha externa, orelha média e orelha interna e as vias auditivas. O osso temporal está localizado na face lateral da caixa craniana é um dos ossos mais complexos tanto no aspecto funcional como anatômico, em seu interior abriga na sua porção petrosa os órgãos sensoriais da audição e do equilíbrio corporal, no qual recebe as terminações dos ramos cocleares e vestibulares do VIII par craniano, o nervo vestibulococlear. Forças da Gravidade em sinais biológicos Velocidade e posição no espaço Iniciar reflexos para estabilização 6 FIGURA 1 - OSSO TEMPORAL ESQUERDO VISTA LATERAL FONTE: Disponível em: <www.ib.unicamp.br/dep_anatomia/files/atlasorelha/Orelha>. Acesso em: 21 out. 2011. FIGURA 2 - OSSO TEMPORAL ESQUERDO VISTA MEDIAL FONTE: Disponível em: <www.ib.unicamp.br/dep_anatomia/files/atlasorelha/Orelha>. Acesso em: 21 out. 2011. http://www.ib.unicamp.br/dep_anatomia/files/atlasorelha/Orelha 7 A orelha interna constituída de três partes principais, o labirinto ósseo ou perilinfático, o labirinto membranáceo ou endolinfático e a cápsula ótica ou labiríntica. O labirinto ósseo é composto de três partes: vestíbulo, cóclea,canais semicirculares (são três canais), e contém um líquido (a perilinfa que tem constituição química semelhante à do líquido raquidiano, apresentando em sua composição uma maior concentração de sódio do que de potássio), que envolve todo o labirinto membranáceo, a sua função é amortecer as vibrações ósseas. No labirinto ósseo encontramos uma série de ductos membranosos onde estão alojadas as estruturas sensoriais de recepção dos estímulos auditivos e posturais. A parede lateral do labirinto ósseo é a parede medial da cavidade timpânica e na sua parede medial está o fundo do meato acústico interno. A seguir figuras do labirinto ósseo e particularidades. 8 FIGURA 3 - LABIRINTO ÓSSEO DETALHE CANAIS SEMICIRCULARES E LABIRINTO ÓSSEO DETALHE DA CÓCLEA FONTE: Disponível em: <www.ib.unicamp.br/dep_anatomia/files/atlasorelha/Orelha>. Acesso em: 21 out. 2011. FIGURA 4 - LABIRINTO ÓSSEO DIREITO, VISTA ANTEROLATERAL http://www.ib.unicamp.br/dep_anatomia/files/atlasorelha/Orelha 9 FONTE: Netter. Atlas de anatomia humana, 2000. O labirinto membranáceo é constituído de ducto e saco endolinfático, sáculo, utrículo, ductos semicirculares e ducto coclear. É um sistema fechado de canais que se comunicam entre em si preenchido pela endolinfa sua constituição química é diferente da perilinfa, pois a sua maior concentração é de potássio, a endolinfa é incolor, semelhante aos líquidos intracelulares (rico em K+ e pobre em Na+, além de possuir glicose e proteínas), sua secreção é feita em algumas regiões do epitélio labiríntico, especialmente na estria vascular, com possível controle hormonal. Os ductos semicirculares abrem-se no utrículo e ele no sáculo (pelo ducto utriculossacular). O vestíbulo é uma pequena cavidade colocada entre a cóclea e os canais semicirculares, é composto por duas vesículas, o utrículo e o sáculo (chamados de órgãos otolíticos). O utrículo é maior e ocupa a parte superior do vestíbulo, o sáculo é inferior e menor. Uma pequena área de revestimento do utrículo e do sáculo se diferencia em órgão sensorial, a mácula. A mácula do utrículo fica na superfície inferior, quase horizontal e desempenha um papel importante na determinação da orientação da cabeça quando a pessoa está ereta, enquanto a mácula do sáculo está localizada no plano vertical, sendo importante para o equilíbrio quando a pessoa está em decúbito. As máculas desempenham células ciliadas sensoriais intercaladas por células de sustentação. Cada mácula é recoberta por uma camada gelatinosa, na qual estão mergulhados os otólitos, formações de carbonato de cálcio. As milhares de células ciliadas projetam cílios para dentro da camada gelatinosa. O peso dos otólitos inclinará os cílios em direção a força gravitacional. 10 FIGURA 5 - LABIRINTO MEMBRANÁCEO FONTE: Russo & Santos. A Prática da Audiologia Clinica, 1993. De acordo com a figura acima o utrículo e o sáculo, através do ducto endolinfático se comunica com o saco endolinfático. O utrículo e o sáculo são dois órgãos otolíticos, receptores do labirinto, ambos são ovoides e contêm células ciliadas. Existem estruturas sensoriais chamadas de cristas ampulares, aderidos a uma estrutura elíptica denominada mácula, que estão localizadas na ampola de cada canal semicircular e são responsáveis pelo equilíbrio do corpo. No utrículo e no sáculo estão localizadas respectivamente a mácula utricular e a mácula sacular, são formadas por células sensoriais e por células de sustentação. É importante ter em mente a posição dessas estruturas, pois a mácula utricular está no plano horizontal e a mácula sacular no plano vertical, e junto são responsáveis pela percepção dos estímulos que estão diretamente relacionados com aceleração linear do corpo (percepção da posição do corpo e os efeitos da gravidade). Para sermos capazes de perceber a posição da cabeça no espaço, além das mudanças bruscas de movimento; necessitamos dos sensores de movimentos, chamados de canais semicirculares. Os canais semicirculares (CSC) são três estruturas com formato de uma letra “C” com diâmetro aproximado de 8mm, dispostas ortogonalmente entre si, de acordo com a sua posição dentro do osso temporal recebem a seguinte denominação: lateral, posterior e anterior. A sua 11 disposição abrange os três planos espaciais, assim, garantindo a detecção de qualquer movimentação da cabeça no espaço. Cada canal possui uma dilatação em sua extremidade denominada ampola, é nas ampolas que encontramos as estruturas sensoriais dos canais semicirculares, que são as cristas ampulares (neuroepitélio) contendo células sensoriais ciliadas. Os órgãos otolíticos informam sobre situações estáticas, dando a orientação gravitacional em mudanças na posição da cabeça e sobre movimentos com aceleração linear. As extremidades não ampolares dos CSC anterior e posterior se unem antes de chegarem ao vestíbulo, onde se abrem em um orifício comum. Os canais semicirculares (CSC) trabalham sinergicamente dois a dois (em pares), é por meio de cada par que passa um plano espacial. Os CSC laterais fazem um ângulo de 30º com o plano horizontal (fig. B), quando a cabeça está na posição ortostática. Sua ampola localiza-se na porção anterior do canal, ambos os canais laterais estão no mesmo plano horizontal, formando um par funcional. O CSC’s posterior e anterior estão em um plano vertical, formando um ângulo de aproximadamente 45º com o plano sagital (fig. A). FIGURA 6 - PLANO SAGITAL E PLANO HORIZONTAL FONTE: Arquivo pessoal do autor. Vamos “mentalmente” visualizar os CSC’s das duas orelhas (esquerda e direita), eles 12 trabalham em pares da seguinte forma: O CSC lateral direito é par sinérgico do o CSC lateral esquerdo; O CSC posterior direito faz par com o CSC anterior esquerdo; O CSC posterior esquerdo faz par com o CSC anterior direito. Os canais semicirculares são responsáveis pela mensuração de acelerações angulares, causadas pela rotação da cabeça ou do corpo. Cada ducto tem um máximo de sensibilidade ao movimento angular em um eixo perpendicular à sua posição. Um movimento voltado para a máxima excitação de um membro do par funcional produz a máxima inibição do outro membro. Com os movimentos rotatórios da cabeça não ocorrem apenas nos planos exatos dos canais, mais de um par deve ser excitado concomitantemente pela maioria dos movimentos. Com o movimento rotatório da cabeça, há movimento uniforme da endolinfa no sentido contrário, porém com velocidade igual ao do ducto semicircular. Na parada da cabeça, a endolinfa, por inércia, continua a deslocar-se no mesmo sentido até deter-se. Isso resulta em pressão na cúpula que deflete e movimenta os cílios que nela penetram. Segue abaixo uma ilustração importante para o estudo das labirintopatias: CSC LATERAL DIREITO – CSC LATERAL ESQUERDO CSC POSTERIOR DIREITO – CSC ANTERIOR ESQUERDO 13 FIGURA 7 - CANAIS SEMICIRCULARES FONTE: Disponível em: <www.surdo.org.br>. Acesso em: 21 out. 2011. 14 A seguir uma ilustração para que possamos visualizar os canais em pares e os três planos espaciais: FIGURA 8 - RELAÇÃO ENTRE OS PARES SINÉRGICOS FONTE: Arquivo pessoal do autor. A dilatação terminal que está contida nos canais semicirculares (ampola) capta as variações de aceleração angular (os movimentos de rotação da cabeça). Na região ampular as cristas ampulares (contém células ciliadas) mantém seus cílios embebidos na substância gelatinosa, de modo que são os movimentos de deflexão da cúpula (estrutura formada de substância gelatinosa, contida dentro da ampola) que levam à inclinação dos cílios. Acélula ciliada é o elemento receptor do labirinto vestibular, elas podem ser de dois tipos: Tipo I (formato arredondado e envolto por várias terminações nervosas) e Tipo II (formato cilíndrico e com uma única terminação nervosa). Na superfície apical das células ciliadas, tanto FRONTAL CSC LATERAL CSC ANTERIOR CSC POSTERIOR CSC ANTERIOR CSC POSTERIOR CSC LATERAL 15 tipo I quanto tipo II, estão os cílios. Para cada célula ciliada existe um cílio diferente dos outros, o cinocílio, que é único, emerge do corpo da célula e se coloca na periferia do tufo de estereocílios (que variam de tamanho). Os cílios das células ciliadas nas cristas dos canais semicirculares são paralelos aos eixos dos canais, estando o cinocílio sempre na mesma extremidade de cada célula. A movimentação da cabeça leva necessariamente ao movimento do CSC, a endolinfa contida no CSC, devido à inércia se desloca na direção oposta e este deslocamento provoca a deflexão da cúpula com consequente inclinação dos cílios. Quando a corrente endolinfática se desloca em direção à ampola, ela é ampulípeta e provoca a deflexão da cúpula em direção ao utrículo. Porém, se a direção é de sentido contrário e a cúpula se deflete em direção ao canal semicircular, ela ampulífuga. A compreensão torna-se fácil, portanto, o deslocamento ampulípeto é em direção da ampola, a endolinfa no CSC lateral é exitatório, enquanto nos CSC anterior e posterior a excitação é dada pelo deslocamento ampulífugo, fugindo da ampola. Para os CSC posteriores e anteriores (canais semicirculares verticais), as correntes que despolarizam as células ciliadas são as correntes ampulífugas, enquanto para os CSC laterais as correntes ampulípetas são as mais estimulantes. No exame vestibular, conceitos de corrente ampulípeta e ampulífuga são bastantes empregados, motivo o qual são muito importantes para a fundamentação dos estudos. A mudança na posição da cabeça e movimentos com aceleração linear leva a movimentação dos otólitos sobre a camada gelatinosa e a inclinação dos cílios. A disposição das células ciliadas com o eixo de despolarização na direção de uma linha curva, movimentos em qualquer direção CORRENTE AMPULÍPETA EM DIREÇÃO DA AMPOLA CORRENTE AMPULÍFUGA FOGE DA AMPOLA 16 são capazes de excitar pelo menos um grupo de células. Os órgãos otolíticos informam sobre situações estáticas, dando a orientação gravitacional em mudanças na posição da cabeça e sobre movimentos com aceleração linear com subir e descer em um elevador. Nos CSC anteriores e posteriores o cinocílio localiza-se na extremidade não utricular da ampola, e no CSC lateral na extremidade utricular. Todo esse arranjo estrutural desempenha papel relevante na fisiologia vestibular, pois permite que a célula ciliada responda de maneira diferente conforme a direção de movimentação dos cílios. O movimento dos esteriocílios sobre cinocílio leva a despolarização da célula ciliada, com aumento da liberação de neurotransmissores e, portanto, aumento do estímulo da fibra aferente. Entretanto, a movimentação dos cinocílios sobre os esteriocílios leva a hiperpolarização da célula com redução da liberação de neurotransmissores e menores estímulos nas fibras aferentes. O vestíbulo é responsável pela detecção de acelerações lineares, produzidas pela gravidade ou pelos movimentos do corpo e pelo equilíbrio estático do corpo no espaço. O vestíbulo é excitado pelo deslocamento da membrana otolínica sobre a mácula, isto ocorre quando a cabeça e o corpo são deslocados seguindo uma linha, como se deslocar para frente ou para trás (ex: carro, avião), ou para cima e para baixo (ex: elevador). Esses movimentos geram um fenômeno de tração da membrana otolítica sobre os cílios da mácula, ou ao contrário, geram um fenômeno de pressão. Sua resposta seria semelhante à dos CSC. É especialmente importante que as diferentes células podem ser estimuladas. Assim, a inclinação da cabeça em qualquer direção vai resultar em despolarização de algumas células utriculares e hiperpolarização de outras. Esse sinal complexo fornece ao cérebro uma medida acurada da posição da cabeça. 1.2 INERVAÇÃO As células ciliadas dos órgãos otolíticos e dos CSC’s são inervadas pelos prolongamentos distais de neurônios bipolares, cujos corpos celulares se encontram no gânglio vestibular ou gânglio de Scarpa. Os prolongamentos centrais destes neurônios se juntam com prolongamentos centrais do gânglio espiral da cóclea para formar o nervo vestibulococlear, que 17 atravessa o meato acústico interno, ao lado do nervo facial, após curto trajeto no ângulo pontocerebelar entra na ponte para fazer sinapse nos núcleos vestibulares. Os axônios distais dos neurônios vestibulares chegam ao gânglio de Scarpa através de dois ramos: ramo superior com axônios que carregam informações do CSC anterior e lateral e utrículo e ramo inferior com impulsos do CSC posterior e sáculo. De acordo com Machado (2002) as fibras aferentes de origem vestibular chegam ao cerebelo pelo fascículo vestibulocerebelar, trazendo informações originadas na parte vestibular do ouvido interno sobre a posição da cabeça, importante para a manutenção do equilíbrio e da postura básica. 1.3 IRRIGAÇÃO O labirinto é irrigado pela artéria labiríntica ou artéria auditiva interna, na maioria dos casos pelo ramo da artéria cerebelar anteroinferior e em alguns casos pelo ramo da artéria basilar. A artéria labiríntica se divide em: a. coclear (irrigando a cóclea) e a. vestibular anterior (CSC anterior, lateral e utrículo) e a. vestibular posterior (CSC posterior, sáculo e parte da cóclea). De acordo com Robergs & Roberts (2002) o aparelho perifério consiste num conjunto de sensores do movimento, as quais enviam informações ao sistema nervoso central, especificamente ao complexo nuclear vestibular e ao cerebelo, sobre a velocidade angular da cabeça, a aceleração linear e a orientação cefálica em relação ao eixo gravitacional. O sistema nervoso central processa esses sinais e os combina com outras informações sensoriais, para estimar a orientação cefálica. A resposta do sistema vestibular central é transmitida aos músculos extraoculares e à medula espinhal para preparar dois importantes reflexos, o reflexo vestíbulo-ocular e reflexo vestibuloespinhal. O reflexo vestíbulo-ocular gera os movimentos oculares, os quais permitem uma visão nítida enquanto a cabeça está em movimento, enquanto o reflexo vestibuloespinhal gera o movimento corporal de compensação, objetivando manter a estabilidade cefálica e postural, e, dessa forma, evitar quedas. O desempenho destes reflexos é monitorado pelo sistema nervoso 18 central e quando necessário, eles são reajustados por um processador adaptativo. O sistema vestibular detecta a posição e o movimento da cabeça no espaço pela integração das informações dos receptores periféricos localizados no ouvido interno. As células sensoriais do labirinto transformam energia mecânica que resulta dos movimentos ciliares em sinal biológico. Os CSC são responsáveis pela mensuração de acelerações angulares, causadas pela rotação da cabeça ou do corpo. Cada ducto tem um máximo de sensibilidade ao movimento angular, em um eixo perpendicular à sua posição. Um movimento voltado para a máxima excitação de um membro do par funcional produz a máxima inibição do outro membro. Como os movimentos rotatórios da cabeça não ocorrem apenas nos planos exatos dos canais, mais de um par deve ser excitado concomitantemente pela maioria dos movimentos. No movimento rotatório da cabeça há movimento uniforme da endolinfa no sentido contrário, porém com velocidade igual ao do ducto semicircular. Na paradada cabeça, a endolinfa, por inércia, continua a deslocar-se no mesmo sentido até deter-se. Isso resulta em pressão na cúpula que se deflete e movimenta os cílios que nela penetram. Nos CSC anteriores e posteriores os cílios localizam-se na extremidade não utricular da ampola, e no canal lateral na extremidade utricular. Todo esse arranjo estrutural desempenha papel relevante na fisiologia vestibular, pois permite que a célula ciliada responda de maneira diferente conforme a direção de movimentação dos cílios. Sistema Vestibular Integração de Informações Receptores 19 Movimentação de Cabeça Endolinfa Direção dos Cílios 20 2 NÚCLEOS VESTIBULARES Didaticamente são quatro os núcleos vestibulares, estão localizados de cada lado do tronco encefálico e são os seguintes: Núcleo vestibular superior; Núcleo vestibular medial; Núcleo vestibular lateral; Núcleo vestibular inferior. Os núcleos vestibulares superiores e mediais recebem informações dos CSC e enviam fibras, via fascículo longitudinal medial, aos núcleos oculomotores, para que ocorram movimentos de correção dos olhos e também ao feixe vestibuloespinhal medial para o posicionamento adequado da cabeça e do pescoço. Na vestibulometria, são informações valiosas, pois é muito importante na formação do nistagmo de origem vestibular e posição da cabeça no espaço. O núcleo vestibular lateral recebe fibras do utrículo e do sáculo, enviando pelo feixe vestibuloespinhal lateral informações para o posicionamento corporal adequado. Já o núcleo vestibular inferior recebe fibras originadas nos CSC e no utrículo, enviando informações para o cerebelo e formação reticular (FR- é um conjunto de células e fibras nervosas espalhadas por todo o tronco encefálico, sua função é interligar sistemas e receber informações sensoriais). 2.1 CEREBELO É um órgão situado na fossa posterior craniana atrás do tronco cerebral, ao qual se conecta por três pares de pedúnculos cerebelares. Controla a atividade dos núcleos vestibulares 21 por meio de quatro subunidades denominadas Cerebelo Vestibular – flóculo, nódulo, úvula e paraflóculo ventral. O lóbulo anterior e o núcleo fastigial conectam-se também ao núcleo de Deitres, mas não são consideradas áreas do Cerebelo vestibular. As aferências de origem vestibular podem ser diretas do labirinto, dirigindo-se ao lóbulo floculonodular ou indiretas, a partir do núcleo vestibular lateral, com predomínio ipsilateral. O vestibulocerebelo controla e mantém o equilíbrio estático e a fixação da imagem sobre a retina durante os movimentos da cabeça. Lesões nessa região causam hipertonia de descerebração (liberação da influência vestibular sobre o tronco e músculos extensores), perturbação da posição ortostática e nistagmo, com instabilidade do olhar. O núcleo fastigial através dos Fascículos Reticular e Vestibuloespinhal controla os dispositivos motores da medula e por meio das projeções reticulares, a oculomotricidade. Sua lesão leva a hipotonia axial e ataxia, alterações do equilíbrio dinâmico. 2.2 CONTROLE POSTURAL A existência de uma representação cortical do sistema vestibular foi sugerida por alguns autores por duas observações particulares, que são as seguintes: Demonstração de potenciais evocados no córtex cerebral entre a área auditiva e sensorial somática após estímulo do labirinto de animais. Demonstração em humanos de sensação de vertigem após estimulação direta do córtex do lobo temporal. As áreas corticais relacionadas às representações do Sistema Vestibular são: Córtex visual primário (17 de Brodmann); Córtex temporal medial e súpero medial; Córtex parietal posterior e frontal (8 deBrodmann). 22 Os reflexos vestibuloespinhais têm a função de estabilizar a cabeça no espaço e em relação ao tronco, assim como manter a postura ereta. Estímulos labirínticos levam a diferentes padrões de ativação na musculatura cervical e dos membros, com o objetivo de prevenir quedas. Reflexos fásicos de curta latência são mediados pelos CSCs através do trato vestibuloespinhal medial, tem a função de ativar músculos cervicais específicos, com consequente estabilização da cabeça no espaço, a partir de estímulos dos CSCs. Reflexos otolíticos tônicos por sua vez, respondem a variações de aceleração linear, principalmente pelo trato vestibuloespinhal lateral, o que produz uma excitação dos neurônios para musculatura extensora ipsilateral com inibição recíproca dos flexores. O trato reticuloespinhal tem sua origem na formação reticular bulbar, sendo que a maioria dos neurônios reticuloespinhais pontobulbares recebem aferências dos órgãos otolíticos e CSCs e se projetam principalmente para neurônios medulares lombares e em menor número para neurônios cervicais. As três principais vias dos núcleos vestibulares para medula são as seguintes: Trato vestibuloespinhal medial do núcleo vestibular medial para a medula cervicotorácica. Trato vestibuloespinhal lateral do núcleo vestibular lateral de Deiter para medula lombossacral. Trato reticuloespinhal dos neurônios pontobulbares para a medula lombar Dos núcleos vestibulares também partem aferências para o tálamo e córtex que geram informações a respeito da orientação espacial e percepção de movimento. 2.3 EQUILÍBRIO, TONTURA E VERTIGEM De acordo com Herdman (2002), o sistema vestibular é ao mesmo tempo um sistema sensorial e motor, na função sensorial, o sistema vestibular é uma das ferramentas mais importantes do sistema nervoso no controle da postura, e na função motora o sistema vestibular fornece ao sistema nervoso central (SNC) informações sobre a posição e o movimento da 23 cabeça e a direção da gravidade. O SNC usa essas informações para construir uma imagem da posição e do movimento do corpo e do ambiente que o cerca. O SNC utiliza as vias motoras descendentes, que recebem informações vestibulares de outros tipos para controlar as posições estáticas da cabeça e do corpo e para coordenar os movimentos posturais. O sistema vestibular é ao mesmo tempo sensorial e motor, ele cumpre muitas funções diferentes no controle postural, sendo as quatro mais importantes: Função na sensação e na percepção da posição e do movimento; Orientação da cabeça e do corpo; Controle da posição do centro de massa corporal; Estabilização da cabeça durante os movimentos posturais. Sistema Vestibular Sensorial Motor Controle postural Movimento de cabeça Direção da gravidade 24 Conceitos como equilíbrio, tontura e vertigem facilitam o estudo para o entendimento do processo de reabilitação vestibular. O equilíbrio é uma função sensório motor que tem o objetivo estabilizar o campo visual e manter a postura ereta, é a capacidade de manter a postura apesar de circunstâncias adversas. Para que uma pessoa tenha qualidade de vida, esteja inserido na sociedade de forma ativa, se faz necessário a orientação espacial, manter o equilíbrio ao andar ou realizar tarefas é essencial para o dia a dia. A manutenção do equilíbrio corporal é uma função extremamente complexa e envolve diversos órgãos e sistemas, faz-se necessária a integração do sistema vestibular, visual, proprioceptivo e estruturas do sistema nervoso central (SNC). Posição e Movimento Orientação Controle Estabilização 25 A sensação de perturbação do equilíbrio corporal chama-se tontura. A tontura é um termo que representa genericamente todas as manifestações de desequilíbrio. As tonturas podem ser: Rotatória – são as sensações de desorientação espacial (vertigens); Não rotatória– são as instabilidades, flutuações, oscilações; Crônica; Intermitente; Constante; Leve, moderada ou intensa; Incapacitante ou não. As perturbações do equilíbrio podem ser definidas como uma percepção errônea, ilusão ou alucinação de movimento e as distorções visuais. As tonturas estão entre os sintomas mais frequentes em todo o mundo e são de origem labiríntica em 85% dos casos, é um dos sintomas mais comuns após 65 anos de idade, a terceira queixa mais frequente na medicina está presente de 5 a 10% da população mundial. No entanto, mais raramente, as tonturas podem ser de origem visual neurológica ou psíquica, lembrando que a maioria das tonturas tem origem vestibular. Equilíbrio Manter Postura 26 A vertigem é uma sensação de desorientação espacial do tipo rotatória, é um tipo particular de tontura e se caracteriza pela sensação de rotação. A vertigem é característica de envolvimento do sistema vestibular, mas nem todos os pacientes com labirintopatia apresentam vertigem. Portanto, não podemos esquecer às vertigens fisiológicas, caracterizadas por náuseas e mal-estar desencadeadas por uma aceleração corporal não familiar ao indivíduo, tais como as que podem ser experienciadas em diversos tipos de transportes como carro, navio, avião ou trem. A vertigem postural que é apresentada devido às diversas posições de cabeça e/ou corporal é a mais comum manifestação labiríntica. Ela pode ser: Aguda; Repentina (pode durar, segundos, minutos, horas ou dias); Acompanhada de sintomas neurovegetativos (náuseas, vômitos, sudorese, palidez e taquicardia). A vertigem pode derivar de doenças que atingem diretamente o sistema vestibular ou pode resultar de outras afecções que atingem o sistema indiretamente. A maioria das vertigens intensas tem origem periférica, ou seja, resulta de distúrbios localizados no nível dos receptores da orelha interna ou das fibras dos nervos vestibulares, porém existem quadros vertiginosos de origem central, localizados nos núcleos vestibulares e/ou em outras áreas do sistema vestibular central. Podemos destacar também a vertigem das alturas, que afeta algumas pessoas que, quando em lugares altos, manifestam uma instabilidade subjetiva de postura e locomoção associada com medo de cair e alterações vegetativas. Tontura Perturbação Equilíbrio 27 A cinetose é um distúrbio do equilíbrio provocado por movimentos constantes, os sintomas manifestam-se com sudorese, palidez, náuseas e vômito causados pela estimulação vestibular excessiva. Essas manifestações podem persistir por várias horas depois que cessa a estimulação. As consequências consideradas perigosas que estão relacionadas com as vestibulopatias são as quedas, dificuldade de locomoção ou a redução das atividades de vida diária, além das fraturas ou acidentes causados devido a algum sintoma relacionado às doenças ligadas ao sistema vestibular. 3 LABIRINTOPATIA E SUAS COMPLICAÇÕES De acordo com Herdman (2002), os pacientes com disfunção vestibular apresentam um comprometimento mensurável no comportamento motor controlado pelo sistema vestibular como: controle postural, oculomotor e orientação espacial, e por ilusões perceptivas, como a vertigem. As labirintopatias ou vestibulopatias são doenças conhecidas popularmente como labirintites. As labirintopatias designam afecções no ouvido interno (cóclea ou labirinto, em contrapartida as vestibulopatias, designam afecções que acometem qualquer parte do sistema vestibular, em consequência o equilíbrio. Vertigem Desorientação Rotatória 28 O nosso ouvido possui dois componentes distintos: a cóclea, que é responsável pela nossa audição e o vestíbulo, que é responsável pelo nosso equilíbrio. Juntos formam o sistema vestibular que é responsável em manter o equilíbrio corporal. O comprometimento do labirinto vai provocar sintomas como tonturas, desequilíbrio, surdez, vertigem (os quadros de vertigem são acompanhados de náuseas e vômitos, além da sensação angustiante da morte iminente quando o quadro é muito intenso) ou zumbido. De acordo com Caovilla (1998), a postura, o equilíbrio físico e a coordenação motora constituem alicerces fundamentais para a aquisição de muitas aprendizagens, incluindo a Labirintopatia Vestibulopatia Cóclea Vestíbulo 29 linguagem falada e escrita. Atrasos na aquisição da linguagem ou deficiências motoras podem ser ocasionados por distúrbios da função vestibular. A inabilidade para realizar movimentos coordenados e a concepção imprecisa da posição espacial justificaria as dificuldades de aprendizagem em crianças com vestibulopatias (crianças com vestibulopatias podem desenvolver hábitos curiosos para escrever, colocando a cabeça em posição anormal durante a escrita, ou até mesmo inaptidão para realizar certos exercícios físicos, motivo o qual professores, babás, pais e familiares, devem ficar atentos a movimentos, posturas e ditas “manias” das crianças, pois podem estar sinalizando uma alteração no sistema vestibular. A comunicação, comportamento psicológico e/ou desempenho escolar (o mau rendimento escolar pode ser indício de vestibulopatias) são seriamente comprometidas quando há disfunção vestibular em crianças em desenvolvimento. A autocompensação concomitante em lesões vestibulares lentamente progressivas é uma das hipóteses aventadas para explicar a ausência de sintomas em apreciável proporção das afecções vestibulares crônicas. Alterações em Crianças Comunicação Comportamento psicológico Rendimento escolar 30 No indivíduo adulto, as repercussões deletérias dos transtornos do equilíbrio corporal sobre a qualidade de vida podem afetar com maior ou menor intensidade o desempenho social e profissional. A tontura crônica, intermitente e imprevisível ou desagradavelmente constante, pode levar a imperiosa restrição de atividades físicas, à desgastante insegurança psíquica, à ansiedade, à depressão, ao pânico, e consequentemente, à dificuldade de comunicação com o meio ambiente. A situação no idoso se reveste de maior gravidade, quando as limitações impostas pela disfunção vestibular se somam à dificuldade de comunicação devida a perdas auditivas, comum na idade mais avançada. É importante entender as complicações para o fechamento do diagnóstico, só assim, será possível o reconhecimento de vários quadros clínicos, bem como para tratar o paciente. As chamadas síndromes vestibulares tanto em crianças, adolescentes, adultos e idosos são de caráter benigno, tratáveis e curáveis. Vale salientar que a vestibulopatia é a designação genérica para os distúrbios do equilíbrio corporal que acometem o sistema vestibular periférico ou central e podem apresentar Alterações em Adultos e Idosos Qualidade de Vida Comportamento psicológico Vida Profissional 31 conjuntos de sintomas constituindo quadros clínicos típicos ou síndromes complexas. Uma mesma doença pode apresentar diferentes configurações clínicas nos diversos pacientes, dependendo da personalidade, do estilo de vida, da idade e da resposta individual aos efeitos do fator etiológico. As perdas auditivas, dificuldade de entender a conversação, zumbido, plenitude auricular, hipersensibilidade a sons, estão associados à tontura, revelando envolvimento adicional da audição. Faz-se necessário uma anamnese cuidada para o auxílio do fechamento do diagnóstico e o descobrimento da etiologia, nos pacientes com tontura e sintomas associados. De acordo com Ganança (1998) a tontura é a sensação de alteração do equilíbrio corporal, pode ter caráter rotatório (vertigem) ou não rotatório (instabilidade, oscilações, vacilação, titubeio, flutuação, ascensão, afundamento, pulsão, impulsão, oscilopsia, etc.) Ambos os tipos podem ser ou não ocasionados por distúrbiosvestibulares, o que só é possível comprovar por meio da realização e interpretação de exames otoneurológicos. Os sintomas clássicos das labirintopatias ou alterações no sistema vestibular como um todo, são decorrentes de desordens funcionais primárias ou secundárias do sistema vestibular. As tonturas de desordens não vestibulares são mais raras e podem ser causadas por perturbações exclusivamente oculares (miopia, diplopia, astigmatismo, estrabismo, lentes bifocais), somestésicas, psicogênicas (claustrofobia, histeria, agorafobia, “vertigem dos pescadores em alto-mar e outras fobias), doenças cardíacas ou cervicais. Obnubilações ou perdas de consciência por diferentes estimulações (vertigem laríngica, vertigem olfativa, vertigem tátil) também não tem relação com sistema vestibular. 32 Os sinais e sintomas de alteração do equilíbrio corporal (perturbação na manutenção do equilíbrio) surgem quando há conflito na integração das informações vestibulares, visuais e proprioceptivas. As relações entre o sistema vestibular e diversas áreas do Sistema Nervoso Central fazem com que o paciente com tontura habitualmente relate dificuldade de concentração mental, perda de memória e fadiga. A insegurança física conduz à insegurança psíquica, irritabilidade, perda de autoconfiança, ansiedade, depressão ou pânico. Desordens Não Vestibular Ocular Somestésica Psicogênica Doenças Cardíacas Doença Cervical 33 As tonturas das vestibulopatias periféricas são idênticas às tonturas das vestibulopatias centrais, mas os sintomas associados podem ser diferentes. As síndromes periféricas, a vertigem e outros tipos de tontura podem surgir em combinação com perda de audição, zumbido, sensação de pressão ou desconforto no ouvido e manifestações neurovegetativas. Nas síndromes centrais, as tonturas podem coexistir com ataxia, diplopia, paresia ou paralisia facial, disartria, disfagia, fraqueza, incoordenação de movimentos, distúrbios de motricidade e sensibilidade. Lembrando que a tontura é um sintoma muito comum em ambos os sexos, presente em mais de 10% da população mundial. Podem acometer crianças, jovens, adultos e idosos, quase todas as tonturas relatadas são causadas por disfunção primária ou secundária do sistema vestibular. Há alta prevalência de alterações no sistema vestibular, não sendo raro encontrar mais de um tipo de uma vestibulopatia em um mesmo paciente, ao longo de sua vida. Podem ser encontrados diferentes tipos de alterações em vários membros de uma mesma família, sem qualquer relação entre elas. Sistema Vestibular Sistema Nervoso Central 34 FONTE: Arquivo pessoal do autor. O que deve ficar bem claro é que as disfunções vestibulares podem ser: Periféricas – labirinto, vestíbulo e/ou nervo vestibulococlear. Centrais – núcleos, vias e inter/relações com o sistema nervoso central (SNC) As etiologias podem estar longe do sistema vestibular, como em outro órgão ou sistema. O sistema vestibular é de tal forma sensível à influência de distúrbios em outras partes do corpo humano que a tontura pode surgir antes dos sintomas da doença de base. A história clínica do paciente é fundamental para o adequado diagnóstico, tem que ser analisada com cautela as características de início das tonturas, sua duração, intensidade, constância ou intermitência, progressão, estabilização ou regressão, fatores de melhora ou piora (olhos abertos ou fechados, em certas posições ou à mudança de posição da cabeça ou do corpo), concomitância com sintomas auditivos (diminuição ou flutuação da audição, zumbido, sensação de plenitude auricular ou pressão no ouvido, hipersensibilidade a sons intensos), A tontura é um sintoma presente em mais de 10% da população mundial 90% 10% 35 dificuldade para entender, manifestações neurovegetativas (náuseas, vômitos, sudorese, palidez, taquicardia, extremidades frias, parestesias etc.) ou quedas. Vale salientar que pacientes com qualquer tipo de tontura, com ou sem sintomas auditivos, podem ser inicialmente avaliados por meio de perfil otoneurológico. IMPORTANTE: Características das Tonturas Duração da Tontura Intensidade Constância ou intermitência Progressão, estabilidade ou regressão 36 O reconhecimento do agente etiológico frequentemente exime a realização de exames subsidiários, tais como testes laboratoriais bioquímicos, metabólicos, ou hormonais, ressonância magnética, tomografia computadorizada, entre outros. FATORES DE MELHORA/PIORA: Olhos abertos ou fechados Em certas posições Mudança de posição da cabeça ou do corpo IMPORTANTE: Sintomas auditivos (diminuição ou flutuação da audição, zumbido, sensação de plenitude auricular ou pressão no ouvido, hipersensibilidade a sons intensos) Manifestações neurovegetativas (náuseas, vômitos, sudorese, palidez, taquicardia, extremidades frias, parestesias Quedas, Confusão mental. 37 A orientação dos exames a serem solicitados depende da hipótese diagnóstica sindrômica e topográfica sugerida pela anamnese e pelo perfil otoneurológico. De acordo com Caovilla (1998) a vertigem é o principal tipo de tontura de origem vestibular, pode ser: Objetiva – Quando o paciente sente os objetos rodarem em torno de si e pode ser chamada de egocêntrica. Subjetiva – Quando tem a impressão de estar girando no ambiente, pode ser chamada de excêntrica. O labirinto é muito sensível a alterações funcionais a distância, no corpo humano, numerosos são os distúrbios clínicos, de variada localização e natureza que podem ocasionar sintomas auditivos e vestibulares. Outras enfermidades podem estar causando as disfunções vestibulares, assim como o uso de medicamentos, estilo de vida (vícios, álcool, fumo, drogas ilícitas, cafeína em excesso). Friso no cuidado na anamnese (primordial: história clínica, localização da lesão e resultados dos exames) para o fechamento do diagnóstico. O módulo I ofereceu suporte da anatomia e fisiologia do sistema vestibular para melhor compreendermos as patologias do sistema vestibular. As terminações periféricas do oitavo par craniano estão localizadas nas células ciliadas da mácula, sáculo e utrículo e nas células da crista da ampola dos três CSCs. A manutenção do equilíbrio é graças às fibras aferentes que seguem para os reflexos de coordenação dos olhos, pescoço e corpo, levando em consideração a posição do corpo e da cabeça no espaço. A posição do próprio corpo no espaço somente poderá ser interpretada corretamente se os sinais visuais, proprioceptivos e vestibulares forem imediatamente registrados pelo órgão central e integrados uns com os outros. Os labirintos em sintonia (indivíduo sem alteração vestibular) fornecem informações idênticas, relativamente à posição do corpo no espaço. Em consequência de algumas doenças as informações tornam-se divergentes, fazendo com que haja a perda do equilíbrio. A vertigem é uma sensação de giro, o indivíduo pode ter uma sensação subjetiva de rotação ou pode notar que o “mundo” gira ao redor, além das sensações de desfalecimento ou de atordoamento e as náuseas, são sintomas relatados por muitos pacientes que sofrem de afecções labirínticas 38 agudas, onde os sintomas vestibulares como nistagmo, tendência a quedas e vertigens são comuns. Durante a anamnese é necessário apostar nos antecedentes familiares, nos sintomas psicológicos e informações como: Perda auditiva; Uso de prótese auditiva; Otites médias; Traumas acústicos; Cirurgias otológicas; Cinetose; Distúrbios vasculares; Hiper ou hipotensão; Arritmias cardíacas; Infarto do miocárdio; Isquemia cerebral; Náuseas Vômito HipotesãoTaquicardia transpiração 39 Crises epilépticas; Traumatismo craniano; Distúrbios psíquicos; Ansiedade; Depressão; Fobias; Ataques de pânico; Distúrbios metabólicos; Hipo e hipertireoidismo; Hipoglicemia; Diabetes; Problemas genéticos. A síndrome periférica vestibular pode ser de origem endolabiríntica ou retrolabiríntica (acomete o nervo vestibular). As lesões endolabirínticas podem ser: Inflamatória; Traumática; Afecções Unilaterais Bilaterais 40 Vascular; Tóxica. A síndrome vestibular central é caracterizada pela sensação de angústia e instabilidade, geralmente é agravada pelas mudanças bruscas de posição de cabeça, corpo ou até mesmo o olhar (pode melhorar com o fechamento das pálpebras). Nesta síndrome é importante analisar o seguinte: 1. Vertigem Psicocerebral ou percepções vertiginosas – falsa noção de que o corpo é lançado ou atraído por uma força extraordinária e irresistível, fazendo com que o indivíduo se movimente sem querer; Deslocamento – sensações de falso deslocamento onde há desvio de membros do corpo, que quase sempre se movem em uma mesma direção para um ou outro lado no momento da crise; Alterações vegetativas e motoras – náuseas, vômitos e movimentos desordenados dos membros e corpo; 2. Nistagmo; 3. Alterações de equilíbrio estático e dinâmico. As principais causas de vertigens: Vertigem postural benigna; 41 Neuronite vestibular; Doença de ménière; Enxaqueca; Esclerose múltipla; Drogas, incluindo álcool; Crises isquemias do tronco encefálico; Epilepsia do lobo temporal; Tumores do ângulo ponto cerebelar; Outros tumores da fossa posterior. O equilíbrio corporal depende de três sistemas: 1. Olhos; 2. Propriocepção; 3. Labirinto. A vertigem é característica das afecções unilaterais, no qual resulta da diferença de tônus entre os dois lados do sistema. 3.1 ESPAÇO PERILINFÁTICO 42 No espaço perilinfático podem ocorrer acidentes comuns, que são as fístulas perilinfáticas, elas podem ser crônicas e agudas: Crônica – é uma malformação estrutural da orelha interna, que pode ocorrer na displasia de Mondini e pode causar meningites de repetição; Aguda – de instalação súbita e pode ocorrer pela via explosiva (um aumento de pressão de líquidos, que estão associados a esforços físicos ou tensão intensa) ou pela via implosiva (mergulhos, hiperventilação anestésica). É importante frisarmos que ligado ao espaço perilinfático ainda pode ser encontrado: Hipertensão perilinfática (defeito no modíolo ou o aqueduto coclear muito amplo); Surdez mista; Reflexos estapédios presentes. 3.2 ESPAÇO ENDOLINFÁTICO Quando falamos em endolinfa ou mesmo espaço endolinfático, a primeira coisa que vem a nossa mente é a “hydrops” endolinfática. A hipertensão endolinfática (hydrops), que é característica marcante da doença de Menière e suas variantes (síndrome de Lermoyez e o hydrops pós-viral). Segue abaixo sintomas importantes para a área de atuação do fonoaudiólogo, a tríade sintomática da doença de Menière: 43 1. Surdez flutuante; 2. Vertigem; 3. Tinitus (zumbido). Os sintomas acima causados por uma elevação da pressão do labirinto podem ter várias causas, que são: Trauma físico; Trauma acústico; Estreitamento congênito do meato acústico interno; Distúrbios metabólicos; Voos espaciais; Vírus (instalação lenta, 20 anos para se estabelecer a forma típica da doença); Vasculites. Vale ressaltar que tanto o espaço endolinfático como o espaço perilinfático, podem apresentar alterações importantes que oferecem de forma relativamente comum a sintomatologia crônica ou aguda para alguns casos. Estruturas como: células receptoras, cúpula, nervo vestibular, núcleos vestibulares, conexões centrais, conexões oculomotoras, e conexões medulares, dão origem a diversos sintomas nos quais os pacientes se referem. 3.3 QUADRO CLÍNICO DA INFÂNCIA À TERCEIRA IDADE 44 De acordo com Northern e Downs (1989) verificam que um dos primeiros desenvolvimentos organizacionais do embrião é a diferenciação das células em três placas sobrepostas, são as camadas germinativas (ectoderma, mesoderma e endoderma). FIGURA 9 - VISTA INICIAL DE UM EMBRIÃO FONTE: Northern & Downs. Audição em crianças, 1989. É depois da terceira semana de desenvolvimento embrionário que aparece os placoides auditivos (espaços na superfície ectodérmica de cada lado do disco nervoso). Esses placoides começam a aprofundar-se, formando os buracos auditivos. Em seguida começa o desenvolvimento do recesso tubotimpânico, ao final do primeiro mês de gestação, quando o buraco auditivo se fecha, surge a vesícula auditiva ou otócito (acontece dobras, invaginações, alongamentos para formar o utrículo, sáculo e tubo endolinfático. No final da sexta semana iniciam-se as formações de arcos, que se tornarão os canais semicirculares, encontra-se formado o meato acústico primário, evidenciam-se as seis saliências e começa a formação das cartilagens. No final da sétima semana a porção do sáculo se alonga para completar a primeira volta da cóclea, começa o desenvolvimento das células sensoriais no utrículo e no sáculo, o pavilhão auricular começa a movimentar-se no sentido dorsolateral. Na oitava semana é o início da formação dos ossículos do ouvido médio e a membrana timpânica. 45 No quinto mês de gestação, o ouvido interno atinge maturação e tamanho adulto, o pavilhão auricular atinge a forma adulta, embora continue a crescer até os nove anos de idade. Nos dois últimos meses de gestação, completa-se a ossificação do martelo e da bigorna, as células aéreas da mastoide desenvolvem-se, existe a pneumatização do antro, o estribo continua a desenvolver-se até a idade adulta e a membrana timpânica muda de posição relativa durante os dois primeiros anos de vida da criança. O feto reage a estímulos sonoros após o quinto mês, pois as etapas de respostas a sons seguem um padrão de maturação. Ao nascer o ser humano apresenta apenas audição do tipo reflexa, em seguida começa o processo de aprendizagem e novas respostas ao som passam a ser desenvolvidas. Seguem abaixo, as estruturas do ouvido interna semana após semana: 3º Semana – Placoides auditivos, buraco auditivo; 4º Semana – Vesícula auditiva e divisão cocleovestibular; 6º Semana – Utrículo e Sáculo e início dos canais semicirculares; 7º Semana – Uma volta coclear e células sensoriais no utrículo e no sáculo; 8º Semana – Presença do ducto de união e células sensoriais nos canais semicirculares; 11º Semana – Presença de 2,5 voltas cocleares e o oitavo nervo liga-se ao ducto coclear; 12º Semana – Células sensoriais na cóclea; 21º Semana – O plug meatal desintegra-se, expondo a membrana timpânica. Além da embriologia do ouvido, é de suma importância ter em mente a variedade de respostas comportamentais do recém-nascido a sons, para que possamos enfatizar a maneira de observar e orientar. As principais respostas do recém-nascido são: 46 Piscar de olhos ou atividade de pálpebras – Ocorre desde um pequeno e rápido estreitamento até um grande fechamento, incluindo a contração das sobrancelhas. O reflexo cocleopalpebral consiste num piscar ou fechamento de olhos. Reflexo de Moro – Na maioria dos casos os braços se separam, os dedos se abrem, as pernas são esticadas e a cabeça volta-se para trás. É uma reação de sobressalto, é um movimento abrupto de todo o corpo, sendo braços e pernas esticados e afastados da linha média do corpo. “Startle” susto e sobressalto – Um pequeno pulo do corpo do recém-nascido, logo após ter sido estimulado acusticamente. É uma reação de susto, alerta ou alarme, que pode ou não acompanhar oreflexo de Moro. Cessação de atividade – Momento em que o bebê está acordado, chorando e se movimentando e para de fazê-la durante a apresentação do som. Caretas – O rosto enruga-se como se quisesse protestar contra o som, pode ocorrer contração das sobrancelhas, além, de abertura e fechamento dos olhos. Sucção – leve retração do lábio inferior, o bebê pode parar de sugar ou aumentar o ritmo de sucção. Início de movimentos generalizados - O bebê esteja dormindo calmamente, quer esteja acordado, mas quieto, os olhos se abrem e isto é acompanhado por leves movimentos corporais, seguidos de tremor leve do corpo. Arregalar os olhos – Ao despertar, abre os olhos demasiadamente. Mudança na respiração – O ritmo respiratório pode ser interrompido ou acelerado. Riso e/ou choro – O bebê tanto pode cessar quanto iniciar estes comportamentos. Segue abaixo uma ilustração do desenvolvimento do ouvido interno, o surgimento dos placoides e buracos auditivos, 47 FIGURA 10 - DESENVOLVIMENTO INICIAL DO OUVIDO INTERNO DE UM EMBRIÃO HUMANO FONTE: Northern & Downs. Audição em crianças, 1989. 48 As disfunções vestibulococleares apresentam-se como doenças que acomete principalmente os idosos, uma doença que atinge adulto, no entanto na prática clínica crianças e adolescentes se apresentam com queixas relacionadas aos sinais e sintomas de labirintopatia. Segundo Ganança (1998) estima-se que a vertigem infantil corresponda a 1% das consultas em ambulatórios de neuropediatria, sendo também encontrada em 13% das crianças encaminhadas para avaliação audiológica. Acredita-se que esses números podem ser ainda maiores, devido à dificuldade de fechamento de diagnóstico e de se obter dados de anamnese por parte da criança com tontura, o que faz com que disfunções vestibulares na infância sejam encaradas como “mal- estar”, indisposição gastrointestinais ou até mesmo como epilepsia. Os principais sinais e sintomas apresentados pelas crianças são: Mudança súbita de comportamento; Agitação; Perturbação do sono; Cefaleia; Medo de altura; Medo do “escuro”; Quedas frequentes; Insegurança psíquica; Retardo do desenvolvimento neuropsicomotor; Perdas de consciência; Náuseas e vômitos; Incapacitação física crônica; Mau rendimento escolar; 49 Distúrbios de linguagem; Tonturas (rotatórias ou não); Perdas auditivas; Zumbidos; Plenitude auricular; Intolerância a sons intensos; Incapacitação das atividades diárias. A estreita relação do sistema vestibular com o sistema nervoso central, visão, propriocepção e vários outros órgãos fazem com que a lista de sinais e sintomas seja bastante variada e com que o foco no diagnóstico de labirintopatias seja disperso e confuso. Uma anamnese bem feita, minuciosa e precoce faz com que as manifestações clínicas não se acentuem e não comprometam intensamente o desenvolvimento normal e a qualidade de vida da criança. A família e as pessoas que convivem com a criança com alterações vestibulares são muito importantes, pois têm o maior contato com a criança e podem detectar qualquer alteração de comportamento no dia a dia. Quando há suspeita de distúrbios vestibulares, a criança deve ser encaminhada para avaliação otoneurológica, para que possa fechar o diagnóstico de forma correta. Dessa maneira, os encaminhamentos e o tratamento serão realizados corretamente. Alguns dados da fisiologia vestibular são de suma importância para a investigação otoneuro, e são: 8º semana a orelha interna do embrião se assemelha à do adulto; A mielinização das vias vestibulares ocorre em torno da 16º semana; 50 Os reflexos vestibulococleares do feto estão totalmente estabelecidos na 24º semana de gestação e já podem ser provocados logo após do nascimento; Os reflexos labirínticos fetais estão plenamente amadurecidos na 30º semana de gestação; A mais primitiva das reações labirínticas no recém-nascido são os reflexos tônicos cervicais; As provas calóricas, desde os primeiros meses de vida, já têm características semelhantes às do adulto; Os tratos piramidais se mielinizam aos 24 meses de vida e a oculomotricidade é perfeita; Entre um ano e meio e três anos de idade a criança depende mais de informações visuais do que de inputs proprioceptivos e vestibulares; As crianças apresentam capacidade de compensação vestibular mais rápida que os adultos; As crianças com síndromes vestibulares periféricas utilizam as informações visuais para compensação vestibular, enquanto as crianças com deficits cerebelares são desequilibradas com os olhos abertos e fechados. As crianças em geral têm dificuldades para relatar o que sentem, principalmente quando se trata de perturbações do equilíbrio, como a descrição dos sintomas pode ser insuficiente (mesmo que os pais colaborem) é necessário outros indícios para que seja levantada a suspeita de manifestações labirínticas. As náuseas e os vômitos, cefaleias e manifestações objetivas e concretas do equilíbrio leva pediatras, neurologistas e otorrinolaringologista, além de outros profissionais a pensarem em vestibulopatias. Vale salientar a importância da avaliação otoneurológica, que inclui os seguintes exames: Avaliação otorrinorológica completa; 51 Exames de pares cranianos; Provas cerebelares básicas; Investigação audiológica e vestibular; Tomografia de crânio e ossos temporais. Ressonância magnética dos ângulos pontocerebelares e encéfalo. No entanto, a avaliação irá depender da capacidade de cooperação da criança, alguns autores deixam bem claro que em recém-nascidos somente é possível a avaliação de reflexos primitivos. As lesões vestibulares podem ser identificadas em crianças menores de três anos, mesmo sem a realização completa de exame vestibular (muito abrangente quando busca as alterações do equilíbrio e postura). De acordo com Russo e Santos (1994) algumas exigências são feitas com relação ao profissional na hora da avaliação de crianças e são as seguintes: Experiência com adultos; Experiente em observar respostas comportamentais globais e específicas a reconhecer reações negativas e/ou positivas ao estímulo sonoro; Aplicar diferentes técnicas de avaliação da audição em bebês e crianças pequenas; Saber reconhecer o limite de cada criança; Gostar verdadeiramente de criança. Alguns fatores podem agir e prejudicar diretamente a avaliação caso o profissional responsável pela avaliação audiológica não seja sensível ao ponto de respeitar as necessidades e limites da criança. Na maior parte das técnicas a criança ativa e participativa é muito importante para o resultado, pois se a criança está indisposta, não demonstra interesse ou 52 fornece pistas de que não está bem (está com fome, cansada, com sono, com sede, ou até mesmo doente), os avaliadores devem ter bom-senso para que a avaliação seja remarcada, pois caso contrário o profissional estará colocando em risco a veracidade dos resultados. Segue abaixo algumas causas das alterações labirínticas na infância à adolescência: Processos inflamatórios e/ou infecciosos de orelha externa, média e tuba auditiva – obstrução (total ou parcial) pode ocasionar tonturas e sintomas ligados às labirintopatias; Traumatismos cranianos – acidentes na infância e na adolescência; Enxaqueca vestibular – distúrbio hereditário que desestabiliza a circulação cerebral; Vertigem parosística da infância – ocorre em crianças dos dois aos 12 anos de idade, geralmente antes dos seis anos de idade; Malformações da orelha interna e problemas psicossomáticos; Doenças metabólicas; Doenças de menière; Síndromes menieriformes; Ototoxicoses; Infecções bacterianas; Viroses; Distúrbios vasculares; Epilepsia; Síndrome do pânico; Cinetose; 53Fístula perilinfática; Tumores do acústico; Vertigem epidêmica. De acordo com alguns autores, independente da fase da vida, o tratamento da causa é sempre a melhor opção. Ganaça (1998) descreve que o tratamento com a múltipla abordagem terapêutica deverá ser direcionado à correção do fator etiológico responsável pelas alterações vestibulares. A utilização de medicamento antivertiginoso, exercícios de reabilitação vestibular de acordo com o deficit vestibular e com a etiologia da lesão, intervenções cirúrgicas podem ainda ser indicadas em casos específicos e rebeldes ao tratamento clínico. Porém, outras medidas podem ser tomadas, como à correção de erros alimentares e a não utilização de substâncias vestibulotóxicas. Como já foi explicitada anteriormente, a avaliação é fundamental para o diagnóstico e tratamento. No entanto o tratamento etiológico é o principal, em qualquer idade. O adulto geralmente na sua fase produtiva da vida, que tem alterações vestibulares compromete o dia a dia, a rotina profissional é afetada, proporcionando alterações psicológicas, pois o rendimento e a produtividade despencam consideravelmente. É na fase adulta que é interessante aplicar todos os recursos de reabilitação vestibular, requerendo uma assistência multidisciplinar ao paciente. Segue abaixo o quadro clínico em adultos: Medicamento Exercícios de RV Cirurgia Alimentação 54 Neurinoma e outros tumores do VIII par craniano – acomete o nervo auditivo levando a perdas auditivas progressivas, unilateral, zumbidos e eventualmente tonturas; Doença de Ménière – caracterizada pela tríade (vertigem, perda auditiva e zumbido); Vertigem psicossomática (pseudo ménière) – correlacionada a distúrbios psicogênicos (ansiedade, depressão e medos); Vertigem postural paroxística benigna – crises vertiginosas em certas posições de cabeça; Cupulolitíase – vertigens posturais; Síndrome de Lindsay-Hermenway – vertigem súbita seguida de vertigens posturais; Vertigem súbita – perda súbita da função de um dos labirintos; Neuronite vestibular – quadro agudo de vertigem súbita e manifestações neurovegetativas; Ototoxicoses – perda total ou parcial da função auditiva e/ou vestibular progressiva, durante ou após a exposição de medicamento; Lues – a sífilis terciária pode ocasionar perda auditiva flutuante (alterações na discriminação vocal); Trauma labiríntico – traumas cefálicos ou cervicais; Síndromes cervicais – tonturas recidivantes associados ou não a zumbidos; Cinetoses – náuseas, vômitos e tonturas em veículos em movimentos (pode ocorrer em crianças e adultos); Osteodistrofias da cápsula ótica – a otosclerose e a doença de Paget são osteodistrofias que ocasionam sintomas e sinais cocleovestibulares; Afecções autoimunes – vasculites autoimune na orelha interna; 55 Labirintopatias vasculares e metabólicas; Esclerose múltipla – uma doença desmielinizante do sistema nervoso central e pode apresentar inicialmente com vertigem e perda auditiva. Há uma grande preocupação com o equilíbrio corporal do idoso, pois sem ele as atividades como manter-se em pé, andar e movimentação da cabeça no espaço estariam comprometidas. Qualquer alteração vestibular no idoso pode deixá-lo inseguro (com medo de cair), isso faz com que suas atividades de vida diária sejam reduzidas, comprometendo sua vida social. Como já foi dito, os distúrbios vestibulares diminuem significativamente a qualidade de vida, compromete o dia a dia. Nos idosos esse comprometimento ainda é maior, para esta fase da vida a perda de equilíbrio tem grande impacto. A incidência de alterações vestibulares em idosos ocorre em função do envelhecimento, que compromete o sistema nervoso central em realizar o processamento dos sinais vestibulares, visuais e proprioceptivos (responsáveis pela manutenção do equilíbrio corporal, assim como a diminuição da capacidade de modificações dos reflexos adaptativos. Os processos degenerativos são responsáveis pela ocorrência de tontura (presbivertigem) e de desequilíbrio (prebiataxia) e consequência destes processos surgem às quedas com frequência, gerando insegurança e instabilidade social. Tanto para o adulto como para o idoso o tratamento segue de três formas: Medicamento Reabilitação Vestibular Cirurgia 56 O envelhecimento populacional é um fato que não podemos fugir, e a cada dia a expectativa de vida aumenta (fatores como: diminuição da mortalidade e fecundidade, melhora das condições de vida, avanços tecnológicos etc.), contribuindo para o crescimento da população idosa. O que não podemos esquecer é que o envelhecimento é um processo fisiológico, sujeito às alterações biológicas, psicológicas e sociais resultante de diversos fatores, sejam eles genéticos relacionados ao estilo de vida e/ou às doenças crônicas, além de ser um processo contínuo, durante o qual ocorrem declínios progressivos de todos os sistemas corporais, modificando a saúde e a vida das pessoas. As alterações fisiológicas no sistema vestibular podem ser observadas após os 40 anos de idade, e à medida que acentuam como o passar do tempo, os processos degenerativos podem se tornar responsáveis pela ocorrência de vertigem, tontura e desequilíbrio na população geriátrica. As manifestações de alterações do equilíbrio corporal mais comum nos idosos são: Envelhecimento Estilo de Vida Doenças Crônicas Tonturas (rotatórias ou não) Desequilíbrio Quedas 57 No idoso é bastante comum o zumbido, a dificuldade de compreender a fala em ambientes ruidosos, de perceber sons agudos e intolerância a sons intensos. Junto com as tonturas, pacientes idosos relatam sintomas neurovegetativos como: náuseas, vômitos, sudorese, palidez, taquicardia, além das pré-sincopes, sincopes, quedas, distúrbios de memória, dificuldade de concentração, fadiga física e mental. Com o processo natural de envelhecimento dos sistemas, existem múltiplas causas que podem caracterizar uma tontura, levando a dificuldade do diagnóstico. Motivo o qual a necessidade de se fazer uma avaliação otoneurológica e audiológica minuciosa, além de recorrer a exames complementares como: Hemograma completo; Colesterol; Triglicérides; T3, t4, e TSH; Curva glicêmica e insulinêmica. Um ponto relevante no tratamento de idosos acometidos de alterações vestibulares é a diminuição da capacidade de modificação dos reflexos adaptativos. Há perda progressiva de células ciliadas dos receptores sensoriais periféricos, o decréscimo do número de fibras e da mielinização do nervo vestibular, a degeneração das células ganglionares e de terminações nervosas no sistema vestibular periférico e central, é responsável pela ocorrência de vertigem e tontura nessa fase da vida. Segue abaixo o quadro clínico do idoso: Doença de Ménière – uma disfunção da orelha interna; Vertigem psicossomática - sintomas de alterações vestibulares associados a sintomas psicogênicos; 58 Vertigem epidêmica – sua etiologia é devido a vírus não identificado; Síndrome cervical – artérias vertebrais podem ser comprimidas durante a rotação ou a extensão cervical; Fístula perilinfática traumática ou espontânea – comunicação anormal entre o espaço perilingático e a orelha média; Surdez e vertigens súbita - caracteriza por um comprometimento súbito do labirinto; Vertigem postural paroxística benigna – afecções labirínticas de origem periférica; Tumores (neurinoma do acústico) – origina-se na bainha de um dos nervos vestibulares e pode produzir vertigens; Obstrução do meato acústico externo por cerume ou corpos estranhos – exerce pressão sobre a membrana timpânica; Labirintopatias de origem vascular e/ou cardiovascular – caracteriza-se por vertigem posicional ou não; Labirintopatia autoimune – é uma doençacausada por anticorpos ou reações imunomediadas que agridem as estruturas do labirinto; Síndrome do Pânico – causa de origem psicogênica; Enxaqueca vestibular – síndrome vascular, cefaleias periódicas; Malformação de Arnold-Chiari – malformação do tecido nervoso; Migrânea vestibular – é uma causa comum da vertigem episódica e do desequilíbrio; Esclerose múltipla – inúmeras áreas de desmielinização e esclerose dispersas na substância branca do sistema nervoso central. 59 Vale salientar que o controle postural é fundamental para a habilidade de desempenhar ou cumprir as demandas de tarefas simples e também desafiadoras, porém as alterações fisiológicas do envelhecimento, das doenças crônicas ou de outras disfunções, o sistema vestibular gera: 1. Presbivertigem; 2. Presbiataxia; 3. Presbitinitus; 4. Presbiacusia. Em suma, o programa de reabilitação dos idosos deve incluir exercícios vestibulares, treinos específicos do equilíbrio, fortalecimento muscular, estimulação proprioceptiva, além da medicação e outros recursos. Assim, pode-se proporcionar independência na realização das atividades diárias, autonomia, funcionalidade ou simplesmente qualidade de vida. Qualidade Vida 60 4 AVALIAÇÃO OTONEUROLÓGICA Para a realização de atividades simples no dia a dia necessitamos de informações dos órgãos sensoriais, para que sejamos capazes de nos orientarmos no espaço e movimentarmos adequadamente no espaço. A cada dia há um aumento crescente do sintoma da vertigem nas clínicas médicas, o interesse por parte dos profissionais da saúde vem aumentando todos os dias, pois as vertigens, tonturas (alterações vestibulares) trazem consequências psicológicas, levando aos sintomas psíquicos, além dos descritos anteriormente. De acordo com autores renomados da área de psicologia e psiquiatria, o sintoma psíquico é a representação atual de acontecimentos do passado vivenciados pelo indivíduo de forma traumática senso reativado por um conflito emocional, podendo explicar o aparecimento da vertigem. É de suma importância na avaliação otoneurológica levar em consideração as informações passadas pelo o paciente, pois o mesmo pode ter problemas sérios de vertigens, tonturas, desmaios, náuseas, sendo realmente considerado um paciente vertiginoso, no entanto os resultados dos exames otoneurológicos podem constatar normalidade. Motivo o qual é importante a associação da história da vida do paciente, levar em consideração episódios angustiantes como: Morte de parentes e amigos; Separação conjugal, familiares e amigos; Falência, dia a dia financeiro; Brigas; Abandono; Inquietações; Picos de ansiedade e estresse. As alterações vestibulares de origem psicogênica estão ligadas a conflitos emocionais profundos, Freud em 1895 já ligava ansiedade e vertigem, ao salientar que a vertigem ocupa um lugar de destaque nas manifestações clínicas da neurose de angústia. Outros autores afirmam que os pacientes vertiginosos expressam seu desequilíbrio psíquico por meio do físico, assim sendo, pode-se pensar que os pacientes também usam do desequilíbrio físico para expressar o psíquico. 61 Vale salientar que a avaliação das alterações vestibulares deve ser muito abrangente, a fim de atender as necessidades reais do diagnóstico dos pacientes com vertigem, náuseas, tonturas, vômitos, quedas, perdas auditivas, zumbido e outros sintomas ligados as vestibulopatias. As avaliações insuficientes, sem consistências, impedem a obtenção de um diagnóstico adequado, porém deve-se ter cuidado nas avaliações superdimensionadas, que pecam pelo excesso de informações inúteis para a elucidação diagnóstica e comprometem seriamente a relação custo/benefício. Em toda e qualquer tipo de avaliação deve ser usado o bom-senso, é importante a atitude coerente na busca da precisão diagnóstica, que é a solicitação de testes sequenciais em cascata, dos mais simples aos mais avançados, melhorando a aplicação dos recursos técnicos de acordo com o quadro clínico de cada paciente. A avaliação otoneurológica avalia a parte auditiva e vestibular do ouvido interno e suas expansões e inter-relações encefálicas. O objetivo da avaliação é descobrir se há ou não comprometimento vestibular, pois alguns sintomas podem advir do comprometimento de outros sistemas (cardiocirculatório, respiratório, digestório e neurológico), a origem da lesão (periférica, quando a afecção situa-se no labirinto e /ou VIII par craniano até a entrada no tronco encefálico e central, quando a afecção se situa principalmente nos núcleos vestibulares, vias de interligação ou cerebelo), investigar a causa que determina ou agrava as alterações vestibulares, além de proporcionar acompanhamento do tratamento (progredindo ou regredindo?), favorecendo assim a correção e manutenção dos processos terapêuticos. Diagnóstico Custo/benefício Avaliação 62 Segue abaixo indicações para a avaliação otoneurológica: 1. Alterações do equilíbrio – as tonturas, instabilidade postural, sensação de andar sobre algodão, sensação de que o chão desliza sob os pés, zonzeira, que são sintomas que podem surgir com a mudança de posição ou não; 2. Distúrbios de aprendizado – geralmente em crianças com mau rendimento escolar, alterações na noção de lateralidade e de espaço, desatentos e inquietos; 3. Síndrome neurológica de fossa posterior – para que possa ser localizado o nível da lesão (tronco encefálico alto, ponte, tronco encefálico baixo, cerebelo ou alteração na formação reticular); 4. Alterações auditivas – incluindo as perdas auditivas sensório-neurais, principalmente quando unilaterais, plenitude auricular, flutuação da audição e zumbido, principalmente quando unilateral e persistente. É de suma importância ter em mente que os sinais e sintomas das alterações vestibulares apresentam-se nas crianças de maneira diferente das manifestações dos adultos. A Há ou não comprometimento Origem da lesão (periférica ou central) O que determina ou agrava as alterações Proporciona acompanhamento do tratamento Manutenção dos processos terapêuticos 63 seguir uma tabela com informações de alterações em crianças de zero a três anos de idade e crianças após três anos de idade. ZERO A TRÊS ANOS DE IDADE APÓS OS TRÊS ANOS DE IDADE Fenômeno da cabeça pendente Tontura Movimentos espásticos Cefaleias Distúrbios do sono Náuseas e Vômitos Náuseas e Vômitos Alterações de comportamento Medo de altura Dificuldade de concentração Retardo motor Mau rendimento escolar Retardo na aquisição da linguagem Crises de pânico, sudorese e dor abdominal Crianças hipotônicas Alterações no equilíbrio (quedas/esbarrões) Revelam medo do escuro Insegurança Quando um paciente, seja adulto ou criança, chegam ao consultório médico, alguns caminhos devem ser seguidos para o sucesso do diagnóstico. A anamnese é o primeiro passo a ser seguido, ressaltando sempre a história mórbida atual (HMA), antecedente mórbido pessoal (AMP), antecedentes mórbidos familiares (AMF), antecedentes obstétricos (AO), abaixo veremos o que perguntar destes itens: HMA – é importante sabermos a queixa atual do paciente, o que motivou a procura do consultório médico. O que o paciente sente? Tontura, vertigem, zumbido, perda auditiva, fobia de altura, quedas rotineira... Há quanto tempo ele vem sentido ou percebeu algo 64 estranho acontecer? É necessário saber se existem outros sintomas que estão associados aos sintomas vestibulares, como: cefaleias, medo do escuro e/ou de brinquedos que rodam (caso crianças). AMP – é interessante investigar se o paciente tratou alguma doença recente, saber se ele tem algum problema metabólico, hormonal ou renal. é imprescindível saber se ele é hipertenso, cardiopata, se
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