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APOSTILA CND - Curso Normal à Distância (21) 3347-3030 / 2446-0502 Conhecimento Didático e Metodológico em EJA 2 Sumário Introdução ........................................................................................................................ 3 1. A EJA na visão dos seus alunos .................................................................................. 5 2. Há como trabalahr pelo regate da cidadania? ............................................................ 11 2.1 Declaração Universal de Direitos Humanos ........................................................ 13 2-2 A EJA nas constituições ...................................................................................... 13 2.3. A EJA na LDB 9394/96 ....................................................................................... 13 2.4. A EJA no plano nacional de educação ............................................................... 14 2.5 A EJA e as conferências internacionais ............................................................... 17 2.6 Buscando a melhoria da Eja ................................................................................ 23 3. O que é a Andragogia? .............................................................................................. 28 4. Autores que nos ajudam a sedimentar o trabalho na EJA .......................................... 33 4.1.Os autores, seus tempos e seus espaços ........................................................... 34 4.2 Os autores e suas ações e obras ........................................................................ 36 5. Jogando luz sobre o processo de alfabetização e a EJA ........................................... 41 6. Como fazer a transposição didática? ......................................................................... 46 6.1 As questões multiculturais na eja ........................................................................ 46 6.2 Possibilidades de atividades pedagógicas em EJA ............................................. 48 6.3 O trabalho como fio condutor na EJA .................................................................. 51 6.4 Para bem formular os planos didáticos ................................................................ 53 7 A avaliação na EJA ..................................................................................................... 61 7.1 As possibilidades de avaliação na EJA ............................................................... 63 7.2.A avaliação final na EJA ...................................................................................... 65 8. A EJA além dos muros da escola .............................................................................. 70 8.1 A escola na obra ................................................................................................. 71 8.2 Sistema “s” - um caminho seguro para o mercado .............................................. 73 8.3 Para aprender em casa ....................................................................................... 74 8.4 Como os trabalhadores rurais sem terra podem obter conhecimento? ................ 75 Referências Bibliográficas ............................................................................................. 78 Anexos 81 3 INTRODUÇÃO Olá aluno e aluna do IECS Neste módulo vamos apresentar questões relativas ao Sistema de Avaliação e Conhecimento didático - metodológico na Educação de Jovens e Adultos, que trataremos como EJA. A preocupação com a Educação de Jovens e Adultos no Brasil vem de longa data, mas apesar disso é grande o número dos que engrossam as estatísticas de evasão escolar ou dos que nem mesmo ingressam na escola. Não há dúvida que devemos todos nos esforçar no sentido de reverter esse quadro o mais breve possível. Um relatório pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em janeiro de 2014, mostra que o Brasil aparece em 8° lugar entre os países com maior número de analfabetos adultos. Ao todo, o estudo avaliou a situação de 150 países. De acordo com a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2012 e divulgada em setembro de 2013, a taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais foi estimada em 8,7%, o que corresponde a 13,2 milhões de analfabetos no país. Ao longo do nosso material teremos a oportunidade de conhecer depoimentos feitos diretamente por pessoas que buscaram a escola para recuperar o tempo perdido e que também relataram o porquê do abandono dos bancos escolares, assim como estudaremos sobre as políticas públicas para a EJA, não só as atuais como também aquelas iniciativas marcantes ocorridas no passado. Também conheceremos esforços internacionais com vistas a buscar alternativas viáveis na caminhada contra a baixa escolaridade e o analfabetismo. Por outro lado se faz necessário reconhecer que alunos jovens e adultos precisam ser inseridos em práticas pedagógicas escolares de uma forma 4 diferente das que utilizamos para as crianças e adolescentes. Esse reconhecimento nos leva a buscar autores e metodologias de trabalho próprias da EJA. Outro enfoque, muito necessário, quando lidamos com a EJA é aquele referente à alfabetização. Entre os dados estatísticos do último censo ressalta a enorme população de mais de 60 anos que não se alfabetizou, apresentando um percentual em torno de 26,5%. Em vista disso e do já citado número geral de analfabetos no país, nosso material traz reflexões sobre a alfabetização e o letramento. No tocante à avaliação da aprendizagem apresentamos uma possibilidade diferenciada que atenda melhor aos jovens e adultos, de modo a evitar o fracasso, que leva ao abandono escolar. Para dar as mãos em busca de solução a respeito da EJA, várias pessoas e instituições têm se mobilizado para atuar e vencer o desafio da exclusão, tendo em vista dar a todos a verdadeira cidadania. Embarque conosco, aluno ou aluna do Instituto de Educação Colônia do Saber, nesse interessante estudo. "Se a educação é um direito de todos, independentemente da idade, como diz a nossa Constituição, temos de dar à EJA a mesma atenção oferecida a todos os segmentos do Ensino Básico" (VELOSO, apud GENTILE 2003) 5 1. A EJA NA VISÃO DOS SEUS ALUNOS Nosso estudo começa ouvindo a voz daqueles que são ou foram excluídos da escola por motivos diversos. Através do relato deles vamos construir um painel sobre a EJA em nosso país. São objetivos desse capítulo que você chegue ao final dele tendo desenvolvido as seguintes competências e habilidades: Reconhecer as diferentes questões que levam os jovens e adultos a procurar os cursos de EJA. Compreender a ligação do grupo de EJA com o mundo do trabalho. Concluir sobre a diversidade na distribuição regional na EJA. Para Gentile (2003) há um intenso movimento de jovens e adultos voltando à sala de aula. Quem não teve oportunidade de estudar na idade apropriada, ou que por algum motivo abandonou a escola antes de terminar a Educação Básica, está procurando as instituições de ensino para completar seus estudos. Aqueles que não sabem ler e escrever pretendem ser alfabetizados. Os que já têm essas habilidades desejam adquirir outros saberes e diploma, naturalmente para que tenham chances no concorrido mercado de trabalho e sintam-se cidadãos responsáveispelos destinos do país. Observe esse clipart e relacione-o com o parágrafo anterior apresentando sua conclusão. 6 Estes são alguns testemunhos de alunos que buscaram a EJA, em entrevista a Gentile (2003): Através das colocações desses cinco adultos você já pode concluir sobre alguns motivos que fazem as pessoas buscarem a EJA. Aponte uma causa de “Meu estudo é motivo de alegria para minha esposa e família.” (Homem de 73 anos em Campinas São Paulo) “Quero ser uma grande estilista de moda por isso voltei a estudar.” (Mulher de 34 anos em São Paulo.) “Antes não sabia nem pegar o ônibus. Hoje já posso levar o meu filho para fazer o tratamento em Recife.” (Mulher, 53 anos em Limoeiro, Pernambuco) “Fiquei orgulhoso de não precisar mais assinar com o dedo sujo de tinta. Hoje eu sei escrever”. (Homem 45 anos em Pombal, Paraíba) “Eu me sentia pequenina diante de meus filhos. Estudar para mim é rejuvenescer”. (Mulher, 59 anos, Natal, Rio Grande do Norte) 7 ordem psicológica (1) e outra de ordem econômica (2), colocando a numeração nos balõezinhos correspondentes. (GENTILE, 2003) 3. Qual delas revela a sensação de perda e do resgate da auto-estima? Por quê? Justifique a escolha do Clip-art? Ainda tomando os relatos dos alunos, como material de análise, vamos apresentar algumas das causas da ausência das pessoas da sala de aula ou do abandono das mesmas. Relato 1 “A caneta que meu pai me deu foi o cabo da enxada", lamenta a agricultora pernambucana de 57 anos, que cresceu na roça e acaba de se alfabetizar. "Ele dizia que mulher só servia para trabalhar e que, se eu fosse para a escola, ia ficar mandando bilhetinho para namorado." A história de dela é semelhante à de milhões de brasileiros com mais de 15 anos que são analfabetos ou têm escolarização incompleta. Ela, em 2003, estudava numa turma de alfabetização na cidade de Limoeiro (PE) e pretendia fazer ainda o Ensino Fundamental. Fonte: Nova Escola- Nov.2003 8 Qual a causa para a não escolarização da agricultora na idade adequada? Você crê que histórias como essa possam acontecer até hoje? Relato 2 Fiquei apenas um dia na primeira escola, aos 7 anos. A vida de minha família camponesa era mudar de lavoura para lavoura. Por isso, minha história escolar foi um grande vai-e-volta, em trocas que aconteciam no meio do ano letivo. Passei por 13 escolas, todas rurais e multisseriadas. Terminei a 8ª série com 22 anos, enquanto ajudava na roça. Quando fui para Ourinhos, em São Paulo, trabalhei como pintor de paredes e comecei a fazer o supletivo. (relato de um homem de 57 anos) Fonte: Nova Escola- Nov.2003 Que fator econômico contribuiu para a dificuldade de escolarização da pessoa do relato 2? 9 Que dificuldade quanto ao sistema escolar ele enfrentou? Nos dois relatos pudemos perceber algumas das causas de abandono ou ausência à escola. A essas podemos ainda acrescentar outras tais como: necessidade de trabalhar, inexistência de escolas de fácil acesso, paternidade e maternidade precoces e falta de dinheiro, transporte, comida e oportunidade. Um demonstrativo da expectativa da população na reversão do quadro citado pode ser percebido na busca às escolas de EJA. Havia, segundo o Educacenso de 2009, 1481261 alfabetizandos, 127642 turmas em 39.581 escolas com EJA e mais 1443 parcerias, o que comprova o interesse que tem despertado esse segmento escolar. Para destacar a diversidade desse quadro no país observe a tabela abaixo: Região Escolas com EJA Parcerias Percentagem de analfabetos Norte 5439 97 16,34% Nordeste 21239 1040 26,2% Centro oeste 1768 32 10,76% Sudeste 8710 204 8,13% Sul 2425 70 7,66% Fonte de dados: Educacenso 2009 Estabeleça duas conclusões a partir da leitura desta tabela sobre a EJA e alfabetização no país, através da comparação entre as regiões. 10 Para resumirmos o capítulo podemos afirmar que várias são as causas que motivaram ou impediram que muitas pessoas chegassem ou permanecessem na escola. Mas há atualmente um fator extremamente importante para o retorno dos mesmos à escola e esse fator se liga ao mercado de trabalho. A tabela do Educacenso 2009 demonstra também o quanto tem crescido o atendimento a essa população de EJA seja estudando em escolas ou se educando através das parcerias que são estabelecidas, existe todo esforço visando à escolarização daqueles que foram afastados da escola. Agora escolha através dos emoticons do clipart o quanto você pensa ter atingido os objetivos propostos no início do capítulo: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Ótimo..........Muito bom Bom Regular Insuficiente. Preparado para o próximo capítulo? Nele vamos abordar aspectos ligados ao Direito à Educação. 11 2. HÁ COMO TRABALHAR PELO RESGATE DA CIDADANIA? A pergunta parece simples, mas a imensidão de respostas sugere uma trama muito intrincada de problemas que levam a atual necessidade de estruturação da EJA. Nosso capítulo visa permitir que ao final dele você tenha construído as seguintes competências e habilidades. Apontar a caminhada em busca dos direitos da população, em especial na EJA no Brasil, tanto em termos nacionais quanto internacionais. Conhecer as principais ações já ocorridas bem como as possibilidades mais atuais de ação governamental na EJA. Freire assim se expressou em 1991, a respeito do abandono da escola. Em primeiro lugar, eu gostaria de recusar o conceito de evasão. As crianças populares brasileiras, não se evadem da escola, não a deixam porque querem. As crianças populares brasileiras são expulsas da escola – não, obviamente, porque esta ou aquela professora, por uma questão de antipatia pessoal, expulse estes ou aqueles alunos ou os reprove. É a estrutura mesmo da sociedade que cria uma série de impasses e dificuldades, uns em solidariedade com os outros, de que resultam obstáculos enormes para as crianças populares não só chegarem à escola, mas também, quando chegam, nela ficarem e nela fazerem o percurso a que têm direito (p. 35). Por que Freire enfatiza que o aluno não se evade da escola? 12 Segundo Gentile (2003) há cerca de mais de 65 milhões de jovens e adultos que não concluíram o Ensino Básico. Desses, 30 milhões não freqüentaram nem os quatro primeiros anos escolares o que os coloca como analfabetos funcionais. Cerca de 16 milhões não sabem ler nem escrever um bilhete simples. O país tem somente cerca de 20 municípios, dos mais de 5000, com média de escolarização acima de oito anos. Ao analisarmos esses dados sobressai a necessidade de acabar com o analfabetismo e incrementar a taxa de escolaridade dos brasileiros. Essas duas metas se transformam em prioridades no cenário da Educação Nacional. Fonte: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-03-06/estudo-mostra-que- 511-dos-estudantes-concluiram-ensino-medio-na-idade-adequada Há uma grande procura de jovens e adultos em busca da sala de aula. Aqueles que não tiveram oportunidade de estudar na idade apropriada, como no relato de uma alunano capítulo anterior, ou aqueles que por algum motivo abandonaram a escola antes de terminar a Educação Básica, estão procurando as instituições de ensino para completar seus estudos. Os que não sabem ler e escrever querem ser alfabetizados. Aquelas pessoas que já dominam os mecanismos da leitura e escrita elas pensam em adquirir outros saberes e o diploma, uma vez que com isso aumentam as chances no concorrido mercado de trabalho, além naturalmente da perspectiva da ação cidadã ser ampliada. Dessa forma devemos considerar a EJA não só como uma necessidade, mas como um Direito do Cidadão. Gostaríamos de convidá-lo a conhecer um pouco mais sobre eles. 13 2.1. Declaração Universal de Direitos Humanos A Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi adotada e proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas a 10 de Dezembro de 1948, como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações. Segundo essa declaração temos no Artigo 26. I) Todo o homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnica e profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. II) A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. III) Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos. Todos os tópicos desse artigo apontam para a educação como direito e resgate de cidadania. 2.2.A EJA nas Constituições Vamos partir para uma visão da EJA nas nossas constituições. A respeito dos direito à educação já estudamos em outros materiais do IECS. Não será uma visão histórica pormenorizada, mas temos o objetivo de destacar as vitórias, que foram, pouco a pouco, sendo conseguidas. Em termos constitucionais, a Constituição de 1934 já inicia uma nova fase do direito à EJA. Essa Constituição insere questões sociais, culturais e educativas no seu texto. No entanto é na Constituição de 1988 que os direitos ganham maior amplitude. Assim a Carta Magna faz referências a esses direitos no Artigo 6º: 14 Art. 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. A Constituição de 1988 trata especificamente da Educação no seu Artigo 205 abordando a Educação como direito de todos e dever do Estado, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, o preparo para a cidadania e a qualificação para o trabalho. No Artigo 206 especialmente aborda a questão da igualdade de condições para acesso e permanência na escola. Qual é o seu entendimento sobre esses direitos constitucionais quando confrontados com a realidade? No caso específico da EJA o Artigo 208 apresenta grandes contribuições uma vez que garante no inciso I o direito ao Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria, refere- se também à progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao Ensino Médio no inciso II e apresenta a possibilidade de oferta do ensino noturno regular adequado às condições do educando no inciso VI. 2.3. A EJA na LDB 9394/96 A Lei 9394/96 foi a primeira lei a destacar a Educação de Jovens Adultos como alternativa permanente de ensino, no Capítulo II na Seção V da Educação Básica. As outras legislações colocavam os jovens e adultos no Ensino Supletivo ou então eles apareciam apenas citados em alguns artigos das leis de ensino, sem que merecerem alguma referência especial. 15 É importante destacar a questão relativa ao direito público subjetivo citado na Lei. Releia o artigo 5º e o reescreva. No TÍTULO III - DIREITO À EDUCAÇÃO E DO DEVER DE EDUCAR Art. 4º -VII - há referência a EJA no tocante à oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola; Art. 5º. O acesso ao Ensino Fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo. 16 Dentro da perspectiva de integração com o ensino profissional a LDB no Art. 39 recomenda que educação profissional e tecnológica integre-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, além de ressalvar a possibilidade organização por eixos tecnológicos que possibilitem a construção de diferentes itinerários formativos, abrigando ainda a formação inicial e continuada ou qualificação profissional. § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si. § 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a educação profissional, na forma do regulamento. Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I - no nível de conclusão do Ensino Fundamental, para os maiores de quinze anos; II - no nível de conclusão do Ensino Médio, para os maiores de dezoito anos. § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames Pela descrição que temos feito e pelo já apresentado você pode concluir que o aparato legal oferece muitas garantias ao aluno cidadão. No entanto a sua experiência também deve estar sinalizando para o distanciamento entre a realidade e a proposta legal. Enfatizamos que a LDB 9394/96 superou o conceito da EJA como educação supletiva. Pensar a EJA como Educação escolar regular, representou 17 a garantia, em princípio, de um ensino com proposta curricular e pedagógica consistente e adequada ao educando. Ocorre que a criação de formas alternativas de acesso ao ensino independente da escolarização anterior e de inscrição numa série mediante prova sem comprovação do nível de escolaridade cursada são situações que continuam tendo a regulamentação bastante dificultada De acordo com Barbosa e Salgado (2004) (...) “O difícil tem sido a regulamentação desse preceito pelos sistemas de ensino. A formalidade, em geral, sobrepõe-se ao direito.” Você tem conhecimento da situação de algum adulto que teve seu retorno à escola dificultado em decorrência da formalidade do sistema?Apresente o seu relato como se fosse uma história de vida. 2.4.A EJA no Plano Nacional de Educação De acordo com Paganotti e Ratier(2011) , o PNE para 2011- 2020 teve uma estruturação mais sucinta que o do período anterior. Dele constam 20 metas, o que facilitará o controle, inclusive estatístico sobre o caminhar da Educação. .Algumas das metas são mais voltadas para a EJA. 18 A Meta 9: Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e erradicar, até 2020, o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional. Quanto à Meta 10: Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. O vínculo com a educação profissional aparece na Meta 11: Duplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta. 2.5 A EJA e as conferências internacionais Em termos internacionais há um movimento mundial em prol da Educação e da cidadania. Ocorreram inúmeras conferências com a preocupação de discutir o direito à Educação, como você poderá observar na linha de tempo . Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. 26) I Conferência Internacional de EJA (Dinamarca) II Conferência Internacional de EJA (Montreal Canadá) III Conferência Internacional de EJA (Tóquio Japão) IV Conferência Internacional de EJA (Paris França) I Conferência Mundial de EJA (Jomtien Tailâdia) V Conferência Internacional de EJA (Hamburgo Alemanha) II Conferência Mundial de EJA (Dacar Senegal) 1940 1948 1949 1960 1963 1970 1972 1980 1985 1990 1997 2009 Homenagem a Paulo Freire Conhecendo as Conferências VI Conferência Internacional de EJA Belém- Brasil 2000 19 Para utilizarmos a perspectiva temporal, iniciamos ressaltando a importância da Declaração de Direitos Humanos da ONU de 1948, que já citamos no tópico anterior. Há pouco mais de sessenta anos, a Assembléia Geral da ONU aprovava o primeiro documento global sobre a igualdade e a dignidade de todos. Esse documento foi escrito por causa das atrocidades cometidas durante a II Guerra Mundial. De acordo com Ramos citado por Daniel (2008) a Declaração representou: (...) um momento histórico em que a proteção aos direitos humanos passa a se internacionalizar. Ela representa, ainda, uma ruptura com um passado no qual a proteção desses direitos era uma questão meramente local, tratada no interior das constituições e leis de cada nação. Além disso, a declaração estimula os Estados a aprofundarem essa internacionalização dos direitos humanos, por meio da posterior celebração de pactos e tratados, estruturação de cortes internacionais para tratar do tema, entre outras providências. Isso fez com que os direitos humanos, ao longo desses anos, se consolidassem como um costume internacional, mesmo entre Estados que não ratificaram alguns tratados ou mesmo a Declaração Universal.1 A citada internacionalização ensejou a realização de conferências e tratados sobre Educação. A Conferência de 1949 ocorreu na Dinamarca em Elsinore. Após esta I Conferência Internacional de Educação de Adultos (de agora em diante chamaremos de CONFINTEA) a educação de Adultos tomou novo rumo. A humanidade chocada com a 2ª Guerra Mundial passou a pensar a educação 1 http://www.prr3.mpf.gov.br/content/view/142/2/ 20 como Educação Moral, para contribuir para o resgate do respeito aos direitos humanos em busca da paz duradoura. A segunda CONFINTEA teve lugar em Montreal no Canadá e basicamente abordou a educação com um viés de educação permanente e outra vertente como educação de base comunitária. A III CONFINTEA, em Tóquio no Japão no ano de 1972, a Educação de Adultos volta a ser entendida como suplência da Educação Fundamental, reintroduzindo jovens e adultos, principalmente analfabetos, no sistema formal de educação. A IV CONFINTEA, realizada em Paris, em 1985, caracterizou-se pela pluralidade de conceitos, surgindo o conceito de Educação de Adultos. Na década de 90, a Educação de Jovens e Adultos recebe um novo impulso, uma vez que 1990 foi pela ONU como o ano Internacional da Alfabetização e convoca a Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtien, Tailândia, com a participação de 155 países. A Conferência reforça que a Educação de Jovens e Adultos, como responsabilidade prioritariamente dos Estados Nacionais, mas amplia o espaço de participação trazendo para a sociedade civil a chamada a uma participação mais intensa. Ainda em Jomtien se reforça a ideia que a alfabetização de Jovens e Adultos deve ser continuada na pós-alfabetização. 21 A V CONFINTEA, realizada em Hamburgo, Alemanha, no ano de 1997, reforça a importância da ação do Estado como promotor direto da garantia da Educação para Todos ou como articulador na participação de outros parceiros a fim de garantir este direito reconhecido internacionalmente. Outra importante conferência foi Reunião da Cúpula Mundial de Educação realizada em Dakar, Senegal, no ano de 2000, fez uma avaliação da Década de Educação para Todos, proposta em Jomtien, mas considerou que embora tendo havido progresso continuavam ocorrendo muitos problemas no tocante à educação como um todo e também um número elevado de alunos analfabetos espalhados pelo mundo, apontando realidade extremamente negativa que precisava ser mudada. Assim essa Conferência propôs uma ação mais enfática dos governos em especial os da América Latina, África e Ásia para fazer valer os direitos de jovens e adultos como sujeitos de direito. No Brasil em 2009 tivemos a realização da VII CONFINTEA em Belém do Pará. Impulsionar o reconhecimento da educação e aprendizagem de adultos ao longo da vida, da qual a alfabetização constitui alicerce se tornou o maior marco da Conferência da qual extraímos esta citação2 O papel da aprendizagem ao longo da vida é fundamental para resolver questões globais e desafios educacionais. A aprendizagem ao longo da vida (…) é uma filosofia, um marco conceitual e um princípio organizador de todas as formas de 2 http://www.unesco.org/pt/confinteavi/ 22 educação, baseada em valores inclusivos, emancipatórios, humanistas e democráticos, sendo abrangente e parte integrante da visão de uma sociedade do conhecimento. Reafirmamos os quatro pilares da aprendizagem, como recomendado pela Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, quais sejam: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver com os outros. Numere no planisfério, aproximadamente, os locais onde ocorreram as conferências relativas a EJA, colocando os números correspondentes aos locais abaixo. 1- Elsinore na Dinamarca em -1949-CONFINTEA I 2-Montreal no Canadá em 1963- CONFINTEA II- 3-Tóquio no Japão em 1972 CONFINTEA III 4-Paris na França em 1985- CONFINTEA IV 5-Jontiem na Tailândia-1990-I Conferência mundial de Educação 6-Hamburgo na Alemanha -em 1997- CONFINTEA V 7-Dacar no Senegal- em 2000-II Conferência mundial de Educação 8-Belém no Brasil em 2009- CONFINTEA VI 23 2.6 Buscando a melhoria da EJA Buscando oferecer aos jovens e adultos as garantias que lhes são devidas, há na atualidade vários programas degoverno em execução. Mas antes do hoje faremos uma retrospectiva sobre algumas ações trouxeram efeitos, alguns ainda tênues, e outros mais efetivos no sentido de contribuir para a reversão do quadro de exclusão social de parte da nossa população. Se você estiver interessado em buscar as raízes mais remotas da exclusão social aconselhamos a reler a apostila de História da Educação no Brasil, porque já se divisava, pouco a pouco , as consequências dos descaminhos na nossa educação. Com efeito para ao nosso estudo recomeçamos o enfoque a partir de 1930,ano que é marco de grandes mudanças no nosso país. A entrada do Brasil na civilização urbano-industrial a partir especialmente da década de 30 do século XX, que trouxe a necessidade de mão de obra especializada para a indústria e o sistema de ensino não estava preparado para isso. No que toca à demanda social de educação, esse processo fez modificar substancialmente seu perfil, introduzindo nele um contingente cada vez maior de estratos médios e populares que passaram a pressionar o sistema escolar para que se expandisse (ROMANELLI, 1999, p.46). Ainda de acordo com a autora criaram-se desequilíbrios em dois aspectos: um de ordem quantitativa porque não havia escolas em número suficiente; o outro problema apontado foi de ordem estrutural porque ainda que se expandisse o ensino, esse já não correspondia às necessidades da nova expansão econômica. Infelizmente, como ressalta a autora, a defasagem apontada continua a existir , devido à tendência de se medir a distância entre o produto acabado fornecido pela escola e a qualificação de recursos humanos de que carece a economia. 24 O que você pensa da afirmativa de Romanelli feita para o período de 30/70 do século XX e o discurso que se ouve ainda hoje? Entre 1930 e 1964 houve um crescimento da procura da escola e as oportunidades educacionais. Por outro lado a estrutura do ensino não se alterou o bastante para proporcionar mudanças quer no aspecto quantitativo ou qualitativo. A oferta era insuficiente, o rendimento interno do sistema também. Para Romanelli (1999) a luta pela escola no Brasil, desde o momento em que passou a crescer a demanda social de educação, assumiu um verdadeiro caráter de lutas de classe. Aqui é preciso fazer uma parada para esclarecimento. Nesse capítulo não nos destinamos a descrever linearmente sobre a história da Educação no país, de modo que faremos saltos na abordagem histórica porque o que visamos é destacar ações que envolveram de forma marcante a EJA. Também não estamos propondo utilizar aspectos legais ou mais formais da educação .O que vamos fazer é um recorte de ações educativas. Pelo papel que desempenham até hoje podemos destacar as fundações do SENAI em 1942 e do SENAC em 1946. É interessante frisar que as escolas mantidas por essas instituições eram procuradas pelos que tinham urgência de se preparar para o exercício de um ofício. Dessa forma essas escolas se transformaram em escolas para as camadas populares. Lima (1969) registrou que em 1945 ocorreu a primeira tentativa governamental de efetivamente de 25 alfabetização dos adultos brasileiros. O Brasil tinha à época, pelo recenseamento de 1940, cerca de 55% de analfabetos considerada a população de mais de 18 anos. Em meio a idas e vindas os diferentes segmentos sociais e seus representantes continuavam os embates políticos pela Educação. Há forte pressão pela educação popular e ações efetivas em prol das mesmas. Nomes como Anísio Teixeira e Lourenço Filho aparecem ligados a uma Campanha Nacional de Alfabetização de Adultos Precisamos destacar ainda a atuação do Movimento de Educação de Base, o MEB, criado em 1961 pela Conferência Nacional dos Bispos. Lima (1969) confirmou a abrangência desse movimento que tem base na paróquia e se espalha por todo o país, por causa da estruturação da Igreja Católica. Outro importante registro refere-se à experiência levada adiante em Angicos, uma cidade da Paraíba. Você já tinha notícias dela? Pensou certo quem ligou a palavra Angicos à atuação de Paulo Freire. O Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife visava contribuir na área da cultura, da arte e da educação popular a serviço dos setores populares. O movimento foi criado em 1960, e seu precoce fim ocorreu com o golpe militar de 1964. Foi nesse movimento que Freire que atuou em prol das camadas populares, possibilitando ampliar as oportunidades de alfabetização de adultos, propondo alfabetização em 40 horas, sem cartilha e material didático. O uso de palavras geradoras do universo vocabular do grupo de alunos e a forma de trabalho executado causaram impacto nacional e o presidente do país, João Goulart convidou Freire para comandar a Campanha Nacional de Alfabetização que chegou a ter algo em torno de 20000 inscritos. O término da Campanha e do movimento se dá em 1964. A partir dessa época o comando da alfabetização popular passa para o Movimento Brasileiro de Alfabetização – Mobral. O Mobral teve como incentivo financeiro o recebimento de 30% do recolhimento da Loteria Esportiva, o que 26 significava uma verba substancial. O Mobral foi criado pela Lei n° 5.379, de 15 de dezembro de 1967, e propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos, visando "conduzir a pessoa humana a adquirir técnicas de leitura, escrita e cálculo como meio de integrá-la a sua comunidade, permitindo melhores condições de vida". O projeto foi criado e mantido pelo regime militar e durante anos, jovens e adultos frequentaram as aulas do Mobral. A caminhada do Mobral teve êxitos e fracassos e seus programas foram se modificando na busca de um melhor desempenho, mas o Mobral acabou tendo seus progrmas incorporados pela Fundação Educar extinta 1990 pelo então governo Collor. No final de 1990 surge o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC). Mais recentemente, os programas de alfabetização mais marcantes foram o Programa Alfabetização Solidária – PAS e o Programa Brasil Alfabetizado que contaram com parcerias firmadas entre o governo e instituições públicas e privadas. No século XXI, em termos governamentais, as questões ligadas à EJA estão concentradas na SECADI. A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), criada em julho de 2004, é a secretaria mais nova do Ministério da Educação. Nela estão reunidos temas como alfabetização e educação de jovens e adultos, educação do campo, educação ambiental, educação em direitos humanos, educação escolar indígena, e diversidade étnico-racial, temas antes distribuídos em outras secretarias. O objetivo da SECADI é contribuir para a redução das desigualdades educacionais por meio da participação de todos os cidadãos em políticas públicas que assegurem a ampliação do acesso à educação. MCP - MEB - Mobral - PAS - Brasil Alfabetizado Aponte um ponto comum e um ponto diferente entre as siglas ou expressões 27 Durante todo esse capítulo desenhamos um painel sobre os Direitos à educação no tocante à EJA, seus avanços e retrocessos. Assim você teve a oportunidade de conhecer as abordagens internacionais, as abordagens legais e algumas ações, ao longo do tempo, sempre com o foco direcionado ao resgate da cidadania dos segmentos populares da nossa população. O próximo capítulo trará à cena mais especificamente a Pedagogia voltada aos adultos. 28 3. O QUE É A ANDRAGOGIA? Você já tinha ouvido falar emAndragogia? Vamos apresentar algumas abordagens a partir da palavra. Ao final desse capítulo você poderá ter construído as seguintes competências e habilidades: Traçar um paralelo entre Pedagogia e Andragogia. Estabelecer diferenças entre as propostas educativas para crianças e para os alunos de EJA Andragogia (do grego: andros - adulto e gogos - educar) procura compreender o adulto para educá-lo. Segundo Bellan (2005, p.20) “a Andragogia é a ciência que estuda como os adultos aprendem”. A autora relata que foi o educador alemão Alexander Kapp em 1833, quem primeiro usou esta nomenclatura. A Andragogia foi definida por Malcolm Knowles como a arte e ciência de ajudar o adulto a aprender, transpondo para a Pedagogia a responsabilidade da educação das crianças e adolescentes. Para educadores como o suíço Pierre Furter (1973), a Andragogia é um conceito amplo de educação do ser humano, em qualquer idade. A UNESCO, por sua vez, já utilizou o termo para referir-se à educação continuada. Para Gadotti (p.280), referendando Furter, quando trabalhou o conceito de Educação Permanente, considerou a Andragogia como A Pedagogia da Educação de Adultos. 29 Sob a diferenciação legal entre menores e maiores, a Lei 8.069/90 (ECA) em seu art. 2º considera a pessoa até 12 anos incompletos como criança e aquela entre 12 e 18 anos como adolescente. Por esta Lei, a definição de jovem se dá a partir de 18 anos. Entendemos como tarefa do nosso fazer pedagógico a necessidade e importância de se educar permanentemente o ser humano em qualquer período de seu desenvolvimento psicológico em função de sua vida cultural, ecológica e social. Se nós formos trabalhar em escolas com a EJA devemos ter em mente que adulto não cessa de aprender ao longo de toda a sua vida, mas o adulto que chega a um agente educativo é diferente da criança e do adolescente. A conservação da habilidade de aprender está mais relacionada com a prática continuada de novas aprendizagens e do grau de instrução do que expostas aos efeitos da idade. Entretanto, não é possível, fazer a transposição pura e simples das mesmas técnicas de ensino empregadas nas escolas de Ensino Fundamental e Médio aplicá-las para os adultos. Assim alguns princípios devem ser levados em conta na Educação de adultos. O americano Eduardo Lindeman, 3 um estudioso da Educação de Adultos, coloca algumas idéias muito marcantes sobre o que fazer ou não fazer ao se educar adultos. Vamos lê-las e refletir sobre suas propostas? 3 http://www.infed.org/thinkers/et-lind.htm 30 A Educação do adulto será através de situações e não de disciplinas. Na educação convencional é exigido que o estudante ajuste-se ao currículo estabelecido: na educação do adulto o currículo é constituído em função da necessidade do estudante. Textos e professores têm um papel secundário neste tipo de educação; eles devem dar a máxima importância ao aprendiz. Um adulto tem seus interesses pelo aprendizado que se direcionam para o desenvolvimento de habilidades as quais utiliza no seu papel social, na sua profissão. Dessa maneira e com mais ânsia , o adulto passa a esperar uma imediata aplicação prática daquilo que aprendeu, reduzindo seu interesse por conhecimentos que serão úteis num futuro distante, preferindo aprender para resolver problemas e desafios do que aprender assuntos isolados ou tarefas centradas em conteúdos. Podemos considerar que um adulto tem motivações e necessidades que giram em torno de três "mundos" Profissão; Desenvolvimento pessoal e Relações sociais. 31 Esse aluno acumulou experiências de vida que vão ser fundamento e substrato do seu aprendizado e seu foco de motivação para aprender estão ligados à satisfação, autoestima e melhoria de qualidade de vida Todas essas características levam o professor da EJA a se colocar também como um aprendiz porque para a Andragogia o que ocorre é a confrontação de experiências de dois adultos, daquele que educa e daquele que é educado em permanente troca de papéis. Desaparece a diferença entre ambos visto que são adultos com experiências e igualados no processo dinâmico da sociedade. Na Andragogia, o conceito tradicional, onde um ensina e o outro aprende, um sabe e o outro não sabe, teoricamente deixa de existir para se tornar uma ação recíproca onde, muitas vezes, é o mestre quem aprende. Para Fava (2006)4 necessitamos ter a humildade suficiente para, além de nos tornarmos aprendizes, transformarmo-nos (...) “em tutor eficiente para demonstrar a importância prática do assunto a ser estudado; transmitir o 4 www.vidaeaprendizado.com.br/artigo.php?id=77. Não podemos abandonar totalmente os métodos clássicos, de currículos parcialmente estabelecidos e professores que orientem e guiem seus alunos, nem podemos, por outro lado, tolher o crescimento de nossos estudantes através da imposição de um currículo rígido, que não valorize suas iniciativas, suas individualidades, seus ritmos particulares de aprendizado. 32 entusiasmo pelo aprendizado; mostrar como aquele conhecimento fará diferença na vida dos alunos”. A mudança não pode ser somente na postura do professor, o aprendiz necessita iniciar o processo mudando seus próprios valores, suas crenças (desaprender para aprender) e aprendendo a ter flexibilidade, para que aumente sua capacidade de aprendizado. Não há fórmulas mágicas para a condução do processo ensino aprendizagem na EJA, mas algumas atitudes e habilidades podem ser incrementadas tais como: estimular o autodidatismo, a capacidade de autoavaliação e autocrítica, as habilidades profissionais, a capacidade de trabalhar em equipes. Precisamos enfatizar a responsabilidade pessoal do aluno pelo próprio aprendizado e a necessidade e capacitação para a aprendizagem continuada ao longo da vida. Pronto para o trabalho? Incentive seu aluno a participar do planejamento Procure atender à motivação interna do educando Estabeleça um clima de trabalho com confiança e respeito Enfoque conteúdos com interesse imediato e com aplicação prática Valorize a experiência como fonte de aprendizagem. Atividade para discutir na aula presencial ou nas trocas com seu tutor e colegas no AVA Retorne ao parágrafo que expõe (...) “não há fórmulas mágicas no processo ensino aprendizagem da EJA”. Explique uma das possibilidades de ação que o parágrafo aborda. O capítulo que se encerra trouxe à cena conteúdos da Andragogia que nos vão auxiliar a bem trabalhar com a EJA. O aprofundamento teórico de algumas dessas ideias está apresentado no capítulo a seguir. Esses autores abordaram em seus estudos muitas possibilidades aproveitadas na EJA. 33 4. AUTORES QUE NOS AJUDAM A SEDIMENTAR O TRABALHO NA EJA Algumas atividades práticas de trabalho didático pedagógico estão sendo apresentadas, como sugestão, no nosso módulo sobre a EJA. Vamos utilizar agora um título de Antunes (2002, p.17) para explicar o porquê de destacar alguns educadores e suas contribuições para a fundamentação teórica na EJA. Antunes assim se expressa: “Estamos apoiados em ombros de gigantes”. O que será que isso significa? Você acertou quando pensou que o nosso fazer pedagógico está calcado nas ideias dos muitos educadores ouprofissionais de outras áreas afins, que com seus estudos, trouxeram imensa contribuição ao trabalho na sala de aula. Assim vamos apresentar algumas das ideias relativas à EJA ou aproveitadas pela EJA, para o desenvolvimento teórico-prático dos trabalhos com os alunos. Ao final do capítulo você poderá ter construído as seguintes competências e habilidades Valorizar o que eles trouxeram de Piaget, Vigotsky, Makarenko e Freire como contribuição para a EJA. Caracterizar Makarenko e a pedagogia em escolas populares. Reconhecer Piaget como autor que aborda o conhecimento como resultado de ações e interações do sujeito com o ambiente em que vive. Destacar Vigotsky e a colaboração para o entendimento da Zona de desenvolvimento proximal. Identificar Freire com a concepção que enfatiza que educador e educando aprendem juntos, num processo constante de aperfeiçoamento. Faz-se necessário um importante esclarecimento. Toda escolha apresenta parcialidades. Podemos escolher um autor e deixar de citar outros porque como cita Gadotti (p.19) não pretendemos “(...) esgotar todos os temas e todos os autores” que contribuem para o trabalho na EJA. 34 4-1-Os autores, seus tempos e seus espaços Começamos com Anton Semionovitch Makarenko- (1888 a 1939) Imagem da Editora Abril - Suplemento Educar para crescer de 01/07/2008 Makarenko nasceu na república da Ucrânia, hoje independente, mas que à época fazia parte do Império Russo. Formado em Pedagogia dava aulas em escolas populares. Em 1917 , quando ocorreu revolução socialista que instituiu uma república popular acabando com os privilégios monárquicos, ele estava dirigindo uma escola para ferroviários Em 1920 encara o desafio de reeducar, com visão socialista, infratores e menores abandonados. O que dizer a respeito de Jean Piaget (1896 a 1980) Imagem: Pensadores da educação-Editora Abril 35 Muitas vezes citado ao longo do nosso curso, Piaget foi um biólogo e psicólogo suíço. Dedicou-se ao estudo o processo de construção do pensamento. O autor desenvolveu uma teoria de conhecimento a chamada Epistemologia Genética. Ele e seus colaboradores escreveram mais de 30 obras. Entre os seus seguidores está a argentina Emilia Ferreiro, muito influente no Brasil. e que se baseando no legado do autor, aprofundou a ideia de que é necessário que o aprendizado seja feito de maneira significativa constituindo a base do Construtivismo. Outro nome relacionado ao proposto para a EJA é o de Lev Semynovitch Vygotsky( 1896 a 1934). Imagem: Pensadores da educação-Editora Abril Nascido na Bielo-Rússia, no Império Russo, formou-se em Direito pela Universidade de Moscou e mais tarde em Medicina. Dedicou-se à pesquisa literária e atuou, entre 1917 e 1923, como professor de Artes, Literatura e Psicologia. A partir de 1924 aprofundou-se na Psicologia, em especial estudando os deficientes. Não podemos deixar de citar, entre os influentes pensadores, o nome de Paulo Freire (1921 a 1998). 36 Imagem: Pensadores da educação-Editora Abril Freire nasceu em Pernambuco, formou-se em Direito, mas não exerceu a profissão. Deu aulas de português e posteriormente trabalhou no SESI de Pernambuco, onde desenvolveu suas primeiras experiências com trabalhadores. Desenvolveu extenso programa de educação de adultos. 4-2 Os autores e suas ações e obras akarenko viu-se frente a frente com o desafio da reeducação socialista. .A partir dessa prática formulou sua teoria pedagógica, abrangente e engajada. Descreveu em POEMA PEDAGÓGICO: as suas experiências na colônia correcional onde, relatou ter aprendido mais do que todas as teorias pedagógicas. Nas suas ideias para formar o cidadão soviético. Makarenko pretendia desenvolver: nos alunos um sentimento de dever e M Engajado nesse caso quer dizer: que toma posição diante dos problemas políticos e sociais. Socialismo-denominação dada a uma variedade de doutrinas econômicas,políticas e sociais que têm em comum a condenação da propriedade privada dos meios de produção. 37 responsabilidade para com a sociedade, obtendo educandos com uma personalidade disciplinada, em prol do coletivo com espírito de colaboração solidariedade e camaradagem, resultando numa sólida formação política e na capacidade de conhecer os que na época eram considerados como inimigos do povo. iaget dedicou-se ao estudo sobre como se adquire conhecimentos, concluindo que este não pode ser concebido como algo pré-determinado, nem como resultado de percepções mas como resultado de ações e interações do sujeito com o ambiente em que vive. De acordo com essas ideias, Piaget entendia o homem como um sujeito ativo que em todas as etapas da sua vida procura compreender e conhecer o que se passa a sua volta. Dessa forma o conhecimento é adquirido num movimento de assimilação – adaptação – desequilíbrio - ação - assimilação e equilibração. Conclui-se a partir disso que é grande a importância do estímulo, do desafio, da lacuna de conhecimento, provocando desequilibração que incentive a ação em busca do equilíbrio. igotsky teve suas obras proibidas de circular, na antiga URSS , durante algum tempo, porque dizia que havia um aspecto individual na formação da consciência e que portanto a concepção da coletividade se constituía através de pessoas com singularidades próprias. Vygotsky enfatizou a importância da interação do organismo com as condições de vida social e das formas histórico-sociais de vida da espécie humana. Enquanto Piaget aborda a construção do conhecimento pela ação, Vygotsky considera que esse sujeito é ativo e interativo, porque constitui conhecimentos e se constitui a partir das relações inter e intra culturais. (do plano social para o individual) assim estabelece o conceito de zona de desenvolvimento proximal. O professor deve atuar tendo em mente que a aprendizagem está calcada no desenvolvimento prévio e P V 38 anterior, mas também depende do potencial que todos nós temos e à escola cabe atuar no sentido de estimular constantemente a ZDP. reire, como você já deve ter lido, foi considerado um dos maiores educadores do século XX. Na lista de seus escritos destaca-se Pedagogia do Oprimido - que foi traduzida em 18 línguas. A sua obra é voltada para uma teoria do conhecimento aplicada à educação, sustentada na concepção que educador e educando aprendem juntos, num processo interativo e constante. Freire tem sua maior contribuição no campo da EJA, mas, sua teoria pedagógica aborda outros aspectos como a pesquisa participante que envolve os interessados diretamente nos projetos, encaminhando - os a uma crescente conscientização Seu método para a formação da consciência crítica passa por fases que são: a investigação, a tematização e a problematização sempre visando à conscientização. Para Saber Mais Acesse o site do Instituto Paulo Freire para conhecer como estão organizados os trabalhos de seus seguidores buscando dar continuidade às ideias desse educador. http://www.paulofreire.org/Capa F Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é um conceito elaborado por Vigotsky e define a distância entre o nível de desenvolvimento real, determinado pela capacidade de resolver um problema sem ajuda, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através de resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou em colaboração com outrocompanheiro. http://pt.wikipedia.org/wiki/Zona_de_desenvolvimento_proximal. Acesso em 15 de jun 2011. 39 Agora que tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais esses quatro pensadores, cujos trabalhos influenciam a EJA, vamos fazer um exercício. Procure relacionar o autor com o pensamento, colocando as iniciais de cada um deles no pensamento correspondente. Para esse autor o objetivo da escola era baseado na vida em grupo, na autogestão, no trabalho e na disciplina que contribuiu para a recuperação de jovens infratores. Para esse autor a criança não aprende sozinha nem é dominadora exclusiva da sua evolução. Ela aprende essencialmente com os outros através de múltiplas relações o que acentua o valor do grupo social e da escola. Para esse autor que sempre se dedicou a educação dos menos favorecidos visando conscientizá-los, não era se calando “que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação reflexão.” Para esse autor que enfatizava a ação entre o sujeito e o objeto como a base do conhecimento, se um indivíduo fosse passivo intelectualmente não conseguiria ser livre moralmente. Você encontrou: M-V-F-P ? Ao término do nosso capítulo esperamos tê-lo feito refletir sobre o quanto a prática de sala de aula recebe a contribuição dos que nos antecederam. Os 40 autores apresentados contribuem com seus conhecimentos para a EJA, cada qual com seu legado, mas neles podemos verificar a preocupação com a aprendizagem ativa, participativa e interativa como citado em Piaget, Vigotsky e Freire. Por outro lado aparecem em destaque as questões culturais e comunitárias em Makarenko, Vigotsky e Freire. As questões políticas estão mais evidentes em Makarenko e Freire. Também Piaget e Vigotsky enfatizam as questões mais ligadas ao como aprendemos, apresentando-nos um viés mais psicológico dos seus estudos. Ainda em Freire e Makarenko tem destaque a temática relativa ao trabalho. Estes foram os motivos para nos levaram a escolhê-los. Como atividade final, busque no menu inserir, opção formas e coloque setas interligando os autores com o que melhor expressa seu trabalho. Makarenko Conscientização Freire Coletivismo Vigotsky Equilíbrio e desequilíbrio Piaget ZDP A partir desse capítulo, exemplificaremos múltiplas possibilidades das práticas pedagógicas na EJA e assim você poderá perceber a nítida influência desses autores. Vamos partir para o estudo sobre a alfabetização de adultos, um dos focos mais importantes do nosso módulo. 41 5. JOGANDO LUZ SOBRE O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E A EJA Dentre todos os trabalhos a serem levados a termo na EJA destaca-se sem nenhuma dúvida, o processo de alfabetização daqueles que ou não tiveram acesso à escola ou, dos que por motivos variados,tiveram que abandoná- las.. Ao final do estudo desse capítulo esperamos que você tenha desenvolvido as seguintes competências e habilidades. Estabelecer a diferença entre ser alfabetizado e ser letrado Entender que a leitura da palavra deve ser feita para que o aluno seja capaz de ler o mundo. Refletir sobre a importância do alfabetizar para o aluno da EJA Um adulto que inicia o processo para o domínio do código lingüístico já teve outros contatos com o mundo das letras. Daí advém a necessidade de diferenciarmos alfabetização e letramento. FIQUE ATENTO Você já deve ter assistido o filme Central do Brasil de Walter Salles (1998). Se não tiver assistido, vale a pena pegá-lo na locadora especialmente porque o filme retrata a vida de Dora e Josué. Ela é uma professora aposentada que ganha a vida escrevendo cartas para analfabetos, na maior estação de trens do Rio de Janeiro - a Central do Brasil. Nesse trabalho de escriba , os adultos ditam para ela as cartas a serem enviadas. Ao conceituarmos alfabetização e letramento, percebemos que ambos são processos que envolvem a aquisição de um sistema de escrita, estando, portanto interligados, separam-se quanto à abrangência e natureza. Segundo Soares (2003, p.93) 42 (...) distingue essas duas concepções enfatizando que alfabetização e letramento são processos distintos, de natureza interdependente e indissociável. A alfabetização não precede, nem é pré-requisito para o letramento, pois pessoas analfabetas, por estarem inseridas no contexto letrado, possuem um nível de letramento, o que pode ser visto como uma consequência da imersão na cultura letrada. A alfabetização faz parte de um contínuo linear, com limites claros. Passa-se de analfabeto a alfabetizado. Já o letramento é um processo contínuo não-linear, multidimensional, ilimitado, sempre em permanente construção. Após essa explicação você é capaz de relatar estabelecer o vínculo entre o filme e os conceitos de letramento e alfabetização? Visando clarificar ainda mais as idéias temos em Koogan e Houaiss (2004) que letramento: é o conjunto de práticas que denotam a capacidade de uso de diferentes tipos de material escrito. Alfabetização: é um processo dentro do letramento e, segundo Magda Soares, é a ação de ensinar/aprender a ler e a escrever. A pessoa adulta da mesma forma que a criança, mesmo não alfabetizada, já pode ser inserida em um processo de letramento. Pois, ela faz a leitura incidental de rótulos, imagens, gestos etc. Dessa forma podemos dizer que o contato com o mundo letrado é muito anterior ao das letras e vai além delas. O que se pretende então é o entendimento da leitura e a escrita como sendo (...) um adulto pode ser analfabeto, porque marginalizado social e economicamente, mas, se vive em um meio em que a leitura e a escrita têm presença forte, se se interessa em ouvir a leitura de jornais feita por um alfabetizado, se recebe cartas que outros lêem para ele, se dita cartas para que um alfabetizado as escreva,se pede a alguém que lhe leia avisos ou indicações afixados em algum lugar, esse analfabeto é, de certa forma, letrado, porque faz uso da escrita, envolve-se em práticas sociais de leitura e de escrita. (SOARES, 2008, p. 24) 43 concebidas dentro das práticas sociais, tornando o aluno capaz de participar de sua comunidade de forma efetiva. Assim sendo para garantir a verdadeira inclusão social, o processo de escolarização de pessoas jovens e adultas deverá buscar uma progressiva e permanente inserção dos sujeitos em situações de letramento. É possível afirmar que o processo de alfabetização de jovens e adultos traz muitas implicações e desafios, tanto para aqueles que se propõem a assumir essa tarefa de alfabetizador, quanto para os alfabetizandos. Quando se busca promover a inserção plena dos alfabetizandos na cultura da escrita muitas práticas equivocadas ainda são utilizadas. As barreiras são de diferentes ordens; como por exemplo, a seleção de conteúdos e métodos de ensino. Alfabetizar na EJA não é tarefa fácil, pois o alunado é, em sua maioria, constituído de pessoas de meia idade, que possuem uma rica experiência de vida e que precisam ver funcionalidade naquilo que é proposto a ser ensinado. 44 Desse modo os profissionais que atuam na Educação de Jovense Adultos precisam ser atentos, observadores e principalmente pesquisadores, pois precisam criar oportunidades para que esses alunos tenham acesso à cultura letrada que lhes possibilite participar ativamente da esfera política, cultural e do trabalho. Isso implica necessariamente a revisão do papel da escola, do professor, nas novas concepções de ensino e aprendizagem e dos conteúdos a serem abordados nesses processos. Freire (1991) dizia que: “ Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.” Com esse pensamento ele procurava alertar sobre a alfabetização conscientizadora, em que o aluno aprende a ler para entender e agir no mundo como sujeito e cidadão. Sugestões de vídeos sobre a alfabetização no site da Revista Nova escola on line. AS CONTRIBUIÇÕES DE FREIRE Especialistas comentam o legado de Paulo Freire COMPUTADOR E ALFABETIZAÇÃO Teclado facilita escrita de adultos não-alfabetizados 45 Atividade Globalizante Interprete a afirmativa retirada de Cury (2001) (...)a alfabetização, concebida como o conhecimento básico, necessário a todos, num mundo em transformação, é um direito humano fundamental. Em toda a sociedade, a alfabetização é uma habilidade primordial em si mesma e um dos pilares para o desenvolvimento de outras habilidades. (...) O desafio é oferecer-lhes esse direito... A alfabetização tem também o papel de promover a participação em atividades sociais, econômicas, políticas e culturais, além de ser um requisito básico para a educação continuada durante a vida. (Declaração de Hamburgo sobre a Educação de Adultos, de 1997, da qual o Brasil é signatário). Apresentamos nesse capítulo algumas considerações sobre o processo de aprendizagem da leitura e da escrita com ênfase nas concepções freireanas relativas a uma alfabetização conscientizadora, que permita ao aprendiz tornar- se agente de seu crescimento pessoal e social , capaz de buscar novos caminhos visando a continuidade do processo educativo que o mundo moderno nos coloca como exigência. Em busca de mais conhecimentos o próximo capítulo trará como foco as questões relativas ao planejamento de uma multiplicidade de propostas educativas na EJA. 46 6. COMO FAZER A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA? Você lembra o que é transposição didática? De uma forma bem simples poderíamos dizer que é a maneira que temos de transformar o conhecimento científico em conhecimento escolar, para que possa ser ensinado pelos professores e aprendido pelos alunos. A sala de aula da EJA merece nossa atenção especial nesse capítulo, porque vamos apresentar aspectos ligados ao planejamento da ação do professor, visando o melhor atendimento ao grupo turma sugerindo instrumentos que visam uma transposição didática cada vez mais adequada. Dessa maneira esperamos que ao final do capítulo você tenha desenvolvido as seguintes competências e habilidades: Caracterizar os aspectos multiculturais dos alunos da EJA. Identificar as diferentes possibilidades de ação didática. Avaliar a importância da categoria trabalho como eixo norteador comum aos alunos da EJA. Apreciar planos didáticos relativos à EJA. Vamos ao trabalho? Quando um professor vai trabalhar com os alunos da EJA, talvez o aspecto mais marcante relativo ao grupo seja seu caráter multicultural. Estar atento a essas características deverá imprimir um rumo especial ao trabalho. 6.1 As questões multiculturais na EJA Criar e desenvolver um programa que atenda jovens e idosos, da cidade e do campo, depende de uma boa investigação sobre as expectativas de cada aluno e do grupo turma. Conseguimos constatar facilmente a multiplicidade de perfis dos alunos desse segmento de ensino, o que nos permite a conclusão que as classes de EJA são bastante heterogêneas. 47 Imagine-se com uma turma numa escola, em que você terá que respeitar a bagagem cultural que os alunos trazem, e tendo os seguintes perfis: Estudantes que aspiram a trabalhar, trabalhadores que precisam estudar. Os idosos, grupo crescente de pessoas no Brasil, que com a promessa de qualificação de vida para todos tendem a voltar para a escola, trazendo sua bagagem de vida a ensinar para as novas gerações. Adultos ou jovens adultos, constituindo-se num grupo em geral, com pessoas mais pobres e com vida escolar mais acidentada. Um expressivo número de analfabetos constituído de pessoas com mais idade oriundos de regiões pobres, interioranas, nas quais se encontram as maiores taxas de analfabetismo, grupo esse constituído principalmente pelos afro-brasileiros. Pessoas migrantes e trabalhadores braçais. Mulheres, às vezes, vítimas de preconceito de gênero, que não tiveram a chance de estudo na época adequada. Avôs e avós ao lado dos que não constituíram família. Há os jovens que já tiveram contato com a tecnologia e os que nunca tiveram chance de lidar com um computador. Você já pensou no que e como ensinar para um grupo tão diverso? As questões levantadas sobre a EJA indicam a necessidade de o projeto pedagógico levar em conta as singularidades dos/as alunos/as, sobretudo, no que se refere à raça, gênero e geração. (DINIZ E RAHME, p 121) É nesse universo multicultural que precisamos nos preparar para atuar. 48 Depoimento do professor A Dou aula em EJA há dois anos para a mesma turma que alfabetizei. Aprendi que é preciso auto-avaliar o nosso trabalho o tempo todo, porque os alunos já têm um universo criado e às vezes podemos nos esquecer disso. Quando falamos de agricultura, a turma se solta e participa. Parece que todos já sabem o conteúdo e eu só estou lá para facilitar uma ligação com o conhecimento formal. Tenho uma grande vitória para contar: este ano, minha mãe aprendeu a ler e a escrever com a minha ajuda. Foi uma luta, porque ela achava que jamais conseguiria. Essa, aliás, é a grande dificuldade do nosso trabalho: lidar com o pessimismo e a idéia de fracasso. Mas dá para reverter. Basta dizer que para aprender não tem idade. Todos os dias os estudantes me mostram que eu estou certo. Sabe aquela sensação de dever cumprido? “É o que sinto.” (Professor de 26 anos, atuando na Paraíba ) Fonte: Nova Escola- Nov.2003 Após a leitura do depoimento, qual é para o professor a maior barreira ao nosso trabalho com os alunos da EJA? Que aspectos multiculturais foram trazidos no relato? 6.2 Possibilidades de atividades pedagógicas em EJA Abordaremos alguns exemplos de atividades realizadas por profissionais em sala de aula bem como destacaremos algumas sugestões da SECADI 5para o trabalho na EJA. 5 Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão 49 De acordo com Gentile (2003) observe a estratégia utilizada por uma profissional, em uma classe de alfabetização, com alunos de faixas etárias bem diversas, atuando num colégio em São Paulo. O desafio da professora era ensinar a contar e a identificar as letras do alfabeto. Durante as primeiras conversas, ela descobriu que a maioria da turma tinha crescido próximo ao rio São Francisco. Como atividade de integração, Silvia propôs uma pesquisa sobre o "Véio Chico". Sem saber ler nem identificar mapas, muitos trouxeram para a classe histórias, lendas e contos relacionados à região. Fonte: Nova Escola- 167- Nov.2003Se você souber valorizar a sabedoria dos alunos e estabelecer analogias e ligações com a realidade deles, vai facilitar o processo de aprendizagem. Outra vantagem: os estudantes vão se sentir mais confiantes, rompendo assim o desconforto de estar aprendendo tardiamente. Decidi então não parar mais de estudar. Aprendi matemática graças a um professor que soube mostrar a teoria existente na realidade em que vivíamos. Ele sabia que a maturidade fazia aumentar a conexão das informações, deixando o conteúdo mais fácil e significativo. Segui em frente, fiz mestrado e doutorado em Filosofia na Universidade de São Paulo e agora me preparo para o pós-doutorado. (Continuação do relato de 2 da página 8) Fonte: Nova Escola 167- Nov.2003 50 Para Fonseca (2003) o professor da EJA precisa desenvolver algumas habilidades, no trato com seus alunos e apresenta como possibilidades as ações que estão no esquema: Essas são outras ideias que você pode aproveitar! Para entrar no mundo dos alunos, que trazem vivências muito diversas, nossa sugestão é que, para tentar atender ao interesse de todos, você busque apoio na categoria – trabalho. Contar a história das descobertas matemáticas e científicas Manter a turma atenta usando diálogos e debates Escrever no quadro, usando letras grandes Elogiar as suas capacidades de pensar e construir idéias Valorizar as habilidades dos estudantes, sua profissão e produções. Contextualizar as novas informações e estabelecer relações com o cotidiano Aprender a ouvir os alunos. Dispor mesas e cadeiras de forma a facilitar o diálogo Identificar quem são e o que fazem seus alunos antes de começar o trabalho pedagógi co Possibilidades de ação 51 6.3 O trabalho como fio condutor na EJA Os jovens e adultos que voltam a estudar têm uma característica em comum: o mundo do trabalho está presente em suas vidas. Alguns querem uma ocupação mais bem remunerada, outros desejam simplesmente ter um emprego e se inserir no mercado. A possibilidade de participação de todos os alunos tendo como fio condutor o trabalho levou a SECADI a elaborar material didático para alunos e professores conjugando sempre o trabalho e outro tema. Veja na tabela que se apresenta as diversas abordagens constantes no material da SECADI Cultura e Trabalho Diversidade e Trabalho Economia Solidária e Trabalho Emprego e Trabalho Globalização e Trabalho Juventude e Trabalho Meio Ambiente e Trabalho Mulher e Trabalho Qualidade de vida, consumo e Trabalho Segurança e Saúde no Trabalho Tecnologia e Trabalho Tempo livre e Trabalho Trabalho no Campo omo outras possibilidades de caminhada: ligadas ao tema sugerimos pesquisar sobre enfoques diversos na temática relativa ao trabalho como o custo de vida, com base em C 52 investigações realizadas na própria turma ou na comunidade. Outra maneira é fazer a ponte com algumas políticas de trabalho e de geração de renda. Buscar informações sobre linhas de crédito para pequenos investidores, políticas de empréstimos, créditos consignados podem ser assuntos formativos e render bons problemas de matemática. A seguir apresentamos dois exemplos de ações em turma, retirados de Gentile (2003), tendo o trabalho como eixo norteador. O trabalho foi usado com sucesso em Guarulhos, município da Grande São Paulo. Com pesquisas, entrevistas e uma linha do tempo, seus alunos relacionaram a trajetória profissional de cada um com fatos recentes da história do Brasil e ainda discutiram e dramatizaram a crise do emprego na comunidade, no país e no mundo No meio rural, o trabalho também pode ter lugar de destaque no currículo de EJA. Uma escola sindical em Belo Horizonte desenvolveu o Projeto Semear no interior de Minas Gerais e até em outros estados. Nos programas desenvolvidos, o desenvolvimento rural sustentável e a geração de trabalho e renda são temas centrais, assim como a memória dos estudantes, as relações sociais e culturais, a religiosidade, a família e a participação comunitária. A produção de relatos orais e escritos faz com que as conversas informais revelem memórias. 53 6.4 Para bem formular os planos didáticos A forma de trabalho da EJA exige muita flexibilidade de planejamento, muita escuta a respeito da vivência do aluno e dos seus anseios como temos procurado abordar durante esse módulo. Por outro lado isso não significa que devamos abrir mão de estruturar a proposta pedagógica que se quer desenvolver. De acordo com a proposta educativa para a EJA feita pelo MEC (2001) a elaboração de bons planos didáticos exige uma grande dose de criatividade do professor e um conhecimento razoável de como se realiza o processo de aprendizagem dos conteúdos por parte dos alunos. Cabe dessa maneira ao professor estabelecer e ordenar os objetivos de sua ação, nesse caso o currículo é um parâmetro indispensável. Como você já estudou no nosso curso um material mais específico sobre a elaboração de currículo, o objetivo aqui é somente lembrar que estabelecer o currículo é o início da caminhada. “Que aprendizagens eu espero que os educandos realizem? Como diversas aprendizagens podem se integrar num todo coerente, convergindo para os objetivos mais gerais do projeto pedagógico?” são indagações encontradas na proposta curricular para EJA , primeiro segmento elaborada pelo MEC.(2001, p. 210) 54 A segunda etapa consiste na elaboração de uma sequencia de atividades, através das quais se espera promover as aprendizagens, prevendo o tempo e os materiais necessários. Por fim, é preciso prever também como se fará a avaliação da aprendizagem. Tendo o cuidado inicial com o planejamento dos aspectos citados, podemos partir para a elaboração do plano didático. . Para elaborar um plano didático voltado para o Ensino Fundamental de Jovens e Adultos será preciso que se estabeleçam subdivisões, ou unidades menores de planejamento, a que chamamos aqui unidades didáticas. Uma unidade pode estar referida a uma área de conhecimento específica ou integrar diversas áreas. Tanto num caso como no outro, é fundamental que elas sejam definidas considerando a necessidade de coerência e integração das atividades, de modo a favorecer que os alunos estabeleçam relações entre diversos tópicos de conteúdo, possibilitando as aprendizagens mais significativas O plano didático orientado por eixos temáticos é uma opção especialmente indicada para esse nível de ensino, uma vez que permite as abordagens dos conteúdos das diferentes áreas em aspectos integrados ajudando no estabelecimento de muitas conexões. Este é um modo também de evitar uma excessiva dispersão de assuntos, o que poderia dificultar o processo de aprendizagem dos educandos nesses estágios iniciais. A escolha de um eixo Planejando para a EJA Currículo Sequencia de atividades Aspectos da Avaliação 55 temático deve ser feita considerando sua relevância para o grupo de educandos verificando sempre que possibilidades o eixo temático oferece para que sejam trabalhados os conteúdos curriculares de modo adequado. É hora de revisão! Volte ao texto do tópico 6.- 4. e crie um vocabulário específico para as palavras, a partir das informações que o texto oferece.Siga Sequencia didática Plano didático Unidades didáticas Eixo temático 56 Passamos a exemplificar com atividades ligadas aos conceitos apresentados. Para que a situação de aprendizagem não ficasse desvinculada de um contexto, criamos uma caracterização do grupo com o qual hipoteticamente estamos trabalhando. Toda essa parte está transcrita na íntegra, de acordo com o exposto a partir da página 212, do documento. (MEC,2001) Plano didático 1-Caracterização do grupo São 25 alunos moradores da periferia de um grande centro urbano, com idades variando entre 18 e 37 anos. A maioria deles é migrante de zonas rurais de outros estados, tendo já trabalhado na agricultura. Atualmente exercem atividades profissionais ligadas ao comércio e aos serviços, empregadas domésticas, balconistas, vigilante, auxiliar de estoque, ajudante de cozinha etc. Moram num bairro pobre, onde se situa o centro educativo, e dispõem de pouco tempo para o lazer. Os que já estiveram alguma vez na escola o fizeram por períodos breves, a maioria em escolas rurais. Desejo de conseguir um emprego melhor e outros relativos ao desenvolvimento pessoal foram motivos alegados para procurar um curso de alfabetização. Principalmente os mais jovens manifestaram desejo de continuar a escolarização até o final do 1º grau. Todos sabem escrever seus nomes, conhecem letras e números, sabem em que situações sociais a escrita é utilizada. Aproximadamente a metade deles consegue decifrar partes de uma pequena lista de compras e um anúncio breve, com muitas dificuldades, sem conseguir apreender o sentido do que estão lendo. Alguns conseguem escrever palavras ditadas, mas com muitas omissões de letras. Com poucas exceções, sabem ler os números usuais e realizam cálculos mentais para resolver problemas simples envolvendo pagamento, preço, troco etc. 57 Relacione as ilustrações do Clipart com a caracterização da turma descrita. 2-Caracterização do plano didático tendo em conta os objetivos e os conteúdos O foco central do plano será a iniciação dos educandos na leitura e escrita, além da consolidação de seus conhecimentos sobre a escrita numérica. A compreensão de como funciona o sistema de escrita alfabético, assim como a fixação do valor sonoro das letras, merecerá uma atenção especial em todas as unidades. Considerando que esses jovens e adultos sofrem com o estigma de serem migrantes analfabetos vivendo num grande centro urbano, haverá também uma atenção especial ao desenvolvimento de atitudes confiantes na própria capacidade de aprendizagem, para o que será necessário que eles reconheçam 58 os conhecimentos que já têm e a possibilidade de adquirirem novos conhecimentos. Neste sentido, serão promovidas oportunidades de expressão oral de suas experiências. O plano visa também uma diversificação de materiais de leitura, de modo que eles possam se familiarizar com a diversidade de textos presentes no cotidiano, iniciando-se no desenvolvimento de estratégias de compreensão e fluência na leitura. O eixo temático desse projeto de trabalho é “A identidade e o lugar de vivência”. Os conteúdos desenvolvidos abarcam as áreas de Língua Portuguesa, Matemática, Estudos da Sociedade e da Natureza. O tempo de duração estimado é de 17 semanas, prevendo-se cinco sessões de duas horas e meia por semana. ( p. 214) Continuando a análise da proposta apresentada são expostas as Unidades Didáticas a serem desenvolvidas. (p.222) Como exemplo nós retiramos uma das unidades cuja temática é ligada ao momento do nascimento do aluno UNIDADE 3: QUANDO EU NASCI (3 semanas) • Elaboração de listas relacionando nomes com idades, em ordem crescente e decrescente. • Observar em documentos pessoais onde estão registrados nome, local e data de nascimento. • Preenchimento de formulários simples com dados pessoais. Para saber mais Para nosso módulo não há como reproduzir a listagem de conteúdos a serem desenvolvidos, mas como sugestão acesse o endereço: http://portal.mec.gov.br/SECADI/arquivos/pdf/eja/propostacurricular/primeiros egmento/propostacurricular.pdf A partir dele você terá toda a listagem dos objetivos e conteúdos pretendidos. 59 3-Introdução com informações ao professor 4-Atividades para serem propostas aos alunos 5-Resultados esperados 6-Informações complemen- tares ao professor 1-Identificação do tema e nível da turma 2-Objetivos da aula • Análise e construção de calendário (nomes dos meses e dias da semana, relações entre dias, semanas e meses). • Elaboração de uma agenda da sala, marcando aniversários, feriados escolares, compromissos etc. • Localização numa linha do tempo dos anos de nascimento dos alunos. •Resolução de problemas envolvendo datas, idades e prazos (comparando datas de nascimento, saber que é mais velho; quantos anos eu terei no ano tal? dado um prazo, em que data vence etc.). O Anexo 1, ao final do nosso material a respeito da EJA, traz outras sugestões interessantes. Se você esteve atento notou que há no material do professor um passo a passo que vamos reproduzir: : 60 Que tal utilizá-lo quanto estiver com sua turma? Atividade globalizante Aponte pelo menos dois cuidados essenciais à realização de um trabalho didático bem feito tendo em conta o alunado da EJA. Nesse capítulo 6 foram evidenciadas várias questões relativas às possibilidades de melhor fazer as transposições didáticas que atendam à EJA. Iniciamos acentuando o caráter multicultural da ação pedagógica. Apresentamos também exemplos de atuação de professores em salas de EJA tomando o relato deles e de alguns alunos contando suas experiências bem sucedidas. Destacamos aspectos ligados às questões de trabalho que se constituem num eixo facilitador que traz grandes chances de participação envolvente para o grupo turma. Para terminar abordamos exemplos ligados ao planejamento estruturado para a EJA. Caminhamos para o próximo capítulo onde estudaremos sobre a avaliação da aprendizagem, cujo movimento de partida está sempre ligado ao planejamento, a sua execução, acompanhamento e replanejamento tendo em vista a aprendizagem dos alunos. 61 7-A AVALIAÇÃO NA EJA De todos os temas debatidos na Educação, aqueles que causam mais discussão, estão ligados às questões da avaliação da aprendizagem. Como estamos tratando da avaliação da aprendizagem de jovens e adultos esse assunto se torna ainda mais polêmico, porque é considerado por muitos educadores como um dos principais responsáveis pelo fracasso e exclusão de um grande número de alunos e alunas que freqüentam as salas de aula. A fim de revermos nossa postura frente à avaliação esperamos que ao final da leitura do capítulo você tenha desenvolvido as seguintes competências e habilidades: Reconhecer a avaliação como indispensável ao processo de escolarização. Diferenciar medida de avaliação Estabelecer alguns parâmetros para ação avaliativa em EJA. Estar munido de ideias para contribuir para redução ou até eliminação do fracasso escolar em especial de jovens e adultos. Para começar vamos dar um exemplo que nos permitirá distinguir medida de avaliação. Digamos que alguém vá a uma costureira e ela tireas medidas dessa pessoa, anotando-as num caderno, para mais tarde ela confeccionar, diante das medidas já tomadas, a roupa pedida pela cliente. Ocorre que ao experimentar a roupa a pessoa que a encomendou avaliou que ela estava um pouco larga, porque ela havia emagrecido e a costureira na hora da prova constatou a mudança no corpo da cliente e precisou refazer seu trabalho. 62 Medida - avaliação – reajuste. Num outro exemplo digamos que um jogador de futebol, após marcar muitos gols, sofreu uma contusão e ficou afastado dos campos por um pequeno período, mesmo assim o treinador escalou-o para a decisão do campeonato porque o avaliou pelo seu potencial. O jogador brilhou no campeonato. Medida - avaliação e respeito à potencialidade. É possível então estabelecer certa analogia entre as situações anteriores e o que ocorre na Educação: O autor Popham , citado por Depresbiteris (2000, p.54) afirma que : O processo avaliativo inclui a medida, mas não se esgota nela. A medida revela o quanto o aluno possui de determinada habilidade; a avaliação informa sobre o valor dessa habilidade. A medida descreve os fenômenos com dados quantitativos; a avaliação descreve os fenômenos e interpreta – os, utilizando-se também de dados qualitativos. Responda: O técnico soube avaliar? Por que? A costureira soube agir diante da diferença entre o planejado e o que obteve como resultado? Por que? 63 A partir destes exemplos e da citação gostaria de levá-los a pensar na escola. A avaliação deve ser feita pelo professor para acompanhar o aluno e reajustar aquilo que não foi possível alcançar (como fez a costureira) ou ainda a avaliação deve ser feita tendo em conta as potencialidades do aluno mesmo que ele esteja momentaneamente com alguma dificuldade, como fez o treinador. Logo medir é uma coisa e avaliar é algo maior e mais completo. Agora responda: Durante a sua vida escolar você teve professores que só utilizavam medidas ou teve professores que trabalhavam medindo, avaliando e replanejando? 7.1 As possibilidades de avaliação na EJA A avaliação está sempre ligada ao que planejamos para o nosso grupo turma, assim durante o planejamento precisamos indicar como se fará a avaliação citando, por exemplo, quais vão ser os indicadores de alcance dos objetivos traçados que mostre o quanto o aluno aprendeu durante todo o processo, necessitamos da adequação das atividades propostas a esses Para começo de conversa é importante fazer a ponte entre o planejamento e a avaliação. 64 objetivos e especialmente devemos pensar nas intervenções que o professor terá que fazer com as evidências recolhidas no processo de avaliação. Durante todo processo de ensino-aprendizagem devemos ter em conta, que ao professor, cumpre manter uma atenção constante com relação à aprendizagem, buscando criar atividades pontuais que permitam intervir diante das situações que se apresentem. Retiramos do documento para EJA elaborado pelo MEC o seguinte exemplo para a atividade avaliativa contínua. Num curso de alfabetização, por exemplo, o critério “sabe ler ou escrever” é insuficiente para indicar os progressos realizados ao longo do processo. Neste caso, seria aconselhável que o educador contasse com um instrumento de acompanhamento de cada aluno, onde se distinguissem aprendizagens mais específicas como, por exemplo, “conhece as vogais”, “segmenta as palavras adequadamente”, “conhece a grafia de palavras com dígrafos”, “usa pontos para segmentar as frases”, “conhece aspectos estruturais de uma determinada modalidade de texto”.6 6 http://portal.mec.gov.br/SECADI/arquivos/pdf/eja/propostacurricular/primeirosegmento/propostacu rricular.pdf É essencial ter uma visão avaliativa constante e fazer uma avaliação continuada das aprendizagens para realizar as intervenções pedagógicas. 65 A auto avaliação do aluno e o redimensionamento do erro Certamente os jovens e adultos são capazes de se auto-avaliarem e perceberem o quanto já caminharam e o quanto ainda precisam caminhar com relação à própria aprendizagem. Isso implica em perceber o que já sabem e o que desejam saber. Nosso cuidado como professores será especialmente não reforçar no aluno visão do erro, da ignorância e da deficiência, apresentar claramente o que eles precisam aprender. De acordo com a Revista do Projeto Pedagógico7 os erros dos alunos durante a aprendizagem não podem ser ignorados, uma vez que são imagens da construção do conhecimento, que o aluno está apreendendo. Dessa forma o erro mostra o espaço e o movimento do aluno para avançar. Portanto, o erro deveria ser algo mais compreensível e melhor trabalhado. O erro não pode ser colocado como uma oposição ao certo. Erro é, sim, tudo aquilo que frusta o resultado desejado. 7-2-A avaliação final na EJA Na medida em que trabalhamos com a avaliação continuada, estaremos mais seguros para fazer a avaliação final do nosso aluno. No entanto esse tipo de avaliação se reveste com características diferenciadas. A lista de objetivos específicos das unidades de ensino não uma podem ser consideradas como determinante da aprovação ou reprovação do aluno. Nesse caso precisamos determinar aquilo que é essencial ao aluno para que ele possa seguir para uma série ou ciclo de estudo. Quando os professores chegam a esse momento, e sendo pessoas comprometidas com o trabalho educativo que realizam normalmente eles se vêm diante da angústia. É preciso zelar pela certificação a ser dada ao aluno para que a mesma corresponda ao que está proposto nos objetivos educacionais 7 http://www.udemo.org.br/RevistaPP_02_08QuandoErrar.htm 66 correspondentes ao que se espera de alguém que esteja naquele nível de ensino Por um lado, está em jogo a questão da reprovação ainda tão marcante no nosso sistema escolar, que desestimula e acaba por expulsar grande parte dos alunos, negando-lhes a possibilidade de concluir a escolaridade fundamental. De acordo com a Proposta curricular para jovens e adultos, 2001, p.227 apresenta-se a seguinte afirmativa: O estabelecimento de critérios de avaliação final é uma tarefa especialmente delicada quando a avaliação deve orientar decisões sobre a promoção de um aluno dentro do sistema de ensino ou a certificação de um determinado grau de escolaridade. Ainda de acordo com a proposta do MEC para a avaliação de jovens e adultos as aprendizagens essenciais estão ligadas aos procedimentos, ao saber fazer, bem como ao aprender a aprender, assim descritas (...) são instrumentos para a realização de novas aprendizagens, aqueles que promovem a autonomia dos jovens e adultos na busca do conhecimento: as habilidades de compreensão e expressão oral e escrita, as operações numéricas básicas, a interpretação de sistemas de referência espaço-temporal usuais. (2001, p 227) 67 A partir das ponderações feitas, temos na proposta do MEC, já citada, a sugestão que se promova da primeira para a segunda fase do Ensino Fundamental os alunos que demonstrarem os conhecimentos relativos aos seguintes critérios mínimos: Critérios de mínimos para a aprovação da primeira para a segunda fase do Ensino Fundamental: Compreensão de um texto lido, manifestando essa compreensão por meio da exposiçãooral ou escritas das ideias básicas que constem do texto. Produção de uma mensagem escrita, tais como uma carta ou um relato, separando e seqüenciando o texto com pontuação adequada. Leitura e escrita dos números naturais até milhares Realização de cálculos de adição e subtração de quaisquer números naturais e multiplicação e divisão com números de até dois algarismos. Resolução de problemas simples com dados numéricos, operações com números naturais e unidades de medida. Identificação de informações contidas em tabelas ou esquemas como, por exemplo, indicar o produto mais barato numa lista tríplice de supermercado., esquema de organização de uma propriedade rural ou a posição de uma edificação em relação à outra. 68 Como enfatiza a proposta do MEC para a EJA (2001) a preocupação maior quando se trata da avaliação na EJA está ligada a incentivar e preparar os alunos para a continuidade do estudo, seja num programa de alfabetização ou no primeiro segmento do Ensino Fundamental. As aprendizagens visam melhorar as condições de inserção social e profissional dos alunos ajudando a aumentar confiança na própria capacidade de aprender. Dessa forma o Ensino Fundamental para jovens e adultos deve levar em conta que é a importante que os educandos continuem aprendendo, seja dentro do sistema de ensino formal, seja aproveitando ou lutando por mais oportunidades de se desenvolverem como trabalhadores, como cidadãos e como seres humanos. Resumindo nosso capítulo podemos perceber que foram apresentados enfoques da avaliação, em especial na EJA tais como: a diferença entre medir e avaliar, a necessidade de avaliação continuada para as correções da nossa intervenção didático-pedagógica. Destacamos também a importância do aluno se auto-avaliar e buscamos evidenciar sobre a importância do erro como tentativa para se chegar ao aprendizado. Para terminar abordamos sobre a avaliação final e a ênfase que devemos dar à continuidade dos alunos em direção à Educação Permanente. “Compreendendo o que antes não compreendia, a professora começa a ver o que não via antes e obviamente,passa a ajudar seus alunos e alunas a avançar, rompendo com o estigma do fracasso” (GARCIA, 2001,p.47) . 69 Atividade globalizante Volte à listagem dos objetivos do nosso capítulo e escreva como você se sente com relação ao seu aprendizado sobre a avaliação em EJA. Você conseguiu atingir ao que foi proposto? Escolha a faceta que indique seu nível aprendizagem quanto ao tema do capítulo: ( ) de forma plena( )de forma satisfatória( )com poucas dúvidas( ) com muitas dúvidas. No capítulo que terminamos ficou marcada a nossa preocupação com o prosseguimento dos estudos dos alunos da EJA. Para facilitar e flexibilizar espaços para esse aprendizado algumas possibilidades foram abertas. No próximo capítulo vamos apresentar alguns projetos de EJA que estão sendo realizados extramuros escolares como permite LDB 9394/96. 70 8. A EJA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA Como o registrado na Lei 9394/96 caracteriza-se uma possibilidade da EJA assumir, não só os espaços formais, como também os não formais de educação. Após o estudo desse capítulo você poderá ter desenvolvido as seguintes competências e habilidades: Listar alguns projetos da EJA em espaços extra escola. Compreender a utilização da EaD como mais uma alternativa para os alunos da EJA. Conhecer aspectos relativos a ação das empresas, ONGs e movimentos sociais que atuam na EJA . Podemos considerar que a atuação de instituições ou entidades voltadas à Educação de jovens e adultos já vem acontecendo há algum tempo, mas tem se acentuado na atualidade. Há vários exemplos de atuação que merecem destaque em diferentes salas de aula, sejam formais, como escolas, ou informais, como igrejas, sindicatos, canteiros da construção civil, espaços comunitários, assentamentos rurais e outros, que promovem não apenas o acesso do jovem e do adulto aos conteúdos escolares, mas, ainda, que lhes permite o acesso aos instrumentos que contribuem para a efetivação da cidadania . Para a melhoria das condições de vida Segundo a LDB 9394/96 no Art. 1º. Da Educação fica registrado que: A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. 71 da população e do país é preciso elevar o nível de educação de toda a população. As pessoas com uma formação escolar cada vez mais ampla costumam ter mais iniciativa e mais capacidade de resolver problemas. Dedicam- se a aprender continuamente e têm mais condições de trabalhar com eficiência e negociar sua participação na distribuição das riquezas produzidas. Assim visando atender, o mais amplamente possível, os adultos que não completaram a sua formação várias possibilidades têm sido buscadas. Passamos a descrever algumas dentre as muitas iniciativas que vêem ocorrendo. 8-1 A Escola na obra A relação entre trabalho e EJA é tão estreita que a sala de aula pode surgir nas próprias empresas onde os alunos estão empregados. De acordo com a Nova Escola (2003) por iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Mobiliários e da Construção Civil de João Pessoa, em parceria com a Universidade Federal da Paraíba acontece com o projeto Zé Peão. Entre tijolos e sacos de cimento, os canteiros de obras se transformam em classes após as 19 horas. Existem as turmas de ALP (Alfabetização na Primeira Laje), para quem não domina a leitura e a escrita, e as TST (Tijolo Sobre Tijolo), o equivalente à primeira etapa do Ensino Fundamental. A escola funciona de segunda a quinta-feira, até 21 horas. Os conteúdos abordados são sempre referentes à realidade desses operários. 72 De acordo com o relato de uma professora de uma turma TST temos: "Eles são muito rápidos no cálculo mental, (...) meu papel é partir do raciocínio que eles fazem e mostrar as operações matemáticas presentes no cálculo." No semestre anterior, a turma aprendeu a solucionar diversas questões trabalhistas, fazendo contas referentes ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, às férias e ao 13º salário. Atender à turma da maneira como a professora tem feito está bem de acordo com aquilo que temos exposto, não só nos aspectos relativos aos teóricos que estudamos como também nos aspectos que temos abordado. Que tal dar uma espiadela nos capítulos anteriores e descobrir duas semelhanças com os aspectos desenvolvidos nesse tópico? 73 8.2 Sistema “S” - Um caminho seguro para o mercado Algumas instituições, a partir da necessidade de qualificação profissional de seus empregados, procuram fornecer a eles os conhecimentos para atender ao necessário à empresa e também à atuação dos mesmos na sociedade. Nesse caso destaca-se o trabalho do sistema S. O mesmo engloba o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), o Serviço Social da Indústria (SESI), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e o Serviço Social do Comércio (SESC). Embora haja certa polêmica entre o empresariado e o governo, no tocante ao programa, seu reconhecimento é inegável. De acordo com Dorigatti (2008) as associaçõesenvolvidas estariam realizando o papel que o ensino público deveria estar cumprindo, que é o de capacitar o jovem para o mercado de trabalho. Por outro lado a capacitação atende aos interesses tanto dos empresários, que precisam de mão-de-obra qualificada, como dos empregados, que buscam uma oportunidade para entrar no mercado ou se desenvolver profissionalmente. Vamos conhecer um pouco mais sobre o SESI.8 Fundado durante a Era Vargas, o Serviço Social da Indústria nasceu juntamente com importantes conquistas para a qualidade de vida do trabalhador, encabeçadas pela CLT – Consolidação das Leis do Trabalho. O SESI não é apenas pioneiro, mas um agente de transformação. Por mais de 60 anos, tem se dedicado a atender aos trabalhadores da indústria com o máximo de atenção, zelando pelo seu bem-estar e saúde. Tudo partiu de uma visão simples: as 8 http://www.sesi.org.br/portal/main.jsp 74 pessoas são a força motriz e razão para as indústrias existirem; o resto é maquinário. Tem ainda como proposta superando o modelo escolar convencional, com um programa vai que além da sala de aula. Com metodologias de ensino adaptadas às necessidades do aluno adulto, proporciona a formação geral e básica do trabalhador, tornando-o um cidadão consciente. Desenvolvido pelo SESI em 27 Estados, em parceria com instituições públicas e privadas, oferece cursos supletivos equivalentes aos diversos níveis do Ensino Fundamental e Médio em empresas, unidades escolares do SESI e outros espaços da comunidade. 8-3 Para aprender em casa Diversas metodologias alternativas ao ensino presencial ajudam os alunos que estão impossibilitados de freqüentar a escola. Pode ser por rádio, televisão, internet, livros ou apostilas. Em casa, no trabalho, no presídio. A educação a distância é uma realidade para quem não tem condições de comparecer às aulas presenciais em classes do Ensino Fundamental ou Médio. Quando se trata de jovens e adultos, a EaD requer um acompanhamento especial, porque para se sair bem neles é preciso já ter tido alguma relação com a leitura. Embora as situações mais proveitosas de aprendizagem só se dêem em coletividade, na troca, na interação com o professor e mais intensamente ainda , na relação afetiva que se estabelece, tem crescido o número de interessados em completar sua formação através da EaD. Em face das novas propostas educativas estão ocorrendo ações que merecem destaque, como as tomadas pela Secretaria de Educação do Piauí que agregou aos seus núcleos de Ead, um grupo de tutores. Se anteriormente antes os alunos recebiam o material didático 75 e estudavam com a inovação os alunos contam com um sistema de plantão, com professores para orientar e tirar dúvidas. Existe também a possibilidade de educação via televisão, no qual o melhor exemplo continua sendo o Telecurso 2000, criado pela Fundação Roberto Marinho e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. O aluno pode segui-lo de casa ou nas 600 telessalas instaladas em escolas, empresas e sindicatos. A certificação de aprendizagem se dá em avaliações semestrais realizadas pelos sistemas de ensino estadual e municipais. Outra utilização das telessalas ocorre nas prisões. Assim por exemplo em Mato Grosso a Secretaria de Estado estabeleceu o sistema de teleconferência para atender alunos já alfabetizados. Para saber mais Acesse < www.telecurso2000.org.br > No portal do Telecurso você será informado sobre as interessantes propostas oferecidas. 8.4 Os trabalhadores rurais e a Educação De acordo com o documento sobre a educação feito pelos integrantes do MST 9a importância dada à Educação é a mesma que eles dão à necessidade da Reforma Agrária, como forma a consolidar a democracia. “Os esforços nessa área buscam, sobretudo, a erradicação do analfabetismo de nossas áreas de acampamento e assentamento, e a conquista de condições reais para que toda criança e todo adolescente estejam na escola.” De acordo com números do próprio Movimento dos Sem Terra a luta pela Educação foram conquistadas 2.250 Escolas Públicas nos acampamentos e assentamentos em todo país. Há 300 mil trabalhadores rurais estudando, entre crianças e adolescentes Sem Terra, dos quais 120 mil em escolas públicas. 9 http://www.mst.org.br/node/8302 76 Mais de 350 mil integrantes do MST já se formaram em cursos de alfabetização, Ensino Fundamental, Médio, Superior e Técnico. O MST ganhou do Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, a medalha Paulo Freire, em 2010. A premiação se deveu ao reconhecimento pelas experiências em Educação Básica de Jovens e Adultos (EJA) em acampamentos e assentamentos, além da participação na formulação de políticas públicas para o setor. No tocante à alfabetização há muitos núcleos instalados nos acampamentos e Paulo Freire continua sendo o grande influenciador das propostas de alfabetização do grupo. Se você quiser conhecer mais, sobre as atividades educativas no movimento, há uma pesquisa de 2004 feita por Edvaneide Barbosa da Silva que estudou sobre as práticas educativas de assentamentos no sudoeste de São Paulo. O livro foi publicado pela Editora Xamã e tem 158 páginas. Ao final do capítulo enfatizamos as diferentes possibilidades de oferecer aos adultos e jovens o acesso ao conhecimento. Procuramos mostrar que todas as esferas sociais se mobilizam para acabar com essa dívida social que já vem de longa data. Assim temos salas de aula na obra, na indústria e comércio e no campo, entre outros lugares. Caminhamos para modalidades de ensino que quebram a necessidade diária da presencialidade com as experiências de EaD. 77 Você já teve conhecimento de algum núcleo educativo de EJA que se assemelhe aos citados? Relate sobre sua experiência ou conhecimento da EJA extra escola. Concluímos afirmando que apesar da longa caminhada já realizada, ainda precisamos da participação de todos, em especial da sua, futura professora ou professor, para colocar nosso povo entre aqueles povos com melhor desempenho educacional no mundo. . BRASIL 78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS e BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Dulce Barros de. Da educação especial à educação inclusiva? A proposta de inclusão escolar da rede estadual de Goiás no município de Goiânia. Disponível em: http://www.anped.org.br/. Acesso em: 11 de jun. 2011. ANTUNES, Celso. Glossário para educadores (as). Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. BARBOSA, Paulo; SALGADO, Edmée. Educação de jovens e adultos. Rio de Janeiro: CEDERJ, 2004. BELLAN, Zezina Soares. Andragogia em Ação. Campinas, São Paulo: Socep, 2008. BOM DIA BRASIL. Portal G1. Brasil é o 8° país com maior número de analfabetos adultos, diz Unesco. 9/01/2014 .Disponível em <http://g1.globo.com/educacao/noticia/2014/01/> Acesso dez 2014 BRASIL. Constituição Federal. Brasília: 1988. BRASIL, MEC. Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Lei 9394/96. BRASIL, MEC. PARECER CNE/CEB 11/2000. CURY, Carlos Roberto Jamil (rel.) Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Brasília – 2000.E/CEB1/2000 - HOMOLOGADO PARECER CNE/CEB 11/2000 – BRASIL, MEC. Trabalhando com a educação de jovens e adultos- a sala de aula como espaço de vivência e aprendizagem. Barreto, Vera (org.) Brasília – 2006. BRASIL, MEC.Educação de jovens e adultos - Proposta Curricular-1º segmento. Brasília – 2001. BRASIL, MEC. Educacenso 2009. Disponível em <http://portal.inep.gov.br/ > Acesso em 4 jun 2010. BRASIL, MEC. Cultura e Trabalho: caderno do professor. Mazzeu, Francisco J. C .et al (org.) São Paulo : Unitrabalho-Fundação Interuniversitária de 79 Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho ; Brasília, DF : Ministério da Educação. SECADI- Secretraria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007, (Coleção Cadernos de EJA). BRASIL, MEC. Cultura e Trabalho: caderno do aluno. Mazzeu, Francisco J. C. et al (org.) São Paulo : Unitrabalho -Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho ; Brasília, DF : Ministério da Educação. SECADI- Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007, (Coleção Cadernos de EJA). BRASIL, Cristiane Costa História da alfabetização de adultos: de 1960 até os dias de hoje. Disponível em: <http://www.ucb.br/sites/100/103/TCC/12005/CristianeCostaBrasil.pdf >Acesso em 19 de mai 2011 CURY, Carlos Roberto Jamyl. Educação como direito público subjetivo. Salto para o futuro / TV escola. Disponível em < www.tvebrasil.com.br/salto > Acesso mai 2008. DANIEL, Teófilo Tostes. 60 Anos da declaração universal dos direitos da ONU.procuradoria Regional da República da 3ª Região.MPF.<disponível em http://www.prr3.mpf.gov.br/content/view/142/2/ >Acesso em 20 de mai 2011 DESPREBITERIS, Lea. Avaliação da aprendizagem - revendo conceitos e posições. 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Disponível em < http: / www.oas.org > Acesso em 16 de mai 2011. 81 PAGANOTTI, Ivan e RATIER, Rodrigo PNE 2011-2020: uma nova chance para velhas necessidades. São Paulo : Editora Abril, nº 240,2011 RIBEIRO, Vera Maria Masagão (coord.). Educação para jovens e adultos: Ensino Fundamental: proposta curricular -1º segmento. São Paulo: Ação Educativa; Brasília: MEC, 2001. SALLES., Walter. Central do Brasil. Filme de 112 min,1998. SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2008. TOKARNIA, Mariana .Estudo mostra que 51,1% dos estudantes concluíram o ensino médio na idade adequada. Agência Brasil : EBC,2013. UDEMO. Revista Projeto Pedagógico.. Quando errar não é pecado. Disponível em <http://www.udemo.org.br/RevistaPP_02_08QuandoErrar.htm> Acesso 15 mai 2001. 82 ANEXO 1 Há ainda um interessante material que visa auxiliar o trabalho docente denominado Caderno de EJA (2007) relativos ao aluno e ao professor. De acordo com o apresentado na introdução do material esse não pode ser o único utilizado nas salas de aula. Da mesma forma, no caderno metodológico para o professor, fica registrado que com esse material se busca ampliar o rol do que pode ser selecionado pelo educador, incentivando a articulação e a integração das diversas áreas do conhecimento. A proposta surgiu do entendimento de que a efetivação do direito à educação dos jovens e dos adultos ultrapassa a ampliação da oferta de vagas nos sistemas públicos de ensino. Para a SECADI precisa-se que o ensino seja adequado aos alunos que ingressam ou retornam à escola. Desta forma apresentam-se os Cadernos de EJA: materiais pedagógicos para o 1.º e o 2.º segmentos do Ensino Fundamental de Jovens e Adultos. A coleção é composta de 27 cadernos: 13 para o aluno, 13 para o professor e um com a concepção metodológica e pedagógica do material. O caderno do aluno é uma coletânea de textos de diferentes gêneros e diversas fontes; o do professor é um catálogo de atividades, com sugestões para o trabalho com esses textos. Todo o material está disponível através da SECADI, Educação de Jovens e Adultos, em Publicações. Novamente a categoria Trabalho, sobre a qual já apresentamos algumas sugestões de ação pedagógica foi o tema escolhido para a abordagem nos Cadernos de EJA, pela importância que tem no cotidiano dos alunos. No caderno do professor estão indicados os segmentos para os quais as atividades se destinam estão indicados: as atividades do nível I (1-ª a 4-ª séries) e as do nível II (5ª a 8ª séries). Há ainda a possibilidade de a atividade ser aplicada em ambos os níveis. Essa classificação é apenas indicativa. Caberá ao 83 professor que o utilizar avaliar quais atividades são as mais adequadas para a turma com a qual está trabalhando. Graças à proposta de um trabalho multidisciplinar, uma atividade indicada para a área de Matemática, por exemplo, poderá ser usada em uma aula de Geografia, e assim por diante. Para ilustrar o nosso módulo foram retirados dois exemplos: interligando trabalho e cultura: um do livro do aluno e outro do livro do professor para que você possa apreciar o que é proposto no material. EXEMPLO 1 A ILHA da FANTASIA-texto do livro do professor (p.8) Atividade propostas para A grande floresta a partir do texto dos alunos Indicada para Ciências nos níveis I e II Objetivos • Conhecer aspectos fundamentais da floresta amazônica. • Reconhecer que o solo da floresta é pobre em nutrientes. • Reconhecer a diversidade de animais presentes na floresta. Introdução 84 O texto aborda Parintins e o seu festival folclórico, que ocorre na maior floresta do planeta, a floresta amazônica. Essa floresta é tipicamente tropical, possuindo uma imensa diversidade de animais e plantas. Cerca de 60% dessa floresta encontra-se no Brasil. Há floresta amazônica também na Colômbia, nas Guianas, no Equador, no Peru e na Bolívia. Por incrívelque pareça, os solos da Amazônia são pobres em nutrientes. As plantas ali existentes sobrevivem devido ao ciclo fechado de nutrientes. Isto significa que quando uma planta morre e sofre decomposição, libera nutrientes para o solo, que são assim totalmente reciclados e absorvidos pelas raízes das plantas vivas, sustentando a floresta. A vegetação da região possui adaptações para viver em condições de excesso de água: ramos e folhas com os ápices voltados para baixo, folhas em goteira e revestidas com cera. A fauna local é exuberante e variada. Na parte mais próxima ao solo, identificamos jabutis, cotias, pacas, etc. Esses animais se alimentam dos frutos que caem das árvores, servindo posteriormente de alimentos para felinos e cobras. Há também animais rastejadores, como esquilos e anfíbios, que utilizam o solo e o nível intermediário da floresta. Nos locais mais altos, observamos aves diversas, que buscam frutos, brotos e castanhas. Pela grande diversidade a floresta amazônica proporciona matéria prima para várias indústrias. Atividades 1. Peça aos alunos para representarem a floresta amazônica em um grande cartaz. 2. Os alunos devem fazer essa representação utilizando fotos e recortes trazidos de plantas e animais. 3. Deve ser buscada uma representação que traduza a exuberância da floresta, mostrando a diversidade das plantas ali existentes com suas adaptações para o clima. 85 4. Também deve ser buscada uma representação dos animais em seus diferentes habitat – na porção mais próxima ao solo, na porção intermediária da floresta e na porção superior. 5. Discuta com os alunos a importância dessa floresta para os brasileiros e para o restante da população mundial. Resultados esperados: a) Conhecimento da floresta amazônica e sua importância social/econômica. b) Reconhecimento de que o solo da floresta é pobre em nutrientes. c) Reconhecimento da diversidade de animais presentes na floresta. Informação complementar ao professor: Se não houvesse a cobertura do solo pela floresta amazônica e a água das chuvas caísse diretamente sobre o solo, ele seria exaurido, pois a água carregaria os sais minerais. Esta perda de nutrientes é reduzida pela presença da floresta, já que a rica e densa folhagem amortece a queda da água. Quando ocorre desmatamento, no entanto, há o aparecimento do solo nu, o que certamente leva ao seu empobrecimento. 86 EXEMPLO 1-A ILHA da FANTASIA- LIVRO - TEXTO do aluno (p. 6) Para trabalhar bem com os alunos da EJA experimente o que sugere São intermináveis os preparativos para o espetáculo mais esperado da maior floresta do planeta. O Festival Folclórico de Parintins acontece anualmente nos dias 28, 29 e 30 de junho. Mas a festa do boi, como é chamada pelo povo, acontece todos os dias no coração dos amazonenses. A produção das alegorias e fantasias, as coreografias, tudo isso começa oito meses antes do grande evento celebrado no Bumbódromo, o templo do festival, com capacidade para 35.000 espectadores. Mais de 100.000 pessoas vão assistir ao Festival de Parintins: a cada uma das três noites, o resultado de dois meses de ensaios nos QGs de Caprichoso e Garantido, os dois conjuntos folclóricos que entram na disputa do espetáculo, inspirado em lendas de pajelanças indígenas de diversas tribos e costumes caboclos da Amazônia. Cerca de mil pessoas são contratadas para o trabalho de confecção das fantasias e alegorias nos currais dos dois conjuntos folclóricos Marcada pelas impressionantes alegorias representadas pelos carros confeccionados por artistas parintinenses, a disputa entre Caprichoso e Garantido fez com que as lendas da região, ano após ano, voltassem a povoar o imaginário popular. É a história do homem amazônico por meio dessa grande festa que, com suas toadas, contagia tanto os brincantes quanto o público nas arquibancadas. Bumbódromo O Bumbódromo, Centro Cultural e Esportivo Amazônico Mendes, foi inaugurado em 1988, e divide Parintins ao meio, marcando o limite dos currais de Garantido e Caprichoso. É considerado a maior obra cultural e desportiva do Estado do Amazonas. O festival do bumba-meu-boi dá trabalho a mais de mil pessoas em Parintins, no Amazonas. Elas estão envolvidas na confecção e alegorias nos currais dos dois conjuntos folclóricos