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SUMÁRIO 1. IMUNOLOGIA CLÍNICA ............................................................................... 2 2. DOENÇAS AUTOIMUNES ........................................................................... 7 3. PRINCIPAIS DOENÇAS AUTOIMUNES .................................................... 11 3.1. Diabetes Mellitus ................................................................................. 11 3.2. Lúpus .................................................................................................. 15 3.3. Artrite reumatoide ................................................................................ 21 3.4. Doença de Crohn ................................................................................ 25 3.5. Esclerose múltipla ............................................................................... 28 3.6. Vitiligo .................................................................................................. 29 3.7. Tireoidite de Hashimoto ....................................................................... 31 3.8. Doença de Graves............................................................................... 34 3.9. Psoríase .............................................................................................. 36 3.10. Púrpura trombocitopênica idiopática ................................................... 38 3.11. Hepatite autoimune ............................................................................. 40 3.12. Síndrome de Guillain-Barré ................................................................. 41 3.13. Granulomatose de Wegener................................................................ 43 3.14. Vasculites ............................................................................................ 46 3.15. Miastenia gravis .................................................................................. 48 3.16. Doença celíaca .................................................................................... 50 3.17. Esclerodermia ..................................................................................... 53 4. PROPRIEDADES GERAIS DAS RESPOSTAS IMUNES........................... 55 5. IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA ................................................................ 56 6. COMPORTAMENTO IMUNOLÓGICO DURANTE PROCESSO INFECCIOSO ................................................................................................................. 57 7. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 62 1. IMUNOLOGIA CLÍNICA Fonte: 3.bp.blogspot.com A imunologia é o estudo das respostas do organismo que fornecem imunidade, ou seja, proteção às doenças. Ainda que o sistema imune seja muito complexo, certos componentes do sistema imune são facilmente detectados, como por exemplo, os anticorpos. A Imunologia surgiu como um ramo da microbiologia e ganhou espaço com os estudos das doenças infecciosas e suas respectivas respostas. A nossa capacidade de coexistir com diversos microrganismos de nosso ambiente depende de um conjunto de fatores, e um destes fatores é o Sistema Imune. O Sistema Imune é um conjunto de células de defesa e/ou ataque eficaz que tem a capacidade de distinguir o que traz perigo para o organismo e protegê-lo contra estes patógenos oportunistas. Esta distinção ocorre por uma comunicação através de sinais mediados por citocinas e receptores. As células do sistema imune estão distribuídas por todo organismo, sendo encontradas alojadas nos tecidos desempenhando o papel de sentinela e circulando por vasos sanguíneos e linfáticos esperando o sinal de que o organismo foi invadido. A Imunologia Clínica tem o papel de investigar e orientar o clínico no diagnóstico das patogenicidades através de resultados de exames laboratoriais. O clínico precisa conhecer as estratégias traçadas pelo Sistema Imune para controlar e/ou eliminar os diferentes patógenos, além de saber as estratégias de evasão utilizadas pelos patógenos para driblar a defesa e o ataque do Sistema Imune. Obviamente, do ponto de vista imunológico, um determinado agente infeccioso não precisa se restringir a uma única estratégia patogênica, de modo que a resposta imune eficiente contra o determinado microrganismo pode incluir diversos mecanismos. O sistema imunológico baseia-se nas relações Antígeno-Anticorpo: Antígenos ( Ag ) -Substância estranha que induz uma resposta imune por causar uma produção de anticorpos e ou linfócitos sensibilizados que reagem especificamente com a substância; imunógeno. Anticorpo (Ac) - Proteína do soro que foi induzida e reage especificamente a uma substância estranha (antígeno); imunoglobulina. O sistema imune fornece mecanismos de defesas específicas contra uma variedade de substâncias estranhas ao nosso corpo chamadas de antígenos. Estes antígenos podem ser vírus, células (como células sanguíneas, células de bactérias e células de fungos) ou moléculas de proteínas. O sistema imune é uma organização complexa de tecidos, células, produtos de células e mediadores químicos biologicamente ativos e todos interagem para produzir a resposta imune. A resposta imune reconhece e relembra diferentes antígenos. A imunidade específica é caracterizada por três propriedades: 1. Reconhecimento 2. Especificidade 3. Memória O reconhecimento refere-se à habilidade do sistema imune de reconhecer diferenças em um número muito grande de antígenos e distingui-los. A especificidade refere-se à habilidade de dirigir uma resposta a um antígeno específico. Memória é a referência à habilidade do sistema imune de lembrar-se de um antígeno muito tempo depois de um contato inicial. Os principais tecidos e órgãos do sistema imune são: Linfócitos - são as principais células responsáveis pela resposta imune: linfócitos T (vírus, fungos e tumores) e linfócitos B (bactérias e toxinas). Órgãos linfoides primários - Timo e Medula óssea. Órgãos e tecidos linfoides secundários - Nódulos linfáticos, Baço, tecidos linfoides associados ao intestino, Apêndice, Amígdalas, Placas de Peyer e tecidos linfoides associados aos brônquios. Imunoglobulinas (Ig) As imunoglobulinas (Ig) são proteínas produzidas por células plasmáticas e secretadas no organismo em resposta à exposição ao antígeno. Elas se classificam em: IgA - É a imunoglobulina predominante nas lágrimas, saliva, leite materno, secreções respiratórias e trato gastrointestinal. Fornece proteção contra organismos que invadem estas áreas. IgG - É a classe em maior concentração no organismo. É também chamada de gama globulina. Fornece imunidade em longo prazo. É a única que atravessa a Placenta e fornece ao recém-nascido a imunidade que vão durar vários meses. IgM - É a Segunda mais abundante. É a primeira produzida em resposta a um antígeno, mas não fornece imunidade em longo prazo. IgE - Está envolvida nas reações alérgicas e nas infecções parasitárias. IgD - IgD está presente no soro em concentrações muito baixas. É encontrada na superfície de muitos linfócitos assim como IgM, onde provavelmente serve como receptor de antígeno. A função dela não está muito bem definida. A imunologia Clínica é assim o estudo de: Doenças causadas por desordens do sistema imunitário - isto poderia ser devido à falha (hipoatividade), à ativação anormal ou ao crescimento maligno ou cancerígeno dos elementos celulares do sistema. Patologia de outras desordens onde as reações imunes jogam uma Divisória. Medicamentações e drogas que alteram ou modulam o sistema imunitário por exemplo aqueles usadosem rejeições da transplantação. Vacinas e outros agentes que alteram a reação imune aos micróbios patogénicos específicos. As doenças causadas por desordens do sistema imunitário caem em categorias largas: - Imunodeficiência - isto ocorre se o sistema imunitário não fornece uma resposta adequada aos micróbios patogénicos. Isto pode ser visto como uma resposta a uma condição a longo prazo da doença como o diabetes, doença granulomatous ou crônico devido a uma infecção tal como o AIDS do VIH (vírus de Imunodeficiência Humana que causa a síndrome Adquirida da Imunodeficiência). Autoimunidade - isto ocorre quando o sistema imunitário ataca o corpo do seu próprio anfitrião. Alguns exemplos incluem erythematosus de lúpus sistemático, a artrite reumatoide, a doença de Hashimoto e os gravis da miastenia. Hypersensitivities e as reações alérgicas são igualmente uma parte de desordens do sistema imunitário. Aqui o sistema responde imprópria aos compostos inofensivos por exemplo na asma e em alergias ou pode responder demasiado agressivamente por exemplo em reações anafilaxias. No setor de Imunologia são realizados diversos exames correlacionados a algumas patologias provocadas por distúrbios ou ativação do sistema imunológico, detectando certos componentes que integram o sistema imune, os quais são evidenciados devido a algumas respostas provocadas mediante a um possível desequilíbrio ou perturbação fisiológica no organismo. Tais alterações podem surgir devido a alguma patologia, crônica ou aguda, doenças autoimunes, deficiência do próprio sistema imune dentre inúmeras outras doenças que podem afetar o funcionamento imunológico do Indivíduo. A Imunologia Clínica investiga, e orienta o clínico no diagnóstico das patogenicidades através dos resultados de exames laboratoriais. O clínico, ao observar o perfil imunológico revelado por meio destes resultados, identifica as possíveis estratégias traçadas pelo Sistema Imune para controlar e ou eliminar os diferentes patógenos, associando a atividade imunológica a uma provável patologia. Atualmente uma grande parte dos métodos imunológicos associados ao conhecimento adquirido sobre o Sistema Imune, consiste em uma poderosa ferramenta em termos metodológicos adquiridos nas últimas décadas como auxílio no diagnóstico, tratamento e cura de inúmeras patologias. Dentre os testes realizados frequentemente no laboratório de análises clínicas no setor de Imunologia podemos citar o VDRL, que permite a identificação e acompanhamento de pacientes portadores da sífilis, uma doença de transmissão principalmente sexual, podendo também ocorrer por via transplacentária (da mãe para o feto) resultando em sérios danos ao bebê. A proteína C reativa, também identificada pela sigla PCR, consiste em um importante marcador de processos inflamatórios e ou infecciosos que associada ao VHS (Velocidade de Sedimentação das Hemácias) auxilia no diagnóstico e no tratamento de diversos processos patológicos. O Fator Reumatoide (FR) é o termo empregado para definir auto anticorpos humanos presentes no soro da maioria dos pacientes com artrite reumatoide, tornando-se um dos critérios adotados no diagnóstico de artrite reumatoide pelo Colégio Americano de Reumatologia. Uma vez confirmada à artrite reumatoide, que pode aparecer na forma de febre reumática, o clínico poderá associar este resultado à pesquisa de anticorpos antiestreptolisina O (ASLO ou ASO), os quais, quando presentes no soro, representam forte indicativo de um contato prévio com bactérias estreptococos beta-hemolítico do grupo A. Lembrando sempre que nenhum diagnóstico é confirmado baseado em resultados isolados, concomitantemente aos testes descritos anteriormente, existe um leque de exames complementares e confirmatórios para cada uma das patologias citadas, dentre diversas outras que envolvem a resposta imunológica frente um possível desequilíbrio fisiopatológico. Os quais podem ser realizados no laboratório de Imunologia Clínica em conjunto com outros setores do laboratório. 2. DOENÇAS AUTOIMUNES Fonte: lh5.ggpht.com As doenças autoimunes são um grupo de doenças distintas que têm como origem o fato do sistema imunológico passar a produzir anticorpos contra componentes do nosso próprio organismo. Por motivos variados e nem sempre esclarecidos, o nosso corpo começa a confundir suas próprias proteínas com agentes invasores, passando a atacá-las. Portanto, uma doença autoimune é uma doença causada pelo nosso sistema imunológico, que passa a funcionar de forma inapropriada. Para entender o que é uma reação autoimune é preciso antes conhecer um pouco do nosso sistema imunológico. Nosso organismo possui um complexo sistema de defesa contra invasões de agentes externos, sejam estas bactérias, vírus, fungos, parasitas, proteínas ou qualquer outro ser ou substância que não seja natural do corpo. Este sistema de defesa é chamado de sistema imunológico. O processo evolutivo criou um mecanismo de defesa que é capaz de reconhecer praticamente qualquer tipo de invasão ou agressão ao nosso corpo. A complexidade do sistema está exatamente em conseguir distinguir entre: O que é danoso ao organismo, como vírus e bactérias; O que faz parte do nosso próprio corpo, como células, tecidos e órgãos; O que não é naturalmente nosso, mas não causa danos, como, por exemplo, alimentos que entram no corpo pela boca. Toda vez que o sistema imunológico se depara com alguma substância estranha, que ele interprete como potencialmente danosa, ele passa a produzir células de defesa e anticorpos para combatê-la. Toda substância estranha capaz de desencadear uma resposta imunológica é chamada de antígeno. Durante a nossa formação enquanto feto, nosso organismo começa a criar o sistema imunológico. O primeiro trabalho é reconhecer tudo o que é próprio, para mais tarde poder reconhecer o que é estranho. O útero materno é um ambiente estéril, ou seja, livre de agentes infecciosos. Assim que nascemos somos imediatamente expostos a um “mundo hostil” com uma enormidade de antígenos. Desde o parto, o corpo começa a reconhecer, catalogar e atacar tudo que não é “original de fábrica”. Esse contato com antígenos nos primeiros anos de vida é importante para a formação de uma “biblioteca de anticorpos”. O corpo consegue montar uma resposta imune muito mais rápida se já houver dados sobre o invasor. Se o antígeno for completamente novo, é necessário algum tempo até que o organismo descubra quais os anticorpos são mais indicados para combater aquele tipo de partícula. Essa é a lógica por trás das vacinas. Expomos o paciente a um antígeno, seja ele um vírus ou bactéria, mortos ou fracos, de forma a estimular o sistema imunológico a criar anticorpos contra esses germes. Quando a bactéria de verdade nos invadir, já temos pronto um arsenal imunológico para eliminá- la rapidamente, antes que a mesma consiga provocar qualquer doença. A doença autoimune ocorre quando o sistema de defesa perde a capacidade de reconhecer o que é “original de fábrica”, levando à produção de anticorpos contra células, tecidos ou órgãos do próprio corpo. – Exemplo 1: no diabetes tipo 1 ocorre uma produção inapropriada de anticorpos contra as células do pâncreas que produzem insulina, levando a sua destruição e ao aparecimento do diabetes. – Exemplo 2: na esclerose múltipla, o sistema imunológico começa a produzir anticorpos contra componentes dos neurônios, causando destruição dos mesmos e graves problemas neurológicos. – Exemplo 3: na tireoidite de Hashimoto, o corpo passa a produzir anticorpos contraa nossa própria glândula tireoide, destruindo-a, levando o paciente a desenvolver hipotireoidismo. Existem dezenas de doenças autoimunes como: – Diabetes tipo 1 – Lúpus – Artrite reumatoide – Doença de Crohn – Esclerose múltipla – Vitiligo – Tireoidite de Hashimoto – Doença de Graves – Psoríase – Púrpura trombocitopênica idiopática – Hepatite autoimune – Síndrome de Guillain-Barré – Granulomatose de Wegener – Vasculites – Miastenia gravis – Doença celíaca – Esclerodermia A lista de doenças autoimunes é bem extensa, pode-se citar também: – Doença de Behçet. – Anemia hemolítica autoimune. – Cirrose biliar primária. – Espondilite anquilosante. A gravidade de uma doença autoimune depende dos órgãos afetados. Por exemplo, a tireoidite de Hashimoto é uma doença praticamente restrita à glândula tireoide, que é um órgão importante, mas não é vital. Os pacientes com essa doença autoimune conseguem levar uma vida normal apenas tomando um comprimido por dia de hormônio tireoidiano. Outras doenças autoimunes, porém, são mais graves, principalmente aquelas que atacam órgãos e estruturas nobres do corpo, como o sistema nervoso central, coração, pulmões e/ou os vasos sanguíneos. Apesar dos pacientes com doenças autoimunes poderem apresentar alguns sinais e sintomas inespecíficos, como cansaço, febre baixa, desânimo, emagrecimento e mal-estar geral, a verdade é que o quadro clínico de cada doença autoimune é muito diferente. Doenças como, por exemplo, lúpus, diabetes tipo 1 e psoríase atacam órgãos diferentes, de formas distintas, e, por isso, apresentam sinais e sintomas próprios. Elas são doenças tão diferentes que são tratadas por especialistas distintos, como endocrinologista, reumatologista e dermatologista, respectivamente. A única semelhança entre elas é o fato de terem uma origem autoimune. Não existe, portanto, um sintoma que seja específico de doença autoimune. Cada doença autoimune tem seu próprio quadro clínico. O diagnóstico das patologias autoimunes é habitualmente feito baseado no quadro clínico e na pesquisa de auto anticorpos no sangue. O auto anticorpo mais comum é o FAN (ANA), que pode estar positivo em várias, mas não todas, as doenças autoimunes. Não se sabe exatamente por que as doenças autoimunes surgem. A teoria mais aceita atualmente é de que o sistema imunológico, após ser exposto a um antígeno, escolhe como alvo para a produção de anticorpos uma proteína semelhante a outra já existente em nosso organismo. Por exemplo, sabe-se que pacientes com a síndrome de Guillain-Barré frequentemente apresentam um quadro de diarreia infecciosa causada pela bactéria Campylobacter jejuni semanas antes da doença se manifestar. Imagina-se que o sistema imunológico possa criar anticorpos contra algumas das proteínas das bactérias que sejam parecidas com proteínas existente nos nossos neurônios. Esta semelhança pode confundir os anticorpos, fazendo com que os mesmos ataquem estruturas do sistema nervoso achando que estão atacando a bactéria Campylobacter jejuni. O diagnóstico é feito através de exame físico e de perguntas que apontarão o quadro clínico que o paciente acometido está apresentando. Também é necessário realizar exames clínicos, como exames de sangue, onde os auto anticorpos serão pesquisados. Os tratamentos são específicos para cada doença, mas de forma geral, um dos primeiros passos será conter a inflamação do local afetado. Dependendo do caso, o médico poderá prescrever o uso de medicamentos imunossupressores ou corticosteroides que farão a inibição do sistema imunológico. O tratamento da maioria das doenças autoimunes consiste na inibição do sistema imunológico através de drogas imunossupressoras, como corticoides, ciclofosfamida, ciclosporina, micofenolato mofetil, rituximab, azatioprina, etc. O objetivo dos tratamentos geralmente se baseia em controlar o processo autoimune, reduzir os sintomas e trazer de volta o funcionamento normal do sistema imunológico, equilibrando a capacidade natural do organismo de combater invasores. O problema do tratamento das doenças autoimunes com drogas imunossupressoras é o fato de não conseguir realizar uma imunossupressão seletiva aos anticorpos indesejáveis. Ou seja, não se consegue inibir o funcionamento apenas dos anticorpos danosos e acaba-se por criar um estado de imunossupressão geral que predispõe esses pacientes a infecções por bactérias, vírus e fungos. Geralmente cada doença autoimune tem seu esquema próprio de tratamento. Algumas delas, inclusive, como diabetes tipo 1 e tireoidite de Hashimoto, não são tratadas com drogas imunossupressoras. Não existe um tratamento único que sirva para qualquer doença autoimune. 3. PRINCIPAIS DOENÇAS AUTOIMUNES Fonte: blog.saoluiz.com.br 3.1. Diabetes Mellitus Diabetes mellitus é o nome dado a um grupo de distúrbios metabólicos que resultam em níveis elevados de glicose no sangue. Conhecido popularmente com açúcar alto no sangue, existem vários tipos e várias causas de diabetes. Todos os tipos, porém, costumam apresentar complicações semelhantes, como maior risco de lesão dos rins, dos olhos e dos vasos sanguíneos. O diabetes é uma das doenças mais comuns no mundo e sua incidência tem aumentado ao longo dos anos, devido principalmente à má alimentação e à obesidade. A glicose, também chamada de dextrose, é uma molécula simples de carboidrato (monossacarídeo), cuja principal função é fornecer energia para as células funcionarem. Praticamente todo alimento da classe dos carboidratos possui glicose na sua composição. A maioria dos carboidratos da nossa dieta é composta por três monossacarídeos: glicose, frutose e galactose. Para ficar mais fácil de entender, pense nessas três moléculas como pequenos tijolos. O modo como esses tijolos se agrupam dá origem aos diferentes tipos de carboidratos que comemos, desde as frutas, até cereais, mel, massas, pão, vegetais, etc. Exemplos: o famoso açúcar de mesa, chamado de sacarose, é a junção de apenas dois monossacarídeos, a glicose e a frutose. Já o carboidrato presente no leite, chamado de lactose, é a junção de glicose com galactose. O nosso corpo precisa de glicose para funcionar, ela é o nosso combustível. Na verdade, desde bactérias até o ser humano precisam da glicose para sobreviver. A glicose é a única molécula de carboidrato que pode nos fornecer energia. Tanto a frutose quanto a galactose precisam antes serem transformadas em glicose pelo fígado para poderem ser aproveitadas pelas células. Após uma refeição, os carboidratos que foram ingeridos passarão pelo processo da digestão. Digerir um carboidrato significa quebrá-lo em vários micro pedaços até que se libertem todos os “tijolos” de glicose, frutose e galactose. No intestino delgado, estas moléculas serão absorvidas, chegando à circulação sanguínea. Após uma refeição, uma grande quantidade de glicose, frutose e galactose chegam à corrente sanguínea, aumentando a glicemia [glicemia = concentração de glicose no sangue]. Sempre que há uma elevação na glicemia, o pâncreas libera um hormônio chamado insulina, que faz com que a glicose circulante no sangue entre nas células do nosso corpo. A insulina também estimula o armazenamento de glicose no fígado, para que, em períodos de necessidade, o corpo tenha uma fonte de glicose que não dependa da alimentação. Estas duas ações da insulina promovem uma rápida queda na glicemia, fazendo com que os níveis de glicose se normalizem rapidamente. Diabetes mellitus é o nome dado ao grupo de doenças que cursam com uma dificuldadedo organismo em controlar os níveis de glicose do sangue, mantendo-os sempre acima do normal. Dizemos que o diabetes é um grupo de doenças porque existe mais de um tipo de diabetes, apresentando causas diferentes e mecanismos distintos para a desregulação da glicemia. Habitualmente o diabetes surge por falta de produção insulina ou por uma incapacidade das células reconhecerem a presença da mesma, ou seja, existe insulina, mas ela não consegue colocar a glicose para dentro das células. Há casos ainda em que o paciente apresenta os dois problemas, além de produz pouca insulina, ela ainda funciona mal. O resultado final desta redução da produção de insulina, ou do seu mal funcionamento, é o acúmulo de glicose no sangue. O paciente se alimenta, recebe uma carga de glicose no sangue, mas as células não conseguem captá-lo, mantendo a glicemia elevada constantemente. Esta glicemia elevada, chamada de hiperglicemia, provoca dois grandes problemas. O primeiro, a curto prazo, é a falta de glicose nas células, que precisam da mesma para funcionar adequadamente. O segundo, que ocorre após anos de doença, é a lesão dos vasos sanguíneos. O excesso de glicose é tóxico para as células dos vasos, fazendo com que as artérias sofram progressivas lesões, levando às complicações típicas do diabetes, como problemas renais, cegueira, doenças cardiovasculares, lesões neurológicas, gangrena dos membros, etc. Existem vários tipos de diabetes, mas três respondem pela imensa maioria dos casos, são eles: Diabetes tipo 1. Diabetes tipo 2. Diabetes gestacional. O diabetes mellitus tipo 1 é uma doença autoimune, isto é, ocorre devido a produção equivocada de anticorpos contra as nossas próprias células, neste caso específico, contra as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Não se sabe exatamente o que desencadeia esta produção equivocada de auto anticorpos, mas sabe-se que há um fator genético importante. Todavia, só a genética não explica tudo, já que existem irmãos gêmeos idênticos em que apenas um deles apresenta diabetes tipo 1. Imagina-se que algum fator ambiental seja necessário para o início da doença. Entre os possíveis culpados podem estar infecções virais, contato com substâncias tóxicas, carência de vitamina D e até exposição ao leite de vaca ou glúten nos primeiros meses de vida. O fato é que em alguns indivíduos, o sistema imunológico de uma hora para outra começa a atacar o pâncreas, destruindo-o progressivamente. Conforme as células beta do pâncreas vão sendo destruídas, a capacidade de produção de insulina vai se reduzindo progressivamente. Quando mais de 80% destas células encontram-se destruídas, a quantidade de insulina presente já não é mais capaz de controlar a glicemia, surgindo, assim, o diabetes mellitus tipo 1. O diabetes tipo 1 é responsável por apenas 10% dos casos de diabetes e ocorre geralmente na juventude, entre os 4 e 15 anos, mas pode acometer até pessoas de 30 a 40 anos. Como o diabetes tipo 1 é uma doença que habitualmente surge nos primeiros anos de vida, costuma provocar complicações ainda na juventude. Um paciente com apenas 25 anos pode ter diabetes há mais de 20 anos, sofrendo, assim, as consequências da doença ainda jovem, principalmente se o controle do diabetes não tiver sido bem feito nestes anos todos. Como o diabetes tipo 1 é provocado pela falta de insulina, o seu tratamento consiste basicamente na administração regular de insulina para controlar a glicemia com o objetivo de manter os níveis de açúcar no sangue apropriados. Como não tem cura, a pessoa deve aprender a conviver com a doença. Por isso, é essencial uma alimentação saudável, isenta de açúcar e com poucos carboidratos. É indicado a pratica de atividades físicas leves (por exemplo, natação ou caminhada) que também devem se tornar prioridades na vida do diabético. Tratar a doença devidamente evita que complicações apareçam. Fonte: www.mdsaude.com 3.2. Lúpus Fonte: d229pb9itp72vj.cloudfront.net O Lúpus talvez seja a mais característica das doenças autoimunes. É uma doença riquíssima em achados clínicos e ainda pouco compreendida. O Lúpus pode atacar pele, rins, articulações, pulmão, coração, vasos sanguíneos, células do sangue, sistema nervoso, trato gastrointestinal entre outros órgãos e tecidos. A doença lúpus é caracterizada pela produção de vários auto anticorpos, ou seja anticorpos que atacam o próprio corpo. Entre os auto anticorpos comuns do lúpus há um contra o núcleo das células e outro contra o DNA do próprio paciente. Só por aí já dá para imaginar o estrago que a doença pode causar, já que ela cria anticorpos contra estruturas essenciais à nossa vida. Não se sabe por que o corpo começa a produzir esses anticorpos. Existe provavelmente uma associação de fatores genéticos, pois a doença é mais comum quando há história familiar positiva, e fatores ambientais ainda não identificados. A doença é nove vezes mais comum em mulheres do que homens e ocorre em todas as idades, sendo mais prevalente entre 20 e 40 anos. O Lúpus é uma enfermidade de difícil tratamento e em casos graves requer uso de drogas imunossupressoras pesadas. Ao mesmo tempo que é um desafio tratá-la, é uma patologia que mostra o quanto a medicina avançou nas últimas décadas. Na década de 50, mais de 60% dos pacientes morriam antes de completarem cinco anos de doença. Hoje 80% sobrevivem por pelo menos vinte anos. a) Sintomas articulares do Lúpus: O acometimento das articulações ocorre em até 95% dos pacientes com lúpus. As duas principais manifestações são a artrite (inflamação da articulação) e a artralgia (dor articular sem sinais inflamatórios). Muitas vezes esses sintomas surgem anos antes do diagnóstico definitivo de lúpus. A artrite e a artralgia do Lúpus têm algumas características que as diferenciam das outras doenças que também acometem as articulações: São migratórias, ou seja, as dores mudam de articulações em questão de 24- 48 horas. Um dia doem os joelhos, no outro o punho, em um terceiro o ombro, depois volta para o joelho, etc. O envolvimento é simétrico, ou seja, quando um joelho dói, o outro também. Costuma se apresentar como poliartrite ou poliartralgia, o que significa que várias articulações doem ao mesmo tempo. O acometimento de uma única articulação fala a favor de outros diagnósticos, como a gota ou artrite séptica. Em geral, a articulação dói muito mais do que a aparência dela pode sugerir para quem examina. As articulações mais comumente acometidas são as das mãos e dedos (falanges), punho e joelhos. b) Sintomas dermatológicos do Lúpus: Outro órgão muito frequentemente acometido é a pele. Até 80% dos pacientes com lúpus apresentam algum tipo de envolvimento cutâneo, principalmente nas áreas expostas ao sol. As lesões típicas incluem o rash malar ou rash em asa de borboleta. Trata-se de uma área avermelhada que encobre as bochechas e o nariz. O rash malar aparece em pelo menos 50% dos pacientes, costuma durar alguns dias e recorre sempre que há exposição solar. Exposição prolongada a luzes fluorescentes também pode desencadear lesões cutâneas do Lúpus. Outra lesão dermatológica comum é o Lúpus discoide, que se caracteriza por placas arredondadas e avermelhadas, mais comuns na face, pescoço e couro cabeludo. O Lúpus discoide pode fazer parte do quadro do Lúpus sistêmico, ou ser a única manifestação da doença. Neste último caso, o prognóstico é melhor, já que não há envolvimento de outros órgãos. Pacientes com lúpus discoide isolado apresentam 10% de chance de evoluírem para olúpus eritematoso sistêmico. Quanto mais numerosas forem as lesões discoides, maior o risco de evolução para outros órgãos. Outras lesões dermatológicas comuns são a perda de cabelo, que pode acometer não só o couro cabeludo, mas também sobrancelhas, cílios e barba. Ulceras orais semelhantes às aftas são comuns, porém, com a diferença de serem normalmente indolores. O fenômeno de Raynaud é uma alteração na coloração dos membros causado por espasmo dos vasos sanguíneos. O espasmo das artérias provoca uma súbita falta de sangue deixando a mão pálida. Se o espasmo persistir, a falta de sangue faz com que a mão que estava pálida comece a ficar arroxeada. Esta isquemia pode causar muita dor. Quando o espasmo desaparece, o rápido retorno do sangue deixa a pele quente e bem avermelhada. O fenômeno de Raynaud não é exclusivo do Lúpus e pode ocorrer mesmo em pessoas sem doença alguma diagnosticada. Frio, cigarro e cafeína podem ser gatilhos para esse sintoma. c) Acometimento renal no Lúpus Até 75% dos pacientes com lúpus irão desenvolver alguma lesão renal durante o curso de sua doença. O achado mais comum é a perda de proteínas na urina, chamada de proteinúria. Outros achados importantes são: Hematúria (sangue na urina), que pode ser macroscópica ou microscópica Elevação da creatinina sanguínea que indica insuficiência renal Hipertensão O acometimento renal mais comum é a glomerulonefrite (lesão do glomérulo renal) causada pelos auto-anticorpos Existem basicamente cinco tipos de glomerulonefrite pelo lúpus, reunidas pelo termo nefrite lúpica. São elas: Nefrite lúpica classe I – Glomerulonefrite mesangial mínima. Nefrite lúpica classe II – Glomerulonefrite proliferativa mesangial. Nefrite lúpica classe III – Glomerulonefrite proliferativa focal. Nefrite lúpica classe IV – Glomerulonefrite proliferativa difusa. Nefrite lúpica classe V – Glomerulonefrite membranosa. As classes III, IV e V são as mais graves, sendo a glomerulonefrite proliferativa difusa (classe IV) a que apresenta pior prognóstico. A glomerulonefrite mesangial mínima (classe I) é a mais branda. A nefrite lúpica é classifica em classes porque cada uma dessas lesões apresenta prognóstico e tratamentos distintos. Por isso, a identificação de qual tipo de nefrite lúpica o paciente possui é de grande importância. Apenas com os dados clínicos não é possível se estabelecer qual tipo de nefrite lúpica estamos lidando, já que proteinúria, hematúria e insuficiência renal são achados comuns nas nefrites tipo II, III, IV e V. Por isso, todo paciente com lúpus manifestando sinais de doença nos rins deve ser submetido à biópsia renal para se identificar qual tipo de lesão no glomérulo que os auto anticorpos estão causando. É perfeitamente possível que um paciente apresente mais de uma classe de nefrite lúpica ao mesmo tempo. As classes I e II não costumam necessitar de tratamento específico, porém, as classes III, IV e V como apresentam pior prognóstico e grande risco de insuficiência renal terminal, são normalmente tratadas com drogas imunossupressoras pesadas. As mais comuns são corticoides (cortisona), ciclofosfamida, ciclosporina, micofenolato mofetil e azatioprina. Os pacientes não tratados ou que não apresentam boa resposta às drogas, inevitavelmente acabam precisando de hemodiálise. d) Alterações sanguíneas no lúpus Os auto anticorpos também podem atacar as células sanguíneas produzidas pela medula óssea. A alteração mais comum é a anemia, que ocorre não só pela destruição das hemácias, mas também pela inibição da produção na medula óssea. Outra alteração hematológica comum é a diminuição dos glóbulos brancos (leucócitos), chamada de leucopenia. O mecanismo é o mesmo da anemia, destruição e inibição da sua produção. Seguindo o mesmo raciocínio também podemos encontrar a redução do número de plaquetas, chamado de trombocitopenia. Quando temos queda das três linhagens sanguíneas ao mesmo tempo (hemácias, leucócitos e plaquetas) damos o nome de pancitopenia. Qualquer uma dessas alterações pode ser fatal, seja por grave anemia , por infecções devido à baixa contagem de glóbulos brancos ou por sangramentos espontâneos devido à queda das plaquetas. Aumento dos linfonodos e do baço também são um achado comum no Lúpus e podem ser confundidos com linfoma. Outro problema comum no lúpus é o surgimento de tromboses. A síndrome do anticorpo antifosfolipídeo é uma doença que ocorre com frequência nos pacientes com lúpus e está associada à formação de múltiplos trombos, tanto nas artérias como nas veias, podendo levar a quadros de AVC, infarto renal, isquemia dos membros, trombose venosa das pernas e embolia pulmonar. e) Acometimento dos vasos sanguíneos no Lúpus Além das tromboses que ocorrem com a síndrome do anticorpo antifosfolipídeo, os auto anticorpos do lúpus podem atacar os vasos sanguíneos diretamente, causando o que chamamos de vasculite. A vasculite pode acometer qualquer vaso do corpo, podendo lesar pele, olhos, cérebro, rins. f) Sintomas do sistema nervoso no Lúpus: O Lúpus pode cursar com síndromes neurológicas e psiquiátricas. As lesões neurológicas ocorrem por tromboses e vasculites, que acabam por provocar AVC. Alterações psiquiátricas também podem ocorrer devido ao lúpus. As mais comuns são a psicose, onde o paciente começa a ter pensamentos bizarros e alucinações, e a demência, com perda progressiva da memória e da capacidade de efetuar tarefas simples. g) Outros órgãos acometidos pelo lúpus: Virtualmente qualquer órgão do corpo pode ser acometido pelos anticorpos do Lúpus. Derrame pericárdico e derrame pleural (água na pleura e no pericárdio) são achados comuns. Acometimentos do sistema gastrointestinal, dos pulmões, infartos do miocárdio, lesões nas válvulas cardíacas e pancreatite também podem ocorrer. Outros achados muito prevalentes no Lúpus são o cansaço (fadiga), a perda involuntária de peso e febre baixa constante. O diagnóstico de lúpus é feito através dos achados clínicos e da dosagem de anticorpos no sangue. O principal é o FAN (ANA em Portugal), o anticorpo contra proteínas do núcleo das células. O FAN está quase sempre presente nos casos de lúpus, mas também pode ocorrer em outras doenças autoimunes como hipotireoidismo de Hashimoto, artrite reumatoide, esclerodermia, etc. O FAN, entretanto, pode eventualmente estar positivo em pessoas normais. Portanto, a sua presença não necessariamente confirma a doença, mas a sua ausência afasta o diagnóstico de lúpus em quase 100%. Os casos de lúpus discoide isolado, sem acometimento sistêmico, são a exceção, podendo não ter o anticorpo FAN positivo. A presença de dois outros anticorpos estão muito associados ao lúpus: Anti- Sm e anti-DNA(ds). A presença de sintomas típicos, FAN positivo e um desses dois anticorpos fecham o diagnóstico de lúpus. O tratamento é feito normalmente com corticoides, cloroquina e anti- inflamatórios. Casos mais severos necessitam de drogas mais pesadas como ciclofosfamida, micofenolato mofetil, azatioprina e o próprio corticoide em doses elevadíssimas. Em 2011 foi aprovada mais uma droga para o Lúpus, chamada Belimumab (Benysta®). Este medicamento é um anticorpo sintético contra os nossos linfócitos B, as células de defesa que produzem os auto anticorpos do lúpus. O Belimumab deve ser usado em conjunto com as atuais drogas e parece reduzir a atividade da doença e o número de recaídas. Entretanto, é importante salientar que os estudos com esta droga não incluíram pacientes que já usaram ciclofosfamida anteriormente ou que tenham lesão renal ouneurológica pelo Lúpus. Isto significa que a droga foi testada apenas em pacientes com casos mais brandos da doença. Outro dado é que nos dois estudos conduzidos, a droga teve eficácia muito menor em pacientes afrodescendentes, parecendo não ser uma boa opção para este grupo étnico. Em casos muito graves, com vasculite difusa, hemorragia pulmonar, lesões neurológicas etc, pode ser necessário o tratamento com plasmaférese para se reduzir o número de auto anticorpos circulantes. Os doentes com lúpus podem alternar fases de crises e fases de remissão. Alguns pacientes conseguem ficar anos sem sintomas da doença. Alguns fatores favorecem a reativação da doença nos pacientes em remissão. – Exposição ao sol. – Estresse físico ou mental. – Gravidez. – Infecções. – Cigarro. – Abandono do tratamento. 3.3. Artrite reumatoide Fonte: www.andar-reuma.pt A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica, que acomete mais as mulheres adultas e pode atacar vários órgãos e tecidos do corpo, mas apresenta uma clara preferência pelas articulações, principalmente as dos membros superior e inferior. É a inflamação de uma ou mais articulações uma articulação com artrite se apresenta inchada, avermelhada, quente e extremamente dolorida. Quando apenas uma articulação está inflamada, chamamos de monoartrite. Quando ocorre inflamação de várias articulações estamos diante de uma poliartrite. A artrite pode ainda ser simétrica quando acomete simultaneamente duas articulações irmãs como joelhos, punhos, tornozelos, etc. A articulação é a região onde há conexão de dois ou mais ossos distintos. Exemplos: joelhos, cotovelo, punhos, tornozelo, ombros, etc. As articulações ao longo do corpo não são todas iguais. Algumas articulações são conectadas por um tecido fibroso, que cola um osso ao outro, tornando-os imóveis, como no caso dos ossos do crânio; outras são ligadas por cartilagens e permitem uma pequena mobilidade como os discos vertebrais que unem as vértebras da coluna; há ainda as articulações móveis, que normalmente são ligadas por uma cartilagem e uma bolsa cheia de líquido (líquido sinovial) permitindo amplo movimento dos ossos com mínimo atrito entre eles, como é o caso do joelho, cotovelo, ombros, etc. Quando a articulação se apresenta inflamada damos o nome de artrite. Quando a articulação se encontra dolorida, mas sem sinais clínicos de inflamação (inchaço, calor e rubor) dizemos que há uma artralgia. Várias outras doenças acometem as articulações, manifestando-se com quadros de artrite, fazendo parte do diagnóstico diferencial da artrite reumatoide, entre elas podemos citar: – Lúpus – Gota. – Osteoartrite/artrose – Artrite séptica (infecção da articulação). – Artrite psoriásica. – Doença de Still. – Espondilite anquilosante. – Febre reumática Uma característica típica da inflamação articular da artrite reumatoide é o acometimento da sinóvia, tecido cheio de líquido que se localiza no centro das articulações, servindo para diminuir o atrito entre os ossos, como uma espécie de óleo lubrificante. Fatores autoimunes estão presentes, por que o organismo passa a atacar as próprias articulações ainda é um mistério, mas o resultado final é a destruição de tecidos pelo próprio sistema imune. Fatores genéticos parecem ser importantes e a presença de determinados genes está associada a um maior risco de se desenvolver a doença. Parentes de 1º grau de doentes, apresentam até 3 vezes mais chances de também apresentar AR. A artrite reumatoide é mais comum em mulheres e em caucasianos (brancos). O pico de aparecimento da doença é entre 30 e 55 anos. Até 5% das mulheres acima de 65 anos apresentam AR. O ato de fumar está associado a um maior risco de AR e a uma maior gravidade da doença. A nuliparidade (ausência de filhos) também parece ser outro fator de risco. O quadro de artrite reumatoide costuma iniciar-se de forma insidiosa, com sintomas leves e pouco específicos como cansaço, dor muscular, perda de peso, febre baixa, formigamento nas mãos, e, por vezes, pequenas dores articulares. É muito comum haver um intervalo de meses entre o início dos sintomas e a procura por atendimento médico. Quando o quadro de artrite se inicia ele é caracteristicamente uma poliartrite simétrica. As articulações das mãos são, em geral, as primeiras a serem acometidas. Conforme a doença progride, mais articulações são acometidas. Punhos, ombros, joelhos, pés, tornozelos, coluna, articulação da mandíbula, quadril e outras podem ser atacadas pelo sistema imune. Os sintomas podem ser cíclicos, alternando- se períodos de melhora com momento de grande piora, ou contínuos. Se não houver tratamento, deformidades podem surgir ao longo do tempo. Uma lesão típica da AR deformante é desvio lateral dos dedos associado a uma deformidade chamada de pescoço de cisne. O acometimento das articulações é típico, mas a artrite reumatoide é uma doença sistêmica que pode também se apresentar com inflamação do pericárdio (membrana que envolve o coração), inflamação do pulmão e da pleura, inflamações dos olhos, lesões nos nervos periféricos, aumento do baço, sinais de vasculite e formação de nódulos subcutâneos, principalmente na região do antebraço e cotovelo. Pacientes com artrite reumatoide apresentam maior risco para infarto do miocárdio. Não existe cura para artrite reumatoide. O tratamento é voltado para redução dos processos inflamatórios e prevenção das deformidades. O tratamento não medicamentoso inclui exercícios físicos controlados, fisioterapia e orientação nutricional para se evitar sobrepeso e controlar o colesterol. Não existe dieta específica para a AR. A terapia com drogas é o principal tratamento da artrite reumatoide. Existem 4 classes diferentes de medicamentos que podem ser usados de acordo com a gravidade do caso. 1- Anti-inflamatórios não esteroides (AINES) São drogas que agem aliviando os sintomas da artrite. Os mais usados são o Ibuprofeno e o Naproxeno. Demoram de 2 a 4 semanas para se alcançar o efeito máximo. Apresentam muitos efeitos colaterais quando usado a longo prazo e não impedem que ocorra lesões deformantes nas articulações. 2- Drogas antirreumáticas modificadoras de doença (DMARDs) Este é o grupo de drogas capaz não só de diminuir o processo inflamatório das artrites, mas também de impedir a progressão para doença deformante. As principais drogas deste grupo são a hidroxicloroquina, metotrexate, sais de ouro, penicilamina, sulfassalazina, azatioprina, leflunomide e ciclosporina. Muitos desses medicamentos são drogas imunossupressoras e devem ser usadas sob estrito controle médico. Os efeitos dos DMARDs só são sentidos após semanas/meses de tratamento. 3- Modificadores da resposta biológica São o grupo mais novo de drogas para a artrite reumatoide. São medicamentos que agem diretamente nos mediadores inflamatórios e nas células envolvidas na artrite. Também têm efeito imunossupressor. Sua ação é mais rápida que dos DMARDs, aparecendo já em 2 semanas. Porém, são drogas caríssimas cujo custo anual beira os 15.000 dólares. Por isso, são reservadas para os casos mais graves, não responsivos a terapia convencional. São todos drogas por via injetável o que dificulta ainda mais o uso domiciliar. As principais drogas desta categoria são: – Etanercept (Enbrel®) – Infliximab (Remicade®) – Adalimumab (Humira®) – Anakinra (Kineret®) – Abatacept (Orencia®) – Rituximab (Rituxan®) 4- Corticoides Drogas como a prednisona agem rapidamente reduzindo o processo inflamatório e aliviando os sintomasda artrite reumatoide. Podem ser tomadas por via oral ou injetadas diretamente nas articulações acometidas. Sua capacidade de prevenir deformidades é restrita e seus efeitos colaterais são inúmeros. O seu uso é indicado no início do tratamento, normalmente junto com os AINES, para um rápido alívio dos sintomas enquanto se espera o efeito completo dos DMARDs. 3.4. Doença de Crohn Fonte: dicassobresaude.com A doença de crohn é um processo inflamatório crônico do trato intestinal. Embora possa afetar qualquer parte do trato digestivo desde a boca até ao ânus, afeta mais frequentemente a parte inferior do intestino delgado (íleo) ou o intestino grosso (cólon e reto). A doença de Crohn é uma doença crônica e pode reaparecer várias vezes durante a vida. Algumas pessoas têm longos períodos de remissão, às vezes durante anos, em que não há sintomas. Não há maneira de prever quando uma remissão ou sintomas podem ocorrer. Poder afetar qualquer parte do intestino, os sintomas podem ser muito diferentes de um paciente para outro. Os sintomas mais comuns incluem cólicas, dor abdominal, diarreia, febre, perda de peso e inchaço. Nem todos os pacientes apresentam todos estes sintomas, e alguns não têm nenhum deles. Outros sintomas também podem incluir dor anal e secreção, lesões de pele, abscesso retal, fissuras e dor nas articulações (artrite). Dentre outros sintomas desta doença estão: – prisão de ventre – úlceras ou inflamação dos olhos – inchaço e dor nas articulações – feridas na boca – sangramento retal e sangue nas fezes – sangramento nas gengivas – Caroços (nódulos) vermelhos e sensíveis sob a pele que podem se tornar úlceras de pele – fadiga – inapetência Ela pode afetar pessoas de qualquer idade, mas a maioria dos pacientes são adultos jovens entre 16 e 40 anos. Ela afeta igualmente homens e mulheres, e parece ser mais comum em algumas famílias. Cerca de 20 por cento das pessoas com doença de Crohn têm um parente, um irmão ou irmã ou, por vezes, o pai ou o filho com algum tipo de doença inflamatória intestinal. A causa exata é desconhecida. No entanto, as teorias atuais se concentram em uma causa imunológica (sistema de defesa do corpo) ou uma causa bacteriana. A doença de Crohn não é contagiosa, mas tem uma ligeira tendência genética (hereditária). Pode-se usar um estudo radiológico do intestino delgado para diagnosticar a doença de Crohn. Frequentemente a doença de Crohn e retocolite ulcerativa são confundidas pela semelhança de alguns sintomas. O tratamento inicial é geralmente com drogas. Não há “cura” para a doença de Crohn, no entanto, a terapia médica com uma ou mais drogas proporciona um meio para o tratamento da doença na sua fase inicial e alivia os sintomas. As drogas mais comumente prescritas são corticosteroides, tais como prednisona e metilprednisolona, e vários agentes anti-inflamatórios. Outros fármacos, por vezes, utilizados incluem 6-mercaptopurina e azatioprina, os quais são imunossupressores. O metronidazol, um antibiótico com efeitos sobre o sistema imunológico, só deve ser utilizado para as pessoas que têm a doença anal. Nos casos mais avançados ou complicadas a cirurgia pode ser recomendada. A cirurgia de emergência é por vezes necessária quando ocorre complicações, tais como perfuração do intestino, obstrução (bloqueio) do intestino ou hemorragia significativa. Outros sinais menos urgentes as necessidades de cirurgia podem incluir a formação de abscessos, fístulas (comunicações anormais do intestino), doença anal grave ou persistência da doença apesar do tratamento farmacológico adequado. Nem todos os pacientes com estas ou outras complicações requerem cirurgia. Embora seja verdade que o tratamento inicial de preferência é a terapia médica, é importante observar que, mais cedo ou mais tarde, até 75 por cento dos pacientes com doença de Crohn requerem cirurgia. Muitos sofrem desnecessariamente por causa da crença equivocada de que a cirurgia como um tratamento para a doença de Crohn é perigosa ou causa complicações inevitáveis. A cirurgia não é “curativa”, embora muitos pacientes não necessitam de operações adicionais. A cirurgia proporciona alívio eficaz e duradouro dos sintomas e limita ou elimina com frequência a necessidade de uso contínuo de medicamentos prescritos. Quem sofre desta doença tem um maior risco de câncer do cólon e do intestino delgado. Em algum momento, o médico pode recomendar a triagem para o câncer de cólon. Em casos mais grave podem aparecer esses problemas: – abcesso ou infecção nos intestinos – anemia, a falta de células vermelhas do sangue – obstrução intestinal – fístulas na bexiga, pele ou na vagina – crescimento e desenvolvimento desacelerado sexual em crianças – falta de nutrientes, tais como ferro e vitamina B12 – problemas para manter um peso saudável 3.5. Esclerose múltipla Fonte: fisioterapia.bahiana.edu.br Esclerose múltipla é uma doença inflamatória crônica, provavelmente autoimune. Por motivos genéticos ou ambientais, na esclerose múltipla, o sistema imunológico começa a agredir a bainha de mielina (capa que envolve todos os axônios) que recobre os neurônios e isso compromete a função do sistema nervoso. A característica mais importante da esclerose múltipla é a imprevisibilidade dos surtos. Em geral, a doença acomete pessoas jovens, entre 20 e 30 anos, e provoca dificuldades motoras e sensitivas. Não se conhecem ainda as causas da doença. Sabe-se, porém, que a evolução difere de uma pessoa para outra e que é mais comum nas mulheres e nos indivíduos de pele branca que vivem em zonas temperadas. O diagnóstico é basicamente clínico, complementado por exames de imagem, por exemplo, a ressonância magnética. A fase inicial da esclerose múltipla é bastante sutil. Os sintomas são transitórios, podem ocorrer a qualquer momento e duram aproximadamente uma semana. Tais características fazem com que o paciente não dê importância às primeiras manifestações da doença que é remitente-recorrente, ou seja, os sintomas vão e voltam independentemente do tratamento. A pessoa pode passar dois ou três anos apresentando pequenos sintomas sensitivos, pequenas turvações da visão ou pequenas alterações no controle da urina sem dar importância a esses sinais, porque, depois de alguns dias eles desaparecem. Com a evolução do quadro, aparecem sintomas sensitivos, motores e cerebelares de maior magnitude representados por fraqueza, entorpecimento ou formigamento nas pernas ou de um lado do corpo, diplopia (visão dupla) ou perda visual prolongada, desequilíbrio, tremor e descontrole dos esfíncteres. Uma vez confirmado o diagnóstico de esclerose múltipla, doença inflamatória desmielizante, o tratamento tem dois objetivos principais: abreviar a fase aguda e tentar aumentar o intervalo entre um surto e outro. No primeiro caso, os corticosteroides são drogas úteis para reduzir a intensidade dos surtos. No segundo, os imunossupressores e imunomoduladores ajudam a espaçar os episódios de recorrência e o impacto negativo que provocam na vida dos portadores, já que é quase impossível eliminá-los com os tratamentos atuais. 3.6. Vitiligo Fonte: sitedamulher.com Vitiligo caracteriza-se pela diminuição ou falta de melanina (pigmento que dá cor à pele) em certas áreas do corpo, gerando manchas brancas nos locais afetados. As lesões, que podem ser isoladas ou espalhar-se pelo corpo, atingem principalmente os genitais, cotovelos, joelhos, face, extremidades dos membros inferiores e superiores (mãos e pés). O vitiligo incide em 1% a 2% da populaçãomundial. Causas: a) Teoria neural: Vitiligo segmentar: incide geralmente sobre a região de um nevo (pinta) e é provocado por substâncias que destroem os melanócitos, células que produzem melanina. b) Teoria citóxica: A despigmentação da pele é provocada por substâncias como a hidroquinona presente em materiais como borracha e certos tecidos. c) Teoria autoimune: Consiste na formação de anticorpos que atacam e destroem o melanócito ou inibem a produção de melanina. Parece estar associado a outras doenças autoimunes, como diabetes e doenças da tireóide. Há ocorrência familiar em 20% a 30% dos casos. Aparecem manchas brancas e bem delimitadas espalhadas pelo corpo. Não há como prever a surgimento e a evolução da doença podendo ocorrer, em um mesmo paciente, regressão de determinadas lesões enquanto surgem outras.Apesar dos danos estéticos que acarreta, o vitiligo não causa nenhum prejuízo à saúde. O diagnóstico de vitiligo é clínico, isto é, o médico deve examinar as lesões e pedir exames laboratoriais para determinar se o paciente é mesmo portador de vitiligo e se existem outras doenças associadas. Algumas manchas brancas podem ser provocadas pelo sol ou por micoses e não constituem lesões de vitiligo. Os tratamentos convencionais são longos e geralmente envolvem aplicações de pomadas à base de corticoides, loções e fototerapia (exposição ao sol com uso de substâncias fotossensibilizantes). Raramente ocorre cura definitiva das lesões, pois há áreas que apresentam maior dificuldade de recuperar a pigmentação. Quando o processo afeta mais de 50% do corpo a opção de tratamento pode ser a despigmentação total da pele É importante levar em conta o estado psicológico do paciente, visto que fatores emocionais podem agravar o aparecimento e evolução das lesões. 3.7. Tireoidite de Hashimoto Fonte: www.centraldafonoaudiologia.com.br A tireoidite de Hashimoto é uma doença autoimune que ocorre por destruição da glândula pelos nossos próprios anticorpos. O Hashimoto é a principal causa de hipotireoidismo, sendo sete vezes mais comum nas mulheres que nos homens. A tireoidite de Hashimoto ocorre da seguinte maneira: Por motivos ainda desconhecidos, o organismo passa a produzir anticorpos contra a própria glândula tireoide. O processo de destruição é lento e dura vários anos. Conforme as células da tiroide vão sendo destruídas, a capacidade da glândula produzir T4 e T3 vai caindo. Notando que há uma queda nos níveis de hormônios tireoidianos, a hipófise aumenta a secreção de TSH, estimulando as células da tireoide que ainda existem a aumentar sua produção de hormônios. Este aumento do TSH é suficiente para normalizar os níveis de T3 e T4. Por isso, nas fases inicias da tireoidite de Hashimoto o paciente não apresenta sintomas, já que seus níveis sanguíneos de T3 e T4 permanecem normais. Entretanto, nas análises de sangue já conseguimos detectar um TSH mais alto que o normal. Esta fase é chamada de hipotireoidismo subclínico. Conforme mais células vão morrendo, mais TSH vai sendo secretado pela hipófise, até o ponto que as células remanescentes são tão poucas que já não conseguem mais produzir o T3 e T4 necessários para manter um nível sanguíneo desejado. Quando os hormônios da tireoide ficam em níveis baixos, começam a surgir os sintomas do hipotireoidismo. O nome tireoidite é dado porque a ação dos anticorpos na tiroide causa uma irritação da mesma. É possível que o paciente desenvolva hipertireoidismo nas fases inicias, já que a glândula irritada pode começar a liberar mais hormônios que o desejado. O paciente pode evoluir com hipertireoidismo inicialmente, e só em fases avançadas passar a ter hipotireoidismo. Sintomas do hipotireoidismo: – Aumento do volume da tireoide, chamado de bócio. – Fraqueza, desânimo e cansaço fácil. – Intolerância ao frio. – Diminuição do suor. – Perda de cabelo – Ganho leve de peso (hipotireoidismo não leva a grandes ganhos de peso). – Pele seca. – Unhas fracas. – Dor nas articulações. – Redução do paladar. – Anemia. – Síndrome do túnel do carpo. – Constipação intestinal (prisão de ventre). – Aumento do colesterol. – Alterações da menstruação (para mais ou para menos). – Infertilidade. – Disfunção erétil. – Perda da libido. – Redução dos pelos da sobrancelha. – Hipertensão. – Inchaços (em casos mais graves). – Coma (em casos graves e não tratados). O hipotireoidismo leva a ganho de peso, mas não é causa de obesidade. É muito comum as pessoas justificarem sua obesidade pelo hipotireoidismo, quando na verdade essa condição leva ao ganho de apenas poucos quilos, no máximo 5 ou 6. Além disso, o ganho de peso é em boa parte por retenção de líquidos e não por ganho de gordura. Ninguém ganha peso suficiente para ficar obeso só porque está com hipotireoidismo. A obesidade só ocorre naqueles pacientes que já se encontravam em situação de sobrepeso anteriormente, já próximo de serem obesos. Em crianças o hipotireoidismo leva a um quadro de baixo crescimento e retardo mental chamado de cretinismo (daí a origem da palavra cretino). Os hormônios tireoidianos são essenciais para o desenvolvimento do cérebro. O teste do pezinho serve para diagnosticar hipotireoidismo nos recém-nascidos. O hipotireoidismo causado pela remoção ou irradiação da tireoide apresenta os mesmos sintomas do hipotireoidismo causado pela tireoidite de Hashimoto. A diferença é que seu início é abrupto na remoção da tiroide, e lento e progressivo no Hashimoto. Outra causa de hipotireoidismo é a carência de iodo, substância necessária para produção dos hormônios. Hoje existe suplementação de iodo no sal de cozinha, sendo esse tipo de hipotireoidismo raro nas áreas urbanas. Alguns medicamentos, como a amiodarona, interferon e lítio também podem causar alterações no funcionamento da tireoide, causando hipotireoidismo. O diagnóstico é feito com a dosagem de TSH, T4 livre e dos anticorpos contra tiroide (anti-TPO e anti-tireoglobulina). Em geral, o diagnóstico de hipotireoidismo é dado aos pacientes com sintomas de hipotiroidismo que tenham TSH maior que 4 mU/L. Existe ainda o grupo que cai na definição de hipotireoidismo subclínico, ou seja, TSH maior que 4 mU/L, mas sem sintomas da doença. Neste último caso, o tratamento só é necessário caso o paciente tenha colesterol elevado, TSH maior que 10 mU/L, caso a paciente esteja grávida, ou se tiver os anticorpos contra tireoide positivos (anti-TPO e anti-tireoglobulina). A presença de anti-TPO ou anti-tireoglobulina em um paciente com hipotireoidismo indica que a causa é a doença de Hashimoto. Todos os pacientes acima de 50 anos devem ter seu TSH dosado, mesmo que não apresentem nenhum sintoma de hipotireoidismo. Se houver história familiar positiva, o rastreio pode começar aos 35 anos, principalmente nas mulheres. Não existe cura para a doença de Hashimoto, mas felizmente já existem hormônios tireoidianos sintéticos. O tratamento do hipotireoidismo consiste na simples administração diária destes. A droga usada normalmente é a Levotiroxina (Puran®, Synthroid®, Letter®), que é um T4 sintético. A Levotiroxina é administrada uma vez por dia e deve ser tomada sempre com estômago vazio (1 hora antes de comer ou 2 horas depois) . O objetivo do tratamento é manter o TSH dentro da faixa de normalidade, que varia entre 0,4 e 4,0 mU/L. Para isso o seu médico pode ter que alterar as doses do medicamento de vez em quando. As dosagens dos comprimidos de levotiroxina são em microgramas e não em miligramas, como a maioria dos remédios. Por isso, a levotiroxinanão deve ser feita em farmácia de manipulação, para que não haja erros na dosagem. Os sintomas costumam regredir já com duas semanas de tratamento. O objetivo é manter o paciente com TSH normal e livre de sintomas. O tratamento é feito por toda vida e não pode ser interrompido. Se o paciente estiver com dor e houver um rápido crescimento da tireoide pode ser indicado o uso de corticosteroides, como a Prednisolona, durante 3 a 4 semanas, para alívio dos sintomas. 3.8. Doença de Graves Fonte: www.oleosessenciais.org Esta doença é um processo autoimune onde o corpo inapropriadamente passa a produzir anticorpos contra a própria tireoide. Estes anticorpos atacam, na verdade, os receptores do TSH, fazendo com que a tireoide pense que há excesso de TSH na circulação sanguínea. O resultado final é uma liberação excessiva de hormônios tireoidianos. A causa mais comum de hipertireoidismo é a doença de Graves. A doença de graves é 8 vezes mais comum em mulheres e costuma ocorrer entre os 20 e 40 anos de idade. Além de todos os sinais e sintomas descritos anteriormente, o hipertireoidismo pelo Graves pode apresentar a chamada oftalmopatia de Graves. Os anticorpos atacam não só a tireoide, mas também os músculos e o tecido gorduroso da região ao redor dos olhos. Essa agressão causa lesão e edema da musculatura extraocular, levando a uma protusão do olho, além de inchaço e inflamação ao seu redor (edema periorbital). O paciente com oftalmopatia de Graves pode também apresentar visão dupla, irritação constante nos olhos, dor ocular, visão borrado e, em casos mais graves, cegueira. Algumas pessoas têm olhos naturalmente mais protuberantes. Além disso, o próprio excesso de hormônios tiroidianos pode levar a uma retração da pálpebra. Porém, na oftalmopatia de Graves a protusão é grande, é possível ver o branco dos olhos (esclera), acima e abaixo da íris. Uma manifestação mais rara da doença de Graves é a dermopatia, chamada de mixedema, que ocorre por infiltração da pele pelos auto anticorpos. A pele encontra-se inchada, dura, com nódulos em sua superfície e mais escurecida. Os principais objetivos do tratamento para a doença de Graves são: inibir a produção dos hormônios da tireoide e bloquear o efeito desses hormônios no corpo. Alguns tratamentos possíveis incluem: Terapia com iodo radioativo Medicamentos anti-tireoide Betabloqueadores Cirurgia Tanto a cirurgia, quanto o iodo radioativo curam o hipertireoidismo, mas ao destruírem a tiroide, levam ao hipotireoidismo. Portanto, a reposição com T4 (levotiroxina) é indicada. 3.9. Psoríase Fonte: www.cuidardocorpo.com A psoríase é uma doença de pele não contagiosa, que surge devido a uma rápida reprodução e proliferação das células da pele, causando espessamento, inflamação e descamação. A psoríase pode causar lesões discretas ou ser uma doença grave, com lesões extensas e comprometimento das articulações. A psoríase é uma doença crônica e ainda sem cura. A doença acomete homens e mulheres em igual proporção e atinge todas as etnias, sendo, porém, mais comum em caucasianos (brancos) do que em negros. As lesões podem surgir em qualquer idade, mas são mais comuns em adultos jovens. Sabe-se que ela surge devido a interações de fatores genéticos, ambientais e autoimunes. Atualmente tem se dado muita atenção ao papel do linfócito T, um dos nossos glóbulos brancos (células de defesa), que parece ser o responsável pela inflamação da pele na psoríase. Os linfócitos T normalmente combatem organismos invasores, mas na psoríase ele inapropriadamente passa a considerar as células da pele como agentes intrusos, atacando-as. O ataque do sistema imune contra a pele, além de causar intensa inflamação, estimula a produção de novas células da pele para substituição das lesadas, causando uma rápida proliferação de novo tecido. Como as células mortas não conseguem ser eliminadas tão rapidamente, a pele começa a ficar mais espessa, pois as novas camadas formadas empurram as antigas para a superfície. Qualquer pessoa pode desenvolver psoríase, todavia, alguns fatores parecem aumentar este risco, principalmente em pessoas geneticamente suscetíveis: – Tabagismo – Obesidade – História familiar de psoríase – Alcoolismo – Estresse físico ou psicológico – Infecções bacteriana ou virais – HIV A psoríase pode se apresentar de forma distinta entre vários pacientes. Existem casos de pessoas com lesões discretas e casos de pessoas com lesões por quase toda a pele. As lesões típicas da psoríase são placas de pele seca e avermelhada, com descamação prateada/esbranquiçada. Essas lesões podem causar intensa coceira e/ou dor. O quadro de psoríase pode ser classificado em diferentes tipos, de acordo com as manifestações clínicas. São 7 os principais tipos de psoríase: psoríase em placas, psoríase gutata, psoríase invertida, psoríase eritrodérmica, psoríase ungueal, psoríase pustulosa e artrite psoriática. A imensa maioria dos casos de psoríase se apresenta como psoríase em placa. O quadro costuma ser de uma doença crônica de evolução cíclicas, com períodos de exacerbação alternando com períodos de remissão. 25% dos pacientes apresentam períodos de remissão completa, ficando temporariamente sem lesões. Apesar de ser uma doença sem cura, até 80% dos casos são considerados de gravidade leve ou moderada. Alguns medicamentos estão associados a exacerbações das lesões de pele, entre eles: propranolol, captopril, anti-inflamatórios e lítio. Estresse, frio, exposição solar excessiva, abuso de álcool e infecções também são fatores que podem exacerbar a doença. Pacientes com psoríase apresentam maior risco de também terem doenças cardiovasculares, síndrome metabólica, doenças malignas, principalmente linfomas e doença inflamatória intestinal. O diagnóstico é feito clinicamente através da história clínica e do exame das lesões dermatológicas. Em casos atípicos, a biópsia de pele pode ser feita, mas esta é raramente necessária. 3.10. Púrpura trombocitopênica idiopática Fonte: fortissima.com.br É uma doença autoimune que se caracteriza pela destruição das plaquetas, células produzidas na medula óssea e ligadas ao processo de coagulação inicial do sangue. O nome está diretamente relacionado às principais manifestações da enfermidade. Púrpura é uma referência às manchas roxas ou avermelhadas indicativas de sangramentos que aparecem na pele; trombocitopênica, em razão da trombocitopenia, ou seja, do sangramento provocado pela queda no número de plaquetas. A enfermidade afeta uma em cada 10 mil pessoas e incide mais nas mulheres em idade fértil do que nos homens. Crianças podem apresentar uma forma aguda e autolimitada de PTI, em geral decorrente de um quadro infeccioso viral. Os sintomas surgem quando a queda do número de plaquetas compromete o processo de coagulação do sangue a ponto de provocar sangramentos. Os mais típicos são os sangramentos que se localizam na pele ou nas mucosas sob a forma de petéquias (manchas puntiformes) ou equimoses (manchas maiores). Podem ocorrer também sangramentos nasais (epistaxes), nas gengivas, gastrintestinais e no trato urinário. A ocorrência de edemas, dor nas pernas e hemorragias menstruais são mais difíceis de controlar. A intensidade dos sintomas varia muito de um paciente para outro. Em alguns casos, eles podem ser assintomáticos e dispensam tratamento. O diagnóstico baseia-se no exame clínico e no resultado do hemograma. Uma vez constatado que o número de plaquetas está baixo, é de suma importância fazer o diagnósticodiferencial, porque doenças como aids, lúpus, leucemias e certas infecções virais também provocam queda no número de plaquetas. Na infância, pode ocorrer remissão espontânea da doença, o que raramente acontece na vida adulta. O tratamento com cortiscosteroides (prednisona) por via oral visa controlar os sintomas e provocar aumento gradual das plaquetas no sangue. O risco de sangramento diminui consideravelmente, quando a contagem das plaquetas atinge 50 mil. Por causa dos efeitos colaterais adversos, o medicamento deve ser retirado aos poucos ou reduzido a doses mínimas o mais depressa possível. Doses altas de imunoglobulina por via intravenosa são úteis para conter os sangramentos agudos e elevar a contagem de plaquetas. Como grande parte da produção de auto anticorpos e destruição das plaquetas ocorre no baço, em algumas situações, a remoção cirúrgica desse órgão (esplenectomia) pode estar indicada. 3.11. Hepatite autoimune Fonte: saude.culturamix.com Como em qualquer doença autoimune, este tipo de hepatite é causado devido a um mau funcionamento do sistema de defesa que deveria atacar somente vírus, bactérias e outros invasores, mas que, inapropriadamente começa a atacar também as células do fígado. Se não for tratado a tempo, a hepatite autoimune leva a um quadro de hepatite crônica que progride com cirrose e falência hepática. Sem tratamento, metade dos pacientes com hepatite autoimune vai ao óbito em menos de 5 anos. 70% dos casos ocorrem em mulheres. Fatores genéticos estão ligados ao desenvolvimento da doença que pode ser desencadeada após quadros de hepatites virais, infecção pelo Epstein-Barr vírus, ou por drogas como Metildopa, Nitrofurantoína e Minociclina. A hepatite autoimune está relacionada à presença de auto anticorpos presentes no sangue como o FAN , o anti-LKM e anticorpo anti-músculo liso. O tratamento é feito com imunossupressores como os corticoides e a Azatioprina. 3.12. Síndrome de Guillain-Barré Fonte: www.ebc.com.b A síndrome de Guillain-Barré, também conhecida por polirradiculoneuropatia idiopática aguda oupolirradiculopatia aguda imunomediada, é uma doença do sistema nervoso (neuropatia) de caráter autoimune, marcada pela perda da bainha de mielina e dos reflexos tendinosos. Ela se manifesta sob a forma de inflamação aguda desses nervos e, às vezes, das raízes nervosas, e pode afetar pessoas de qualquer idade, especialmente, os adultos mais velhos. O processo inflamatório e desmielizante interfere na condução do estímulo nervoso até os músculos e, em parte dos casos, no sentido contrário, isto é, na condução dos estímulos sensoriais até o cérebro. Em geral evolui rapidamente, atinge o ponto máximo de gravidade por volta da segunda ou terceira semana e regride devagar. Por isso, pode levar meses até o paciente ser considerado completamente curado. Em alguns casos, a doença pode tornar-se crônica ou recidivar. Não se conhece a causa específica da síndrome. No entanto, na maioria dos casos, duas ou três semanas antes, os portadores manifestaram uma doença aguda provocada por vírus (citomegalovírus, Epstein Barr, da gripe e da hepatite, por exemplo) ou bactérias (especialmenteCampylobacter jejuni ). A hipótese é que essa infecção aciona o sistema de defesa do organismo para produzir anticorpos contra os micro-organismos invasores. No entanto, a resposta imunológica é mais intensa do que seria necessário e, além do agente infeccioso, ataca também a bainha de mielina que reveste os nervos periféricos. Cirurgias, vacinação, traumas, gravidez, linfomas, gastrenterite aguda e infecção das vias respiratórias altas podem ser consideradas outras causas possíveis da polirradiculoneuropatia aguda. Há indícios de que possa ocorrer uma correlação entre o aumento de casos da síndrome de Guillain-Barré e a infecção por Zika virus. Como a doença não é de notificação compulsória às autoridades públicas de saúde e só aparece depois que o vírus não está mais presente no organismo fica difícil determinar a possível relação entre os dois episódios. O sintoma preponderante da síndromede Guillain-Barré é a fraqueza muscular progressiva e ascendente, acompanhada ou não de parestesias (alterações da sensibilidade, como coceira, queimação, dormência, etc.), que se manifesta inicialmente nas pernas e pode provocar perdas motoras e paralisia flácida. Com a evolução da doença, a fraqueza pode atingir o tronco, braços, pescoço e afetar os músculos da face, da orofaringe, da respiração e da deglutição. Em número menor de casos, o comprometimento dos nervos periféricos pode produzir sintomas relacionados com o sistema nervoso autônomo, como taquicardia, oscilações na pressão arterial, anormalidades na sudorese, no funcionamento dos intestinos e da bexiga, no controle dos esfíncteres e disfunção pulmonar. Os sintomas regridem no sentido inverso ao que começaram, isto é, de cima para baixo. O diagnóstico tem como base a avaliação clínica e neurológica, a análise laboratorial do líquido cefalorraquiano (LCR) que envolve o sistema nervoso central, e a eletroneuromiografia. É muito importante estabelecer o diagnóstico diferencial com outras doenças autoimunes e neuropatias, como a poliomielite e o botulismo, que também podem provocar déficit motor. O tratamento da síndrome conta com dois recursos: a plasmaférese (técnica que permite filtrar o plasma do sangue do paciente) e a administração intravenosa de imunoglobulina para impedir a ação deletéria dos anticorpos agressores. Exercícios fisioterápicos devem ser introduzidos precocemente para manter a funcionalidade dos movimentos. Medicamentos imunosupressores podem ser úteis, nos quadros crônicos da doença. A síndrome de Guillain-Barré deve ser considerada uma emergência médica que exige internação hospitalar já na fase inicial da enfermidade. Quando os músculos da respiração e da face são afetados, o que pode acontecer rapidamente, os pacientes necessitam de ventilação mecânica para o tratamento da insuficiência respiratória. 3.13. Granulomatose de Wegener Fonte: www.mdsaude.com A granulomatose de Wegener é uma doença pouco comum, afetando 1 a cada 30.000 pessoas, que acomete todo o corpo, mas ataca principalmente os vasos sanguíneos dos rins, pulmões e vias respiratórias. A inflamação causada pela doença produz um tipo de tecido inflamatório chamado de granuloma, uma espécie de tumoração microscópica em forma de grânulos. Daí o nome granulomatose de Wegener. Os granulomas destroem os vasos, impedem o aporte de sangue para os órgãos e causam necrose dos tecidos afetados. A granulomatose de Wegener é uma doença autoimune, ou seja, a inflamação dos vasos é causada por um distúrbio no nosso sistema imune que acaba atacando inapropriadamente os vasos. O motivo que ocorre está desregulação do sistema imune, fazendo com que o nosso corpo comece a se autodestruir, ainda é desconhecido. A granulomatose de Wegener pode ocorrer em qualquer idade, mas acomete principalmente indivíduos entre os 30 e 50 anos. É mais comum em brancos que em negros e ocorre mais em homens que em mulheres. O Wegener é uma doença muito grave, que se não tratada, apresenta uma taxa de mortalidade muito elevada. Antes do advento dos tratamentos mais modernos com imunossupressores, a sobrevida média era de apenas 5 meses, sendo que 90% dos pacientes faleciam com menos de 1 ano de diagnóstico. O quadro clínico varia muito de paciente para paciente. Alguns apresentam doença restrita a um único órgão enquanto outros podem cursar com um quadro multi- sistêmico muito dramático.
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