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Formas de assistencialismo Historicamente, as primeiras formas de assistencialismo observadas eram estabelecidas pelas igrejas, como um dever moral, fundamentadas sob a ética da ajuda e da solidariedade. A Igreja Católica foi á instituição religiosa que mais se destacou nas áreas assistencialistas, ao assumir esse papel, desenvolvia práticas humanistas e voluntárias a fim de abafar possíveis conflitos sociais. Tais práticas podem ser notadas em diferentes contextos, como no caso dos asilos, internatos e orfanatos para crianças e jovens, hospitais, ou em equipamentos de segregação social, como os hospícios, leprosários ou os dispensários de tuberculose. Marca com forma ou expressão do assistencialismo a filantropia. A filantropia entendida como uma prática humanitária na qual se realiza a doação – material ou em espécie – como forma de desenvolvimento de um trabalho social. Ela é encarada como uma forma de desenvolver e promover uma mudança social sem a intervenção do Estado. Verifica-se que tais ações, que permearam e ainda permeiam a sociedade brasileira, confundem-se, muitas vezes, com as políticas sociais e as políticas públicas, com a assistência social, que é um direito e um dever do Estado, visto que muitas das vezes, tais ações ainda são enxergadas com um caráter de não direito. Essas práticas dificultam, ainda, a implantação e implementação de políticas públicas, a inclusão social, o protagonismo dos sujeitos sociais e o resgate de cidadania dos segmentos vulnerabilizados, pois são enxergadas apenas como uma prática em si e não como uma política de acesso aos mínimos sociais. A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A Revolução Industrial teve início na segunda metade do século XVIII, na Inglaterra, com a transição da manufatura e cultura artesanal para a mecanização dos sistemas de produção, encerrando a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Completou ainda o movimento da revolução burguesa iniciada na Inglaterra no século XVII. Foi um século marcado pelo grande avanço tecnológico nos meios de transportes, com a invenção da locomotiva e dos trens a vapor; o advento das máquinas. Com as máquinas a vapor, principalmente os gigantes teares, revolucionou-se o modo de produzir, substituindo o homem nas suas funcionalidades. Ao se substituir as ferramentas por máquinas, substituindo o ser humano e sua energia pela energia gerada por uma máquina, configurou- se a Revolução Industrial, processo esse que veio a revolucionar a história através da evolução que ele imprimiu – revolução e evolução tecnológica. Com o surgimento das fabricas, uma nova relação se introduzia, a relação de trabalho e de assalariamento. A particularidade da Revolução Industrial ocorre exatamente na Inglaterra porque, nesse período, ela vivia uma situação privilegiada, pois possuía grandes reservas de carvão mineral em seu subsolo, fonte de energia para movimentar máquinas, como também grandes reservas de minério de ferro, principal matéria-prima utilizada nesse período. Era privilegiada, também, no contingente de mão de obra disponível, motivada pelo processo do êxodo rural para os centros urbanos, o que ampliou o mercado consumidor inglês. Mesmo com o desenvolvimento das cidades, as vidas dos que vivenciavam essa realidade não acompanhava o ritmo das engrenagens das máquinas. A situação para os camponeses e artesãos era difícil, vivenciando uma realidade que não evoluía só involuía. A partir das idéias advindas da Revolução Francesa, as classes dominantes procuraram “apaziguar” os ânimos, pois verificavam que outro tipo de revolução poderia surgir e acabar com seus sonhos dourados e enriquecedores. Para tal, criou-se a Lei Speenhamland, que garantia subsistência mínima ao homem incapaz de se sustentar pela ausência do trabalho. As fábricas do início da Revolução Industrial eram insalubres e priorizavam a produção, sem considerar a necessidade de preservação das condições de vida e de trabalho da classe trabalhadora. Os salários eram baixos e ocorria a contratação de mão de obra infantil e feminina, com jornadas que chegavam a dezoito horas diárias. Funcionavam em ambientes com péssima iluminação, abafados e sujos. Os trabalhadores, incluindo mulheres e crianças, eram sujeitados a castigos físicos, não possuíam direitos trabalhistas ou qualquer outro benefício. Por outro lado, a situação de desemprego gerava uma condição de extrema precariedade, levando o trabalhador a aceitar as péssimas condições de trabalho. Também foram conseqüências do processo de Revolução Industrial a poluição ambiental e sonora, o êxodo rural, além do desemprego, que ainda um problema nos dias atuais. As fases da Revolução Industrial A primeira fase da Revolução Industrial aconteceu entre os anos de 1760 a 1850. Nesses anos a Inglaterra, primeira a aderir a esse novo modelo produtivo, liderava todo o processo de industrialização. As particularidades expressas pelo seu desenvolvimento técnico-científico foram significativas, pois ela foi terreno das primeiras máquinas confeccionadas em ferro e que utilizavam o vapor como força motriz. Já a segunda fase se iniciava logo na década de 1850, marcada pela aceleração do processo de industrialização, uso de novas tecnologias e matérias primas, descoberta de novas fontes de energia, entre outros. A terceira fase da Revolução industrial ocorreu logo após a Segunda Grande guerra, quando a economia internacional começava a passar por profundas transformações. Essa nova fase apresenta processos tecnológicos decorrentes de uma integração.o física entre ciência e produção, também chamada de revolução tecnocientífica. O processo de modernização pós Revolução Industrial Marcaram esse contexto o boom de inovações tecnológicas, a evolução no processo de transformação da matéria-prima, uso de máquinas mais evoluídas e automáticas, com menor uso da força humana. A evolução nem sempre gera uma apropriação completa por parte de todos os partícipes desse processo. Com a aceleração do processo evolutivo dos modos de produção, pensava-se em modos de se obter mais lucro e gastar menos. Para tal, um reordenamento geral foi elaborado e estabelecido, no qual os trabalhadores passavam por um processo de especialização de sua mão de obra, pela qual só tinham responsabilidade e domínio sob uma única parte do processo industrial, não tendo mais ciência do valor da riqueza por eles produzida. Isso gerava lucro. O trabalhador passava agora a ser assalariado, vendendo sua força de trabalho. Durante o século XX, outros pensamentos permearam o sistema capitalista. As idéias do industriário Henry Ford e do engenheiro Frederick Winslow Taylor vieram a somar á “evolução” industrial. Com uma metodologia que otimizava o tempo e tinha como premissa a eficiência do processo produtivo, agilizava-se as respostas que essas teriam para o mercado e consequentemente, o lucro seria maior. Diz-se que vivenciamos atualmente uma quarta Revolução industrial. A família perde a capacidade de suprir suas necessidades mínimas e básicas de subsistir, sofrendo um enfraquecimento, demandando uma atuação do Estado, que tem uma função reguladora das relações sociais. O Estado, a serviço do capitalismo, cria equipamentos sociais e regulatórios que enquadram e fragmentam as relações sociais. Seus aparatos servem, também, como modo de alienação e submissão. Na expansão do capitalismo, novas necessidades e novos serviços surgem para responder ás demandas da vida capitalista, e a cada necessidade um serviço é oferecido, num processo de mercantilização de todas as ações da vida dos indivíduos. O advento do capitalismoO sistema capitalista surgiu e concretizou-se como sistema econômico durante o século XVI, com as práticas industriais e mercantis no continente europeu. Como modo de produção, o capitalismo passou a se assentar em relações sociais de produção capitalista, marcadas fundamentalmente pela compra e venda da força de trabalho. Toda relação existente no capitalismo supõe uma condição de assalariamento. A condição de assalariamento é intimamente ligada á venda da força de trabalho do proletariado. Esta é trocada por valores, mesmo estes sendo diferentes do que os trabalhadores realmente deveriam receber – aí que está a criação do antagonismo e da desigualdade, pois nessa relação é extraída a mais-valia, que não é apropriada por aqueles que estão do outro lado da esteira. A história do capitalismo é a história das classes sociais, o elemento definidor do capitalismo, seu traço distintivo é a posse, de maneira privada, dos meios de produção por uma só classe e a exploração da força de trabalho daqueles que não a detém. A revolução industrial e as relações sociais dentro do sistema capitalista É no berço da estruturação do capitalismo, após a Segunda Guerra Mundial - 1945, que surge o serviço social, vinculado ás políticas sociais estatais, como o agente de implementações dessas políticas. É Importante ressaltar que as políticas sociais, embora em sua maioria representem conquistas das classes trabalhadoras, passaram a serem instrumentos de intervenção estatal a serviço do projeto hegemônico do capital, garantindo a manutenção do sistema vigente e abrandando conflitos entre o capital e o trabalho. Nesse contexto, surge a primeira contradição do trabalho técnico do assistente social: a necessidade de reprodução do sistema, garantindo os interesses do capital em contraponto á luta dos trabalhadores pela conquista e defesa de direitos. Tal contradição coloca ao profissional a necessidade de uma opção política, inserida nas contradições entre as classes e na disputa por interesses. A divisão social do trabalho: introdução ao pensamento de Karl Marx Karl Marx com sua teoria – muitos chamam de método de Marx – desvenda as leis do desenvolvimento do capitalismo, revelando que para cada época ou contexto histórico, um modelo de produção é vivenciado e, por conseqüência, um sistema de poder é estabelecido. A relação fundamental do capitalismo tinha por base o assalariamento. O capitalista pagaria aos trabalhadores um salário em troca do seu trabalho. O trabalho era desenvolvido, porém o valor pago por esse não condizia com as horas que eram disponibilizadas ao empregador, ou seja, dentro dessa relação de compra e venda, o capitalista retirava maior proveito e ainda lucrava com este trabalho excedente e não pago. A divisão social do trabalho efetiva-se pela distribuição das tarefas entre os diversos trabalhadores, para que esses, especializados em um dado fazer, sejam mais rápidos e, com isso, aumentem a produtividade sem ter a compreensão de todo o processo de trabalho, mecanizando as ações e impedindo o processo de criatividade. Cabe ao trabalhador saber apenas o necessário para cumprir suas tarefas. Esse processo deu origem á Revolução Industrial, que utilizou as máquinas para tornar mais barato o custo de produção dos bens e possibilitou a diminuição da jornada de trabalho e o aumento ainda maior da produção, sem o correspondente aumento de salário, propiciando assim um aumento do acúmulo de capital pelos detentores dos meios de produção. As relações sociais e o serviço social dentro do sistema capitalista. O estudo da profissão de serviço social procura seu significado dentro da sociedade capitalista, ou seja, através de sua compreensão. A reprodução das relações sociais , a reprodução da totalidade do processo social, a reprodução de determinado modo de vida, ou seja, o modo de como são produzidas e reproduzidas as relações sociais na sociedade. Segundo Marx, o primeiro ato histórico pelo qual podemos distinguir os homens dos demais animais não é o de pensar, mas o de começar a produzir os seus meios de vida. Para Marx, é por meio do trabalho, atividade intencional e racional, com finalidade, que o homem transforma a natureza a fim de obter a realização de suas satisfações. Nessa relação há uma mútua transformação, pois ao apropriar-se do recurso natural, o homem transforma a natureza e a si mesmo. É essa ação intencional e racional que diferencia os homens dos animais, como também a consciência e a religião. O serviço social na Europa e nos Estados Unidos aparece vinculado á expansão do capitalismo monopolista como forma de garantir a reprodução desse sistema e das relações sociais que davam suporte ao trabalho alienado. O Estado passou a incorporar o trabalho do assistente social na implementação de políticas sociais, que objetivavam atenuar os conflitos entre o capital e o trabalho, e combater a ameaça das idéias comunistas entre as classes subalternas. As maiores áreas de atuação do serviço social nessa gênese se pronunciavam pela prestação dos serviços sociais, na garantia mínima de sobrevivência. Em resumo, é um direito do trabalhador, reconhecido pelo próprio capital, que se torna um meio de reforço do paternalismo do Estado e da retomada do coronelismo. OS FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL: AS PROTOFORMAS DO SERVIÇO SOCIAL - UMA BREVE ANÁLISE HISTÓRICA. O serviço social surgiu decorrente da divisão social e técnica do trabalho, afirmando-se como uma profissão dentro da sociedade, dotada de uma dimensão teórico-metodológica e técnico-operativa, indissociada das ordens éticas e políticas. O serviço social iniciou seu embasamento teórico com a influência norte-americana do modelo de caso, grupo e comunidade, sob a influência do pensamento de Mary Ellen Richmond. Ao pronunciar-se em uma palestra, Richmond assinalou a necessidade de se criar uma escola para a formação de assistentes sociais. Ela introduziu um método no qual se realiza o estudo ou levantamento de dados sobre a situação, diagnosticando o problema social, avaliado logo em seguida e, por fim, estabelecendo um tratamento. Visualizava o inquérito como um instrumento de fundamental importância para a realização do diagnóstico social e, posteriormente, do tratamento, pois acreditava que só através do ensino especializado poder-se-ia obter a necessária qualificação para realiza-lo. Essa metodologia é denominada como “Metodologia do Caso Social Individual”. Desde essa primeira sistematização elaborada por ela, o serviço social reflete uma perspectiva genérica de intervenção, tendo em vista a mudança social, por meio da qual deu-se aos assistentes sociais o desafio de trabalhar para uma comunidade á qual faltavam recursos sociais, utilizando argumentos oferecidos pelos casos. O surgimento do serviço social no Brasil No Brasil, o desenvolvimento material – início do período do “boom” do desenvolvimento econômico – desencadeou a expansão do proletariado urbano, reforçada pela migração interna, o que criou a necessidade política de controlar e absorver esses segmentos sociais. Segundo Iamamoto, o Estado procurou incorporar as reivindicações da classe trabalhadora nacional, ampliando a base de reconhecimento legal da “cidadania”, do proletariado e dos direitos sociais por meio da criação de legislações sociais. Em seguida, buscou um profissional capaz de apresentar respostas, aprimorando-se e apropriando-se das técnicas do serviço social norte-americano. A sociedade encontrava-se nos anos 1930, em uma conjuntura marcada pelo desenvolvimento capitalista, pelos conflitos de classes, pelo crescimento da classe trabalhadora, enquanto se travava uma luta contra a exploração da mão de obra dessa classe e pela defesade seus direitos e cidadania, para intervir nos problemas das sequelas da questão social. Ainda segundo Iamamoto, dentro das instituições mais importantes para o surgimento do serviço social podemos destacar: o Conselho Nacional de Serviço Social (1938), a Legião Brasileira de Assistência (1942), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (1942) e o Serviço Social da Indústria (1946). A criação de tais instituições tem como pano de fundo um período na história do Brasil marcado pelo aprofundamento do modelo de Estado intervencionista sob a égide do capitalismo monopolista internacional e de uma política econômica nacional que privilegiou o crescimento da industrialização. A profissionalização do serviço social, mesmo que inicialmente estivesse intimamente ligada ás questões do assistencialismos, não se relacionava á evolução da ajuda, á racionalização da filantropia, nem á organização da caridade. Sua vinculação referenda a dinâmica da ordem monopólica, mesmo com suas primeiras ações desenvolvidas tendo cunho religioso, filantrópico e assistencial; diga-se assistencial, mas com um caráter assistencialista e de benemerência, desenvolvido por meio da solidariedade social, porém ainda hipossuficiente. Tinham um caráter missionário, de apostolado social, justificando sua ideologia com a Doutrina Social da Igreja. No Brasil, até 1930, a pobreza não era vista como uma expressão da questão social, pelo contrário, todas as expressões dela eram tratadas como “casos de polícia”, A questão social só passa a ser objeto de intervenção por parte do Estado com a instituição das políticas sociais, porém com ações fragmentadas e parcializadas. Em 1936, através dos esforços desenvolvidos por esse grupo, é fundada a Escola de Serviço Social de São Paulo, a primeira desse gênero a existir no Brasil. Inicia-se, portanto, uma nova etapa na prática da assistência social, tinha por finalidade oferecer uma formação social através do conhecimento das questões e dos problemas sociais, preparando seus profissionais para atuarem nos vários campos da ação social, nas obras de assistência, nos serviços de proteção á infância, nas organizações operárias e familiares. Foi no contexto de enfrentamento da questão social pelo Estado, com o apoio da iniciativa particular de alguns grupos e da Igreja Católica, que se conduziu a institucionalização e legitimação do serviço social como profissão, em um cenário em que a pobreza é vista como ameaça á ordem burguesa. Porém, mesmo com essa abrangência e abertura, as primeiras iniciativas de organização da profissão estavam ligadas a grupos sociais participantes do movimento católico leigo e responsáveis pela ação social da Igreja Católica. O serviço social brasileiro surge, portanto, com um caráter conservador, ligado á atividade assistencial. A profissão é reconhecida legalmente como profissão liberal pelo Ministério do Trabalho pela portaria n. 35 de 19 de abril de 1949. Em síntese, é sob a influência do pensamento da Igreja Católica que o serviço social brasileiro iniciou sua fundamentação, tendo um posicionamento humanista e conservador. Nos postulados filosóficos tomistas e neotomistas que marcaram o serviço social, introduziu-se a noção de dignidade da pessoa humana; sua perfeição, sua capacidade de desenvolver potencialidades; a sociabilidade natural do homem, como um ser social e político; a compreensão da sociedade como união dos homens para realizar o bem e a necessidade da autoridade para cuidar da justiça geral. Apesar do doutrinarismo e conservadorismo não se constituírem como teorias sociais, foi a primeira orientação de visão de mundo que conduziu o serviço social para sua elaboração de uma visão de mundo. O positivismo também teve fortes influências no Brasil. A influência norte-americana: o funcionalismo e o serviço social de caso, grupo e comunidade. Em meados da década de 1940, a influência franco-belga que marcava a gênese do serviço social cedeu o lugar á influência norte-americana. Porém é só na Conferência Nacional do Serviço Social, ocorrida em 1941, que se concretizou e teve início esse intercâmbio, com a oferta pelos Estados Unidos – diga-se investida – para que os assistentes sociais fossem até lá fazer cursos, ofertando bolsas de estudos aos assistentes sociais brasileiros. Teve influência importante, como já assinalado, Mary Richmond; com suas as idéias da filantropia científica, ela incorporava as teorias estrutural- funcionalistas e as metodologias de intervenção, especificamente os métodos de serviço social de caso, serviço social de grupo, organização de comunidade e, posteriormente, desenvolvimento de comunidade. Soma-se a este contexto, o ideal de democracia e justiça social pregado por Jane Addams. Nesse período, a ênfase na formação profissional ainda estava sustentada na visão terapêutica e na concepção de que a questão social era um desajustamento social. O serviço social de caso, o serviço social de grupo e a organização da comunidade são baseados na arte e na ciência das relações humanas, isto é, nas relações de pessoa a pessoa. O que era imperativo no serviço social de caso era o relacionamento profissional, no qual o caso social era verificado como um processo psicossocial, isto é, uma situação-problema na qual fatores objetivos da situação de vida do cliente não se separam dos fatores subjetivos (seu comportamento e suas emoções) Ele é, então, um método de ajuda baseado num corpo de conhecimentos, na compreensão do cliente dos seus problemas, e no emprego de técnicas aplicadas – ajudar as pessoas a ajudarem-se a si próprias. O serviço social de grupo utiliza-se da abordagem grupal das situações sociais problema, identificando seus aspectos significativos. Essa abordagem está muito ligada á educação. Identificava-se enquanto atribuição do assistente social: • proceder ao levantamento das situações sociais significativas, através de atendimento individual com líderes formais e informais da comunidade e de pesquisas; • levar ao conhecimento da equipe os problemas sociais que surgirem como prioridade na população atendida, apresentando sugestões para intervenção; • planejar, executar e coordenar atividade a nível grupal. O SERVIÇO SOCIAL A PARTIR DA DÉCADA DE 1930 O período de 1930 a 1945 coincide com dois grandes fatores político-sociais: a Segunda Guerra Mundial (Europa) e o período do Estado Novo (Brasil), caracterizando o surgimento da profissão no Brasil sob influência Européia. É só a partir de 1945 que se observa uma expansão do serviço social no país, com o fortalecimento do capitalismo local e as mudanças mundiais decorrentes do período pós Segunda Guerra Mundial. Nesse período, o serviço social tinha as seguintes características: era assistencial, caritativo, missionário e beneficente. As primeiras ações do serviço social no Brasil iniciaram-se com a iniciativa do Centro de Estudos e Ação Social – CEAS, no ano de 1932. Já em 1935, criou- se a Lei nº 2497, de 24/12/1935, que estabelecia o Departamento de Assistência Social do Estado, o primeiro no país. No ano de 1934, com a Carta Constitucional os serviços sociais se consolidam. Nesse mesmo contexto, criou-se o Conselho Nacional de serviço social – CNSS, que tinha uma função consultiva para o governo. O CNSS tinha como principais funções: • realização de inquéritos e pesquisas sobre as situações de desajustes sociais; • organização do plano nacional de serviço social, englobando os setores público e privado; • sugerir políticas sociais a serem desenvolvidas pelo governo; • opinar sobre a concessão de subvenções governamentais às entidades privadas. Sua função era igual a tantas funções e atribuições, manipuladora, com mecanismo de clientelismo político. As práticas desenvolvidas pelos primeiros assistentes sociaisestavam voltadas para a organização da assistência, para a educação popular e para a pesquisa social. O serviço social a partir de 1930 sofre transformações de ordem prática em seu discurso profissional, influenciadas pelo pragmatismo e assistencialismo ao ser verificada a necessidade de serem criados novos métodos e técnicas de buscar conteúdos teóricos e ideológicos em outras ciências, como na psicologia e na psiquiatria, a fim de haver uma adequação à realidade brasileira. No ano de 1938, a Seção de Assistência Social, foi organizada com a finalidade de melhor atender e reajustar certos grupos e desenvolver o chamado serviço social de casos individuais, a Orientação Técnica das Obras Sociais, o Setor de Investigação e Estatística e o Fichário Central de Obras e Necessitados. Observa-se uma substituição da influência européia pela norte-americana, marcada pelo Congresso Interamericano de Serviço Social, realizado em 1941, em Atlantic City (EUA), que alterava o processo de formação dos assistentes sociais e consequentemente a prática profissional. A principal expansão do trabalho do assistente social se deu na área da saúde, que, a partir de 1948, passou a abordar aspectos biopsicossóciais, demandando uma ampliação das equipes, que não mais se restringia aos médicos, para atender em uma perspectiva higienista. O assistente social que atuava nessa área vivia os conflitos da falta de acesso à saúde pelas populações que estavam fora do mercado formal de trabalho e, portanto, não tinham direito de utilizar os recursos existentes. Nesse contexto, os benefícios eram financiados pelos próprios indivíduos que os recebiam. O trabalho do assistente social na área de saúde era restrito ao atendimento de casos e era reconhecido como serviço social médico. Esse período histórico e social, cujo auge se dá em 1939, culmina com a retomada do aprofundamento do capitalismo no âmbito da expansão da produção industrial, com a intervenção estatal voltada para facilitar e intensificar acumulação, sendo pano de fundo para a ação profissional. O serviço social na década de 1940: os congressos de serviço social e sua influência no perfil profissional. A partir dessa década, o serviço social buscava conteúdos teóricos e metodológicos que melhor instrumentassem sua ação prática. É nesse contexto que se destacam os congressos de serviço social que influenciaram a profissão rumo a uma melhor adequação teórica e metodológica. No ano de 1942 ocorreu o 1º Congresso Pan-Americano de Serviço Social, no Chile, o qual apresentaria as primeiras expressões de mudança metodológica, porém com traços de continuidade reafirmação da influência norte-americana, marcando uma nova hegemonia internacional. Ainda no âmbito da América Latina, merece destaque o Congresso Pan-Americano de 1945, no qual compareceram 14 delegadas estrangeiras, com um caráter mais oficial. A discussão que mais merecia destaque era sobre a formação para o serviço social, na qual se procurou definir normas para o funcionamento das escolas, a partir de um padrão mínimo de exigências, tais como planos de trabalhos, currículo básico, entre outros. Surgiu nessa época a Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social – ABESS e a Associação Brasileira de Assistentes Sociais – ABAS. O primeiro Congresso Brasileiro de Serviço Social foi promovido no ano de 1947 pelo Centro de Estudos e Ação Social – CEAS. Teve um caráter preparatório para o 2º Congresso Pan-americano a ser realizado em 1949, com ampla participação das entidades particulares e governamentais. Esse congresso foi marcado pela ausência de uma temática central. Os debates suscitados levaram á algumas conclusões organizadas em seis grandes campos: serviço social e família; serviço social de menores; educação popular e lazeres; serviço social médico; serviço social na indústria, agricultura e comércio; e os agentes do serviço social. No ano de 1947, a Seção Regional de São Paulo, órgão ligado a ABAS, estabelecia o primeiro Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais. Já no ano de 1949, ocorreu o 2º Congresso Pan-Americano de Serviço Social no Rio de Janeiro, que teve como tema central “O serviço social e a família”, no qual se estabelecia uma concepção de família que pudesse elucidar o trabalho profissional. O serviço social apresenta, nesse contexto, funções bem mais amplas, através de respostas que pudessem acompanhar o movimento da ordem econômica, moral e estrutural, na busca pela eliminação do pauperismo e na estruturação da sociedade que melhor contemplasse as exigências humanas. Este congresso reafirmava as teses dos congressos de 1945 e 1947, de estabelecer um discurso menos apostolar, de dar maio ênfase à psicologia e à técnica, definindo novas qualidade para o assistente social. O serviço social a partir dos anos 1950: rumo a uma renovação crítica. É nesse contexto que o serviço social passa a ter influências teóricas heterogêneas, com a presença da teoria da modernização. Esse período correspondia ao período do desenvolvimentismo brasileiro e de aposta no capitalismo industrial. Nessa mesma década, surge o método do “desenvolvimento de comunidade” - DC, que propunha a melhoria nas condições imediatas do meio, contando com a participação dos grupos como coparticipantes na execução dos projetos e atividades, unidos pelo bem comum, porém deslocados de suas elaborações e proposições. Embora o desenvolvimentismo tenha se constituído como central no governo vigente – governo Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-60) - sua influência no serviço social estava limitada ao DC no meio rural, influenciado pelo funcionalismo, pelo qual se queria, através de suas ações junto à comunidade, corrigir as “disfuncionalidades” causadas pelo sistema capitalista, “forçando” a integração da população empobrecida aos projetos de desenvolvimento. O serviço social apresentava-se, portanto como agente do desenvolvimento. Já nos anos 50/60, segundo essa introdução do assistente social ao DC rural, um novo impulso ocorreu para na oferta e procura profissional: aumento do número de escolas; interiorização do serviço social; abertura de um novo campo de trabalho, incorporação de novas atribuições profissionais relacionadas à coordenação, planejamento e administração de programas sociais. O DC apresentava-se sob duas perspectivas: 1. DC ortodoxo: inspirado nos postulados funcionalistas que abordavam a comunidade como uma unidade constituída de partes independentes que devem colaborar para o equilíbrio do todo. Tinha como pano de fundo a modernização como uma unidade consensual. Seu caráter era acrítico, apolítico e aclassista. 2. DC heterodoxo: tinha uma visão mais abrangente da problemática brasileira e de uma maior abertura do espaço político, tendo um caráter mais crítico. Tinha força reivindicatória por direitos e mudanças estruturais como requisito fundamental ao desenvolvimento econômico do país. Era inspirado na vertente estrutural histórica – engajamento no campo educacional com a conscientização e participação popular – e no Movimento de Educação de Base - MEB. A organização de comunidade surge como uma fórmula de desenvolver nas comunidades a consciência para que seus problemas fossem resolvidos pelos próprios envolvidos, através de suas iniciativas e seus próprios recursos. Já o desenvolvimento de comunidade terá como palco outro cenário e outro contexto histórico. Seu surgimento se dá a partir da Segunda Guerra Mundial. Nesse período, as colônias inglesas na África e na Ásia se preparavam para sua emancipação. O DC surge assim como estratégia de dominação e controle nos processos emancipatórios dos países colonizados sob a égide da Inglaterra e do bloco ocidental. O assistente social era visto como um profissional chave para realizar trabalhoscomunitários de integração das populações aos ideais nacionais. A prática do DC no Brasil pode ser expressa e entendida como uma estratégia governamental de integração social ao desenvolvimento na: • articulação da educação e do serviço social como instrumento no despertar de vocações; • participação da comunidade, vista como elemento chave para atingir o desenvolvimento; • comunidade compreendida de forma setorizada e localizada, culpabilizadas por seus problemas; • DC como instrumento para superar o subdesenvolvimento; • assistente social: elemento motivador. No Brasil especificamente, a profissão passa a ser regulamentada a partir 1957, quando é sancionada a Lei n° 3.252. Essa legislação vigorou durante 36 anos e foi substituída em 1993, pela Lei n° 8.662. A década de 1960 e sua influência no serviço social brasileiro A partir de 1960, o serviço social começa a sofrer importantes transformações no movimento de reconceituação da profissão na América Latina, que trazia uma denúncia do conservadorismo profissional iniciado na década de 1960 e desenvolvido até a década de 1980, influenciado pela conjuntura histórica mundial, principalmente na própria América Latina. Nessa década a profissão veio a questionar seus referenciais e requisitar uma renovação em diferentes níveis: teórico, metodológico, técnico, operativo e político. O controle e a repressão da classe trabalhadora pelo Estado e pelo grande capital e o atendimento das novas demandas submetidas à racionalidade burocrática exigiram a renovação do serviço social. Esse movimento, denominado de “Movimento de Reconceituação”, impôs ao assistente social a necessidade da constituição de um novo projeto profissional, comprometido com as demandas e interesses da população usuária dos serviços. Nessa época o serviço social estabiliza-se sob mudanças técnicas, a chamada modernização conservadora que colocou a questão do método em debate, fundamentando-se ora por uma aproximação com o marxismo, porém com uma leitura reducionista; ora recusando o teoricismo pela prática. Com a influência norte-americana, o serviço social alcança sua maioridade na sistematização teórica e técnica, feita através do trabalho com indivíduos e famílias, como o serviço social de grupo e o serviço social de comunidade. Marcam esse processo as experiências de grupos de assistentes sociais vinculada à esquerda católica e aos projetos de educação de base e de organização popular em comunidades urbanas e rurais, inspirados nas teorias de educação para a libertação e no método de alfabetização de Paulo Freire. No entanto, o golpe de 64 e a ditadura militar interrompem o processo de radicalização democrática, o que põe fim ao pacto populista e ao engajamento dos que lutavam para a implantação de alternativas de desenvolvimento nacional-populares e democráticas no país. Para a implantação desse novo modelo, o Estado moderniza e amplia suas funções econômicas, sociais, políticas e culturais, orientando-se na integração da economia brasileira aos padrões internacionais definidos pelo capitalismo monopolista. O movimento de reconceituação do serviço social na América Latina foi desencadeado pela ação da chamada de “geração 65”, constituída por grupos profissionais de vanguarda que apresentavam um questionamento no que se referia às bases conservadoras do serviço social. Nesse sentido, os seminários regionais de serviço social tiveram um papel importante e central, tendo como marco o I Seminário Regional Latino-Americano de Serviço Social realizado em 1965 na cidade de Porto Alegre. Em síntese, as determinações consideradas nessa análise da relação existente entre o governo autocrático e a renovação do serviço social foi: 1. o significado do golpe militar de 1964; 2. o modelo de desenvolvimento econômico adotado pelos governos ditatoriais; 3. as mudanças na relação entre o Estado e as classes sociais; 4.a reorganização do estado e das políticas sociais nos marcos da modernização conservadora e as repercussões no mercado de trabalho dos assistentes sociais; 5. as determinações da nova configuração do mercado de trabalho dos assistentes sociais; 6. as determinações da política educacional dos governos militares sobre a formação profissional. A renovação do serviço social se deu em pleno processo ditatorial, que, mesmo de forma repressora, reforçava e validava a ação profissional, porém tal ação era tradicional e conservadora. Tais ações provocavam uma diferenciação quanto ao serviço social tradicional: sua prática era empirista, reiterativa, paliativa e burocratizada, paramentada por uma ética liberal burguesa, funcionalista, mecanicista, idealista da dinâmica social. TRAÇOS DO PROCESSO DE RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL O processo de renovação expressa um quadro complexo e heterogêneo, com um pluralismo teórico, vários projetos em confronto, diferentes concepções de intervenção e práticas, novas propostas de formação profissional e uma fratura ideológica. Nesse processo, a perspectiva modernizadora foi um esforço para adequar o serviço social enquanto instrumento de intervenção às novas técnicas que atendessem às exigências postas pelo período, porém tinha uma visão funcionalista. Essa perspectiva não rompe com as condições tradicionais, apenas moderniza, não questiona a ordem, apenas utiliza de novos espaços – o funcionalismo estrutural é uma reatualização do conservadorismo, que trazia para a profissão um traço microscópico de sua intervenção e tinha uma visão de mundo positivista. Essa tendência foi expressa nos seminários: 1 – Araxá, em 1967, sendo a primeira produção teórica do CBCISS; 2 – Teresópolis, em 1970. Mudanças nas relações de trabalho: política salarial, alterações arbitrárias do contrato de trabalho com uma nova política salarial, como também nos sindicatos e organizações; abolição do direito de greve, instituição do FGTS, manipulação dos índices e custo de vida, arrocho salarial, espoliação urbana, aumento da exploração, aumento da jornada de trabalho, queda do padrão de vida, aumento da miséria absoluta e relativa, acentuação das desigualdades sociais. São três as vertentes que permeavam sua renovação: Perspectiva Modernizadora – Araxá (1967) e Teresópolis (1970); Reatualização do Conservadorismo – Sumaré (1978) e Alto da Boa Vista (1984); Intenção de Ruptura: método BH (72/75) e INOCOOP, final da década de setenta. Lembrete Influências para o serviço social brasileiro: 1930-1940 – influência franco-belga, com o pensamento de São Tomás de Aquino (tomismo e positivismo); 1940-1950 – influência norte-americana, influência do desenvolvimentismo; 1960-1975 – influência latino-americana, influencia do movimento de reconceituação. Araxá: a afirmação da perspectiva modernizadora Esse documento foi formulado em Araxá no ano de 1967 por 38 assistentes sociais, no 1º Seminário de Teorização, expressão de movimento no qual ponderou-se sobre o serviço social, procurando sistematizar seus referenciais teóricos. Essa era uma carta de princípios que orientaria a prática. Nesse documento havia uma tensão entre o moderno e o tradicional, apresentando o serviço social tradicional com uma nova roupagem a fim de inseri-lo no processo. Não há um rompimento com o tradicionalismo, mas sim uma captura do tradicional sobre novas bases. Buscava-se romper com a atuação de caso, grupo e comunidade, incorporando novos métodos e processos tais como o de planejamento, de administração. Tinha objetivos: remotos e operacionais. Dentro dessa ótica, exigia-se um profissional polivalente, um super profissional que pudesse abarcar todas as demandas e conduzi-las. O documento de Araxá não apresenta, no que tange à realidade brasileira, uma análise ou diagnóstico; firma o ideário de conviver de modo harmônico, no qualos agentes do desenvolvimento seriam incumbidos de agir junto aos que resistissem às mudanças. O serviço social é visto como técnica social, com uma orientação teórica no funcionalismo estrutural. Teresópolis: a cristalização da perspectiva modernizadora Esse documento foi elaborado pela iniciativa de 33 profissionais no ano de 1970, período no qual o Brasil vivia o chamado “Milagre Econômico”. No de Teresópolis, constatava-se a busca pela qualificação do assistente social, criando um perfil que melhor contemplasse a modernização conservadora da ditadura militar, consolidando o estruturalfuncionalismo como concepção teórica. Seus organizadores elaboraram um minucioso roteiro de trabalho, mas os participantes modificaram esse roteiro e cada um dos grupos de trabalhos acabou elaborando um novo roteiro, o que impediu a redação final de um único documento como no caso do de Araxá. O dado mais importante afirmado por esse documento é a afirmativa e consolidação da perspectiva modernizadora, o que, segundo José Paulo Netto, não é apenas uma concepção profissional geral, mas, sobretudo uma pauta de intervenção. No documento, o papel profissional é claramente colocado como funcionário do desenvolvimento, no qual se destacam as funções estritamente operativas e técnico-instrumentais dentro da perspectiva de desenvolvimento e do desenvolvimentismo. Adendo ao desenvolvimento e seus resultados na ordem societária. É possível constatar que a herança tradicional presente em Araxá, através das influências filosóficas do neotomismo, desaparece em Teresópolis. Suas preocupações centrais não são com as teorias, valores, finalidades do serviço social, mas sim com as formas, os meios, os procedimentos no sentido de garantir maior eficácia à ação profissional para que o assistente social possa contribuir para o processo de desenvolvimento, a partir do trabalho com os indivíduos, grupos, comunidades, populações com as quais trabalha. Para isso, o assistente social precisaria estar instrumentalizado com métodos, técnicas, procedimentos, definidos da melhor maneira possível, fechados, para que pudessem direcionar a ação profissional com vista à obtenção dos fins definidos previamente. O papel profissional é tido como o de “funcionário do desenvolvimento”, reserva-se ao assistente social funções de caráter executivo e técnico- instrumentais, funcionais à lógica da modernização. Classificam-se as necessidades sociais fundamentais agrupadas em sete linhas: biológica, doméstica, familiar, educacional, residencial, cívico-municipal, sociocultural e de seguridade social. Essas necessidades partiriam das necessidades básicas e das fundamentais de um ser humano dentro da ordem que era estabelecida pelo sistema. O método de Belo Horizonte: intenção de ruptura Surgiu na Escola de Serviço Social da Universidade de Minas Gerais, entre os anos de 1972-1975, onde se formulou o “Método de BH”, quando um grupo de jovens profissionais definiu uma linha de renovação para o serviço social. O método foi uma alternativa global ao tradicionalismo. A perspectiva da intenção decorre de um projeto de romper com o tradicionalismo e suas implicações teórico-metodológicas e prático- operacionais. Ela se expande a partir da crise do regime militar e da entrada da classe operária na cena política, porém o golpe militar rompe com esse avanço, todavia não impede seu desenvolvimento ideológico e cultural. A intenção de ruptura com o serviço social tradicional produz a crítica e contestação das bases, pautadas no regime, introduzindo o pensamento marxista e a participação político-partidária. Este documento expressava uma: • Crítica ideológica. • Denuncia epistemológica. • Recusa os métodos tradicionalistas Nos anos 1970, o espaço acadêmico apresentava-se como sólido e consolidado sendo terreno fértil para a graduação e a pós-graduação em serviço social. Tal espaço proporcionava a revisão teórica e metodológica, questionando suas bases. É a partir da perspectiva da intenção de ruptura que se sinaliza a inserção do serviço social na academia, na busca pela renovação e ruptura com o tradicionalismo. A RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL Foi .til ao servi.o social, portanto, sua inser..o no .mbito universit.rio, o di.logo com as disciplinas das ci.ncias sociais e a cria..o e expans.o da p.s-gradua..o, com a implanta..o dos cursos de mestrado e doutorado no in.cio dos anos 70. As transforma..es que emergiam refletiam tamb.m na organiza..o pol.tica da pr.pria categoria profissional. A partir desse rearranjo ocorreu a cria..o das entidades de ensino, pesquisa e representa..o profissional. Dentro desse contexto de mudan.as, o evento que marcou essa ruptura hist.rica da profiss.o com o perfil conservador foi o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em S.o Paulo, em 1979, o “Congresso da Virada”, que marcou o questionamento da organiza..o conservadora da profiss.o. Esse congresso realizou a cr.tica ao conservadorismo, ao capitalismo e . autocracia burguesa, firmando compromisso com a classe trabalhadora e com transforma..es radicais da sociedade. O Congresso da Virada Esse congresso representou um momento de grandes mudan.as para a profiss.o, abrindo novos horizontes de luta pela democracia, vinculado . classe trabalhadora na luta pelos direitos humanos, atrelado aos movimentos sociais e outras associa..es. A partir desse congresso, houve um repensar pelos pr.prios profissionais sobre a atua..o profissional e um novo projeto .tico, pol.tico e profissional, demarcando-se a dire..o social da profiss.o – ao lado da classe trabalhadora – e n.o mais atendendo ao conservadorismo. Foi um marco e tamb.m um processo, com determina..es ex.genas e end.genas . profiss.o, marcado pelo adensamento da conjuntura nacional e latino-americana da .poca de um lado e pelo pr.prio ac.mulo da profiss.o proporcionado pelo movimento de reconceitua..o, de outro. Trata-se de uma mudan.a na concep..o de servi.o social e no perfil da categoria profissional, possibilitada tanto pela inser..o do servi.o social no circuito acad.mico e pela cria..o da p.s-gradua..o (1972), que aproximava a profiss.o das teorias sociais, dentre elas a do marxismo, quanto pelo processo de amplia..o e laiciza..o da categoria profissional, dadas as novas demandas postas pela ditadura, que alteravam substancialmente o perfil profissional. Trata-se de uma mudan.a na concep..o de servi.o social e no perfil da categoria profissional, possibilitada tanto pela inser..o do servi.o social no circuito acad.mico e pela cria..o da p.s-gradua..o (1972), que aproximava a profiss.o das teorias sociais, dentre elas a do marxismo, quanto pelo processo de amplia..o e laiciza..o da categoria profissional, dadas as novas demandas postas pela ditadura, que alteravam substancialmente o perfil profissional. O movimento de reconceituação do serviço social O movimento de reconceitua..o do servi.o social, ocorrido entre os anos de 1965 – 1975, expressa uma nova corrente para a profiss.o, com car.ter mais heterog.neo – v.rias vertentes, linhas pol.ticas, te.ricas e profissionais. Ele . fruto de condicionantes hist.ricas, com aprova..o de setores jovens e profissionais de vanguarda do servi.o social. Esse movimento fez a den.ncia e cr.tica ao servi.o social tradicional e seu v.nculo com o conservadorismo, uma autocr.tica . profiss.o – revis.o global; questionamento da sociedade e seu n.vel societ.rio, da dire..o social da pr.tica profissional, de suas ra.zes sociopol.ticas, de seus fundamentos ideol.gicos e te.ricos, sintonizando o servi.o social com a realidade a fim de atender .s demandas – cr.tica o tradicionalismo. Algumas vertentes de an.lise que emergiram no bojo do Movimento de Reconceitua..o: • Vertente modernizadora caracterizada pelas abordagensfuncionalistas, estruturalistas e positivistas. • Vertente inspirada na fenomenologia, que priorizava como metodologia a metodologia dial.gica, abarcando nessa as concep..es de pessoa, o di.logo e a transforma..o social como uma forma de reatualiza..o do conservadorismo presente no pensamento inicial da profiss.o. • Vertente marxista que se apropriou do conceito de sociedade e de classes no Brasil, aproxima..o do marxismo. A fenomenologia, enquanto vertente, significava o estudo dos fen.menos – ci.ncia dos fen.menos. O conceito de intencionalidade ocupa um lugar central na fenomenologia, definindo a pr.pria consci.ncia como intencional, voltada para o mundo. Os elementos que mais incidiram no movimento de reconceitua..o foram: • a revis.o cr.tica que se processa nas ci.ncias sociais: crise da teoria do desenvolvimento e emerg.ncia da teoria da depend.ncia; • as mudan.as que ocorrem na Igreja Cat.lica, influenciada pela Teologia da Liberta..o; • a presen.a ativa do movimento estudantil. Esse movimento se expressou em duas dire..es contradit.rias: • a primeira era de contesta..o, de oposi..o ao regime; • a segunda era de adequar ao regime, com um car.ter funcionalista. Seus tra.os eram: • nivelamento com as ci.ncias sociais e os problemas sociais; • lideran.a de vanguarda quanto . pesquisa, na produ..o do conhecimento; • aumento de diferentes concep..es profissionais, rompendo com a homogeneidade de pr.ticas; • pluralismo te.rico, metodol.gico e pol.tico que rompia com a ideia de sociedade monol.tica. Fenomenologia social ., portanto, o estudo No servi.o social, ocorreram mudan.as: • no contexto universit.rio: entrada do curso na universidade, forte express.o do movimento estudantil; • no repensar do curr.culo m.nimo do servi.o social; • no questionamento da universidade tradicional – prop.e-se uma universidade mais democr.tica, pol.tica; • na interlocu..o do servi.o social com as ci.ncias sociais, incorpora..o de conceitos; • na introdu..o do desenvolvimento de comunidade, com uma atua..o mais ativa, macrossociet.ria, inserindo a profiss.o em equipes multidisciplinares, dando um car.ter mais t.cnico . profiss.o, mais participativo no que diz respeito ao planejamento e administra..o, o servi.o social n.o se restringe apenas ao papel de um executor das pol.ticas p.blicas. O desenvolvimento de comunidade . o vetor para esse repensar da profiss.o. O SERVIÇO SOCIAL PÓS ANOS 1980: VIVÊNCIAS DA RENOVAÇÃO CRÍTICA Essa heran.a da reconceitua..o foi . base para a renova..o cr.tica do servi.o social brasileiro na d.cada de 1980, mesmo com os limites, aponta-se algumas conquistas decorrentes dessa .poca no Brasil: 1. interc.mbio e intera..o profissionais com outros pa.ses que respondessem as problem.ticas comuns da Am.rica Latina; 2. a explicita..o da dimens.o pol.tica da a..o profissional; 3. interlocu..o cr.tica com as ci.ncias sociais: cr.tica ao tradicionalismo, com abertura para a tradi..o marxista e sincronia com tend.ncias diversificadas do pensamento social contempor.neo; 4. inaugura..o do pluralismo profissional. Nessa conjuntura, h. um movimento significativo no servi.o social, de amplia..o do debate te.rico e incorpora..o de algumas tem.ticas como o Estado e as pol.ticas sociais fundamentadas no marxismo.
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