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Percepção e os processos de tomada de decisão na organização Léa Aparecida Barnabé Introdução Você sabe o que é percepção? Imagina que ela pode influenciar nas tomadas de decisões dentro de uma organização? Nesta aula, trabalharemos estes temas, entendendo que eles exer- cem um grande papel sobre o comportamento organizacional. Objetivos da aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • entender como acontece a percepção no comportamento humano; • identificar como a percepção influencia a tomada de decisão. Bons estudos! 1 Definição de percepção A percepção é uma maneira de dar sentido e entendimento aos estímulos sensoriais. Segundo Robbins (2007, p. 104), ela é “um processo pelo qual os indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais com a finalidade de dar sentido ao seu ambiente”. Assim, em outras pala- vras, após este processamento, a seleção de estímulos fornece sentido ao que se vê, ouve ou sente. Para Glassman e Hadad (2008, p. 24) a percepção “é, em parte, determinada pelos estímulos externos que encontramos, os quais são filtrados pela atenção seletiva”. A atenção seletiva é a concentração que o indivíduo dá a determinados elementos, ou seja, a percepção foca em apenas alguns aspectos e outros ela ignora. Veja, quando estamos em um ambiente em que há diferentes pessoas falando, focamos em apenas uma conversa (seleção de sons), organizamos o que ouvi- mos e temos o entendimento. EXEMPLO Vamos imaginar que você goste muito dos tons vermelhos. Ao observar a vitrine de uma loja, por exemplo, provavelmente, as roupas vermelhas irão chamar a sua atenção. Assim, você primeiro identificará as roupas vermelhas e depois notará as de outras cores. Esta situação é um exemplo de atenção seletiva. Além dos estímulos externos, a experiência perceptual também é motivada por fatores inter- nos, como nossas experiências anteriores e nossas expectativas (GLOSSMANN; HADAD, 2008). No quadro a seguir, reconhecemos alguns fatores externos e internos que influenciam a percepção. Quadro 1 – Fatores que influenciam a percepção Fatores externos Fatores internos A intensidade. Ex.: situações como o som da sirene dos bombei- ros, despertam a atenção para que os motoristas deem a passagem. Motivações e interesses. Ex.: quando um indivíduo gosta de futebol, tudo o que se refere ao futebol chama a sua atenção (o assunto motiva e causa interesse). O contraste. Ex.: as cores do sinal de trânsito despertam a aten- ção do motorista para seguir, ter atenção ou parar. Estado emocional. Ex.: um dia ensolarado pode fornecer a determi- nado indivíduo a percepção de prazer. O movimento. Ex.: brinquedos que giram e pulam chamam a atenção. Diferenças individuais. Ex.: quando tem-se a percepção que um indivíduo está mais comunicativo que outro. A incongruência. Ex.: características estranhas despertam a atenção, como alguém caminhando de salto alto na areia. Preconceito. Ex.: julgamentos que se faz daquilo que observa-se. Fonte: adaptado de ROBBINS, 2007. Assim, vemos que a percepção é uma situação subjetiva, motivada por fatores internos e externos que podem alterar a interpretação no momento da situação. Segundo Robbins (2007, p. 104), “o que a pessoa percebe pode ser substancialmente diferente da realidade objetiva”, ou seja, a percepção pode ser diferente do real ou pode estar distorcida. Para entender esta questão, observe a figura a seguir, com o objetivo de responder a seguinte pergunta: “a figura que está à esquerda é um coelho ou um pato? A figura a direita é um gato ou um cachorro? (olhe de cabeça para baixo)” (GLASSMAN; HADAD , 2008, p. 24). Figura 1 – Figuras ambíguas Fonte: GLASSMAN & HADAD, 2008, p. 24. (Adaptado). O estímulo inicial que o indivíduo recebe pode levar a uma interpretação da figura, mas quando se foca com mais atenção, e em outros pontos ou ângulos, pode-se ter uma percepção diferente. A seguir, entenderemos a diferença entre sensação e percepção. Acompanhe! 2 Diferença entre sensação e percepção A partir do estudo da Gestalt (teoria do comportamento), a diferença entre sensação e per- cepção foi aprofundada, uma vez que a escola dedicou suas análises na percepção e sensação do movimento, levando em consideração a ilusão ótica. Isto é, para a Gestalt, um estímulo físico seria percebido pelo indivíduo de uma forma diferente da que ele apresenta na realidade. Portanto, o indivíduo não internaliza tudo o que está observando. A sensação é a capacidade de captar os estímulos oriundos do meio externo, encaminha- dos pelos neurônios e automaticamente captados pelos órgãos dos sentidos: visual, auditivo, tátil, olfativo e gustativo. Já a percepção, é “o processo pelo qual classificamos, interpretamos, analisamos e inte- gramos estímulos aos quais nossos sentidos são expostos (FELDMAN, 2015, p. 98), ou seja, é o interpretar da sensação, anexando outras informações, formando, assim, os conceitos reais. Por exemplo, quando um objeto é captado pela sensação visual, a percepção visual vai interpretar e organizar a imagem, anexando a um conceito já existente. EXEMPLO Quando ouvimos um bebê chorando, por exemplo, a sensação auditiva capta o som e os estímulos são enviados para o cérebro que o reconhece. Então, o captar do som é a sensação e a decodificação (bebê chorando) é a percepção. Figura 2 – A percepção de cada um é diferente Fonte: Lightspring/Shutterstock.com Assim, a percepção é a imagem que se forma no cérebro, mas que, para se formar, necessi- tou da soma de todos os estímulos subsidiados pelas sensações. Então, podemos dizer que as partes formam o todo, ou seja, a partir das sensações (partes) formamos o todo (percepção). FIQUE ATENTO! A percepção é um fator importante para todos os relacionamentos pessoais e or- ganizacionais, pois o comportamento das pessoas é gerado na sua percepção da realidade e não da realidade verdadeira. Considerando que o processo perceptivo ocorre a partir das sensações e de uma vivência pessoal direta, ele também poderá sofrer distorções, conforme veremos a seguir. 3 Distorções perceptivas O homem é um ser capaz de observar, interpretar e julgar de forma ágil e rápida, mas, em alguns momentos, pode distorcer a realidade observada, na intenção de que a mesma se enquadre ao seu mundo. Segundo Robbins (2007, p. 104), nas distorções perceptivas, há a teoria da atribuição, que é “uma proposta para explicar por que julgamos as pessoas diferentemente, conforme o sentido que atribuímos a um dado comportamento”. A Psicologia estuda a teoria da atribuição como um meca- nismo de defesa, que ocorre de forma inconsciente e involuntária, no qual os defeitos pessoais do indivíduo (atributos, pensamentos ou emoções) são conferidos à outra pessoa. FIQUE ATENTO! Os mecanismos de defesa foram definidos por Freud e são os processos psíquicos inconscientes que aliviam o ego de uma condição de tensão psíquica. Além disso, a teoria da atribuição sugere que, ao observar o comportamento de um indivíduo, tenta-se determinar se a causa da ação deve-se a fatores internos ou externos. Nesse contexto, há o erro fundamental de atribuição, que é a tendência de subestimar a influência dos fatores exter- nos e superestimar a influência dos fatores internos, isto é, atribui-se o êxito perante as situações à ajuda de estímulos externos e quase nunca ao próprio esforço do indivíduo. E o viés de autocon- veniência, que é a tendência do indivíduo atribuir o próprio sucesso a fatores internos e colocar a culpa dos fracassos em fatores externos. Sendo assim, a teoria da atribuição descreve algumas simplificações que permitem chegar rapi- damente a um tipo de percepção de julgamentos das outras pessoas, conforme o quadro a seguir. Quadro 2 – Simplificações das percepções de julgamentosPercepção seletiva Quando ocorre uma seleção do que se vê, ouve ou fala, de acordo com situações já vivenciadas, como atitudes, experiências e objetivos. Efeito Halo Quando fazemos o julgamento de uma pessoa, baseado em uma única característica. Efeitos de Contraste Quando se faz uma comparação de uma pessoa com outras. Não se avalia a pessoa isoladamente. Projeção Quando atribuímos nossas características à outra pessoa. Estereotipagem Quando se faz um julgamento da pessoa conforme o grupo que ela pertence. Fonte: adaptado de ROBBINS, 2007. Assim, a distorção perceptiva é a transformação da realidade para que esta se adapte à cul- tura, valores, ideais e impressões dos indivíduos, no momento da observação. Por isso, deve-se ter muita ponderação nos julgamentos, pois podem ocorrer distorções. FIQUE ATENTO! Entenda que quanto melhor a compreensão de si mesmo, maior será a possibili- dade de compreensão do outro, e, consequentemente, maior a chance de suces- so nas tomadas de decisões. Portanto, antes fazer qualquer julgamento, deve-se buscar o autoconhecimento. Após compreender as questões relacionadas à percepção e suas distorções, podemos enten- der como elas influenciam a tomada de decisão. 4 Percepção e tomada de decisão As decisões e percepções são inerentes ao nosso dia a dia pessoal e profissional. Podemos dizer que a partir da percepção é que são tomadas as decisões. Assim, é necessário verificar as situações com cuidado, para não se tomar uma decisão errada (lembre-se da situação da Figura 1, em que poderíamos perceber a imagem de um gato ou cachorro, dependendo do ângulo de visão). SAIBA MAIS! No filme “O sorriso de Mona Lisa”, dirigido por Mike Newell, conseguimos identificar a percepção e as distorções perceptivas atuando nas tomadas de decisões das personagens. Confira! Nas organizações, a tomada de decisão ocorre em todos os níveis, ou seja, desde os ope- rários até o presidente. Por exemplo, o operador de máquina precisa tomar a decisão de parar o trabalho caso ouça um barulho diferente no equipamento, mas este ato pode comprometer toda a linha de produção. O presidente, por sua vez, precisa tomar a decisão de lançar um novo produto no mercado, para isso conta com a percepção de que este produto apresentará o resultado de vendas esperado, para não comprometer a saúde financeira da empresa. Para Robbins (2007, p. 111) a tomada de decisão é “uma parte importante do comportamento organizacional. Mas a forma como as pessoas tomam as decisões e a qualidade de suas escolhas finais dependem muito de suas percepções”, ou seja, é comum os indivíduos terem visões diferen- tes de uma mesma situação. SAIBA MAIS! Para saber mais sobre a percepção no ambiente organizacional, leia o artigo “Percepção de mudança individual e organizacional: o papel das atitudes, dos valores, do poder e da capacidade organizacional”. Acesse: <http://www.scielo.br/ pdf/rausp/v47n1/v47n1a02>. Fechamento Concluímos a aula sobre a percepção e os processos de tomada de decisão na organização. Agora, você já sabe o que é percepção, quais a distorções perceptivas e qual sua relação com as tomadas de decisões. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • compreender o que é a percepção; • identificar a diferença entre sensação e percepção; • identificar as distorções perceptivas; • entender qual a relação entre percepção e a tomada de decisão. Referências FELDMAN, Robert S. Introdução à psicologia. Porto Alegre: AMGH Editora, 2015 GLASSMAN, William E.; HADAD, Marilyn. Psicologia: abordagens atuais. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. NEIVA, Elaine Rabelo; DA PAZ, Maria das Graças Torres. Percepção de mudança individual e organi- zacional: o papel das atitudes, dos valores, do poder e da capacidade organizacional. R. Adm., v.47, n.1, p. 22-37, São Paulo, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rausp/v47n1/v47n1a02>. Acesso em: 26 out. 2016. O SORRISO de Mona lisa. Direção Mike Newell. EUA, Columbia Pictures e Revolution Studios, 2003. ROBBINS, Stephen. Comportamento Organizacional. 11. ed. São Paulo: Pearson/Prentice-Hall, 2005.
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