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UCA001_Psicologia_CO_Tema7

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Percepção e os processos de tomada 
de decisão na organização
Léa Aparecida Barnabé
Introdução
Você sabe o que é percepção? Imagina que ela pode influenciar nas tomadas de decisões 
dentro de uma organização? Nesta aula, trabalharemos estes temas, entendendo que eles exer-
cem um grande papel sobre o comportamento organizacional.
Objetivos da aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
 • entender como acontece a percepção no comportamento humano;
 • identificar como a percepção influencia a tomada de decisão.
Bons estudos!
1 Definição de percepção
A percepção é uma maneira de dar sentido e entendimento aos estímulos sensoriais. Segundo 
Robbins (2007, p. 104), ela é “um processo pelo qual os indivíduos organizam e interpretam suas 
impressões sensoriais com a finalidade de dar sentido ao seu ambiente”. Assim, em outras pala-
vras, após este processamento, a seleção de estímulos fornece sentido ao que se vê, ouve ou sente.
Para Glassman e Hadad (2008, p. 24) a percepção “é, em parte, determinada pelos estímulos 
externos que encontramos, os quais são filtrados pela atenção seletiva”. A atenção seletiva é a 
concentração que o indivíduo dá a determinados elementos, ou seja, a percepção foca em apenas 
alguns aspectos e outros ela ignora. Veja, quando estamos em um ambiente em que há diferentes 
pessoas falando, focamos em apenas uma conversa (seleção de sons), organizamos o que ouvi-
mos e temos o entendimento. 
EXEMPLO
Vamos imaginar que você goste muito dos tons vermelhos. Ao observar a vitrine 
de uma loja, por exemplo, provavelmente, as roupas vermelhas irão chamar a sua 
atenção. Assim, você primeiro identificará as roupas vermelhas e depois notará as 
de outras cores. Esta situação é um exemplo de atenção seletiva.
Além dos estímulos externos, a experiência perceptual também é motivada por fatores inter-
nos, como nossas experiências anteriores e nossas expectativas (GLOSSMANN; HADAD, 2008). No 
quadro a seguir, reconhecemos alguns fatores externos e internos que influenciam a percepção. 
Quadro 1 – Fatores que influenciam a percepção
Fatores externos Fatores internos
A intensidade. 
Ex.: situações como o som da sirene dos bombei-
ros, despertam a atenção para que os motoristas 
deem a passagem.
Motivações e interesses.
Ex.: quando um indivíduo gosta de futebol, tudo o 
que se refere ao futebol chama a sua atenção (o 
assunto motiva e causa interesse). 
O contraste.
Ex.: as cores do sinal de trânsito despertam a aten-
ção do motorista para seguir, ter atenção ou parar.
Estado emocional.
Ex.: um dia ensolarado pode fornecer a determi-
nado indivíduo a percepção de prazer. 
O movimento.
Ex.: brinquedos que giram e pulam chamam a 
atenção.
Diferenças individuais.
Ex.: quando tem-se a percepção que um indivíduo 
está mais comunicativo que outro.
A incongruência.
Ex.: características estranhas despertam a atenção, 
como alguém caminhando de salto alto na areia.
Preconceito.
Ex.: julgamentos que se faz daquilo que observa-se.
Fonte: adaptado de ROBBINS, 2007.
Assim, vemos que a percepção é uma situação subjetiva, motivada por fatores internos e 
externos que podem alterar a interpretação no momento da situação. Segundo Robbins (2007, p. 
104), “o que a pessoa percebe pode ser substancialmente diferente da realidade objetiva”, ou seja, 
a percepção pode ser diferente do real ou pode estar distorcida.
Para entender esta questão, observe a figura a seguir, com o objetivo de responder a seguinte 
pergunta: “a figura que está à esquerda é um coelho ou um pato? A figura a direita é um gato ou um 
cachorro? (olhe de cabeça para baixo)” (GLASSMAN; HADAD , 2008, p. 24). 
Figura 1 – Figuras ambíguas
Fonte: GLASSMAN & HADAD, 2008, p. 24. (Adaptado).
O estímulo inicial que o indivíduo recebe pode levar a uma interpretação da figura, mas quando 
se foca com mais atenção, e em outros pontos ou ângulos, pode-se ter uma percepção diferente. 
A seguir, entenderemos a diferença entre sensação e percepção. Acompanhe!
2 Diferença entre sensação e percepção
A partir do estudo da Gestalt (teoria do comportamento), a diferença entre sensação e per-
cepção foi aprofundada, uma vez que a escola dedicou suas análises na percepção e sensação 
do movimento, levando em consideração a ilusão ótica. Isto é, para a Gestalt, um estímulo físico 
seria percebido pelo indivíduo de uma forma diferente da que ele apresenta na realidade. Portanto, 
o indivíduo não internaliza tudo o que está observando.
A sensação é a capacidade de captar os estímulos oriundos do meio externo, encaminha-
dos pelos neurônios e automaticamente captados pelos órgãos dos sentidos: visual, auditivo, 
tátil, olfativo e gustativo. 
Já a percepção, é “o processo pelo qual classificamos, interpretamos, analisamos e inte-
gramos estímulos aos quais nossos sentidos são expostos (FELDMAN, 2015, p. 98), ou seja, é o 
interpretar da sensação, anexando outras informações, formando, assim, os conceitos reais. Por 
exemplo, quando um objeto é captado pela sensação visual, a percepção visual vai interpretar e 
organizar a imagem, anexando a um conceito já existente.
EXEMPLO
Quando ouvimos um bebê chorando, por exemplo, a sensação auditiva capta o som 
e os estímulos são enviados para o cérebro que o reconhece. Então, o captar do 
som é a sensação e a decodificação (bebê chorando) é a percepção.
Figura 2 – A percepção de cada um é diferente
Fonte: Lightspring/Shutterstock.com
Assim, a percepção é a imagem que se forma no cérebro, mas que, para se formar, necessi-
tou da soma de todos os estímulos subsidiados pelas sensações. Então, podemos dizer que as 
partes formam o todo, ou seja, a partir das sensações (partes) formamos o todo (percepção).
FIQUE ATENTO!
A percepção é um fator importante para todos os relacionamentos pessoais e or-
ganizacionais, pois o comportamento das pessoas é gerado na sua percepção da 
realidade e não da realidade verdadeira.
Considerando que o processo perceptivo ocorre a partir das sensações e de uma vivência 
pessoal direta, ele também poderá sofrer distorções, conforme veremos a seguir.
3 Distorções perceptivas
O homem é um ser capaz de observar, interpretar e julgar de forma ágil e rápida, mas, 
em alguns momentos, pode distorcer a realidade observada, na intenção de que a mesma se 
enquadre ao seu mundo. 
Segundo Robbins (2007, p. 104), nas distorções perceptivas, há a teoria da atribuição, que é 
“uma proposta para explicar por que julgamos as pessoas diferentemente, conforme o sentido que 
atribuímos a um dado comportamento”. A Psicologia estuda a teoria da atribuição como um meca-
nismo de defesa, que ocorre de forma inconsciente e involuntária, no qual os defeitos pessoais do 
indivíduo (atributos, pensamentos ou emoções) são conferidos à outra pessoa. 
FIQUE ATENTO!
Os mecanismos de defesa foram definidos por Freud e são os processos psíquicos 
inconscientes que aliviam o ego de uma condição de tensão psíquica.
Além disso, a teoria da atribuição sugere que, ao observar o comportamento de um indivíduo, 
tenta-se determinar se a causa da ação deve-se a fatores internos ou externos. Nesse contexto, há 
o erro fundamental de atribuição, que é a tendência de subestimar a influência dos fatores exter-
nos e superestimar a influência dos fatores internos, isto é, atribui-se o êxito perante as situações 
à ajuda de estímulos externos e quase nunca ao próprio esforço do indivíduo. E o viés de autocon-
veniência, que é a tendência do indivíduo atribuir o próprio sucesso a fatores internos e colocar a 
culpa dos fracassos em fatores externos.
Sendo assim, a teoria da atribuição descreve algumas simplificações que permitem chegar rapi-
damente a um tipo de percepção de julgamentos das outras pessoas, conforme o quadro a seguir.
Quadro 2 – Simplificações das percepções de julgamentosPercepção seletiva
Quando ocorre uma seleção do que se vê, ouve ou fala, de acordo com 
situações já vivenciadas, como atitudes, experiências e objetivos.
Efeito Halo
Quando fazemos o julgamento de uma pessoa, baseado em uma única 
característica.
Efeitos de Contraste
Quando se faz uma comparação de uma pessoa com outras. Não se avalia a 
pessoa isoladamente.
Projeção Quando atribuímos nossas características à outra pessoa.
Estereotipagem Quando se faz um julgamento da pessoa conforme o grupo que ela pertence.
Fonte: adaptado de ROBBINS, 2007.
Assim, a distorção perceptiva é a transformação da realidade para que esta se adapte à cul-
tura, valores, ideais e impressões dos indivíduos, no momento da observação. Por isso, deve-se ter 
muita ponderação nos julgamentos, pois podem ocorrer distorções. 
FIQUE ATENTO!
Entenda que quanto melhor a compreensão de si mesmo, maior será a possibili-
dade de compreensão do outro, e, consequentemente, maior a chance de suces-
so nas tomadas de decisões. Portanto, antes fazer qualquer julgamento, deve-se 
buscar o autoconhecimento.
Após compreender as questões relacionadas à percepção e suas distorções, podemos enten-
der como elas influenciam a tomada de decisão.
4 Percepção e tomada de decisão
As decisões e percepções são inerentes ao nosso dia a dia pessoal e profissional. Podemos 
dizer que a partir da percepção é que são tomadas as decisões. Assim, é necessário verificar as 
situações com cuidado, para não se tomar uma decisão errada (lembre-se da situação da Figura 1, 
em que poderíamos perceber a imagem de um gato ou cachorro, dependendo do ângulo de visão).
SAIBA MAIS!
No filme “O sorriso de Mona Lisa”, dirigido por Mike Newell, conseguimos identificar 
a percepção e as distorções perceptivas atuando nas tomadas de decisões das 
personagens. Confira!
Nas organizações, a tomada de decisão ocorre em todos os níveis, ou seja, desde os ope-
rários até o presidente. Por exemplo, o operador de máquina precisa tomar a decisão de parar o 
trabalho caso ouça um barulho diferente no equipamento, mas este ato pode comprometer toda a 
linha de produção. O presidente, por sua vez, precisa tomar a decisão de lançar um novo produto 
no mercado, para isso conta com a percepção de que este produto apresentará o resultado de 
vendas esperado, para não comprometer a saúde financeira da empresa. 
Para Robbins (2007, p. 111) a tomada de decisão é “uma parte importante do comportamento 
organizacional. Mas a forma como as pessoas tomam as decisões e a qualidade de suas escolhas 
finais dependem muito de suas percepções”, ou seja, é comum os indivíduos terem visões diferen-
tes de uma mesma situação. 
SAIBA MAIS!
Para saber mais sobre a percepção no ambiente organizacional, leia o artigo 
“Percepção de mudança individual e organizacional: o papel das atitudes, dos 
valores, do poder e da capacidade organizacional”. Acesse: <http://www.scielo.br/
pdf/rausp/v47n1/v47n1a02>.
Fechamento
Concluímos a aula sobre a percepção e os processos de tomada de decisão na organização. 
Agora, você já sabe o que é percepção, quais a distorções perceptivas e qual sua relação com as 
tomadas de decisões. 
Nesta aula, você teve a oportunidade de: 
 • compreender o que é a percepção;
 • identificar a diferença entre sensação e percepção;
 • identificar as distorções perceptivas;
 • entender qual a relação entre percepção e a tomada de decisão.
Referências
FELDMAN, Robert S. Introdução à psicologia. Porto Alegre: AMGH Editora, 2015
GLASSMAN, William E.; HADAD, Marilyn. Psicologia: abordagens atuais. 4. ed. Porto Alegre: 
Artmed, 2008.
NEIVA, Elaine Rabelo; DA PAZ, Maria das Graças Torres. Percepção de mudança individual e organi-
zacional: o papel das atitudes, dos valores, do poder e da capacidade organizacional. R. Adm., v.47, 
n.1, p. 22-37, São Paulo, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rausp/v47n1/v47n1a02>. 
Acesso em: 26 out. 2016.
O SORRISO de Mona lisa. Direção Mike Newell. EUA, Columbia Pictures e Revolution Studios, 2003.
ROBBINS, Stephen. Comportamento Organizacional. 11. ed. São Paulo: Pearson/Prentice-Hall, 2005.

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