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Prof. Hermito Leite de Carvalho Filho
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
ESTRUTURA DA AULA
Pressupostos teóricos
História externa da língua portuguesa
História interna da língua portuguesa
3.1 Metaplasmos
3.2 Vocalismo
3.3 Consonantismo
Características do galego-português
Características do português brasileiro
Considerações Finais
Referências
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
1. Pressupostos teóricos
Contexto histórico – século XIX
A descoberta do sânscrito
o sânscrito mostrava em relação ao grego e ao latim “tanto nas raízes dos verbos como nas formas gramaticais, uma afinidade tão grande que não seria possível considerá-la casual”; tão forte, em verdade, que nenhum linguista poderia examiná-la ser crer que se tinha originado de uma fonte comum que talvez não mais exista.
Sir William Jones(1786)
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
1. Pressupostos teóricos
Contexto histórico – século XIX
Princípios evolucionistas
Leis
Todas as Costumes
Instituições Religião
humanas Línguas, mudam com o tempo.
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
1. Pressupostos teóricos
Contexto histórico – século XIX
Critério genealógico de classificação das línguas
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
1. Pressupostos teóricos
Contexto histórico – século XIX
Filologia comparada, filologia românica e/ou linguística histórica ou diacrônica,
lluvia (espanhol)
Pluviam ll (espanhol)
chuva (português) pl >
lleno (espanhol) ch(português)
Plenum
cheio(português)
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
1. Pressupostos teóricos
Sincronia e diacronia
C AB:SINCRONIA
CD:DIACRONIA
A B
D
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
SINCRONIA
Eixo das simultaneidades;
Abstrai o tempo;
Estuda o modo como a língua funciona;
Descreve um determinado estado de uma mesma língua.
DIACRONIA
Eixo das sucessividades;
Leva em conta o tempo;
Estuda o processo de evolução da língua;
Confronta estados diferentes de uma mesma língua.
1. Pressupostos teóricos
Sincronia e Diacronia
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
Guerras púnicas: romanos versus cartagineses;
O processo de romanização: o latim na Península;
A língua portuguesa é resultante do processo de romanização ocorrido na Península Ibérica através do latim vulgar
2. História externa da língua portuguesa
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
Invasões pós-românicas
Germânicos e árabes
Não conseguiram impor suas línguas
Na língua, a contribuição fica apenas no léxico
2. História externa da língua portuguesa
Germânicos
Árabes
Arreio, agasalho, albergue, barão,branco, bando, bandeira, banho, brasa, espiar, espeto, estaca, estribo, espora, fralda, guarda, guerra, grupo, guia, lasca, liso, rico, roupa, saque, sopa, tirar, trepar, norte, sul, leste e oeste.
Açafrão,açougue, açude, alambique, alecrim, alface, algodão, alicate, almofada, alqueire, armazém, arroz, azeite, azeitona, azulejo, ceroula, chafariz, enxaqueca, fulano, laranja, oxalá, salamaleque, xarope, xaveco, xeque.
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
A Reconquista
Movimento cristão para recuperar as terras perdidas pela invasão árabe;
Formação do galego: romance oriundo do latim vulgar.
2. História externa da língua portuguesa
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
2. História externa da língua portuguesa: A Reconquista
3. História interna da língua portuguesa
Latim clássico versus Latim vulgar: na fonética
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
Clássico
Vulgar
Possuivogais longas e breves, como:
ĔST = É; ĒST = COME.
Possuiapenas vogais átonas e tônicas:
DICĔRE > DICĒRE = DIZER;
Encontros consonantais do tipo –CT– e –GN– são bem pronunciados, comoem NOCTES; REGNOS.
Vocalizaçãodesses encontros consonantais: NOCTE > NOITE; REGNO > REINO.
Grupos consonantaiscomo –PL–,
–CL– e –FL– são bem pronunciados, como em PLUVIA; CLAVE e FLAMA.
Esses grupos tendem a mudar a pronúncia para palatais, daí CHUVA,CHAVE e CHAMA em português.
3. História interna da língua portuguesa
Latim clássico versus Latim vulgar: na morfologia
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
Clássico
Vulgar
Possuideclinações nominais bem delineadas (NO, VO, AC, GE, DA, AB)
Simplificaas declinações nominais, restando apenas o nominativo e o acusativo.
Possui 3gêneros: masculino, feminino e neutro.
Possui 2 gêneros:masculino e feminino.
O singular e plural do acusativo mantêmas marcas {-M} e {-S} respectivamente.
Apócopede {-M}, porém, preserva também o {-S} de plural.
3. História interna da língua portuguesa
Latim clássico versus Latim vulgar: na sintaxe
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
Clássico
Vulgar
A ordem de base da frase é SCV(Sujeito-Complemento-Verbo). Ex.:PetrusPaulumvidet(Pedro vê Paulo).
A ordemde base da frase é SVC (Sujeito-Verbo-Complemento).Ex.:PetruvidePaulu(Pedro vê Paulo).
Os casos gramaticais indicam a função sintática,como {-US} e {-UM} do exemplo anterior, nominativo e acusativo, respectivamente.
A ordem dos termos indica as funções sintáticas, como,Petru(sujeito) antes do verbo ePaulu(objeto direto) depois do verbo.
Por contados casos gramaticais, a ordem dos termos é relativamente livre. Podemos organizar a sentença acima de qualquer maneira.
A ordemdos termos torna-se mais fixa por conta das perdas das marcas de caso gramatical. Aqui, já não podemos organizar a sentença de qualquer maneira.
3. História interna da língua portuguesa
Latim clássico versus Latim vulgar: no léxico
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
Clássico
Vulgar
Uso de termos eruditos, comoDOMUS e AEDIS para a palavra CASA, por isso ainda hoje temos DOMICÍLIO e EDIFICAR.
Uso de termos simples. A palavraCASA, no latim clássico significava CASEBRE, já no vulgar, toda moradia será CASA, daí esse termo em português brasileiro.
Outro exemplo:EQUUS é o uso preferencial para CAVALO. O que então significa EQUOTERAPIA?
CABALLUSé o uso preferencial, daí o termo em português brasileiro.
Resumindo:contribuiu para a formação de muitas palavras eruditas.
Resumindo:origem básica e principal para a formação geral das palavras da língua portuguesa.
3. História interna da língua portuguesa
Latim clássico versus Latim vulgar: no geral
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
Clássico
Vulgar
Prevalecea escrita´;
Literário;
Sintético: manutençãodas marcas de caso gramatical para indicar função sintática, além de não possuir artigos.
Prevalece a fala;
Não literário(espontâneo);
Analítico: simplifica as marcas de caso; indica a função sintática através da ordem dos termos na oração e cria artigos (principais determinantes da língua portuguesa).
Obediência aospreceitos gramaticais.
Espontâneo,sem preocupação com obediência aos preceitos gramaticais.
3. História interna da língua portuguesa
3.1 Metaplasmos
Etimologia
metá (prefixo) = mudança
Do grego
plasmos (raiz)= dar formar, modelar
Mudanças fonéticas ocorridas na forma dos vocábulos na sua evolução histórica do latim ao português.
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Tipos de metaplasmos
Aumento
Metaplasmos por Supressão
Transposição
Transformação
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por aumento
Prótese
Diacrônico
Sincrônico
stare> estar
voar >avoar
scribere> escrever
lembrar>alembrar
mora > amora (aglutinação)
de repente >derrepente(aglu)
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por aumento
Epêntese
Diacrônico
Sincrônico
omro> ombro
asterisco >asterístico
stella> estrela
lista > listra
humile> humilde
estalo > estralo
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por aumento
Paragoge
Diacrônico
Sincrônico
Ante > antes
Deus >deuse
Mihi> mi > mim
Mais >maise
Sic > si > sim
Mártir >mártire
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por supressão
Aférese
Diacrônico
Sincrônico
Acúmen > gume
Estar >tá
Epíscopu> bispo
Ainda > inda
Atonitu> tonto
Você >cê
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por supressão
Síncope
Diacrônico
Sincrônico
Malu > mau
Horóscopo >horospo
Littera> letra
Bêbado > bebo
Tragicocomedia> tragicomédia (haplologia)
Estudando >estudano
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por supressão
Apócope
Diacrônico
Sincrônico
Mare> mar
Furúnculo >furunco
Amat> ama
Amar >amá
Male > mal
Rapaz >rapá
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por supressão
Fusão
Crase
Sinalefa
Pede >pee> pé
Outra + hora > outrora
Colore >coor> cor
De + este > deste
Nudu>nuu> nu
De +intro> dentro
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por transposição – deslocação de fonema ou acento tônico
De fonema
Metátese
Hipértese
Pro > por
Capio> caibo
Semper> sempre
Primariu>primairo> primeiro
Inter > entre
Fenestra >festra> fresta
Sístole
Diástole
Amavíssemus> amássemos
Límite> limite
Erámus> éramos
Mulíere> mulher
Idólu> ídolo
Íntegru> inteiro
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por transposição – deslocação de fonema ou acento tônico
De acento tônico
(hiperbibasmo)
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por transformação – substituição ou troca (mudança) de um fonema por outro.
Sonorização ou abrandamento (surdo > sonoro)
Ex.: LUPU > LOBO; ACULTU > AGUDO; PROFECTU > PROVEITO
Vocalização (consoante > vogal)
Ex.: NOCTE > NOITE; REGNU > REINO; ALTERU > OUTRO
Consonantização (vogal > consoante)
Ex.: IAM > JÁ; IESUS > JESUS; UITA > VIDA
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por transformação – substituição ou troca (mudança) de um fonema por outro.
Ditongação ou alargamento (hiato ou vogal > ditongo)
Ex.: MALO > MAO > MAU
STO > ESTOU
ARENA > AREA > AREIA
Monotongação ou redução (ditongo > vogal)
Ex.: FRUCTU > FRUITO (ARC.) > FRUTO
LUCTA > LUITA > LUTA
AURICULA > ORELHA
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por transformação – substituição ou troca (mudança) de um fonema por outro.
Nasalação ou nasalização (oral > nasal)
Ex.: NEC > NEM;
MIHI > MIM;
BONU > BOM
Desnasalação ou desnasalização (nasal > oral)
Ex.: LUNA > LŨA > LUA;
BONA > BÕA > BOA;
PONERE > PÕER > PÔR
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por transformação – substituição ou troca (mudança) de um fonema por outro.
Assimilação – é um processo de mudança fonética em que um som se torna igual ou semelhante a outro existente na palavra.
Ex.: persona > persoa > pessoa (rs > ss - igual)
mirabilia > maravilha (i > a – igual)
auru > ouro (au > ou – semelhante)
ouro > oro (ou > o – igual)
amam-lo > amam-no (l > n por conta do m – semelhante)
amar-lo > amá-lo (r > l – igual)
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por transformação – substituição ou troca (mudança) de um fonema por outro.
Palatização – transformação de um ou mais fonemas numa palatal.
Ex.: VINEA > VINHA; VIDEO > VEJO; PALEA > PALHA
PL PLUVIA > CHUVA
CL / Š / CLAVE > CHAVE
FL FLAMMA > CHAMA
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
Por transformação – substituição ou troca (mudança) de um fonema por outro.
Assibilação - é a transformação de um ou mais fonemas em uma sibilante. Comumente se dá com:
/ t /, / d /, / s / (e, i) + vogal > ç ou z
Ex.: CAPITIA > CABEÇA
AUDIO > OUÇO
LANCEA > LANÇA
RATIONE > RAZÃO
JUDICIU > JUÍZO
3. História interna da língua portuguesa
3.2 Vocalismo
aquam > água
Vogais tônicas nebulam > névoa
iniciais
pretônicas mediais
Vogais átonas mediais postônicas
finais
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.2 Vocalismo
Pretônicas iniciais – permaneceu ou sofreu aférese .
Exemplos:
AMICU > AMIGO
ACUTU > AGUDO
EPISCOPU > BISPO
ACUME > GUME
ATTONITU > TONTO
APPOTECA > BODEGA
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.2 Vocalismo
Pretônicas mediais – sofreram síncope
Exemplos:
BONITATE > BONDADE
HONORARE > HONRAR
COMPUTARE > CONTAR
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.2 Vocalismo
Postônicas mediais – geralmente sofreram síncope, devido à tendência da língua a evitar as proparoxítonas.
Exemplos:
VIRIDE > VERDE
LEPORE > LEBRE
OPERA > OBRA
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.2 Vocalismo
Postônicas finais:
As postônicas finais I e U das palavras latinas passaram a E e O, respectivamente.
Exemplos: VIVI > VIVE; VESTI > VESTE; CAMPU > CAMPO; LIBRU > LIVRO.
As vogais A e O postônicas finais não sofreram modificações.
Exemplos: AQUA > ÁGUA; CICERO > CÍCERO
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.2 Vocalismo
Postônicas finais:
A vogal E postônica final sofreu apócope quando precedida de uma consoante alveolar que podia formar sílaba com a vogal anterior.
Exemplos:
MALE > MAL
BENE > BEM
AMARE > AMAR
MENSE > MÊS
CRUCE > CRUZE > CRUZ
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.2 Vocalismo
Ditongos:
Eram três os ditongos no latim clássico: AE, AU, OE.
No latim vulgar a tendência era reduzir os ditongos a simples vogais.
Exemplos: ae > é – caelu > céu,
oe > ê – poena > pena
au > ou – tauru > touro / audace > audaz
A língua portuguesa tem, portanto, dois ditongos de origem latina: AU e OU.
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.2 Vocalismo
Ditongos:
No português há muitos ditongos, mas são de procedência românica
Causas da ditongação:
Por síncope da consoante intervocálica.
Exemplos:
VANITATE > VAIDADE
VADI > VAI
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.2 Vocalismo
Causas da ditongação:
Por vocalização (consoante > vogal)
Exemplos:
NOCTE > NOITE
REGNU > REINO
Por hipértese ( transposiçãode fonema de uma sílaba para outra)
Exemplos:
RABIA > RAIVA
CAPIO > CAIBO
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.2 Vocalismo
Causas da ditongação:
Por alargamento (epêntese de uma semivogal para desfazer um hiato)
Exemplos:
ARENA > AREA > AREIA
CREDO > CREO > CREIO
Por oclusão (fechamento de timbre da vogais E e O que passam respectivamente a I e U)
Exemplos: MALO > MAO > MAU
VELO > VEO > VÉU
AMATIS > AMADES > AMAES > AMAIS
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.2 Vocalismo
Causas da ditongação:
O ditongo final ão do português moderno representa as formas do português arcaico am, ã, om, õ, correspondentes às terminações latinas anu, ane, one, udine, ant, unt.
Exemplos:
veranu > verão pane > pão
oratione > oração multitudine > multidão
dant > dão sunt > são
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.2 Vocalismo
Hiato
Desde a fase arcaica a língua portuguesa apresenta acentuada tendências a evitar o hiato.
Por crase
Ex.: VEDERE > VEER > VER; PONERE > POOR > POR
Por oclusão
Ex.: CAELO > CEO > CÉU; EGO > EO > EU
Por alargamento (uma vogal epentética)
Ex.: PLENU > CHEO > CHEIO; FRENU > FREO > FREIO
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
a) iniciais
Consoantes simples b) mediais
c) finais
I - próprios
Grupos consonantais
II - impróprios
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Consoantes simples iniciais–geralmente permaneceram.
Ex.:
bene > bem cattu > gato
gutta > gota palore > bolor
manu > mão mas, vesica > bexiga
rota > roda vota > boda
salute > saúde libelu > nível
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Consoantes simples mediais – surdas intervocálicas > homorgânicas sonoras.
Ex.: LUPU > LOBO,
SAPERE > SABER
VITA > VIDA,
ROTA > RODA
ACUTU > AGUDO,
AQUA > ÁGUA
ACETU > AZEDO,
ROSA > ROSA
PROFECTU > PROVEITO,
AURIFICE > OURIVES
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Consoantes simples mediais – as sonoras sofreram síncope, permaneceram ou se alteraram.
Ex.: CABALLU > CAVALO,
FABA > FAVA
SEDERE > SER,
PEDE > PEE > PÉ
PLAGA > PRAIA,
ROGARE > ROGAR
FILU > FILO > FIO,
VELU > VÉU
HORA > HORA,
CORONA > COROA
AMICU > AMIGO,
LACRIMA > LÁGRIMA
PONERE > POERE > POER > POR
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Consoantes simples finais – geralmente sofreram apócope, mas o L, R, S, Z sobreviveram da apócope do E latino.
Ex.: MALE > MAL
MARE > MAR
MENSE > MESE > MÊS
VOCE > VOZE > VOZ
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Grupos consonantais próprios – reunião de duas ou mais consoantes no corpo do vocábulo.
Grupos próprios = oclusiva ou / f / + / l / ou / r /
/ p / / b / / l /
/ t / / d / ou / f / + ou
/ k / / g / / r /
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Grupos próprios na posição inicial
Oclusiva ou / f / + / r / - não se alteram.
Exemplos: probare > provar
braciu > braço
tres > três
dracone > dragão
cruce > cruz
granu > grão
frenu > freio
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Grupos próprios na posição inicial
Oclusiva ou / f / + / l /
CL, PL, FL palatizaram-se em / Š /.
Ex.: clave > chave, pluvia > chuva, flamma > chama
BL, GL > BR, GR ou reduziram-se a L.
Ex.: BLANDU > BRANDO
GLUTE > GRUDE
GLATTIRE > LATIR
GLOBELL > NOVELO
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Grupos próprios na posição medial
Oclusiva ou / f / + / r / - precedido de consoante não se altera.
Ex.: MEMBRU > MEMBRO
MOSTRARE > MOSTRAR
SCRIBERE > ESCREVER
EXFRICARE > ESFREGAR
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Grupos próprios na posição medial
Oclusiva ou / f / + / r / precedido de vogal sofre mudança.
Ex.:
LATRONE > LADRÃO – sonorização
CATHEDRA > CADEIRA – vocalização
NIGRO > NEGRO – conservou-se
QUADRAGINTA > QUARAENTA > QUARENTA - síncope
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Grupos próprios na posição medial
CL, FL, PL antes de:
CONSOANTE VOGAL
Masclu > macho iscoplu > escolho
Fasclu > facho oclu > olho
Mancla > mancha ouricla > orelha
Implere > encher apicla > abelha
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Grupos próprios na posição medial
BL, GL, TL também palatizaram-se em / ʎ / quando precedidos de vogal.
Ex.: TRIBULU > TRIBLU > TRILHO
TEGULA > TEGLA > TELHA
VETULO > VETLU > VELHO
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Grupos impróprios (grupos indiretos)
Exemplos:
scutu > escudo
sponsa > esposa Prótese
stare > estar
scientia > ciência SC – seguido de I ou E ocorre
scena > cena aférese
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Grupos impróprios (grupos indiretos)
Oclusiva + outra consoante
PS – ipse > esse, ipso > isso (assimilação)
CT – nocte > noite, octu > oito (vocalização)
GN – regnu > reino (vocalização)
CS – saxu > seixo
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Grupos impróprios (grupos indiretos)
Assibilação
Ex.: FACIO > FACYO > FAÇO
BELITIA > BELEZA
LANCEA > LANÇA
JUDICIU > JUÍZO
AUDIO > OUÇO
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
3. História interna da língua portuguesa
3.3 Consonantismo
Grupos impróprios (grupos indiretos)
Caso da semivogal / y /
Ex.: MILIU > MILYU > MILHO
PALEA > PALYA > PALHA
LINEA > LINYA > LINHA
SENIORE > SENYOR > SENHOR
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
4. Características do galego-português (inovações linguísticas na fonética)
Grupo I – grupos iniciais PL, CL e FL > [TŠ];
Grupo II – síncope do /L/ intervocálico;
Grupo III – síncope do /N/ intervocálico.
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
4. Características do galego-português (inovações linguísticas na fonética)
Grupo I – grupos iniciais PL, CL e FL > [TŠ];
A pronúncia no galego é [TŠ], como:
PLUVIA > [TŠUVA]
CLAVE > [TŠAVE]
FLAMA > [TŠAMA]
No português em geral torna-se palatal, CHUVA, CHAVE e CHAMA .
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
4. Características do galego-português (inovações linguísticas na fonética)
Grupo II – síncope do /L/intervocálico;
Forma grupos vocálicos com tendência à hiatização:
SALIRE > SAIRE > SAIR
DOLORE > DOOR > DOR
COLUBRA > COUBRA > COOBRA > COBRA
SOLES > SOES > SÓIS
(explica a pluralização de al, el, il, ol e ul)
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
4. Características do galego-português (inovações linguísticas na fonética)
Grupo III – síncope do /N/ intervocálico;
Explica a formação das vogais nasais do português:
CORONA > CORÕNA > CORÕA > COROA
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
4. Características do galego-português (inovações linguísticas na morfologia)
Simplificação da declinação nominal com sobrevivência do ACUSATIVO (apócope de {-M}) no singular, porém manutenção do {-S} de plural.
LUPUM > LUPU > LOBO
LUPOS > LOBOS
Nos verbos:
-queda de algumas DNPs, como o {-T} de P3 do IDPR;
-criação de formas perifrásticas: AMARE HABEO no lugar de AMABO.
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
4. Características do galego-português (inovações linguísticas na morfologia)
Desaparecimento do gênero neutro
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
4. Características do galego-português (inovações linguísticas na morfologia)
Formação dos artigos definidos e indefinidos
Definidos:
Illum > illu > illo > ello > elo > lo > o
Illos > ellos > los > os
Illam > illa > ella > ela > la > a
Illas > ellas > elas > las > as
Indefinidos:
unum > unu > ũu > um
unam > una > ũa > uma
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
4. Características do galego-português (inovações linguísticas na morfologia)
Formação dos plurais nos nomes terminados em al, el, il, ol e ul.
ANIMAL > ANIMALES > ANIMAES > ANIMAIS
FIDELES > FIELES > FIEES > FIÉIS
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
4. Características do galego-português (inovações linguísticas na morfologia)
Formação dos plurais nos nomes terminados em ÃO:
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
4. Características do galego-português (inovações linguísticas na morfologia)
Redução dos temas verbais e o caso de PÔR:
1ª conjugação: AMĀRE – amar
2ª conjugação: VIDĒRE – ver
3ª conjugação: LEGĚRE – ler
4ª conjugação: AUDĪRE – ouvir
PÓNERE > PONÉRE > PONER > POER > POOR > PÔR
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
5. Características do português brasileiro (inovações linguísticas na fonética)
Os fonemas /S/ e /Z/
Na maior parte do Brasil o –s e o –z implosivos são sibilantes, realizados como [s] em final absoluto. Ex.: atrás, vez, ou diante de consoante surda. Ex.: vista, faz frio. E realizado como [z] diante de consoante sonora. Ex.: mesmo, [atrás dele]. No Rio de Janeiro encontram-se /š/ e /ž/ chiados. Resumindo, há duas pronúncias de –s e –z implosivos: uma sibilante e a outra chiante.
A pronúncia chiante de –S e –Z em final de palavras provoca, não raro, o aparecimento de um [Y] (semivogal iode). Exemplo: atrás [atrais]; nós [nois]; rapaz [rapais]; luz [luis].
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
5. Características do português brasileiro (inovações linguísticas na fonética)
O fonema /L/ no final de palavras
O –L final no PB vocaliza-se em [W] (semivogal UAU), como animal, Brasil, amável, sol, etc.
O fonema /R/ no final de palavras
A tendência no PB é a supressão de /R/ no final de palavras. Exemplos: “cantá para cantar”; dotô para doutor”; “pegá para pegar”; fazê para fazer” etc.
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
5. Características do português brasileiro (inovações linguísticas na fonética)
Os grupos /TI/ e /DI/
Nos grupos –TI e –DI temos duas pronúncias: a de maior ocorrência é a PALATIZAÇÃO (na realidade é uma africada alveopalatal) das oclusivas /T/ e /D/ diante de /I/, como TIA e DIA no Piauí; a outra ocorrência é /T/ e /D/ como oclusivas dentais, como TIA e DIA em Pernambuco.
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
5. Características do português brasileiro (inovações linguísticas na fonética)
Os pronomes proclíticos e enclíticos:
A vogal –I, dos pronomes proclíticos e enclíticos no PB são sempre pronunciados como [-I], mesmo com pronomes tônicos. Assim, ME, TE, TI, LHE, SE, SI, ainda que escritos de maneiras diferentes, sempre têm som [-I]. A distinção ortográfica ajuda no reconhecimento das funções sintáticas, como ocorre:
ME dá um beijo. (Dê-ME um beijo).
Eu TE amo.
Comprei um presente para TI.
Comprei-LHE um presente.
Precisa-SE de empregados.
Ele chamou a responsabilidade para SI.
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
5. Características do português brasileiro (inovações linguísticas na fonética)
Vogais átonas em posição final
As vogais átonas finais escritas /E/ e /O/ no PB soam sempre como /I/ e /U/ respectivamente, como podemos ver em “Ele vive [/vivi/]” e “Eu amo [/ãmu/]. Ora, as postônicas finais /I/ e /U/ das palavras latinas passaram a /E/ e /O/ ao português, como “vesti > veste” e “campu > campo”.
Resumindo, /E/ e /O/ átonas finais são escritas, mas nunca pronunciadas (não confunda com as oxítonas, essas sim bem realizadas: “eu vivi”; “cipó”)
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
5. Características do português brasileiro (inovações linguísticas na fonética)
O ditongo /EY/
No Brasil conserva-se a pronúncia (EY) para o ditongo como em lei. Por vezes, o ditongo quando interno monotonga-se. Ex.: primeiro (pronuncia-se primero; fevereiro – feverero).
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
5. Características do português brasileiro (inovações linguísticas na morfossintaxe)
Pronomes oblíquos átonos (Portugal versus Brasil)
Diante de formas verbais terminadas em /S/, /Z/ e /R/, os oblíquos átonos O, A, OS, AS transformam-se em LO, LA, LOS, LAS.
AMAR > AMAR-LO > AMÁ-LO
AMAR > AMAR-LAS > AMÁ-LAS
VENDER > VENDER-LA > VENDÊ-LA
PARTIR > PARTIR-LOS > PARTI-LOS
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
5. Características do português brasileiro (inovações linguísticas na morfossintaxe)
Pronomes oblíquos átonos (Portugal versus Brasil)
Diante de /M/ os oblíquos átonos O, A, OS, AS transformam-se em NO, NA, NOS, NAS.
AMARAM > AMARAM-LO > AMARAM-NO
AMARAM > AMARAM-LAS > AMARAM-NAS
VENDERAM > VENDERAM-LA > VENDERAM-NA
PARTIRAM > PARTIRAM-LOS > PARTIRAM-NOS
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
5. Características do português brasileiro (inovações linguísticas na morfossintaxe)
Pronomes retos tônicos como complementos verbais
Exemplos:
A Maria, vou amá-la para sempre. (Amar [ela])
O carro, vou vendê-lo por R$ 1.000,00. (Vender [ele])
Evolução fonética e morfológica da língua portuguesa
Considerações Finais
“A mudança das línguas não depende da vontade dos homens, mas segue uma necessidade da própria língua, e tem uma regularidade, isto é, não se faz de qualquer jeito”
Eni Pulcinelli Orlandi
tegula > tegla > teyla > telya > telha > teia > tea
Referências
CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática Histórica. São Paulo: Ática,1971.
COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Editora ao Livro Técnico, 1976.
GONÇALVES, Rodrigo Tadeu; BASSO, Renato Miguel. História da língua. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2010.
WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.