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SISTEMA VISUAL FISIOLOGIA O sistema visual inicia no olho, responsável pela captação da informação luminosa e sua transformação em impulsos a serem decodificados pelo sistema nervoso. A retina é a porção responsável pela conversão de energia luminosa em atividade neural. Sua sensibilização se faz quimicamente, e a luz, convertida em impulsos elétricos, é transportada pelo nervo óptico até o córtex. OLHO Órgão especializado na detecção, localização e análise da luz. ● ANATOMIA GERAL - A retina encontra-se no fundo do olho. - O olho coleta raios de luz emitidos ou reetidos por objetos no ambiente e os focaliza sobre a retina para formar imagens. A focalização dos objetos envolve os poderes de refração da córnea e do cristalino. O olho ajusta-se automaticamente às diferenças de iluminação e focalizando objetos de interesse. Acuidade visual: capacidade do olho de distinguir entre dois pontos próximos. Depende do espaçamento dos fotorreceptores na retina e da precisão da refração do olho. Marcela Scussel Pavan T. XVI RETINA Membrana que preenche a parede interna em volta do olho. - Recebe a luz focalizada pelo cristalino. A retina é, antes de tudo, especializada na detecção de diferenças na intensidade da luz que cai sobre diferentes porções dela. - O processamento de imagens ocorre na retina muito antes de qualquer informação visual atingir o resto do encéfalo. Axônios dos neurônios retinais reúnem-se em feixe nos nervos ópticos, que distribuem a informação visual, na forma de potenciais de ação, a diversas estruturas encefálicas que realizam variadas funções. - Alguns alvos dos nervos ópticos estão envolvidos na regulação dos ritmos biológicos, que estão sincronizados com o ciclo diário claro-escuro; outros estão envolvidos no controle da posição e da óptica do olho. A retina contém fotorreceptores, os quais transformam a luz em impulsos elétricos, que o cérebro pode interpretar como imagens. APARÊNCIA DA RETINA NO OFTALMOSCÓPIO PAPILA ÓPTICA: origem dos vasos da retina e ponto onde as fibras do nervo óptico deixam o olho. - Ponto cego da retina, pois não há fotorreceptores e os vasos lançam sombras (o encéfalo completa a visão dessa área) MÁCULA LÚTEA: região de aspecto amarelado dedicada à visão central (oposição à visão periférica) - Ausência de vasos (melhora da visão central) FÓVEA: ponto central e escuro da retina, onde ela encontra-se em sua forma mais delgada - Não possui bastonetes, apenas cones - Máxima acuidade visual ANATOMIA MICROSCÓPICA DA RETINA A via mais direta para o fluxo de informação visual parte dos fotorreceptores rumo às células bipolares e, daí, para as células ganglionares. Estas últimas disparam potenciais de ação, que se propagam, via nervo óptico, para o resto do encéfalo. Marcela Scussel Pavan T. XVI Tal processo é influenciado também por 2 outros tipos celulares: - Células horizontais: recebem aferentes dos fotorreceptores e projetam neuritos lateralmente para influenciar células bipolares vizinhas e fotorreceptores. - Células amácrinas: recebem aferentes das células bipolares e projetam lateralmente para influenciar células ganglionares vizinhas, cél bipolares e outras cél amácrinas. ● As únicas células sensíveis à luz na retina são os fotorreceptores. Todas as outras as outras são influenciadas pela luz apenas através de interações com estes. ● As células ganglionares são a única fonte de sinais de saída da retina. Nenhum outro tipo de célula projeta axônios por meio do nervo óptico. ORGANIZAÇÃO LAMINAR DA RETINA Antes de atingir os fotorreceptores na parte posterior da retina, a luz deve atravessar todas as outras camadas celulares. Isso é possível pois estas células são transparentes e, assim, a distorção da luz é mínima. Marcela Scussel Pavan T. XVI Camada de células ganglionares: contém os corpos celulares das células ganglionares, das quais suas fibras formam o nervo óptico. Camada plexiforme interna: camada na qual se estabelecem contatos sinápticos entre células bipolares, amácrinas e ganglionares Camada nuclear interna: contém os corpos celulares das células bipolares, horizontais e amácrinas Camada plexiforme externa: onde os fotorreceptores estabelecem contatos sinápticos com células bipolares e horizontais Camada nuclear externa: contém os corpos celulares dos fotorreceptores Camada dos segmentos externos dos fotorreceptores: contém os elementos sensíveis à luz da retina. Podem ser do tipo cone ou bastonete. Os segmentos externos estão embebidos no epitélio pigmentar. Epitélio pigmentar: situado logo abaixo dos fotorreceptores. Absorve qualquer luz que atravesse a retina, impedindo reflexão no fundo do olho e garantindo nitidez ESTRUTURA DOS FOTORRECEPTORES Fazem a conversão da radiação eletromagnética em sinais neurais. Apresentam 4 regiões: - Segmento externo - Segmento interno (citoplasma) - Corpo celular - Terminal sináptico (liga-se a células neuronais) Marcela Scussel Pavan T. XVI Fotorreceptores são as únicas células do sistema visual sensíveis a luz (todas as outras usam estímulos elétricos, e não luminosos). SEGMENTO EXTERNO Esta camada contém uma pilha de discos membranosos que possuem, em sua membrana, fotopigmentos sensíveis a luz. Estes, absorvem a luz e determinam alterações no potencial de membrana do fotorreceptor. O formato do segmento externo distingue os dois tipos de fotorreceptor encontrados na retina: Receptor tipo BASTONETE - Apresentam segmento externo longo e cilíndrico, contendo muitos discos. A maior quantidade de discos e, consequentemente, maior concentração de fotopigmentos (nos bastonetes, rodopsina) tornam estes cerca de 1000x mais sensíveis a luz. - Assim, em um ambiente de iluminação noturna (condições escotópicas) apenas os bastonetes contribuem para a visão. - Todos os bastonetes possuem o mesmo tipo de pigmento. Receptor tipo CONE - Apresentam segmento externo curto e com diminuição gradual de espessura, contendo menor número de discos membranosos e menor concentração de fotopigmentos (iodopsina e fotopsina- pigmentos coloridos). - São estes os fotorreceptores que realizam a maior parte do trabalho em iluminação diurna (condições fotópicas) - Existem 3 tipos de cones (azuis, vermelhos e verdes), cada qual com um pigmento diferente. Assim, diferentes tipos de cone são sensíveis a diferentes comprimentos de onda de luz. Marcela Scussel Pavan T. XVI REGIÕES DA RETINA A estrutura da retina varia desde a fóvea (ponto central) até a periferia. ● Retina periférica - Possui muito mais bastonetes do que cones - Alta relação de fotorreceptores para células ganglionares Assim, a porção periférica é mais sensível à luz pois bastonetes são especializados para baixa intensidade luminosa e há mais fotorreceptores fornecendo informações para uma mesma célula ganglionar. Essa porção, entretanto, torna-se incapaz de discernir detalhes finos sob a luz do dia (requer cones e que a razão entre fotorreceptores e células ganglionares seja baixa para boa acuidade visual) ● Fóvea Região altamente especializada para visão de alta resolução. - Não possui bastonetes. Todos seus fotorreceptores são cones. - Em secção transversal, a fóvea aparece como uma depressão na retina. Há o deslocamento lateral de células acima dos fotorreceptores permitindo que a luz não necessite passar pelas demais camadas da retina. Essa especialização permite a máxima acuidade visual.Marcela Scussel Pavan T. XVI FOTOTRANSDUÇÃO Conversão de energia luminosa em alterações no potencial de membrana nos fotorreceptores. No fotorreceptor, a estimulação do fotopigmento pela luz causa ativação das proteínas G, as quais ativam uma enzima efetora que altera a concentração citoplasmática de um segundo mensageiro. Essa alteração determina o fechamento de um canal iônico na membrana e seu potencial é alterado. FOTOTRANSDUÇÃO NOS BASTONETES Um neurônio em repouso tem potencial de membrana de cerca de -65mV. Já os bastonetes, quando em completa escuridão, possuem potencial de membrana de seu segmento externo de cerca de -30mV (ou seja, despolarizados - ativados) Essa despolarização é causada pelo influxo constante de Na+ através de canais especiais. Esse movimento é chamado de corrente do escuro. - Os canais de sódio tem sua abertura estimulada por um segundo mensageiro intracelular chamado monofosfato de guanosina cíclico (GMPc). Este é produzido continuamente no fotorreceptor, mantendo os canais de Na+ abertos. - A luz reduz a quantidade de GMPc, o que determina o fechamento dos canais de sódio e o potencial de membrana torna-se mais negativo, hiperpolarizando os bastonetes em resposta a luz e, consequentemente, inativando-os. A resposta hiperpolarizante à luz é iniciada pela absorção da radiação eletromagnética pela rodopsina. Pode-se pensar na rodopsina como uma proteína receptora (opsina) com um agonista previamente ligado (retinal). - Retinal é um derivado da vitamina A (por isso, deficit de vitamina A leva à cegueira noturna). A rodopsina é produto da reação do aldeído 11-cis-retinal com uma proteína chamada opsina. A reação ocorre entre o grupo aldeído do 11-cis-retinal e um grupo amina da proteína. Sob energia luminosa, será degradada, gerar potencial de ação e excitar as bras do nervo óptico A absorção da luz promove uma alteração na conformação do retinal, de forma que a opsina é ativada (esse processo é um desbotamento, alterando os comprimentos de luz absorvíveis pela rodopsina). O desbotamento da rodopsina estimula uma proteína G denominada transducina, e essa ativa a enzima efetora fosfodiesterase (PDE). A PDE hidrolisa o GMPc presente no citoplasma dos bastonetes quando no escuro. As reduções de GMPc determinam o fechamento dos canais de sódio e a hiperpolarização da membrana. Marcela Scussel Pavan T. XVI - Sob a luz do sol há queda dos níveis de GMPc nos bastonetes, até um ponto que a resposta à luz torna-se saturada e luz adicional não mais promove qualquer hiperpolarização. Assim, inicia a dependência unicamente dos cones. FOTOTRANSDUÇÃO NOS CONES A visão durante o dia depende inteiramente dos cones, cujos fotopigmentos necessitam maior nível de energia para sofrerem desbotamento. O processo nos cones é praticamente o mesmo dos bastonetes, a diferença está no tipo de opsina. - Cada cone possui uma das 3 opsinas que conferem aos fotopigmentos diferentes sensibilidades espectrais - Cones para o azul: ativação máxima pela luz com comprimentos de onda em torno de 430nm - Cones para o verde: cerca de 530nm - Cones para o vermelho: cerca de 560nm DETECÇÃO DE CORES As cores percebidas são determinadas pela contribuição relativa de cada tipo de cone para o sinal na retina. - Em cada ponto da retina existe um conjunto de três tipos de receptores (cada tipo apresentando sensibilidade máxima ao azul, verde ou vermelho). - O encéfalo atribui cores com base em uma comparação da leitura dos 3 tipos de cones. ● Quando todos os tipos de cones são igualmente ativos, vê-se o branco. ● Várias formas de cegueira resultam de deficiências em um ou mais tipos de fotopigmentos. Em luz noturna, a percepção de cores é de difícil detecção, já que os cones estão desativados e a visão depende dos bastonetes, os quais possuem um único tipo de fotopigmento. - O pico de sensibilidade dos bastonetes se dá em comprimentos de onda próximos de 500 nm, que dá percepção verde-azulada. Marcela Scussel Pavan T. XVI ADAPTAÇÃO AO ESCURO No escuro, a sensibilidade à luz aumenta cerca de milhão de vezes. A adaptação ao escuro não é instantânea, levando cerca de 20 minutos. - Na adaptação, o primeiro fator é a dilatação das pupilas, que permite maior penetração de luz. - O principal componente de adaptação ao escuro envolve a regeneração da rodopsina para uma configuração anterior ao desbotamento e o ajuste funcional da retina, aumentando a disponibilidade dos bastonetes na célula ganglionar. ADAPTAÇÃO À CLARIDADE Alterações que revertem as adaptações ao escuro. - Há a constrição das pupilas, reduzindo a luz que entra no olho. A adaptação à claridade se dá de maneira bem mais rápida. Papel do cálcio: a capacidade de adaptação dos cones depende de alterações na concentração de cálcio dentro destes. - Ao partir de um ambiente pouco luminoso para um com maior incidência de luz, os cones estão inicialmente hiperpolarizados. - A mudança mais importante consiste na despolarização gradual da membrana, retornando a um potencial de cerca de -35 mV. Os canais de sódio dependentes de GMPc também admitem cálcio. No escuro, o Ca2+ entra nos cones e promove inibição da enzima que sintetiza GMPc. Quando os canais dependentes de GMPc se fecham, o fluxo de Ca2+ para dentro dos fotorreceptores reduz. Como resultado, mais GMPc é sintetizado, pois sua enzima de síntese está menos inibida, permitindo a reabertura dos canais dependentes de GMPc, mesmo sem mudança do nível de luminosidade. PROCESSAMENTO NA RETINA - Apenas as células ganglionares disparam potenciais de ação. Todas as outras células da retina respondem à estimulação com alterações no potencial de membrana. Quando despolarizados, os fotorreceptores liberam o neurotransmissor glutamato. Como eles se encontram despolarizados no escuro e hiperpolarizados na luz, tem-se que são liberados mais neurotransmissores em baixas intensidades luminosas. - Logo, quando uma sombra passa por um fotorreceptor, este responde se despolarizando e liberando neurotransmissores. Marcela Scussel Pavan T. XVI Na camada plexiforme externa, cada fotorreceptor efetua contato sináptico com dois tipos de células: - Bipolares: estabelecem a via direta, desde os fotorreceptores até as células ganglionares. - Horizontais: fornecem informação lateralmente para a camada plexiforme externa, influenciando células bipolares vizinhas e fotorreceptores. As células bipolares são divididas em duas classes, dependendo de sua resposta ao glutamato liberado pelos fotorreceptores. - Células bipolares do tipo OFF: apresentam canais de cátions ativados por glutamato, que medeiam o potencial excitatório pós-sináptico, o qual despolariza a membrana pelo influxo de Na+ - Células bipolares do tipo ON: apresentam receptores acoplados a proteínas G e respondem ao glutamato com uma hiperpolarização. Cada célula bipolar recebe aferência de um certo número de fotorreceptores (varia de um, na fóvea, até milhares, na retina periférica). O campo receptivo da célula bipolar é constituído por duas porções: o centro do campo receptivo e a periferia do campo receptivo. - O campo receptivo de uma célula do sistema visual é a área da retina onde, em resposta à luz, há alteração no potencial de membrana na célula. Campos receptivos organizados como centro-periferia nas células bipolares: centro e periferia são antagônicos entre si. A resposta do potencial de membrana de uma célula bipolar à luz no centro do campo receptivo é oposta àquela promovida pela luz na periferia. Por exemplo, se a iluminação do centro causa despolarizaçãoda célula bipolar (uma resposta ON), então a iluminação da periferia causará uma hiperpolarização antagônica dessa célula. - A organização dos campos receptivos em centro-periferia passa das células bipolares para as ganglionares por meio das sinapses na camada plexiforme interna. Marcela Scussel Pavan T. XVI SINAIS DE SAÍDA NA RETINA A única fonte de sinais de saída da retina para o resto do encéfalo são os potenciais de ação provenientes das células ganglionares. CAMPOS RECEPTIVOS DAS CÉLULAS GANGLIONARES A maior parte possui organização dos campos receptivos em centro-periferia. Células ganglionares com centro-ON e com centro-OFF recebem aferências dos tipos correspondentes de células bipolares. - Uma célula ganglionar centro-ON será despolarizada e disparará potenciais de ação na presença de projeção de luz no campo receptivo. Da mesma forma, uma centro-OFF responderá à presença de projeção de luz. - Em ambas, a resposta à estimulação do centro é cancelada pela resposta da periferia do campo receptivo. Assim, a maior parte das células ganglionares da retina não é responsiva a mudanças na iluminação que incluem centro e periferia do campo receptivo ao mesmo tempo. Elas são responsivas a diferenças na iluminação que ocorram dentro de seus campos receptivos. Ilustrando: quando uma sombra atravessa o campo receptivo de uma célula centro-OFF, essa projeção no centro do campo causa despolarização da célula, enquanto determina hiperpolarização na periferia. Logo, sob iluminação uniforme, centro e periferia se cancelam, produzindo baixo nível de resposta. Quando a sombra entra apenas na periferia, hiperpolariza os neurônios, diminuindo os disparos na célula. Conforme a sombra se estende sobre o centro, a inibição periférica é suplantada e a resposta celular aumenta, Quando a sombra se estender sobre toda a periferia, a resposta central é novamente cancelada. Marcela Scussel Pavan T. XVI Considerando todas as células centro-OFF na retina que forem estimuladas pela borda luz-sombra, as que registram essa presença são aquelas cujos campos receptivos são diferentemente afetados. - As células cujo campo percebe a porção escura da borda serão excitadas - As células cujo campo percebe a porção iluminada serão inibidas TIPOS DE CÉLULAS GANGLIONARES Distinguem-se 2 tipos principais: - Células ganglionares do tipo M (grandes) Possuem maior campo receptivo; Conduzem potenciais de ação mais rapidamente no nervo óptico; São mais sensíveis a estímulos de baixo contraste; Respondem à estimulação dos centros de seus campos receptivos com uma série rápida e transitória de rajadas de potenciais de ação. - Células ganglionares do tipo P (pequenas) Constituem cerca de 90% da população de células ganglionares; Respondem à estimulação dos centros de seus campos receptivos com uma descarga sustentada, que persiste enquanto houver estímulo. Células ganglionares de oposição de cores Algumas células do tipo P e células do tipo não-M-e-não-P são sensíveis a diferenças no comprimento de onda da luz. A maioria desses neurônios sensíveis à cor é denominada células de oposição de cores, reetindo o fato de que a resposta a um comprimento de onda no centro do campo receptivo é cancelada por um outro comprimento de onda incidindo na periferia. Dois tipos de oposição são observados: - vermelho X verde - azul X amarelo Ilustrando: Célula com centro-ON vermelho e periferia-OFF verde. O centro do campo receptivo é alimentado principalmente por cones para o vermelho; assim, a célula responde à luz vermelha disparando potenciais de ação. A resposta é reduzida pois a luz vermelha apresenta algum efeito sobre os cones verdes que alimentam a periferia-OFF verde. A resposta ao vermelho é cancelada apenas por luz verde na periferia. A oposição das cores azul e amarela funciona da mesma forma. Marcela Scussel Pavan T. XVI Luz branca: uma vez que a luz branca contém todos os comprimentos de onda visíveis, tanto o centro quanto a periferia seriam igualmente ativados, assim cancelando a resposta da célula. A ausência de oposição de cores nas células tipo M explica-se pelo fato de que tanto o centro quanto a periferia do campo receptivo recebem aferências de mais de um tipo de cone. - As células ganglionares fornecem um uxo de informação para o encéfalo que está envolvido na comparação espacial de três processos oponentes: claro X escuro, vermelho X verde e azul X amarelo. PROCESSAMENTO EM PARALELO - A visão se dá através de dois olhos, que fornecem dois fluxos paralelos de informação. No sistema central, esses fluxos são comparados para se obter informações acerca de profundidade. - Há fluxos independentes de informação sobre os níveis de claro e escuro originários de cada retina - células ganglionares de ambos as variedades, ON e OFF, apresentam diferentes tipos de campos receptivos e propriedades de resposta. Células do tipo M podem detectar contrastes sutis sobre seus grandes campos receptivos e provavelmente contribuem para a visão de baixa resolução. Células do tipo P apresentam campos receptivos pequenos, adequados para a discriminação de detalhes nos. SISTEMA VISUAL CENTRAL Há mais de 100 milhões de fotorreceptores na retina, mas apenas 1 milhão de axônios deixam o olho levando informações para o resto do encéfalo. Logo, ela não apenas repassa os padrões claro-escuro, como também extrai informações das imagens visuais. Aquilo que percebemos do mundo a nosso redor, portanto, depende de que informação é extraída pela retina e como é analisada e interpretada pelo resto do sistema nervoso central (SNC). Uma vez que temos dois olhos, recebemos duas imagens visuais distintas e, de alguma forma, elas devem mesclar-se para que possamos perceber apenas uma. Projeção retinofugal: projeção que parte da retina. Marcela Scussel Pavan T. XVI Os axônios que saem da retina formam o nervo óptico (direito e esquerdo). Os nervos ópticos de ambos os olhos se combinam para formar o quiasma óptico, na base do encéfalo, à frente da hipófise. - No quiasma óptico há o cruzamento (decussação) parcial das fibras que deixam a retina. - Admite-se que as fibras temporais de cada retina seguem um trajeto direto e que as fibras nasais se cruzam. - Por esse cruzamento parcial das fibras retínicas é que se possibilita a visão binocular. Após a decussação parcial, os axônios das projeções retinofugais formam os tractos ópticos. - Os tratos ópticos contém agora as metades (esquerda e direita) das retinas de cada olho. Ex: trato óptico direito contém as fibras da retina temporal do olho direito e da nasal do olho esquerdo. HEMICAMPOS VISUAIS DIREITO E ESQUERDO: fibras do nervo óptico cruzam no quiasma óptico de forma que o hemicampo visual esquerdo é “visualizado” pelo hemisfério direito, e o hemicampo visual direito é “visualizado” pelo hemisfério esquerdo. - Campo visual binocular: região medial do campo visual visível por ambos os olhos A maior parte dos axônios do tracto óptico inervará o núcleo geniculado lateral (NGL), no tálamo dorsal. Seguindo, os axônios projetam-se para o córtex visual primário. - A projeção no NGL ao córtex primário é chamada radiação óptica. Marcela Scussel Pavan T. XVI ...possíveis lesões até então: ● Uma transecção do nervo óptico tornaria uma pessoa cega no mesmo lado da lesão. ● Uma transecção do tracto óptico esquerdo causaria cegueira no campo visual direito, visto por ambos os olhos. ● Uma transecção na linha média do quiasma óptico afetaria apenas as bras que cruzam a linha média. Uma vez que essas bras originam-se nas porçõesnasais de ambas as retinas, teríamos uma resultante cegueira apenas para as regiões do campo visual enxergadas pelas retinas nasais. Alvos não-talâmicos do tracto óptico: algumas células ganglionares da retina enviam axônios para inervar outras estruturas que não o NGL. - Projeções ao hipotálamo têm um papel importante na sincronia de uma variedade de ritmos biológicos – incluindo sono e vigília – com o ciclo diário de claro-escuro. - Projeções à área pré-tectal (no mesencéfalo) controlam o tamanho da pupila e certos tipos de movimentos oculares. - Cerca de 10% das células ganglionares projetam-se ao colículo superior (no mesencéfalo), estando envolvidos nos movimentos do olho e da cabeça para trazer a imagem do espaço para a fóvea. Esse ramo da projeção retinofugal está, dessa forma, envolvido na orientação dos olhos em resposta a novos estímulos na periferia visual. NÚCLEO GENICULADO LATERAL Os núcleos geniculados laterais direito e esquerdo, localizados no tálamo dorsal, são os principais alvos dos dois tractos ópticos. - Possuem 6 camadas empilhadas de forma curvada ao redor do trato óptico O NGL é a porta de entrada para o córtex visual e, assim, para a percepção visual consciente. Os neurônios do NGL recebem impulsos de células ganglionares da retina e (em maior parte) projetam um axônio para o córtex visual primário via radiação óptica. Segregação dos sinais A separação do NGL em camadas reflete na separação de diferentes tipos de informações oriundas da retina. - Axônios provenientes de células do tipo P, do tipo M e do tipo não-M-e-não-P nas duas retinas estabelecem sinapses em diferentes camadas no NGL. - No NGL, sinais oriundos dos dois olhos são mantidos separados. No NGL direito, os axônios do olho direito (ipsilateral) fazem sinapse nas camadas 2, 3 e 5. Os axônios do olho esquerdo, nas camadas 1, 4 e 6. Marcela Scussel Pavan T. XVI As camadas ventrais do NGL (1 e 2) contém neurônios maiores e são denominadas camadas magnocelulares do NGL. As camadas dorsais (3 a 6), contém neurônios menores e são denominadas camadas parvocelulares do NGL. - Células retinais do tipo P projetam para o NGL parvocelular e as do tipo M projetam para o NGL magnocelular - Células do tipo P, M e não-M-e-não-P respondem de maneira diferente a luz, logo, a informação diferenciada permanece separada no NGL. Camadas coniocelulares: permanecem ventralmente à cada camada do NGL. Formadas por células do tipo não-M-e-não-P Marcela Scussel Pavan T. XVI Os campos receptivos visuais dos neurônios no NGL são iguais aos das células ganglionares que fazem sinapse com eles. - NGL magnocelular tem campo parecido com o das células tipo M - NGL parvocelular tem campo parecido com o das células tipo P O NGL também recebe entradas sinápticas de neurônios do tronco encefálico, cuja atividade está relacionada com o alerta e com a atenção. - É mais do que um simples relé da retina ao córtex; é o primeiro sítio na via visual ascendente onde aquilo que vemos é inuenciado pela forma como nos sentimos. CÓRTEX ESTRIADO (VISUAL PRIMÁRIO) Alvo sináptico principal do NGL. Área 17 de Brodmann, lobo occipital, ao redor do sulco calcarino. RETINOTOPIA A projeção iniciada na retina e que se estende ao NGL e ao V1 de forma organizada, sendo o mapa retínico mantido nas vias ópticas, estabelecendo correspondência espacial. 1. O mapeamento retinotópico é comumente distorcido. Isso se explica pois na região da fóvea há muito mais células ganglionares do que na periferia. No córtex, o campo visual da região da fóvea, pequeno em tamanho na retina, é magnificado na representação retinotópica no córtex, devido ao número de axônios que saem de lá. 2. Um discreto ponto de luz pode ativar muitas células na retina e, assim, muitas células no córtex. Assim, quando a retina for estimulada por um ponto de luz, a atividade cortical terá ampla distribuição, com pico na localização correspondente. LAMINAÇÃO DO CÓRTEX PRIMÁRIO Os corpos celulares dos neurônios são arranjados em cerca de 6 camadas. - A separação anatômica dos neurônios em camadas sugere que há uma divisão de tarefas no córtex. - Laminação é remanescente das camadas do NGL Marcela Scussel Pavan T. XVI Camada IV: principal no recebimento de informações do NGL. - É subdividida em 3 subcamadas (IVA, IVB e IVC) - IVC é subdividida em IVCα e IVCβ AFERÊNCIAS E EFERÊNCIAS DO CÓRTEX VISUAL Axônios oriundos do NGL terminam em diversas camadas corticais, mas principalmente na camada IVC. - Os sinais de saída do NGL estão divididos em uxos de informação, por exemplo, oriundos das camadas magnocelulares e parvocelulares. Esses uxos permanecem anatomicamente segregados na camada IVC - IVCα recebe informação magnocelular e IVCβ, parvocelular. Colunas de dominância ocular: os sinais de entrada na camada IV oriundos do olho esquerdo e do olho direito se estendem como uma série de estrias alternadas CONEXÕES INTRACORTICAIS: a maior parte ocorre cruzando perpendicularmente as camadas, em direção à camada I. - Dessa forma, uma região na camada V, por exemplo, recebe informações da mesma porção da retina que uma célula acima dela, na camada IV. Na camada III, os axônios de certas células piramidais estendem ramificações colaterais, que estabelecem conexões horizontais nesta camada. As células estriadas da camada IVC projetam axônios para as camadas IVB e III, onde, pela primeira vez, as informações do olho esquerdo e direito começam a se misturar. - Enquanto na camada IVC há recebimento de sinais de entrada monoculares, a maior parte da camada II e III recebem sinais binoculares. EFERÊNCIAS: as células piramidais enviam axônios para fora do córtex visual. - As das camadas II, III e IVB enviam axônio para outras áreas do córtex - As da camada V, enviam para colículo superior e ponte - As da camada VI enviam para o NGL - Células piramidais de todas as camadas também fazem conexões locais no córtex Marcela Scussel Pavan T. XVI FISIOLOGIA DO CÓRTEX VISUAL CAMPOS RECEPTIVOS Na camada IVC: os campos receptivos dos neurônios são muito parecidos com os dos neurônios magno e parvocelulares (maioria) que lhes inervam. Fora de IVC, há características diferentes das da retina e do NGL: BINOCULARIDADE A maior parte dos neurônios nas camadas SUPERFICIAIS a IVC possuem campos receptivos binoculares, apresentando, na verdade, dois campos receptivos, um no olho ipsilateral e outro no contralateral. Nessas camadas, ainda há colunas de dominância ocular, mas agora, ao invés de colunas monoculares (como em IVC), há segmentos de neurônios mais fortemente estimulados por um dos olhos. A retinotopia se preserva, pois os dois campos receptivos de um neurônio binocular estão situados precisamente sobre a retina. SELETIVIDADE DE ORIENTAÇÃO Neurônios com seletividade de orientação são especializados na análise da forma dos objetos Fora de IVC, enquanto pequenos pontos podem determinar uma resposta de muitos neurônios corticais, em geral é possível produzir uma resposta muito maior com outros estímulos. A maior parte dos neurônios apresentam seletividade de orientação, ou seja, são mais fortemente ativados quando a luz se propaga em um ângulo ótimo próprio de cada um. - Neurônios em posições retinotópicas em diferentes camadas possuem a mesma orientação preferencial (coluna de orientação). - A orientação preferencial muda progressivamente conforme observa-se deslocamento tangencial da posição dos neurônios. Marcela Scussel Pavan T. XVISELETIVIDADE DE DIREÇÃO Neurônios com seletividade de direção são especializados na análise de movimento do objeto - Característica dos neurônios que recebem sinais das camadas magnocelulares do NGL. Célula responde a um estímulo que desliza através do campo receptivo, todavia apenas em uma certa direção deste movimento, não respondendo na direção oposta. CAMPOS RECEPTIVOS SIMPLES E COMPLEXOS - Neurônios no NGL apresentam campos receptivos com antagonismo centro-periferia CÉLULAS SIMPLES: - Segregação de regiões ON e OFF - Possuem seletividade de orientação - A resposta de uma célula simples a barras de luz na orientação ótima em diferentes locais do campo receptivo. Observe que a resposta pode ser ON (dispara se a luz está ligada) ou OFF (dispara se a luz está desligada), dependendo de onde está posicionada a barra em seu campo receptivo. Marcela Scussel Pavan T. XVI CÉLULAS COMPLEXAS: - Não possuem segregação de regiões ON e OFF - Possuem seletividade de orientação As células complexas dão respostas ON e OFF a estímulos através de todo o campo receptivo. As células complexas são construídas a partir de impulsos de diversas células simples com orientação semelhante. Uma célula complexa responde melhor a uma barra de luz em determinada orientação. Respostas, entretanto, ocorrem tanto a situações de luz ligada quanto de luz desligada, independentemente da posição no campo receptivo. ALÉM DO CÓRTEX ESTRIADO Há outras 2 dúzias de áreas corticais, cada uma delas contendo uma representação do visual. - Há duas vias principais de processamento visual em larga escala no córtex, uma estendendo-se dorsalmente do córtex estriado em direção ao lobo parietal, e a outra projetando-se ventralmente em direção ao lobo temporal. FEIXE DORSAL: análise do movimento visual e controle visual da ação - Possui direção ao lobo parietal - Extensão da via magnocelular em V1 - Percepção de movimento! (lesões ali não dão déficit em formas visuais, mas sim em sua movimentação - vê-se o mundo como fotografias) - Área MT (V5): processamento especializado do movimento de objetos. Possui neurônios com grandes campos receptivos e, em grande maioria, seletividade de direção. Respondem a diferentes tipos de movimentos que não são bons estímulos para outras áreas. - Área MST: há células seletivas para movimentos lineares, movimentos radiais e movimentos circulares. Marcela Scussel Pavan T. XVI FEIXE VENTRAL: percepção do mundo visual e reconhecimento de objetos - Extensão da via parvo-interbolhas e das bolhas em V1 - Especializado em análise de outros atributos visuais (que não o movimento) - Percepção do mundo e reconhecimento de objetos - Área V4: apresentam neurônios com campos receptivos maiores que em V1 e com seletividade de orientação e de cor. Área especializada na análise de forma e cor. - Área IT: contém neurônios com campos receptivos complexos. Parece ter importância na percepção e memória visual. Têm-se que esta área é especializada no reconhecimento de faces (sua lesão poderia causar prosopagnosia - dificuldade de reconhecimento de faces). PERCEPÇÃO VISUAL - Os campos receptivos dos fotorreceptores são simplesmente pequenos segmentos na retina, enquanto aqueles das células ganglionares da retina têm uma estrutura organizada em centro-periferia. - As células ganglionares são sensíveis a variáveis como contraste e comprimento de onda da luz. - No córtex estriado, encontramos campos receptivos simples e complexos, que têm diversas novas propriedades, incluindo seletividade de orientação e binocularidade. - Em áreas corticais extra-estriatais, as células respondem seletivamente a formas mais complexas, movimento de objetos e mesmo a faces. → Há uma hierarquia de áreas, cujos campos receptivos tornam-se progressivamente mais complexos, à medida que nos movemos para além de V1. CONSIDERAÇÕES FINAIS A visão envolve a percepção de numerosas propriedades distintas dos objetos – cor, forma, movimento –, e que essas propriedades são processadas em paralelo por diferentes células do sistema visual. Esse processamento de informação evidentemente requer uma segregação estrita dos sinais de entrada no tálamo, alguma convergência limitada de informação no córtex estriado e, nalmente, uma divergência maciça de informação, à medida em que essa passa para áreas corticais superiores A distribuição do processo é vista quando se considera que os sinais de saída em um milhão de células ganglionares podem recrutar a atividade de bem mais de um bilhão de neurônios corticais. De alguma maneira, essa atividade cortical distribuída se combina para formar uma percepção única, sem costuras, do mundo visual. Marcela Scussel Pavan T. XVI