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Capítulo 51 – Guyton O Olho: II. Funções Receptora e Neural da Retina Giovanna Gabriele ANATOMIA E FUNÇÃO DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS DA RETINA A retina é composta por 10 camadas ou limites celulares: 1) Camada pigmentar 2) Camada de cones e bastonetes 3) Membrana limitante externa 4) Camada nuclear externa 5) Camada plexiforme externa 6) Camada nuclear interna 7) Camada plexiforme interna 8) Camada ganglionar 9) Camada de fibras do nervo óptico 10) Membrana limitante interna Quando a luz passa através do sistema de lentes, ela primeiro encontra a membrana limitante interna, as fibras do nervo óptico e a camada de células ganglionares; em seguida, a luz continua através das camadas restantes para alcançar os cones e bastonetes. A fóvea é uma região especializada de aproximadamente 1 milímetro quadrado, situada na região central da retina. No centro da fóvea há uma área de 0,3 milímetro de diâmetro chamada fóvea central, que é a região de acuidade visual máxima; ela contém apenas cones. Além disso, a fibras do nervo óptico e os vasos sanguíneos subjacentes são desviados lateralmente para expor melhor os cones à luz recebida. Região da fóvea da retina e sua importância para a acurácia visual Os cones da fóvea apresentam corpos celulares especialmente longos e delgados, o que os distingue dos cones bem maiores localizados mais perifericamente na retina. Além disso, na região da fóvea, os vasos sanguíneos, células ganglionares, camadas de células nucleares internas e as camadas plexiformes são todas deslocadas para um lado, em vez de repousarem diretamente no topo dos cones, o que permite que a luz passe sem obstáculos até os cones. Não tem bastonetes na fóvea e os cones são mais delgados. Cada fotorreceptor consiste em (1) um segmento externo; (2) um segmento interno; (3) uma região nuclear; e (4) um corpo sináptico. Os receptores são referidos como cones e bastonetes por causa de suas formas. A rodopsina, um fotopigmento sensível à luz, é encontrado no segmento exterior dos bastonetes haste, e um pigmento fotossensível semelhante, chamado fotopsina, ou pigmento do cone, é encontrado no segmento exterior do cone. Esses fotopigmentos são proteínas incorporadas em um conjunto empilhado de discos membranosos, no segmento externo do receptor; eles representam invaginações da membrana celular externa do fotorreceptor. Os segmentos internos dos bastonetes e dos cones são semelhantes e contêm componentes citoplasmáticos e organelas comuns a outros tipos de corpos celulares neuronais. O pigmento negro de melanina reduz a reflexão da luz no interior do bulbo do olho. A importância desse pigmento é mais bem ilustrada pela sua ausência nos indivíduos albinos, que raramente apresentam acuidade visual melhor do que 6/30. A camada pigmentar também armazena grandes quantidades de vitamina A, utilizada na síntese de pigmentos visuais. A artéria central da retina fornece um suprimento de sangue somente para as camadas mais internas da retina (axônios das células ganglionares até a camada nuclear interna). As camadas mais externas da retina recebem seu suprimento de sangue por difusão a partir da coroide altamente vascularizada, que está situada entre a esclera e a retina. FOTOQUÍMICA DA VISÃO Ciclo visual Rodopsina-Retinal e Excitação dos Bastonetes A rodopsina é decomposta pela energia luminosa: O fotopigmento rodopsina dos bastonetes está concentrado na porção do segmento externo que se projeta na camada pigmentar. Quando a energia luminosa é absorvida pela rodopsina, a parte retinal é transformada na configuração all-trans e os componentes retinal e escotopsina começam a se separar. Em uma série de reações que ocorrem de forma extremamente rápida, o componente retinal é convertido em lumirrodopsina, metarrodopsina I, metarodopsina II e, finalmente, escotopsina; em seguida ocorre a clivagem da all-trans retinal. Durante este processo, admite-se que a metarrodopsina II cause alterações elétricas na membrana dos bastonetes que levam à transmissão subsequente do impulso através da retina. Ocorre formação de nova rodopsina: Durante a primeira fase da formação da nova formação de rodopsina, o all-trans retinal é convertido à configuração 11-cis e, em seguida, se combina imediatamente com a escotopsina para formar rodopsina. Uma segunda via para a formação de rodopsina envolve a conversão do all-trans retinal em all-trans retinol, que é uma forma de vitamina A. O retinol é convertido enzimaticamente em 11- cis retinol e, em seguida, em 11-cis retinal, que se combina com a escotopsina para formar rodopsina. Se houver um excesso de retinal na retina, ele será convertido em vitamina A, reduzindo, assim, a quantidade total de rodopsina. A cegueira noturna ocorre em indivíduos com deficiência de vitamina A, porque os bastonetes são os fotorreceptores maximamente utilizados quando há pouca luz no ambiente e a formação de rodopsina diminui drasticamente por causa da ausência da vitamina A. Essa condição pode ser revertida em 1 hora ou menos com uma injeção intravenosa de vitamina A. Estimulação do bastonete quando a rodopsina é ativada pela luz No escuro (na ausência de fotoestimulação), as membranas dos segmentos externos dos bastonetes são “permeáveis” ao sódio; ou seja, os íons sódio entram no segmento externo e alteram o seu potencial de membrana a partir de um nível basal de −70 a −80 milivolts, observado nos receptores sensoriais, para um valor mais positivo de −40 milivolts. Isso é conhecido como uma corrente de sódio ou “corrente escura”; isso faz com que uma pequena quantidade de transmissor seja liberada no escuro. Quando a luz atinge o segmento externo dos bastonetes, as moléculas de rodopsina acionam uma série de reações descritas anteriormente, diminuindo a condutância do sódio no segmento externo e reduzindo a corrente escura. Alguns íons sódio continuam a ser bombeados para fora, através da membrana da célula; essa perda de íons positivos faz com que o interior se torne hiperpolarizado. O fluxo de transmissor é, então, interrompido. Quando a luz atinge um fotorreceptor, a hiperpolarização transitória dos bastonetes atinge um pico em aproximadamente 0,3 segundo e que dura mais de 1 segundo. A rodopsina ativada (metarrodopsina II) atua como uma enzima para ativar muitas moléculas de transducina, uma proteína que é encontrada também na membrana do segmento externo do disco. O transducina ativada, por sua vez, ativa a fosfodiesterase, uma enzima que imediatamente hidrolisa muitas moléculas de monofosfato de guanosina cíclico (GMPc). A perda de GMPc resulta no fechamento de muitos canais de sódio, que é acompanhado por um potencial de membrana cada vez mais negativo (hiperpolarizado). Em aproximadamente 1 segundo, a metarrodopsina II é inativada e toda a cascata se inverte: o potencial de membrana se torna mais despolarizado à medida que os canais de sódio são reabertos e o sódio mais uma vez entra no segmento externo conforme a corrente escura é restabelecida. Os cones são fotorreceptores que se comportam de forma semelhante, mas o fator de amplificação é 30 a 300 vezes menor do que o dos bastonetes. Fotoquímica da visão em cores pelos bastonetes O processo de transdução fotoquímica dos cones envolve uma opsina e um retinal. Nos cones, a opsina é chamada fotopsina, que tem uma composição química diferente daquela da rodopsina, enquanto o componente retinal é exatamente o mesmo observado nos bastonetes. Existem três tipos de cone, cada um deles caracterizado por um fotopsina diferente, que é maximamente sensível a um determinado comprimento de onda da luz, seja azul, verde ou vermelho do espectro luminoso. Adaptação à luz e à escuridão Se eles forem expostos à luz brilhante durante alguns minutos, grandes proporções de substânciasfotoquímicas dos bastonetes e dos cones ficarão esgotadas e grande parte do retinal será convertida em vitamina A; essa ação reduz a sensibilidade global à luz (um processo chamado adaptação à luz). Por outro lado, quando uma pessoa permanece no escuro durante vários minutos, a opsina e o retinal são convertidos de volta em pigmentos sensíveis à luz. Além disso, a vitamina A é convertida em retinal, proporcionando ainda mais fotopigmentos sensíveis (um processo chamado adaptação ao escuro). Este último processo ocorre cerca de quatro vezes mais rapidamente nos cones do que nos bastonetes, mas os cones exibem menor sensibilidade no escuro. A adaptação dos cones cessa depois de apenas alguns minutos, ao passo que os bastonetes se adaptam mais lentamente e continuam a se adaptar por minutos a horas e a sua sensibilidade aumenta em uma faixa ampla. A adaptação também pode ocorrer por meio de alterações no tamanho da pupila; VISÃO EM CORES Mecanismo tricomático de detecção da cor A sensibilidade espectral dos três tipos de cone é baseada nas curvas de absorção da luz para os três pigmentos do cone. Todas as cores visíveis (exceto azul, verde, ou vermelho) é o resultado da estimulação combinada de dois ou mais tipos de cones. O sistema nervoso então interpreta a relação dos três tipos como uma cor. A estimulação igual de cones azuis, verdes e vermelhos é interpretada como luz branca. Quando um determinado tipo de cone está ausente na retina, algumas cores não podem ser distinguidas de outras. Um indivíduo que não possui cones vermelhos sofre de protanopsia. FUNÇÃO NEURAL DA RETINA Circuitos neurais da retina • Os fotorreceptores (cones e bastonetes) transmitem sinais para a camada plexiforme externa, onde fazem sinapses com as células bipolares e as células horizontais. • As células horizontais transmitem sinais horizontalmente dos bastonetes e dos cones para as células bipolares. • As células bipolares transmitem sinais verticalmente dos bastonetes, cones e células horizontais para a camada plexiforme interna, onde fazem sinapses com células ganglionares e células amácrinas. • As células amácrinas transmitem sinais em duas direções: diretamente, das células bipolares para as células ganglionares e, horizontalmente, do interior da camada plexiforme interna para outras células amácrinas. • As células ganglionares transmitem sinais da retina, através do nervo óptico, para o cérebro. Na fóvea, os sinais de um cone passam através de uma célula bipolar e, em seguida, para uma célula ganglionar. O sinal é alterado por células horizontais, que transmitem sinais inibitórios lateralmente na camada plexiforme externa, e por células amácrinas, que transmitem sinais lateralmente na camada plexiforme interna. Mais perifericamente na retina, onde os bastonetes são mais abundantes, a entrada de sinais de vários fotorreceptores pode convergir sobre um único neurônio bipolar, que pode ter uma única saída para uma célula amácrina que, então, projeta o sinal para uma célula ganglionar. Isso representa a via visual pura dos cones. As células horizontais e amácrinas podem fornecer conectividade lateral. Os neurotransmissores presentes na retina incluem o glutamato (utilizado por cones e bastonetes) e o ácido γ-aminobutírico (GABA), a glicina, a dopamina, a acetilcolina e as indolaminas (utilizados pelas células amácrinas). A célula ganglionar é o único neurónio da retina capaz de gerar um potencial de ação, o que garante que os sinais na retina reflitam com precisão a intensidade da iluminação e confere aos neurônios da retina maior flexibilidade nas suas características de resposta. A inibição lateral para melhorar o contraste visual – função das células horizontais. Os processos das células horizontais se ligam lateralmente com os terminais sinápticos dos fotorreceptores e com dendritos das células bipolares. Os fotorreceptores que se encontram no centro de um feixe de luz são maximamente estimulados, enquanto aqueles na periferia são inativados pelas células horizontais, sendo, eles mesmos, ativados pelo feixe de luz. Dizem que a periferia é inibida, enquanto o centro de região é excitado, constituindo, assim, a base para o aprimoramento do contraste visual. As células amácrinas também podem contribuir para o aprimoramento do contraste por meio de suas projeções laterais na camada plexiforme interna. Curiosamente, enquanto as células horizontais podem ter axônios, as células amácrinas não podem e, portanto, as suas propriedades fisiológicas são altamente complexas. Existem dois tipos de células bipolares Algumas células bipolares despolarizam quando os cones e bastonetes associados são estimulados pela luz, enquanto outras hiperpolarizam. Assim, metade das células bipolares pode transmitir sinais inibidores, enquanto a outra metade pode transmitir sinais excitatórios; esse fenômeno pode fornecer um segundo mecanismo para a inibição lateral. Células amácrinas e suas funções Algumas células amácrinas respondem vigorosamente ao aparecimento de um estímulo visual, outras ao desaparecimento, e ainda outras a ambos os estímulos. Outro tipo responde apenas a um estímulo de movimento. Assim, as células amácrinas auxiliam a analisar os sinais visuais antes que eles saiam da retina. Células ganglionares e fibras do nervo óptico Existem três tipos de células ganglionares, designadas por células W, X e Y. • W (40%): têm um corpo com diâmetro de 10 micrômetros e transmitem potenciais de ação com uma velocidade de 8 m/s. Essas células recebem a maior parte de suas entradas dos bastonetes (via células bipolares e amácrinas) e apresentam um campo dendrítico relativamente amplo. As células ganglionares do tipo W parecem ser especialmente sensíveis ao movimento do campo visual e provavelmente são responsáveis pela visão pouco definida dos bastonetes em condições de escuridão. • X (55%): têm um corpo com diâmetro de 10 a 15 micrômetros e conduzem potenciais de ação com velocidade de aproximadamente 14 m/s. Essas células exibem campos dendríticos relativamente pequenos e, portanto, representam locais discretos no campo visual. Cada célula X recebe a entrada de pelo menos um cone e, portanto, provavelmente, esse tipo de célula é responsável pela visão em cores. • Y (5%): têm diâmetros de até 35 micrômetros e conduzem a velocidades de aproximadamente 50 m/s; a sua propagação dendrítica é ampla. Elas respondem rapidamente às alterações na intensidade ou no movimento em qualquer parte do campo visual, mas não com precisão. Acredita-se que elas se agrupem de forma apropriada para fazer os olhos se moverem em direção a estímulos visuais emocionantes. Excitação das células ganglionares Os axônios das células ganglionares formam as fibras do nervo óptico. Muitas células ganglionares são particularmente sensíveis às alterações na intensidade da luz. Algumas células respondem com aumento do disparo quando a intensidade da luz aumenta, ao passo que outras aumentam seus disparos quando a intensidade da luz diminui. Esses efeitos se devem à presença de células bipolares despolarizantes e hiperpolarizantes. A capacidade de resposta à flutuação da intensidade luminosa é bem desenvolvida igualmente nas regiões periféricas e na fóvea da retina. Transmissão de sinais de cores pelas células ganglionares Algumas células ganglionares são estimuladas por todos os três tipos de cones. Acredita-se que as células ganglionares sinalizem a luz “branca”. No entanto, a maioria das células ganglionares é estimulada pela luz de determinado comprimento de onda e inibida por outra. Por exemplo, a luz vermelha pode excitar e a verde inibir determinada célula ganglionar; isso é chamado mecanismo de oponência de cor e acredita-se que esse processo seja utilizado para diferenciar as cores.Como o substrato para esse processo está presente na retina, o reconhecimento e a percepção de cores pode realmente começar na retina no nível do elemento receptivo sensorial primário.