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PESQUISAS QUALITATIVAS E QUANTITATIVAS
Francisca Antonia Soares Araújo¹
Ana Luiza Gomes de Oliveira²
	
 Os estudos qualitativos começaram a aparecer no cenário da investigação social a partir da segunda metade do século XIX. O estudo sociológico de Frédéric Le Play (1806-1882) Les ouvriers européens, publicado em 1855, sobre as famílias das classes trabalhadoras da Europa, pode ser citado como uma das primeiras pesquisas a usar a observação direta da realidade. A partir dos dados coletados em inúmeras viagens que realizou pela Europa, Le Play desenvolveu uma série de monografias de famílias típicas da classe trabalhadora, identificadas entre pessoas que exerciam determinadas ocupações. Do ponto de vista metodológico, ele inovou ao desenvolver um estudo comparativo dessas monografias.
A primeira obra sobre os aspectos metodológicos do que hoje denominamos “abordagem qualitativa" parece ter surgido com os Webbs. Sidney (1859-1947) e Beatrice (1858-1943). Sendo que, Webb contribuiu muito para o desenvolvimento da sociologia inglesa. Estes autores, desenvolveram uma grande quantidade de estudos sociais e políticos e, constantemente, estavam envolvidos em atividades de caráter público. Descreveram sua técnica de investigação social numa obra denominada Methods of social investigation, publicada em 1932. A produção dos Webbs apoiava-se fundamentalmente na descrição e análise das instituições e não em uma teoria estabelecida a priori. Valorizavam as entrevistas, os documentos e as observações pessoais.
O período compreendido entre os anos 30 e 60 foi marcado por um declínio na produção de trabalhos de caráter qualitativo. Mas, do ponto de vista metodológico e conceitual, a Escola de Chicago trouxe importantes contribuições. Foi neste período, no ano de 1937,que Herbert Blumer cunhou o termo "interacionismo simbólico" para essa escola do pensamento sociológico, marcada por algumas características essenciais.
Nos anos 60, podemos sentir a incorporação da pesquisa qualitativa em outras áreas além da sociologia e antropologia. O aumento do interesse pela abordagem qualitativa também pode ser observado com o aparecimento de publicações (livros, artigos e revistas) voltadas para a teoria e a metodologia que dão sustentação a esse tipo de estudo.
Ainda nesta década é possível detectar que, embora os debates metodológicos entre "pesquisa quantitativa versus qualitativa" continuem, a tensão entre os representantes desses dois grupos diminui e um diálogo começa a acontecer. Alguns pesquisadores proeminentes nos círculos quantitativos, como D. Campbell e L. Cronbach, começam a valorizar essa possibilidade de se fazer pesquisa em ciências sociais e advogar seu uso.
Apesar dessas diferenças, esses estudos apresentam características básicas que, em maior ou menor grau, devem estar presentes nas pesquisas que se intitulam "qualitativas".
De acordo com Goldenberg (1997), “ A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc”.
 Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. 
Assim, os pesquisadores qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa (GOLDENBERG, 1997).
A pesquisa qualitativa preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais. 
A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Aplicada inicialmente em estudos de Antropologia e Sociologia, como contraponto à pesquisa quantitativa dominante, tem alargado seu campo de atuação a áreas como a Psicologia e a Educação. A pesquisa qualitativa é criticada por seu empirismo, pela subjetividade e pelo envolvimento emocional do pesquisador (MINAYO, 2001, p. 14).
As características da pesquisa qualitativa são: objetivação do fenômeno; hierarquização das ações de descrever, compreender, explicar, precisão das relações entre o global e o local em determinado fenômeno; observância das diferenças entre o mundo social e o mundo natural; respeito ao caráter interativo entre os objetivos buscados pelos investigadores, suas orientações teóricas e seus dados empíricos; busca de resultados os mais fidedignos possíveis; oposição ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências (GERHARDT, 2009).
	A pesquisa quantitativa adota estratégia sistemática, objetiva e rigorosa para gerar e refinar o conhecimento. Através de, por exemplo, desenhos experimentais nos quais normalmente usam designação aleatória, manipulação de uma variável independente e controles rígidos (BURNS; GROVE, 2005).
Diante desta breve definição, observamos o desenvolvimento desta metodologia na pesquisa científica ao longo dos anos.
A pesquisa quantitativa, que tem suas raízes no pensamento positivista lógico, tende a enfatizar o raciocínio dedutivo, as regras da lógica e os atributos mensuráveis da experiência humana. Por outro lado, a pesquisa qualitativa tende a salientar os aspectos dinâmicos, holísticos e individuais da experiência humana, para apreender a totalidade no contexto daqueles que estão vivenciando o fenômeno (POLIT et al., 2004, p. 201).
Diferente da pesquisa qualitativa, os resultados da pesquisa quantitativa podem ser quantificados. Como as amostras geralmente são grandes e consideradas representativas da população, os resultados são tomados como retrato real de toda a população alvo da pesquisa. A pesquisa quantitativa se centra na objetividade. Influenciada pelo positivismo, considera que a realidade só pode ser compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros. A pesquisa quantitativa recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno, as relações entre variáveis, etc. A utilização conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa permite recolher mais informações do que se poderia conseguir isoladamente (FONSECA, 2002, p. 201). 
Quadro 1: comparação entre o método quantitativo e o método qualitativo.
	Pesquisa Quantitativa
	Pesquisa Qualitativa
	Focaliza uma quantidade pequena de conceitos Utiliza procedimentos estruturados e instrumentos formais para coleta de dados 
	Tenta compreender a totalidade do fenômeno, mais do que focalizar conceitos específicos
	Inicia com ideias preconcebidas do modo pelo qual os conceitos estão relacionados
	Possui poucas ideias preconcebidas e salienta a importância das interpretações dos eventos mais do que a interpretação do pesquisador
	Utiliza procedimentos estruturados e instrumentos formais para coleta de dados
	Coleta dados sem instrumentos formais e estruturados
	Coleta os dados mediante condições de controle 
	Não tenta controlar o contexto da pesquisa, e, sim, captar o contexto na totalidade
	Enfatiza a objetividade, na coleta e análise dos dados
	Enfatiza o subjetivo como meio de compreender e interpretar as experiências
	Analisa os dados numéricos através de procedimentos estatísticos
	Analisa as informações narradas de uma forma organizada, mas intuitiva
Fonte: Elaborado a partir de: POLIT; BECK; HUNGLER, 2004.
Assim, como visto até aqui, tanto a pesquisa quantitativa quanto a pesquisa qualitativa apresentam diferenças com pontos fracos e fortes. Contudo, os elementos fortes de um complementam as fraquezas do outro, fundamentais ao maior desenvolvimento da Ciência.
Ao revisar a literatura sobrea pesquisa qualitativa, o que chama atenção imediata é o fato de que, freqüentemente, a pesquisa qualitativa não está sendo definida por si só, mas em contraponto a pesquisa quantitativa. Apresentaremos alguns destes contrastes e comparações. Para organizar as diferenças e similaridades entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa, consideramos: a) características da pesquisa qualitativa; b) postura do pesquisador; c) estratégias de coleta de dados; d) estudo de caso; e) papel do sujeito e f) aplicabilidade e uso dos resultados da pesquisa.
REFERÊNCIAS
BURNS N, GROVE SK. A prática da pesquisa: conduta, crítica e utilização. 5th ed. St Louis: Elsevier; 2005.
FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.
GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo (organizadoras). Métodos de Pesquisa. 1ª Ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro: Record, 1997
MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001.
POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação e utilização. Trad. de Ana Thorell. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
1 Nome do acadêmico(a)
2 Nome do Professor(a) tutor externo
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Pedagogia (FLX0825) – Seminário Interdisciplinar I – 19/08/2019

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