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Mais um fracasso: Ensaio crítico acerca as teorias da pena e efetividade de sua função ressocializadora no Brasil.


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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIDOMBOSCO 
YAGO RADIUC 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MAIS UM FRACASSO: ENSAIO CRÍTICO ACERCA AS TEORIAS DA PENA E A 
EFETIVIDADE DE SUA FUNÇÃO RESSOCIALIZADORA NO BRASIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2019 
YAGO RADIUC 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MAIS UM FRACASSO: ENSAIO CRÍTICO ACERCA AS TEORIAS DA PENA E A 
EFETIVIDADE DE SUA FUNÇÃO RESSOCIALIZADORA NO BRASIL 
 
Monografia apresentada no curso de Graduação 
em Direito, do Centro Universitário UniDomBosco 
(UNIDBSCO), como requisito parcial para à 
obtenção do grau de Bacharel em Direito. 
 
Prof.º Orientador: Guilherme Rodolfo Rittel 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Sua Majestade Imperial Dom Pedro II – 
Imperador do Brazil – Tributo em memória 
sobre respeito e veneração. 
AGRADECIMENTOS 
 
Antes de mais nada, quero esclarecer que não me faltam pessoas para 
agradecer, muito pelo contrário, existem muitas pessoas que me apoiaram e fizeram 
parte da minha trajetória acadêmica nestes últimos anos e tiveram um grande 
impacto na minha formação como pessoa, porém, será simplesmente impossível 
agradecer a todos estes nobres colegas de profissão que a vida me deu neste 
pequeno espaço de papel, mas fica aqui este reconhecimento a vocês. 
Com toda gratidão do universo, venho agradecer aos meus antepassados 
que se dedicaram e construíram seu legado com base em seus valores e princípios, 
onde através de muita luta e perseverança, conseguiram abrir os caminhos para que 
atualmente eu esteja frequentando um curso superior em Direito. 
Não obstante, aos meus familiares mais próximos que vivenciaram de perto 
esta minha trajetória, muito obrigado por serem meus alicerces nesta vida de 
aprendizados diários, onde posso afirmar que sem vocês eu jamais concluiria este 
objetivo de estar me graduando como bacharel em Direito. 
Uma vida resumida em muito amor e admiração a minha queridíssima mãe 
Joana e ao meu honorável pai Alexandre, por todo carinho, paciência e suporte 
durante toda minha criação, onde sempre me transmitiram os melhores valores e 
qualidades pelos quais sou extremamente grato; aos meus avós paternos Maria e 
Paulo, por todo amor que me deram desde minha infância até os dias de hoje, por 
serem sempre um exemplo a ser seguido no tocante a caráter, ética e honestidade, 
muito obrigado. 
A minha atual companheira Ingrid, por sempre se mostrar paciente nos 
momentos mais complicados e sem sentidos. Sou extremamente feliz por ter você 
em minha vida e por você se mostrar a cada dia, mais destinada a me transmitir 
amor, paz e felicidade. 
Um ponto extremamente importante, um grande agradecimento a todos 
nobres professores e professoras, que despenderam seu tempo, conhecimento, 
sabedoria e paciência desde meu início nesta jornada estudantil, pois através destas 
contribuições pude guiar meu caminho na busca da tão desejada sabedoria, com 
toda certeza vocês merecem todos os créditos por isso. 
Um grande agradecimento ao Professor Guilherme Rodolfo Rittel, por toda 
atenção e orientação despendida sobre a criação, desenvolvimento e 
aprimoramento deste trabalho acadêmico. Isso se dá muito pelo fato de se tornar 
meu guia nesta jornada e superação diária para a conclusão e obtenção da minha 
devida e tão importante maturidade acadêmica através da conclusão deste trabalho 
de pesquisa, muito obrigado professor, toda gratidão do universo ao senhor. 
E por fim e não menos importante, a Ayahuasca, que me orienta e me 
protege frente ao desconhecido, que guia minha busca ao autoconhecimento, que 
me fornece o caminho a ser trilhado para a cura espiritual, que me mostra que 
somos todos um e estamos todos interligados indiretamente. A ti, que, com 
paciência e compaixão, mostrou que minhas possibilidades são infinitas, 
independente do caminho a ser trilhado, dependendo apenas do discernimento em 
minhas atitudes. 
Por lembrar-me acerca de nossa importância nesta vida, do meu propósito, 
do resgate da minha essência, por me lembrar da importância das escolhas e o 
efeito gerado através delas na vida das pessoas que nos rodeiam, sou 
extremamente grato por toda esta jornada sensacional, que se tornou um divisor de 
águas em minha humilde existência. 
Que eu seja um eterno e efetivo instrumento para transmitir sua luz. A ti 
sagrada medicina da floresta, meu mais profundo e eterno agradecimento. 
 
Ahô grande espírito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Não acredite em nada que você lê (ou 
ouve). 
Tire suas próprias conclusões. 
Ninguém é dono da verdade.” 
Escritor anônimo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Mas, se, ao sustentar os direitos do 
gênero humano e da verdade invencível, 
contribui para salvar da morte atroz de 
algumas trêmulas vítimas da tirania ou da 
ignorância, igualmente funesta, as 
bênçãos e as lágrimas de um único 
inocente reconduzido aos sentimentos da 
alegria e da felicidade consolar-me-iam do 
desprezo do resto dos homens.” 
Cessare Beccaria 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Deus olhai o meu povo, da periferia 
É tanta gente triste, nessa cidade 
É tanta desigualdade, desse outro lado da 
cidade 
Mas eu tenho fé, eu tenho fé eu acredito 
em Deus 
Olhai, por esses filhos teus 
Senhor. 
Ó pai senhor olhai o meu povo sofrido, 
da Periferia.” 
Ndee Naldinho 
RESUMO 
 
Este trabalho acadêmico chega em um momento muito complexo socialmente e na 
contramão da opinião de grande parte da população brasileira, onde marginalizam a 
importância da questão penitenciária, desejando que a atual situação dos 
prisioneiros se torne ainda pior, no sentido amplo de aumento do sofrimento dos 
reclusos, que rotineiramente são abastados de seus Direitos garantidos 
constitucionalmente. Desta forma fica claro que eles vêm sendo (des)tratados na 
sua qualidade de ser humano, como no século passado, evidentemente um 
retrocesso social e penal. Aliás, através deste tipo de posicionamento do governo 
em não realizar políticas públicas voltadas para a ressocialização do infrator, 
reforçar a garantia de direitos fundamentais, obtêm-se cada vez mais a repercussão 
de casos na mídia nacional e internacional sobre o estado de calamidade presentes 
nas instituições prisionais. Diante deste caos no sistema prisional, em confronto aos 
direitos e garantias constitucionais de ressocialização do infrator, buscou-se através 
deste trabalho acadêmico demonstrar essa distopia social afeta a sociedade e o 
desenvolvimento de uma forma cíclica. Com presente estudo, visa-se identificar os 
maiores problemas na matéria de aplicação do instituto da pena e a sua busca 
fracassada pelo viés ressocializador, algo bem contraditório, porém não menos 
importante para o desenvolvimento nacional, diante os altos e alarmantes índices de 
criminalidade na sociedade brasileira. 
 
Palavras-chave: Teorias das penas, história, pena, medidas de segurança, direito 
penal. 
ABSTRACT 
 
This academic work comes at a very complex social time in Brazil and contrary to the 
opinion of the biggest part of the brazilian population, where they marginalize the 
importance of the penitentiary issue, wishing that the current situation of the 
prisonersbecome even worse, in the broad sense of increasing suffering of the 
prisoners. Prisoners, who routinely suffers with their forgotten constitutionally 
guaranteed rights. In this way it is clear that they have been (un) treated in their 
capacity as human beings, as in the last century, evidently a social and criminal 
setback. By the way, through this kind of governmental positioning in not carrying out 
public policies aimed at the resocialization of the offender, to reinforce the guarantee 
of fundamental rights, the repercussion of cases in the national and international 
media on the state of calamity present in the institutions. Faced with this chaos in the 
prison system, in opposition to the constitutional rights and guarantees of the 
offender's re-socialization, it was sought through this academic work to demonstrate 
that social dystopia affects society and development in a cyclical way. The present 
study aims to identify the major problems in the application of the pen and its search 
failed by the resocializing bias, something very contradictory, but not less important 
for national development, given the high and alarming crime rates in brazilian society. 
 
Key words: Theories of punishment, history, punishment, security measures, 
criminal law. 
 
RESÚMEN 
 
Este trabajo académico llega em un momento muy complejo socialmente y en contra 
de la opinión de gran parte de la población brasileña, donde marginan la importancia 
de la cuestión penitenciaria, deseando que la actual situación de los prisioneros se 
vuelva aún peor, em el sentido amplio de aumento del sufrimiento reclusos, que 
rutinariamente son acomodados de sus derechos garantizados constitucionalmente. 
De esta forma, se queda claro que los mismos vienen siendo tratados em su calidad 
de ser humano, como em el siglo pasado, evidentemente um retroceso social y 
penal. Por otra parte, a través de este tipo de posicionamiento Del gobierno en no 
realizar políticas públicas dirigidas a la resocialización del infractor, reforzar la 
garantía de derechos fundamentales, se obtienen cada vez más La repercusión de 
casos em los médios nacionales e internacionales sobre el estado de calamidad 
presentes em instituciones penitentes. Ante este caos en el sistema penitenciario, en 
confrontación a los derechos y garantías constitucionales de resocialización del 
infractor, se buscó a través de este trabajo académico demostrar esa distopía social 
afecta directamente la sociedad y el desarrollo de una forma cíclica. Con este 
estudio, se pretende identificar los mayores problemas en la materia de aplicación 
del instituto de la pena y su busqueda fracasada por el sesgo resocializador, algo 
bien contradictorio, pero no menos importante para el desarrollo nacional, ante los 
altos y alarmantes índices de criminalidade en la sociedade brasileña. 
 
Palabras clave:Teorías de las penas, historia, pena, medidas de seguridad, derecho 
penal. 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
a.C – Antes de Cristo 
Art. - Artigo 
CPB – Código penal brasileiro 
CF – Constituição federal 
d.C – Depois de Cristo 
Inc. - Inciso 
LEP – Lei de execução penal 
PU – Parágrafo único 
SMI – Sua Majestade Imperial 
STF – Supremo Tribunal Federal 
STJ – Supremo Tribunal de Justiça 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 
 
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SANÇÃO PENAL .................................................. 18 
2.1. NOÇÕES INICIAIS ............................................................................................. 18 
2.2. BREVE HISTÓRICO DA SANÇÃO PENAL ........................................................ 18 
2.3. VINGANÇA DIVINA ............................................................................................ 20 
2.4. VINGANÇA PRIVADA ........................................................................................ 21 
2.5. VINGANÇA PÚBLICA ........................................................................................ 23 
2.6. PERÍODO HUMANITÁRIO ................................................................................. 25 
 
3. DAS SANÇÕES PENAIS ...................................................................................... 28 
3.1. CONCEITO ........................................................................................................ 28 
3.2. MODALIDADES ................................................................................................. 29 
3.2.1. Medidas de segurança .................................................................................... 30 
3.2.2. Pena ................................................................................................................ 42 
 
4. DAS TEORIAS DA PENA .................................................................................... 61 
4.1. TEORIA ABSOLUTA / RETRIBUTIVA .............................................................. 62 
4.2. TEORIA RELATIVA / UTILITÁRIA .................................................................... 66 
4.2.1. Prevenção Geral ............................................................................................. 68 
4.2.1.1 – Prevenção geral negativa .......................................................................... 69 
4.2.1.2. Prevenção geral positiva .............................................................................. 70 
4.2.1.2.1. Prevenção geral positiva fundamentadora ............................................... 71 
4.2.1.2.2. Prevenção geral positiva limitadora .......................................................... 72 
4.2.1.2.3. Prevenção Especial ................................................................................... 72 
4.3 – TEORIA MISTA / UNIFICADORA .................................................................... 73 
 
5. CRÍTICA ÀS FUNÇÕES DAS PENAS.................................................................. 76 
5.1. DAS TEORIAS DAS PENAS ............................................................................. 77 
5.1.1. Teoria absoluta/retributiva ............................................................................... 77 
5.1.2. Teoria relativa/preventiva ............................................................................... 78 
5.1.2.1. Prevenção geral negativa ............................................................................ 78 
5.1.2.2. Prevenção geral positiva .............................................................................. 79 
5.1.2.3 Prevenção especial ....................................................................................... 80 
5.1.3. Teoria mista ..................................................................................................... 81 
5.2. DA TEORIA AGNÓSTICA / NEGATIVA ............................................................. 82 
5.3. DA TEORIA MATERIALISTA / DIALÉTICA ........................................................ 84 
 
6. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 87 
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 89 
15 
1. INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho monográfico tem como objetivo demonstrar a origem da 
ineficácia da ressocialização carcerária no estado brasileiro, o qual será buscado através 
de sua contextualização doutrinária com análise das teorias da pena e sua aplicabilidade 
histórica. 
Nos dias atuais, deve-se reforçar a importância desta temática para sociedade 
brasileira, levando como ponto de partida a opinião do cidadão médio brasileiro acerca 
assuntos pontuais e em discussão em todo o mundo civilizado (aborto, regulamentação 
uso recreativo de drogas, diminuição maioridade penal, imigração), ondea opinião de 
grande parte da população brasileira demonstra-se extremamente ultrapassada e 
preconceituosa, transmitindo um emanado retrocesso social em comparação a 
sociedades desenvolvidas. 
Diante disto, o jornalista CARVALHO1 expõe no jornal Estadão: 
 
Seis em cada dez brasileiros disseram concordar com o teor da frase “bandido 
bom é bandido morto”, segundo pesquisa Datafolha feita a pedido do Fórum 
Brasileiro de Segurança Pública e divulgada nesta quarta-feira, 2 de novembro de 
2016. O estudo analisou a percepção popular sobre temas na área da violência e 
entrevistou 3.625 pessoas em 217 cidades de todas as regiões do País, entre 1 e 
5 de agosto.A crença na sentença é maior entre os mais velhos. Entre 
entrevistados de 60 anos ou mais, a concordância subiu para 61%, enquanto que 
entre mais jovens, de 16 a 24, a frase é verdadeira para 54%. 
 
Em tempos de meias verdades sob os anseios da população em se livrar do 
campo de visão dos indivíduos delinquentes, a única efetiva opção cabível é isolá-los da 
sociedade para que se pague (no sentido estrito de retribuição da pena) ao quadro social 
por seus atos cometidos, este tipo de atitude reforça a ideia da aplicação da sanção 
baseada em seu sentido clássico do olho por olho, dente por dente, profanando o real 
significado de justiça. No Brasil, esta atitude gera aplicação de atos punitivos totalmente 
desproporcionais e arbitrários, ferindo diretamente diversos princípios constitucionais e 
humanistas da pena. 
A reportagem recente de MACEDO2 esclarece: 
 
1CARVALHO, Marco Antônio. Pesquisa mostra que 6 em 10 brasileiros acham que “bandido bom é bandido 
morto.” Estadão. 02 de novembro de 2016. 
Disponível em: <https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,pesquisa-mostra-que-6-em-10-brasileiros-
acham-que-bandido-bom-e-bandido-morto,10000086016> Acesso em 17 de junho de 2019. 
2MACEDO, Fausto. STJ solta homem preso sem julgamento há mais de quatro anos. Blog Estadão. 09 de 
junho de 2019. Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/stj-solta-homem-preso 
16 
 
Os ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça revogaram a ordem 
de prisão preventiva de um homem acusado de homicídio que, mesmo sem 
julgamento, vinha sendo privado da liberdade desde novembro de 2014. Apesar 
da ‘alegada complexidade do caso’, o colegiado entendeu que não há justificativa 
plausível para manter a prisão preventiva ‘diante da excessiva demora 
processual’. As informações foram divulgadas pelo STJ – HC 440846. 
 
Através da aplicação deste tipo de arbitrariedades, fecham-se os olhos para as 
maiores atrocidades presentes na sociedade moderna; desde a exposição a doenças 
infectocontagiosas, a tortura diária nos ambientes em deterioração, expondo um grande 
retrocesso penal ao período das vinganças penais. Diante todo esse descaso, o infrator 
retorna a vida em sociedade em uma condição ainda pior do que anteriormente, 
continuamente isolado ao exercício de sua cidadania. Evidencia-se um direito penal 
seletivo quanto a seus interesses práticos, efetivados através de políticas públicas 
deturpadas, leis confusas, falta de interesse e a marginalização acerca um assunto tão 
importante. 
 RIBEIRO e FREIRE3 complementam: 
 
O detento tem hoje rosto, cor e classe social – qualidades que são tomadas como 
respaldo no momento de se fazer “vista grossa” diante do contexto de violação de 
direitos humanos, visualizado diariamente quando da aplicação da pena restritiva 
de liberdade. 
 
 Diante a exposição destes fatos, o objetivo geral desta pesquisa acadêmica se 
torna a busca por evidenciar através da base doutrinária e da legislação, a principal 
consequência para o fracasso do sistema prisional, além do ponto de mudança para a 
superação desta atual situação no sistema carcerário. 
 Já o objetivo específico, é estimular o debate ante a relação de descaso acerca o 
retrocesso em vigor no âmbito prisional. Com isto, será exposto em ordem 
histórica/cronológica através do viés doutrinário acerca dos mecanismos existentes da 
sanção penal e sua evolução gradual até os dias atuais; para assim estabelecer seu 
padrão evolutivo e seu respectivo caráter sancionador nos distintos períodos históricos. 
Em ato contínuo, a estrutura de pesquisa desempenhada é discorrida e dividida 
através de VI capítulos: sendo inicialmente abordado no segundo capítulo acerca a 
 
-sem-julgamento-ha-mais-de-quatro-anos/> Acesso em 16 de junho de 2019. 
3RIBEIRO, Gabrielle Carvalho. FREIRE, Mariana Belchior Ribeiro. Funções da pena: Paradoxos fáticos da 
teoria preventiva. Revista Direito e Liberdade, Natal – RN, v. 13, n. 2. Pag. 147-170, 2011, p. 151. 
17 
origem e evolução histórica das sanções penais, pela ordem consagrada através da parte 
majoritária da doutrina. Existe ainda a explanação quanto as espécies de vinganças 
penais e suas transições chegando ao período humanitário. Já no terceiro capítulo, 
aborda-se uma introdução histórica até o momento atual de conceituação e firmamento 
legislativo das sanções penais no ordenamento jurídico brasileiro; sendo elas as medidas 
de segurança e a pena. Oportunamente no quarto capítulo, aborda-se a temática central 
deste trabalho acadêmico, voltado às teorias da pena, com um adendo especial para a 
conceituação individual de cada uma das teorias (teoria absoluta, teoria relativa e a teoria 
mista), desta forma, realizando a vinculação com o respectivo período histórico em que 
vigoraram. De modo geral no quinto capítulo, faz-se um apanhado geral acerca as críticas 
doutrinárias recebidas por parte das teorias da pena, acrescentando ao final acerca a 
teoria agnóstica e a teoria materialista. Por fim, o sexto e último capítulo aborda a 
conclusão e o parecer do autor sobre a presente situação doutrinária e legislativa da 
temática.
18 
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SANÇÃO PENAL 
 
2.1. NOÇÕES INICIAIS 
 
Desde os tempos remotos e ainda primitivos do ponto de partida evolutivo da 
civilização, discute-se acerca a principal forma de controle social, até mesmo, nestas 
remotas agrupações iniciais. De modo que a pena surge como sanção a quem infringe 
regras preestabelecidas pelo bem e preservação da coletividade. 
BARRETO4 especifica: 
 
Onde quer que um povo, pelo caminho do desenvolvimento social, tenha deixado 
atrás de si todas as fases de organização pré-política, domina o princípio de que 
certas condições da vida comum devem ser asseguradas contra a rebeldia da 
vontade individual; e o meio de segurança é pena. 
 
Partindo desta época, através de debates aprimoram-se relevantes pontos de 
fundamentação dos institutos sociais e de novos paradigmas. Em face disso, atualmente 
existem incontáveis trabalhos acadêmicos que dissertam sobre esta temática tão 
polêmica. Para se atingir uma compreensão mais incisiva sobre este conteúdo quanto sua 
aplicabilidade e eficácia, obrigatoriamente se faz necessária uma instrução mais profunda 
no que tange a cada fase evolutiva que compõe os respectivos períodos históricos da 
civilização, presentes na parte majoritária das doutrinas. 
Desta maneira, começa-se este estudo com a explanação de um conciso histórico 
das sanções penais com a conceituação e elucidação de suas respectivas peculiaridades, 
como: as classificações, as funcionalidades e sua forma de aplicabilidade em seu alusivo 
período de aplicação. 
 
2.2. BREVE HISTÓRICO DA SANÇÃO PENAL 
 
A sanção penal surge em tempos ainda remotos e primitivos da história da 
civilização, em conjunto com a história do Direito em si. Neste sentido, se tornando tão 
antiga quanto à própria história da humanidade.4BARRETO, Tobias. Estudos de Direito. Rio de Janeiro: Laemmert, 1892. (Publicação póstuma dirigida por 
Sylvio Romero), p. 48. 
19 
BITENCOURT5 salienta: 
 
A origem da pena é muito remota, perdendo-se na noite dos tempos, sendo tão 
antiga quanto a história da humanidade. Por isso mesmo é muito difícil situá-la em 
suas origens. Quem quer que se proponha a aprofundar-se na história da pena 
corre o risco de equivocar-se a cada passo, diante das contradições que se 
apresentam e são dificilmente evitadas, uma vez que o campo encontra-se cheio 
de espinhos. 
 
Nesta linha, a pena surge como uma ação de defesa da coletividade sendo 
aplicada uma sanção em resposta ao infrator das normas preestabelecidas por 
determinada tribo, família, clã ou bando. Porém, de forma oportuna, cabe salientar a 
incapacidade de ser tomado um ponto histórico inicial e afirmar que a partir dali se iniciou 
a aplicação de sanções penais nas sociedades primitivas. De igual forma, NORONHA6 
enfatiza, “a pena, em sua origem, nada mais foi que vindita7, pois é mais que 
compreensível que naquela criatura, dominada pelos instintos, o revide à agressão sofrida 
devia ser fatal, não havendo preocupações com a proporção, nem mesmo com a justiça.” 
Vale lembrar que durante estes períodos mais remotos, não se dispunham da 
consolidação de uma concepção de estado com garantias e direitos fundamentais ao 
povo, como as conhecidas atualmente, o poder era centralizado ao patriarcado e as 
garantias eram quanto à segurança do conjunto social. Inegavelmente, no decorrer dos 
séculos, a pena evoluiu, sendo esta evolução intrinsecamente ligada ao aperfeiçoamento 
intelectual das sociedades e de seu progresso social. 
Este desenvolvimento fez com que o ser humano diante de suas necessidades 
identificasse e compreendesse melhor sua posição perante a um corpo social, visando 
assim à efetivação de uma vivência harmônica e pacífica, moldada de acordo com suas 
próprias peculiaridades presentes em cada grupo. Ademais, esta evolução não aconteceu 
de modo linear e gradativo como a vida humana, se moldou de acordo com as demandas 
de cada época. 
MASSON8 enfatiza: 
 
5BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. 21ª Edição. São Paulo: Ed. 
Saraiva, 2015, p. 577. 
6NORONHA, Edgard Magalhães. Direito penal volume 1: Introdução e parte geral. São Paulo: Saraiva, 
1997, p. 20. 
7Substantivo feminino – 1. Punição legal. 2. Vingança. 
8MASSON, Cléber Rogério. Direito Penal esquematizado – Parte geral – Vol. I. 4ª Edição. São Paulo: 
Editora Método, 2011, p. 53. 
20 
 
Além disso, as diversas fases da evolução da vingança penal deixam evidente que 
não se trata de uma progressão sistemática, com princípios, períodos e épocas 
capazes de distinguir cada um de seus estágios, mas algo que foi se 
desenvolvendo para atender as necessidades de seu tempo. 
 
Em sequência, MASSON9 afirma que “pode ser adotada uma tríplice divisão, 
representada pelas seguintes fases: vingança divina, vingança privada e vingança 
pública”, até seu ápice na idade moderna ou período humanitário. 
 
2.3. VINGANÇA DIVINA 
 
Este período caracterizado doutrinariamente como “vingança divina” é marcada 
pela forte imposição e aplicação da pena fundamentada por meio de crenças divinas, 
sendo estas religiões distintas a cada região onde a agrupação social está presente, 
dentre elas: o cristianismo, divindades egípcias, divindades gregas, deuses da Babilônia, 
religiões nórdicas, dentre outros. 
Nesse sentido, MIRABETE10, esclarece: 
 
O Direito Penal impregnou-se de sentido místico desde seus primórdios, já que se 
devia reprimir o crime como satisfação aos deuses pela ofensa praticada no grupo 
social. O castigo, ou oferenda, por delegação divina era aplicado pelos sacerdotes 
que infligiam penas severas, cruéis e desumanas, visando especialmente à 
intimidação. 
 
A relação mágica que os sacerdotes dispunham e transmitiam a divindade nutria 
a fundamentação argumentativa dos mesmos, tornando a aplicação de qualquer tipo 
punitivo para cada caso concreto algo totalmente discricionário e arbitrário. 
A pena era aplicada com o intuito de contentar a divindade em si, sem qualquer 
desejo da aplicação de proporcionalidade entre os atos praticados pelo infrator e a 
aplicação da sanção na busca pela justiça. A justificativa utilizada para aplicação da pena 
era o viés único de desagravamento da divindade através da expiação do mal realizado, 
 
9MASSON, Cléber Rogério. Direito Penal esquematizado – Parte geral – Vol. I. 4ª Edição. São Paulo: 
Editora Método, 2011, p. 54. 
10MIRABETE, Júlio Fabbrini. FABBRINI, Renato Nascimento. Manual de Direito Penal – Parte Geral – 
Volume 1. 28ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2012, p. 16. 
21 
chegando ao ponto do infrator, inclusive, chegar a ser expulso de seu agrupamento 
ficando a mercê de seus inimigos. 
MASSON11 afirma: 
 
O castigo consistia no sacrifício de sua vida. Castigava-se com rigor, com notória 
crueldade, eis que o castigo deveria estar em consonância com a grandeza do 
deus ofendido, a fim de amenizar sua cólera e reconquistar a benevolência para 
com o seu povo. 
 
Desta maneira, a forma de punição aplicada era extremamente cruel, sem 
nenhum viés humanista ou que visasse à busca pela efetivação de uma pena justa ao 
infrator, apenas a justiça que representasse o respectivo deus, efetivando ao sacerdote 
seu poder de punir. 
Com evidência BITENCOURT12 salienta, “como legislação típica dessa fase o 
Código de Manu, embora legislações com essas características tenham sido adotadas no 
Egito (Cinco Livros), na China (Livro das Penas), na Pérsia (Avesta), em Israel 
(Pentateuco) e na Babilônia”. 
 
2.4. VINGANÇA PRIVADA 
 
A vingança privada surge como representação perante a agressão entre os 
determinados grupos entre si, pertencendo ambos a mesma região. Neste ponto, ainda 
sem a existência de um Estado responsável por organizar e gerir os poderes sociais, 
dentre eles o poder de punir. 
Sem regras limitando as formas de punir, aplicam-se punições exageradas e 
desproporcionais aos atos praticados, ficando clara a relação entre a vingança privada e a 
vingança divina. Seguindo esta linha, MASSON13 ressalta, “tamanha era a desproporção 
da vingança que um crime praticado por um indivíduo não raras vezes atingia como 
retribuição crianças e pessoas doentes, integrantes do grupo infrator. Recaía, inclusive 
sobre animais ou coisas.” 
 
11MASSON, Cléber Rogério. Direito Penal esquematizado – Parte geral – Vol. I. 4ª Edição. São Paulo: 
Editora Método, 2011, p. 55. 
12BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. 21ª Edição. São Paulo: Ed. 
Saraiva, 2015, p. 73. 
13MASSON, Cléber Rogério. Direito Penal esquematizado – Parte geral – Vol. I. 4ª Edição. São Paulo: 
Editora Método, 2011, p. 55. 
22 
A princípio, durante este período não existiu a individualização da aplicação 
punitiva, de modo que qualquer pessoa próxima ao infrator poderia estar sujeita a aplicar 
ou receber a sanção, qualquer um que confiasse estar sendo ofendido se tornava titular 
do direito de se vingar. Durante a aplicação desta execução, eram aplicadas punições 
sanguinárias, atingindo o ponto de dizimar determinadas certas tribos ou bandos. 
NORONHA14 expõe: 
 
Como se observa nas espécies inferiores a reação, a agressão devia ser a regra. 
A princípio, reação do indivíduo contra o indivíduo, depois, não só dele como de 
seu grupo, para, mais tarde, já o conglomerado social colocar-se ao lado destes. É 
quando então pode ser falar propriamente em vingança privada, pois, até aí, a 
reação era puramente pessoal, sem intervenção ou auxílio dos estranhos. 
 
Estemomento retrata a ação penal focada na busca apenas pela justiça e sem 
qualquer escopo pela procura da efetivação do princípio da equidade na aplicação desta 
punição, ficando assim, exposta a imutável presença da lei do mais forte. Este período 
ainda ficou marcado pela criação de uma lei muito antiga, porém, que ocasionalmente cai 
em uso do vocabulário diário do cidadão médio brasileiro que clama por sua aplicação 
nos dias atuais. 
BITENCOURT15 relembra: 
 
Com a evolução social, para evitar a dizimação das tribos, surge a lei do talião, 
determinando a reação proporcional ao mal praticado: olho por olho, dente por 
dente. Esse foi o maior tratamento igualitário entre infrator e vítima, 
representando, de certa forma, a primeira tentativa de humanização da sanção 
criminal. 
 
É inegável, o advento da lei do talião trouxe consigo uma evolução natural da 
pena em suas características de controle social, sendo um marco histórico importante 
pelo fator limitador e aprimorador do ponto de vista humanístico que proporcionou em 
comparação com a atual situação bárbara vivida entre os povos, a limitação normativa do 
 
14NORONHA, Edgard Magalhães. Direito penal volume 1: Introdução e parte geral. São Paulo: Saraiva, 
1997, p. 20. 
15BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. 21ª Edição. São Paulo: Ed. 
Saraiva, 2015, p. 73. 
23 
aspecto punitivo. Conforme salienta NORONHA16, “delimita-se o castigo; a vingança não 
será mais arbitraria e desproporcionada.” 
Outro ponto muito importante, é que após alguns anos de aplicação do sentido 
estrito da lei formulada por Talião, não se notou a real eficácia deste tipo de punição a 
longo prazo, por conta de haver muitos infratores e as sociedades não serem tão 
populosas quanto atualmente. Desta forma, grande parte da população produtiva da 
sociedade ficava deformada e incapaz de desempenhar seus ofícios, forçando a criação 
de uma modalidade totalmente pioneira e que existe até os dias atuais no direito civil. 
MASSON17 relembra: 
 
Com o passar do tempo, diante do elevado número de infratores, as populações 
ficavam deformadas, motivo pelo qual se evoluiu para o sistema da composição, 
forma de conciliação entre o ofensor e o ofendido ou seus familiares, pela 
prestação pecuniária como forma de reparar o dano (dinheiro da paz). O ofensor 
comprava sua liberdade, evitando o castigo. […] A composição – largamente 
aceita em sua época – constitui um dos antecedentes da moderna reparação do 
dano do Direito Civil e das penas pecuniárias. 
 
Ademais, este período fica marcado por sua notória evolução na aplicação das 
sanções penais, passando fundamentalmente por uma significativa melhora na 
organização estrutural das sociedades, além de ser o início da estabilidade 
socioeconômica populacional. 
Por fim, de acordo com FRAGOSO apud BITENCOURT18 “a lei do talião foi 
adotada no Código de Hamurabi (Babilônia), no Êxodo (Hebreus) e na lei das XII Tábuas 
(Romanos).” 
 
2.5. VINGANÇA PÚBLICA 
 
Nesse período da vingança pública a pena já não é mais uma imposição arbitraria 
com viés de contemplar deuses ou de realizar vinganças entre grupos sociais. Entretanto, 
ainda eram mantidas sanções cruéis e desumanas. 
 
16NORONHA, Edgard Magalhães. Direito penal volume 1: Introdução e parte geral. São Paulo: Saraiva, 
1997, p. 21. 
17MASSON, Cléber Rogério. Direito Penal esquematizado – Parte geral – Vol. I. 4ª Edição. São Paulo: 
Editora Método, 2011, p. 56. 
18BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. 21ª Edição. São Paulo: Ed. 
Saraiva, 2015, p. 73. 
24 
Com a melhora e estabilização de um modelo social eficaz, surge o modelo 
básico de Estado através da centralização do poder comum, por meio de um 
representante geral (rei, papa, etc). Este poder de aplicação deixa de ser exercido por 
meio dos sacerdotes tornando o Estado em autêntico responsável e cumpridor da 
aplicação do dever de punir aos infratores, justificando a pena por sua natureza pública. 
BITENCOURT19 explica: 
 
Mas, com a melhor organização social, o estado afastou a vindita privada, 
assumindo o poder-dever de manter a ordem e a segurança social, surgindo a 
vingança pública, que nos seus primórdios, manteve absoluta identidade entre 
poder divino e poder político. A primeira finalidade reconhecida dessa fase era 
garantir a segurança do soberano, por meio da aplicação da sanção penal, ainda 
dominada pela crueldade e desumanidade, característica do direito criminal da 
época. 
 
Apesar de toda evolução e formulação de meios mais sensatos para a aplicação 
da punição com base no interesse geral, ainda não se atingiu uma legislação baseada na 
racionalidade e protecionista humanisticamente. Em decorrência desta formulação ainda 
ocorrem muitas atrocidades cruéis, desumanas e arbitrárias. 
NORONHA20 explicita: 
 
Predominava o arbítrio judicial, a desigualdade de classes perante a punição, a 
desumanidade das penas (a morte profusamente distribuída, […], e dada por 
meios cruéis, tais quais a fogueira, a roda, o arrastamento, o esquartejamento, a 
estrangulação, o sepultamento em vida etc.), o sigilo do processo, os meios 
inquisitoriais, tudo isso aliado a leis imprecisas, lacunosas e imperfeitas, 
favorecendo o absolutismo monárquico e postergando os direitos da criatura 
humana. 
 
Diante exposto, por mais que haja o reconhecimento do grande progresso 
realizado no Direito Penal entre os períodos, ainda fica evidente sua incompatibilidade 
nas aplicações das sanções penais, que continuam sendo executadas sem qualquer tipo 
de averiguação dos fatos ou qualquer tipo de transparência na efetivação da justiça, 
apesar de ainda não existir de um trâmite procedimental neste período, como o utilizado 
atualmente nas sociedades modernas. 
 
19BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. 21ª Edição. São Paulo: Ed. 
Saraiva, 2015, p. 74. 
20NORONHA, Edgard Magalhães. Direito penal volume 1: Introdução e parte geral. São Paulo: Saraiva, 
1997, p. 24. 
25 
 
2.6. PERÍODO HUMANITÁRIO 
 
Este período começa ao final do século XVII, em decorrência do Iluminismo – 
também conhecido como século das luzes – por conta da forte influência nos movimentos 
presentes na Revolução Francesa que afetaram e serviram de exemplo a revolucionários 
de todo o globo. 
Neste momento histórico surgem uma série de ideias baseadas e fundamentadas 
através da razão em diversas áreas da sociedade, inclusive essa fundamentação atinge 
diretamente o direito da época, com a objetivação da criação de uma nova forma de 
administrar a transparência na justiça e promover uma nova justificação a existência das 
penas através da legislação. 
MIRABETE21 salienta: 
 
É no decorrer do Iluminismo que se inicia o denominado Período Humanitário do 
Direito Penal, movimento que pregou a reforma das leis e da administração da 
justiça penal no fim do século XVIII. É nesse momento que o homem moderno 
toma consciência que o homem moderno toma consciência crítica do problema 
penal como problema filosófico e jurídico que é. 
 
Durante este período, surgem diversas contribuições intelectuais nas mais vastas 
áreas da sociedade. Não esquecido, o direito se aprimora através forte encargo de 
grandes filósofos da época, atinge-se grande ápice crítico e evolutivo na consideração do 
direito como ciência. 
CALDEIRA22 reforça: 
 
Neste período a modernização do Direito Penal [...] a partir das contribuições de 
Jeremias Bentham (Inglaterra), Charles Montesquieu e Voltaire (França), Paul 
Fenenbach e Hommel (Alemanha), Cesare Beccaria, Gaetano Filangieri e 
Francesco Pagano (Itália); grandes pensadores iluministas e elaboradores de 
princípiosiluminados no projeto de uma sociedade baseada na razão. 
 
 Como explicitado acima, vários são os autores que desempenharam papel 
relevante nesta fase histórica da humanidade, entretanto, destaca-se a obra Dei Delitti e 
 
21MIRABETE, Júlio Fabbrini. FABBRINI, Renato Nascimento. Manual de Direito Penal – Parte Geral – 
Volume 1. 28ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2012, p. 18. 
22CALDEIRA, Felipe Machado. A evolução histórica, filosófica e teórica da pena. Revista Escola de 
Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, v.12, nº 45, p. 255 – 272, 2009, p.266-267. 
26 
Delle Pene, publicado em 1794 por Cesare Bonessana (1738-1794), popularmente 
conhecido como Cesare Beccaria. 
 O qual impressiona por sua pujança em suas ideias e propostas inovadoras, além 
disso, grande destaque para forma em que expõe seus argumentos através de uma 
linguagem concisa e clara, sendo suas críticas direcionadas ao combate direto ao trato 
arcaico, arbitrário e desumano oferecido aos menos afortunados financeiramente. 
Conforme BECCARIA23: 
 
Se os poderosos e os ricos conseguem escapar a preço de ouro aos castigos que 
merecem os atentados contra a segurança do fraco e do pobre, as riquezas que, 
sob a proteção das leis, são as recompensas da indústria, tornar-te-ão alimento do 
despotismo e da iniquidade. 
 
MARQUES24 reforça a determinada excelência atingida através da obra de 
Beccaria, “o livro de Beccaria é um protesto ardoso e cálido contra os horrores das leis 
penais de sua época, com o intuito de subordinar a justiça criminal a princípios 
humanitários”. 
Como se viu, Beccaria revolucionou na formulação e estruturação do Direito 
Penal moderno, apesar de não ser um considerado jurista e sim um filósofo sua obra 
atingiu diversas gerações no âmbito jurídico, levando em consideração a época em que 
publicou sua obra, as normas punitivas em vigor se fundamentavam na aplicação de 
procedimentos arbitrários e desumanos. Através de sua obra, garantiu o aprimoramento 
no trato dos apenados com aplicação de princípios específicos para cada caso infracional. 
MIRABETE25 destaca os princípios básicos pregados pelo filósofo em sua 
principal obra: 
 
1. Os cidadãos, por viverem em sociedade, cedem apenas uma parcela de sua 
liberdade e direitos. Por essa razão, não se podem aplicar penas que atinjam 
direitos não cedidos, como acontece nos casos da pena de morte e das sanções 
cruéis; 
2. Só as leis podem fixar as penas, não permitindo ao juiz interpretá-las ou aplicar 
sanções arbitrariamente; 
3. As leis devem ser conhecidas pelo povo, redigidas com clareza para que 
possam ser compreendidas e obedecidas por todos os cidadãos; 
 
23BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução: Torrieri Guimarães. São Paulo: Ed. Martin Claret, 
2007, p.74-75. 
24MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito penal - Volume I. Campinas: Bookseller, 1997, p.100. 
25MIRABETE, Júlio Fabbrini. FABBRINI, Renato Nascimento. Manual de Direito Penal – Parte Geral – 
Volume 1. 28ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2012, p. 19. 
27 
4. A prisão preventiva somente se justifica diante de prova da existência do crime 
e de sua autoria; 
5. Devem ser admitidas em Juízo todas as provas, inclusive a palavra dos 
condenados (mortos civis); 
6. Não se justificam as penas de confisco, que atingem os herdeiros do 
condenado, e as infamantes, que recaem sobre toda a família do criminoso; 
7. Não se deve permitir o testemunho secreto, a tortura para o interrogatório e os 
juízos de Deus, que não levam a descoberta da verdade; 
8. A pena deve ser utilizada como profilaxia social, não só de intimidar o cidadão, 
mas também para recuperar o delinquente. 
 
Através desses princípios e ensinamentos críticos expostos em seu pequeno livro, 
Beccaria atingiu a consolidação de uma nova fase no Direito Penal com a busca pela 
efetivação de um direito mais livre, humano, transparente e igualitário. Por esse fator de 
esforço e muita coragem, seu trabalho atinge grande reconhecimento, prestígio e 
aplicação nos dias atuais. Algo extremamente surpreendente, levando em consideração 
apenas os anos que se passaram desde a publicação de sua obra.
28 
3. DAS SANÇÕES PENAIS 
 
3.1. CONCEITO 
 
 Apesar da sanção ser historicamente capaz de causar danos extremos ao infrator 
em sua aplicação, por outro lado, sempre foi um meio eficaz para se efetivar a punição. 
No entanto, com o desenvolvimento intelectual das sociedades e em decorrência da 
evolução do Direito Penal como ciência, floresce um maior aprimoramento acerca as 
sanções penais tanto na parte conceitual quanto referente suas modalidades. 
 BARROS26 afirma: 
 
Sanção penal é a medida com que o Estado reage contra a violação da norma 
punitiva. É, pois, a resposta dada pelo Estado ao infrator da norma incriminadora. 
Pena e medida de segurança são as duas espécies de sanções penais de que o 
Estado lança mão no seu combate à criminalidade. 
 
 Nota-se que atualmente a aplicação moderna do Direito Penal ainda não está 
estruturada em um contexto globalizado entre normas e princípios regentes, de forma que 
o conceito de sanção penal em uma sociedade estruturada e organizada em um Estado 
Democrático de Direito irá ser totalmente distinto de sua conceituação e aplicação em um 
país com regime distinto onde as garantias constitucionais são restritas ou ainda estão em 
desenvolvimento. 
BARRETO27 relembra: 
 
Os conceitos fundamentais do direito real dos romanos, a propriedade, a posse e 
as servidões são hoje em dia essencialmente ainda os mesmos que eram a dois 
milênios, e em vão, esperaríamos para obter deles uma resposta sobre as 
transformações que passarão os povos, entre os quais eles vigorarão. 
 
Em contrapartida, BITENCOURT28 reforça ideia de RAMIREZ de que “para uma 
melhor compreensão da sanção penal, deve-se analisá-la levando-se em consideração o 
 
26BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal – parte geral: Volume I. 4ª Edição. São Paulo: 
Saraiva, 2004, p. 431. 
27BARRETO, Tobias. Estudos de Direito. Rio de Janeiro: Laemmert, 1892. (Publicação póstuma dirigida por 
Sylvio Roméro), p. 55. 
28BITENCOURT, Cézar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. 21ª Edição. São Paulo: Ed. 
Saraiva, 2015, p. 130. 
29 
modelo socioeconômico e a forma de Estado em que se desenvolve esse sistema 
sancionador.” 
 Ante ao exposto, as sanções penais se dividem em duas espécies de exercício do 
controle social: as medidas de segurança e as penas. Porém, faz-se necessária a 
diferenciação entre estas duas espécies, por se tratar de temas extremamente 
relacionados e que podem gerar confusões acerca suas respectivas aplicabilidades e 
conceituações. 
MASSON29 pontua: 
 
As medidas de segurança têm como pressuposto a periculosidade, e dirigem-se 
aos inimputáveis e ao semi-imputáveis dotados de periculosidade, pois 
necessitam, no lugar da punição, de especial tratamento curativo. Já as penas têm 
como pressuposto a culpabilidade. Com efeito, crime é fato típico e ilícito, e a 
culpabilidade funciona como pressuposto de aplicação da pena e destinam-se aos 
imputáveis e aos semi-imputáveis não perigosos. 
 
Ambas as sanções são impostas pelo Estado, sendo limitados através do contrato 
social preestabelecido e em vigor. Desta forma, o Estado se torna garantidor da ordem 
pública e da segurança dos bens jurídicos em prol da comunhão social; esta manifestação 
de executar a punição ao infrator é historicamente e juridicamente conhecida por Jus 
Puniendi30. 
Este poder-dever de punir do Estado tem como princípios norteadores ligados a 
necessidade da efetiva aplicação normativa dentro da legalidade e restrita aos limites 
impostos através dalegislação, assim, descartando a possibilidade de aplicação de uma 
sanção ilegal, arbitraria e desproporcional diante a prática e punição de um ato ilícito. 
 
3.2. MODALIDADES 
 
Em síntese, para a aplicação de uma sanção penal o ato praticado deverá ser 
considerado delituoso e o ato humano necessita equiparar-se a conduta preestabelecida 
por lei, desta forma contrariando o ordenamento específico vigente e se tornando 
 
29MASSON, Cléber Rogério. Direito Penal esquematizado – Parte geral – Vol. I. 4ª Edição. São Paulo: 
Editora Método, 2011, p.537. 
30O Direito Penal subjetivo é identificado com o Jus Puniendi, que significa o direito ou faculdade do Estado 
de punir. O Jus Puniendi é apenas opcional do Estado, porque és o único com faculdades para conhecer e 
decidir sobre a existência de um crime e a aplicação de uma pena. 
30 
classificado como um ato ilícito, BARROS31 conceitua que “o delito é caracterizado por um 
fato humano voluntário revestido de tipicidade e ilicitude.” 
Frisa-se, quando o infrator realiza a prática de ato contrário a norma penal 
vigente, poderá o mesmo alcançar como punição pela prática ilícita tanto a medida de 
segurança quanto a pena, desta maneira legitimando a pretensão punitiva estatal. 
 
3.2.1. Medidas de segurança 
 
 O instituto da medida de segurança surge na estrutura do Direito Penal diante a 
ineficácia de aplicação da pena ao infrator que não detinha capacidade de discernimento 
para realizar a distinção entre a prática de ato lícito do ilícito (seja por doença mental ou 
desenvolvimento mental incompleto). Tal ato praticado é fundado através da 
periculosidade do autor ao restante da sociedade, além de sua habitual reincidência na 
prática de atos infringentes à norma penal. 
COSTA E SILVA apud PRADO32 salienta: 
 
As sociedades aos poucos foram descobrindo que determinados indivíduos 
constituíam permanente ameaça de novas ações delituosas, e contra eles não 
bastava a simples repressão; antes, fazia-se mister a pronta determinação de 
mecanismos de prevenção individual da delinquência, com o escopo primeiro de 
auxiliar e completar a atuação da justiça penal. 
 
Inobstante a isso, antes de atingir o seu ápice normativo na estrutura jurídica que 
detêm atualmente visando a ressocialização e a cura, esta modalidade de sanção penal 
foi desenvolvida e aprimorada através dos séculos por meio de diversas aplicações 
empíricas, com práticas de isolamento do infrator tanto para a criação e efetivação de 
cura para reinserção do mesmo a sociedade quanto isolamento com vistas para garantir o 
pagamento da composição. 
 Essas práticas contribuíram para o desenvolvimento de diversas elaborações 
acadêmicas nas mais distintas áreas científicas existentes (psiquiatria, medicina, 
 
31BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal – parte geral: Volume I. 4ª Edição. São Paulo: 
Saraiva, 2004, p. 116. 
32PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro, volume I: parte geral. 12ª Edição. São Paulo: 
Revista dos tribunais, 2013, p. 780. 
31 
psicologia, antropologia, sociologia, etc.) e após este período de estabilização científica, 
ocorre sua afirmação legislativa no mundo e em consequência no Brasil. 
Neste sentido, LEBRE33 esclarece: 
 
Verifica-se que tais medidas surgiram – como espécie de sanção regulamentada 
em um ordenamento jurídico – apenas no final do século XIX, por inspiração da 
doutrina de Franz von Liszt, que as concebeu, ao lado das penas, como 
mecanismo eficaz de defesa social. Inspirado por tais premissas teóricas, Carl 
Stoos, ao elaborar o anteprojeto do Código Penal Suíço (1893), fez questão de 
incluir em seu texto um capítulo inteiro para tratar de tais medidas, as quais 
passaram a incorporar vários diplomas legislativos por toda a Europa e América 
Latina dali por diante. 
 
 Diante a efetivação deste novo viés ideológico com cunho totalmente preventivo, 
instaura-se uma nova perspectiva diante aos infratores perigosos habituais, através de um 
tratamento mais humano e ressocializador, substituindo a ideia medieval e ultrapassada 
de expurgação na fundamentação da aplicação do instituto da pena. 
PRADO34 complementa: 
 
O anteprojeto continha disposições sobre a internação dos multirreincidentes, 
aplicada em substituição da sanção penal, assim como a previsão da internação 
facultativa em casa de trabalho e o asilo para ébrios contumazes. Seu art. 40 
prescrevia que, no caso de constatar a possibilidade de reincidência, mesmo após 
o cumprimento da pena, a autoridade federal poderia ordenar que tal pena fosse 
substituída pela internação do condenado em um estabelecimento adequado por 
um prazo de tempo que variava de dez a vinte anos. 
 
Diante incisiva efetivação legislativa do instituto da medida de segurança, 
salienta-se a contribuição marcante na realização de Carl Stoos (1849-1934), é o fato de 
servir como exemplo para inclusão deste instituto junto a outras futuras propostas para 
criações de códigos que viriam ser efetivadas nos próximos anos. Através deste maior 
alcance e compartilhamento das ideias, este instituto atinge seu aprimoramento técnico e 
hermenêutico, além disso, PRADO35 elucida: 
 
 
33LEBRE, Marcelo. Medidas de segurança e periculosidade criminal: Medo de quem? 
Responsabilidades, revista interdisciplinar do Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário - PAI-PJ 
Belo Horizonte, v.2 n.º 2, p. 273 – 280, 2012, p. 274. 
34PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro, volume I: parte geral. 12ª Edição. São Paulo: 
Revista dos tribunais, 2013, p. 781. 
35PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro, volume I: parte geral. 12ª Edição. São Paulo: 
Revista dos tribunais, 2013, p. 782. 
32 
[…] posteriormente, embora presente nos Códigos Penais de Portugal (1896), da 
Noruega (1902), da Argentina (1921), no Projeto Chileno (1929), na lei Belga 
(1930), da Dinamarca (1930) e no Projeto Frances (1930), mas foi na Itália que se 
deu o primeiro sistema completo de medidas de segurança, em 1930. 
 
 Em linhas gerais, o primeiro sistema completo de medidas de segurança vem a ser 
efetivado no Código Penal Italiano, conhecido popularmente por Código Rocco (1930) - 
por se tratar de uma criação de Arturo Rocco (1876-1942). Através deste trabalho efetiva-
se uma inovação jurídica legislativamente e delimita sua aplicação; por outro lado, se 
torna o código que inspirador ao legislador brasileiro para criação do CPB de 1940. 
LEBRE36 expõe: 
 
O diploma italiano inovou ao acolher o princípio da jurisdicionalidade das medidas 
de segurança, firmando que sempre deveriam ser aplicadas por um Juiz. Também 
estabelecia, em seu art. 202, que a medida seria aplicável (em regra) a pessoas 
perigosas que tinham cometido um fato previsto em lei como crime – com o que se 
consolidou e desenvolveu pela primeira vez uma ideia de periculosidade criminal 
no corpo legislativo. 
 
 É pertinente relembrar, em suas primeiras aparições legislativas o instituto da 
medida de segurança foi moldado de acordo com as demandas sociais e através do 
trabalho do legislador, marcada por suas características peculiares. Já no âmbito de sua 
aplicabilidade ainda não detinha a observância da aplicação conforme de seu conceito 
moderno de aplicabilidade. 
LEBRE37 reforça: 
 
[…] surgiram essencialmente ao lado das penas (num sistema homogêneo), 
contando com as seguintes características: eram atribuídas prioritariamente pelo 
Juiz; seriam pronunciadas sob a forma de sentença relativamente indeterminada, 
com duração condicionada à cessão da periculosidade; estariam baseadas na 
periculosidade do agente; deveriam ser executadas em estabelecimentos 
especializados e adequados ao tratamentodo periculoso. 
 
 No Brasil, anteriormente ao período da efetivação da Soberania originária, estava 
em vigor em território nacional as Ordenações do Reino de Portugal38, que detinha forte 
 
36Ibidem, p. 13 e 14. 
37LEBRE, Marcelo. A inconstitucionalidade da medida de segurança face a periculosidade criminal. 2009, 
222 fls. Dissertação. Mestrado. Direito. (UniBrasil, Curitiba, 14 de agosto de 2009).p. 12. 
38Pelo fato do Brasil ainda ser parte de Portugal nesta época, eram aplicadas em nosso território até a 
conquista da Independência em 07 de Setembro de 1822; conhecidas por OrdenaçõesAfonsinas (1446), 
Ordenações Manuelinas (1521) e Ordenações Filipinas (1595). 
33 
viés religioso em sua aplicabilidade de sanções punitivas. Nesta época, o legislador 
português ainda não havia se preocupado em positivar texto relativo aos inimputáveis, em 
face a pouca demanda social nesta época onde quem era considerado louco infrator era 
encarado como um problema da família e não um problema de ordem social, desta forma 
a responsabilidade de controlá-los era totalmente voltada a seus familiares. 
SOUZA39 relembra: 
 
Durante o Brasil Colonial pode-se destacar no campo do direito, as ordenações 
Afonsinas, Manuelinas e Filipinas que nada mais eram do que uma compilação de 
títulos que visavam regulamentar as relações humanas durante todo o período 
colonial. Vale ressaltar que as ordenações vigentes neste período advinham do 
direito romano e do direito canônico, portanto tinham grande fundamentação nos 
preceitos religiosos, fazendo com que em muitos casos, crime e pecado se 
confundissem. 
 
 Em decorrência disto, apenas após a proclamação da independência do Brasil 
como Estado soberano de Portugal, em 07 de Setembro de 1822, sucede-se por força da 
nova constituição Imperial o surgimento de mecanismos com força preventiva e cautelar 
ao portador de doença mental, através do Código Criminal do Império. 
 O Código Criminal do Império foi criado por Bernardo Pereira de Vasconcelos 
(1795-1850) em 1827 e sancionado em 1830 por SMI Dom Pedro I (1798-1834), através 
da lei imperial de 16 de Dezembro de 1830. Se tornando assim o primeiro código 
autônomo da América Latina40, nesse sentido MARTINS apud PRADO41 reforça, “o 
Código de 1830 teve intuição e inspirações próprias que lhe dão cunho de um trabalho 
original e dele fazem um notável monumento legislativo”. 
 Respectivamente neste Código existiram 3 normas específicas voltadas para as 
pessoas que não detinham o discernimento de seus atos, denominados na época como 
“loucos”. O artigo 10, §2º, trazia a seguinte disposição “Caput: Também não se julgarão 
criminosos: §2º – Os loucos de todo o gênero, salvo se tiverem lúcidos intervalos, e neles 
cometerem o crime”.42 
 
39SOUZA, João Vitor Monteiro de. A efetividade da Medida de Segurança no Brasil. 2011, 50 fls. 
Monografia. Bacharelado. Direito. (Unipac, Barbacena), p.11. 
40PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro, volume I: parte geral. 12ª Edição. São Paulo: 
Revista dos tribunais, 2013, p. 142. 
41Ibidem, p. 143. 
42BRASIL. Lei de nº 16 de Dezembro de 1830. Código Criminal do Império. 
34 
Além disso, em seu artigo 12 especificava “Os loucos que tiverem cometido 
crimes, serão recolhidos as casas para eles destinadas, ou entregues as suas famílias, 
como ao Juiz parecer mais conveniente”43, e por fim, em seu artigo 64 determinava “Os 
delinquentes que, sendo condenados, se acharem no estado de loucura, não serão 
punidos, enquanto nesse estado se conservarem.”44 
 Posteriormente, com grande pesar, no dia 15 de Novembro de 1889 por meio de 
golpe militar mais mesquinho da história nacional, fortemente guiado por interesses 
pessoais e impopulares, alguns militares do exército de alto escalão e políticos 
insatisfeitos, instauram o regime republicano no país. Desta feita, o então conselheiro do 
novo governo, João Baptista Pereira (1835-1899), fica encarregado de elaborar um novo, 
rápido e efetivo projeto para um novo Código Penal. 
 Diante a pressa, este projeto foi aprovado e sancionado pelo decreto 847, de 11 de 
Outubro de 1890, sancionado pelo infame primeiro presidente da República, Manoel 
Deodoro da Fonseca (1827-1892). Neste novo Código, o legislador, extremamente 
criticado, se absteve de qualquer efetivação no sentido normativo acerca o tratamento aos 
semi-imputáveis; porém, preservou-se o padrão presente no Código Criminal do Império, 
anteriormente explicitado no artigo 2945 do respectivo código. 
MIRABETE46 destaca: 
 
Logo o novo diploma foi alvo de duras críticas pelas falhas que apresentava e que 
decorriam, evidentemente, da pressa com que fora elaborado. Aboliu-se a pena de 
morte e instalou-se o regime penitenciário de caráter correcional, o que constituiu 
um avanço na legislação penal. Entretanto o código era mal sistematizado e, por 
isso, foi modificado por inúmeras leis, dada a confusão estabelecida pelos novos 
diplomas legais. 
 
Contudo, LEBRE47 acrescenta “tal diploma ainda não havia incorporado as 
inovações de cunho psiquiátrico que já eram usuais nos diplomas legislativos europeus, e 
 
43Idem. 
44Idem. 
45Art. 29 – Os indivíduos isentos de culpabilidade em resultado de afecção mental serão entregues as suas 
famílias, ou recolhidos a hospitais de alineados, si o seu estado mental assim exigir para segurança do 
publico. 
46MIRABETE, Júlio Fabbrini. FABBRINI, Renato Nascimento. Manual de Direito Penal – Parte Geral – 
Volume 1. 28ª Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2012, p. 23. 
47LEBRE, Marcelo. A inconstitucionalidade da medida de segurança face a periculosidade criminal. 2009, 
222 fls. Dissertação. Mestrado. Direito. (UniBrasil, Curitiba, 14 de agosto de 2009), p. 18. 
35 
o destino institucional do criminoso cuja responsabilidade era atingida pela patologia 
mental.” 
 Apesar de toda instabilidade e confusão causado pelo novo governo republicano, 
em 1903 ocorre a efetivação legislativa de uma nova lei que trouxe grande progresso e 
preencheu uma lacuna lúcida acerca a matéria de apoio aos indivíduos com 
desenvolvimento do discernimento incompleto ou problema mental, por meio do Decreto 
nº 1.132, de 22 de dezembro de 1903. 
Nesse sentido, SOUZA48 reafirma: 
 
Na elaboração do decreto, o Estado garantiu a internação de infratores portadores 
de moléstia mental, foi um grande progresso no sentido de se estabelecer regras e 
normas, com a justificativa da garantia da segurança coletiva, com a intenção de 
se estabelecer uma política nacional de tratamento aos alienados. Novidade do 
Decreto foi trazer a figura do psiquiatra para assessoramento judicial, dando 
grande importância a essa classe que a essa altura histórica, avançava no estudo 
dos doentes mentais no Brasil. 
 
 Posteriormente, em 1932 ocorre outra tentativa de efetivação legislativa acerca o 
as normas penais no Brasil, desta feita a consolidação das leis penais, onde incluindo-se 
o instituto das medidas de segurança. Neste momento, esta grande responsabilidade fica 
ao encargo do Desembargador Vicente Piragibe (1879-1959), em contrapartida, por meio 
de sua incansável dedicação concebeu um trabalho completo composto por quatrocentos 
e dez artigos, divididos em 4 livros; sendo efetivamente sancionado através do Decreto nº 
22.213, de 14 de dezembro de 1932. 
SOUZA49 complementa: 
 
Piragibe conseguiu reunir os códigos anteriores e todas as leis criminais à época 
obtendo grande êxito na confecção do mesmo, com a aprovação de grande parte 
da comunidade jurídica da época. Getúlio Vargas, Chefe do Governo Provisório, 
observou o sucesso da atualização da legislação criminal feita por Piragibe, e 
solicitou ao autor autorização para oficializá-la como a “Consolidação das LeisPenais.” 
 
 Apesar disto, com o passar dos anos e após algumas outras tentativas fracassadas 
na criação de outros projetos para alteração e complementação da matéria penal 
 
48SOUZA, João Vitor Monteiro de. A efetividade da Medida de Segurança no Brasil. 2011, 50 fls. 
Monografia. Bacharelado. Direito. (Unipac, Barbacena), p. 15. 
49Idem. 
36 
nacional, foi que o então Presidente Getúlio Vargas (1882-1954) convocou o jurista 
paulista José Alcântara Machado de Oliveira (1875-1941) para a tarefa de formular e 
apresentar um novo projeto de Código Penal, em 1939. 
De igual forma, PRADO50 relata: 
 
O projeto de autoria de Alcântara Machado estabeleceu o princípio da legalidade 
para as medidas de segurança (Art. 74) e dividiu-as em medidas de natureza 
detentiva e não detentiva (Art. 97,§1º). Permaneceu o critério dualista, que o autor 
justificou em face os princípios constitucionais que proibiam a pena indeterminada. 
 
A respectiva solicitação foi assinada e promulgada pelo Presidente Getúlio Vargas 
no dia 07 de dezembro de 1940, através do decreto-lei 2848, sendo consagrado o 
respectivo instituto das medidas de segurança a partir do artigo 75 ao 101. 
 Dentro deste contexto, surgem novas perspectivas sobre o instituto das medidas 
de segurança no ordenamento jurídico nacional, diante possível avanço social legislativo 
sobre o tema, porém, passados alguns anos diante novas demandas sociais e ideológicas 
no universo jurídico, ocorre a necessidade de mais uma nova reforma, sendo esta nova 
missão incumbida ao célebre jurista Nélson Hungria (1891-1969). 
Conforme LEBRE51 relembra: 
 
O anteprojeto de Hungria foi apresentado ao Governo em 1963, mas manteve 
basicamente quase toda a estrutura da redação original, eliminando apenas os 
defeitos mais graves. Entre as transformações mais significativas, merece 
destaque a eliminação das medidas de segurança detentivas para os imputáveis e 
a inclinação para um sistema vicariante em relação aos semi-imputáveis (que 
pressupunha a aplicação alternativa de pena ou de medida). 
 
Todavia, no ano de 1964 ocorre mais uma intervenção militar no controle do 
poder Executivo, afetando diretamente na estrutura e organização do quadro social 
nacional e respectivamente no âmbito jurídico das normas vigentes, desta forma interfere-
se diretamente e interrompe-se totalmente o trabalho de revisão em responsabilidade do 
celebre Nelson Hungria. 
 Consequentemente, a mando do mais novo Presidente da República Humberto de 
Alencar Castelo Branco (1897-1967), é indicado ao cargo de Ministro da Justiça o ex-
 
50PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro, volume I: parte geral. 12ª Edição. São Paulo: 
Revista dos tribunais, 2013, p. 783. 
51LEBRE, Marcelo. A inconstitucionalidade da medida de segurança face a periculosidade criminal. 2009, 
222 fls. Dissertação. Mestrado. Direito. (UniBrasil, Curitiba, 14 de agosto de 2009).p. 27. 
37 
governador do Estado de Minas Gerais – Milton Soares Campos (1900-1972), onde como 
primeira medida determina a dissolução da antiga comissão e designa que se estabeleça 
uma nova comissão revisora para esta empreitada. Oportunamente, devido à instabilidade 
social, jurídica e política vivida durante este período (1964-1985), este trabalho não atinge 
sua conclusão e efetivação no âmbito legislativo. 
LEBRE52 esclarece: 
 
Passados seis anos, foi então o novo Código promulgado pela Junta Militar que 
governava o país, em 21 de outubro de 1969 (Decreto-lei n.º 1.004). […] Todavia, 
a vigência do Código de 1969 foi adiada sucessivamente, embora promulgado, 
inúmeras e calorosas críticas importaram em substancial modificação à sua 
estrutura por meio da Lei n.º 6.010 de 1973, até que foi definitivamente revogado 
pela Lei n.º 6.578 de 1978, sem nunca ter iniciado sua vigência. 
 
 Assinale que diante o clamor jurídico que ainda suscita uma resposta por efetiva 
mudança no quadro reflexivo científico penal, surgem novas propostas acerca o assunto 
de aprimoramento da legislação penal brasileira. Já no ano de 1981, institui-se nova 
comissão para reforma do CPB, porém, desta vez esta missão ficou na responsabilidade 
do jurista mineiro Francisco de Assis Toledo (1928-2001). 
LEBRE53 conclui: 
 
As medidas de segurança figuraram como um dos temas mais relevantes da 
proposta, ensejando relevantes alterações legislativas. Surgia enfim a redação de 
uma nova parte geral para o Código de 1940, por meio de uma reforma que 
culminaria na aprovação da Lei n.º 7.209 de 1984, a qual delimita, ainda hoje, a 
roupagem das medidas de segurança no Brasil. 
 
 O aprimoramento do instituto da medida de segurança durante este período 
instável e marcado por diversas tentativas com muitos erros e alguns acertos, nos traz a 
principal mudança realizada através da reforma de 1984. Esta mudança se torna um 
marco jurídico, por possibilitar maior esclarecimento legislativo acerca a aplicação da 
pena aos imputáveis e semi-imputáveis. Uma situação adversa, onde anteriormente 
ambos estavam condenados a cumprir conjuntamente a sentença de pena e de medida 
de segurança, pelo sistema duplo binário. 
Por iguais razões, BITENCOURT54 acrescenta: 
 
52Ibidem, p. 28. 
53LEBRE, Marcelo. A inconstitucionalidade da medida de segurança face a periculosidade criminal. 2009, 
222 fls. Dissertação. Mestrado. Direito. (UniBrasil, Curitiba, 14 de agosto de 2009).p. 29. 
38 
 
Consciente da iniquidade e da disfuncionalidade do chamado sistema “duplo 
binário”, a reforma penal de 1984 adotou, em toda a sua extensão, o sistema 
vicariante, eliminando definitivamente a aplicação dupla de pena e medida de 
segurança, para os imputáveis e inimputáveis. 
 
 Em decorrência disto, sua aplicação atualmente, em um quadro político/social e 
legislativo estabilizado por meio da democracia após a promulgação da CF/88, como 
consequência jurídica gerada pelo instituto da medida de segurança tem sua 
conceituação regida pelo CPB e sua aplicabilidade normatizada pelos princípios 
constitucionais regentes. 
ANDREUCCI55 conceitua: 
 
A medida de segurança é uma espécie de sanção penal imposta pelo Estado aos 
inimputáveis (art. 26, caput, do CP) visando à prevenção do delito, com a 
finalidade de evitar que o criminoso que apresente periculosidade volte a delinquir. 
Enquanto o fundamento da pena reside na culpabilidade, o fundamento da medida 
de segurança reside na periculosidade. 
 
 Por outro lado, cabe destacar a distinção existente na conceituação jurídica entre 
os imputáveis e inimputáveis. A conceituação delimita-se acerca a aplicação ou 
substituição do instituto da pena pela medida de segurança ao praticante da ilicitude 
penal. 
REALE JÚNIOR56 esclarece: 
 
Entende ser imputável o agente se, no momento da ação, detém capacidade de 
entendimento ético-jurídico e autodeterminação. Será inimputável, então, aquele 
que ao tempo da ação em razão de enfermidade mental não tinha essa 
capacidade de entendimento e de autodeterminação, […], neste sentido, o 
inimputável não age, prática fatos. 
 
A doutrina apresenta a periculosidade como principal ponto de diferenciação entre 
os institutos da pena e da medida de segurança, além de outros. No entanto, a pena tem 
como principal pressuposto a culpabilidade do agente infrator, neste sentido cabe 
salientar que a periculosidade não atua como requisito único para aplicação de uma 
 
54BITENCOURT, Cézar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. 21ª Edição. São Paulo: Ed. 
Saraiva, 2015, p. 859. 
55ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manualde direito penal. 10ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 193. 
56REALE JÚNIOR, Miguel. Instituições de Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 207-209. 
39 
medida de segurança, desta forma MASSON57 esclarece, “a aplicação de medida 
depende de três requisitos: (1) prática de um fato típico e ilícito; (2) periculosidade do 
agente; e (3) não tenha ocorrido a extinção de punibilidade.” 
 A prática de um fato típico e ilícito esclarece-se pela eficácia de um fato punível 
previamente existente, neste ponto, justifica-se a procura por efetivar a punição como a 
justa e correta ao infrator da norma penal. 
Neste sentido, BITENCOURT58 acrescenta: 
 
Assim deixará de existir esse primeiro requisito se houver, por exemplo, 
excludentes de criminalidade, excludentes de culpabilidade […] a presença de 
excludentes de criminalidade ou de culpabilidade e a ausência de prova impede a 
aplicação de medida de segurança. 
 
 Existe a necessidade de esclarecimento acerca a conceituação sobre o real 
significado da periculosidade do agente, conforme prevista no artigo 26 do CPB, norma 
penal que versa sobre a imputabilidade do agente, desta forma, expondo dois 
prognósticos jurídicos acerca a temática da periculosidade penal, sendo elas: a 
periculosidade presumida e a periculosidade real. 
BITENCOURT59 apresenta: 
 
Periculosidade pode ser definida como um estado subjetivo mais ou menos 
duradouro de antissociabilidade. […] O código penal prevê dois tipos de 
periculosidade: 1) Periculosidade presumida – quando o sujeito for inimputável, 
nos termos do artigo 26, caput; 2) Periculosidade real – também dita judicial ou 
reconhecida pelo juiz, quando se tratar de agente semi-imputável (artigo 26, PU), 
e o juiz constatar que necessita de “especial tratamento curativo.” 
 
 Pelo exposto, fica claro a necessidade do preenchimento dos três requisitos para a 
aplicação da medida de segurança ao praticante de ilicitude, em contrapartida, o artigo 96 
do CPB apresenta as duas espécies de medidas de segurança, sendo elas: detentiva e 
restritiva. 
MASSON60 pontua: 
 
57MASSON, Cléber Rogério. Direito Penal esquematizado – Parte geral – Vol. I. 4ª Edição. São Paulo: 
Editora Método, 2011, p.811. 
58BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. 21ª Edição. São Paulo: Ed. 
Saraiva, 2015, p. 861. 
59Idem. 
60MASSON, Cléber Rogério. Direito Penal esquematizado – Parte geral – Vol. I. 4ª Edição. São Paulo: 
Editora Método, 2011, p.814. 
40 
 
Detentiva, prevista no inciso I do artigo 96, consiste em internação em hospital de 
custódia e tratamento psiquiátrico ou, a falta, em outro estabelecimento adequado. 
Importa em privação de liberdade do agente. Restritiva, elencada pelo inciso II, é a 
sujeição a tratamento ambulatorial. O agente permanece livre, mas submetido a 
tratamento médico adequado. 
 
 Estas hipóteses distinguem e fundamentam a escolha sobre qual das duas 
espécies de medidas de segurança serão aplicadas ao infrator. Posto isso, os preceitos 
serão baseados nas condições e na gravidade dos atos praticados pelo infrator portador 
de periculosidades. 
BITENCOURT61 esclarece: 
 
Não é a inimputabilidade ou semi-imputabilidade que determinará a aplicação de 
uma ou de outra medida de segurança, mas a natureza da pena privativa de 
liberdade aplicável, que, se for de detenção, permitirá a aplicação de tratamento 
ambulatorial, desde que, é claro, as condições pessoais recomendem. 
 
 Em sequência, a aplicação da medida de segurança se iniciará somente após a 
sentença judicial ter transitado em julgado, para expedição da guia de tratamento (algo 
indispensável) para autorização da autoridade judiciária de início a execução, conforme 
procedimento previsto no artigo 171 e 173 da LEP. Entretanto o principal problema não se 
externaliza no início do cumprimento da sanção, muito menos em seu prazo mínimo de 
cumprimento que é de um a três anos, mas sim em seu prazo máximo de internação, 
ambos prazos de mínimo e máximo previstos no artigo 97, § 1º do CPB.62 
BITENCOURT63 elucida: 
 
As suas espécies de medida de segurança – internação e tratamento ambulatorial 
– tem duração indeterminada, segundo a previsão do nosso Código Penal (art. 97, 
§1º), perdurando enquanto não for constatada a cessação de periculosidade, 
através da perícia médica. Pode-se, assim, atribuir, indiscutivelmente, o caráter de 
perpetuidade a essa espécie de resposta penal […]. 
 
 
61BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. 21ª Edição. São Paulo: Ed. 
Saraiva, 2015, p. 862. 
62Art. 97 – Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato 
previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.§ 1º – A 
internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for 
averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) 
a 3 (três) anos. 
63BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral 1. 21ª Edição. São Paulo: Ed. 
Saraiva, 2015, p. 864. 
41 
Não obstante a isso, o respaldo constitucional em favor da dignidade da pessoa 
humana dentre outros princípios, não permite-se a aplicação em território nacional de 
penas com caráter perpétuo, conforme exposto no artigo 5º, inc. XLVII, b 64. Desta 
maneira, não permitindo a aplicabilidade de uma sanção penal injusta e infinita, com o 
tempo para cumprimento eterno, algo deveras inconstitucional. BITENCOURT65 
desvenda, “não se pode ignorar que a Constituição de 1988 consagra, como uma de suas 
cláusulas pétreas, a proibição de prisão perpétua; e, como pena e medida de segurança 
não se distinguem ontologicamente, é lícito sustentar essa previsão legal.” 
 O fato de esclarecimento desta situação, não por lei, muito menos decreto, se deu 
por decisões reiteradas dos tribunais, popularmente conhecidas como jurisprudências. 
Interessante se faz este esclarecimento, pois através das respectivas decisões das cortes 
supremas nacionais, existem divergências a respeito do limite previsto para cumprimento 
da medida de segurança. 
 Posição atual do STF conforme MASSON66 “a interpretação sistemática e 
teleológica dos arts. 75, 97 e 183, os dois primeiros do Código Penal e o último da Lei de 
Execuções Penais, deve fazer-se considerada a garantia constitucional abolidora das 
prisões perpétuas. A medida de segurança fica jungida ao período máximo de trinta 
anos67.” 
Em contrapartida, o STJ inova, conforme explicita MASSON68: 
 
Trata a quaestio juris sobre a duração máxima da medida de segurança, a fim de 
fixar restrição a intervenção estatal em relação ao inimputável na esfera penal. A 
Turma entendeu que fere o principio da isonomia o fato de a lei fixar o período 
máximo de cumprimento da pena para o inimputável (art 97, § 1.°, do CP), peia 
prática de um crime, determinando que este cumpra medida de segurança, por 
prazo indeterminado, condicionando seu término á cessação de periculosidade. 
Em razão da incerteza da duração máxima de medida de segurança, está-se 
tratando de forma mais gravosa o infrator inimputável quando comparado ao 
imputável, para o qual a lei limita o poder de atuação do Estado. Assim, o tempo 
de duração máximo da medida de segurança não deve ultrapassar o limite 
 
64Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e 
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança 
e à propriedade, nos termos seguintes: XLVII - não haverá penas:b) de caráter perpétuo. 
65BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito

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