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HISTÓRIA METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA Angelica Cristina de Freitas Sabbadin Maria de Lourdes C. S. Santos CURSO DE HISTÓRIA METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA Profª Angelica Cristina de Freitas Sabbadin Profª. Ms. Maria de Lourdes C. S. Santos SUMÁRIO Apresentação da Disciplina ......................................................................................................................... 3 Programa da Disciplina ................................................................................................................................. 5 Unidade 01. Os Conceitos: ensinar e aprender. ........................................................................................... 8 Unidade 02. Dimensões presentes na construção das aprendizagens escolares ................... 13 Unidade 03. A organização do currículo por projetos de trabalho ............................................. 18 Unidade 04. Aprendizagens em História ............................................................................................. 22 Unidade 05. Conhecimento Histórico: Conceitos Fundamentais ......................................................... 27 Unidade 06. Tempo/Espaço e mudança social: Conceitos históricos fundamentais. ........................ 31 Unidade 07. Tempo histórico e espaço ................................................................................................ 36 Unidade 08. Ser professor de História: a produção da profissionalização .......................................... 40 Unidade 09. Tornar-se professor (a) de história: preâmbulos identitários ....................................... 45 Unidade 10. Trajetória histórica da disciplina História: percepções e constatações ....................... 49 Unidade 11. História e currículo científico ............................................................................................ 54 Unidade 12. A seleção de conteúdos históricos na Educação Básica: inferências conceituais e práticas. ............................................................................................................................................................................................... 60 Unidade 13. Abordagens historiográficas e conteúdos escolares: Narrativa, História Econômica, História Social e História Cultural ....................................................................................................................... 64 Unidade 14. Abordagens historiográficas e conteúdos escolares: O tempo presente, o local e o regional ................................................................................................................................................................................................ 69 Unidade 15. Material didático e Ensino de História .......................................................................... 75 Unidade 16. Livro Didático: Expressão da indústria cultural ..................................................................... 79 Unidade 17. Diversidade de linguagens e fontes para ensinar história. .................................... 84 Unidade 18. A fotografia e os filmes como recursos didáticos .................................................... 88 Unidade 19. Canções, Poemas e Poesias como recursos didáticos ............................................ 92 Unidade 20. A Imprensa Periódica como recurso didático ........................................................... 96 Questão Final ............................................................................................. Erro! Indicador não definido. Apresentação da Disciplina Olá, prezados alunos. É grande a nossa satisfação em tê-los conosco no Curso de Educação a Distância do UNAR. A nossa proposta, para a organização dos estudos na disciplina de Metodologia do Ensino de História, está organizada em temas que serão desenvolvidos em vinte unidades, além de atividades de aprofundamento e reflexão que nos auxiliarão na compreensão dos conceitos e oportunizarão reflexões sobre o significado destas áreas da formação no currículo escolar. A disciplina de Metodologia do Ensino de História é constituída de maneira que ofereça elementos para prática pedagógica do professor de História. Munido desses elementos, o docente poderá constantemente refletir sobre sua prática e colher bons resultados durante o processo de ensino-aprendizagem. Os conteúdos da disciplina permeiam por todos os âmbitos da prática docente, ou seja, durante a trajetória da disciplina, o aluno discutirá sobre seu papel na escola e na sociedade, como professor de história. Refletirá sobre os métodos a serem utilizados na sua prática docente, os recursos disponíveis para um professor-historiador realizar seu trabalho, as correntes e ideias que podem interferir no processo de constituição do seu perfil profissional e sua relação com as tendências, propostas, leis e mecanismos que orientam o trabalho dos professores e das escolas. Num primeiro momento, trabalharemos a prática pedagógica de uma forma ampla, questionando a nós mesmos o que é o ensinar e aprender, qual a função de um professor e principalmente, entendendo a necessidade de valorizar o aluno, sua expressão, sua cultura e o meio em que vive, para que o ensino faça sentido. A percepção do que é história e a importância do seu estudo nas escolas para a formação de cidadãos críticos, ativos e conscientes também serão discutidas nessa disciplina. Para isso, será realizada uma análise sobre o papel dessa disciplina no currículo escolar, sua função em cada período da história e sua finalidade e importância no contexto escolar e social atual. Por fim trataremos dos recursos e das diversas linguagens disponíveis para se trabalhar história. Afinal, esses recursos são o apoio que o professor possui para realizar seu trabalho e orientar os alunos para a realização da pesquisa e a consequente produção do conhecimento. A investigação faz parte da história como disciplina escolar, ela é o alicerce para a produção do saber no processo ensino-aprendizagem. Por isso, as diversas fontes e linguagens devem ser utilizadas para que o trabalho seja completo e tenha sentido. O professor deve saber utilizar os recursos como fontes históricas, materiais didáticos, além das novas tecnologias que estão cada vez mais próximas da realidade dos alunos das escolas brasileiras. Programa da Disciplina Ementa Ensino e aprendizagem em História. Diretrizes Curriculares e PCNs. Conceitos de tempo e espaço no Ensino Fundamental. Interdisciplinaridade, transversalidade e ensino de História. Projetos de Trabalho: teoria e prática. Identidade do professor de história. Formação inicial e continuada. Pesquisa em ensino de história e sua articulação com o currículo escolar. Indissociabilidade entre pesquisa e ensino de história. Objetivos Analisar as abordagens teóricas e metodológicas na produção do conhecimento acadêmico e escolar na história. Contribuir para a compreensão da importância da disciplina para o processo formativo escolar. Identificar possibilidades de estudos de conceitos fundamentais. Conteúdo O conceito de Ensinar e Aprender Aprendizagens em História Ser professor de História – a produção da profissionalização Trajetória histórica da disciplina de história A seleção de conteúdos históricos na Educação Básica: inferências conceituais e práticas Material Didático e História. Metodologia O curso de EaD possibilita a utilização de diferentes leituras para a formulação dos conceitos relacionados à disciplina. Aulas monitoradas pelas tutorias por meio eletrônico e telefônico. Chats para grupos de estudos de temas relacionados à disciplina. Enquetes para contribuir no processo de assimilação e análise dos conceitos. Atividades de aprofundamento de estudos: atividades e leituras complementares, indicações de filmes, músicas, poemas, textos literários e outros recursos que favoreçam a aprendizagem. Encontros presenciais. Avaliação No sistema EaD, a legislação determina que haja avaliação presencial, sem, entretanto, se caracterizar como a única forma possível e recomendada. Na avaliação presencial, todos os alunos estão na mesma condição, em horário e espaço pré-determinados, diferentemente, a avaliação a distância permite que o aluno realize as atividades avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente, a necessidade de estabelecimento de prazos. A avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, sendo os seguintes instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem: 1) Produções escritas individuais ou a partir da interatividade com seus pares; 2) Provas bimestrais realizadas presencialmente; 3) Trabalhos de pesquisa bibliográfica. As estratégias de recuperação incluirão: 1) Retomada eventual dos conteúdos abordados nos módulos, quando não satisfatoriamente dominados pelo aluno; 2) Elaboração de trabalhos com o objetivo de auxiliar a vivência dos conteúdos. Bibliografia Básica BITTENCOURT, Circe (org.) O saber histórico na sala de aula. 7ª ed. São Paulo: Contexto, 2002. ________. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003. Bibliografia Complementar ANDRÉ, Marli. O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. 5ª ed. Campinas: Papirus, 2001. BARRETTO, Elba S.S. (org). Os currículos do ensino fundamental para as escolas brasileiras. Campinas: Autores Associados, 2004. BRASIL, MEC-SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1998. FONSECA, Selva Guimarães. Didática e Prática de ensino de História. Campinas- SP: Papirus, 2003. NIKITIUK, Sonia L. (Org.). Repensando o Ensino de História. São Paulo, Cortez, 1999. Unidade 01. Os Conceitos: ensinar e aprender. CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade trabalharemos o conceito de ensinar e aprender e como se desenvolve essa relação no processo educativo. ESTUDANDO E REFLETINDO Antes de tratarmos das especificidades do ensino de história e das múltiplas referências que orientam o processo escolar, convém lembrarmos alguns conceitos fundamentais para o trabalho dos educadores. Ensino e aprendizagem é o processo pelo qual nos apropriamos ativamente do conteúdo da experiência humana, daquilo que o nosso grupo social conhece. David Ausubel (2002) analisa a perspectiva da aprendizagem significativa e infere que ela é um elemento que provém da comunicação com o mundo e se acumula sob a forma de uma riqueza de conteúdos cognitivos. É um processo de organização das informações e de integração do material à estrutura cognitiva, e pode ser diferenciada em aprendizagem mecânica (sem associações às estruturas cognitivas) e aprendizagem significativa (relação com conceitos disponíveis na estrutura cognitiva). Outra definição de aprendizagem: A aprendizagem é a apropriação do mundo, através do qual o sujeito adquire capacidades especializadas para pensar sobre várias coisas, pressupondo uma natureza social específica e um processo através do qual reelabora o saber existente através de um conhecimento imaginativo-criativo que construirá com o auxílio de mediadores, quer sejam instrumentais (materiais, informática, etc...) ou interpessoais, quer sejam do grupo de iguais e pessoas próximas, dentre estas os professores. Considerando a constituição de uma comunidade lingüística, professores e alunos alternam-se nos papéis de ensinar e aprender, construindo coletivamente o conhecimento. Deste modo, aprendizagens significativas aceleram o desenvolvimento do ser humano, o que desafia a escola à avaliação do nível qualitativo das atividades que promove (MACIEL, 1995). MACIEL, A. M. R. O professor- cidadão em (trans) formação no exercício da docência. Um modelo conceitual unificador. Dissertação de Mestrado. Santa Maria, UFSM, 1995. É possível, então, concluir que o ensino e a aprendizagem serão resultados de relações sociais favoráveis ao processo de internalização e apropriação do conhecimento. O ensino, na medida em que promove relações interpessoais, desempenha o papel de indutor e facilitador da transição dos processos interpsicológicos para os processos intrapsicológicos. Isso significa que a aprendizagem significativa será possível quando for constituída de sentido pelo próprio indivíduo. Dada a essa natureza do processo de aprendizagem, um projeto educativo precisa considerar em suas bases estruturantes a aprendizagem e ensino como processos dinamizadores do devir, promovendo novas formas históricas de atividade e superando a educação como transmissão e reprodução do passado no presente. Neste cenário de reinterpretação dos processos de aprendizagem e de ensino, a grande tarefa da escola contemporânea não consiste em ensinar fatos conhecidos aos seus alunos, mas ensiná-los a orientarem-se independentemente, através da informação científica ou de qualquer outra. Isto significa que a instituição escolar precisa ensinar seus alunos a pensarem, ou seja, promover condições efetivas para que se potencializem na escola os fundamentos do pensamento contemporâneo. De acordo com Fonseca (2007) ensinar e aprender História constitui um processo construtivo, dinâmico, aberto e reflexivo, o que exige do professor reflexão sobre a sua prática pedagógica e uma consciência de que ele é o mediador nesse processo de produção do conhecimento. Segundo Pimenta (2001), é necessário que as ações dos professores superem a visão dicotomizada entre o ensinar e o aprender, pois para que uma aprendizagem significativa ocorra é importante analisar a perspectiva da indissociabilidade entre esses dois conceitos. Isso significa que não haverá ensino quando não for possível constatar que ocorreu a aprendizagem. Essa autora nomina esse processo de ensinagem. Para Ela: Na história da didática houve época em que a importância do ensinar predominou sobre o aprender. Nessa perspectiva, a ênfase nos métodos, nos recursos e no professor como figura central do processo constituiu a base do conhecimento didático. Assim foi a didática Comeniana, que se pretendeu uma arte de ensinar tudo a todos, a didática Hebartiana, com a precisão dos passos formais definindo uma prescrição metodológica e, em tempos mais recentes, a crença no poder das tecnologias e das mídias como formas mais eficazes para a transmissão das informações (Pimenta, 2001, p. 93). Com base nos postulados de Pimenta, podemos inferir, então, que na sociedade contemporânea o trabalho do professor deverá ser sustentado por concepção teórica que não deixe espaços para o entendimento de ensino fracionado e desvinculado da realidade social. Sob pena de a escola produzir ensino incompatível com as demandas sociais. BUSCANDO CONHECIMENTO A pesquisadora Lana Mara de Castro Siman, no artigo intitulado “Representações e memórias sociais compartilhadas: desafios para os processos de ensino e aprendizagem da história” discorrem sobre a pesquisa realizada com crianças, numa sala de aula de história para crianças de 9 a 11 anos. Segundo essa autora: [...] Numa perspectiva construtivista da aprendizagem, considera-se que os denominados conhecimentos prévios desempenham um papel fundamental nos processos de aprendizagem (Aisenberg, 1994; Carretero, 1997;). Ou seja, na relação sujeito/objetoinerente a todo ato de conhecer, o quadro conceitual ou o marco assimilador do sujeito desempenha um papel fundamental na seleção, organização e na construção de sentidos das informações com as quais o sujeito entra em interação. Assim, as chamadas idéias prévias são de grande importância para determinar o que é aprendido e como é aprendido. Em história e em ciências sociais, em geral, entende-se por conhecimentos prévios um conjunto de idéias e modos de pensar ou raciocinar socialmente construídos. Aisenberg (1994, p. 141), ao referir-se aos conhecimentos infantis sobre o mundo social, diz: “el marco assimilador para significar los contenidos del área de estúdios sociales está constituido por un conjunto de teorías e nociones sobre el mundo social, que los niños construyeron en su propria historia de interacciones sociales”. Reveste-se, assim, de grande importância investigarmos em que medida esses conhecimentos prévios ou representações sociais influenciam na construção de novas aprendizagens e identidades. E, ainda, qual a influência que a educação histórica pode ter nesse processo? Argumentamos a favor da idéia de que a teoria das representações sociais, originária da tradição da psicologia social, mostra-se de grande utilidade para estudos a respeito dos conhecimentos prévios que os alunos possuem a respeito de temas relativos à história, auxiliando-nos na redefinição de nossas práticas pedagógicas. Para Jodelet (1998, p. 36), de quem tomamos o conceito de representações, essas são “uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”. Desse ponto de vista, essa forma de conhecimento adquirido por meio dos processos sociais não é somente um produto de características inerentes à mente humana; também não é um simples reflexo de influências do meio ambiente. O conhecimento apresenta-se como uma construção, onde interagem o sujeito psíquico e o mundo exterior. Assim, as crianças e adolescentes não estão sujeitos a, simplesmente, absorver e refletir o conhecimento do mundo adulto, tal como um “espelho”. Entre o ato de internalizar as concepções e expô-las, há um processo onde os objetos são rearticulados, onde age a individualidade de cada um. Ao interagirem de diversas maneiras com o mundo social os sujeitos procuram encontrar e desenvolver uma identidade, incorporando e recriando objetos e símbolos, articulando, por meio das representações sociais, sua vida à realidade social. Ou seja, as representações depois de constituídas realizam um trabalho de mediação entre o indivíduo e a sociedade. Portanto, o sujeito constrói representações individuais que não são simples reflexo das representações sociais, mas fruto de processos de construção e reconstrução de símbolos socializados e internalizados. Como assinala Jovchelovitch (2000, p. 75), “A emergência de um eu em oposição ao mundo externo ocorre em relação estreita (ou ainda, como pré-condição) com as transformações mentais que permitem a representação das coisas e, portanto, o desenvolvimento do pensamento simbólico e da linguagem”. As representações surgem, assim, como a capacidade de dar às coisas uma “nova forma” por meio da atividade psíquica. Esta envolve uma mediação entre o sujeito e o objeto-mundo. Como o sujeito se insere numa comunidade concreta e simbólica, este não está condenado a simplesmente reproduzir esta realidade. Ao indivíduo cabe a tarefa de “elaborar a permanente tensão entre um mundo que já se encontra constituído e seus próprios esforços para ser um sujeito”.5 Nesse sentido, podemos dizer que o processo de construção da identidade se desenrola na relação entre o sujeito e o social, mediado pelas representações sociais. Ou seja, ao mesmo tempo em que este sujeito recria a realidade social e suas representações ele é também modificado em sua própria relação com o mundo. Dessa forma, os objetos presentes no meio social aparecem sob a forma de representação, recriados pelos sujeitos. Além disso, as representações sociais poderiam estar vinculadas tanto à circulação que ocorre entre os grupos sociais existentes, passando de um grupo social a outro, quanto às transformações sucessivas pelas quais essas passam durante os diferentes momentos que vivem os alunos em sua infância e adolescência. Deve-se, ainda, ressaltar o que se tem denominado de núcleo central das representações sociais. Para Abric (1994) e seus colaboradores, a estrutura das representações sociais se apresentaria hierarquizada, organizada em torno de um cerne mais estável e resistente, o seu núcleo central. Este núcleo, segundo Abric (op. cit) é “(...) constituído de um ou mais elementos que dão à representação o seu significado (...)”, estando no seu centro as normas, atitudes e estereótipos. Ainda, como nos lembrará Seid, a idéia de núcleo central se relaciona com a de núcleo figurativo, resultado da objetivação discutida por Moscovici (1978), que é uma estrutura imagética e tem as características de pregnância, autonomia e estabilidade, entre outras. Esta perspectiva permitirá o estabelecimento de relações entre representações sociais e memória coletiva (Seid, 1996). Tal como expressa Abric (1994, p. 32-33), o núcleo central é fortemente marcado pela memória coletiva do grupo e pelo sistema de normas ao qual este se refere. Ele constitui, portanto, a base comum, coletivamente partilhada das representações sociais. É por ele que se define a homogeneidade de um grupo social. Ele é estável, coerente, resistente à mudança, assegurando assim a uma segunda função, a da continuidade e da permanência da representação. Enfim, ele é de uma certa maneira relativamente independente do contexto social e material imediato no qual a representação é posta em evidência. Por meio do equipamento conceitual e metodológico da teoria das representações sociais, podemos tanto empreender estudos que identificam algumas representações sociais que estruturam o mundo coletivo, no qual as crianças se desenvolvem, como verificar a existência ou não de um núcleo duro e, portanto, mais resistente a mudanças. De igual forma podemos identificar as representações sociais que podem se constituir em ancoragens (Farr & Moscovici, 1984, p. 30)6 facilitadoras de novas aprendizagens. Como nos adverte Duveen (2000), esse aspecto é pouco explorado tanto pela perspectiva epistemológica a respeito da construção do conhecimento proposta por Piaget, quanto pela perspectiva de uma psicologia cognitiva social de Vygostky. Adverte-nos Duveen que se a teoria de Vygostky concebe a criança como “sujeito cultural”, nessa concepção a cultura é reduzida a um conjunto de signos que funcionam como instrumento cognitivo, excluindo, no entanto, “aquele sentido em que signos também expressam os valores de grupos sociais particulares” (Duveen, op. cit). Recomendamos a leitura deste artigo na íntegra. Para isso, acesse o endereço eletrônico http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v25n67/a07v2567.pdf. Unidade 02. Dimensões presentes na construção das aprendizagens escolares CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Conhecer os territórios que o professor precisa mobilizar para que sejam possíveis as condições e mediações para a efetivação da aprendizagem ESTUDANDO E REFLETINDO Para construir esse conceito tão fundamental para o trabalho do professor, é preciso que nos debrucemos sobre a análise das complexas dimensões presentes na construção das aprendizagens escolares. Isso vai exigir do professor reflexão sobre as transformações que ocorrem na sociedade e que implicam diretamente na escola, bem como domínio de conceitos no campo da produção do conhecimento. Observem atentamente o esquema a seguir: [...] são as relações humanas que formam a essência do objeto de conhecimento,pois este só existe por meio de seu uso social. Portanto, é a partir de um intenso processo de interação com o meio social e da mediação feita pelo outro que se dá a apropriação dos objetos culturais e o objeto de conhecimento ganha significado e sentido. (JACINTO; HOBOLD. P. 286, 2012) Fonte: file:///C:/Users/win/Downloads/3358‐ 9219‐2‐PB.pdf Notamos que o ensino ocorre somente na área de intersecção entre três grandes esferas de competências necessárias para o trabalho do professor: relações, conhecimento e projetos. Façamos uma breve incursão por estes conceitos: Relações: O bom professor deverá ter profundo conhecimento sobre a complexidade da teia de relações que se estabelecem no ambiente escolar e que também são definidoras de um eficiente processo de ensino. Para Tardif (2005, p. 49), “ensinar é agir na classe e na escola em função da aprendizagem e da socialização dos alunos, atuando sobre sua capacidade de aprender, Projetos Relações Conhecimento EN SI NO Epistemologia ou teoria do conhecimento é a crítica, estudo ou tratado do conhecimento da ciência, ou ainda, o estudo filosófico da origem, natureza e limites do conhecimento. Pode-se remeter a origem da "epistemologia" a Platão ao tratar o conhecimento como "crença verdadeira e justificada". O desafio da "epistemologia" é responder "o que é" e "como" alcançamos o conhecimento?. Diante dessas questões da epistemologia surgem duas posições: Empirista: que diz que o conhecimento deve ser baseado na experiência, ou seja, no que for apreendido pelos sentidos. Como defensores desta posição temos Locke, Berkeley e Hume; e Racionalista: que prega que as fontes do conhecimento se encontram na razão, e não na experiência. Como defensores desta posição temos Leibniz e Descartes. A expressão "epistemologia" deriva das palavras gregas "episteme", que significa "ciência", e "Logia" que significa "estudo", podendo ser definida em sua etimologia como "o estudo da ciência" Fonte: http://www.euniverso.com.br/Oque/epistemologia.htm para educá-los e instruem-los com a ajuda de programas, métodos, livros, exercícios, normas etc”. Corroborando com a ideia da importância das relações no processo de aprendizagem, esse mesmo autor infere que: [...] a experiência vista como um processo de aprendizagem espontânea que permite ao trabalhador adquirir certezas quanto ao modo de controlar fatos e situações do trabalho que se repetem. [...] Mas também se pode compreender a experiência, não como um processo fundado na repetição de situações e sobre o controle progressivo dos fatos, mas sobre a intensidade e a significação de uma situação vivida por um indivíduo (TARDIF, 2005, p. 51). Para isso é muito importante, no seu processo de formação, se valer dos conceitos apreendidos em outras disciplinas como Sociologia da Educação e Psicologia da Educação. Conhecimento: Outra dimensão fundamental para o trabalho do educador é se apropriar dos conceitos no campo da episteme e entender o conhecimento como a capacidade que o indivíduo possui de assimilar, refletir e perceber o que acontece a sua volta. As diversas teorias do conhecimento defendem que a sua produção pode acontecer de diversas formas. Seja pela assimilação e reflexão do que foi apresentado ao indivíduo, ou pela sua própria percepção. O importante é que o professor tenha consciência que o conhecer é algo ao qual o ser humano está exposto. Cotidianamente conhecemos e reconhecemos diversos elementos. Estamos conhecendo a cada minuto que passa e os fenômenos também ocorrem com a mesma intensidade. Assim, cada momento vivido no ambiente escolar, será uma oportunidade para a produção do conhecimento. A escola e o professor devem proporcionar situações para que os saberes a serem ensinados sejam apreendidos pelos alunos e somem-se ao seu conhecimento prévio. Projetos: O trabalho com projetos tem se revelado um potencializador de processos significativos de ensino nos ambientes escolares. Segundo Martins (2006), de uma maneira geral, um projeto se caracteriza por duas premissas básicas: 1) Trabalho intencional e 2) Realização de uma produção. O seu desenvolvimento é marcado por três grandes etapas: 1) Identificação e formulação do problema; 2) Construção – desenvolvimento (atividades, aulas...) e 3) Apresentação dos resultados (avaliação). BUSCANDO CONHECIMENTO Leia no excerto abaixo como Amelia Hamze analisa a importância do trabalho com projetos escolares. Esse será o objeto de estudo da próxima unidade. [...] Em um projeto de trabalho os próprios educandos começam a participar do processo de criação, procurando respostas e buscando soluções. Nesse processo a etapa mais importante é o levantamento de dúvidas e a definição dos objetivos da aprendizagem. Na organização do currículo por projetos de trabalho há a busca de respostas adequadas e soluções acertadas, facilitando assim a tomada de decisões, que ocorre no delineamento do processo. Devemos definir primeiramente os problemas, para só depois escolher as disciplinas mais adequadas para se trabalhar e encontrar soluções. Trabalha-se através de conteúdos pré- definidos. De acordo com Fernando Hernández, há muitas maneiras de garantir a aprendizagem, e trabalhar com projeto é apenas uma das opções. “É bom e é necessário que os estudantes tenham aulas expositivas, participem de seminários, trabalhem em grupos e individualmente, ou seja, estudem em diferentes situações”, explica Hernández. Todo projeto precisa estar relacionado aos objetivos e conteúdos para não perder o sentido do que se quer alcançar. É necessário estabelecer limites e metas para a culminância do trabalho. Os projetos de trabalho aproximam a escola do aluno e se associam muito à pesquisa sobre o interesse do educando, à curiosidade e investigação dos fatos atuais. Há necessidade de que os docentes discutam a proposta de trabalho, enfatizando suas dúvidas, enaltecendo suas idéias e sugestões, para que dessa maneira, todos se envolvam no processo. O professor nunca estará sozinho, pois o projeto de trabalho é coletivo e se fundamenta em pesquisa. Tudo que se ensina através de um projeto, começa de um problema inicial. “Nem tudo pode ser ensinado mediante projetos, mas tudo pode ser ensinado como um projeto”. [...] Disponível em http://educador.brasilescola.com/gestao-educacional/fernando-hernandez.htm Unidade 03. A organização do currículo por projetos de trabalho CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Conhecer as etapas de um projeto de trabalho Identificar na metodologia de projetos possibilidades efetivas para o ensino de História ESTUDANDO E REFLETINDO Ainda esse autor anuncia como etapas fundamentais para a realização de um projeto: Tema; Problemas (o que vão estudar); Justificativas (porque vão estudar); Objetivos (para quê); Metodologia de desenvolvimento (como); Cronograma (quando); Fontes (onde investigar); Recursos humanos (o que é necessário); Bibliografia (onde investigar); Avaliação (o que aprendemos). A prática de ensino por meio de projetos poderá possibilitar ao professor um diálogo permanente com diferentes saberes, a superação do reprodutivismo e uma proposição investigativa que promoverá a atitude reflexiva e questionadora. Nessa prática o aluno assume papel de protagonista, produtor, discute, participa e assim o professor estará proporcionando uma situação de ensino- aprendizagem sem dissociação entre um ou outro. O professor, por sua vez, investiga, aprende, orienta e sistematiza; estimula um ambiente de motivação e mobilização além de oferecer uma ambientação favorável para o trabalho sistematizado. O trabalhocom projetos é uma possibilidade real e que é possível ser utilizada em todas as situações de aprendizagem. No entanto, é importante salientar que para a adoção dessa prática será necessário que o professor rompa com a concepção de “grade curricular” inflexível e estática, que durante muito tempo predominou e, em certa medida, ainda prevalece nos ambientes escolares. A ação docente, por meio de projetos de trabalho, exigirá uma concepção de currículo que contextualize, mobilize e articule a dimensão histórica da produção do conhecimento. A esse respeito, Santos (2008, p. 26) pondera sobre A ideia de um currículo em permanente elaboração, que necessita ser renegociado e reconceitualizado em conformidade com as interferências sociais e culturais às quais está submetido, nos conduz à compreensão de que a composição curricular é resultado de conflitos sociais. Nessa perspectiva, é necessário trabalhar com a ideia de reconstrução do conhecimento do currículo, de se estabelecer uma diferenciação entre currículo escrito e currículo resultado da prática realizada e mediada pelas ações dos alunos e dos professores em sala de aula. O reconhecimento dessa diferenciação entre elaboração e prática curricular também não pode ser reduzida à perspectiva de que a dicotomização entre elas é inevitável e inconciliável. O desafio dos especialistas constitui-se exatamente em encontrar as mediações possíveis e necessárias para materializar o que se concebe e planeja como ação educativa. Disponível em http://revistaunar.com.br/cientifica/documentos/vol2_n2_2008/3_organi zacao_curricular.pdf Com base nesse postulado podemos inferir que o trabalho com projetos se apresenta como alternativa para as “mediações possíveis e necessárias” mencionadas por Santos. BUSCANDO CONHECIMENTO Na obra A organização do currículo por projetos de trabalho, Hérnandez e Ventura (1998. Págs. 68/72) indicam que, embora o trabalho com projetos tenham grande potencial para a promoção de um ensino reflexivo e contextualizado, que projeta os alunos da condição de expectadores para o lugar de protagonistas da produção do conhecimento, essa prática pode ser utilizada, em algumas situações, como mera reprodução de procedimentos. Leia abaixo como esses autores definem as diferentes percepções dos professores: (...) No entanto, essa forma de intervenção que se sintetiza na figura anterior não é homogênea entre o professorado. Produzem-se variações e diferenças. Isso foi constatado na avaliação externa sobre a inovação a qual já nos referimos. Segundo essa fonte, se estabelecêssemos de maneira paralela e extrema as formas mais relevantes da atuação dos docentes, em diferentes situações de ensino e aprendizagem que forma observadas em sala de aula durante a realização dos projetos, poderíamos encontrar uma série de diferenças. Essas são reflexo de como o professorado, apesar de incorporar critérios alternativos como organizadores de sua prática, têm dificuldades para adaptá-los a situações reais, outorgando aso projetos interpretações distintas. As razões dessas diferenças, numa coletividade que, em boa parte, compartilhou a mesma informação e passou por um processo de formação similar, podem ser múltiplas. Em nosso caso concreto, poderiam ser destacadas as seguintes: 1. A consciência de ser especialista numa área ou matéria, que leva a seguir uma ordem única na apresentação do projeto, sem levar em conta a diversidade de desenvolvimentos que pode adotar. 2. A necessidade de preparar o aluno para as exigências do Ensino Médio, que leva alguns professores a antecipar o tipo de docência que, supostamente, se encontrará mais tarde (...) 3. A dificuldade que implica refletir criticamente sobre os fundamentos da própria prática quando se está satisfeito com o modo de como se está realizando. Essas posições encontradas não devem ser contempladas de maneira radical, e sim são orientativas das diferentes posturas existentes; trata-se simplesmente de reconhecer que uma determinada concepção de ensino implica um tipo de atitude profissional, atitude que o paralelismo a seguir pode ajudar a esclarecer. Portanto, podemos encontrar uma turma que utilize os projetos para tentar favorecer uma construção dos conhecimentos de maneira significativamente favorecedora da autonomia na aprendizagem. Mas também podemos encontrar turmas onde os projetos sejam simplesmente uma nova organização externa, um nome nove com o qual se denomine uma atitude profissional rotineira diante das relações de ensino e aprendizagem. Partindo da perspectiva geral de toda escola, os projetos geram um alto grau de autoconsciência e de significatividade nos alunos com respeito à sua própria aprendizagem, ainda que, num determinado período ou série. Possam estar desenvolvendo Projetos de uma forma menos intensa. Essa variedade, como dissemos, é um elemento de contraste e dinamiza a discussão psicopedagógica no centro, ainda que, em algumas ocasiões, também sirva de freio ou de forma de pressão de alguns docentes sobre outros. Unidade 04. Aprendizagens em História CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Esta unidade é dedicada ao estudo de conceitos históricos que são fundamentais para o desenvolvimento das atividades no decorrer do processo educativo. Apresentaremos situações a fim de orientar os professores em relação aos temas que podem ser trabalhados e auxiliá-los no entendimento de como a produção do conhecimento está atrelada ao desenvolvimento biológico e intelectual dos alunos. ESTUDANDO E REFLETINDO Bittencourt (2002), ao analisar a trajetória da disciplina de história, remonta a sua função no currículo escolar à época do Brasil Império. Essa pesquisadora afirma que a disciplina servia apenas como um mecanismo para auxiliar as aulas de leitura, com temas que incitassem a imaginação, além de ser um meio de fortificar o senso moral reafirmando os deveres dos meninos para com a sua pátria. Durante muito tempo, a história foi encarada como a disciplina a ser “contada” ou como um meio de manipulação do Estado, para enaltecer figuras de heróis como Dom Pedro I ou Marechal Deodoro da Fonseca ou ainda, para conseguir um povo “disciplinado” como no caso da Educação Moral e Cívica, na época da ditadura militar. A realidade é que a concepção e a função da disciplina mudaram e hoje a sociedade possui um olhar mais cuidadoso para a História. A visão de uma disciplina ligada aos grandes feitos foi superada e agora os professores- historiadores devem procurar trazer a história mais próxima do aluno e mostrar que eles fazem parte dos processos históricos. Por isso, a necessidade de valorização do aluno como um sujeito ativo no processo de construção do conhecimento. A produção do conhecimento em história não consiste em apenas apresentar um fato em determinado tempo e espaço. O fato apresentado ao aluno deve fazer sentido, para que se realize a apreensão desse conhecimento. Por isso, o professor precisa ter a preocupação de apresentar o conceito de forma a conotá-lo de sentido. Assim, o aluno terá que iniciar a sua investigação, procurando identificar aquele conceito em diversas fontes, tempos, espaços, compará-los e analisar quais são as mudanças e permanências que podem ser observadas por meio da sua pesquisa. Bittencourt destaca os conceitos de tempo e espaço como os mais importantes para o ensino da história. Porém, não podemos partir apenas dos dois. Defendemos que o ensino de história exige o domínio de alguns conceitos que vão desde o de cidadania aos de trabalho e cultura, por exemplo. A construção de noções interfere nas estruturas cognitivas do aluno, modificando a maneira como ele compreende os elementos do mundo e as relações que esses elementos estabelecem entre si.Isso significa dizer que quando o estudante apreende uma noção, grande parte do que ele sabe e pensa é reorganizado a partir dela. Na medida em que o ensino de História lhe possibilita construir noções, ocorrem mudanças no seu modo de entender a si mesmo, os outros, as relações sociais e a História. (PCNs, p.35) A questão sobre domínio conceitual é algo que gera uma longa discussão na História. Se defendermos que é impossível o ensino de história sem a apreensão dos conceitos, temos que antes entender como é que esses conceitos são absorvidos durante as diferentes etapas da escolarização dos nossos alunos. Inviável o ensino de história sem o domínio conceitual Piaget e Vygotsky nos oferecem importantes estudos sobre o nosso “problema”. O primeiro defende que o Homem passa por etapas cognitivas e que a sua inteligência possibilita que ele possa se adaptar ao meio em que vive. Assim, os seres humanos passam pelo processo de assimilação e acomodação, já que o sujeito recebe as informações, as assimila, e depois as acomodam, construindo seu conhecimento. Para Piaget todos passam por essa etapa, portanto, as crianças não tem maturidade para absorver conceitos abstratos como o de tempo histórico. Isso faz com que a história no primeiro ciclo seja diferente e mais próxima da realidade da faixa etária dos alunos. Essa ideia de Piaget defende que as crianças devem assimilar os conceitos espontaneamente para que depois lhes sejam apresentados os conceitos científicos e eles possam eliminar aqueles que haviam formado sozinhas. Os estudos de Piaget indicam que o indivíduo passa pela fase do concreto antes da fase abstrata, ou seja, ele só assimila aquilo que é concreto, um objeto, que pode se ver, sentir. Depois dessa fase é que ele passa a ter a noção do abstrato daquilo que não se pode tocar. Por isso nas séries iniciais a História deve ser trabalhada como conceito. Por exemplo, o conceito de sociedade será definido como um grupo de pessoas que vivem em certa faixa de tempo e espaço, e, a partir dessa definição, a professora poderá estudar uma sociedade indígena definindo-a como um grupo com características próprias, em que o trabalho era dividido entre homens e mulheres e eles produziam suas riquezas por meio da caça, da pesca e da coleta de frutos. Nas próximas séries esse conceito vai sendo ampliado até que no Ensino Médio o aluno possa identificar relações e criar posturas a partir do conceito de sociedade. Já Vygostsky confronta algumas ideias de Piaget, afirmando que a apreensão de conceitos não depende somente da maturidade biológica da criança, mas também do meio em que ela vive e da relação que tem com o grupo no qual está inserido. Para Vygotsky, o ser humano formula seus conceitos a partir da sua interação com o meio, sendo considerados elementos importantes dentro desse processo a comunicação e a valorização das experiências de cada um que se propõe a se comunicar. Dessa forma a escola é o espaço responsável por possibilitar esse processo e por oferecer elementos para que os conhecimentos dos alunos sejam ampliados. A partir dessa discussão, ressaltamos que tanto Piaget, ao postular que a aquisição de conceitos depende da maturidade biológica do indivíduo, quanto Vigotsky, ao defender que os indivíduos se constroem a partir da sua interação com o grupo e o meio em que vive, são bases para a organização da disciplina de história. Apoiados nesses estudos, entendemos que nos anos iniciais do Ensino Fundamental, por exemplo, não podemos apresentar textos longos ou exigir uma assimilação conceitual rápida, já que os alunos ainda estão em processo de alfabetização. No entanto, também sabemos que é importante que o professor valorize as experiências e o conhecimento prévio dos alunos para que os conceitos façam sentido para eles e assim consigam ampliar seus conhecimentos a cada dia. Os conceitos, nessa etapa do processo de ensino-aprendizagem, devem ser apresentados de maneira dinâmica e lúdica para que os resultados sejam mais satisfatórios. BUSCANDO CONHECIMENTO Conhecimento prévio dos alunos O professor de história possui uma ferramenta interessante para suas aulas: o conhecimento prévio. Para evitar problemas futuros e frustrações com seu próprio trabalho, o educador pode utilizar as experiências de seus alunos para orientar sua aula e fazê-la ter sentido para os educandos. As experiências vividas pelos alunos e o conhecimento que eles já absorveram com elas e com as informações que receberam, sejam das pessoas mais velhas ou da mídia, podem ser o ponto de partida para uma aula de história. Assim essa aula poderá ampliar o conhecimento do aluno ou corrigir alguma ideia que pode ter se formado incorretamente. Quando aprendemos a ler, o fazemos sobre a escrita de alguém que antes aprendeu a ler e a escrever. Ao aprender a ler, nos preparamos para imediatamente escrever a fala que socialmente construímos (Freire, 2001, p.02) Unidade 05. Conhecimento Histórico: Conceitos Fundamentais CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Reconhecer que o estudo da História necessita da apreensão de alguns conceitos básicos. Analisar os estudos acerca dos fatos e dos processos que, ao longo dos tempos, podem ser contextualizadas sem perder o sentido. ESTUDANDO E REFLETINDO Quando o professor de história começa a trabalhar um assunto, ele possui dois desafios: o primeiro é o de absorver o conhecimento prévio dos alunos sobre o assunto para que, a partir disso, possa desenvolver seu plano de aula e o segundo é trabalhar os conceitos básicos desses assuntos para que possa orientar sua aula de maneira tranquila. O segundo desafio é o que nos preocupa agora: Como trabalhar os conceitos? O primeiro passo é sempre explicar, por mais simples ou complexo que seja. Bittencourt (2002) defende que alguns conceitos são exclusivos da história como democracia ateniense, patriciado romano ou bandeirantes. Outros são singulares, ou seja, na pronuncia já remete o fato como Renascimento ou descobrimento da América. No entanto, a História utiliza alguns conceitos que parecem banais ou que são usados por outras disciplinas, mas que não podem passar despercebidos, devem ser explicados. Palavras como clero, burguesia, povo, rei, parecem simples, mas necessitam de uma explicação e, principalmente, contextualização. São palavras que podem se encaixar em todos os tempos históricos, mas que para cada um tem um significado. Na primeira aula de Revolução Francesa, por exemplo, cabe ao professor dizer o que é uma Revolução, por mais que ele já tenha trabalhado esse conceito, dizer o que significa o povo, no processo revolucionário, diferenciar o conceito de burguesia que temos daquela época com o conceito que temos hoje e assim por diante. A relação entre os conceitos de hoje com os seus significados em outros tempos e outras sociedades é uma questão pertinente para o estudo da história. O significado da palavra burguesia ou da palavra Estado continua com algumas características da época da Revolução Francesa ou da Antiguidade Clássica, mas as sociedades mudaram e essas transformações afetam o modo de vida dos grupos e até mesmo os conceitos para definir esses grupos. BUSCANDO CONHECIMENTO Apreensão de conceitos históricos na Escola O conteúdo da disciplina de História é extenso e não é possível abordá-lo plenamente no âmbito da estrutura curricular escolar. No entanto, os professores recorrem aos recortes dos fatos para que possam trabalhar os conceitos e, a partir dessa analise, os alunos possam orientar a aquisição dos saberes. Já estudamos que Piaget e Vygotsky nos mostram que devemos ter cuidado com o que apresentamos para os alunos durante sua vida escolar, pois existem conceitos que não podem ser absorvidosem determinadas etapas do desenvolvimento cognitivo e que a interação dos alunos com o meio em que vivem e a valorização do seu conhecimento prévio são importantes para colhermos bons frutos no processo de aprendizagem. Aos sete anos o aluno tem interesse pelo que o professor apresenta, além de ter boa concentração. Porém, sua capacidade de abstração não é igual a uma criança com mais idade. Portanto o trabalho com a história em uma turma com essa faixa etária será diferente. Bittencourt (2002) destaca que valores morais e cívicos, por exemplo, serão transmitidos por uma história de heróis responsáveis pelos grandes fatos nacionais destituídos de qualquer noção de tempo histórico (p.196). Ou seja, os valores são transmitidos de forma concreta, sem se utilizar de conceitos abstratos como o de tempo histórico, pois esses alunos ainda não estão preparados para absorvê-los. Os currículos são organizados de forma que possam ser trabalhados de forma concreta, é o que chamamos de Círculos Concêntricos que valoriza as experiências e o meio em que o aluno vive para a sua formação. Para aprofundar seu conhecimento, leia a seguir o fragmento do artigo “Ensinar, aprender: leitura do mundo, leitura da palavra”, de Paulo Freire: CARTA DE PAULO FREIRE AOS PROFESSORES Ensinar, aprender:leitura do mundo, leitura da palavra NENHUM TEMA mais adequado para constituir-se em objeto desta primeira carta a quem ousa ensinar do que a significação crítica desse ato, assim como a significação igualmente crítica de aprender. É que não existe ensinar sem aprender e com isto eu quero dizer mais do que diria se dissesse que o ato de ensinar exige a existência de quem ensina e de quem aprende. Quero dizer que ensinar e aprender se vão dando de tal maneira que quem ensina aprende, de um lado, porque reconhece um conhecimento antes aprendido e, de outro, porque, observado a maneira como a curiosidade do aluno aprendiz trabalha para apreender o ensinando-se, sem o que não o aprende, o ensinante se ajuda a descobrir incertezas, acertos, equívocos. O aprendizado do ensinante ao ensinar não se dá necessariamente através da retificação que o aprendiz lhe faça de erros cometidos. O aprendizado do ensinante ao ensinar se verifica à medida em que o ensinante, humilde, aberto, se ache permanentemente disponível a repensar o pensado, rever-se em suas posições; em que procura envolver-se com a curiosidade dos alunos e dos diferentes caminhos e veredas, que ela os faz percorrer. Alguns desses caminhos e algumas dessas veredas, que a curiosidade às vezes quase virgem dos alunos percorre, estão grávidas de sugestões, de perguntas que não foram percebidas antes pelo ensinante. Mas agora, ao ensinar, não como um burocrata da mente, mas reconstruindo os caminhos de sua curiosidade – razão por que seu corpo consciente, sensível, emocionado, se abre às adivinhações dos alunos, à sua ingenuidade e à sua criatividade – o ensinante que assim atua tem, no seu ensinar, um momento rico de seu aprender. O ensinante aprende primeiro a ensinar mas aprende a ensinar ao ensinar algo que é reaprendido por estar sendo ensinado. O fato, porém, de que ensinar ensina o ensinante a ensinar um certo conteúdo não deve significar, de modo algum, que o ensinante se aventure a ensinar sem competência para fazê-lo. Não o autoriza a ensinar o que não sabe. A responsabilidade ética, política e profissional do ensinante lhe coloca o dever de se preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo de iniciar sua atividade docente. Esta atividade exige que sua preparação, sua capacitação, sua formação se tornem processos permanentes. Sua experiência docente, se bem percebida e bem vivida, vai deixando claro que ela requer uma formação permanente do ensinante. Formação que se funda na análise crítica de sua prática. Partamos da experiência de aprender, de conhecer, por parte de quem se prepara para a tarefa docente, que envolve necessariamente estudar. Obviamente, minha intenção não é escrever prescrições que devam ser rigorosamente seguidas, o que significaria uma chocante contradição com tudo o que falei até agora. Pelo contrário, o que me interessa aqui, de acordo com o espírito mesmo deste livro, é desafiar seus leitores e leitoras em torno de certos pontos ou aspectos, insistindo em que há sempre algo diferente a fazer na nossa cotidianidade educativa, quer dela participemos como aprendizes, e portanto ensinantes, ou como ensinantes e, por isso, aprendizes também. Não gostaria, assim, sequer, de dar a impressão de estar deixando absolutamente clara a questão do estudar, do ler, do observar, do reconhecer as relações entre os objetos para conhecê-los. Estarei tentando clarear alguns dos pontos que merecem nossa atenção na compreensão crítica desses processos. Comecemos por estudar, que envolvendo o ensinar do ensinante, envolve também de um lado, a aprendizagem anterior e concomitante de quem ensina e a aprendizagem do aprendiz que se prepara para ensinar amanhã ou refaz seu saber para melhor ensinar hoje ou, de outro lado, aprendizagem de quem, criança ainda, se acha nos começos de sua escolarização. Enquanto preparação do sujeito para aprender, estudar é, em primeiro lugar, um que-fazer crítico, criador, recriador, não importa que eu nele me engaje através da leitura de um texto que trata ou discute um certo conteúdo que me foi proposto pela escola ou se o realizo partindo de uma reflexão crítica sobre um certo acontecimentos social ou natural e que, como necessidade da própria reflexão, me conduz à leitura de textos que minha curiosidade e minha experiência intelectual me sugerem ou que me são sugeridos por outros. Assim, em nível de uma posição crítica, a que não dicotomiza o saber do senso comum do outro saber, mais sistemático, de maior exatidão, mas busca uma síntese dos contrários, o ato de estudar implica sempre o de ler, mesmo que neste não se esgote. De ler o mundo, de ler a palavra e assim ler a leitura do mundo anteriormente feita. Mas ler não é puro entretenimento nem tampouco um exercício de memorização mecânica de certos trechos do texto. Se, na verdade, estou estudando e estou lendo seriamente, não posso ultrapassar uma página se não consegui com relativa clareza, ganhar sua significação. Minha saída não está em memorizar porções de períodos lendo mecanicamente duas, três, quatro vezes pedaços do texto fechando os olhos e tentando repeti-las como se sua fixação puramente maquinal me desse o conhecimento de que preciso. Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, mas gratificante. Ninguém lê ou estuda autenticamente se não assume, diante do texto ou do objeto da curiosidade a forma crítica de ser ou de estar sendo sujeito da curiosidade, sujeito da leitura, sujeito do processo de conhecer em que se acha. Ler é procurar buscar criar a compreensão do lido; daí, entre outros pontos fundamentais, a importância do ensino correto da leitura e da escrita. É que ensinar a ler é engajar-se numa experiência criativa em torno da compreensão. Da compreensão e da comunicação. E a experiência da compreensão será tão mais profunda quanto sejamos nela capazes de associar, jamais dicotomizar, os conceitos emergentes da experiência escolar aos que resultam do mundo da cotidianidade. Um exercício crítico sempre exigido pela leitura e necessariamente pela escuta é o de como nos darmos facilmente à passagem da experiência sensorial que caracteriza a cotidianidade à generalização que se opera na linguagem escolar e desta ao concreto tangível. Uma das formas de realizarmos este exercício consiste na prática que me venho referindo como “leitura da leitura anterior do mundo”, entendendo-se aqui como “leitura do mundo” a “leitura” que precede a leitura da palavra e que perseguindo igualmente a compreensão do objeto se faz no domínio dacotidianidade. A leitura da palavra, fazendo-se também em busca da compreensão do texto e, portanto, dos objetos nele referidos, nos remete agora à leitura anterior do mundo. O que me parece fundamental deixar claro é que a leitura do mundo que é feita a partir da experiência sensorial não basta. Mas, por outro lado, não pode ser desprezada como inferior pela leitura feita a partir do mundo abstrato dos conceitos que vai da generalização ao tangível. [...] Ninguém escreve se não escrever, assim como ninguém nada se não nadar. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v15n42/v15n42a13.pdf Unidade 06. Tempo/Espaço e mudança social: Conceitos históricos fundamentais. CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Todas as disciplinas possuem alguns conceitos e temas que são os pilares para o seu estudo. No caso da História, esses pilares são as noções de tempo e espaço. Nesta unidade refletiremos sobre a complexidade desses dois conceitos, principalmente o de TEMPO, uma vez que o seu entendimento dispensa uma análise minuciosa de suas características. ESTUDANDO E REFLETINDO Tempo/Espaço e mudança social: Conceitos históricos fundamentais. No estudo da História o que existiu teve um lugar e um momento.( PCNs, p.99) O conceito e a definição de tempo e de espaço são essenciais. Nosso primeiro desafio é saber quando e onde o fato que estudamos aconteceu. Por isso a História é conhecida no imaginário das pessoas como o que Bittencourt (2002) chama de a ciência dos homens no tempo (p.198), devido a sua estreita relação com o tempo. O espaço, por sua vez, se constrói conforme os estudos avançam. Quando o historiador analisa um fato ou um objeto, ele irá contextualizá-lo no tempo e situá-lo no espaço. Noções de tempo e espaço Bittencourt (2002) destaca que o tempo pode ser analisado em várias especificidades. Ela começa com o que chama de tempo vivido, ou seja, o tempo biológico que é marcado pelos anos de vida. Por esse tempo os homens passam por todas as fases do seu viver até que a morte o interrompa. O tempo vivido então se relaciona a vida do ser humano e com a passagem de cada um por essa vida. A outra variação do tempo que a autora ressalta é o tempo concebido, ou seja, o tempo que não é minuciosamente cronometrado, mas faz parte do dia a dia do indivíduo. O tempo concebido é aquele que o indivíduo gasta para fazer um trabalho e depois acaba sendo recompensado por isso, por exemplo. A autora destaca como esse tempo é encarado na sociedade capitalista, ou seja, “tempo é dinheiro” (p.209), não é um tempo cronometrado igual ao tempo vivido, mas é um tempo que para essa sociedade é valioso. Hipólide (2009), ao discorrer sobre a temática tempo, nos orienta para que estejamos atentos à complexidade do conceito. Segundo a autora, não podemos nos esquecer de que o conceito de tempo é uma construção social de diferentes povos, nas mais diversas situações, com a finalidade de proporcionar a organização dos grupos humanos (p.17). A partir dessa lógica, compreendemos que o tempo concebido nada mais é que o tempo que faz parte de uma cultura, de uma sociedade e é concebido por elas sendo completamente diferente do tempo vivido que está relacionado às pessoas e a sua natureza biológica. Piaget dedicou boa parte de seus estudos para entender como o conceito de tempo pode ser trabalhado com os alunos. Percebemos em seus estudos que, para ele, as noções fundamentais acontecem de forma progressiva, e que a maturidade intelectual é essencial para isso. Piaget dizia que durante os estudos é importante que o pensamento se liberte do presente, e isso acontece com a maturidade. Historiadores e o tempo histórico Os PCNs da área de História enfatizam a necessidade de se trabalhar as mudanças e permanências nas sociedades. Para isso é necessário que o historiador identifique esses acontecimentos dentro de um espaço e de acordo com o tempo. Portanto a proposta da História é reconstruir o passado e trazê-lo mais próximo dos tempos atuais. Para organizar essa dinâmica os historiadores recorrem a um elemento presente na maioria das culturas: o calendário. O mundo ocidental utiliza o que chamamos de calendário Gregoriano, imposto pela Igreja Católica a partir do século XVI, a medida que o cristianismo ganhava força no mundo. No entanto, diferentes culturas no mundo também utilizam esse sistema para organizar sua existência. Os maias1, por exemplo, criaram um sofisticado calendário com uma divisão próxima a que usamos hoje. 1 Civilização pré-colombiana que se fixou na América Central por volta de 2500 a.C. Já sociedades que dependem da agricultura possuem calendários baseados nos ciclos naturais, ou seja, o calendário é orientado pelas estações do ano e pelas épocas de plantar e colher. Le Goff (1990) fundamenta o que dizemos com as seguintes palavras: O calendário, objeto científico, é também um objeto cultural. Ligado a crenças, além de observações astronômicas (p.486). Dessa forma entendemos que a existência humana utiliza métodos para organizar seu dia a dia e a história se vale desses métodos para organizar seus estudos. Assim, o calendário se torna um instrumento valioso nas mãos do historiador. O pesquisador em história ainda utiliza outros métodos para realizar seus estudos. Um exemplo é a periodização. Baseados no calendário Gregoriano, os historiadores modernos fazem recortes na história partindo da ideia antes e depois de Cristo e dividindo os a trajetória humana em períodos como: Pré- História, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Contemporânea. A duração dos episódios a serem estudados também segue uma ordem bem definida, considerando que as variações são naturais e devem ser respeitadas. O historiador francês Fernand Braudel afirmava que os acontecimentos históricos deviam ser divididos em três dimensões temporais: Fato de breve duração – Corresponde a um acontecimento preciso, rápido, como a realização de um show, a votação de uma lei no Congresso ou o nascimento de uma criança; Fato de média duração – corresponde a períodos em que algo é realizado, como o mandato de um presidente, a ditadura militar ou a Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Fato de longa duração – Corresponde a períodos longos que modificam por muito tempo estruturas, como o período da escravidão, hábitos e costumes que sobreviveram por muito tempo em uma sociedade. Os historiadores possuem uma relação próxima com o passado e o tempo histórico é o responsável por estreitar essa relação e fornecer elementos para que a pesquisa tenha sentido. Assim, é imprescindível que o conceito de tempo histórico, junto com todas as suas variações, seja definido e utilizado. BUSCANDO CONHECIMENTO A questão do tempo é tão importante no estudo da história que é muito frequente as representações por meio das chamadas “linhas do tempo”. Veja o exemplo a seguir: Para Silva (2012) Para melhor entender o homem e a sociedade, antropólogos e historiadores dividiram o passado da humanidade por Eras Históricas. Através das Eras Históricas entendemos a evolução do homem, suas primeiras formas de sociabilização e vivência em comunidade, os primeiros registros artísticos e religiosos, a justificativa de longas batalhas por território, o desenvolvimento da moeda e da economia, etc. É graças a estes períodos fragmentados da história da humanidade que compreendemos a complexa evolução do homem político, social, econômico, histórico e culturalmente. Unidade 07. Tempo histórico e espaço CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Identificar e analisar os conceitos de tempo e espaço como basilar para as aprendizagens em História. Analisar possibilidadescomo essas temáticas podem contribuir para a realização de projetos escolares. ESTUDANDO E REFLETINDO Tempo histórico e espaço Se a história estuda as ações do homem no tempo, ela não pode excluir a ideia de que essas ações são realizadas em algum lugar. Nesse contexto, o conceito espaço é necessário para que os estudos sigam adiante. Vavy Pacheco Borges (1980) quando discursa sobre o que é história define que o Homem é um ser ativo dentro de um tempo e um espaço: O homem é um ser finito, temporal e histórico. Ele tem consciência de sua historicidade, isto é, de seu caráter eminentemente histórico. O homem vive em um determinado período de tempo, em um espaço físico concreto; nesse tempo e nesse lugar ele age sempre, em relação à natureza, aos outros homens etc. É esse seu caráter histórico. Tudo o que se relaciona com o homem tem sua história; para descobri-la, o historiador vai perguntando: o quê? Quando? Onde? Como? Por quê? Para quê?... (p.55) As disciplinas de História e Geografia dispõem, dentro desse tema, de uma infinidade de oportunidades para produzirem trabalhos juntas. Quando afirmamos que o conceito de espaço é indispensável para o estudo de história, reconhecemos que quem nos fornece essa definição é a Geografia. E junto com a definição todas as ferramentas que podem ser utilizadas pelas duas disciplinas. A cartografia, por exemplo, é um recurso estudado pela Geografia, mas também utilizado pela História. Os mapas históricos são ferramentas que possibilitam a localização das sociedades, e a partir dela seus estudos, além da identificação de rotas sejam marítimas, terrestres, comerciais ou religiosas. Uma das temáticas que é destaque dentro da História hoje é o que chamamos de História Local ou História Regional. Devido a sua proximidade com o corpo discente, os professores a utilizam como um meio de tornar a disciplina mais próxima dos alunos e de conscientizá-los da sua participação na sociedade. No entanto, para utilizá-la, é necessário que os conceitos de território, cidade, vila, bairro estejam todos bem definidos para que o estudo tenha sentido. O conceito de espaço, por sua vez, não pode ser entendido apenas como o lugar. Suas variações devem ser respeitadas, uma vez que dentro da história ele será estudado de diversas maneiras. Em uma aula será determinado pelo estudo dos feudos medievais e terá uma definição. Porém, em outra aula poderá ser estudado como as terras de um rei ou o território conquistado por uma nação. Esse território poderá ser marcado com uma simples medida de pés ou delimitado por meio de um tratado. Considerando que a história produz o conhecimento, baseada nas mudanças e permanências, os espaços foram os que mais passaram por transformações, além dos homens. Outra curiosidade a respeito da relação História e espaço é a questão cultural. Não é difícil para um paulista identificar se a pessoa com quem ele conversa é gaúcho ou mineiro, uma vez que conseguimos identificar elementos culturais que são naturais das diferentes regiões. A questão cultural revela que o entendimento do espaço não é realizado apenas por meio de representações cartográficas, muito pelo contrário, através do espaço conseguimos identificar as relações de poder, culturais e físicas, além dos conflitos de determinadas regiões. Tempo histórico e ensino Um dos desafios enfrentados pelo professor de história é a famosa contagem dos séculos, que se torna um caminho mais árduo quando deve ser feita em números romanos. Geralmente os alunos enfrentam dificuldades para definir os períodos, identificar o que significa antes e depois de Cristo e entender que tempo histórico não é uma simples divisão do tempo. Já trabalhamos que o tempo cronológico é aquele que se refere aos calendários e a medição do tempo e, portanto, é uma etapa importante para ser apreendida. No entanto, não podemos confundi-lo com tempo histórico que é muito mais complexo e envolve não somente as datas e os períodos, mas também como as diferentes culturas se relacionam com o espaço e as mudanças que provocam neles, além das definições que os próprios historiadores concebem dentro do conceito de tempo. A dificuldade que os alunos enfrentam é real, mas o professor pode ajudá-lo a ser diferente. Não é importante para o aluno apenas saber localizar um fato dentro de uma linha do tempo. Será muito mais produtivo se ele conseguir entender as transformações que “aquela” situação provocou “naquela” época, por exemplo. Se o aluno conseguir analisar o modo de vida de determinado período, ele terá muito mais subsídio para assimilar o século em que um fato foi importante, do que se simplesmente tivesse que localizar o tal acontecimento dentro de um intervalo de tempo. O saber deve ter sentido para que seja apreendido e o caminho mais lógico é o da análise e compreensão, por mais difícil que seja, e não o da simples memorização e datação dos acontecimentos. O ensino nas séries iniciais pode se valer da própria família do aluno como objeto de estudo para o entendimento de algumas mudanças. Os avós e pais das crianças, por exemplo, viveram em outros momentos e, portanto, conheceram outros valores, outras pessoas, outros governos, além de terem presenciado diversas transformações que ocorreram na sociedade. Os professores estão expostos diariamente aos perigos que sua profissão deve enfrentar. No caso do professor de história, ele deve ter a consciência de que a divisão da história por períodos é viável desde que seja no mínimo justa. O professor pode dedicar várias aulas para o estudo da Idade Média. No entanto, ele não pode focar somente na Europa, privilegiando a visão eurocêntrica que nos assombra desde a nossa conquista pelos “brancos”. Durante a Idade Média não existia vida somente na Europa, então, nada mais justo do que valorizar as culturas dos outros continentes que também possuem sua importância na formação do que somos hoje. Diante dessa realidade, o ensino de história deve ser orientado de forma que não caia nas suas próprias armadilhas. Métodos, divisões, referências são todos elementos importantes, desde que sejam utilizados com cuidado para que o aluno tenha liberdade para produzir o conhecimento sem que seja manipulado pelo professor ou por algum pensamento dominante, e ainda para que ele possa aprender e não apenas absorver teorias que para ele não existe fundamento. BUSCANDO CONHECIMENTO Para aprofundar seu conhecimento sobre a temática indicada nesta unidade recomendamos a leitura do artigo “As noções de tempo e espaço nas séries iniciais: construindo identidades com a História e a Geografia”, de autoria de Derocina Alves Campos Sosa, cujo resumo transcrevemos a seguir: Resumo: As noções de tempo e espaço nas séries iniciais: construindo identidades com a História e a Geografia visa reconhecer alguns aspectos que são trabalhados nas séries iniciais do Ensino Fundamental no que concerne às noções de tempo e espaço e de como a criança vai sendo encaminhada nesse processo. A construção do sujeito-cidadão perpassa essa linha de investigação na medida em que se reconhece como ser histórico, inserido em um meio geográfico e interagindo com os demais sujeitos sociais. Através das leituras sobre ensino de História e Geografia desde as séries iniciais, passando pelas análises dos currículos e a investigação através de pesquisa diretamente com os agentes envolvidos no processo, procuramos investigar como os conceitos vão sendo trabalhados com as crianças e como os estudantes do ensino Fundamental reconhecem essas disciplinas em seus currículos. O artigo completo está disponível no endereço eletrônico http://www.eeh2010.anpuh- rs.org.br/resources/anais/9/1279409807_ARQUIVO_arquivoartigoanpuh2010.pdf Unidade 08. Ser professor de História:a produção da profissionalização CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade discutiremos sobre a realidade da carreira, as situações enfrentadas pelos professores no dia a dia e sobre possíveis caminhos a serem tomados, visando à realização profissional e à preservação da educação dos nossos alunos. ESTUDANDO E REFLETINDO Ensinar História Ao entrar em uma sala de aula, o professor deve estar consciente do seu papel naquele espaço e dos desafios que irá enfrentar. O primeiro deles é ser professor. A prática docente não se limita apenas a ensinar. Ao contrário, ela consiste em ensinar, aprender e produzir. O professor merece todo respeito e admiração, desde que ele tenha plena consciência de que não é o dono do saber e sim um mediador do mesmo. Bittencourt (2002) afirma que o professor é aquele que transforma o saber a ser ensinado em saber a ser aprendido (p.50) e ressalta que o docente sozinho não realiza trabalho nenhum, ou seja, professor e alunos, juntos, produzem o conhecimento. No nosso caso, cabe ao professor-historiador ensinar a História. E como fazê-lo? Afinal, história se ensina? O primeiro passo a ser dado é entender que a história não é mais apenas uma matéria que faz parte da matriz curricular das escolas. A história, como ciência dos homens, possui seus objetivos claros no processo de formação dos alunos. Segundo os PCNs, essa disciplina é a responsável por formar cidadãos críticos e participativos, conscientes dos seus direitos e deveres e que saibam respeitar e valorizar tanto as diversidades culturais, étnicas, sexuais, sociais e religiosas, quanto o patrimônio privado ou público. Essa não é uma tarefa fácil, porém pode tornar-se prazerosa ao longo do processo de ensino-aprendizagem. Através da história a escola busca formar cidadãos completos. Essa formação só é possível por meio de análises e reflexões que só podem ser feitas com base nos fatos históricos. Sabendo dessa importância da disciplina no contexto escolar, o professor de história tem que estar preparado para lidar com as situações que o cercam. Um ponto de grande discussão é a própria formação dos professores. Fonseca, ao discorrer sobre a formação docente, afirma que a formação inicial é fundamental para a construção do caráter profissional do docente. Assim, é indispensável que o graduando seja bem orientado nesse processo, pois essa será a base de sua vida profissional. No entanto, a autora destaca um problema enfrentado na área da história hoje em dia: a distância entre o professor e o pesquisador, entre a história como investigação e a história como transmissão. A mesma autora afirma que o ofício do historiador é investigar, que ele faz um levantamento das fontes históricas, analisa-as para dialogar com as teorias e outros conhecimentos produzidos e escreve história (p.49). O professor de história deve ser um professor-pesquisador e orientar os alunos para que sejam alunos- pesquisadores. Entretanto, segundo a autora, o que encontramos nas escolas hoje é outra realidade. A escola se tornou em um lugar de transmissão (p. 61). BUSCANDO CONHECIMENTO Se não bastasse a escola perder seu caráter de instigadora de conhecimento, ou seja, um lugar que propicie condições para que o saber seja produzido e não apenas absorvido, os professores também já não são formados para serem professores-historiadores. Percebemos que existe um abismo entre o acadêmico e o escolar, isto é, a pesquisa está limitada à universidade, e os profissionais que trabalham com educação estão limitados a reproduzir. Ao analisar as Diretrizes Curriculares nacionais dos Cursos Superiores de História, entendemos a diferenciação que existe no país entre a pesquisa e a educação. A prioridade é formar historiadores com todas as habilidades e competências, sendo que a formação para a educação está ficando em segundo plano. Fonseca (2009) ressalta que: Os cursos de história devem formar o historiador, qualificado para o exercício da pesquisa. Atendida essa premissa o profissional estará apto para atuar nos diferentes campos, inclusive no magistério. Forma-se o historiador. Sobre a formação do professor, o texto silencia (p. 65) A realidade em que estamos inseridos é a de que existe uma supervalorização da pesquisa e principalmente das especializações, que acabam prejudicando a formação docente. Fonseca destaca que um historiador completo deve saber questionar, analisar, transitar pelas outras áreas do conhecimento, além de desenvolver pesquisas e orientar a produção dos saberes. Não é apenas o historiador que necessita dessas habilidades e competências, o professor também, e ainda adiciona a capacidade de relação com os indivíduos e a formação para mediar um processo de ensino-aprendizagem. No entanto, a formação em história orienta o indivíduo para a pesquisa e, quando ele se forma, a primeira opção que lhe surge é a docência. Porém, sua formação hiper- especializada, voltada para a pesquisa, não lhe forneceu os saberes pedagógicos básicos, que Fonseca chama de complementares (p.68) para a realização do trabalho. Nesse momento o professor se distancia do aluno, da escola e a história passa a ser algo que é contado, transmitido e não questionado e analisado. A escola é um espaço que reflete muitos dos dilemas da sociedade. Ela pode ser encarada como um local de trabalho, um local para adquirir conhecimento, ou simplesmente um refúgio, como é para muitos. Entretanto, ela não dispõe da atenção que merece. Seja por parte dos alunos que às vezes não a entende como deveriam, pela família que em alguns momentos não exerce o seu papel ou pelo próprio poder institucional que não valoriza a escola e a disciplina de história como deveria. Fonseca alerta que a disciplina de história muitas vezes é desvalorizada pelos alunos e por diversos setores do aparato institucional e burocrático (p.70). A escola é também um espaço de conflitos e o professor de história, munido de sua capacidade de argumentativa e analítica, se torna uma peça fundamental para mediador muitos desses confrontos. Assim, refletindo sobre a questão da supervalorização da pesquisa em detrimento da educação, do papel multifuncional do professor e da complexidade do espaço escolar, é natural que muitos jovens recém-formados se assustem com a realidade escolar e sintam-se perdidos diante do que aprenderam que parece não ter sentido naquele ambiente. Por isso a necessidade de um olhar especial para a formação pedagógica, visando reduzir a distância entre a formação realizada e a formação necessária.. Diante dessa problemática, vale ressaltar a importância da formação continuada. Borges (1980) destaca que a história é a história do homem vivendo em sociedade. Se ele está vivendo em sociedade, ele está agindo e, portanto, provocando transformações. São elas, aliás, que movimentam o estudo da história e por isso é necessário que o professor que trabalha com a disciplina esteja sempre atento às transformações, principalmente aos novos estudos. A formação do professor no Brasil sempre foi questionada: ou o professor é culpado por tudo de errado que acontece na educação, ou ele é o salvador da pátria. Fonseca discursa sobre a necessidade de o professor ter além de sua formação mais dois itens: Formação contínua, que engloba cursos, treinamentos e condições de trabalho, como materiais e salário. Unidade 09. Tornar-se professor (a) de história: preâmbulos identitários CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Identificar aspectos que definem a profissão do professor de história ESUDANDO E REFLETINDO Ao analisar a essência de um professor de história, Fonseca traz algumas indagações pertinentes. Primeiro a autora tenta entender o que leva os indivíduosa se tornarem professores de história e percebe que a capacidade aguçada de serem críticos impede os professores de história de definirem o que fez com que escolhessem essa profissão. Essa capacidade pode ser o primeiro passo para a resposta, já que é o desenvolvimento da postura crítica uma das grandes buscas da disciplina de história em relação aos alunos. A verdade é que se tornar professor é apenas o primeiro passo. O educador se constrói no dia a dia, durante a prática docente, sem desvalorizar suas experiências já vividas e as que ainda têm por viver. Hoje a prática docente é muito questionada pela sociedade, inclusive pelos próprios professores, que não concordam com a maioria das mudanças políticas e educacionais, além de se sentirem desvalorizados tanto socialmente, como profissionalmente e financeiramente. Assim, os professores de história buscam, por meio do seu poder de argumentação e reflexão, conscientizar a própria classe da necessidade de luta e resistência para que a profissão volte a ser valorizada e respeitada. Essa necessidade de lutar e resistir faz parte da construção da própria identidade do professor, uma vez que nos tempos de hoje essa é uma realidade incorporada ao ofício do educador. A identidade profissional está sempre em construção e sua vida, suas experiências interferem na sua formação. Ainda na ânsia de responder o que levou o indivíduo a escolher a história, a autora destaca que muitos fizeram essa escolha por influência de um bom professor e outros por ter interesse por questões políticas e sociais. É natural ouvir de algumas pessoas que ingressaram nessa carreira por necessidade, ou por falta de opção e não por que gostam ou têm “vocação”. Nesse contexto, na maioria das vezes, a continuidade da formação é deixada de lado enquanto em outros casos muitos professores chegam a trabalhar em três empregos buscando uma estabilidade profissional e financeira. Nesse momento também que o professor recebe suas gratificações, presenciando ex-alunos seus se tornarem homens e mulheres bem sucedidos e que reconhecem quem foi a base desse sucesso. Conflitos e ansiedades à parte, a realidade é que nos tornamos professores transmitindo o que sabemos, orientando os alunos a utilizar esse saber e principalmente sendo humildes para aprender com eles. Não são poucos os desafios enfrentados pelos professores de história em relação a sua profissão. Fonseca destaca alguns desafios que são inerentes ao educador-historiador: 1. O professor de história está sendo cada vez mais sobrecarregado, ou seja, a todo o momento surgem novas exigências e obrigações, por isso a necessidade da formação contínua. Por outro lado, a quantidade de exigências e obrigações é muito maior que a valorização e a recompensa. 2. Os professores de história estão sozinhos com os alunos e a formação de sua consciência histórica e social. A família, por exemplo, que poderia dar um respaldo, está cada vez mais distante. 3. Embora a história trabalhe com o passado e suas fontes sejam às vezes consideradas arcaicas pelos alunos (o jornal impresso, hoje em dia), o professor de história deve aprender a trabalhar com novas linguagens como vídeo e música, afinal essa é a realidade dos alunos. Entretanto a questão é saber como trabalhar com as novas fontes. 4. A sociedade, os valores e as concepções mudaram e o professor deve entender essas mudanças. A escola, por sua vez tem que se preparar, afinal o seu papel na sociedade também foi reformulado. 5. Os professores devem ter suas próprias concepções bem definidas e precisa da formação contínua para auxiliá-lo na construção dessas concepções. 6. Não é possível ensinar a história de toda a humanidade. Sendo assim, é necessário reformular os conteúdos de história para que eles estejam mais próximos da realidade dos alunos. 7. A escola precisa de recursos físicos e didáticos e o Estado precisa ser pressionado quanto a isso. Afinal esses recursos são fundamentais para o trabalho do professor dentro de sala de aula. E o educador precisa ter essa consciência. 8. Indisciplina e violência são problemas cada vez mais freqüentes nas escolas. Como se trata de relações humanas é um desafio para o professor de história tratar desse assunto. 9. A história privilegia a opinião, o expressar do aluno, então, como avaliar na disciplina de história? Esse é um dos grandes temas a serem discutidos, já que necessita de novas abordagens. 10. A pesquisa visa processos investigativos. Isso não é cópia. Portanto, é um grande desafio para o professor mostrar aos alunos que a cópia não é válida para o processo de ensino-aprendizagem. Esses dez itens revelam desafios enfrentados durante o ano letivo pelos professores de história e que validam a ideia da formação contínua, uma vez que ela dará fundamentação para que esses problemas possam ser solucionados. BUSCANDO CONHECIMENTO Cerezer (2008), no artigo intitulado “Formação de Professores e Ensino de História: Perspectivas e Desafios” destaca que para analisar a formação do professor de história é preciso considerar a dinâmica sócio histórica e associá-la ao processo de formação inicial e atuação profissional. Para ele, as multirreferências presentes na dinâmica social estão subjacentes à formação do alunado para os quais os professores concebem suas práticas. Para esse autor, Na atual conjuntura educacional, não é mais possível continuar vendo a escola como um campo de atuação das manifestações culturais dominantes, uma vez que a escola tem como principio básico a formação dos cidadãos nas suas concepções mais amplas e democráticas, pois vivemos numa sociedade em que as manifestações políticas e culturais são múltiplas e variadas e, nesse contexto, se faz necessário a construção de uma prática pedagógica que privilegie as diferenças existentes no próprio ambiente de sala de aula. As diferenças existentes são produto de uma sociedade culturalmente multifacetada e permeada pelas mais diversas realidades sociais, fruto de um contexto histórico construído sobre alicerces sociais discriminatórios e excludentes, onde os valores das camadas dominantes sempre estiveram em primeiro plano, impedindo a construção de uma sociedade fundada na diversidade e na democracia. Completa ainda que: O papel de “formadora, emancipadora e libertadora” da disciplina de História, só possuirá eficácia através do trabalho realizado pelo professor em sala de aula e sua interação com os alunos. Por isso a importância do mesmo em buscar uma aproximação com as questões ensinadas e a realidade vivida pelo público escolar. Levar em consideração a diversidade social e cultural existente em cada realidade escolar e adequar as abordagens realizadas em sala de aula a estas realidades, não vai resolver todos os problemas, mas é o primeiro e mais importante passo a ser dado por todos aqueles que acreditam na inclusão e na luta pela democracia social. A íntegra do artigo desse autor você poderá encontra no endereço eletrônico http://www.espacoacademico.com.br/077/77cerezer.htm. Unidade 10. Trajetória histórica da disciplina História: percepções e constatações CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade refletiremos sobre o que é história, como se deu sua constituição como disciplina do currículo escolar, quais os métodos e conteúdos que ainda sobrevivem, quais são novos e qual a importância de se estudar História. ESTUDANDO E REFLETINDO Um dos principais objetivos da história hoje é formar cidadãos críticos, ativos e conscientes da sua importância no grupo em que vivem. Porém, nem sempre foi assim. A disciplina de História já possuiu outras funções, algumas até contrárias das que temos hoje. Conteúdos e métodos de ensino de História:digressões na história Durante o período em que o Brasil passava por uma ditadura militar, as disciplinas de história e geografia constituíam uma única disciplina: os Estudos Sociais. A partir da década de 80, com o processo de abertura política, os Estudos Sociais foram substituídos pela História e a Geografia, que agora “caminhariam” sozinhas novamente. Diante dessa situação a nossa disciplina, História, passou a ser reavaliada quanto a sua existência e função dentro da sociedade. Bittencourt (2002) destaca preocupações como a constituição da disciplina no currículo escolar e a sua utilização por parte de quem possui poder para manipular ideias e comportamentos dos alunos, ou ainda, a grande distância entre a história encontrada nos livros e aquela realmente vivida pelos grupos humanos e que afetam o cotidiano daqueles que a estudam. História na antiga escola primária Na segunda metade do século XIX, com o aumento do nível de escolarização da sociedade, a escola de alfabetização passa a ter maior destaque e, por conseguinte, a sua constituição também. Nesse momento a disciplina de história surge com a finalidade de construir uma “identidade nacional” por meio da história nacional. Essa prioridade em levar o aluno a valorizar o seu meio natural ainda sobrevive no ensino das nossas escolas. Pátria, moral e civismo no ensino de história. Durante o período monárquico, o ensino de história estava vinculado ao desenvolvimento da leitura e da escrita. Os professores deveriam utilizar textos que evidenciassem as figuras dos heróis e sua importância para a constituição do Brasil e os conteúdos culminavam com os “grandes eventos” da Independência e da Constituição do Estado Nacional, responsáveis pela condução do Brasil ao destino de ser uma “grande nação” (PCNs, p.20). Nesse contexto a disciplina de história estava voltada para a formação moral e cívica do aluno, tendo como finalidade o desenvolvimento, no aluno, de um sentimento de dever para com a sua pátria, resumindo, visando a uma formação patriótica desse educando. De acordo com os PCNs: A História foi incluída no currículo ao lado das línguas modernas, das ciências naturais e físicas e das matemáticas, dividindo espaço com a História Sagrada, a qual tinha o mesmo estatuto de historicidade da História Universal ou Civil, pois ambas estavam voltadas para a formação moral do aluno (p. 19) A história dos santos e dos heróis caminhavam juntas nas escolas, uma vez que a História Sagrada dividia espaço com a História Universal. A realidade é que os textos que predominavam eram relacionados à vida dos religiosos ou aos grandes feitos dos heróis da nação. Embora fosse aconselhado por professores e inspetores a sua escolha, o estudo da história da pátria era optativo e seguia a mesma dinâmica da História Sagrada, ou seja, os fatos eram narrados e enalteciam as grandes realizações dos grandes personagens da história. Com o fim da escravidão e o advento da República, a realidade social do país mudou. O Brasil passava por um aumento populacional significativo, uma vez que, além do grande número de negros livres, a imigração ascendia a números expressivos e sem precedentes. A política brasileira também se transforma e os alfabetizados passam a ter direito ao voto. As políticas educacionais são demandadas a acompanhar essas mudanças e atender um número muito maior de alunos, além de ter que incutir valores nesses educandos que os preparassem para o exercício da cidadania no Brasil Republicano. Até esse momento da história, a valorização exacerbada dos “heróis das elites” tinha ensinado a população, desde o primeiro ano escolar, que a elite deve mandar e conduzir a nação e aos trabalhadores e cidadãos cabia à obediência, a manutenção da ordem e o direito e dever de trabalhar. Estava aí delineado o papel da instituição escolar: ensinar os trabalhadores livres que chegavam ao país que deveriam trabalhar e manter a ordem. Bittencourt (2002) afirma que a história tinha como missão ensinar “as tradições nacionais” e despertar o patriotismo (p. 65), confirmando o seu trabalho diante do desenvolvimento de um espírito nacionalista, que valorizasse a elite branca condutora da nação e as tradições que essa elite impôs à sociedade. No início do século XX, o patriotismo era o principal foco da organização do currículo escolar. Alguns intelectuais e grupos, entre eles anarquistas, começaram a defender e a lutar por um ensino diferente que valorizasse a diversidade brasileira e a importância de índios e negros na constituição da nação, por exemplo. Bittencourt (2002) destaca que grupos anarquistas, que defendiam direitos trabalhistas, criaram escolas populares para a classe trabalhadora. Além disso, discutiam assuntos como a ideia de civilização imposta pelos europeus e as defendiam diante da sociedade. Os anos 30 foram marcados por mudanças significativas no cenário educacional. Escolas anarquistas e escolas mantidas pelos imigrantes, por exemplo, foram fechadas e o poder estatal, com a criação do Ministério da Educação, passou a organizar de maneira sistemática os currículos escolares, sem perder a fundamentação patriótica e focando nas “tradições nacionais” e nas festas cívicas. O órgão estatal da educação criou normas rígidas e que deviam ser seguidas por todos os sistemas escolares. Esse currículo estabelecido para a educação brasileira valorizava o culto aos heróis, como Tiradentes, e as festas cívicas como 7 de setembro ou 15 de novembro. BUSCANDO CONHECIMENTO A memorização no processo de aprendizagem Não são muito distantes os tempos em que a História era sinônimo de guardar datas e nomes e do professor de história ser considerado um calendário ambulante. O ensino da História durante muito tempo foi baseado no catecismo, ou seja, no método da memorização. Ensinava-se história fazendo perguntas e exigindo a resposta correta, sendo que o aluno que não soubesse a resposta poderia ser punido com a famosa ”palmatória”. Aprender, naquela época, só acontecia se o aluno memorizasse. Lavisse (1842–1922) defendia o que chamamos de método mnemônico, ou seja, métodos baseados na construção da inteligência da criança a partir da memorização. Esses métodos eram utilizados no Brasil, sendo que para o aluno demonstrar seu conhecimento histórico deveria ter memorizado a maior quantidade possível de fatos, nomes e datas. Era muito comum, nas escolas brasileiras, os alunos recitarem versos de escritores famosos enaltecendo a beleza e exuberância do Brasil. No entanto, esses versos eram memorizados de forma mecânica e apenas repetidos, os alunos na verdade não haviam compreendido, não tinham consciência daquilo que haviam memorizado. Unidade 11. História e currículo científico CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Analisar as principais tendências do ensino da História nas diferentes épocas e contextos sociais. ESTUDANDO E REFLETINDO Estudos sociais e os métodos “ativos” A partir dos anos 30, propostas apresentaram os Estudos Sociais como a melhor opção em substituição à História, a Geografia e ao Civismo. Essa disciplina seria a responsável por preparar o aluno para conviver no grupo social. Os educandos trabalhariam temas da sociedade de acordo com sua idade e os estudos partiriam da sua realidade mais próxima: escola, bairro, família. Somente nos anos 60, com a instauração da ditadura militar, que os Estudos Sociais começaram a ser adotados por todo o sistema de ensino do país. Os Estudos Sociais eram constituídos de forma que fossem a base para a formação dos valores morais. Sua finalidade não era mais apenas o desenvolvimento de um sentimento patriótico, mas também uma maneira de “controlar” a juventude para que não se transformasse radicalmente, como vinhaacontecendo com alguns segmentos sociais naquele momento. Essa disciplina era o fruto da união dos conhecimentos de várias outras, como a História, a Geografia, a Sociologia, a Economia e a Antropologia. Seu estudo baseava-se no entendimento da sociedade capitalista, segundo impunha o modelo norte- americano. No caso dos Estudos Sociais, o método ativo foi utilizado, uma vez que, esse método possibilita que o interesse da criança seja o ponto de partida para o seu estudo. A partir dessa lógica, os conteúdos que decorrem desse método, são selecionados de maneira que o estudo tenha como ponto de partida o mais próximo para depois chegar até o mais distante. O professor deveria trabalhar com as crianças situações em que elas pudessem analisar suas próprias lembranças do espaço que ocupam e depois situações correspondentes a outros grupos sociais, afim de que elas pudessem respeitar outras culturas e não serem capazes de desenvolver sentimentos xenofóbicos, por exemplo. A História nesse contexto se limitava a oferecer alguns conteúdos históricos, como datas de grandes acontecimentos e narrativas dos feitos dos grandes heróis. Ensino de história no secundário A partir de 1837, com a criação do colégio Dom Pedro II, a História passou a ser estudada também no ensino secundário. O currículo humanístico continuava a ter como base a formação da identidade nacional dos indivíduos. De acordo com os PCNs: A História como área escolar obrigatória surgiu com a criação do Colégio Pedro II, em 1837, dentro de um programa inspirado no modelo francês. Predominavam os estudos literários voltados para um ensino clássico e humanístico e destinados à formação de cidadãos proprietários e escravistas (p.19) O nível secundário no Brasil era oferecido tanto pelo setor público, como pelo setor privado, que desempenhava importante papel na formação da elite brasileira. Até os anos 50, as escolas confessionais de ordens religiosas, como internatos e externatos, também tiveram um papel fundamental dentro do sistema de ensino brasileiro. A partir dos 50, com o crescimento da classe média urbana e do número de escolas secundárias, as escolas confessionais não resistiram à concorrência e começaram a perder forças. O currículo humanístico, que predominava nas escolas secundárias, privilegiava a formação com base no estudo de línguas, principalmente o Latim, e a partir de leituras de textos da Antiguidade Clássica. Esse currículo visava à formação de uma elite letrada e diferenciada do restante da população. Segundo Bittencourt (2002), a seleção dos textos literários realizava-se tendo em vista a apreensão de valores como a prudência, a justiça, a coragem e a moderação (p.78). Seguindo o modelo francês, como mencionado nos PCNs, o currículo era baseado na divisão tradicional da história (Antiguidade, Idade Média, Moderna e Contemporânea), além da História Sagrada e depois a História da Pátria ou do Brasil. Os historiadores do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB) forneceram elementos para a constituição da história nacional, tendo a “descoberta do Brasil” como o nascimento da nação, e a independência como o surgimento da “grande nação”. No entanto, essa história baseava-se no princípio de que o Brasil estava inserido no mundo europeu que, aliás, era supervalorizado como o berço da nação. A partir do fim do século XIX a organização do ensino brasileiro começou a buscar outros caminhos com a introdução de outras disciplinas, visando à formação da elite e de novas gerações que soubessem lidar com a onda industrial que tomava conta do mundo. Para se adaptar a essa sociedade industrializada, os alunos deveriam ter uma formação na qual aprendessem a lidar com as ciências da natureza, além das humanas. Nesse momento a Matemática, a Física, a Química e a Biologia foram incorporadas ao currículo. O currículo científico proporcionava a formação de uma nova elite. As disciplinas foram mais bem organizadas, inclusive a História, que não deixou de ter como finalidade a formação da elite e do sentimento patriótico, mas que passou a ter outras definições, como a formação do cidadão político consciente do seu direito ao voto. A História Sagrada, por exemplo, foi separada da História da Civilização. A cronologia continuou a organizar o currículo escolar e o homem branco continuou a ter o status de civilizado e civilizador, além de o Brasil continuar a ser entendido como fruto de Portugal. A História da América, por exemplo, não foi implantada, já que a identidade do brasileiro partia da sua “descoberta” pelos portugueses e não da sua autoafirmação. Assim, a História do Brasil continuava a ficar em segundo plano. Em 1942, o ministro da educação do governo de Vargas, Gustavo Capanema, instalou reformas significativas no ensino brasileiro. O ensino secundário foi dividido em dois níveis: o curso ginasial, oferecido para todos e o colegial, que geralmente era frequentado por cidadãos da elite ou por indivíduos de classes em ascensão, ambos com possibilidades de cursar um ensino superior. Essa divisão atendia a uma necessidade da época, em que o Brasil começava a possuir um grande número de indústrias e necessitava de mão-de-obra especializada, além de mercado consumidor. A História era organizada de forma a proporcionar uma formação que apresentasse desde fatos históricos, políticos e econômicos até fatos ligados à arte, à literatura e à ciência, ou seja, os alunos tinham uma formação geral, ampla em relação à cultura e também à possibilidade de adquirir conhecimentos eruditos. A partir de 1950, professores começaram a criticar os métodos utilizados para se ensinar história. Para eles a maneira como se ensinava história nas escolas não proporcionava uma autonomia intelectual de extrema importância diante de situações cotidianas relacionadas à economia, à indústria e principalmente à política. Os professores defendiam que a formação dos alunos deveria lhes oferecer elementos para que eles fossem capazes de analisar a realidade política e econômica na qual estavam inseridos, afim de que pudessem agir diante das transformações pelas quais a sociedade passava. Entretanto, ainda assim, não surgiam críticas referentes à concepção que predominava nas escolas: o mundo era branco e cristão. A ditadura militar presenciou, a partir dos anos 70, uma nova organização da educação. O ensino secundário foi dividido em dois níveis: o ginásio (primeiro grau de oito anos) e o colegial que possuía um caráter profissionalizante. A História e Geografia transformaram em Estudos Sociais e seus conteúdos tiveram que competir com os conteúdos da Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política. A História não conseguia exercer um papel decisivo diante da luta por direitos de cidadania e continuava a ser voltada para a formação da elite. BUSCANDO CONHECIMENTO Mudanças e Permanências nos métodos de ensino O método utilizado na escola primária, método da memorização, aos poucos começou a se aliar ao método ativo, no ensino secundário. O Colégio Dom Pedro II e as escolas públicas seguiam o mesmo esquema referente aos métodos e a maneira como conduziam o ensino. Os alunos faziam as leituras indicadas pelos professores, respondiam os questionários e realizavam as provas aos sábados, daí o nome sabatinas. Os livros didáticos eram utilizados massivamente e tidos como inquestionáveis. Nesses livros o aluno podia ler os textos, fazer resumos e responder os questionários, desde que possuísse uma boa capacidade de memorização. O professor tinha que utilizar o livro didático, uma vez que essa era a maneira mais eficaz de se trabalhar. Na década de 50, as ciências exatas, influenciadas pelos Estados Unidos, se consolidaram dentro do espaço escolar. Essas ciências tinham como objetivofornecer elementos para a formação das elites voltadas para o avanço tecnológico, ou seja, em um contexto em que EUA e URSS disputavam áreas de influência, mundo afora, a formação de pessoas que fortalecessem o capitalismo era tudo o que os norte-americanos precisavam, O Brasil seguiu essa lógica. Junto a esse contexto de consolidação das ciências exatas, surgiam novas críticas em relação aos métodos utilizados no ensino de história. Ainda na década de 50, as Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras se multiplicavam e as discussões sobre a área de humanas também. Professores, historiadores e intelectuais começavam a defender a neutralidade para o ensino de História. Para eles as ciências humanas deviam seguir os métodos das exatas e sua constituição devia ser imparcial. O professor, por exemplo, não poderia proferir sua opinião, mas sim levar o aluno a formar a sua própria concepção. Essa corrente ainda defendia o uso de textos históricos originais, jornais e revistas e não somente o livro didático. Os objetivos e a constituição da disciplina de História deveriam ser revistos e redefinidos. Durante a década de 60, a discussão sobre quais métodos utilizar para trabalhar história estava em questão. Na Escola de Aplicação da USP, por exemplo, os docentes utilizaram meios audiovisuais como filmes para trabalhar determinados conteúdos e a partir dessas experiências organizaram discussões, a fim de avançar na problemática referente aos métodos. Os professores debatiam a disciplina de história e seus métodos com o intuito de renovar a sua organização e redefinir a sua função dentro da sociedade. Mas vale lembrar que, na década de 70, durante a ditadura militar, escolas que ousavam inovar eram consideradas subversivas e podiam ser fechadas pelos militares. A educação vigente no Brasil após a Era Vargas - Helder Henrique Jacovetti GASPEROTO. Disponível em: http://www.fcla.edu.br/unar2007/revista/pdf_V3_2009/3.%20A%20educa%C3%A7 %C3%A3o%20vigente%20no%20Brasil%20ap%C3%B3s%20a%20era%20Vargas.p df Unidade 12. A seleção de conteúdos históricos na Educação Básica: inferências conceituais e práticas. CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade, analisaremos como o professor deve orientar a sua seleção dos conteúdos a serem trabalhados de maneira que consigam aproximar a história da realidade do corpo discente, fazendo-a ter sentido no contexto escolar. ESTUDANDO E REFLETINDO A história da humanidade é extensa e rica em detalhes e fontes. Entretanto é impossível conseguir trabalhar toda a história da humanidade durante o ensino fundamental e médio. Por isso, os historiadores costumam fazer recortes, trabalhando alguns episódios e a partir deles refletindo sobre alguns conceitos. Critérios para a seleção de conteúdos históricos. Atualmente os professores dispõem de uma autonomia para a condução do seu trabalho que lhes oferece algumas vantagens quanto a sua realização. Essa autonomia é válida em relação à seleção dos conteúdos a serem trabalhados durante o ano letivo. Bittencourt (2002) afirma que os caminhos a serem trilhados são diferentes, no entanto. os objetivos e os fundamentos pedagógicos são parecidos. Assim, o professor pode optar por um ensino tradicional e selecionar os conteúdos seguindo uma lógica temporal, por exemplo, partindo da História do Brasil para depois trabalhar História Antiga e Contemporânea. Mas esse Atualmente, uma das maiores dificuldades dos professores de história é selecionar os conteúdos históricos apropriados para as diferentes situações escolares. A autonomia do trabalho docente inclui, entre outros aspectos, a escolha dos conteúdos históricos para as diferentes salas de aula. Trata‐se de optar por manter os denominados conteúdos tradicionais ou selecionar conteúdos significativos para um público escolar proveniente de diferentes condições sociais e culturais e de adequá‐los a situações de trabalho com métodos e recursos didáticos diversos (Bittencourt, p.137). educador pode querer abandonar a visão tradicional e resolver trabalhar com propostas que apresentem os conteúdos organizados em eixos temáticos ou temas geradores, o que mudaria totalmente sua forma de trabalhar, já que a seleção desses temas são completamente diferentes. A história da humanidade é extensa e é um consenso entre os profissionais envolvidos com a educação que não conseguimos trabalhar toda essa história. O docente deve ter a consciência de que é necessário selecionar os conteúdos mais significativos, isto é, aqueles que permitem uma análise completa e maior apreensão dos conceitos e processos. A seleção desses conteúdos ainda deve considerar a realidade do aluno, pois temos que trabalhar temas que fazem sentido para aquela criança no espaço em que vive, além da disponibilidade de materiais que viabilizam o trabalho e o tempo disponível para a sua realização. Todos esses itens devem ser considerados durante a seleção dos conteúdos, pois somente assim ele será “significativo” para o educando. Se a história da humanidade é extensa, a produção de materiais sobre essa história deu um salto e começa a crescer a quantidade de produções que podem dar um suporte aos professores. Os profissionais envolvidos com a área histórica estão proporcionando novas interpretações dos fatos, orientando seus estudos por caminhos, algumas vezes, desconhecidos até então. A história das mulheres, dos movimentos sociais, dos lugares são temas que estão sendo discutidos frequentemente e até incorporados às propostas curriculares. Um exemplo é a História Regional, que já ocupa posição de grande destaque em várias propostas curriculares. Cabe ao docente selecionar esses materiais de maneira que seus objetivos fiquem claros, e que essas produções realmente o auxiliem no processo de ensino-aprendizagem. BUSCANDO CONHECIMENTO Para entender melhor a questão de o que devemos ensinar na disciplina História leia o artigo reproduzido a seguir: O que ensinar em História Os estudantes só aprendem a disciplina quando relacionam fatos, confrontam pontos de vista e consultam diversas fontes de pesquisa. Ana Rita Martins (novaescola@fvc.org.br) Em todos os tempos, o ensino de História foi permeado por escolhas políticas. No Brasil, após a proclamação da República, em 1889, a construção da identidade do país tornou-se prioridade. As elites tinham de garantir a existência de um estado-nação, escolhendo para ser ensinado aos alunos conteúdos que exaltavam grandes "heróis" nacionais e feitos políticos gloriosos. Desde então, poucas mudanças aconteceram em termos do quê e como ensinar nessa área, e todas foram influenciadas, sobretudo, pelas visões de quem estava no poder. Para desenvolver a postura crítica da turma e dar aulas consistentes, é fundamental que o professor entenda esse processo. História é uma disciplina passível de múltiplas abordagens - que até há pouco tempo não estavam em sala de aula, mas que hoje devem ser vistas com destaque. Por isso, tornou-se premente o trabalho com diversas fontes e o relacionamento do passado com o presente para que se entenda que contra fatos há, sim, argumentos. Tudo depende do olhar que se lança sobre eles. Quando os jesuítas chegaram ao Brasil em 1549 e fundaram a primeira escola, só usavam os textos históricos como suporte para ensinar a ler e escrever e seus conteúdos sequer eram discutidos. Foi apenas em 1837 que o Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, instituiu a História como disciplina obrigatória e autônoma (leia a linha do tempo no box "O ensino de História no Brasil"). O foco era a formação da civilização ocidental e o estudo sobre o Brasil era apenas um de seus apêndices. Vale lembrar que a história bíblica tambémera um conteúdo a ser abordado - só sendo retirada do currículo em 1870, com a diminuição do poder da Igreja sobre o Estado. A maioria dos professores do Colégio Pedro II era formada por membros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, criado em 1838 e adepto de uma visão político- romantizada do processo de construção do Brasil. Além de pautar o ensino pela questão da identidade nacional de maneira ufanista, eles acreditavam que o ensino de História tinha o papel de formar moral e civicamente - um dos objetivos da disciplina na época e que está ultrapassado teoricamente. A metodologia utilizada era a tradicional (conheça outros métodos no quadro da página ao lado), que tinha como princípio levar os alunos a saber datas e fatos na ponta da língua. Também houve a influência do historiador prussiano Leopold von Ranke (1795- 1886), que via a história como uma sucessão de fatos que não aceitavam interpretação. Segundo ele, pesquisadores e educadores deveriam se manter neutros e se ater a passar os conhecimentos sem discuti-los, usando para isso a exposição cronológica. Na hora de avaliar, provas orais e escritas eram inspiradas nos livros de catequese - com perguntas objetivas e respostas diretas. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/passado-presente-juntos- ensinar-428266.shtml Unidade 13. Abordagens historiográficas e conteúdos escolares: Narrativa, História Econômica, História Social e História Cultural CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Identificar as principais tendências da historiografia para a produção do conhecimento histórico. ESTUDANDO E REFLETINDO O desejável no processo de escolarização é que um aluno, ao ser apresentado a uma aula de história, saiba o que realmente é a história. Também é imprescindível que um professor ao ministrar suas aulas tenha absolutamente claro qual a importância dessa disciplina, sua constituição, suas tendências e suas variações. Assim sendo, o docente deve estar atento aos seus referenciais teóricos de maneira que tenha consciência e certeza das suas escolhas durante a seleção dos conteúdos a serem trabalhados. Abordaremos, a seguir, as principais tendências da historiografia para a produção do conhecimento histórico: Narrativa Nessa abordagem, dois elementos importantes devem ser considerados sobre a história: Primeiro que cada fato é único e não se repetirá e segundo que o professor deve ser um indivíduo “neutro”, ou seja, as conclusões a partir da história devem ser tiradas pelo aluno e não fornecidas pelo professor. Essa corrente valoriza os grandes feitos, dos grandes heróis, destacando o papel das elites e dos grandes Estados e reproduz a história desses homens da maneira como foi, narrando suas peripécias e realizações. A história trabalhada dessa maneira foi durante muito tempo a base do ensino de história, já que era por meio da narrativa que se apresentava a sociedade a história da nação, do país. Existem inúmeras críticas à História narrativa, considerando seu caráter de supervalorização de figuras do poder. Por outro lado, conhecemos estudiosos que defendem o retorno à narrativa. Bittencourt (2002) afirma que Walter Benjamin (1892-1940) defendia que a história como narrativa possibilita o desenvolvimento da capacidade de interpretação. Para ele, o professor apresenta o fato e a partir da sua explanação o aluno poderá analisar o acontecido, os personagens e tirar suas próprias conclusões. Outra questão que deve ser refletida em relação à História como narrativa é a sua inteligibilidade. Bittencourt (2002) destaca que a história narra acontecimentos que necessitam ser explicados e situados em determinadas problemáticas que levam a uma compreensão temporal (p.143) possuindo então um caráter analítico e reflexivo o que a impede de ser confundida com uma história ficcional. A narrativa histórica trabalha com a realidade, pessoas de verdade que possuem alguma importância dentro de um contexto. Ela é, portanto, uma história real que nos fornece grandes elementos para a compreensão do mundo em que vivemos e os acontecimentos não podem ser apenas cenário para que os personagens atuem, sejam de maneira real ou ficcional. A transição da história econômica para a história social A Escola de Annales tem sua gênese nos trabalhos de March Bloch e Lucien Febvre, nos anos 30 do século XX. Surge como uma grande inovação no campo das produções históricas. Críticos das histórias individuais e da supervalorização dos grandes feitos, com base em documentos oficiais, esses historiadores trouxeram uma nova forma de se pensar história, valorizando o coletivo e a diversidade de documentos. Desde então, a corrente que começou a predominar nas produções históricas foram as ligadas ao marxismo, ou seja, agora as histórias individuais não eram mais valorizadas e os fatos não eram mais considerados isolados. A análise marxista entende que passado e presente possuem uma relação estreita e que os fatos estão ligados, da mesma forma que o coletivo pode explicar como acontecem as ações individuais. Bittencourt (2002) destaca que para o estudo das sociedades humanas, o marxismo utiliza como conceitos fundamentais modo de produção, formação econômico-social e classes sociais. As mudanças sociais ocorrem não por indivíduos isoladamente, mas pelas lutas sociais (p.145-146). O marxismo influenciou o estudo da sociedade a partir de uma visão econômica. Muitos conteúdos foram organizados de acordo com a formação econômica da sociedade e os indivíduos estudados de acordo com sua posição dentro do processo produtivo. O marxismo fundamentou um novo olhar para a história quando valorizou a luta de classes, uma vez que a partir de então os movimentos sociais começaram a ser estudados e debatidos e a história deixou de se ater a fatos isolados. Greves, movimentos feministas, ambientalistas e religiosos, confrontos nacionais, internacionais, tribais e lutas contra o preconceito, enfim, temas de uma história social foram incorporados às preocupações das pesquisas históricas e posteriormente ao currículo escolar. História Cultural A partir da década de 80 do século XX, os estudos sobre História cultural ganham espaço nas produções acadêmicas. A História cedeu espaço a temas da antropologia, que antes não tinham a importância que mereciam, e começou a valorizar a história dos grupos que até então estavam esquecidos, pelo fato de que não se encaixavam nos moldes da visão eurocêntrica predominante até aquele momento. Grupos indígenas e africanos, por exemplo, que foram dominados e subestimados, passaram a ser estudados. Como decorrência desse movimento, os historiadores tiveram que recorrer a novas formas de investigação. Nesse momento foram introduzidas novas fontes de pesquisa como a memória oral, as lendas e mitos, os objetos materiais, as construções, entre outras (Bittencourt, 2002, p.149). Esse novo estudo da história bem próximo à antropologia solidificou o que ficou conhecido como História Cultural, e a disciplina decretou sua preocupação com a coletividade e seus modos de vida em detrimento da história individual e oficial. Percebemos que a história cultural necessita partir do micro para chegar ao macro, ou seja, o historiador irá analisar um grupo (micro) e tentará inseri-lo dentro de contexto (macro). Esse é um dos desafios dentro do ensino de História, conseguir orientar o estudo e depois os alunos a estabelecer relações entre a micro-história e a macro-história. BUSCANDO CONHECIMENTO Vamos saber mais sobre a história cultural? BURKE, Peter. O que é história Cultural? Trad. Sérgio Góes de Paula. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.191p. (Eudes Fernando Leite-Universidade Federal da Grande Dourados) O historiador Peter Burke é uma daquelas “figurinhascarimbadas” nas reflexões teóricas e historiográficas contemporâneas. Sua presença na academia brasileira é marcante e pode ser lembrada pela importância de sua produção intelectual quanto por sua freqüência em eventos acadêmicos no Brasil. Interessa aqui recordar que os diversos trabalhos de Burke traduzidos para a língua portuguesa brasileira se constituem, via de regra, em sucessos editoriais. Neste “O que é História Cultural?”, aparecido na Inglaterra em 2004, Peter Burke trabalha para elaborar um texto de natureza introdutória a discussões já bem postas na historiografia brasileira: a história cultural, suas características e práticas. O livro encerra um duplo percurso: trata de conceitos complexos, como o de cultura e sua utilização no campo histórico e, ainda, apresenta práticas historiográficas da história cultural. Mas, ao que parece, essa face ambígua pode ser compreendida como decorrente da problemática enfrentada pelo autor. A complexidade deve-se principalmente à preocupação arraigada entre os historiadores de garantir à sua atividade um vínculo com o campo científico, seja lá o que se entenda por ciência histórica na atualidade. Essa questão subjaz à opção narrativa de Burke que discute a história cultural, partindo de suas manifestações no tempo e nas práticas históricas pretéritas, sem “deixar ao léu” escritos contemporâneos que trazem práticas e reflexões teórico- metodológicas similares às discutidas no curso do livro em questão. Essa fórmula é bastante usual entre nós e, sem maiores prejulgamentos, demonstra uma constante preocupação com a gênese de um fenômeno, inclusive práticas intelectuais. Outro detalhe que não é demasiado exagero mencionar é uma espécie de continuidade temática – melhor será pensar em problemática – estabelecida entre “O que é História Cultural?” e outros livros que o antecederam. Lembro aqui as coletâneas “A escrita da Historia; novas perspectivas” (Edunesp, 1992) e “Variedades de História Cultural” (Zahar, 2000). Esse segundo livro, aliás, parece trazer a gênese do trabalho em questão. Em dois de seus capítulos se encontra o projeto inicial do livro em que Burke busca discutir como a história cultural se tornou uma área no contexto das transformações que o saber histórico ocidental vivencia desde os “Analles”. Mas, conforme anotei anteriormente, “O que é História Cultural?” apresenta uma ambigüidade resultante da temática enfrentada por Burke e devidamente dissecada no texto. Esse aspecto demonstra para o leitor que a História Cultural não é exclusivamente uma subárea da história na qual a cultura surgiu no âmbito da anunciada crise dos paradigmas. Sob tal perspectiva, a indagação provocante que dá título ao livro disfarça a amplitude do campo histórico e, conseqüentemente, não pôde ser totalmente respondida, o que é compreensível nesse momento. O caminho adotado pelo autor justifica a ausência de respostas peremptórias, especialmente porque a História Cultural pode ser compreendida como um fenômeno transitório na prática historiográfica atual. E, é muito difícil configurar um fenômeno cultural simultaneamente à sua ocorrência. A respeito da estrutura do livro, Peter Burke o dividiu em seis capítulos: o primeiro recebeu o título de “A grande Tradição”, o segundo é sintomaticamente designado como “Problemas da História Cultural”, o terceiro foi chamado de “A vez da Antropologia Histórica”, o quarto apresenta outra dúvida, sob o título “Um novo paradigma?”, O quinto foi designado como “Da representação à Construção” e o sexto, e último capítulo, foi batizado como “Além da virada Cultural”. A titulação dos capítulos é ela própria indicadora da essência de questões que atravessam a trajetória da História Cultural, enfocando que as pesquisas que são construídas sob sua evocação de alguma forma possuem pontos em comum com preocupações pretéritas presentes e outros trabalhos, em outras épocas. No interior do “O que é História Cultural?”, o leitor, iniciante ou não, poderá encontrar soluções prosaicas para problemas prosaicos, mas não se defrontará com a simplificação que as primeiras expectativas provocam. Talvez, um dos pontos mais intricados – a definição de Cultura – revele que qualquer definição de História Cultural passa pelo campo interdisciplinar, local e momento em que a noção de Cultura sofre modificações para oferecer aos historiadores algum potencial analítico ou explicativo. Comparar tal noção com aquelas mais usuais nas Ciências Sociais nem sempre é o melhor caminho para definir características em pesquisas no âmbito da história cultural. Um último ponto que provoca reclamações, como a que se segue: as quase inexistentes referências a trabalhos cujas temáticas e/ou autores dizem respeito ao Brasil e que podem ser entendidos como pertinentes à História Cultural. Esse pequeno detalhe ganha sentido na medida em que Peter Burke, embora não pesquise história brasileira, possui erudição suficiente para voltar seu olhar sobre a produção historiográfica local. Talvez em outro momento? Unidade 14. Abordagens historiográficas e conteúdos escolares: o local e o regional CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Identificar as principais tendências da historiografia para a produção do conhecimento histórico. ESTUDANDO E REFLETINDO Qual caminho trilhar: História Nacional ou Mundial? Os PCNs sugerem que o ensino da História do Brasil deve prevalecer e cabe ao professor selecionar os conteúdos que respeitem essa dinâmica. Segundo Bittencourt (2002), Entre os problemas para a seleção de conteúdos, existe a dúvida sobre privilegiar uma história nacional ou uma história geral ou mundial. Ao longo do ensino de história do Brasil, a História Geral ou “das civilizações” tem sido privilegiada e, na atualidade, a história brasileira tem sido novamente posição secundária, conforma pode ser verificado nas tendências da produção didática, voltada para a compreensão de mundo globalizado (p.155) A autora reflete sobre o lugar que a História do Brasil ocupa na organização da estrutura curricular brasileira. A síndrome do país colonizado ainda sobrevive e absorvemos significativamente o que vem de fora do país em detrimento do nacional. O mundo globalizado faz as pessoas se sentirem mais próximas do geral ou do mundial e o nacional e local são dispensados como algo sem importância. Bittencourt ainda é contundente ao afirmar que os conteúdos históricos estão se atendo a formar “cidadãos do mundo” enquanto a identidade nacional é deixada de lado. A história do Brasil foi utilizada durante muito tempo a favor de quem estava no poder como um mecanismo de manipulação de mentes e atitudes. No entanto, em pleno século XXI essa constituição da disciplina já não vale mais, pelo contrário, a história do Brasil hoje se configura como uma possibilidade para a construção da identidade nacional, a formação de cidadãos conscientes e participativos, capazes de mudar a realidade em que vivem. Sabemos que buscar explicações na História Mundial é uma construção histórica, o Brasil foi colonizado por países estrangeiros e sempre recebeu influências desses países, como afirma Borges nós aqui no Brasil (...) somos herdeiros da civilização europeia (1980, p. 71). A História do Brasil surge como apêndice da história global (Bittencourt, 2002, p. 157) e essa visão eurocêntrica têm predominado na seleção dos conteúdos das aulas de história no Brasil. Essa história global, por sua vez, está restrita à história da Europa que dominou extensas regiões do planeta e impôs sua maneira de agir e pensar. Dessa forma, grupos africanos, americanos e asiáticos são reduzidos a nada, como se não tivessem importância para a formação da sociedade em que vivemos. Diante desse quadro, entendemos que deve ser imediata a mudança de mentalidade e a busca pela valorizaçãodo ensino de uma história do Brasil, que evidencie a mestiçagem como componente definidor da identidade nacional. Diálogos e concepções entre o local e o nacional Uma das tendências na historiografia nacional é o estudo da História Regional. Sua capacidade de mostrar as diferenças e particularidades das diferentes sociedades a torna uma vertente de valor indiscutível. Segundo Bittencourt (2002), a história regional pode ser relacionada com a história nacional, pois proporciona, na dimensão do estudo singular, um aprofundamento do conhecimento sobre a história nacional, ao estabelecer relações entre as situações históricas diversas que constituem a nação (p. 161). Dessa forma, a opção pelo trabalho com essa vertente de ensino possibilita a construção da identidade do aluno ligada a sua história e consequentemente teremos um cidadão consciente da sua participação na sociedade. Os PCNs corroboram esse pensamento, pois, ao orientar a escolha de conteúdos, sugerem que o professor deve fazer suas escolhas de acordo com: as problemáticas contemporâneas pertinentes à realidade social, econômica, política e cultural da localidade onde leciona, de sua própria região, do seu país e do mundo. (PCNs, p.47) Identificamos a preocupação com o formar para o mundo, mas sem inibir a sua própria cultura, política e economia. Os professores têm, em sua região, ricas fontes para instigar a pesquisa, produzir o conhecimento e ainda diversificar sua aula. Sabemos que um professor de uma escola pública do interior do Estado de São Paulo, por exemplo, não tem muitas condições de ter acesso aos museus da capital, ou ao Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Entretanto ele está cercado de inúmeras fazendas de café, algumas preservadas, outras abandonadas, que lhes oferecem uma imensidade de fontes e arquivos para o estudo do ciclo do café no Brasil e proporciona uma reflexão sobre como o Brasil se tornou o maior produtor de café do mundo. Isso tudo sem fazer grandes projetos e viagens, apenas utilizando os objetos que tem em suas mãos, a História Regional. Percepções do cotidiano como objeto de estudo histórico A associação entre cotidiano e história de vida dos alunos possibilita contextualizar essa vivência em uma vida em sociedade e articular a história individual a uma história coletiva (Bittencourt, 2002, p. 165). O estudo do cotidiano e da história local possibilita uma proximidade maior entre o aluno, a história e a análise do fato. Entretanto, algumas precauções devem ser tomadas, a fim de que o cotidiano não seja entendido como o dia a dia dos grandes personagens, sem relação com a sua participação no contexto histórico que queremos estudar. Inferências teóricas sobre a História do Cotidiano O estudo da história do cotidiano deve ter um objetivo claro, ou seja, deve ter um sentido e ser situada dentro de um contexto. Ao estudar o cotidiano de um agricultor na década de 30, o historiador deve inseri-lo no contexto da década de 30, ou seja, um período de crise para a agricultura tanto no Brasil, como no mundo. Já se o foco for um operário, o pesquisador terá que contextualizar a vida de um operário nesse cenário, considerando que Getúlio Vargas era o presidente e constantemente tomava medidas em relação à indústria no Brasil. A vida cotidiana pode ser considerada como um reflexo da sociedade naquele momento, daí a importância em estudá-la. Bittencourt (2002) afirma que: os autores que se ocupam da história do cotidiano, mesmo com posturas diversas em seus fundamentos teóricos, buscam recuperar as relações mais complexas entre os diversos grupos sociais, estabelecendo conexões entre conflitos diários que se inserem em uma forma política contestatória, e identificar as lutas de resistências a mudanças, apego a tradições (p.167) Para a autora, a história do cotidiano deve ser muito mais completa e complexa, deve estar ligada ao modo de vida daquele grupo e naquele momento. Essa história deve fornecer elementos básicos para que os alunos entendam como os homens comuns, com hábitos comuns, são capazes de transformar a realidade à qual pertencem. BUSCANDO CONHECIMENTO Elementos da memória e suas relações com a História Local Bittencourt (2002) ressalta que a história local tem sido indicada como necessária para o ensino por possibilitar a compreensão do entorno do aluno (p. 168) e defende que ela é responsável por tornar os problemas mais significativos para os alunos. Essa vertente da história busca discutir as problemáticas que estão próximas aos alunos, fazendo-os entender que suas atitudes interferem no meio em que vivem. A memória é o mecanismo mais utilizado pela história local, evitando que professores e alunos caiam nas armadilhas da história dominante. A história local é a história das pessoas comuns, daqueles que construíram aquele local e não deve estar ligada somente às elites. Segundo Odair (2003) a produção de depoimentos como fontes orais á um caminho extremamente rico que auxilia a desvendar questões na tentativa de refletir sobre novas problemáticas históricas (p.30). O autor discursa sobre a importância da memória e de se coletar esses fatos. A história local necessita da memória das pessoas mais velhas e principalmente do depoimento dessas pessoas para registrar os fatos. Essa memória e esse depoimento são a identidade das pessoas que vivem naquele local e, assim sendo, são a identidade dos familiares dos alunos daquela localidade. Portanto, o uso desses mecanismos tornam o ensino algo mais palpável e próximo para o aluno e consequentemente algo que tem mais sentido. O trabalho do historiador em relação à memória deve ser muito cuidadoso. O depoimento de uma pessoa mais experiente deve ser respeitado, mas não tido como indestrutível. Para Bittencourt (2002) as memórias precisam ser evocadas e recuperadas e merecem ser confrontadas (p. 171), ou seja, os depoimentos devem ser confrontados com outras fontes para que se tornem totalmente válidos. História Local Um dos perigos a ser considerado ao se trabalhar história local é a definição do conceito de espaço. Os geógrafos alertam os historiadores que quando trabalhamos a história do lugar temos que entendê-lo como um espaço que possui suas singularidades e sua dinâmica. Sendo assim, os historiadores não podem simplesmente se referir àquela localidade sem refletirem sobre a sua importância, sua constituição e sobre as pessoas que habitam esse espaço. Para Bittencourt (2002) os professores de história, ao realizarem um estudo local, têm que procurar identificar a dinâmica do lugar, as transformações do espaço, e articular esse processo às relações externas, a outros lugares (p.172). A autora expressa bem a questão de que, ao se trabalhar um fato, se referindo ao local, temos que antes ter consciência de como é a sua estrutura para depois entender o que aconteceu nesse espaço. Unidade 15. Material didático e Ensino de História CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade analisaremos a posição dos materiais didáticos diante do processo de ensino-aprendizagem. ESTUDANDO E REFLETINDO Sabemos que o professor é o mediador entre o aluno e o conhecimento. Mas essa relação necessita de alguns materiais que auxiliem os professores nessa árdua e prazerosa tarefa. O material didático surge, nesse contexto, como o companheiro do educador na sala de aula, fornecendo elementos para um estudo mais completo. Para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra de forma que garanta bons resultados é preciso muito mais do que somente a relação aluno- professor. Para isso existem as fontes auxiliares que viabilizam a produção do conhecimento. Os materiais didáticos são essas fontes e possuem a função de serem mediadores do processode aquisição de conhecimento (Bittencourt, 2002, p.296). A escola dispõe de uma série de materiais que podem auxiliar o professor durante suas aulas. Esses materiais podem ser divididos em dois grupos: os suportes informativos e os documentos. Compreendemos por suportes informativos os materiais produzidos exclusivamente para a escola, que possuem a linguagem própria do ensino. Exemplos desses materiais são livros didáticos e paradidáticos, além de atlas, apostilas e dicionários. Já os documentos são aquelas produções que inicialmente não foram confeccionadas para o uso escolar, mas que podem vir a ser utilizados. Destacamos, como exemplos de documentos, artigos de revistas e jornais, músicas, obras de arte, leis e poemas. Material Didático: aliado ou instrumento de controle? Ao analisar a importância do material didático no processo de ensino- aprendizagem, Bittencourt (2002) nos alerta a respeito da sua influência diante do ensino e da sua fragilidade diante do poder. Segundo ela, um aspecto fundamental a ser considerado em análises sobre materiais didáticos é seu papel de instrumento de controle do ensino por parte dos diversos agentes do poder (p. 298). Diante dessa situação, a autora defende que a escolha do material didático deve ser feita de forma consciente pelo professor. Esse, aliás, deve sempre investir na sua formação e considerar o seu trabalho e seus métodos, além do perfil dos alunos, durante a escolha do material didático. BUSCANDO CONHECIMENTO Rosilene Batista de Oliveira Fiscarelli, desenvolveu um estudo sobre “Material Didático e Prática Docente”. Desenvolveu sua pesquisa partindo dos postulados de Michel Foucault sobre análise discursiva, no qual afirma que O discurso, a partir deste referencial teórico, ultrapassa a mera utilização de letras, palavras e frases que expressam “algo” na linguagem humana. Não ignorando, no entanto, que os discursos são feitos de signos, mas olhando-os como construções históricas (FOUCAULT, 2000). Continua sua análise declarando Consideramos que o conjunto de saberes, valores e significados construídos em torno de um objeto é que o faz tornar-se útil ao processo de ensino-aprendizagem, transformando-o em um material didático, e que esses saberes criam “regimes de verdade” dominantes, capazes de orientar nossa visão e pensamento sobre “como” ensinar. Assim, em torno dos materiais didáticos tem se construído, ao longo da história da educação brasileira, um discurso que legitima sua utilização em sala de aula, salientando as suas potencialidades rumo a um ensino moderno, renovador, eficiente e eficaz. Após analisar, por meio da realização de entrevistas, como os professores concebem e se relacionam com esses importantes instrumentos de trabalho teceu as seguintes considerações: É importante compreendermos que os professores são produtores de um discurso sobre os materiais didáticos, mas que suas práticas discursivas, suas concepções e sua prática docente refletem também outros discursos já ditos sobre esses materiais. Assim, os professores são sujeitos e objetos de discursos, contribuindo para a construção de um “regime de verdade”, mas também gerando novas formas de se olhar para os materiais didáticos, no contexto do cotidiano escolar. No decorrer da análise, observamos que o lugar e o papel que o material didático ocupa na prática docente diferem daqueles que a política educacional e os manuais estabelecem para o mesmo. As práticas discursivas docentes também destacam a importância que os materiais didáticos assumem na construção do conhecimento, facilitando a aprendizagem. Reiteram que esses objetos são capazes de deixar a aula mais estimulante, mais envolvente, aproximando o aluno do conhecimento; por esta razão os professores selecionam com cuidado os materiais didáticos que serão utilizados durante a aula. Contudo, a maioria dos professores entrevistados coloca, a priori, a figura do professor como o principal elemento capaz de ensinar os alunos, estando os materiais didáticos a serviço de sua prática pedagógica. A utilização ou não dos materiais didáticos não interferirá no alcance dos objetivos de aprendizagem, a competência docente é que será responsável por isto. Concluímos que é extremamente perigoso afirmarmos que os professores são resistentes aos materiais didáticos, principalmente aos mais modernos. Nossa pesquisa possibilitou compreender que discursivamente os professores não são resistentes aos materiais didáticos, pois suas práticas discursivas estão repletas de concepções e saberes historicamente construídos sobre os materiais didáticos que reafirmam a importância de sua utilização na aprendizagem do aluno e na melhoria do ensino em geral.Talvez o que chamamos de resistência são apenas caminhos diferentes que os professores encontram para sanar as dificuldades que surgem na introdução de qualquer tipo de material novo em suas aulas, diferente daqueles que já parecem ser inerentes ao ato de ensinar: o giz, a lousa e o livro didático. No contexto vivido pelos professores, usar um material didático significa também exigir mais da prática docente, ter cuidado com o exercício da autonomia docente, apropriar-se de práticas escolares novas. São nesses caminhos alternativos e nos significados que os materiais didáticos assumem para os professores, e são tomados por esses como verdadeiros no cotidiano escolar, que o discurso docente, muitas vezes, entra em conflito com o discurso da política educacional; ao mesmo tempo que, também como esse, revela em suas práticas discursivas concepções do discurso pedagógico. Para os professores, a formação sobre a utilização do material didático realiza-se na sala de aula, in locus, e o professor percebe o seu aprimoramento profissional em relação a esta utilização. Ao selecionar, planejar, utilizar o material didático que conhece muito bem, independente de ser um material visto como tradicional ou um material mais sofisticado e moderno, o professor sente-se realizado como profissional quando percebe que o material selecionado e utilizado por ele deu certo; ou seja, conseguiu facilitar a aprendizagem do aluno e principalmente estimulá-lo para a aquisição do conhecimento. A autonomia docente em relação a utilização dos materiais didáticos é importante para a realização desta formação in locus, pois quando as idéias e ações não surgem dos próprios professores há uma tendência a inibição, ocorrendo somente uma reprodução das idéias dos outros de forma automática, isolada, pontual. Neste sentido, há necessidade de desafiarmos o educador a refletir sobre a sua prática, propiciando-lhe condições de reavaliá-la e reformulá-la. Esta possibilidade somente ocorrerá se dermos voz ao professor, levando-o a uma prática reflexiva. Acreditamos que muitas das questões iniciais de pesquisas foram respondidas no decorrer do estudo que realizamos. No entanto, sabemos que ainda há muito que se discutir e analisar sobre os materiais didáticos no ensino e esperamos ter instigado essas discussões nas lacunas que não conseguimos preencher no desenvolvimento desse trabalho. Contudo, os resultados das análises realizadas conduzem-nos a pensar um pouco mais sobre esses materiais no cotidiano escolar; na maneira como os professores concebem esses materiais e apropriam-se deles em sua prática docente; nas implicações que surgem ao introduzir-se materiais no ensino, no que concerne a estrutura do sistema escolar e a prática docente; nas maneiras e possibilidades de preparar os professores para essas implicações, de forma que os mesmos possam olhar tanto as potencialidades dos objetos para o ensino quanto o exercício de sua autonomia docente na utilização desses objetos. Ao compreendermos os materiais didáticos no processo de desenvolvimentoprofissional do professor, abrimos possibilidades de superação de obstáculos que venham inibir o espaço de experimentação e o crescimento profissional a partir da utilização desses materiais em sala de aula. Disponível em http://seer.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/454/333 Unidade 16. Livro Didático: Expressão da indústria cultural CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Analisar a importância do livro didático como recurso de aprendizagem e sua complexidade e atuação no contexto de um sistema de ensino ESTUDANDO E REFLETINDO Livro Didático: Expressão da indústria cultural (...) E de lá para cá, Deodoro dominou, praticamente sozinho, a cena republicana. Pouca menção se faz ao ato solene da Proclamação da República na Câmara Municipal na tarde do mesmo dia 15 de novembro de 1889. Esta exaltação do Exército não aconteceu por acaso. Na formulação de agentes históricos para o país pelo novo regime, o militar, visto como esteio da nação, foi associado por meio de sua imagem épica ao ideal de liberdade inerente à República; projeto reforçado por intermédio das festas cívicas, de livros didáticos e pela construção de monumentos e estátuas consolidadoras das “tradições nacionais” (...) (Martins, 2001, p. 10-11) Em seu livro “O Despertar da República”, Ana Luiza Martins trabalha a questão da manipulação de um ideário nacional na época da proclamação da República. A autora discute como foi a proclamação e como ela foi passada para a população. O trecho acima destaca como o Exército Brasileiro, que acabara de colocar fim a monarquia no país, forjou uma identidade nacional baseada na exaltação da figura do Marechal Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente do Brasil. Para criar tal figura heroica, os militares utilizaram nada mais, nada menos do que o livro didático. Segundo Bittencourt (2002), o livro didático existe na educação brasileira há mais de dois séculos. Sendo assim, é a ferramenta mais antiga e mais utilizada nos sistemas de ensino brasileiro. No entanto, a autora também alerta para a necessidade de os professores não o utilizarem como único instrumento de trabalho e de não o seguirem fielmente em todas as suas concepções, uma vez que o livro didático, como vimos no trecho acima, há muito tem tido um olhar especial das autoridades que veem nesses materiais uma maneira de impor seus pensamentos e suas doutrinas. Essa autora ainda destaca que os livros produzidos para a disciplina de História geralmente possuem graves falhas conceituais, e costumam manter estereótipos e ideologias. Por isso, não é aconselhável o uso de apenas um livro didático e não é aceitável a ideia de substituir o professor pelo livro didático. A análise da importância do livro didático deve considerar, ainda, a sua complexidade e atuação no contexto de um sistema de ensino. Afirmamos ser essa produção complexa a partir da sua própria constituição. Primeiro porque o livro didático é produzido com uma série de conteúdos que seguem, geralmente, ao que é estabelecido pelo Estado e dessa forma ele pode ser direta ou indiretamente manipulado pelas autoridades. Segundo que, além dos textos e dos conteúdos, o livro possui sugestões de atividades e trabalhos que podem ser úteis para o professor ou, se forem seguidos sem questionamentos, limitar o seu trabalho. Terceiro que não podemos negar que o livro é uma mercadoria comercializada em uma sociedade capitalista e, portanto, além de ter valores que consolidem essa sociedade, ele atenderá a alguns interesses de seus produtores para que continue no mercado, sendo vendido. E quarto que professores e alunos podem ter diversas interpretações quando utilizam esse material, dificultando nosso entendimento sobre qual a exata importância de determinados conteúdos para o processo de ensino-aprendizagem. Não é nosso intuito desvalorizar o livro didático, pelo contrário, nossa intenção é orientá-los sobre a importância da sua análise diante da necessidade de escolha dos materiais didáticos. O livro didático se configura como um importante material de apoio e para consultas de determinados conteúdos. No entanto, pesquisas que se multiplicam nos últimos anos denunciam falhas na constituição na maioria dos livros didáticos brasileiros. Falhas essas referentes à manutenção de estereótipos e de falta de informação. Índios e negros são dois temas que ainda precisam evoluir muito nas páginas didáticas brasileiras. Os primeiros quase sempre são apresentamos na perspectiva da chegada dos portugueses e da sua relação com eles. Poucos livros destacam a vida indígena na sociedade atual e a maioria não abre as interpretações em relação ao modo de vida indígena, suas crenças e organizações. No caso dos negros, as produções são majoritariamente relacionadas à época da escravidão e as relações entre negros e negros e negros e brancos durante esse período. Entretanto os livros pouco destacam a vida dos negros após a abolição, muito menos as manifestações sociais e culturais desse grupo. Diante dessa situação de manutenção de certas memórias históricas e das falhas em relação a alguns temas pertinentes e sedentos por análises mais profundas, os livros didáticos continuam a ser uma preocupação para os debates intelectuais brasileiros. Por outro lado, existem aqueles que defendem uma evolução significativa na produção dos livros de história. Bittencourt (2002), destaca que o historiador francês Alain Choppin define que os livros didáticos da atualidade possuem diversas funções como a de avaliar a aquisição de saberes e competências e a de oferecer uma documentação completa para pesquisa. Para o francês, os novos livros circulam com uma variedade de textos, imagens, esquemas e gráficos que o tornam cada vez mais completos. Para auxiliar os livros e os professores a autora ainda ressalta que a produção de materiais didáticos, principalmente em História, vem crescendo, devido às variações do currículo em todas as partes do Brasil e a renovação da História desvinculando-se totalmente dos Estudos Sociais. Os livros, atualmente, mesclam correntes tradicionais, como a divisão tradicional da história com lições e materiais relacionados à história local, que é uma corrente mais recente, além de apresentarem textos jornalísticos, artigos de revistas, poemas e músicas, evidenciando que a constituição do livro didático vem se renovando com o passar dos anos. Diante desse cenário, é importante que professores e alunos saibam das vantagens e desvantagens do uso do livro didático e tenham sua função, como um apoio ao trabalho e uma fonte de pesquisa, bem definida. BUSCANDO CONHECIMENTO Para entender melhor a complexidade que compõe a produção e veiculação dos livros didáticos, leia o artigo abaixo e reflita sobre como esse recurso pode expressar ideologias e se constituir em instrumento de manipulação ou, dependendo do trabalho do professor, servir de rede de apoio para um ensino emancipador e reflexivo: Opinião: O papel do livro didático 27 de fevereiro de 2013 "O livro didático no Brasil atinge seu propósito quando estabelece uma forte parceria com o professor. Juntos eles podem converter em realidade os mais nobres ideais da Educação", afirma Sérgio Quadros Fonte: Estado de Minas (MG) O livro didático é um valioso recurso para o acesso à cultura e o desenvolvimento da Educação. Em muitos lares brasileiros, ele é o primeiro livro, abrindo caminho para o hábito da leitura e o aprendizado. Ao longo de dois séculos, quando começaram a ser produzidos no Brasil os primeiros didáticos, os livros passaram por inúmeras transformações, visando acompanhar as novas dinâmicas em sala de aula e contribuir para uma aprendizagem significativa. Tais investimentos refletem o empenho da indústria editorial na incorporação de novas tecnologias, avanços metodológicos,recursos gráficos, diretrizes governamentais e no atendimento à demanda de Educadores por materiais de qualidade e com valores para a cidadania. No cenário educacional brasileiro, o livro didático é importante instrumento de apoio ao trabalho do Professor e referência na formação dos mais de 50 milhões de crianças e adolescentes matriculados em Escolas públicas e privadas. O Brasil tem um dos programas mais avançados de aquisição de livros Escolares, que assegura a distribuição gratuita de milhões de exemplares à rede pública de Ensino. Percorrer esse caminho, de escala e qualidade, exige da indústria editorial absorver as peculiaridades e necessidades do cotidiano Escolar no processo de concepção do livro, envolvendo o trabalho de uma equipe multidisciplinar de profissionais altamente capacitados e com experiência em sala de aula. O processo de elaboração do livro Escolar é mais complexo do que se imagina. Envolve etapas como a do desenvolvimento de um projeto pedagógico-editorial; elaboração dos originais; avaliação, preparação, revisão e edição do texto original; projeto gráfico; pesquisa iconográfica e de referências para ilustrações; produção editorial e produção gráfica. Todas elas conduzidas por especialistas que trabalham para transpor, em linguagem com propósito didático, conteúdos e atividades que levem à apropriação e construção do conhecimento e ao desenvolvimento de habilidades e competências nas diferentes áreas do saber. A última edição da pesquisa Retratos da leitura no Brasil, divulgada em 2012, o mais abrangente estudo sobre o perfil do leitor do brasileiro realizado pelo Instituto Pró-Livro, também aponta a importância do livro didático para a formação de leitores. É o gênero mais frequentemente lido, exercendo, portanto, um relevante papel na difusão do hábito e do gosto pela leitura. A mesma pesquisa revela também o papel do Professor como incentivador da leitura: ele é apontado como o principal motivador, influenciador de crianças e jovens em idade Escolar. As mudanças que acontecem hoje em sala de aula, como o uso de novas tecnologias, revisões nas diretrizes curriculares e expectativas de aprendizagem, impõem desafios constantes à produção do livro Escolar, que acompanha com sucesso as transformações da Educação nacional. O livro didático no Brasil atinge seu propósito quando estabelece uma forte parceria com o Professor. Juntos eles podem converter em realidade os mais nobres ideais da Educação. Disponível em: http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na- midia/indice/26006/opiniao-o-papel-do-livro-didatico/ Unidade 17. Diversidade de linguagens e fontes para ensinar história. CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Em pleno século XXI, a realidade bate à porta das escolas: vivemos em um mundo globalizado, com uma quantidade imensa de informações e a tecnologia avança sem pedir licença. Diante desse panorama, cabe a nós, profissionais da educação, saber lidar com essa complexidade e orientar nossos alunos nas escolhas mais aceitáveis. Nesta unidade discutiremos sobre o uso de novas linguagens na sala de aula e a reformulação de algumas visões, métodos e atitudes que já não cabem mais no mundo atual. ESTUDANDO E REFLETINDO Minha Dinda tem cascatas Onde canta o curió Não permita Deus que eu tenha De voltar a Maceió (...) E depois de ser tratado Pelo PC, com xodó, Não permita Deus que eu tenha De acabar no xilindró. (“Canção do Exílio as Avessas”- Jô Soares) Os trechos acima fazem parte da “Canção do Exílio as Avessas” feita por Jô Soares na época do impeachment do ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello. Soares fez na verdade uma paródia da original “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias, que exulta o espírito nacionalista brasileiro. Na paródia, Jô utilizou o contexto do histórico impeachment de Collor e escreveu os versos como se o político não amasse sua terra e não quisesse voltar. Esses textos não foram produzidos para a escola, nem para as aulas de História e não serão facilmente encontrados em livros didáticos. No entanto, a paródia de Jô Soares oferece ricos elementos para que o professor de história trabalhe cultura popular e política. Nesse caso, ele terá que recorrer a outras fontes de estudo, a internet, por exemplo, onde encontrará o texto. A partir dessa situação, iniciamos nossos estudos sobre a diversidade de fontes que podem ser utilizadas pelos docentes durante as aulas de história. Para Bittencourt (2002), muitos professores utilizam vários documentos para o preparo de suas aulas, pois os consideram, um instrumento pedagógico eficiente e insubstituível, por possibilitar o contato com o “real, com as situações concretas de um passado abstrato, ou por favorecer o desenvolvimento intelectual dos alunos, em substituição de uma forma pedagógica limitada à simples acumulação de fatos e de uma história linear e global elaborada pelos manuais didáticos (p. 327). O professor que se conscientiza de que as novas linguagens podem ser utilizadas como recurso para sua aula está, na verdade, reconhecendo as transformações sociais e tecnológicas recentes. O mundo globalizado provoca reações cada vez mais rápidas e imediatas nos seres humanos. Na verdade, estamos conectados seja por meio da internet ou das novas tecnologias que proporcionam a atualização simultânea ou a simples consulta de algum fato que nos intriga naquele momento. Entretanto esse mesmo professor deve estar munido de conhecimentos e argumentos que façam com que ele e seus alunos não sejam enganados pelas armadilhas das novas tecnologias. A quantidade de informações é cada vez maior e o acesso a elas também. Nossos próprios alunos podem criar um blog e postar tudo que pensam e fazem nessa página. Resumindo, qualquer um que tenha acesso à internet pode escrever o que quiser, e todos podem ler essas considerações. Portanto, além de saber lidar com as novas fontes de conhecimento, o professor deve usá-las para orientar os alunos como selecioná-las. Os PCNs anunciam a possibilidade da utilização dos documentos como recursos didáticos, mas alertam que o: documento não fala por si mesmo, isto é, ele precisa ser interrogado a partir do problema estudado, construído na relação presente-passado; O professor possui autonomia suficiente para utilizar as novas fontes de linguagem para o desenvolvimento do seu trabalho, desde que esteja consciente de que esse documento deve ser mais uma ferramenta utilizada para a produção do conhecimento e que ele é o produto que deve ser estudado, analisado e lapidado por professores e alunos durante as aulas de história. BUSCANDO CONHECIMENTO Esse tema tem sido objeto de grande interesse por parte dos pesquisadores e está presente nas recentes discussões sobre a possibilidade e a importância de ampliação das possibilidades de recursos didáticos variados para a motivação dos alunos e, consequentemente, melhores resultados na aprendizagem. Leia o artigo a seguir: A leitura crítica de fontes históricas Navegar pela diversidade de fontes, confrontar opiniões divergentes e situar a época de cada texto são estratégias certeiras para formar leitores questionadores e críticos. Daniela Talamoni Araujo Verotti Desde o primeiro rabisco feito por nossos antepassados nas paredes das cavernas até a mais recente crônica de jornal, ironizando a atitude pré-histórica de alguns políticos, não faltam registros escritos para contar um pouco da realidade vivida em cada época pela humanidade. A simples existência desses relatos indica a importância da leitura nas aulas da disciplina. Navegar pela maior diversidade de fontes possível é importante (leia o quadro abaixo), mas não é tudo. O essencial é colaborar para que a turma possa analisar,questionar, confrontar e contextualizá-las, entendendo que as relações entre presente, passado e futuro vão além de uma mera sequência de fatos em ordem cronológica. Em poucas palavras, é preciso levar a moçada a pensar historicamente. Em História, o leitor competente encontra no texto as principais informações sobre seu tema de pesquisa, identifica trechos que necessitam de investigação extra para serem entendidos e é capaz de confrontar a opinião de um autor com a de outros que já escreveram sobre o mesmo assunto (leia o infográfico). A intenção principal é fugir da chamada leitura dogmática, como se o texto de alguma fonte - o livro didático, por exemplo - fosse a verdade inquestionável. Em alguns casos, o responsável por esse pensamento é o próprio professor. Isso ocorre quando ele apresenta à classe um acontecimento histórico privilegiando apenas visões que se afinem com seus valores e suas convicções políticas. A chamada ideologização da Educação é arriscada. "Afinal, é muito comum que aquilo que os alunos adotem como verdade tenha sido apresentado em sala de aula", lembra o professor de História Pedro Henrique Albegaria Raveli, da Escola da Vila, em São Paulo. "O docente sempre irá se posicionar diante de um fato histórico, mas ele tem o dever de colaborar para uma formação mais autônoma dos alunos, oferecendo diferentes gêneros de textos e linguagens que mostrem os capítulos da História sob o máximo de perspectivas possível", defende Antônia Terra, coordenadora do grupo que desenvolveu o Referencial de Expectativas de História para o Desenvolvimento da Competência Leitora e Escritora do Ensino Fundamental, da prefeitura de São Paulo. "Precisamos ensinar que a História se contrói sob diferentes pontos de vista", afirma Daniel Vieira Helene, coordenador de Ciências Sociais da Escola da Vila, na capital paulista, e selecionador do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. Para isso, você deve criar rotinas que ajudem o estudante a incorporar hábitos, como questionar as informações, saber quem é o autor ou buscar outras opiniões sobre o assunto. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/leitura-critica- fontes-historicas-526597.shtml Unidade 18. A fotografia e os filmes como recursos didáticos CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Identificar a fotografia e os filmes como recursos fundamentais para o ensino da história. ESTUDANDO E REFLETINDO Fotografia A fotografia é um importante documento para análise histórica uma vez que ela é o registro de determinada cena. Bittencourt (2002), destaca que a fotografia é como se fosse a identidade das pessoas e é inclusive usada em investigações policiais. E por que não seria usada em investigações históricas? A fotografia, como uma representação da realidade, pode denunciar os costumes, o modo de vida de determinadas pessoas em determinados espaços. Porém, para que isso aconteça, é importante que o historiador analise minuciosamente a imagem desde o papel em que ela foi impressa até o ângulo em que o fotógrafo registrou essa imagem. Esse é o trabalho que deve ocorrer ao se utilizar fotografias em sala de aula: levar os alunos a analisarem cada detalhe da fotografia, para assim conseguirem reconstruir a cena e de certa forma o passado. Segundo Boris Kossoy “as fontes fotográficas são uma possibilidade de investigação e descoberta que promete frutos na medida em que se tentar sistematizar suas informações, estabelecer metodologias adequadas de pesquisa e análise para decifração de seus conteúdos, e por conseqüência, da realidade que os originou.” (KOSSOY, 2001: 32) Corroborando com a ideia de que o uso de imagens é um recurso rico e versátil para contribuir na apreensão dos conceitos históricos, Molina afirma que (...) as imagens usadas em sala de aula não devem sê-lo gratuitamente, mas é necessário conhecer seus componentes semânticos para adequá- los aos objetivos propostos. Assim, o desafio e o limite imposto ao professor de história serão o de redimensionar e explorar as competências específicas da imagem, não somente para motivar e envolver, mas re-elaborar, recodificar, ordenar e organizar conceitos, transformando uma relação sócio-afetiva com a imagem em uma situação de cognição. (MOLINA, 2007: 25) Filmes Outra fonte não escrita que pode ser utilizada nas aulas de história é o cinema. Entretanto, essa fonte se configura de maneira mais complexa que a fotografia e merece uma série de atenções quanto ao seu estudo. A primeira é que, embora muitos filmes sejam considerados históricos, na maioria das vezes eles não têm compromisso com a historiografia e em alguns momentos utilizará cenas que não correspondem à realidade ou que não tem fundamentação teórica. Para Almeida O cinema não é uma matéria para a fruição e a inteligência das emoções; ele é também matéria para a inteligência do conhecimento e para a educação, não como recurso para a explicação, demonstração e afirmação de idéias, ou negação destas, mas como produto da cultura que pode ser visto, interpretado em seus múltiplos significados, criticado diferente de muitos outros objetos culturais, igual a qualquer produto no mercado da cultura massiva (ALMEIDA, 2004, p. 32). A segunda é que assim como a TV e os livros, o cinema possui o poder de transmitir valores e ideologias e ainda de perpetuar ideias, por isso a necessidade do professor dominar o assunto e assistir ao filme antecipadamente para que esteja consciente do que está transmitindo aos alunos. Em terceiro e último item é a questão da análise do filme. As cenas audiovisuais, sejam dos documentários ou de filmes épicos, procuram reconstituir costumes, fatos e espaços. Porém não é a representação do que realmente aconteceu. Dessa maneira o professor deve elaborar um projeto que justifique o uso do filme e, principalmente, um roteiro de análise que leve o aluno a entender as relações, mudanças, permanências e organizações por meio do filme e identifique as relações dessas representações com o conteúdo estudado em sala de aula. Portanto, o uso de filmes nas aulas de história deve ter um motivo e fazer sentido para que auxilie os alunos no processo de ensino-aprendizagem e principalmente, para que o professor não perca sua credibilidade passando o filme para “ganhar tempo”. De acordo com os PCNs, o uso de filmes deve ser feito de forma consciente para que os objetivos em relação a educação sejam preservados. Segundo o documento, Um filme abordando temas históricos ou de ficção pode ser trabalhado como documento, se o professor tiver a consciência de que as informações extraídas estão mais diretamente ligadas à época em que a película foi produzida do que à época que retrata. É preciso antes de tudo ter em mente que a fita está impregnada de valores, compreensões, visões de mundo, tentativas de explicação, de reconstituição, de recriação, de criação livre e artística, de inserção de cenários históricos construídos intencionalmente ou não por seus autores, diretores, produtores, pesquisadores, cenógrafos etc. (p. 88) Assim, consideramos que as produções cinematográficas são ricas para consulta e representação de algumas realidades. Por outro lado, entendemos que o uso dessa ferramenta implica uma série de medidas a serem tomadas para que a história não seja desvalorizada e nem o filme perca a sua importância diante da reconstituição de alguns fatos. BUSCANDO CONHECIMENTO Veja alguns exemplos de filmes que poderão ser utilizados como recursos para as aulas de história. 1- “CAFUNDÓ” (Roteiro de Paulo Betti, Direção de Paulo Betti e Clovis Bueno, 2005. Duração: 101 minutos.) 2- “ATABAQUES NZINGA” (Roteiro de Rose La Creta, Octávio Bezerra, direçãode Octávio Bezerra, 2008. Duração: 84 min.). 3- “O AMULETO DE OGUM” (Roteiro de Nelson Pereira dos Santos E Francisco, direção de Nelson Pereira dos Santos, 1974. Duração: 112 min.). 4- “BARRAVENTO” (Roteiro de Glauber Rocha, Luiz Paulino dos Santos e José Teles, direção de Glauber Rocha, 1961. Duração: 80 min.) 5- “QUILOMBO” (Roteiro e direção de Cacá Diegues, 1984. Duração: 119 min.). 6- “XICA DA SILVA” (Roteiro de Carlos Diegues e João Felicio dos Santos, direção de Cacá Diegues, 1976. Duração: 107 min.). 7- “GANGA ZUMBA” (Roteiro de Cacá Diegues, Leopoldo Serran e Rubem Rocha Filho, direção de Cacá Diegues, 1964. Duração: 92 min.). 8- “O PAGADOR DE PROMESSAS” (Roteiro e direção de Anselmo Duarte, 1962. Duração: 95min.). 9- “A GRANDE FEIRA” (Roteiro de Rex Schindler, direção de Roberto Pires, 1961. Duração: 91 min.). 10- “CORDÃO DE OURO” (Roteiro e direção de Antônio Carlos Fontoura, 1977. Duração: 77 min.) 11- “QUANTO VALE OU É POR QUILO” (Roteiro de Sérgio Bianchi, Eduardo Benaim e Newton Canitto, direção de Sérgio Bianchi, 2005. Duração: 104 min.). 12- “ATLÂNTICO NEGRO: NA ROTA DOS ORIXÁS” (Roteiro de Renato Barbieri e Victor Leonardi, direção de Renato Barbieri, 1998. Duração: 75min.) 13- “BESOURO” (Roteiro de Patrícia Andrade e João Daniel Tikhomiroff, direção de João Daniel Tikhomiroff, 2009. Duração: 95min.). Disponível em http://cinematografouepb.blogspot.com.br/2011/12/sugestao-de- filmes-tema-ensino-de.html Unidade 19. Canções, Poemas e Poesias como recursos didáticos CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Identificar e analisar as canções, os poemas e poesias como recursos didáticos para o ensino da história. ESTUDANDO E REFLETINDO Canções, Poemas e Poesias Abrimos esta unidade com citações da paródia de Jô Soares, que se inspirou na “Canção do Exílio” para produzir o seu texto e indicamos que a canção pode ser utilizada pelo professor de história. Esse é apenas um dos inúmeros exemplos sobre canções que podemos utilizar para análises históricas. Da mesma forma, as poesias podem ser fontes ricas e leves para a contextualização histórica e seu estudo. Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, escreveu em se livro a Rosa do Povo (poemas escritos entre 1943 e 1945) o poema “Carta a Stalingrado” e ofereceu aos historiadores uma fonte de estudo para análise e reflexão sobre a Batalha de Stalingrado durante a Segunda Guerra Mundial. Fonseca (2009) destaca que a linguagem poética expressa outra forma de ver, escrever e expressar sentimentos sobre variados temas, questões, fatos, sujeitos e práticas sociais e culturais. Seduz, age sobre nós, intervém, nos provoca. Assim, pode fornecer pistas para alargar a compreensão dos temas históricos com beleza e sensibilidade. A incorporação de letras de canções e poesias desperta o interesse dos alunos, motiva-os para as atividades, sensibiliza-os em relação aos diversos temas e desenvolve a criatividade (p.183) Gomes (2007) considera que sendo a música um produto cultural, traz em si grande carga de historicidade. Por essa razão, está investida de potencial didático, sobretudo por estimular as competências relacionadas à leitura e interpretação de diferentes estilos textuais. Os PCNs, corroboram com esse princípio uma vez que, sobre essa questão, explicitam textualmente: Abre-se aí um campo fértil às realizações interdisciplinares, articulando os conhecimentos de História com aqueles referentes à Língua Portuguesa, à Literatura, à Música e a todas as Artes, em geral. Na perspectiva da educação geral e básica, enquanto etapa final da formação de cidadãos críticos e conscientes, preparados para a vida adulta e a inserção autônoma na sociedade, importa reconhecer o papel das competências de leitura e interpretação de textos como uma instrumentalização dos indivíduos, capacitando-os à compreensão do universo caótico de informações e deformações que se processam no cotidiano. Cabe aqui também ressalta que os meios de comunicação tornaram a música, especialmente àquelas de maior apelo popular, parte integrante do cotidiano das pessoas. Considerando esse fato Gomes salienta que [...] sobretudo a canção popular, faz parte do cotidiano da maioria das pessoas, desde aquelas com alto nível de instrução até as que não tiveram a oportunidade de estudar, fica mais fácil articular seu estudo com o ensino de história, sobretudo no nível fundamental e médio. Muitas vezes ela é a única forma de expressão artística com a qual os alunos têm ou tiveram contato ao longo da vida. Ainda que não dominem formalmente os conceitos e componentes da linguagem musical, eles são capazes certamente de identificar, por exemplo, que uma determinada canção foi feita para um determinado contexto observando o seu ritmo. O professor de história, obviamente, teria o papel de situar os alunos a respeito dos elementos pertinentes à análise histórica, ou seja, teria que ressaltar questões ligadas ao contexto histórico de produção da canção, os agentes históricos envolvidos no processo, bem como as motivações implícitas e explícitas presentes na composição. Diante do exposto é possível considerar que as canções e os poemas oferecem um bom material de estudo para as aulas de história. Cabe a professores e alunos analisarem suas letras, o contexto político, social, econômico e cultural da época em que foram escritos, os títulos, a história de quem as escreveu e as palavras que nem sempre tem apenas um sentido. Dessa forma, o trabalho nas aulas será significativo e dinâmico. BUSCANDO CONHECIMENTO Para aprofundar o estudo sobre a temática apresentada nesta unidade recomendamos as seguintes leituras; AULA DE HISTÓRIA COM ZECA BALEIRO: uso da música-canção como recurso didático no Ensino Médio (Fabiane Tamara Rossi) RESUMO: O artigo propõe-se problematizar a música-canção como elemento utilitário ao Ensino e, mais especificamente, a obra musical de Zeca Baleiro enquanto provedora de temáticas para o ofício do professor de História do Ensino Médio. Para isso fez-se uso da obra do cantor (de 1997 a 2004), além de reportagens veiculadas na imprensa. Para correlacionar a música e o ensino embasou-se a pesquisa nos PCNs e Currículo Básico do Distrito Federal. Inicialmente discutir-se-á a utilização da música enquanto recurso didático em sala de aula. Em seguida, problematizar-se-á o universo de referências de Zeca Baleiro, trazendo sugestões para a utilização de suas canções no ensino de História do Ensino Médio. PALAVRAS-CHAVE: música, ensino de História, Zeca Baleiro. Para a leitura da íntegra desse artigo acesse: http://www.ufgd.edu.br/historiaemreflexao/julho_dez_2008/arquivos/aula-de-historia- com-zeca-baleiro-uso-da-musica-cancao-como-recurso-didatico-no-ensino-medio Música Popular Brasileira no ensino de história do Brasil “A história do Brasil é cheia de brechas e lacunas ainda não preenchidas” (Schimidt), mas que segundo Moraes, a musica popular brasileira pode desvendar; Em seu trabalho “História e música: canção popular e conhecimento histórico”, Moraes aborda e discuti algumas questões teóricas e metodológicas que surgem das relações entre historia, musica popular. As transformações teóricas, nas concepções de material documental e a renovação na prática do historiador, determinando a inclusão de novas linguagens pela história. Expressando assim, a importância que pode ter, a utilização da música popular brasileira como fonte documental para divulgar a história de setores da sociedade pouco lembrados pela historiografia. Também Abdu, professora de Metodologia de Ensino de História Na USP, afirma em seu texto “Registro e representação do cotidiano: A música popular na aula de História”, que a musica popular é uma linguagem alternativa que tem sido utilizadacomo um importante recurso didático para a aprendizagem de história e que tem ocupado espaço, como instrumento pela qual se revela o registro da vida cotidiana, na visa ode autores que observam o contexto social no qual vivem. Abdu ainda defende a música como evidência do passado que pode facilitar a compreensão histórica pelos alunos. Para ABDUD (2005): As letras das musicas se constituem em evidencias, registros de acontecimentos a serem compreendidos pelos alunos em sua abrangência mais ampla, ou seja, em sua compreensão cronológica, na elaboração e re-significação de conceitos próprios da disciplina. Mais ainda, a utilização de tais registros colabora na formação dos conceitos espontâneos dos alunos e na aproximação entre eles e os conceitos científicos. Diante da real dificuldade que é romper com os ideais positivistas inda contidos no ensino brasileiro, e dos livros didáticos ainda possuir traços euro centristas, o musica popular brasileira no ensino de história se apresenta como uma rica fonte cultural, capaz de levar a compreender a realidade da cultura popular e desvendar detalhes ainda fragmentados. No entanto, raramente são feitas investigações, que busquem ratificar a musica como fonte histórica, existindo poucos trabalhos que evidenciam a relação entre história e musica. Para a leitura da íntegra desse artigo acesse: http://monografias.brasilescola.com/historia/musica-como-documentosala- aulamusica-popular-brasileira.htm O USO DA MÚSICA COMO NOVA LINGUAGEM NO PROCESSO DE ENSINO- APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA: UMA ANÁLISE CRITICA SOBRE A PROJEÇÃO DO SUJEITO NA CANÇÃO “CONSTRUÇAO” Ramon de Alcântara Aleixo- Universidade Estadual da Paraíba-UEPB- PIVIC Wagner Tavares da Silva-Universidade Estadual da Paraíba-UEPB-PIVIC Orientadora: Professora Doutora Patrícia Cristina de Aragão Araújo Universidade Estadual da Paraíba-UEPB RESUMO Neste artigo procuramos discutir a inserção das novas linguagens no processo de ensino e escrita de história do ensino médio, como contribuição diante das atuais perspectivas disseminadas no âmbito da História da Educação, objetivando, assim, despertar o interesse de alunos e alunas para o ensino-aprendizagem da disciplina de história. Nosso objetivo é mostrar, referendados nos estudos de Bittencourt e Cainelli, como a relação entre ensino de História e música pode contribuir para uma maior sistematização e elaboração de conceitos difundidos por esta disciplina. Nosso estudo se centra em uma pesquisa de cunho bibliográfico e semiótico, onde através da análise da canção “Construção” de Chico Buarque, podemos observar as condições sócio-trabalhistas a que os sujeitos sociais estavam relegados na década de 1970. Os resultados nos permitem constatar que a música como linguagem educativa pode contribuir para despertar a criticidade dos alunos, permitindo dessa forma, no processo de construção da cidadania, fazendo-os reconhecerem-se como sujeitos históricos envolvidos na construção da identidade nacional. Para a leitura da íntegra desse artigo acesse: http://www.nre.seed.pr.gov.br/irati/arquivos/File/uso_musica_linguagem.PDF Unidade 20. A Imprensa Periódica como recurso didático CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Identificar e analisar a imprensa periódica como recurso didático para o ensino da história. ESTUDANO E REFLETINDO Imprensa Periódica Notícias de jornais e artigos de revistas já é uma realidade utilizada dentro das salas de aula há algum tempo. Seja por opção de um professor que recortou uma notícia atual para levar para a escola ou uma sugestão do livro didático ou ainda uma inquietação de um aluno e que levou o professor a pesquisar algum artigo científico. O que importa é que essas linguagens estão presentes tanto no cotidiano dos alunos em suas casas, como nas escolas, seja nos livros didáticos ou nas escolhas dos professores. Os jornais, por exemplo, são um importante meio de reconstrução do passado, uma vez que em suas páginas ficam registrados os fatos da vida cotidiana das cidades, dos estados, dos países e do mundo. Porém, essa sua importância não justifica a sua capacidade de manipulação e de ser manipulado. Portanto, os jornais merecem uma análise crítica e consciente, para que não forjem opiniões nos cidadãos que consomem suas páginas. Quanto a sua importância como uma fonte da organização das sociedades, Fonseca (2009) indica que: Como qualquer outra fonte, os jornais e as revistas são importantes registros de dimensões históricas do passado e do presente. Por meio deles é possível captar evidências das mudanças, das rupturas, das continuidades, por exemplo, dos projetos políticos, dos movimentos sociais (p. 186) Além de valorizar a atuação do jornal e das revistas diante da sociedade em que circulam, a autora alerta para a necessidade de o professor estar atualizado, principalmente para orientar os alunos na análise das informações. Os jornais, em sua maioria, são constituídos de notícias (informações e opiniões), fotografias, propagandas e entretenimento, por isso podem ser analisados de diversas formas, ocupando um grande espaço de tempo para o seu estudo. Em contrapartida, Bittencourt (2002) destaca que o importante no uso de textos jornalísticos é considerar a notícia como um discurso que jamais é neutro ou imparcial (p. 337), ou seja, as notícias são escritas por alguém e, querendo ou não, esse escritor interfere no fato narrado, quando coloca o seu ponto de vista daquela situação. Assim, é um dever do leitor analisar as informações e confrontá- las com a realidade e até com outras informações para que possa formar sua opinião. O leitor não pode simplesmente ler a matéria e absorver suas informações sem criticá-las e analisá-las. Sabemos que o ensino de história, hoje, tem como uma de suas finalidades a formação de cidadãos ativos e críticos, o que por si só justifica a importância do professor de história, atribuindo-lhe a função de orientar seus educandos a analisar os textos jornalísticos que lhes é apresentado. Para Fonseca (2009), ao se trabalhar com a imprensa, a análise deve ser minuciosa, sendo necessário identificar a empresa de comunicação que publica o jornal, o contexto em que ele é publicado e os interesses que existem implícitos em suas publicações. Para a autora o primeiro passo é identificar o veículo, o nome do jornal, o local de sua produção, a época, a autoria da matéria, a proposta veiculada (p.187). Essa ambiguidade da função dos jornais e das revistas faz com que eles se tornem interessantes objetos de estudo, capazes de despertar o olhar do aluno para as esferas do poder e sua manipulação, além de serem fontes de informações que necessitam de crítica, o que leva os alunos a desenvolverem as habilidades e competências que são as finalidades do ensino de história. As novas linguagens, que podem ser utilizadas pelos professores na sala de aula, são suportes que enriquecem os estudos de história. São ferramentas dinâmicas e com um conteúdo que possibilitam estudos aprofundados e ampliam a visão de professores e alunos em relação a certos temas. BUSCANDO CONHECIMENTO A Resenha a seguir ajuda a interpretação da importância da imprensa As arapucas do mundo político AUTOR: MACHADO, Liliane da Rosa CURSO: Comunicação Social – Jornalismo/Unifra, Santa Maria, RS OBRA: DIMENSTEIN, Gilberto. As armadilhas do Poder – Bastidores da Imprensa. São Paulo, SP: Summus, 1990. Este trabalho tem a finalidade de explicitar o pensamento do jornalista Gilberto Dimenstein em sua obra “As armadilhas do Poder – Bastidores da Imprensa”, cuja intenção é de desnudar ao leitor como funciona realmente a política, internamente e vista pelos olhos da imprensa. Nem toda notícia pode ser mostrada ao grande público. Com pequenoscontos de fatos que ocorreram em determinados momentos históricos o autor relata como aconteceram e porque ocorreram situações que vão de simples fofocas, como as das histórias adolescentes do então Presidente da República Fernando Collor de Melo, até revelações de suborno, como é o caso do Senador, na época Governador do Estado da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, em que ele diz que existem dois tipos de jornalistas, os que gostam de dinheiro e os que gostam de informação. Uma obra sucinta, porém esclarecedora. Um prato cheio para os interessados na área do jornalismo político. Boatos, ética, suborno, fontismo, bobos, versões, bombas e monstros, brigas, deslizes, habilidade e manipulação, cotações, mentiras e inflação, fofocas, forças ocultas, primeiras-damas, negociatas, investigação, off, marketing. Com estes dezenove temas Gilberto Dimenstein procura relatar os bastidores do poder pelo olhar atento da imprensa. Com curtos capítulos dedicados a cada tema o autor explicita fatos curiosos e que se tornaram notícia cada um dentro de seu contexto histórico. As figuras principais das tramas são, principalmente, políticos e, eventualmente, jornalistas. Com uma linguagem direta e simples, a obra é escrita de maneira dinâmica e de fácil assimilação. O autor utiliza abundantemente exemplos e citações dos envolvidos em cada assunto. Já no início do livro, Dimenstein aproxima o fato do leitor e conta com detalhes os movimentos e atos dos personagens em destaque. “Nos dias de tédio ele fazia uma curiosa brincadeira no Congresso. De manhã, na agitada sala de cafezinho, contava a algum parlamentar pedindo sigilo absoluto, uma notícia secreta”(Dimenstein, 1990, p.25). Neste relato o autor enfatiza uma brincadeira feita pelo então deputado federal, Amaral Netto. No decorrer da obra podem ser encontrados fatos polêmicos, um bom exemplo é uma frase de Antônio Carlos Magalhães, citada por Dimenstein (1990): “[há dois tipos de jornalistas: os que gostam de dinheiro e os que gostam de informação. Nunca se deve dar dinheiro aos que gostam de informação, nem informação aos que querem dinheiro”. Entre uma declaração e outra se notam, na obra, pontos em que se tem uma informação a mais buscada pelo autor. Essa característica está presente em quase todos os capítulos e deixa uma marca clara de que uma pesquisa bem estruturada foi feita para a construção do trabalho. O livro não é exclusivo para histórias e acontecimentos nacionais. Podem ser encontradas considerações sobre políticos estrangeiros, como é o caso do general Charles De Gaulle, líder da resistência francesa contra os nazistas e, posteriormente, presidente da França. O general Charles De Gaulle, citado por Dimenstein (1990), teria dito que o Brasil não era um país sério, e, mais tarde, testemunhas comprovaram ser esta afirmação uma farsa. A partir do conceito apresentado por Dimenstein (1990, p. 53), entende-se que, apesar do mal entendido ter sido revelado, foi inútil e esta versão se tornou fato. Além de relatos esclarecidos mais tarde por testemunhas como é o caso do referido acima, também podem ser encontradas narrações que o autor denomina lendas, como: Juscelino chegou a registrar em diário suas paixões extraconjugais – certamente por isso a família nunca permitiu sua divulgação. Contam as lendas brasilienses que, certa vez, ele estava num avião acompanhado de jornalistas para visitar obras. Depois da visita, os jornalistas inesperadamente não embarcaram como o previsto. Além do piloto e do copiloto, o avião decolou apenas com o presidente e uma exuberante companhia. Só voltou quando se passaram mais de duas horas para buscar os repórteres, mas, agora, sem Juscelino. (Dimenstein, 1990, p.113). As declarações ou segredos que envolvem figuras políticas são destacados no texto com cuidado. Para isso o autor se municia de termos como: “Até hoje perdura a sólida suspeita de que a cassação de Jânio Quadros...” (Dimenstein, 1990, p.112), ou ainda, “Divulga-se a boca pequena...” (Dimenstein, 1990, p.114). Verifica-se no objeto analisado que com estes termos a obra fica isenta de afirmações contundentes e de responsabilidades que possam vir a comprometê-la. Ao longo de sua obra, Dimenstein dá destaque à figura feminina. A mulher no poder surge em várias situações. No capítulo Fontismo, o autor referencia a candidata à prefeitura de São Paulo, pelo Partido dos Trabalhadores, Luiza Erundina. Dimenstein (1990) considera que “A cúpula do PT estava convencida de que a ’revolucionária‘ e ’radical‘ Luiza Erundina jamais ganharia a prefeitura de São Paulo. Além de mulher, nordestina: parecia fora do perfil desejado pelo paulistano.” Com citações dedicadas às mulheres no decorrer do livro, tem destaque um capítulo em especial: Primeiras – damas. Nele é abordado, pelo autor, o papel, muitas vezes determinante, da mulher nas carreiras políticas de seus maridos e amante, citadas algumas vezes como responsáveis pelo sucesso ou fracasso dos respectivos chefes do Estado. Além de referências para os casais Costa e Silva, Maluf e Figueiredo aparece com maior destaque a família Collor. Enfatizando os escândalos e especulações feitas sobre a primeira dama Rosane e seu marido Fernando Collor, o autor descreve crises conjugais e adultérios. Pode ser concluído que a referida obra traz um apanhado geral de como ocorre determinados episódios nos bastidores da política. Fica constatado também que de fato a imprensa procura na medida do possível tornar públicos os eventos em questão. Porém nem sempre com sucesso, pois como é mostrado no livro, inúmeras providências são tomadas para que o abafamento das notícias aconteça, pelo menos enquanto os envolvidos estejam no poder. Com esta contribuição rica em detalhes até então desconhecidos, Gilberto Dimenstein presenteia os leitores com informações reveladoras e de importante teor histórico. Disponível em http://www.agenciacentralsul.org/resenhas/edicao_02/pdf_resenhas/rosa.pdf Av. Ernani Lacerda de Oliveira, 100 Bairro: Pq. 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