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1 HISTÓRIA- CONTEÚDOS E MÉTODOS 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .............................................................................................. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 3 O QUE É HISTÓRIA? ........................................................................................ 4 FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE HISTÓRIA ............................ 8 ENSINO E APRENDIZAGEM EM HISTÓRIA..........................................................................................................12 PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO NO ENSINO DA HISTÓRIA..........................................................................................................15 CONTEÚDOS E TEMAS....................................................................................18 HISTÓRIA: DINAMIZANDO CONCEITOS.....................................................................................................23 REFERÊNCIAS.................................................................................................28 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO História é um componente curricular obrigatório no ensino fundamental, porém, nem sempre desenvolvido de modo adequado, considerando sua importância para a formação dos indivíduos e de modo que possibilitem a construção de conhecimentos significativos. Em sua trajetória histórica, esta disciplina foi negligenciada em alguns momentos como no período militar, quando as disciplinas História e Geografia foram substituídas por Estudos Sociais, esvaziando seus conteúdos e objetivos, e ainda hoje são desconsideradas ou desenvolvidas de maneira inadequada por muitos professores, principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental. Essa área do conhecimento tem muito a contribuir para a formação dos indivíduos, pois ela nos permite compreender as transformações socioeconômicas, políticas e culturais que estamos vivenciando, desenvolver valores e construir identidades. Vivemos em uma época de individualismo, consumismo, intolerância e conflitos diversos e os conhecimentos da História nos instigam ao questionamento e à reflexão sobre a realidade, reavaliando ações e projetando o futuro, e principalmente, nos propiciam o conhecimento de si e do outro, o que contribui para a construção de identidades, o respeito e a convivência mais solidária entre as pessoas. Aprender a ser sujeito da história e adquirir consciência de si e do mundo são princípios que devem nortear a educação como um todo, mas que têm no estudo da História seus principais mecanismos. E é preciso que esses princípios orientem a educação em todos os níveis de ensino, ou seja, da educação infantil ao ensino superior, e em especial nos cursos de formação de professores, pois os conhecimentos históricos e geográficos fundamentam sua identidade pessoal e profissional, que para muitos teóricos são indissociáveis, possibilitam a compreensão da realidade e contribuem para o desenvolvimento de valores e atitudes como o respeito às diferenças, que é um requisito indispensável ao fazer docente. O futuro professor precisa dominar os principais conceitos de História, compreender os fundamentos teórico-metodológicos de seu ensino e desenvolver habilidades relacionadas a essas áreas do conhecimento, buscando fundamentar uma ação pedagógica reflexiva e transformadora. Assim, este texto busca avaliar algumas experiências 4 educativas na disciplina Fundamentos e Métodos do ensino de História do curso de Pedagogia PARFOR, na modalidade presencial, do Claretiano - Centro Universitário, por intermédio de uma reflexão sobre a prática, mediada pela pesquisa e discussão bibliográfica e orientada pela busca de aprimorar a própria ação pedagógica. Nos tempos atuais faz-se necessário um repensar imediato na forma de ministrar as aulas na disciplina de História, discutir e analisar a metodologia a fim de se obter uma qualidade de ensino em todos os níveis, onde o aluno possa desenvolver seu raciocínio e sua capacidade critica imprescindíveis na formação do “cidadão crítico”, e no desenvolvimento intelectual do aluno, de modo que consiga ampliar capacidades de observar, descrever, identificar semelhanças e diferenças entre acontecimentos atuais e mais distantes no tempo, além de estabelecer relações entre presente e passado. Muitas são as formas de se trabalhar os conteúdos escolares pelos professores, porém, mesmo com tantas tecnologias a disposição dos profissionais da educação, observa-se que o ensinamento de tais conteúdos se limita em aulas expositivas, e ainda, em alguns casos, sem a intenção de proporcionar para o aluno uma forma crítica de conhecer o passado histórico. O que o docente deve tomar cuidado no ensino de história é de não cair no contexto desta perspectiva, desenvolvendo o ato de repetição dos fatos, e somente cantá- los, sem fazer referência de autores e de que forma os relatos históricos foram construídos ao longo do tempo. A metodologia do ensino da História precisa ser pensada para além das funções enquanto disciplina, sua função, sua trajetória histórica, conceitos, categorias, abordagens, tendências, a relação que possui com as demais ciências humanas e sociais e, em especial, deve alcançar também as origens e as funções da consciência cotidiana e histórica, crítica e reflexiva sobre o exercício e papel no interior dos processos de ensino- aprendizagem e do agir socialmente comprometido e responsável (DIEHL; MACHADO, 2001). O QUE É HISTÓRIA? Glenisson (1991) aponta que é de bom senso que procuremos responder a esta pergunta quando os estudos em nível superior estiverem concluídos e quando se atua na sala de aula ou realiza pesquisas propriamente ditas. Mesmo em meio a terreno incerto, é possível elencar algumas definições que são 5 historicamente legitimadas e que podem nos orientar na tentativa de responder a esta indagação, que nos auxilie no momento da experiência profissional e quando estivermos procurando justificá-la enquanto conhecimento válido. Por muito tempo a História foi definida como como sendo um saber de natureza particular, que ocorre apenas uma vez, ou seja, o fato único, o acontecimento que não se repete, porém foi reelaborada e mais contemporaneamente se tornou consenso entre os historiadores assim como das demais ciências que trata da ciência/estudo do passado. Dosse (2003, p. 7) traz que a disciplina História constitui um conhecimento indireto, um saber que só chega, que é captado e compreendido por meio de vestígios, e que o que se faz nada mais é do que tentar preencher os vestígios em suas ausências. No passado, em um conceito quepertence à uma temporalidade, que se encontra de forma aleatória, desorganizado ou até sobreposto, e que por sua vez pode ser transformado e sistematizado em conhecimento através das perguntas/ problemas, das concepções teóricas e metodológicas que pesquisadores/ estudiosos lhe atribuem. O teórico revolucionário do movimento comunista Karl Marx (1818- 1883), em suas reflexões sobre teorias da história, descrevia que os homens são os responsáveis por fazer a sua própria história, mas devem estar atentos, pois existem condições herdadas do passado que influenciam e determinam seu agir. Júlio de Castilhos (1860-1903), político que se manteve atuante por muitos anos no estado do Rio Grande do Sul, defensor da vertente política positivista, gravou em sua lápide de seu jazigo no cemitério da Santa Casa da Misericórdia na cidade de Porto Alegre/RS a seguinte frase: “os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos”. Ambos, mesmo pertencendo ao mesmo momento histórico, porém de contextos políticos e ideológicos diferentes, e apresentando uma compreensão semelhante no que diz respeito à influência do passado no presente é muito semelhante, no sentido de reconhecer que a consciência dos vivos pode sofrer ou sofre da influência e determinação das gerações passadas. Mas Rodrigues (1966) nos chama atenção no sentido de que a afirmação expressa por Júlio de Castilhos possui pouco espírito crítico e comprometido com o presente; que pretende defender, restaurar o passado diante do presente, o que representa um equívoco que os historiadores não podem se dar ao luxo de cometer, pois o passado não volta, o historiador precisa estar comprometido com o seu tempo, o presente. No tempo presente existe um 6 grande fardo de tarefas e expectativas, que são herdadas das gerações anteriores, bem como são frutos de nosso próprio tempo (equívocos, injustiças, desigualdades), o que faz com que muitos indivíduos prefiram, estrategicamente, refugiar-se em algum lugar do passado, quase sempre um passado romântico, idealizado, isento de conflitos ou situação a resolver. O peso das tarefas do presente, muitas vezes, recai mais sobre os jovens do que sobre os antigos, as gerações anteriores, as quais precisam transformar a realidade. Quando se dá a oportunidade de implementar algo no sentido de agir/transformar o presente, é comum se manifestar forte dicotomia nas opiniões dos indivíduos, na perspectiva de que alguns defendem que é necessário que se conserve tudo e outros, por sua vez, defendem que é preciso desfazer-se de tudo. Diante disto, Rodrigues (1966) aponta que se faz necessário que ambos dialoguem no sentido de estabelecer uma proximidade e equilíbrio entre o ritmo da vida e da história, entre passado e presente. Por fim, o autor defende que a História deve ser tanto mais viva quanto mais próxima da problemática da vida, assim teria condições de deixar de ser uma coleção de fatos mortos e infecundos. Rodrigues (1984, p. 39) afirma que: o objetivo da História é dar sentido ao passado; é conhecer e compreender não para contemplar um passado morto, mas para agir, para libertar consciências, para dar força às forças do progresso, para identificar e integrar o país com sua história e seu futuro, essa é toda a tarefa da História. Nos escritos de Glenisson (1991), é possível encontrar algumas definições para a História e o profissional da História, tais como a de Henri Pirenne (1862- 1935), de que o historiador nada mais é além de um homem que se dá conta da mudança das coisas – a maioria das pessoas não toma consciência disto – e que procura a razão desta mudança; para André Piganiol (1883-1968), a história está para a humanidade assim como a memória está para o indivíduo; a história é a memória coletiva; para Gabriel Monod (1844-1912), trata-se do conjunto das manifestações da atividade e do pensamento humano, considerados em sua sucessão, seu desenvolvimento e suas relações de conexão ou dependência; Marc Bloch (1866-1944), o objeto da história é por natureza, o homem. A história ainda pode nos ajudar a conectar as estratégias que as pessoas dispunham em seu momento histórico para transcender a realidade e mobilizar forças espirituais 7 e psíquicas, e estas podem nos conscientizar das chances de criatividade cultural e potencial de superação humana que contamos e dispomos no presente, e que apresentamos dificuldades em perceber e captar. O estudo da história encontra-se inserido nos currículos escolares dos mais diferentes níveis de ensino básico e dos exames de seleção ao vestibular desde o século XIX. Bittencourt (2008, p. 33) apresenta que “em 1837 ocorreu a fundação da primeira escola pública brasileira, e no século XX, a partir da década de 1930, se deu a instalação dos primeiros cursos em nível superior”. Segundo Chervel (1990), desde o fim do século XIX era discutida a necessidade de se manter um currículo humanístico que favorecia os estudos das línguas (latim, grego, língua e literatura nacional e internacional) e da oratória, o que por sua vez cumpria a função de disciplinar a mente com o uso das obras literárias, e o domínio oral e escrito da “cultura clássica”, e ainda atendia aos interesses fundamentais na formação das elites. O estudo da história de vida e de família foi seguido da problematização sobre a imigração no Brasil, de uma aula expositivo-dialogada, da pesquisa sobre o tema e da elaboração e apresentação de painéis em grupos sobre os imigrantes alemães, italianos, japoneses, sírio-libaneses e africanos no país e da discussão sobre multiculturalismo e ensino de História. Rodrigues (1966) aponta que ao longo do século XIX supunha-se que a História poderia apresentar resultados e efeitos práticos a curto prazo, e que os usos e benefícios dos conhecimentos que estavam sendo produzidos poderiam ser imediatos. Ao longo do século XIX até os primeiros anos do século XX, os indivíduos depositavam enorme fé na História, bem como na ideia de progresso. As duas guerras mundiais e mais o aprofundamento dos problemas de desigualdades sociais registradas em todo o planeta foram cruciais no sentido de desmentir esta pretensão e as possibilidades de contribuição da História à realização da tão aclamada evolução da humanidade. O historiador tem responsabilidades e deve prestar contas. O historiador deve demonstrar consciência histórica e social em seu exercício profissional. O mau uso que pode ser feito do passado, bem como a ignorância, o não conhecimento dele não se limita a prejudicar a compreensão do presente; compromete e prejudica também a ação no presente. Tendo como referência a experiência contemporânea, na qual cada vez mais se acentua o dever com os vivos, com o meio em que vivemos e com a manutenção da vida; é possível reconstruir o passado, e que este pode representar uma ferramenta 8 de libertação de qualquer forma de opressão e dominação que é praticada. Segundo Bloch (2001), os historiadores são obrigados a refletir sobre hesitações e arrependimentos que se encontram registrados na história de sociedades, civilizações e dos mais diversos indivíduos. Dosse (2003) reflete que a história constitui um campo de batalhas, um lugar de confrontos primordiais onde se joga não tanto o passado enquanto tal, mas as grandes escolhas do presente. Duby (2002) apresenta que na construção e na abordagem do conhecimento histórico é preciso revelar o homem em toda a sua diversidade, protagonizando papéis que o apresentam como dominador e/ou dominado, santo e/ou pecador, isso para as mais diferentes e variadas atividades humanas. FUNDAMENTOS E MÉTODOS DO ENSINO DE HISTÓRIA As propostas curriculares para o ensino de História nos anos iniciais do ensino fundamental estão voltadas para o desenvolvimento de noções de espaço e tempo e de habilidades, na utilização de diferenteslinguagens como literatura, músicas e imagens e de procedimentos de pesquisa e na vivência de situações de aprendizagem que aproximem o aluno de sua própria realidade e ao mesmo tempo ampliem suas experiências e visão de mundo. Para podermos colocar em prática tais propostas curriculares, é importante que o professor considere novas possibilidades de trabalho pedagógico, em que os alunos sejam motivados a construir e a reconstruir conceitos, vivenciando situações em que possam pesquisar, coletar informações em diferentes fontes, discutir, refletir e interagir de forma a contribuir para a formação de sujeitos ativos, criativos e consequentes em seu meio. Esse tipo de trabalho pedagógico demanda um processo formativo consistente, que assegure a construção de referências conceituais básicas e o desenvolvimento de competências teórico-práticas para trabalhar com a História, o que envolve inúmeros desafios, afinal as perspectivas e as “reais” condições da formação do profissional que irá atuar nas séries iniciais do ensino fundamental ainda estão distantes do ideal. O ensino de história geralmente é voltado para a teoria apenas e mostrando apenas um “lado” da história dos fatos que são ocorridos. É necessário que trabalhemos com os(as) educandos(as) todos os “lados” e fatos das demais histórias, para que haja um ensino voltado para diversidade, onde os alunos se sintam 9 representados. Adquirindo de fato um ensino de qualidade. Ao planejar a disciplina Fundamentos e Métodos do ensino de História consideramos as determinações da legislação vigente, as atuais perspectivas de formação do professor, o projeto educativo da instituição, o projeto pedagógico do curso, as especificidades do conhecimento e do ensino de História, bem como o perfil, as expectativas e os conhecimentos prévios dos alunos e as condições para o seu desenvolvimento como a carga horária, o material disponível, dentre outras. O processo de planejamento de uma disciplina contribui para seu bom desenvolvimento, pois torna seus conteúdos mais contextualizados e sua metodologia mais dinâmica, porém ao colocar em prática o que foi planejado nos deparamos com diversas dificuldades e visualizamos outras possibilidades de ensino, o que nos leva a reconhecer a importância de avaliarmos constantemente nossas práticas pedagógicas e refletirmos sobre essas experiências educativas. Dessa maneira é necessário que haja uma “troca de saberes” entre os docentes, que seja promovido uma roda de saberes, onde os docentes possam compartilhar suas experiências e conhecimentos, a fim de que haja um ensino multicultural e multidisciplinar. O professor ao contar histórias possibilita o diálogo entre as experiências vivenciadas socialmente pelo aluno e o texto e isso possibilita o desenvolvimento da leitura, potencializa a imaginação, amplia o universo cultural e a compreensão do mundo. Inicia-se a disciplina fazendo uma sondagem dos conhecimentos prévios dos alunos sobre os conceitos de História e discutindo a importância de seu estudo e as especificidades da área. Ao realizar esta sondagem percebermos que os conceitos referentes a esta área eram bastante insuficientes e muitas vezes utilizados de forma inadequada e a compreensão das especificidades do conhecimento histórico era bastante parcial. Em um primeiro momento recorremos à memória e aos referenciais dos alunos sobre as aulas de História, questionando sobre sua importância e fundamentos e em seguida, propomos algumas questões para discussão em grupo. As questões buscavam instigar os alunos a perceber que nossa identidade está fundamentada em referenciais de tempo e de espaço e após a discussão dos grupos e a apresentação de suas considerações, foram retomadas pelo professor e direcionadas para a reflexão sobre a importância do estudo da História para o conhecimento de si e do outro. Após a sondagem dos conhecimentos prévios e da problematização inicial dos 10 conteúdos, discutimos o plano de ensino da disciplina e redirecionamos algumas propostas, tentando atender aos objetivos propostos e aos anseios e expectativas do grupo, formado de professores que já atuam na educação básica e que trazem para a sala de aula diversas experiências, questionamentos e concepções sobre o ensino destas disciplinas. Posteriormente, os conceitos desenvolvidos são retomados e buscando, assim, ampliar os referenciais, problematizando e investigando sobre a história de vida e de família dos alunos, a partir de estudos teóricos e de atividades práticas como a construção de uma árvore genealógica, que aproximam o futuro professor da prática da disciplina História em sala de aula, ao mesmo tempo que possibilitam a construção e a reconstrução de conceitos básicos da área. Ao se trabalhar com os fundamentos e métodos do ensino de História realizamos estudos teórico-práticos que possibilitem ao futuro professor a construção de conhecimentos, a reflexão sobre a prática docente e a discussão sobre as possibilidades metodológicas de ensino nas séries iniciais do ensino fundamental. As atividades realizadas buscam conscientizar o futuro docente de que o trabalho pedagógico na área de História envolve o planejamento sistemático de situações de aprendizagem, pautadas em diferentes linguagens e voltadas para a construção de conceitos e o desenvolvimento de habilidades, superando a prática da utilização de livros didáticos e apostilas como instrumentos únicos e exclusivos e ampliando as possibilidades de ensino destas disciplinas. Figura 1: Contando histórias e compartilhando saberes. 11 ENSINO E APRENDIZAGEM EM HISTÓRIA O estudioso do desenvolvimento cognitivo Jean Piaget (1896-1980) pode favorecer o entendimento quando defende que as estruturas cognitivas dos indivíduos são adquiridas ao longo da vida em estágios delimitados pela maturidade biológica, mediadas pelo meio, associadas às estruturas internas orgânicas. Piaget explica que um indivíduo, ao entrar em contato com um objeto, o compreende, incorpora-o e lhe atribui sentido em condições já existentes, em determinados esquemas mentais e estruturas internas, fazendo com que se dê a ampliação da capacidade cognitiva (PIAGET & GRECO, 1974 Piaget apresenta ainda que o indivíduo quando se depara com desafios e desequilíbrios exteriores responde por meio de compensações ativas que tendem a restabelecer o reequilíbrio, o que por sua vez demanda de maturação física do sistema nervoso e interferência de fatores sociais. A partir das teses de Piaget, foi possível justificar os estágios de apropriação de saberes concretos e abstratos, e em especial precisar que estudantes em primeiros anos de escolarização eram incapazes de dominarem conceitos abstratos, como os de tempo históricos. Também ficou compreendido que os conhecimentos espontâneos, provenientes da experiência de vida e do senso comum, e os conhecimentos científicos encontravam-se numa relação de conflito; no sentido de que o primeiro desfavorecia o aprendizado do segundo, e por sua vez passou a ser combatido em favorecimento e substituição pelo segundo. L. S. Vygotsky (1896-1934) defendeu teorias que se distanciavam das teorias de Piaget, no sentido de que as condições, não apenas a maturidade biológica, imperam na aquisição de conceitos, mas também as dimensões históricas e culturais que participaram do processo de formação e desenvolvimento do indivíduo. E reconhece na linguagem humana um sistema que possibilita a socialização, a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento, e o intercâmbio social e a formação conceitual, que consegue abarcar as dimensões da abstração e da generalização. Diferente da posição de Piaget, o estudioso russo propõe que na relação entre conhecimento espontâneo e conhecimento científico existem modificações e interferências mútuas entre estes saberes, e quenão há necessidade de desaparecimento do primeiro e para a consolidação do segundo. Os processos de aprendizagem representam uma das noções que exigem maior 12 maturidade, habilidade e competência por parte dos profissionais da educação. Nesse sentido, Bittencourt (2008) reflete que atividades que abordam noções de tempo passado, por exemplo, representam um dos desafios mais complexos de se realizar; estas podem ganhar alcançar melhores resultados quando se parte da experiência concreta dos estudantes e com uma abordagem atemporal e/ou contemporaneidade. Há de se tomar cuidado, porém, no sentido de que não se leve em consideração somente a dimensão do pensamento operatório piagetiano, que preocupada em obter resultados objetivos e imediatos acaba por promover uma história cujos maiores valores envolvidos são os morais e cívicos, por meio de heróis e nomes que foram responsáveis por grandes feitos na história, e que por sua vez se encontram destituídos de crítica e reflexão; assim como podem estar descontextualizados historicamente, o que acaba por revelar somente a dimensão vencedora e triunfante dos indivíduos, semelhante aos heróis de desenhos animados. As implicações das noções piagetianas são indicadas como responsáveis também por fazer com que a História, enquanto conhecimento e saber, fosse desprestigiada e entendida como um saber secundário diante dos demais saberes que possuem teor e especificidade mais prática e concreta. Nesta concepção, a História passa a ser uma espécie de invenção do mundo adulto, resultando de múltiplas interferências e por não compreender uma racionalidade que pode ser captada de forma objetiva, acaba não sendo assimilada como conhecimento verdadeiro. Assim, “a História seria apenas uma matéria escolar criadora de valores morais e cívicos que não exige por parte dos estudantes qualquer tipo de operação intelectual”. (BITTENCOURT, 2008, p. 198). O conhecimento histórico não se limita a apresentar o fato no tempo e no espaço acompanhado de uma série de documentos que comprovam sua existência e relevância à história geral da humanidade. Bittencourt (2008) defende que é preciso ligar o fato a temas e aos sujeitos que o produziram para buscar uma explicação e compreensão crítica. E neste processo de explicar e interpretar os fatos se faz necessário levar em conta determinados princípios, critérios, procedimentos, conceitos e noções, que por sua vez atendem à necessidade de organização e inteligibilidade dos fatos. Neste contexto, a reflexão e abstração teórica podem, muitas vezes, tornar os conhecimentos e conceitos áridos e de difícil apreensão por parte dos estudantes. No exercício de docência com estudantes de diferentes faixas 13 etárias e condições socioculturais, se faz necessário introduzir e encaminhar tarefas que promovam atividades de ensino-aprendizagem norteadas por critérios e saber específico, pois as palavras geralmente circulam confusamente no vocabulário, e assim também podem compor o repertório e a compreensão de sentido e significado de mundo. É importante que estejam o máximo possível integradas nas categorias conceituais e estas, por sua vez, articuladas umas às outras. A aprendizagem e a apropriação dos conceitos espontâneos e os conceitos científicos podem ocorrer de forma muito diferente. Bittencourt (2008) apresenta que a mente se defronta com problemas diferentes quando assimila conceitos na escola e quando se encontra em outros ambientes de sociabilidade. No espaço da escola, os conceitos são transmitidos de forma teórica e sistemática, que os estudantes, por sua vez, não podem vivenciar e apreender diretamente. Diante da constatação deste processo é possível tomar alguns cuidados na tentativa de aproximar as duas dimensões e relacionar o máximo possível os conceitos às mais diversas realidades possíveis. Para estudantes de nível básico e fundamental, é preciso que o conceito espontâneo/cotidiano esteja apreendido para que conceitos históricos possam ser introduzidos, por exemplo, quando as noções “no passado e agora”, “aqui e em outros lugares” são acompanhadas de forma simples e direta. Com estudantes de nível médio, os conceitos/termos podem ganhar abordagem e utilização mais interdisciplinares, é possível lançar mão de conceitos como sociedade, capitalismo, liberalismo, globalização, imperialismo, cidadania, entre outros. PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO NO ENSINO DA HISTÓRIA Todos os dias somos surpreendidos com a superação e o aprimoramento dos utensílios, artefatos, formas e meios de comunicação, e bombardeados com informações, imagens e performances publicitárias que se não mantivermos o devido distanciamento e o espírito crítico, facilmente adotamos como nosso próprio repertório e conjunto de referências pelo qual interpretaremos e estabeleceremos relações com o mundo. O sucesso de consumo dos novos produtos e valores é alcançado mediante volumosos investimentos em pesquisa e estudos em termos de designers, jogos entre testos e imagens, símbolos referências do inconsciente e das tradições culturais que por sua vez sensibilizam os sentidos e os desejos dos telespectadores. As primeiras 14 relações, contatos que um professor estabelece com qualquer espaço escolar ou de ensino e aprendizagem já passa a compor e fazer parte de sua identidade enquanto profissional da educação. Sendo assim, aproprie-se dos documentos normativos, dos conteúdos, antecipe-se e planeje-se diante das demandas que cada local e contexto exigem, prepare-se para possíveis adversidades e novidades, que as possibilidades de alcance de seus objetivos educacionais e a realização profissional e pessoal podem ser cada vez mais concretas e podem se tornar uma realidade constante em sua jornada de trabalho. Para tanto, é de suma importância identificar e mapear, numa perspectiva hierárquica e deliberativa, como se encontra estruturada a educação e o fazer do professor no Brasil. Pode-se estabelecer uma leitura tomando a participação do professor, que por sua vez é responsável pele elaboração do plano de aula. O Plano de aula deve estar alinhado ao planejamento de ensino da disciplina que vigorará numa dada unidade escolar e comporta os conteúdos que deverão ser ministrados a cada turma. Ambos, plano de aula e plano de ensino, devem estar em consonância ao Projeto Político Pedagógico da unidade escolar, que por sua vez prevê a elaboração colaborativa com os mais diferentes membros da comunidade escolar, tendo em vista a realidade e o contexto sócio histórico de cada escola e localidade na qual está se insere. O Plano Político Pedagógico é regulado e aprovado pela Secretaria de Educação, tanto em âmbito municipal como estadual, que se articula aos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN e as Leis de Diretrizes de Base da Educação – LDB, que por sua vez encontram- se agregados no interior do Ministério da Educação – MEC do governo federal. A descrição feita acima acaba por revelar que se tem um grande órgão mediador e regulador da educação no país, que é o Ministério da Educação – MEC e este sustenta embaixo de si todas as demais esferas e dimensões compositivas, conforme é possível observar no esquema que segue: 1º - CONJUNTO DE PCN E DIRETRIZES – MEC – PARA TODO O PAÍS. 2º - PROPOSTAS CURRICULARES DE ESTADOS, MUNICÍPIOS e INSTITUIÇÕES PARTICULARES. 3º - PROPOSTA CURRICULAR DAS UNIDADES ESCOLARES – PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO – PLANO DE ENSINO. 4º - ATIVIDADES EM SALA DE AULA – PLANO DE AULA. 15 Muitas vezes, o que é contemplado no interior dos currículos e planos de ensino não é cumprido nos espaços de sala de aula, ou também cada professor resolve por si mesmo ministrar os temas dos quais se sente mais seguro e preparado. Logo se tem um quadro de comprometimento e prejuízos dos conteúdos e aprendizados para com os estudantes,os quais, por sua vez, se farão necessários nas séries sucessivas. Este quadro também é agravado pelas situações em que o professor não pode, por inúmeros motivos, prosseguir com a turma que havia iniciado as atividades; ou quando ocorrem trocas e substituições de professores, que costumam ser frequentes. É como tentativa de amenizar os impactos destas flutuações junto aos estudantes e de facilitar a atuação dos novos professores que são propostos os respectivos planos. Por outro lado, os planos não conseguem dar conta das necessidades do fazer do professor com seus estudantes ou amenizar os sobressaltos que ocorrem no interior dos espaços escolares ao longo do ano letivo. Outro fato agravante também é que muitas vezes o currículo e os planos de ensino são construídos do lado de fora dos ‘muros da escola’ e são apresentados como prontos e sem chances de ajustes e mudanças, e muito menos possíveis da ponderação dos professores, que por sua vez são os responsáveis primordiais por colocá-los em prática. Martins (2011) ressalta que existe a possibilidade de um pensar e fazer curricular por parte do professor que pode contemplar o contexto da sala de aula, numa perspectiva autônoma, em consonância com seus objetivos, perspectivas educacionais e ao mesmo tempo voltar-se aos interesses dos estudantes. Para que isso ocorra é de fundamental importância que o professor mantenha um perfil crítico e reflexivo sobre a sua prática, a fim de estabelecer diálogos polifônicos e enriquecedores, para depois contar com maior facilidade em promover a renovação dos conteúdos e estratégias e a redefinição/ressignificação de seus fazeres educacionais. Em pesquisa sobre o ensino de História nos anos iniciais, Azevedo (2010) indica na memória espontânea de futuras professoras / pedagogas a persistência da História como uma matéria decorativa, centrada em um nacionalismo marcado pela exaltação dos grandes nomes e das datas cívicas. A autora remete este fato às lembranças registradas por esses indivíduos durante o seu processo de escolarização no Ensino Fundamental. No mesmo sentido, Abud (2012) aponta a persistência nessa visão da História como uma disciplina cuja tradição escolar obriga a 16 decorar, sendo tal tarefa algumas vezes auxiliada pelos feriados nacionais. Segundo a autora, Tal concepção auxiliou o enraizamento de representações negativas sobre a disciplina e seu ensino e transpôs para o imaginário escolar a ideia da sua desimportância e da falta de necessidade de seu ensino. Os professores da primeira fase do ensino fundamental que carregam essa experiência negativa, também a repassam para seus alunos, evitando ao máximo trabalhar, em suas salas de aula, tais conteúdos (ABUD, 2008, p. 558). CONTEÚDOS E TEMAS É enfatizado pelos PCN que sejam consideradas conteúdos e os temas que contemplam o exercício da cidadania e o respeito à diversidade, as relações sociais, o mundo do trabalho, os temas transversais (ética, meio ambiente, pluralidade cultural) nas mais diferentes disciplinas, conteúdos, séries e faixas etárias dos estudantes. Martins (2011) nos fornece um alerta de que as demandas da escola e da sociedade em relação ao seu ensino da História acabam por determinar que seus objetivos estejam articulados à crítica e ao enriquecimento cultural, muitas vezes, somente, associados ao acúmulo de conhecimentos do passado. O autor enfatiza também que existe uma forte carga político-ideológica presente nos conteúdos da disciplina de história. Diante disto ressalta-se que não se trata de demonizar o conteúdo, até porque ele é a ferramenta principal do professor, é a razão da escola existir, é aquilo que o aluno vai buscar na escola. Antes se faz necessário desnaturalizá-los e reconhecê-los como veiculadores de ideologias. O que se procurou discutir na Unidade 1 quando se tratava dos cinco elementos da Matriz Disciplinar da História e dos aspectos éticos e tomada de posição prudente que o professor pode ter. Nas Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN, em seu artigo 5º, para o uso dos conteúdos, apresentam que “os conteúdos curriculares não são fins em si mesmos”, o que dá margem para que o professor possa refletir sobre estratégias de usos do conteúdo com vistas a alcançar os objetivos propostos para o ensino de história. A crítica que geralmente é feita aos currículos e aos 17 conteúdos que lá se encontram versa sobre o fato de que muitas vezes representam um acúmulo de conteúdos selecionados previamente sem considerar a realidade social dos estudantes e da escola; bem como a forma como os conteúdos são trabalhados em sala de aula, que acabam por negligenciar os conhecimentos prévios deles. Dada a imensa variedade de conteúdos e mais as especificidades do conhecimento histórico, é fundamental que se definam critérios para selecionar o que vai ser ensinado. Obviamente, a definição de critérios não ocorre num vazio teórico, mas nas relações de poder que se configuram na e para a educação e cultura. Há uma seleção, preferência cultural, ao legitimar alguns processos históricos como indispensáveis ao ensino, em detrimento de conteúdos que poderiam fazer parte do currículo da disciplina História. Cerri (2004) reflete entre o que é ensinado e o que não é ensinado, entre o currículo prescrito e o aprendizado do estudante, interpõem-se fenômenos como currículo oculto, os condicionamentos específicos de cada escola e de cada sala de aula, que produzem o currículo realizado, distinto daquele que se prescreveu e planejou. De acordo com Martins (2011), é nesse espaço que o professor deve ser capaz de intervir de forma eficaz, tendo em vista seus objetivos, pois se por vezes a voz dele é calada na construção curricular oficial, é na sala de aula que ele tem a possibilidade de um fazer curricular. Mas para que isso aconteça, é indispensável que o professor desenvolva o hábito de intelectualizar e qualificar sua prática. Silva (1996) defende que o currículo é um dos locais privilegiados onde se entrecruzam saber e poder, representação e domínio, discurso e regulação, local em que se condensam relações de poder que são cruciais para o processo de formação das relações sociais que ocorrem na realidade. O que vem a ser o currículo oculto? Quais são as outras modalidades de currículo? Dentre as definições e diferenciações mais comuns tem-se as noções de Currículo Formal, Real e Oculto. Por Currículo Formal pode-se entender o que é estabelecido pelas instituições de ensino e o que se encontra sistematizado em diretrizes, que devem nortear os planejamentos de ensino no campo do fazer pedagógico. Currículo Real constitui o que consta nos planos de aula e que será efetivado no espaço da sala de aula de propriedade de professores e abordado com os estudantes. E o Currículo Oculto encontra-se na abordagem e na postura ideológica que o professor se utilizará na aplicação do plano de aula, e que 18 influenciará e repercutirá na forma como os estudantes aprendem e manifestam em termos de atitudes, falas, comportamentos, gestos e leituras de mundo entre a escola e a realidade social. No campo específico da História, os PCN preocuparam-se em apresentar noções de alinhamento com as tendências historiográficas mundiais e fazer crítica à história tradicional nos termos de que esta abordagem seja superada: Os historiadores voltaram-se para a abordagem de novas problemáticas e temáticas de estudo, sensibilizados por questões ligadas à história social, cultural e do cotidiano, sugerindo possibilidades de rever no ensino fundamental o formalismo da abordagem histórica tradicional. A história chamada “tradicional” sofreu diferentes contestações. Suas vertentes historiográficas de apoio, quer sejam o positivismo, o estruturalismo, o marxismo ortodoxo ou o historicismo, produtoras de grandes sínteses, constituidorasde macro objetos, estruturas ou modos de produção, foram colocadas sob suspeição (BRASIL, 1997, p. 24). Por outro lado, os parâmetros apontam no sentido de uma maior aproximação com as possibilidades temáticas e as abordagens da Nova História: [...] a História, que deverá estar presente também enquanto História das Linguagens e História das Ciências e das Técnicas, não na perspectiva tradicional da História Intelectual, que se limita a narrar biografias de cientistas e listar suas invenções e descobertas, mas da nova História Cultural, que enquadra o pensamento e o conhecimento nas negociações e conflitos da ação social (BRASIL, 1999, p. 9). Os PCN (1997) destacam que o professor não está sozinho no processo de ensino e aprendizagem. Existe a família, o mundo do trabalho, as instituições de ensino e pesquisa, os movimentos sociais, os meios de comunicação, as atividades culturais, entre outras com as quais ele precisa buscar apoio, colaboração e se relacionar. Simultaneamente, tem sido criticada a produção histórica que legitima determinados setores da sociedade, vistos como únicos condutores da política da nação e de seus avanços econômicos. Tem sido considerada, por sua vez, a atuação dos diversos grupos e classes sociais e suas diferentes formas de participação e expressão na configuração das realidades presentes, passadas e futuras. Ao construir planejamentos e conteúdos é necessário levar os alunos a perceberem o meio histórico que os 19 circunda; que componham todo um repertório histórico e cultural; que reconheçam os elementos de identidade/semelhança e diferença/alteridade que os compõem, que está latente no outro, e nos demais indivíduos que compõem a diversidade dos grupos sociais nos espaços de socialização, tanto de referência religiosa, étnica, política, artístico, desportivas, entre outros. Um aspecto que não pode ser negligenciado é a relação da dimensão e referência local com as demais esferas de manifestação e expressão tais como o que ocorre em nível regional, nacional e mundialmente, e por sua vez permite reconhecer o que é genuíno, pitoresco, excepcional, programado, fabricado, falsificado, revisitado, replicado na realidade. A realidade dos estudantes pode contribuir para que percebam os desafios em que se encontram. Como se trata de desafios que fazem parte da experiência humana e da vida, que reconheçam como esses mesmos desafios já foram enfrentados por outras sociedades e em outras épocas históricas, e vislumbrem possíveis soluções e alternativas para si; por outro lado, contemplar a realidade dos estudantes pode favorecer o fortalecimento do sentimento de pertencimento e a responsabilidade na construção de suas vidas em meio à sociedade no tempo presente. Uma vez feito o recorte pela temática de se levar em conta a realidade dos estudantes ou a esfera local dos fatos e fenômenos históricos, se faz necessário agregar camadas de interpretação temporal que contemplem as diferentes épocas, materialidades e mentalidades, outras formas de vida, outros costumes, que compõem a dimensão da história local, a fim que os auxilie na compreensão de si mesmos e as inúmeras expressões da vida coletiva. O ato de planejar a escola e o ensino requer dos educadores a reflexão e mobilização em torno da definição de valores, princípios, significados e concepção de educação e das práticas inerentes ao espaço escolar. Em dimensão mais ampla, o planejamento escolar requer integralização e articulação das ações educativas norteadas pelo projeto político-pedagógico. Enquanto que o planejamento de ensino constitui-se em espaço e momento coletivo para reflexão e análise da práxis pedagógica e dos instrumentos teórico-metodológicos, que permitam a todos os envolvidos reafirmar suas posições e avaliar suas práticas, ressignificando-as. Nesta perspectiva, o planejamento escolar deve ser concebido, assumido e vivenciado cotidianamente, também como um ato político, no sentido de resgate dos princípios que balizam a prática pedagógica em processo de ação-reflexão ação. 20 Por isso o planejamento escolar requer reflexão e ação coletivas. O planejamento contempla contributos essenciais para a melhoria da escola e do processo de ensino-aprendizagem, uma vez que propicia: balizar o processo de tomada de decisões fundamentadas com base na análise da realidade escolar; refletir e definir coletivamente objetivos das atividades de ensino e de gestão da escola; projetar as potencialidades da escola frente às demandas sociais; fazer a previsão e a provisão dos recursos diversos; organizar a articulação das ações educativas; otimizar o tempo e o espaço pedagógico; organizar o trabalho coletivo; explicitar princípios, diretrizes e procedimentos do trabalho docente que assegurem a articulação das atividades escolares; assegurar a unidade e a coerência do trabalho docente; expressar os vínculos entre o posicionamento político-filosófico, pedagógico e profissional na gestão escolar; enfim, projetar os caminhos da escola, entre tantos outros. Trata-se de um ato participativo, um contínuo propósito coletivo de reflexão e amplo debate a fim de deliberar sobre a construção do futuro da comunidade, contando com a participação do maior número possível de membros das categorias que a constituem. O planejamento participativo no âmbito da escola implica reavivar continuamente o processo de reflexão e ação da coletividade (da comunidade escolar). Implica ainda a busca da identidade institucional, ou seja, da identidade construída e reconstruída pela coletividade. Ele se baliza pela elaboração de seu projeto político-pedagógico. Esclarecendo melhor, isto ocorre porque, na elaboração e implementação do projeto político-pedagógico, materializam-se os diferentes momentos do planejamento passando pela: definição de um marco referencial, elaboração de um diagnóstico, definição da programação com base nos princípios de necessidade e exequibilidade visando à intervenção na realidade escolar e a própria avaliação. HISTÓRIA: DINAMIZANDO CONCEITOS Boa parte dos teóricos mencionam precariedade e insuficiência no acesso dos professores às teorias sobre educação infantil além de inadequação daquelas as quais se obteve algum conhecimento, visto que se encontram desarticuladas em relação à realidade dos educadores, ou seja, distantes de suas práticas diárias. No entanto, o consenso faz da História hoje uma disciplina cujo desafio incide em definir sua identidade em relação às outras disciplinas 21 humanas. Ranzi, 2005, enfatiza a utilização/apropriação de alguns conceitos, palavras e expressões próprias a fim de que não haja uso de definições abstratas que poderiam simplesmente ser memorizadas pelos alunos, sem que houvesse o perfeito entendimento dos mesmos. Tempo, a noção de cultura, a noção de sociedade, economia e poder são os mais recorrentes e, evidentemente, necessitam de mais ou menos contextualização, em função da sua atualidade. Ou seja, sabemos que algumas noções são perfeitas para explicar um determinado contexto, mas que podem soar absurdas em outro(s). Valorizar os meios pelos quais evoluiu o processo histórico, assim como os seus efeitos; a maneira como tudo pode se repetir a cada novo contexto; os fatos que se “copiam”; o que está “por detrás” de cada fato. O que se propõe é à sociedade atual é despertar o prazer em conhecer o seu passado. E fazer perceber como se constrói sua identidade. O que sabemos, no entanto, é que a proposta não chega sempre à escola ou, menos ainda, às séries iniciais. O conceito de que a História é baseada num amontoado de informações ainda resiste e esteve a serviço da construção de ideologias atreladas ao poder e à formação de uma formação cívica e moral, fortemente associada à questão da memória nacional. E a dinamização do ensino precisa enfocar alguns pontos essenciais.Energizar o ensino na sala de aula pode estar explicitado na transmissão de uma memória coletiva, revisada, ampliada, compreendendo a bagagem de cada aluno, de cada sociedade analisada, associada à história acadêmica. Relativizar o conhecimento, através do estudo do passado, encorajando o aluno a comparar a as diversas épocas e civilizações, usando seu espírito crítico, constatando os “bastidores” de um acontecimento, seus agentes. Encorajá-lo a um “autoexame”, uma “autoanálise”, tendo em vista o seu papel como agente histórico, cidadão e “fazedor” de história. Essas são formas através das quais podemos dinamizar em nossa sala de aula os conceitos históricos. A História, ao gerar o debate em torno de civilizações diferentes, estará trazendo para a sala de aula o grande conflito entre inúmeras situações e, nesse sentido, é importante a ênfase no respeito à diversidade e eliminação de preconceitos e conceitos equivocados, injustiças, intolerância e desrespeito. Para que o professor tenha segurança em seus atos, mais uma vez, reiteramos a necessidade de embasamento teórico metodológico em todas as decisões pedagógicas. Não só lidaremos com a 22 apresentação de realidades diferentes, em sociedades e culturas diferentes, como o nosso próprio entorno imediato é assim caracterizado: repleto de diversidade. A tarefa de definir a realidade brasileira, sob diversos pontos de vista, assim como contrastá-la com a realidade de outras culturas é primordial para a História a fim de que se traga para o próprio educando a noção de pertencimento e responsabilidade acerca de seus atos, em face de sua posição como agente modelador do meio. A ênfase na construção de uma sociedade plural, fortemente baseada nos aspectos democráticos, onde se espera o entendimento e apreensão do que aparentemente é “diferente”. Ao considerar a inserção da categoria cidadania relacionada aos objetivos de ensino, nota-se a apropriação nos registros dos docentes das influências que compõem as reformas curriculares e os discursos educacionais. Fator de destaque em relação ao ensino de História se refere às poucas aulas semanais destinadas à disciplina. Os questionários indicam que metade do público consultado ministra de uma a duas aulas por semana, com uma média de uma hora/aula. O restante indica três ou quatro aulas semanais. Os dados do questionário vão ao encontro do que anunciam pesquisas recentes sobre o ensino da disciplina nos anos iniciais. Sobre esse tema, Abud (2012, p. 556) afirma, A restrição ao tempo para se ensinar a disciplina (História) e a valorização da Língua Portuguesa e da Matemática constituem-se em fatores primordiais para a exclusão das outras matérias. Fato este que implica na dificuldade de aprendizagem das disciplinas privilegiadas, pois as excluídas significam portas abertas para desenvolver importantes capacidades intelectuais de relatar, raciocinar, compreender, narrar, etc, fundamentais para o desenvolvimento da escrita e domínio da língua e do pensamento científico. O ensino de História possibilita a leitura de mundo a que se refere Freire, necessária ao desenvolvimento das habilidades inerentes ao letramento. Entende-se, portanto, que o ensino da disciplina possui importantes fundamentos que garantem a sua inserção nos primeiros anos do Ensino Fundamental. As indicações dos PCN´s corroboram com essa afirmativa, ao propor aos docentes o trabalho com a oralidade e a iconografia, como formas de introduzir a criança na leitura das diversas fontes de informação, objetivando o desenvolvimento paulatino da autonomia intelectual. Sobre a seleção de 23 conteúdos escolares, Bezerra (2007) considera que eles não são mais um fim em si mesmo, perante um projeto educacional, anunciado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), nº 9394/1996, no qual, [...] os objetivos da escola básica, segundo essa lei, não se restringem à assimilação maior ou menor de conteúdos prefixados, mas se comprometem a articular conhecimento, competências e valores, com a finalidade de capacitar os alunos a utilizarem-se das informações para a transformação de sua própria personalidade, assim como para atuar de maneira efetiva na transformação da sociedade (BEZERRA, 2007, p. 37). Os conteúdos configuram-se como meios básicos para a construção de competências cognitivas e sociais, sendo que sua escolha e seleção devem considerar o cenário social em cada época. Dessa forma, a construção de um conhecimento histórico escolar significativo desloca o interesse pela quantidade de conteúdos a serem ministrados e suas possíveis lacunas, e passa a colocar em evidência o modo de trabalhar os conceitos históricos, em seus temas, assuntos e objetos. A influência da chamada “História Local” e da “História do Cotidiano” aparece nos apontamentos dos docentes, que consideraram os conteúdos História local (bairro, cidade) e História pessoal da criança, como os mais importantes de serem trabalhados nos anos iniciais do ensino fundamental. Percebe-se, ainda, o apontamento da “Inconfidência Mineira e a Figura do Tiradentes” na condição de conteúdo indicado como de menor importância pelos docentes, fator que leva a considerar a inserção de uma revisão historiográfica que redimensionou a clássica representação do herói, proclamada nos antigos Estudos Sociais. Todavia, atribuem o mesmo grau de importância entre o trabalho com as “datas cívicas” e a “História e Cultura Afrobrasileira e indígena”, apesar de ser esta última temática de inserção obrigatória, de acordo com a Lei 11.645/08. A ideia de situar o projeto político-pedagógico como norteador do planejamento escolar adquire grande destaque no processo de redemocratização sócio-política, frente à crítica ao modelo de planejamento tecnoburocrático com ênfase nos seus aspectos técnicos. O processo de elaboração e implementação do projeto políticopedagógico é fundamental porque envolve as pessoas que atuam na escola, dá a elas a sensação de 24 pertencimento, de envolvimento com a instituição escolar. Isto porque não há relação agradável entre submissão e satisfação. A satisfação em trabalhar numa escola, atuar para sua melhora e maior aprendizado dos alunos vem com a condição de partícipe, de sentir-se valorizado e respeitado. Assim, o planejamento escolar norteado pelo político pedagógico não condiz com relações autoritárias ainda presentes em muitas gestões escolares. A forma de ver o mundo e a sociedade de gestores escolares interfere sobre a forma como um diretor de escola toma as decisões ou constrói seu modelo de gestão. Desenvolver a cultura da gestão democrática e participativa significa ter a escola como espaço de deliberação coletiva dos sujeitos escolares, ou seja, os gestores, os professores, os estudantes, seus pais ou responsáveis, os funcionários. Isto não é tarefa só para a direção da escola, mas sim de todas as instâncias e usando muitos mecanismos de participação coletiva, deliberação colegiada. A gestão democrática e participativa é instrumento de superação do autoritarismo e dos individualismos ainda tão presentes nas escolas. Para vivenciá-la é preciso criar momentos coletivos e específicos de discussão sobre o significado de democracia, autonomia, descentralização, participação, cidadania, representatividade responsável. É importante que a comunidade escolar tenha conhecimento das diferentes possibilidades de se gerir uma escola e tenha clareza, compreensão, dos conceitos citados, pois eles são fundamentais para se empreender uma gestão participativa. Bittencourt (2011), considera que um dos objetivos centrais do ensino de História, atualmente, relaciona-se a sua contribuição na constituição de identidades como, a nacional, que associa a cidadania. Neste sentido as diversas propostas curriculares encontram-se a afirmação de que aHistoria deve encarregar-se da formação do “cidadão crítico”, e no desenvolvimento intelectual do aluno, de modo que consiga ampliar capacidades de observar, descrever, identificar semelhanças e diferenças entre acontecimentos atuais e mais distantes no tempo, além de estabelecer relações entre presente e passado. Jacome (2007) Pode-se dizer que a historicidade do conhecimento é uma ação que se vincula não somente ao individual, mas também ao coletivo. Tendo a epistemologia como teoria do conhecimento centrada no sujeito que conhece e no objeto que é o conhecido, a historicidade e a racionalidade são categorias essenciais para análise do conhecimento, pois, a historicidade e a racionalidade estão vinculadas ao 25 homem que interage com o mundo para fazer história resgatando-a dos antepassados para construir o presente e consequentemente fazer a sua própria história. Entendemos que história deve ser trabalhada dentro de uma realidade de um anglo na qual o indivíduo possa fazer parte, que o leve a se sentir agente da história como produto e produtor e compreendê-la com outra realidade através do espírito crítico. Ao revolucionar o Ensino de História os indivíduos terão capacidade de pensar de uma maneira diferente do modo tradicional, desse modo, historiadores formarão cidadãos pensantes e críticos dentro da realidade do mundo em que vivemos. 26 REFERÊNCIAS FOCHI, Graciela. Metodologia do Ensino da História. UNIASSELVI, 2015. Disponível em: <https://www.uniasselvi.com.br/extranet/layout/request/trilha/materiais/livro/livro .php?codigo=29877> Acesso em: 11/09/2020. OLIVEIRA, Patrícia. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ENSINO NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA: SUPERANDO O ENSINO TRADICIONAL. Repositório de Outras Coleções Abertas, 2013. Disponível em: <http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/4420/1/MD_EDUMTE_201 4_2_71.pdf> Acesso em: 11/09/2020. 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