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Direito Penal - Legislação Especial Penal

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Direito Penal 
Legislação Especial Penal 
 
Maria Augusta Tonioli 
 
 
 
1 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
 
 
 
 
 
2 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
SUMÁRIO 
LEI DE DROGAS (Lei 11.343/2006) ................................................................................................................ 3 
LEI DE ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS (Lei 12.850/2013) ............................................................................ 12 
LEI DE EXECUÇÃO PENAL (Lei 7.210/1984) ................................................................................................ 25 
LEI MARIA DA PENHA (Lei 11.340/2006) .................................................................................................... 42 
LEI DOS CRIMES HEDIONDOS (LEI 8.072/90) .............................................................................................. 48 
LEI DE INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA (Lei 9.296/1996).............................................................................. 53 
LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS (DL 3.688/1941) .................................................................................. 58 
LAVAGEM DE CAPITAIS (Lei 9.613/1998) ................................................................................................... 63 
LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS (Lei 9.099/1995) .......................................................................................... 68 
ESTATUTO DO DESARMAMENTO (Lei 10.826/2003) ................................................................................. 77 
CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (Lei 8.137/1990) ........................................................................ 84 
LEI DE TORTURA (Lei 9455/1997) ............................................................................................................... 89 
CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO (Lei 9.503/1997) ................................................................................. 94 
LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS (Lei 9.605/1998) ....................................................................................... 101 
LEI DOS CRIMES RESULTANTES DE PRECONCEITO DE RAÇA OU DE COR (Lei 7.716/1989) ..................... 105 
 
 
 
 
 
3 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
LEI DE DROGAS (Lei 11.343/2006) 
 
- INTRODUÇÃO 
A Lei 11.343/2006 revogou a Lei 6.368/1976, conferindo tratamento mais rigoroso ao traficante e mais brando 
ao usuário, que não se sujeita mais à pena privativa de liberdade. 
 
- DROGAS 
Nos termos do parágrafo único da Lei, “consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de 
causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder 
Executivo da União”. O ato que define quais as substancias enquadradas no conceito de ‘drogas’, atualmente, é 
a Portaria 344/1998 da ANVISA. 
 
Os dispositivos que utilizam o termo ‘droga’, portanto, constituem normas penais em branco, isto é, normas 
incriminadoras cujo preceito primário é incompleto, demandando complementação por outras normas para a 
adequada aferição da conduta criminosa. No caso específico, trata-se de norma penal em branco heterogênea, 
pois o complemento advém de fonte legislativa diversa da Lei, no caso, a ANVISA, que é órgão do Executivo. Essa 
definição do conceito de droga por ato normativo diverso de lei em sentido formal, saliente-se, não viola o 
princípio da legalidade, uma vez que a definição do crime, com a fixação da conduta reprimida, é definida para 
Lei, guardando-se ao ato infralegal apenas a sua integração. 
 
O STF reconheceu a abolitio criminis temporária em relação ao “lança-perfume”, em virtude da exclusão, no 
período compreendido entre 07/12/2000 a 15/07/2000, do cloreto de etila da Portaria 344/1998 da ANVISA. No 
caso, o presidente da ANVISA retirou a substancia do rol de drogas através da Resolução 104/2000, ad 
referendum do colegiado. Ao apreciar o ato, contudo, em 15/07/2000, o colegiado rejeitou essa exclusão. Não 
obstante, como os atos ad referendum produzem efeitos desde logo, o tráfico dessa substância praticado antes 
da Resolução foi considerado atípico (HC 120.026), pois a abolitio criminis retroage para beneficiar o réu. 
 
- CRIMES EM ESPÉCIE 
 
PORTE DE DROGAS PARA CONSUMO PESSOAL (art. 28) 
Cuida-se da conduta de “adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo 
pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”, que é apenada 
com advertência sobre os efeitos das drogas; prestação de serviços à comunidade; e/ou medida educativa de 
comparecimento a programa ou curso educativo. Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo 
pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou 
produto capaz de causar dependência física ou psíquica. 
 
O usuário de drogas é aquele que adquire, guarda, tem em depósito, transporta ou traz consigo drogas para 
consumo pessoal. Perceba-se que o uso propriamente dito não é crime, mas tão somente a aquisição, guarda, 
depósito ou transporte, embora uma dessas condutas seja inevitavelmente necessária para o consumo. 
 
Note-se ainda que o tipo do art. 28 pune o agente que tem a droga ‘para consumo pessoal’. Cuida-se do elemento 
subjetivo específico ou dolo específico do crime, que consiste na sua especial finalidade de agir. Ausente esse 
elemento, não se configura o crime do art. 28, mas, possivelmente, o crime de tráfico (art. 33), que conta com os 
mesmos verbos nucleares (ex.: amigo que oferece droga para pessoas do seu convívio, sem finalidade de lucro, 
para juntos consumirem, incorre no § 3º do art. 33). 
 
Para determinar se a droga se destinava a ‘consumo pessoal’, o juiz atenderá: a) à natureza e à quantidade da 
substância apreendida; b) ao local e às condições em que se desenvolveu a ação; c) às circunstâncias sociais e 
pessoais, bem como, d) à conduta e aos antecedentes do agente (art. 28, § 3º). 
 
- SANÇÕES APLICÁVEIS 
Demonstrado o consumo pessoal, como já dito, o usuário será submetido às seguintes penas: 
(a) advertência sobre os efeitos das drogas; 
 
 
4 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
(b) prestação de serviços à comunidade, cumprida em programas públicos ou privados sem fins lucrativos, que 
se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de 
drogas. 
(c) medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 
 
Com relação à pena de advertência não há prazo máximo. Não obstante, as penas de PSC e comparecimento a 
curso serão aplicadas pelo prazo de até 5 (cinco) meses e, sendo o usuário reincidente, até 10 (dez) meses. Veja-
se, portanto, que mesmo sendo o usuário reincidente, não é cabível nenhum tipo de prisão (pena, temporária, 
preventiva ou flagrante). Isso não impede, porém, que o usuário seja conduzido até a delegacia para colheita de 
informações e posterior liberação. 
 
No caso de descumprimento de qualquer das penas, permite-se a imposição, sucessivamente, de admoestação 
verbal e multa. Diferentemente do que ocorre no CP, o juiz fixará o número de dias multa atendendo à 
reprovabilidade da conduta, em quantidade nunca inferior a 40 nem superior a 100, atribuindo depois a cada 
um, segundo a capacidade econômica do agente, o valor de 1/30 até 3 vezes o valor do maior salário mínimo. Os 
valores arrecadados serão creditados à conta do Fundo Nacional Antidrogas. 
 
 
- TESE DA DESCRIMINALIZAÇÃO 
Parte da doutrina, na qual se inclui LFG, defende que teria havido a descriminalização do porte de drogas para 
uso pessoal, sob o argumento de que o art. 1º da LICP definiria como crime apenas a infração penal à qual se 
comine em abstrato as penas de reclusão ou detenção, cumulativamente ounão à pena de multa; e como 
contravenção penal a infração à qual se comine prisão simples. Como o porte para consumo pessoal é punido 
apenas com advertência, PSC e comparecimento a cursos, não se lhe aplicando as penas de reclusão e detenção, 
não se trataria de crime. 
 
A tese, contudo, foi rechaçada pelo STF, que decidiu não ter havido a descriminalização do delito, mas a sua mera 
despenalização, pois: 1) o art. 28 se encontra topograficamente incluído no capítulo “dos crimes e das penas” na 
Lei de Drogas; 2) a Lei de Drogas possui a mesma hierarquia da LICP e lhe é posterior, não sendo obrigada a seguir 
suas disposições. A doutrina critica esse posicionamento, afirmando não ter havido também ‘despenalização’, 
pois continua se imputando pena à conduta, embora não seja pena privativa da liberdade. Teria ocorrido, pois, a 
‘desprisionalização’ do crime. 
 
- COMPETÊNCIA 
O porte de drogas para consumo pessoal é crime de menor potencial ofensivo, de competência do JECRIM, e 
sujeito a todos os benefícios da Lei 9.099/1995. Em regra, será processado pela Justiça Estadual. Não obstante, 
pode também ser julgado na esfera federal (ex.: consumo a bordo de navios e aeronaves). 
 
- PRESCRIÇÃO 
A Lei de Drogas possui previsão expressa de que o prazo prescricional do porte de drogas para consumo pessoal 
é de 2 anos. Não se aplica, portanto, o prazo do art. 109 do CP a este crime (LD, art. 30), embora se apliquem as 
hipóteses de interrupção nele consagradas no art. 107 do mesmo diploma. 
 
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO ou AUXÍLIO AO USO DE DROGA (APOLOGIA) (art. 33, § 2º) 
Cuida-se da conduta de “induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga”, que é punida com 
detenção, de 1 a 3 anos, e multa de 100 a 300 dias-multa. É o que era previsto na antiga Lei de Drogas como 
‘apologia ao uso de drogas’. 
 
O tipo penal foi objeto de recente debate, nos autos da ADI 4.274, em que se debateu a legalidade da ‘Marcha 
da Maconha’. Na ocasião, o STF decidiu que o movimento, em si considerado, não constitui apologia ao crime, 
Quantidade de dias-multa
•Mínimo de 40 e máximo de 
100 dias-multa, atendendo 
à reprovabilidade da 
conduta.
Valor de cada dia-multa
•Mínimo de 1/30 e máximo 
de 3 vezes o SM, de acordo 
com a capacidade 
econômica do agente
Valor total da pena de multa
•Não há previsão de 
aumento da pena.
 
 
5 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
exceto se houver efetiva instigação, induzimento ou auxílio ao uso de drogas. O simples questionamento da 
penalização da conduta, contudo, constitui mero exercício de democracia, de liberdade de expressão. 
A utilização do § 3º do art. 33 da Lei 11.343/2006 como fundamento para a proibição judicial de eventos públicos 
de defesa da legalização ou da descriminalização do uso de entorpecentes ofende o direito fundamental de 
reunião, expressamente outorgado pelo inciso XVI do art. 5º da Carta Magna. Regular exercício das liberdades 
constitucionais de manifestação de pensamento e expressão, em sentido lato, além do direito de acesso à 
informação (incisos IV, IX e XIV do art. 5º da Constituição Republicana, respectivamente). 3. Nenhuma lei, seja 
ela civil ou penal, pode blindar-se contra a discussão do seu próprio conteúdo. Nem mesmo a Constituição está 
a salvo da ampla, livre e aberta discussão dos seus defeitos e das suas virtudes, desde que sejam obedecidas as 
condicionantes ao direito constitucional de reunião, tal como a prévia comunicação às autoridades competentes. 
Impossibilidade de restrição ao direito fundamental de reunião que não se contenha nas duas situações 
excepcionais que a própria Constituição prevê: o estado de defesa e o estado de sítio (art. 136, § 1º, inciso I, 
alínea “a”, e art. 139, inciso IV). Ação direta julgada procedente para dar ao § 2º do art. 33 da Lei 11.343/2006 
“interpretação conforme à Constituição” e dele excluir qualquer significado que enseje a proibição de 
manifestações e debates públicos acerca da descriminalização ou legalização do uso de drogas ou de qualquer 
substância que leve o ser humano ao entorpecimento episódico, ou então viciado, das suas faculdades 
psicofísicas. 
 
TRÁFICO DE DROGAS (art. 33, caput e § 1º) 
Trata-se da conduta de “importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à 
venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo 
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar”, que é apenada com reclusão de 5 a 15 anos e pagamento de 500 a 1.500 dias-multa. 
 
Nas mesmas penas incorre quem: 
a) importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, 
transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com 
determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de 
drogas; 
b) semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, 
de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; 
c) utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, 
ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com 
determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. 
 
O tráfico de drogas configura tipo misto alternativo, que traz dezoito condutas possíveis, respondendo o agente 
por um único crime, ainda que pratique mais de uma delas, desde que em um mesmo contexto fático (ex.: agente 
que importa, transporta, tem consigo, guarda e venda uma mesma droga). 
 
- SUJEITOS ATIVO e PASSIVO 
A maioria das condutas do tráfico configura crime comum, passível de ser praticado por qualquer pessoa. Apenas 
nos verbos ‘prescrever’ e ‘ministrar’, cuida-se de crime próprio, que só pode ser realizado por profissional da área 
da saúde. 
 
- CONSUMAÇÃO 
É muito difícil pensar em tentativa de tráfico de drogas. Geralmente, mesmo não se consumando uma das 
condutas nucleares, outra já estará consumada e, assim, consequentemente, também estará consumado o crime 
(ex.: para tentar guardar, já é preciso trazer consigo). Em tese, porém, admite-se a tentativa no núcleo ‘adquirir’. 
 
- ELEMENTO SUBJETIVO 
Todas as condutas do tráfico de drogas, inclusive as equiparadas, pressupõem dolo do agente. Não há previsão 
de tráfico culposo. 
 
- TRÁFICO MINORADO ou ‘PRIVILEGIADO’ (art. 33, § 4º) 
 
 
6 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
Nos delitos de tráfico de drogas (caput e § 1º), as penas poderão ser reduzidas de ⅙ a ⅔, desde que o agente seja 
primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. 
 
São, portanto, quatro os requisitos para a incidência da causa de diminuição da pena: 
a) agente primário; 
b) com bons antecedentes; 
c) que não se dedique a atividades criminosas; 
d) que não integre organização criminosa. 
* Note-se que todos os requisitos são subjetivos, relacionando-se ao agente, e não à conduta. 
 
Segundo o entendimento que prevalece no STF é possível aplicar o § 4º do art. 33 da LD às “mulas”. STF. RHC 
118008/SP 
 
Outra questão de relevo, diz respeito à combinação de leis: na antiga Lei de Drogas (Lei 6.368/1976), a pena do 
tráfico era de 3 a 15 anos, mas não havia previsão da causa de diminuição da pena; na nova Lei de Drogas (Lei 
11.343/2006), a pena é de 5 a 15 anos, mas existe previsão de minorante em favor do agente primário. Apesar 
de parcela da doutrina ter sustentado esta tese, o STJ firmou entendimento de que é vedada a aplicação das 
penas da Lei 6.368/1976 com a minorante da Lei 11.343/2006, uma vez que isso implicaria a criação de uma lex 
tertia,transformando-se o juiz em legislador. Logo, ou se aplica a lei nova ou a lei antiga, sempre integralmente. 
STJ, Súmula 501. É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das 
suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo 
vedada a combinação de leis. 
 
Por fim, embora na redação original o legislador tivesse previsto ser “vedada conversão da pena do tráfico em 
restritiva de direitos”, em virtude da aplicação da minorante, o STF reputou a previsão inconstitucional. Decidiu-
se que a análise da pertinência da restritiva de direitos caberia ao julgador e não, abstratamente, ao legislador. 
Hoje, portanto, é cabível a conversão da PPL em PRD no tráfico minorado, desde que preenchidos os requisitos 
legais (crime doloso praticado sem violência ou grave ameaça; pena concreta de até 4 anos; ausência de 
reincidência específica e circunstancias judicias favoráveis). Embora a decisão tivesse sido adotada em controle 
difuso de constitucionalidade, o Senado aprovou a Resolução 05/2012, suspendendo a sua eficácia em caráter 
geral. 
 
- HEDIONDEZ 
O tráfico de drogas (art. 33, caput, §§ 1º e 2º) é crime equiparado a hediondo, sofrendo todos os consectários 
daí decorrentes. Embora sempre se tenha entendido que o tráfico minorado (art. 33, § 4º) também é equiparado 
a hediondo, recentemente, o STF alterou seu posicionamento sobre o tema, afastando a hediondez do crime, tal 
como já se entende quanto ao homicídio. 
O tráfico de entorpecentes privilegiado (art. 33, § 4º, da Lei n. 11.313/2006) não se harmoniza com a hediondez 
do tráfico de entorpecentes definido no caput e § 1º do art. 33 da Lei de Tóxicos. O tratamento penal dirigido ao 
delito cometido sob o manto do privilégio apresenta contornos mais benignos, menos gravosos, notadamente 
porque são relevados o envolvimento ocasional do agente com o delito, a não reincidência, a ausência de maus 
antecedentes e a inexistência de vínculo com organização criminosa. Há evidente constrangimento ilegal ao se 
estipular ao tráfico de entorpecentes privilegiado os rigores da Lei n. 8.072/90 (STF, HC 118.533). 
 
Deve-se atentar, assim, para a seguinte distinção entre tráfico comum e o privilegiado: 
Tráfico de drogas (art. 33, caput, §§ 1º e 2º) Tráfico minorado (art. 33, §4º) 
É crime equiparado a hediondo. NÃO é crime equiparado a hediondo. 
Não admite graça, anistia ou indulto. Admite, em tese, graça, anistia e indulto. 
Livramento condicional apenas com cumprimento 
de ⅔ da pena, desde que o agente não seja 
reincidente específico. 
Livramento condicional mediante cumprimento 
de ⅓ ou ½ da pena, a depender do fato de ser ou 
não reincidente em crime doloso. 
 
 
7 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
Progressão de regime mediante cumprimento de 
⅖ da pena, se primário; ou ⅗ da pena, se 
reincidente. 
Progressão de regime mediante cumprimento de 
⅙ da pena. 
 
PETRECHOS À FABRICAÇÃO DE DROGAS (art. 34) 
Consiste na conduta de “fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer 
título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer 
objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em 
desacordo com determinação legal ou regulamentar”, que se sujeita à pena de reclusão, de 3 a 10 anos, e 
pagamento de 1.200 a 2.000 dias-multa. 
 
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO (art. 35) 
Trata-se da conduta de associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, 
qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º (tráfico e tráfico equiparado); 34 (petrechos ao tráfico) 
ou 36 (financiamento ao tráfico), que é punida com reclusão, de 3 a 10 anos, e pagamento de 700 a 1.200 dias-
multa. 
 
Embora não se exija a prática reiterada dos crimes, para a configuração da associação, exige-se pretensão de 
durabilidade da união. Ausente essa permanência, configurar-se-á mero concurso de pessoas. 
 
Ademais, a configuração do crime independe da efetiva prática do tráfico de drogas pelo agente. É possível que 
o agente seja condenado por associação sem nunca ter praticado tráfico. 
 
- SUJEITOS ATIVO E PASSIVO 
A associação para o tráfico é crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa; e plurissubjetivo ou de 
concurso necessário, pois obrigatoriamente deve ser praticado por dois ou mais agentes. Não se exige a 
identificação de todos agentes para a configuração do crime, bastando a demonstração do conluio entre dois ou 
mais agentes. 
Associação para o tráfico Associação criminosa Organização criminosa 
Duas ou mais pessoas. Três ou mais pessoas. Quatro ou mais pessoas. 
 
- ELEMENTO SUBJETIVO 
O crime de associação é punido a título doloso. Exige-se ainda o elemento subjetivo específico, consistente na 
finalidade de praticar os crimes de tráfico, petrechos ou financiamento. 
 
- PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE 
Naturalmente, a associação de agentes para a prática de crimes de tráfico, e a consequente configuração do 
crime do art. 36 da LD, afasta a incidência da associação criminosa (CP, art. 288), resolvendo-se o conflito 
aparente de normas pelo princípio da especialidade. 
 
- INCOMPATIBILIDADE COM O TRÁFICO PRIVILEGIADO 
O STJ tem entendido ser incompatível a condenação por tráfico privilegiado e associação para o tráfico. A 
condenação do agente por associação demonstra a sua dedicação à atividade criminosa, o que impede a 
incidência da minorante do § 4º do art. 33. 
Não se aplica a causa especial de diminuição da pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 ao réu 
condenado também pelo crime de associação para o tráfico de drogas, visto que tal fato evidencia a dedicação à 
atividade criminosa (STJ, HC 371.310 e HC 369.892). 
 
FINANCIAMENTO DO TRÁFICO (art. 36) 
Consiste na conduta de financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º 
(tráfico e equiparado), e 34 (petrechos à produção de droga), que se sujeita a reclusão, de 8 a 20 anos, e 
pagamento de 1.500 a 4.000 dias-multa. 
 
COLABORAÇÃO COM O TRÁFICO (art. 37) 
 
 
8 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
Trata-se da conduta de colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática 
de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º (tráfico e equiparado), e 34 (petrechos à produção de 
droga), que se sujeita a pena de reclusão, de 2 a 6 anos, e pagamento de 300 a 700 dias-multa. É o informante, o 
colaborador com o tráfico. 
 
Não há falar em associação criminosa nos casos em que o agente apenas colabora com o tráfico, uma vez que o 
art. 35 apenas tipifica a associação de duas ou mais pessoas para a prática dos crimes de tráfico (art. 33, caput e 
§1º) e de petrechos (art. 34). 
 
PRESCRIÇÃO CULPOSA DE DROGAS (art. 38) 
Cuida-se da conduta de “prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou 
fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”, que é apenada com 
detenção, de 6 meses a 2 anos, e pagamento de 50 a 200 dias-multa. 
 
A infração é de menor potencial ofensivo, sujeitando-se a julgamento pelo JECRIM, com transação penal e 
suspensão condicional do processo. Sendo a conduta apenada apenas com detenção, o regime inicial de 
cumprimento da pena é o semiaberto, embora seja possível a regressão para o fechado. Não se admite 
interceptação telefônica. 
 
- SUJEITOS ATIVO e PASSIVO 
A prescrição culposa de drogas é crime próprio, que só pode ser praticado por profissional da área da saúde. 
Tanto é assim, que “o juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a que pertença 
o agente”. 
 
- ELEMENTO SUBJETIVO 
Cuida-se do únicocrime culposo previsto da Lei de Drogas. Se a conduta for praticada a título de dolo, configurar-
se-á o tráfico (art. 33). E se ausente a consciência de que a substância configura droga, o fato será atípico. 
 
CONDUÇÃO DE VEÍCULO SOB INFLUÊNCIA DE DROGAS (art. 39) 
Trata-se da conduta de “conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial 
a incolumidade de outrem”, que é punida com detenção, de 6 meses a 3 anos, além da apreensão do veículo, 
cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade 
aplicada, e pagamento de 200 a 400 dias-multa. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as 
demais, serão de 4 a 6 anos e de 400 a 600 dias-multa, se o veículo for de transporte coletivo de passageiros. Na 
forma simples do tipo, como a pena mínima é inferior a 1 ano, cabe suspensão condicional do processo, embora 
não se trate de infração de menor potencial. 
 
Diferentemente do crime do art. do CTB, em que o perigo é presumido, cuida-se aqui de crime de perigo concreto, 
que exige efetiva exposição da incolumidade alheia a perigo. 
 
A competência para o julgamento do crime será da Justiça Federal, se a sua prática se der em navios e aeronaves 
(CF, art. 109). Se, porém, o crime ocorrer em embarcação de menor porte, caberá à Justiça Estadual o processo. 
 
- COLABORAÇÃO PREMIADA (art. 41) 
O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na 
identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, 
no caso de condenação, terá pena reduzida de ⅓ a ⅔. Atente-se que a Lei 12.850/2013 regulamentou 
supervenientemente a matéria, possibilitando, inclusive, o perdão do colaborador, o que também se aplica aos 
crimes da Lei 11.343/2006. 
 
- DOSIMETRIA DA PENA 
A Lei de Drogas prevê crimes nos arts. 28 e 33 a 39. As penas dos crimes dos arts. 33 a 37 (tráfico, petrechos, 
associação e financiamento) serão aumentadas ⅙ a ⅔, se (art. 40): 
 
 
9 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
(a) a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem 
a transnacionalidade do delito: a doutrina diferencia delitos transnacionais e internacionais afirmando que nos 
primeiros basta que a droga saia do país, basta a pretensão de internacionalidade; ao passo que nos 
internacionais seria preciso a saída de um país e entrega em outro. O tráfico transnacional é da competência da 
Justiça Federal; o interestadual não, salvo se praticado a bordo de navios e aeronaves. 
(b) o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, 
poder familiar, guarda ou vigilância; 
(c) a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino 
ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, 
de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de 
serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais 
ou em transportes públicos: com relação ao transporte público, o STJ e o STF entendem que só se configura a 
majorante se houver efetiva comercialização da droga em seu interior. 
(d) o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo 
de intimidação difusa ou coletiva: só incidirá a majorante se a violência ou o porte ilegal de arma não configurar 
crime autônomo, evitando-se bis in idem; 
(e) caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal: além da 
transnacionalidade, também majora a pena a interestadualidade do tráfico. 
(f) sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, 
diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação; 
(g) o agente financiar ou custear a prática do crime: essa majorante não se aplica, caso já incorra o agente no 
crime do art. 36 da LD (financiamento do tráfico), sob pena de configurar-se bis in idem. Aplica-se, porém, nos 
casos não abrangidos por esse tipo, isto é, de financiamento de crimes diversos dos arts. 33, caput e § 1º ou 34 
(ex.: associação para o tráfico). 
 
Perceba-se que o aumento pode variar de ⅙ a ⅔, valendo-se a doutrina do critério do número de causas de 
aumento para fixar o quantum concreto da majoração. 
 
Saliente-se que essas causas de aumento não se aplicam aos crimes de porte para consumo pessoal (art. 28); 
prescrição culposa de drogas (art. 38) e condução de embarcação ou aeronave sob a influência de drogas (art. 
39). 
 
O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre as circunstâncias judiciais (CP, art. 59), a 
natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente. 
 
A LD prevê que os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 (tráfico, petrechos, financiamento e 
associação) são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a 
conversão de suas penas em restritivas de direitos. O STF, contudo, declarou inconstitucional tanto a vedação à 
liberdade provisória (que, no caso, é sem fiança), quanto a conversão em PRD, por violação à não culpabilidade. 
 
O livramento condicional dar-se-á após o cumprimento de ⅔ da pena, vedada sua concessão ao reincidente 
específico. 
 
STJ, Súmula 587. Para a incidência da majorante prevista no artigo 40, V, da Lei 11.343/06, é desnecessária a 
efetiva transposição de fronteiras entre estados da federação, sendo suficiente a demonstração inequívoca da 
intenção de realizar o tráfico interestadual 
 
- FASE PRÉ-PROCESSUAL (INVESTIGAÇÃO POLICIAL) 
Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz 
competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do MP, em 24 horas. Para 
efeito da lavratura do APF e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da 
natureza e quantidade da droga (‘laudo de constatação provisório’), firmado por perito oficial ou, na falta deste, 
por pessoa idônea. 
 
 
 
10 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
Recebida cópia do APF, o juiz, no prazo de 10 dias, determinará a destruição das drogas apreendidas, guardando-
se amostra necessária à realização do laudo definitivo; a qual será executada pelo delegado de polícia 
competente no prazo de 15 dias na presença do MP e da autoridade sanitária. A destruição de drogas apreendidas 
sem a ocorrência de prisão em flagrante será feita por incineração, no prazo máximo de 30 dias contado da data 
da apreensão, guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo. Destaque-se que as plantações 
de drogas podem ser destruídas pela polícia, independentemente de autorização judicial. 
 
O inquérito será concluído no prazo de 30 dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 dias, quando solto. Os prazos 
podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o MP, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária. 
 
Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes de drogas, são permitidos, mediante autorização 
judicial e ouvido o MP: 
Infiltração de 
agentes 
Admite-se “a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, 
constituída pelos órgãos especializados pertinentes”. A polêmica reside na 
prática de crimes pelo agente infiltrado: há divergência quanto à natureza da sua 
conduta (se estrito cumprimento de dever legal, exercício regular de direito), 
bem como quanto aos crimes com emprego de violência. 
Ação controlada ou 
‘flagrante diferido’ 
Permite-se também“a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus 
precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se 
encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e 
responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e 
distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível”. Nesse caso, “a autorização 
será concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a 
identificação dos agentes do delito ou de colaboradores”. 
 
- FASE PROCESSUAL (AÇÃO PENAL) 
Recebido o inquérito, o MP terá prazo de 10 dias para: a) requerer o arquivamento; b) requisitar as diligências 
que entender necessárias; c) oferecer denúncia, arrolar até 5 testemunhas e requerer as demais provas que 
entender pertinentes. 
 
Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo 
de 10 dias. Apresentada a defesa, o juiz decidirá em 5 dias sobre o recebimento da denúncia. Recebida a 
denúncia, o juiz designará AIJ, na qual, nos termos da LD, o primeiro ato ainda seria o interrogatório do acusado. 
Salienta-se, porém, que recentemente o STF afastou semelhante previsão da Lei 8.038/1990 e no CPPM, 
determinando a aplicação do procedimento do CPP, com interrogatório como último ato do procedimento. O 
tema, contudo, não é pacífico, já tendo a mesma Corte decidido que, por tratar a LD de procedimento especial, 
aplicar-se-iam as suas disposições. 
A realização do interrogatório ao final da instrução criminal, prevista no art. 400 do CPP, na redação dada pela 
Lei nº 11.719/2008, também se aplica às ações penais em trâmite na Justiça Militar, em detrimento do art. 302 
do Decreto-Lei nº 1.002/69. Logo, na hipótese de crimes militares, o interrogatório também deve ser realizado 
depois da oitiva das testemunhas, ao final da instrução. STF. HC 127.900. 
 
O rito previsto no art. 400 do CPP não se aplica à Lei de Drogas. O interrogatório do réu processado com base na 
Lei 11.343/2006 deve observar o procedimento nela descrito (arts. 54 a 59) (STF, HC 121.953 e HC 125.094). 
 
Procedimento do CPP Procedimento da Lei de Drogas 
Denúncia em 5 ou 15 dias, conforme esteja o réu 
preso ou não. 
Denúncia sempre em 10 dias, esteja o réu preso 
ou não. 
Até 8 testemunhas, no procedimento ordinário. Até 5 testemunhas. 
Não há notificação para defesa prévia. Há notificação para defesa prévia, em 10 dias. 
Interrogatório é o último ato da instrução. Interrogatório é o primeiro ato da instrução. 
 
- CONFISCO 
 
 
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Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico de 
drogas, sem a necessidade de se perquirir a habitualidade, reiteração do uso do bem para tal finalidade, a sua 
modificação para dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou qualquer outro requisito 
além daqueles previstos expressamente no art. 243, parágrafo único, da Constituição Federal. STF. Plenário. RE 
638491-RR. 
 
 
 
 
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Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
LEI DE ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS (Lei 12.850/2013) 
 
- INTRODUÇÃO 
A Lei 12.850/2013 “define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção 
da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado”. 
 
Antes do seu advento, o tema inicialmente foi tratado pela Lei 9.034/2005, que dispunha sobre meios 
operacionais para prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. Essa lei, contudo, 
continha falhas graves, tais como a ausência de definição do seu próprio objeto: as organizações criminosas. A 
omissão legislativa, fez com que a doutrina aplicasse a definição dada pela Convenção de Palermo para a sua 
aplicação. No entanto, a prática recebeu críticas da doutrina, consistentes no excesso de generalidade do 
conceito internacional, com consequente violação ao princípio da taxatividade; e na exclusiva aplicabilidade 
internacional do conceito da convenção, com a consectária violação ao princípio da legalidade, o que foi acolhido 
pelo STF, que decidiu que apenas lei interna, editada pelo Congresso Nacional, poderia definir o conceito de 
organização criminosa (HC 96.007). 
 
Sobreveio, então, a Lei 12.694/2012, que finalmente firmou um conceito interno de organização criminosa, 
definindo-a como “a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela 
divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de 
qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou 
que sejam de caráter transnacional” (art. 2º). 
 
Com o advento da Lei 12.850/2013, que regulamentou integralmente o tema, superou-se o conceito da Lei 
12.694/2012 e revogou-se integralmente a Lei 9.034/2005. A Lei 12.694/2012 continua vigente, porém, em suas 
demais disposições, especialmente aquelas relativas à formação de colegiado de 1º grau para o julgamento de 
crimes envolvendo organizações criminosas. 
 
- CONCEITO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E APLICABILIDADE 
Nos termos da Lei 12.850/2013, “considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas 
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de 
obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas 
penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional” (art. 1º, § 1º). 
Lei 12.694/2012 Lei 12.850/2013 
Organização criminosa como associação de 3 ou 
mais pessoas. 
Organização criminosa como associação de 4 ou 
mais pessoas. 
Prática de crimes com pena máxima igual ou 
superior a 4 anos. 
Prática de infrações penais com pena máxima 
superior a 4 anos. 
 
Ainda que ausente a organização criminosa, admite-se a aplicação da Lei 12.850/2013, com todos os seus meios 
especiais de obtenção de prova: a) às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, 
iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente (ex.: 
tráfico internacional de pessoas); b) às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática 
dos atos de terrorismo definidos na Lei 13.260/2016 (ex.: trazer consigo substâncias capazes de causar danos ou 
promover destruição em massa). 
 
- CRIMES DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA (art. 2º) 
 
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA (art. 2º, caput) 
Com a Lei 12.850/2013, passou a constituir crime a conduta de “promover, constituir, financiar ou integrar, 
pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa”, conduta esta apenada com reclusão, de 3 a 8 
anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. 
 
Cuida-se de novatio legis incriminadora, que não retroage para alcançar fatos esgotados antes da sua vigência. 
 
 
 
13 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
- OBJETIVIDADE JURÍDICA 
O crime de organização criminosa tutela a paz pública. 
 
- SUJEITOS ATIVO e PASSIVO 
Organização criminosa é crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa; e plurissubjetivo ou de 
concurso necessário, demandando, no mínimo, o concurso de quatro pessoas. Nesse número, computam-se 
incapazes e até mesmo membros não identificados da organização, desde que comprovadamente existentes. 
Não se conta, porém, o agente infiltrado, por ausência de dolo de integrar a organização criminosa (Sanches). A 
vítima é a coletividade. 
 
- CONDUTA 
Consiste em “promover” (trabalhar a favor), “constituir” (formar), “financiar” (custear despesas) ou “integrar” 
(fazer parte), pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa. 
 
Partindo da definiçãolegal (art. 1º, § 1º), percebe-se que, além da pluralidade de agentes, a organização exige 
estabilidade, permanência, estrutura ordenada e divisão de tarefas. São requisitos do crime. 
 
 
Ademais, a organização deve buscar a prática de infrações penais (crimes e contravenções) com pena máxima 
superior a 4 anos. É imprescindível que a associação dos agentes seja estruturada e organizada antes da 
deliberação da prática do crime. Se a reunião ocorre após a deliberação há mero concurso. 
Organização criminosa Concurso de agentes 
Organiza-se a associação de agentes para, 
somente após, deliberar sobre os crimes que 
serão praticados. 
Reúnem-se os membros com os crimes já 
deliberados. 
 
- ELEMENTO SUBJETIVO 
A organização criminosa é punida a título de dolo (animus associativo), acrescido da finalidade especial de obter, 
direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais com penas 
máximas superiores a 4 anos ou de caráter transnacional. 
 
- CONSUMAÇÃO 
Dá-se com a formação da sociedade criminosa (societas criminis), sendo indispensável estrutura ordenada com 
divisão de tarefas. Trata-se de infração permanente, cuja consumação se protrai no tempo, enquanto não 
cessada a associação dos agentes. Assim, o agente pode ser preso em flagrante a qualquer tempo (CPP, art. 303); 
o termo inicial da prescrição se dá com o fim da permanência (CP, art. 111, IV); aplica-se a lei nova, editada 
durante a permanência, ainda que mais grave (STF, Súmula 711). 
 
Deve-se atentar que, tratando-se de delito autônomo, a consumação e punição da organização independe da 
prática concreta de qualquer crime pelos associados. Praticados outros crimes, haverá concurso material (CP, 
art. 69), cumulando-se as penas correspondentes. O próprio tipo prevê que aplicam-se as suas penas “sem 
prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas”. 
 
Prevalece que não é possível a tentativa de organização criminosa, uma vez que se trata de crime unissubsistente. 
 
OBSTRUÇÃO À INVESTIGAÇÃO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA (art. 2º, § 1º) 
Trata-se da conduta de quem “impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que 
envolva organização criminosa”, que é punida com as mesmas penas da organização, isto é, reclusão, de 3 a 8 
anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. 
 
- OBJETIVIDADE JURÍDICA 
O crime de organização criminosa tutela, principalmente, a administração da justiça. 
Organização 
criminosa
Pluralidade de 
agentes
Estabilidade Permanência
Estrutura 
ordenada
Divisão de 
tarefas
 
 
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Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
 
- SUJEITOS ATIVO e PASSIVO 
Cuida-se de crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa, desde que não tenha, de qualquer modo, 
concorrido para a formação e funcionamento da organização criminosa. Caso o agente participe da organização, 
configura-se o post factum impunível, respondendo o agente apenas pela conduta do caput (Sanches). Há, porém, 
entendimento em contrário. A vítima é o Estado-administração. 
 
- CONDUTA 
Consiste em “impedir” ou “embaraçar” a investigação penal que envolva organização criminosa. Para parte da 
doutrina o tipo não abrange a obstrução ao processo penal (Bittencourt). Outra parcela, invocando interpretação 
teleológica racional e sistemática, entende que o legislador buscou abranger todas as etapas da persecução penal 
(Sanches). 
 
Trata-se de crime de execução livre, que pode ser praticado por qualquer meio. Usando o agente, na obstrução 
às investigações, de violência ou grave ameaça contra agente estatal incumbido da persecução penal, pelo 
princípio da especialidade, aplica-se este crime, e não o crime de coação no curso do processo (CP, art. 344). 
 
- ELEMENTO SUBJETIVO 
O crime de obstrução às investigações é punido a título de dolo. 
 
- CONSUMAÇÃO 
No núcleo “impedir”, a consumação se dá com a obstrução da investigação. Já na modalidade “embaraçar”, o 
crime consuma-se com qualquer conduta indicativa de empecilho. Em ambos os casos, admite-se tentativa. 
 
- DOSIMETRIA DA PENA DOS CRIMES DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA 
A Lei 12.850/2013 prevê agravantes, aplicáveis na segunda fase da dosimetria, e causas de aumento da pena, 
aplicáveis na terceira. 
 
AGRAVANTES (2ª FASE DA DOSIMETRIA) 
A pena dos crimes de organização e de obstrução à investigação é agravada para quem exerce o comando, 
individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução. Cuida-
se de agravante semelhante àquela prevista no art. 62 do CP, devendo, como aquela, ser considerada na segunda 
fase da dosimetria da pena, conforme o prudente arbítrio do juiz. 
 
CAUSAS DE AUMENTO DA PENA 
As penas dos crimes da Lei 12.850/2013 aumentam-se até ½ se na atuação da organização criminosa houver 
emprego de arma de fogo. A majorante não se aplica para qualquer outro tipo de instrumento bélico, mas apenas 
para a arma de fogo. É dispensável, porém, a apreensão da arma, desde que a sua apreensão fique demonstrada 
por outros meios de prova. 
 
Ademais, as penas são aumentadas de ⅙ a ⅔: 
(a) se há participação de criança ou adolescente; 
(b) se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa condição para a prática de 
infração penal; 
(c) se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior; 
(d) se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações criminosas independentes; 
(e) se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização. 
 
De acordo com Nucci, a causa de aumento referente à transnacionalidade é inaplicável, uma vez que já configura 
elementar do art. 2º, caput, de modo que a sua valoração na fase de dosimetria da pena implicaria bis in idem. 
 
- CRIMES OCORRIDOS NA INVESTIGAÇÃO E OBTENÇÃO DA PROVA 
Conforme a prova a ser produzida, a Lei 12.850/2013 prevê um tipo penal específico, destinado à proteção da 
sua regular proteção: 
 
 
15 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
Colaboração 
premiada 
(arts. 18 e 
19) 
Art. 18. Revelar a identidade, fotografar ou filmar o colaborador, sem sua prévia autorização 
por escrito. Pena: reclusão, de 1 a 3 anos, e multa. 
Obs.: O art. 5º, II, da Lei 12.850/2013 assegura ao colaborador sigilo quanto ao seu nome, 
qualificação, imagem e demais informações pessoais. O inciso V do mesmo artigo anuncia ser 
direito do colaborador não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação sem sua 
autorização prévia por escrito. Essas garantias visam assegurar o meio de obtenção de prova e 
a própria integridade do colaborador. 
Art. 19. Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de infração 
penal a pessoa que sabe ser inocente, ou revelar informações sobre a estrutura de organização 
criminosa que sabe inverídicas. Pena: reclusão, de 1 a 4 anos, e multa. 
Obs.: O tipo tutela, além da Administração da Justiça, de forma imediata, a honra daquele a 
quem o agente imputa falsamente a prática da infração penal. Duas são as condutas: imputar 
falsamente infração de que sabe inocente (‘colaboração caluniosa’); e revelar informações 
inverídicas sobre a organização (‘colaboração fraudulenta’). O crime é doloso, mas deve-se 
atentar que na ‘colaboração caluniosa’ o agente deve saber que a imputação é falsa; já na 
fraudulenta, deve se convencer de que as revelações são inverídicas. O crime é formal, 
consumando-se com a imputação ou revelação falsa, ainda que sem dano. 
Ação 
controlada e 
infiltração de 
agentes (art. 
19) 
Art. 20. Descumprir determinação de sigilo das investigações que envolvam a ação controlada 
e a infiltração de agentes. Pena: reclusão, de 1 a 4 anos, e multa. 
Obs.: Só pode figurar como sujeito ativo dessecrime, pessoa que atua na persecução penal do 
crime organizado. O dever de sigilo relaciona-se ao cargo. É possível a sua prática por ação ou 
omissão. Nos termos do art. 8º, a comunicação da colaboração será distribuída de forma 
sigilosa, restringindo-se o acesso aos autos ao juiz, ao MP e ao delegado, como forma de garantir 
o êxito das investigações. Igualmente, a infiltração será precedida de circunstanciada, motivada 
e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites (art. 10). Perceba-se que o sigilo é 
assegurado apenas durante as investigações. Havendo justa causa para a revelação, afasta-se a 
ilicitude. 
Quebra de 
sigilo (art. 
21) 
 
Art. 21. Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos e informações requisitadas 
pelo juiz, Ministério Público ou delegado de polícia, no curso de investigação ou do processo. 
Pena: reclusão, de 6 meses a 2 anos, e multa. 
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem, de forma indevida, se apossa, propala, divulga 
ou faz uso dos dados cadastrais de que trata esta Lei. 
Obs.: O tipo tutela o regular cumprimento de requisições emanadas do delegado, MP e do juiz. 
Tutela-se, pois, a Administração da Justiça. É uma modalidade especial de desobediência. 
Servidor público não figura como sujeito ativo, podendo praticar, conforme o caso, 
prevaricação. Conforme os arts. 15 e 16, o delegado e o MP terão acesso, independentemente 
de autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado que informem 
exclusivamente a qualificação pessoal. O mero acesso a esses dados cadastrais não implica 
quebra de sigilo. A consumação dá-se com a recusa ou omissão. Se concedido prazo para o 
cumprimento, isso ocorre apenas ao seu fim. 
 
- MEDIDAS CAUTELARES 
Se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra organização criminosa, poderá o juiz 
determinar seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a 
medida se fizer necessária à investigação ou instrução processual. 
 
Esta medida cautelar já estava prevista no art. 319, VI, do CPP, pressupondo periculum in mora e fumus boni 
iuris. Pode ser decretada a qualquer tempo, seja durante a investigação ou o processo judicial, desde que seja 
imprescindível. 
 
- EFEITOS EXTRAPENAIS DA SENTENÇA CONDENATÓRIA 
A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou 
mandato eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 anos subsequentes 
ao cumprimento da pena. 
 
 
 
16 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
Esse efeito é automático, dispensando decisão motivada do juiz, assim como já ocorre na Lei de Tortura. 
Tratando-se de efeito extrapenal, ademais, não fica excluído por eventual abolitio criminis superveniente. 
 
Deve-se destacar, ademais, que diferentemente do que ocorre em sede de medida cautelar, em que só se permite 
afastamento de cargo, emprego ou função, é possível a perda do mandato eletivo por sentença condenatória 
transitada em julgado. A perda, porém, não é automática, dependendo de decisão do Congresso Nacional, por 
se tratar de matéria interna corporis. 
Medida cautelar Condenação transitada em julgado 
Afastamento do cargo, emprego ou função. Não 
cabe afastamento cautelar de mandato eletivo. 
Perda do cargo, emprego, função ou mandato 
eletivo. 
 
- DISPOSIÇÕES PENAIS ACESSÓRIAS 
Se houver indícios de participação de policial nos crimes de organização criminosa, a Corregedoria de Polícia 
instaurará inquérito policial e comunicará ao MP, que designará membro para acompanhar o feito até a sua 
conclusão. 
 
Cuida-se de medida voltada a garantir maior eficiência à persecução penal, evitando o corporativismo policial. O 
acompanhamento do MP é desdobramento do controle externo da atividade policial. Nada impede, porém, que 
o próprio MP instaure procedimento investigatório autônomo. 
 
- INVESTIGAÇÃO E MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA 
Além de definir organização criminosa, a Lei 12.850/2013 dispõe sobre a investigação criminal e os meios de 
obtenção da prova. Não se confundem as fontes e meios de prova e os meios de obtenção da prova: 
Fontes de prova Meios de prova Meios de obtenção de prova 
- São todas as pessoas ou coisas 
de que se possa extrair prova. 
- Derivam do fato delituoso e 
independem do processo, pois 
são anteriores a ele. 
- São introduzidas no processo 
através dos meios de prova. 
- São os instrumentos através 
dos quais as fontes de prova são 
introduzidas no processo. 
- Referem-se a uma atividade 
endoprocessual, desenvolvida 
perante o juiz, com participação 
dialética das partes. 
- São procedimentos regulados 
por lei, passíveis de execução 
por pessoas diversas do juiz, mas 
sob a sua autorização e 
fiscalização, com o objetivo de 
identificar fontes de prova. 
Integram a tutela cautelar do 
processo, visando assegurar a 
eficiência da investigação. 
 
Os meios de obtenção de prova são, com efeito, procedimentos ordinariamente extraprocessuais, de caráter 
urgente, que visam garantir a eficiência da atividade probatória, diante do risco de que os efeitos do tempo e o 
comportamento dos investigados impeçam ou dificultem que pessoas ou coisas possam servir como fonte de 
prova. Dividem-se em meios ordinários e extraordinários de obtenção de prova: 
Meios ordinários de obtenção de prova Meios extraordinários de obtenção de prova 
São aqueles procedimentos de obtenção de prova 
que se aplicam a qualquer delito (ex.: busca 
domiciliar). 
São as técnicas especiais de investigação (TEIS); 
ferramentas postas à disposição dos órgãos de 
persecução penal para a apuração de crimes 
graves, exigindo técnicas investigativas distintas 
das tradicionais. Caracterizam-se pelo sigilo e pela 
dissimulação. 
 
Nos termos do seu art. 3º, em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros já 
previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova: 
(a) colaboração premiada; 
(b) captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos; 
(c) ação controlada; 
(d) acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados 
públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais; 
(e) interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica; 
 
 
17 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
(f) afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica; 
(g) infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11; 
(h) cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e 
informações de interesse da investigação ou da instrução criminal. 
 
O uso desses meios de obtenção de prova é constitucional. Compatibiliza-se com a complexidade das 
organizações criminosas, permitindo a efetividade da persecução penal nos crimes praticados em seu bojo. Para 
a sua validade, porém, deve-se observar: a) a reserva legal, com lei prévia, escrita e estrita admitindo a restrição 
da liberdade; b) a reserva de jurisdição, exigindo-se autorização judicial, prévia ou não, devido ao caráter invasivo 
das medidas; c) observância ao princípio da proporcionalidade, com os subprincípios da adequação, necessidade 
e proporcionalidade em sentido estrito (Brasileiro). 
 
Com relação ao papel do juiz na gestão desse tipo de prova, admite-se a sua atuação ofício, mas apenas durante 
a fase processual e de forma residual (sistema acusatório). Na fase investigatória não pode o juiz agir de ofício, 
dependendo de provocação do MP ou da polícia, sob pena de quebra da sua imparcialidade. Nesse sentido, aliás, 
na ADI 1.570, o STF reconheceu a inconstitucionalidade de dispositivo da já revogada Lei deOrganizações 
Criminosas (Lei 9.034/1995) que permitia a quebra de sigilos e a realização de buscas diretamente pelo 
magistrado, por violação à imparcialidade, ao devido processo e ao acusatório. 
 
CAPTAÇÃO ou INTERCEPTAÇÃO AMBIENTAL 
Diferentemente dos demais meios de obtenção de prova, embora prevista na Lei 12.850/2013, a captação 
ambiental não contou com regulamentação do legislador. Há um projeto de lei em andamento relativamente ao 
tema. Contudo, hoje, não há ainda uma disciplina específica da forma da sua realização. 
 
A comunicação ambiental não se confunde com a comunicação telefônica. A comunicação ambiental é aquela 
realizada diretamente no meio ambiente, sem transmissão e recepção por meios físicos e artificiais, como os fios 
elétricos. Trata-se de conversa mantida entre pessoas sem uso do telefone, em qualquer recinto público ou 
privado. A comunicação telefônica, de outro lado, abrange toda transmissão de sons, imagens, sinais, escritos e 
informações de qualquer natureza, realizada por telefonia. 
Comunicação ambiental Comunicação telefônica 
Mantida diretamente entre os interlocutores, em 
ambiente público ou privado, sem uso do telefone 
Mantida por intermédio de telefonia, abrangendo 
toda transmissão de informação. 
 
Do mesmo modo, a interceptação ambiental não se confunde com a escuta ambiental: 
Interceptação ambiental em sentido estrito Escuta ambiental 
É a captação sub-reptícia de uma comunicação no 
próprio ambiente em que ocorre, público ou 
privado, feita por terceiros sem o conhecimento 
de nenhum dos interlocutores, com emprego de 
meios técnicos, utilizados em operação oculta e 
simultânea à comunicação. 
É a captação de uma comunicação ambiental, feita 
por um terceiro com o consentimento de um dos 
comunicadores e desconhecimento do outro. 
 
Por estar prevista em lei, a captação ambiental é um meio de obtenção de prova nominado. No entanto, por não 
ter seu procedimento disciplinado nesta lei, é um meio atípico. Aplica-se-lhe, por analogia, as disposições da Lei 
de Interceptação Telefônica (Lei 9.296/1996). 
 
Com relação à licitude da captação, diversas são as hipóteses possíveis: 
a) captação de conversa alheia mantida em local público: como não há expectativa de privacidade, não há falar 
em violação à intimidade. A interceptação ambiental é válida, ainda que ausente autorização judicial (ex.: 
filmagens de câmeras de vigilância) 
b) captação de conversa em local público, porém em caráter sigiloso: como há expectativa de privacidade, não 
se admite a interceptação ambiental (ex.: conversa entre cliente e advogado, que é protegida por sigilo 
constitucional – STJ, HC 59.967). 
 
 
18 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
c) captação de conversa em local privado: os ambientes privados são protegidos pela inviolabilidade domiciliar, 
não sendo admitida a captação ambiental. Admite-se, porém, se houver autorização judicial, caso em que se 
admite o ingresso em domicílio, inclusive à noite (STF, Inq. 2.424). 
 
COLABORAÇÃO PREMIADA 
Meio de obtenção de prova que tem origem no direito anglo-saxão (‘crown witness’), foi amplamente utilizado 
nos EUA, no combate do crime organizado, e na Itália, para o desmantelamento da máfia. Trata-se de técnica 
especial de investigação, por meio da qual o coautor/partícipe da infração penal, além de confessar o seu 
envolvimento no fato criminoso, fornece aos órgãos responsáveis pela persecução penal informações 
objetivamente eficazes para a consecução de um dos objetivos previstos em lei, recebendo, em contrapartida, 
um benefício legal (Brasileiro). A confissão, pois, é pressuposto da colaboração. 
 
Embora comumente se faça referência ao instituto como ‘delação premiada’, o termo mais adequado é 
‘colaboração’. Essa, aliás, é a terminologia adotada pela Lei 12.850/2013. Com efeito, colaboração é gênero do 
qual a delação é espécie. 
Colaboração premiada Delação premiada ou ‘chamamento de corréu’ 
É gênero. O investigado não só identifica os 
comparsas, mas também presta outras 
informações, como a localização da vítima. 
É espécie. Pressupõe que o delator confesse a 
prática do crime e incrimine os comparsas. É 
criticada por trazer ínsita a ideia de traição. 
 
Não interessa à validade da colaboração a motivação do colaborador. A colaboração premiada deve ser um ato 
voluntário, mas não necessariamente espontâneo. Admite-se que o colaborador seja influenciado por terceiros. 
É sempre exigida, porém, a presença de devedor. Inclusive porque o art. 4º, § 14 da Lei estabelece que o 
colaborador “renunciará ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade”. Embora 
a doutrina critique a expressão ‘renunciará’, já que, enquanto direito fundamental de índole constitucional, o 
silêncio não poderia ser renunciado, admite-se a previsão como uma ‘opção voluntária e assistida de não 
exercício do direito ao silêncio’ (Renato Brasileiro). Apesar da exigência do compromisso de dizer a verdade, 
ademais, o colaborador não responde por falso testemunho (CP, art. 342), que é crime próprio, mas apenas por 
denunciação caluniosa do colaborador (Lei 12.850/2013, art. 19). Essa responsabilização criminal não viola o 
nemo tenetur, pois embora seja permitida a não-autoincriminação, não se pode admitir que o colaborador 
atrapalhe as investigações, tampouco incrimine pessoas inocentes (RE 571.704). 
 
- HISTÓRICO LEGISLATIVO DA COLABORAÇÃO PREMIADA 
No Brasil, diversas leis trataram da colaboração premiada. A primeira delas foi a Lei 8.072/90, que possibilitou a 
redução da pena do participante que denunciasse à autoridade o bando ou quadrilha de ⅓ a ⅔, possibilitando o 
seu desmantelamento (art. 8º, p.ú.). A Lei 7.492/86, que trata dos crimes contra o SFN, também prevê redução 
de ⅓ a ⅔ para o coautor ou partícipe que, através de confissão espontânea, revelar toda a trama delituosa (art. 
25, § 2º). Com a Lei 9.613/98, que trata dos crimes de lavagem de dinheiro, a colaboração passou a permitir 
outros benefícios legais, além da redução da pena de ⅓ a ⅔, quais sejam: cumprimento da pena em regime aberto 
ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de 
direitos (independentemente do preenchimento dos requisitos do art. 44 do CP) (art. 1º, § 5º). Para isso, o 
colaborador deve prestar, a qualquer tempo (inclusive durante a execução penal), esclarecimentos que 
conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização 
dos bens, direitos ou valores objeto do crime. 
 
Em seguida a Lei 9.807/99, de proteção de testemunhas, previu que “poderá o juiz, de ofício ou a requerimento 
das partes, conceder o perdão judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, 
tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa 
colaboração tenha resultado a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa; a localização 
da vítima com a sua integridade física preservada; a recuperação total ou parcial do produto do crime” (art. 13). 
A Lei 11.343/2006, igualmente, estabeleceu que “o indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a 
investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e na 
recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois 
terços”. 
 
 
19 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
 
Por fim, a Lei 12.850/2013 estabeleceu que “juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, 
reduzir em até ⅔ a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha 
colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessacolaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: a identificação dos demais coautores e partícipes da 
organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; a revelação da estrutura hierárquica e da divisão 
de tarefas da organização criminosa; a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização 
criminosa; a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela 
organização criminosa; a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada”. 
 
- ÂMBITO DE APLICAÇÃO DA COLABORAÇÃO DA LEI 12.850/2013 
Alguns doutrinadores defendem que, como há previsão específica em diversas leis, a previsão da Lei 12.850/2013 
só se aplicaria ao crime de organização criminosa, previsto no seu art. 2º (Pacelli). Prevalece, porém, que a Lei de 
Organizações se aplica a todo e qualquer crime praticado no bojo de organização criminosa, ainda que haja 
dispositivo legal específico relacionado àquele delito. Isso porque, observando-se os objetivos da colaboração, 
verifica-se que dizem respeito a outros crimes, além da mera organização (ex.: localização da vítima, relaciona-
se à extorsão mediante sequestro) (Renato Brasileiro). 
 
- OBJETIVOS DA COLABORAÇÃO PREMIADA 
A depender da lei que regulamente a colaboração, é possível que tenha ela um objetivo distinto. A Lei 
12.850/2013, porém, prevê, de modo geral, o conjunto desses objetivos. 
 
Nos termos do seu art. 4º, a colaboração objetivará o alcance de um dos seguintes resultados: 
(a) a identificação dos demais coautores e partícipes da organização e das infrações praticadas; 
(b) a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização; 
(c) a prevenção de infrações decorrentes das atividades da organização criminosa; 
(d) a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações praticadas pela organização; 
(e) a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada. 
 
Cuidam-se de objetivos alternativos, bastando a presença de um deles para que se configure a colaboração. 
 
- EFICÁCIA OBJETIVA DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA 
Para que o colaborador faça jus aos prêmios legais, as informações que prestar devem ser objetivamente eficazes 
para alcançar um dos objetivos previstos da lei. Deve-se verificar, assim, o nexo causal entre as informações 
prestadas pelo colaborador e o alcance do objetivo legal. 
 
- PRÊMIOS LEGAIS 
Quando surgiu a colaboração premiada, o legislador era tímido quanto aos benefícios, permitindo apenas a 
redução da pena de ⅓ a ⅔ em favor do colaborador. 
 
Com a Lei 12.850/2013, passou-se a prever como prêmios: a) perdão judicial; b) redução da pena em até ⅔; c) 
substituição da pena por restritiva de direitos; d) suspensão do prazo para o oferecimento de denúncia contra o 
colaborador por até 6 meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas de 
colaboração, suspendendo-se também o prazo prescricional; e) não oferecimento da denúncia. Perceba-se que, 
diferentemente das demais leis, a Lei 12.850/2013 não prevê quantum mínimo de diminuição, o que faz com que 
a doutrina sustente que o mínimo é de ⅙. 
Colaboração nas demais leis Colaboração na Lei 12.850/2013 
Redução da PPL de ⅓ a ⅔. Redução da PPL até ⅔ (mínimo ⅙). 
 
A maioria da doutrina e a jurisprudência defendem que, para receber os prêmios legais, o colaborador deve ser 
denunciado e processado. No entanto, Renato Brasileiro defende que se a própria lei prevê a possibilidade de o 
MP deixar de oferecer denúncia, desde que cumprido integralmente o acordo, seria possível requerer desde logo 
a extinção da punibilidade do colaborador, se prévio processamento, por aplicação analógica do art. 27, parágrafo 
único da Lei 12.529/2011, que trata do acordo de leniência. 
 
 
20 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
 
Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as 
circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração. Assim, se os 
termos do acordo forem cumpridos, os resultados legalmente previstos forem alcançados e as circunstâncias 
judiciais (CP, art. 59) forem favoráveis, a concessão dos benefícios legais é direito subjetivo do réu. 
 
- VALOR PROBATÓRIO DA COLABORAÇÃO 
A delação (‘chamada de corréu’) é insuficiente para, isoladamente, fundamentar uma condenação. À colaboração 
devem se somar outros elementos probatórios. Nesse sentido, a própria Lei 12.850/2013 prevê que “nenhuma 
sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador”. 
 
Surge, assim, a chamada ‘regra da corroboração’, segundo a qual as informações prestadas pelo colaborador 
devem ser confirmadas por outros meios de prova. Não basta que o colaborador confesse a prática criminosa. 
Para além disso, deve indicar elementos de informação e provas capazes de confirmar suas declarações (ex.: 
produto do crime, contas bancárias etc.) (Renato Brasileiro). 
 
- REPERGUNTAS AO COLABORADOR PELO DEFENSOR DOS DELATADOS 
Admite-se que o colaborador seja submetido a perguntas no interrogatório tanto pelo juiz, como pelo MP, por 
seu defensor e pelos demais defensores de todos os acusados. 
 
- ACORDO DE COLABORAÇÃO PREMIADA 
Quando surgiu a colaboração premiada, na década de 90, sua celebração se dava através de acordo verbal, o que 
gerada descumprimentos por parte das autoridades. Mais recentemente, no entanto, os acordos de colaboração 
assumiram a forma documentada, conforme a Convenção de Palermo. 
 
A Lei 12.850/2013, enfim, dispôs expressamente sobre o termo da colaboração. Conforme o seu art. 6º, “o termo 
de acordo da colaboração premiada deverá ser feito por escrito e conter: o relato da colaboração e seus possíveis 
resultados; as condições da proposta do MP ou do delegado; a declaração de aceitação do colaborador e de seu 
defensor; as assinaturas do representante do MP ou do delegado, do colaborador e de seu defensor; a 
especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, quando necessário”. Destaque-se, porém, 
que o acordo escrito não é conditio sine qua non da colaboração. Ainda que pactuado de forma verbal, o 
colaborador terá direito aos benefícios se cumpridos os demais requisitos. Isso porque a forma escrita foi 
concebida para conferir maior segurança ao réu. 
 
O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de colaboração, 
que ocorrerá entre o delegado, o investigado e o defensor, com a manifestação do MP; ou, conforme o caso, 
entre o MP e o investigado ou acusado e seu defensor. Uma vez realizado o acordo, o termo, acompanhado das 
declarações do colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para homologação, o qual deverá 
verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o 
colaborador, na presença de seu defensor. O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos 
requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto. Não pode, porém, intervir para modificar os termos do acordo. 
Saliente-se, ademais, que a homologação do acordo não é causa de futuro impedimento do julgador (STF, HC 
97.553). 
 
- LEGITIMIDADE PARA A CELEBRAÇÃO DO ACORDO 
A Lei 12.850/2013 prevê que o acordo de colaboração “ocorrerá entre o delegado, o investigado e o defensor, 
com a manifestação do MP; ou, conforme o caso, entre o MP e o investigado ou acusado e seu defensor”, o que 
dá a entender que o delegado poderia, por si só, celebrar o acordo. 
 
A doutrina defende, porém, que o delegado pode apenas sugerir a celebração do acordo. Não tem, porém, 
legitimidade celebrá-lo por conta própria, uma vez que o acordo implica disponibilidade da ação penal, que é de 
titularidade exclusiva do MP. 
 
- MOMENTO DA CELEBRAÇÃO DO ACORDO21 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
O ideal é que o acordo seja celebrado na fase investigatória. Nada impede, contudo, que seja pactuado a qualquer 
tempo, mesmo depois da condenação irrecorrível, desde que as informações ainda sejam objetivamente úteis. 
 
Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão 
de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos (art. 4º, § 5º). A via adequada para a aplicação desses 
benefícios é o incidente da execução penal, e não a revisão criminal (Brasileiro). 
 
- PUBLICIDADE DO ACORDO 
O pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído, contendo apenas informações que não 
possam identificar o colaborador e o seu objeto. O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao MP e ao delegado, 
como forma de garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, 
amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente 
precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento. O acordo de 
colaboração premiada deixa de ser sigiloso, no entanto, assim que recebida a denúncia. 
 
AÇÃO CONTROLADA 
Ação controlada é uma técnica especial de investigação por meio da qual é retardado o momento da intervenção 
dos órgãos responsáveis pela persecução penal, para que ocorra no momento mais oportuno sob o ponto de 
vista da investigação criminal. 
 
- HISTÓRICO LEGISLATIVO DA AÇÃO CONTROLADA 
Antes da sua previsão na Lei 12.850/2013, a ação controlada já encontrava disciplina na Lei 9.034/1995 (revogada 
Lei de Organizações), na qual, inclusive, independia de autorização judicial, razão pela qual era chamada ‘ação 
controlada descontrolada’ (Afrânio Silva Jardim). Já tinha previsão, ademais, na Lei de Lavagem de Capitais (Lei 
9.613/1998, art. 4º-B), abrangendo não só a prisão, mas também medidas assecuratórias (ex.: sequestro), 
mediante autorização judicial; bem como na Lei de Drogas (Lei 11.343/2006, art. 53, II), também com autorização 
judicial. 
 
Hoje, a Lei 12.850/2013 prevê que “consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou 
administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob 
observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de 
provas e obtenção de informações”. O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente 
comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério 
Público. Não se exige autorização judicial, mas só comunicação. 
Leis de Lavagem de Capitais e de Drogas Lei de Organização Criminosa 
Ação controlada depende de autorização judicial. Ação controlada só exige comunicação ao juiz. 
 
Em qualquer caso, a comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter informações que possam 
indicar a operação a ser efetuada. Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao 
MP e ao delegado, como forma de garantir o êxito das investigações. Ao término da diligência, elaborar-se-á auto 
circunstanciado acerca da ação controlada. 
 
- LIMITES DA AÇÃO CONTROLADA 
Após a comunicação da ação controlada ao juiz, poderá ele fixar limites materiais e temporais ao retardamento 
da atuação. Limites materiais são os crimes em relação aos quais se admite a abstenção das autoridades (ex.: 
crimes contra a vida não podem ser objeto de ação controlada). Limites temporais, por sua vez, relacionam-se ao 
tempo máximo de duração da não atuação. 
 
- FLAGRANTE PRORROGADO, DIFERIDO ou POSTERGADO 
A ação controlada funciona como forma de mitigação do flagrante obrigatório (CPP, art. 301), uma vez que 
permite às autoridades policiais que posterguem a prisão para momento mais oportuno. Saliente-se, porém, que 
só será admitida a prisão em flagrante nesse momento futuro se persistir a situação de flagrância. Não sendo 
este o caso, exige-se prévia decretação de preventiva ou temporária para legitimar a apreensão dos infratores. 
 
 
 
22 
Direito Penal – Legislação Especial Penal 
 
- ENTREGA VIGIADA 
A entrega vigiada é uma espécie de ação controlada. É a técnica especial de investigação que consiste em permitir 
que remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais Estados, os atravessem ou neles entrem, 
com o conhecimento e sob o controle das suas autoridades competentes, com a finalidade de investigar infrações 
e identificar as pessoas envolvidas na sua prática (Renato Brasileiro). 
 
Há duas espécies de ação vigiada: limpa ou com substituição e suja ou com acompanhamento. 
Entrega vigiada 
limpa ou com 
substituição 
As remessas ilícitas são trocadas antes de serem entregues ao destinatário final 
por outro produto qualquer, afastando o risco de extravio da mercadoria (ex.: 
substitui-se a droga por talco no meio do caminho). 
Entrega vigiada 
suja ou com 
acompanhamento 
A encomenda segue seu itinerário sem alteração do conteúdo, seguindo seu 
curso normal sob redobrado monitoramento, a fim de diminuir o risco de 
extraviar a mercadoria ilícita. 
 
INFILTRAÇÃO DE AGENTES 
A infiltração de agentes é uma técnica especial de investigação por meio da qual um agente é introduzido 
dissimuladamente em uma organização criminosa, passando a agir como um dos seus integrantes, ocultando sua 
verdadeira identidade, com o objetivo precípuo de identificar fontes de prova e obter elementos de informação 
capazes de permitir a desarticulação da associação. 
 
O agente infiltrado é: a) agente policial (não se admite a infiltração de particulares); b) que, mediante prévia 
autorização judicial; c) atua de maneira disfarçada (não pode ser revelada a identidade do agente) e estável em 
organização criminosa; d) fazendo-se passar por um dos seus membros (para angariar a confiança dos demais 
integrantes do grupo); e) com a finalidade de obter fontes de prova. 
 
- HISTÓRICO LEGISLATIVO DA INFILTRAÇÃO DE AGENTES 
A revogada Lei 9.034/1995 já afirmava ser possível a infiltração de agentes de polícia ou de inteligência em 
organizações (art. 2º, V). A Lei de Drogas também trata da infiltração, no entanto, com regulamentação muito 
pobre, em um único inciso (Lei 11.343/2006, art. 53, I). 
 
A Lei 12.850/2013, por sua vez, veio para regulamentar de forma mais minuciosa o instituto, estabelecendo que 
“a infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada pelo delegado ou requerida pelo 
MP, após manifestação técnica do delegado quando solicitada no curso de inquérito policial, será precedida de 
circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites”. Na hipótese de 
representação do delegado, o juiz competente, antes de decidir, ouvirá o MP. 
 
O requerimento do MP ou a representação do delegado conterão a demonstração da necessidade da medida, o 
alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local da 
infiltração. O pedido será sigilosamente distribuído, de forma a não conter informações que possam indicar a 
operação a ser efetivada ou identificar o agente que será infiltrado. As informações serão dirigidas diretamente 
ao juiz competente, que decidirá no prazo de 24 horas, devendo-se adotar as medidas necessárias para o êxito 
das investigações e a segurança do agente infiltrado. Os autos contendo as informações da operação de 
infiltração acompanharão a denúncia do MP, quando serão disponibilizados à defesa, assegurando-se a 
preservação da identidade do agente. 
 
- LIMITES DA INFILTRAÇÃO 
Na autorização, o juiz poderá ele fixar limites materiais e temporais à infiltração. Limites materiais são os crimes 
que se admite que o agente infiltrado pratique no bojo da organização (ex.:

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