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Filme documentário Mocajuba no Pano Branco como fonte de pesquisa e ensino de história regional

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS – CAMETÁ
FACULDADE DE HISTÓRIA DA AMAZÔNIA TOCANTINA – FACHTO
 
ÉLINA YANA CAMPOS PEREIRA
O FILME DOCUMENTÁRIO “MOCAJUBA NO PANO BRANCO” COMO FONTE DE PESQUISA E ENSINO DE HISTÓRIA REGIONAL
Cametá-Pará
 2015
	
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS – CAMETÁ
FACULDADE DE HISTÓRIA DA AMAZÔNIA TOCANTINA – FACHTO
 
ÉLINA YANA CAMPOS PEREIRA
O FILME DOCUMENTÁRIO “MOCAJUBA NO PANO BRANCO” COMO FONTE DE PESQUISA E ENSINO DE HISTÓRIA REGIONAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado do Curso de História da Universidade Federal do Pará como requisito para obtenção de grau de Licenciatura Plena em História, orientado pelo Professor Dr. Ariel Feldman.
Cametá-Pará
2015
	
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS – CAMETÁ
FACULDADE DE HISTÓRIA DA AMAZÔNIA TOCANTINA – FACHTO
 
ÉLINA YANA CAMPOS PEREIRA
O FILME DOCUMENTÁRIO “MOCAJUBA NO PANO BRANCO” COMO FONTE DE PESQUISA E ENSINO DE HISTÓRIA REGIONAL
Banca Examinadora
__________________________________________
Prof. Dr. Ariel Feldman
__________________________________________
Profª. Msc. Ângela Maria Vasconcelos Sampaio Góes. 
Cametá-Pará
2015
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos padres Pedro Hermans e Pedro Nota e ao Irmão Leonardus Huys, pelo seu importante trabalho social na cidade de Mocajuba, e por tornarem esse trabalho possível ajudando a escrever a história do município.
Dedico à minha mãe Raimunda Campos e a meu pai Enedino Ribeiro que tornaram minha existência possível e pelo apoio que sempre me deram.
Aos meus falecidos avós maternos e avó paterna: Antônia Campos e Godofredo Campos e Eloia Ribeiro, pelo conhecimento, educação e carinho que recebi.
Aos meus queridos irmãos: Enison, Elana e em Especial Emerson pelo companheirismo, apoio e pelos importantes momentos de nossas vidas.
Dedico também aos meus amigos de toda a vida por sempre estarem do meu lado me apoiando e me ajudando e deixando minha vida mais alegre.
E dedico em especial ao meu querido sobrinho Luy Henry, pelo seu sorriso carinhoso e cativante que nos enche de luz e alegria.
 
Élina Yana Campos Pereira
AGRADECIMENTOS
Agradeço a nosso estimado Professor Dr. Ariel Feldman pela força e compreensão.
A Senhora Maria de Fátima Campos (tia Faty) pela imprescindível ajuda que me deu.
Ao meu irmão Emerson Campos pela ajuda e apoio que sempre me dedicou durante toda minha vida escolar e acadêmica.
Aos meus amigos Joab e Jessé pelas correções feitas.
Elina Yana Campos Pereira
	
EPÍGRAFE
Quão fecundo e deleitoso será o ensino quando o professor puder substituir o livro pela projeção.
 América Xavier Monteiro de Barros 
CAMPOS-PEREIRA, Élina Yana. “O Filme documentário “Mocajuba No Pano Branco” como fonte de pesquisa e ensino de história regional”. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal do Pará/Campus Universitário do Tocantins/Cametá, FACHTO 2014.
RESUMO
A presente monografia intitulada “O Filme documentário “Mocajuba No Pano Branco” como fonte de pesquisa e ensino de história regional” tem como objetivo o ensino de história regional através de métodos alternativos de ensino (cinema documental). Trabalharemos com uma produção local, o filme (Mocajuba no Pano Branco); uma produção cinematográfica independente realizada Leonardus Huys, um missionário holandês que viveu no município de Mocajuba nas décadas 70 e 80 do século XX. O filme retrata, de modo geral, a vida, o trabalho, o lazer, o meio ambiente, a sociedade, a cultura, o folclore, o comércio, a educação entre outros aspectos que compõem a sociedade mocajubense da época. O documentário é de fundamental importância para a história do município, pois constitui uma das raras fontes iconográficas de pesquisa da história local.
 Palavras-Chaves: História Local, Cinema Documental, Educação.
ABSTRACT
This monograph entitled “the documentary film “Mocajuba in White Cloth” as a source of research and regional history teaching" aims at teaching regional history through alternative teaching methods (documentary film). We will work with a local production the movie (Mocajuba in White Cloth) is an independent film production held Leonardus Huys, a Dutch missionary who lived in the city of Mocajuba in the decades 70 and 80 of the twentieth century. The film, in general, life, work, leisure, the environment, society, culture, folklore, trade, education and other aspects that make up the mocajubense society of the time, this document is fundamental importance for the history of the city as it is one of the only sources of local search.
Keywords: Local History, Documentary Film, Education.
SUMÁRIO DE IMAGENS
FOTO 1:Armazém da época da borracha em Mocajuba ano de 1900..............25 
FOTO 2: Panorâmica da Praia da Raiz no Bairro da Fazenda ano de 2014.......28
FOTO 3: Vista panorâmica de Mocajuba a partir do antigo trapiche de madeira por volta do ano de 1890.....................................................................................31
FOTO 4: Frame de abertura do filme.................................................................35
FOTO 5: Beleza do Igarapé da Campina, na época do filme.............................37
FOTO 6: Realidade atual do Igarapé da Campina..............................................37
FOTO 7: Aspectos históricos da cultura em Mocajuba, a festa do boi.............38
FOTO 8: Desfile de 7 de setembro.....................................................................38
FOTO 9: Grupo Escolar Almirante Barroso......................................................38
FOTO 10: Instituto Nossa Senhora das Graças..................................................38
FOTO 11: Colheita da pimenta do reino, principal produto de exportação da economia mocajubense nas décadas de 80 e 90..................................................39
FOTO 12: Prédio do antigo Cine Panorama......................................................40
FOTO 13: Leonardo Huys no período em que morou em Mocajuba................41
FOTO 14: Foto da fachada do antigo Cine Panorama e atual escola IDEIC.....42
FOTO 15: Foto do antigo trapiche da Cidade Mocajuba...................................45
FOTO 16: Alunos do 6° ano “A” durante aplicação do projeto na escola Professora Regina Costa em Mocajuba...............................................................58
FOTO 17: Alunos 6° “A” assistindo ao Filme Documentário Mocajuba no Pano Branco Durante a aplicação do projeto na escola Professora Regina Costa em Mocajuba.............................................................................................................59
SUMÁRIO DE TABELAS
TABELA 1: Evolução Demográfica de Mocajuba.......................................................27
TABELA 2: Estado do Pará Município de Mocajuba quantidade de produção agrícola 1969-1971.......................................................................................................................50
TABELA 3:	Município de Mocajuba valor da produção extrativa de peles - 1968/1970........................................................................................................................52
TABELA 4: Quadro demonstrativo do plano de aula 6° ano A................................56-57
INTRODUÇÃO
A presente monografia intitulada “O Filme documentário “Mocajuba NoPano Branco” como fonte de pesquisa e ensino de história regional” nasce com o objetivo de utilizar o cinema documental local como um recurso didático-pedagógico e metodológico nas aulas de história regional no ensino fundamental (6º a 9º ano) na cidade de Mocajuba.
O filme (Mocajuba no Pano Branco) constitui uma produção cinematográfica independente realizada por Leonardus Huys, um irmão missionário holandês que viveu no município de Mocajuba nas décadas 70 e 80 do século XX. O filme retrata, de modo geral, a vida, o trabalho, o lazer, o meio ambiente, a sociedade, a cultura, o folclore, o comércio, a educação entre outros aspectos que compõem a sociedade mocajubense da época.
Nossa pesquisa nasceu da necessidade de compreender a relação entre cinema documental e educação e, de que forma utilizar os recursos cinematográficos no ensino de história regional. Se baseia na premissa da importância do cinema de modo geral e especialmente do filme documentário “Mocajuba no Pano Branco”. Utilizaremos como fonte de pesquisa as imagens do filme, a oralidade, documentos e entrevistas qualitativas semiestruturadas para contextualizar as mudanças políticas, econômicas, culturais e sociais ocorridas no município. 
Pessoalmente, o interesse pelo cinema e educação surgiu a partir do projeto de extensão Cine UFPA, no qual faço parte como bolsista do professor Dr. Ariel Feldman. 
É evidente que nossa pesquisa não prioriza elementos técnicos e artísticos da produção cinematográfica, mas sim um caráter mais educativo, pois o uso de imagens e sons possuem um apelo visual e auditivo muito forte. E, em sala de aula, os estudantes do século XXI já estão adaptados ao uso dessa tecnologia através da utilização de diversas mídias eletrônicas como: celular, tablets, notebook, televisão etc. O ensino de história e de história regional precisa acompanhar as novas tecnologias. O uso de imagens iconográficas enriquecem o trabalho do historiador e com o cinema temos um diferencial ainda maior, as imagens possuem movimento e sons(trilha sonora).
Outro aspecto a ser destacado neste trabalho, diz respeito à realidade contextual, ou seja, o estudante ao assistir a um filme sobre a sua realidade local, tem a possibilidade de identificar melhor as mudanças, tendo em vista que as mesmas fazem parte de sua vida cotidiana. 
O cinema documental presente no filme “Mocajuba no pano branco” possui um valor histórico inestimável, apresenta Mocajuba como uma cidade ribeirinha em uma época de beleza natural, rios cristalinos, animais selvagens, matas intocadas, cultura de raiz, boi-bumbá, carnaval, vida calma e tranquila, uma época que o folclore local era realmente valorizado. Enfim, todos estes aspectos ambientais, culturais, políticos, econômicos e sociais pretendemos abordar ao longo deste trabalho.
Usamos como principais fontes para essa pesquisa: O Filme Documentário “Mocajuba no Pano Branco”, o trabalho de Pereira- Educação e cultura local desafios e perspectivas de uma educação cidadã no horizonte da escola pública, IBGE – Censos Demográficos, Moura, 1857 – 1929 – De Belém a São João do Araguaia, IDESP. Mocajuba; diagnóstico sócio-econômico, Dias- Em defesa do município de Mocajuba e da Microrregião do Baixo Tocantins, Sales- História e documentários: Reflexões para o uso em sala de aula, Sales- documentário na sala de aula: uma verdade absoluta para o aluno?, Barros- O campo da História: especialidades e abordagens, entre outros. Em suma essa é a base desse trabalho em busca de um ensino de história regional diferente.[1: PEREIRA, Emersom Campos. Educação ambiental e cultura local: desafios e perspectivas de uma educação cidadã no horizonte da escola pública. Monografia de graduação FAED UFPA Cametá, 2006.][2: IBGE – Censos Demográficos.][3: MOURA, Ignácio Baptista de, 1857 – 1929 – De Belém a São João do Araguaia – vale do rio Tocantins. Belém: Secretaria de Estado e Cultura; fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, 1989.][4: IDESP, Instituto de Estudos Paraenses. “Mocajuba: Diagnostico Sócio-Econômico” 1974,][5: DIAS Alberto Seguim. Em defesa do município de Mocajuba e da Microrregião do Baixo Tocantins. Belém. Pará . BPM, 1996.][6: SALES, Eric. História e documentários: Reflexões para o uso em sala de aula: Revista Solta a Voz, v. 20, n. 2][7: SALES, Eric. O documentário na sala de aula: uma verdade absoluta para o aluno? ANPUH – XXV simpósio nacional de história – Fortaleza, 2009][8: BARROS, José D’ Assunção. O campo da História: especialidades e abordagens. Petrópolis, RJ:Ed. Vozes, 2004.]
A monografia encontra-se organizada da seguinte forma: Inicialmente abordamos a relação entre história regional, cinema documental e educação, e procuramos mostrar a importância da história regional para a região amazônica, e como essa pode fica mais interessante se for estudada através de métodos alternativos de ensino, no caso o filme documentário “Mocajuba no Pano Branco”, ilustrar a história da Cidade de Mocajuba que se constitui em um conteúdo geralmente trabalhado no 6° ano do Ensino Fundamental. A seguir ensaiamos sobre o conceito de história regional, este que nem sempre teve destaque, muito menos importância no meio acadêmico. Com o surgimento da Nova História na França em 1970 nasceu uma nova abordagem historiográfica e na década de 1980 surgiram trabalhos sistematizados relacionados a respeito do tema história regional. Ainda abordaremos o tema cinema documental e educação, discutimos sua importância e contribuição com a educação, pois através dele o professor pode ensinar seus alunos a olharem as mídias de forma crítica. Além disso, as aulas podem se tornarem muito mais dinâmicas, participativas e interessantes.
No segundo capítulo faremos uma contextualização histórica do Município de Mocajuba, não poderíamos estudar o filme “Mocajuba no Pano Branco” sem antes conhecer os aspectos históricos, econômicos e culturais da cidade de Mocajuba, como se formou? Qual a base de sua economia? 
Em seguida no terceiro capítulo intitulado o filme documentário Mocajuba no Pano Branco como fonte de pesquisa para o ensino de história regional mostraremos a proposta de utilizar o filme Mocajuba no pano branco como fonte de pesquisa para as aulas de história regional. Em seguida falaremos sobre o cinema na cidade de Mocajuba na década de 1970-1990, uma das únicas formas de lazer da cidade no período e sobre a participação de Leonardus Huys, o fundador e dono do “Cine Panorama”, o cinema da cidade. No tópico o filme Mocajuba no Pano Branco, faremos uma exposição com descrição detalhada das cenas do filme.
No último capítulo falaremos sobre a aplicação do projeto em sala de aula, este intitulado como o filme documentário “Mocajuba no Pano Branco” como fonte de pesquisa e ensino de história regional, foi aplicado na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Regina Costa, localizada na cidade de Mocajuba, contudo em decorrência de greve municipal o mesmo não pode ser aplicado até o final, por esse motivo montamos tabela demonstrativa de como seria aplicado todo o projeto. 
E, finalmente faremos as considerações finais destacando os aspectos positivo e negativos relacionados a proposta de utilizar o cinema como um recurso didático nas aulas de história.
A RELAÇÃO ENTRE HISTÓRIA REGIONAL, CINEMA DOCUMENTAL E EDUCAÇÃO. 
Este trabalho tem como tema o filme-documentário “Mocajuba no Pano Branco” Como fonte de Pesquisa e ensino de história regional. O uso de cinema e documentários nas aulas de história atualmente ganhou bastante destaque e aceitação entre os professores da área, a batalha para popularizar os métodos alternativos de ensino não advém de hoje: o primeiro registro de uso de filmes e documentários em sala de aula foi no ano de 1929, no colégio Pedro II, contudo não teve muita aceitação no meio.[9: BITTENCOURT, Circe. Ensino de história: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004, p.373. ALMEIDA Apud NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2008, p, 12.]
A motivaçãopara iniciar essa pesquisa surgiu da vontade de melhorar o ensino da disciplina de História Regional “Estudos Amazônicos” na cidade de Mocajuba, pois esta disciplina tão rica e importante para a Região Amazônica sofre com a carência de profissionais capacitados na área e também com a falta de material didático e de pesquisa. Esta disciplina foi criada com o objetivo de valorizar e repassar a cultura da região amazônica para seus filhos.
O objeto de estudo trata-se de um filme-documentário (Mocajuba no Pano Branco) filmado e dirigido em 1980 pelo irmão Leonardus Huys, residente da cidade de Mocajuba na época. O enredo do filme se passa no período da ditadura militar nas décadas de 70 e 80. Essa produção é muito rica, pois junta todas as características de vida dos habitantes da época, sua forma de trabalho, vestimenta, diversão, as folclóricas, carnaval, comercio, a abertura das estradas, fauna e flora, o cotidiano dos habitantes e muitos outros aspectos educativos, culturais, sociais, ambientais, geográficos e históricos.
O filme Mocajuba no Pano Branco, não se trata de uma grande produção como as de Hollywood a película é antiga difícil de discernir as imagens, mas para o povo mocajubense possui valor inestimável já que se trata de sua história. Inicialmente tínhamos duvidas se esse filme se caracterizava como documentário, pois incialmente pensávamos que este era constituído apenas de um amontoado de imagens avulsas, porém através das pesquisas de campo descobrimos que “O Mocajuba no Pano Branco” é um documentário, pois o autor, diretor e roteirista Leonardus Huys o produziu com o objetivo de apresentá-lo no antigo Cine Panorama que na época pertencia ao mesmo (inadvertidamente criando um material que se tornou fonte histórica para os futuros estudiosos e habitantes da cidade). 
A maior dificuldade de lecionar história regional em Mocajuba como em outros municípios do baixo Tocantins é a falta de material didático: geralmente os professores são obrigados a montar seus próprios textos, onde este método possui um lado positivo e outro negativo para a disciplina: positivo porque permite a autonomia do professor para formular suas aulas e colocar no papel o que considera importante para trabalhar em sala de aula; negativo, pois os alunos que possuem professores diferentes não recebem uma educação equivalente. Entretanto, apesar dos métodos que os educadores usam para repassar a história da região, percebemos que eles tentam dar o melhor que podem para transmitir esse conhecimento. 
Nossa proposta é ilustrar através do documentário “Mocajuba no Pano Branco” a história da Cidade de Mocajuba que se constitui em um conteúdo geralmente trabalhado no 6° ano do Ensino Fundamental. Também objetivamos: mostrar o cotidiano da cidade nas décadas de 70 e 80; fazer com que o aluno possa se ver nessa história, que de certa forma é sua também, pois ele não está naquela película, mas seus pais, tios e avós estão. Assim podemos instigar os alunos a prestarem atenção, pesquisarem, perguntarem e comentarem o tema, podendo observar quantas mudanças ocorreram na cidade após três décadas. 
CONCEITOS DE HISTÓRIA REGIONAL
O conceito de história regional nem sempre teve destaque, muito menos importância no meio acadêmico. Apenas na década de 1980 surgiram trabalhos sistematizados relacionados ao tema, isso só foi possível graças a uma nova concepção metodológica chamada Nova História, surgida na França em 1970. Assim surgiu uma nova abordagem historiográfica, passando a existir uma diversificação no conceito de fonte histórica e uma dinamização do objeto de estudo do pesquisador como mostra a autora Ana Maria de Oliveira:
(...) A Nova Historia, em suas diversas expressões, contribuiu para renovação e ampliação do conhecimento histórico e dos olhares da história, na medida em que foram diversificados os objetos, os problemas e as fontes. A História Regional constitui uma das possibilidades de investigação e de interpretação histórica. (...) Através da História Regional busca-se aflorar o específico, o próprio, o particular. [10: OLIVEIRA, Ana Maria Carvalho dos Santos. Recôncavo Sul: Terra, Homens, Economia e Poder no Século XIX, Salvador, UNEB, 2003, p. 15.]
Assim, através dessa nova perspectiva, tornou-se viável estudar aspectos que antes não eram valorizados pela academia: a visão dos agentes elaboradores da história ganhou importância e a história tradicional dos grandes homens perdeu espaço. Dessa forma a história-problema conquista seu lugar na academia, como afirma o historiador Peter Burke:
(...) a nova história começou a se interessar por virtualmente toda a atividade humana. (...) Nos últimos trinta anos nos deparamos com várias histórias notáveis de tópicos que anteriormente não se havia pensado possuírem, como por exemplo, a infância, a morte, a loucura, o clima, os odores, a sujeira, os gestos, o corpo. (...) O que era previamente considerado imutável é agora encarado como uma “construção cultural” , sujeita a variações, tanto no tempo quanto no espaço.[11: BURKE, Peter (org.). A Escrita da História – Novas Perspectivas. São Paulo, UNESP, 1992, p. 11.]
Por essa ótica, percebemos a importância de estudar a História Regional e Local no universo historiográfico, uma vez que ela consegue aproximar o historiador do seu objeto de pesquisa, a narrativa deixa de se fundamentar em temas distantes para se incorporar fenômenos históricos da região e, consequentemente, do município. Constrói-se uma história plural, sem qualquer tipo de preconceito e os excluídos passam a ter voz. 
Considerando a prerrogativa de valorização da História regional local, observamos que a história contada nos livros didáticos de História Geral do Brasil na maioria das vezes não possui significado para os alunos, pois está não está inserida no cotidiano do mesmo. Desde criança estudamos História do Brasil, Capitanias Hereditárias, Período Escravista, Abolição da Escravidão, Revoltas Urbanas e Rurais, Períodos Ditatoriais, entre outros, todavia os estudantes não se identificam com esses temas, pois não conseguem se enxergar entre aqueles personagens. Sua realidade é outra e esta é deixada de lado pelas disciplinas de História e Geografia. A disciplina de História Regional, que é popularmente conhecida como Estudos Amazônicos, tem vital importância para a sociedade, pois ajuda a preservar os costumes herdados dos indígenas, negros, portugueses, que muitas vezes se perdem através do tempo.
Assim a História Regional estuda o contexto histórico de determinado espaço dando voz à população que até então esteve esquecida pela academia, delimita sua pesquisa apenas ao local selecionado para o objeto de estudo. Assim,
Quando um historiador se propõe a trabalhar dentro do âmbito da História Regional, ele mostra-se interessado em estudar diretamente uma região específica. O espaço regional, é importante destacar, não estará necessariamente associado a um recorte administrativo ou geográfico, podendo se referir a um recorte antropológico, a um recorte cultural ou a qualquer outro recorte proposto pelo historiador de acordo com o problema histórico que irá examinar. [12: OP CIT, BARROS, 2004, p. 152.]
Ao tratarmos de história regional estamos nos referindo à abordagem que o historiador faz do seu objeto de estudo, recortando determinado espaço a ser estudado.
(...) de qualquer modo, o interesse central do historiador regional é estudar especificamente este espaço, ou as relações sociais que se estabelecem dentro deste espaço, mesmo que eventualmente pretenda compará-lo com outros espaços similares ou examinar em algum momento de sua pesquisa a inserção do espaço regional em um universo maior (o espaço nacional, uma rede comercial). [13: OP CIT, BARROS, 2004, p. 153]
Sales destaca que História Regional e Micro História não seriam a “mesma coisa”. Enfatiza que a Micro História faz uma redução de escala de observação para perceber aspectos que poderiam não ser percebidos na análise macro. A HistóriaRegional faz o estudo da realidade recortada por ela mesma.
A disciplina História Regional nasceu como fruto da lei 9394/96 da LDBEN de 1996. Ela prevê um núcleo comum para o currículo do ensino fundamental e médio e uma parte diversificada em função das peculiaridades locais. Assim esta permitiu a criação da disciplina de Estudos Amazônicos que se faz obrigatório apenas na grade curricular das escolas de ensino fundamental da Região Norte do Brasil, a mesma não constitui obrigatoriedade nas regiões Sul, Suldeste, Centro-Oeste e Nordeste.
A disciplina intitulada Estudos Amazônicos constitui-se como componente curricular obrigatório, desde o sexto ao nono ano do Ensino Fundamental, tanto da rede pública como da rede privada, segundo a Secretaria do Estado do Pará. No município de Mocajuba, a disciplina Estudos Amazônicos compõem o currículo escolar a partir da resolução 01/2003 do Conselho de Educação de Mocajuba. A matriz curricular da disciplina Estudos Amazônicos, elaborada pelo Conselho Municipal de Educação de Mocajuba, tem como finalidade, conhecer e compreender o espaço amazônico a partir da perspectiva regional, pensando o processo de ocupação, integração e reorganização desse espaço em escala nacional e global. Nesse sentido, pretende-se fornecer ao aluno uma visão crítica da realidade amazônica, ajudando-o a reformular e a desmistificar os conceitos pré-concebidos dessa região. [14: PREFEITURA DE MOCAJUBA, 2003.]
Esta nova disciplina apesar de muito importante para a região não recebeu atenção adequada do poder público, sofre com carência de profissionais qualificados na área e falta de livros didáticos para o auxílio das aulas. Os profissionais considerados qualificados para trabalhar com a disciplina são licenciados nas áreas de Geografia, História e Sociologia, contudo este termo da lei varia de município para município. No caso do Município de Mocajuba onde apenas professores de Geografia são considerados aptos para lecionar a disciplina.
CINEMA DOCUMENTAL E EDUCAÇÃO
O uso das novas mídias e tecnologias como método alternativo para o ensino de história, no Brasil ainda hoje é um tema divisor de opiniões na academia, pois por muitos o Cinema é visto apenas como fonte de diversão e entretenimento. Surgem debates sobre o modo como devem ser usadas e qual a sua influência no método ou na didática do professor. 
Percebemos que o uso dos recursos audiovisuais, mais especificamente o uso de documentários em sala de aula têm contribuído, de forma extremamente rica, para as pesquisas do historiador e do professor de história. Como afirma Rossini.
No fim do século XIX, o cinema passou a atrair a atenção do grande público, tornando-se, ao longo do século XX, uma imponente indústria produtora e difusora de sonhos, comportamentos, memórias, versões de histórias. Ao cinema, em meados daquele século, veio juntar-se a televisão, que rapidamente se tornou o principal meio de comunicação de milhares de pessoas ao redor do mundo. [15: ROSSINI, Miriam de Souza. O lugar visual no fazer histórico: uma discussão sobre outras possibilidades do fazer histórico. In: PESAVENTO, Sandra Jatahy; LOPES, Antonio Herculano; ]
Segundo Bittencourt, desde 1912 os recursos cinematográficos vêm tentando ser usados nas escolas. O primeiro relato foi no Colégio Pedro II, onde o professor tentava incentivar seus colegas a recorrer a métodos alternativos como o cinema, contudo este é um caso isolado, pois para a maioria dos educadores da época o cinema era considerado um empecilho ao aprendizado ou um concorrente difícil de ser usado na educação escolar.
Ainda hoje não são tratados de maneira diferente pela academia: alguns estudiosos afirmam que um documentário usado de maneira incorreta pode alienar o aluno, porque este pode acreditar que tudo que se passa no documentário é real (cabe ao professor explicar como um documentário é produzido, que este possui a visão do diretor, a perspectiva do roteirista, escolha de falas e de imagens). 
Um filme ou documentário é produzido por determinada pessoa mostrando o ponto de vista da mesma: se usarmos dois documentários falando sobre o mesmo tema produzido por duas pessoas diferente, então poderemos observar que cada uma tratará o tema de acordo com suas convicções e ideais, mostrando várias versões da mesma historia. O professor deve mostrar a seu aluno que o que se passa em um documentário não é a verdade absoluta sobre o tema, que este foi editado de acordo com o interesse de seus produtores, contudo sempre podemos perceber resquícios de realidade. Através deste ponto e análise, fornecer aos alunos subsídios para entender a produção cinematográfica, cumprindo, assim, um dos pontos tão almejados pela atual política educacional brasileira: tornar o aluno um cidadão crítico.
Segundo Bittencourt um dos motivos, para o pouco uso dos recursos audiovisuais em sala de aula ainda hoje, pode ser
O desprezo de muitos historiadores para com o cinema fez que este, consequentemente, não fosse tópico tratado nos cursos de graduação e de formação docente e favoreceu, nas aulas de História, uma prática de utilização desse recurso desvinculada de fundamentos metodológicos.[16: BITTENCOURT, Circe. Ensino de história: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004, p.373.]
Esta é uma realidade que está felizmente se modificando de acordo com Almeida que diz que “embora o cinema já seja utilizado há algum tempo por muitos professores, pelo menos desde o final dos anos 1980, só mais recentemente estão surgindo algumas propostas mais sistematizadas que orientam o professor.” Entretanto, podemos destacar que a maior parte das pesquisas estão focadas no uso do cinema, obtendo uma visão ampla, deixando de lado a análise específica de seus gêneros fílmicos, entre estes o documentário que é usado pelos professores para ilustrar a realidade. [17: ALMEIDA Apud NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2008, p, 12.]
Para Sales os educadores e estudiosos do assunto classificam o documentário como ilustração da realidade por causa de conceitos como objetividade, verdade, realidade, entretanto são estes conceitos que complicam a análise deste tipo de película. Para que se possa fazer um bom uso do documentário necessita-se que o disseque conhecendo cada aspecto que forma o documentário.
Para Ramos, documentário é uma forma de narrativa que utiliza recursos cinematográficos de estilos variados para passar sua mensagem. Assim, ao “estabelecer asserções sobre o mundo, o documentário caracteriza-se pela presença de procedimentos que o singularizam com relação ao campo ficcional. O documentário, antes de tudo, é definido pela intenção do autor de fazer um documentário.” [18: RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal... o que é mesmo documentário? São Paulo: Editora Senac, 2008, p, 25.]
Esta maneira de interpretar o documentário se aproxima do fazer do historiador como Keith Jenkins diz que embora a história seja um discurso do passado, esta é uma categoria diferente dele. Essa diferenciação se destaca, atentamos, para o fato que o passado já aconteceu e que não podemos recuperá-lo, muito menos fielmente. Podem-se recuperar visões estas que dependem do olhar do historiador, assim toda experiência de vida do historiador, política, econômica, social e cultural, o significado por ele conferido à dimensão do relato do passado, que priorizou o acento predominante. O historiador estabelece a importância de cada um desses elementos, partindo desse pressuposto a História termina sendo o que foi escolhido pelo historiador, Jenkins afirma que “[...] nenhum relato consegue recuperar o passado tal qual ele era, porque o passado são acontecimentos, situações etc., e não um relato. Já que o passado passou, relatos só poderão ser confrontados com outros relatos, nunca com o passado”. O mesmo que ocorre nas edições dos documentários. [19: JENKINS, K. Apud SALES, Eric. História e documentários: Reflexões para o uso em sala de aula: Revista Solta a Voz, v. 20, n.2.]
[...] o mundo ou o passado sempre nos chegam como narrativas e que não podemos sair dessas narrativas para verificar se correspondem ao mundo ou ao passado reais, pois elas constituem a ‘realidade’ [...] Sociólogos e historiadores diferentes interpretam de maneira distinta o mesmo fenômeno, por meio de outros discursos que estão sempre mudando, sempre sendo decompostos e recompostos, sempre posicionados e sempre posicionando-se, e que por isso precisam que aqueles que os usam façam uma autocrítica constante [...] não importando o quanto a história seja autenticada, amplamente aceita ou verificável, ela está fadada a ser um constructo pessoal, uma manifestação da perspectiva do historiador como ‘narrador’ [...] vemos por intermédio de um interprete que se interpõe entre os acontecimentos passados e a leitura que deles fazemos [...] O passado que ‘conhecemos’ é sempre condicionado por nossas próprias visões, nosso próprio ‘presente’. Assim como somos produtos do passado, assim também o passado conhecido (a história) é um artefato nosso. [20: IDEM, JENKINS, 2005, p. 28-29, 32-33]
Partindo desse pressuposto, entende-se que o trabalho do historiador é de narrador da História, então podemos dizer que o trabalho do documentário também é de um narrador, assim como na história dos livros, o documentário pode usar da ficção para transmitir seu conteúdo e não deixar de ser um documentário. Pode escolher qual lado da história mostrar, assim mostrando a escolha do autor ou diretor da produção o que não se distancia muito do fazer do historiador. 
Noma diz que o uso de documentários é essencial para desenvolver a criticidade do aluno.
Sociedade atual não se pode falar de uma educação integral se os alunos ainda não alcançaram uma determinada capacidade para a análise crítica das mensagens emitidas por intermédio desses meios. Em uma sociedade na qual a comunicação audiovisual é hegemônica, pode-se afirmar que uma escola que não educa criticamente para a televisão é uma escola que não educa.[21: NOMA, Amélia Kimiko. Visualidades da vida urbana: Metrópolis e Blade Runner. São Paulo, Pontifícia Universidade Católica, Tese de Doutorado em História Social, 1998.]
O cinema documental pode contribuir muito com a educação, pois através dele o professor pode ensinar seus alunos a olharem as mídias de forma crítica. Além disso, as aulas podem se tornarem muito mais dinâmicas, participativas e interessantes.
ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS DA CIDADE DE MOCAJUBA 
Como estudar o filme “Mocajuba no Pano Branco” sem antes conhecer os aspectos históricos da cidade de Mocajuba, e como se formou sua economia? Segundo Homma município de Mocajuba teve sua origem relacionada ao processo de formação das cidades ribeirinhas na Amazônia nos séculos XVIII a XX. Nessa época, a base da economia da região era a extrativismo de produtos vegetais e animais como: a borracha da seringueira, o cacau, as drogas do sertão, a castanha, o azeite de andiroba, a extração de peles de animais etc. [22: HOMMA, A. K. O. “Amazônia como aproveitar os benefícios da destruição?” Pará Desenvolvimento, Belém, n. 28, jan.-jun. 1993, pp. 6-9.]
Homma ainda diz que a borracha constituiu, por muito tempo, o principal produto comercial extraído da floresta e, através de seu comércio, se estruturou uma classe dominante que, por meio de suas influências e de seus interesses políticos e econômicos exerceu um papel decisivo na formação e constituição das cidades ribeirinhas.[23: IDEM, Humma, 1993, p. 7.]
As primeiras formas de ocupação do território na Amazônia se processaram a partir das vias fluviais, os rios eram o único meio de acesso às áreas do interior da floresta. As cidades, em geral, localizavam-se em pontos estratégicos na desembocadura de vários rios, paranás e / ou igarapés.[24: OP Cit, IDESP, 1974, p: 01]
Mocajuba situa-se nesse contexto comunicando-se com áreas e cidades circunvizinhas através do majestoso e imponente rio Tocantins e seus afluentes. Conta à história oficial que a cidade se formou no furo Tauaré, numa época incerta a partir de um pequeno povoado chamado de Maxi.[25: Médio Paraná, afluente do Tocantins à margem direita.][26: PREFEITURA DE MOCAJUBA, 1999.]
Esse povoado foi elevado à categoria de freguesia em 20 de dezembro de 1853, pela resolução 228 da Assembleia Legislativa da Província. Entretanto, a se de da freguesia de Maxi não apresentava boas perspectivas de crescimento, por não oferecer as condições precisas para um ancoradouro franco aos navios e barcos. [27: OP CIT, IDESP, 1974, p. 01]
Portanto, a área do povoado era imprópria porque se estabelecia sobre um terreno de várzea que alagava no período do inverno e mesmo no verão era praticamente inviável o desenvolvimento de uma vila e posteriormente uma cidade no local. Assim também perceberam os primeiros habitantes do povoado. “Dessa forma, em 10 de outubro de 1854, pela lei nº 271, processou-se sua mudança para um sitio próximo, denominado Mocajuba.” [28: OP CIT, IDESP, 1974, p. 01. ]
As terras pertenciam ao rico e influente comerciante João Machado da Silva, que resolveu doar a área, movido, entre outras coisas, por interesses políticos e econômicos. Devido às condições físicas e topográficas do terreno caracterizado por pequenas elevações e baixas colinas, o sitio urbano estaria, portanto, imune às inundações. Assim: “A Lei nº 707 de 5 abril de 1872, elevou a freguesia de Mocajuba a categoria de Vila, instituindo ao Município, com a mesma denominação de Mocajuba.” [29: OP CIT, IDESP, 1974, p. 02. ]
Mas somente, em 6 de julho de 1895, pela Lei nº 324, a sede do Município, que era uma Vila, foi elevada à categoria de cidade. Apresenta atualmente dois distritos o da Sede e o de São Pedro de Vizeu.[30: OP CIT, IDESP, 1974, p. 02.][31: OP CIT, IDESP, 1974, p. 2.]
Segundo Dias, do ponto de vista político e econômico a consolidação de Mocajuba como cidade está relacionada aos interesses da classe dominante, do ponto de vista ideológico havia a igreja católica, instituição de forte poder ideológico. Porém, devemos lembrar, que não havia incompatibilidade ideológica entre os dois grupos supracitados. Na verdade, havia um certo grau de cumplicidade e interesses comuns.[32: DIAS, Alberto Seguim. Em defesa do município de Mocajuba e da Microrregião do Baixo Tocantins. Belém. Pará . BPM, 1996.]
Segundo Muniz no ano de 1955 o sustentáculo da economia mocajubense era a produção de cacau em favas que chegou atingir 45.540 kg. Em segundo lugar a borracha (37.420), seguido do arroz com casca (35.600) e o leite de maçaranduba (30.870 kg). A extração de sementes oleaginosas como o óleo de andiroba e copaíba somado também possuíam produção significativa. O autor também destaca a extração de conchas correspondente a 22.360 kg.[33: MUNIZ, APUD PEREIRA, Emersom Campos . Educação ambiental e cultura local: desafios e perspectivas de uma educação cidadã no horizonte da escola pública. Monografia de graduação FAED UFPA Cametá, 2006.]
 
FOTO 1:Armazém da época da borracha em Mocajuba no ano de 1900. 
FONTE: Seguim Dias
Mocajuba ainda apresenta resquícios do passado áureo da borracha (ver foto numero 1) na arquitetura dos casarões, armazéns e casas comerciais antigas onde se comercializava além da borracha outros produtos alimentícios, bebidas, instrumentos de trabalho etc. Conforme a visão de Violeta Loureiro: 
Este era o sistema de ‘aviamento’: o seringueiro era ‘aviado’ pelo barracão; o barracão era ‘aviado’ por casas exportadoras; as casas exportadoras eram financiadas por bancos estrangeiros. No fim, todos ganhavam, menos o seringueiro. Este sistema não era exclusivo e nem acabou naquela época. Assim se comercializava até poucos anos a castanha do Pará, a juta e outros produtos”[34: LOUREIRO, Violeta. A Amazônia – Estado, homem, natureza. Belém: Cejup, 1992.p.8]
Portanto, o sistema de aviamento criava uma espécie de dependência e subordinação política-econômica dos ribeirinhos as oligarquiashegemônicas no poder. 
Mesmo no período áureo da borracha a economia do município de Mocajuba era ainda bastante fragilizada com a crise desse produto no mercado internacional o extrativismo se voltou para outro produto nativo – a castanha – cuja extração em larga escala ocorreu no sul do Pará, principalmente em áreas do município de Tucuruí e Marabá.[35: OP CIT, IDESP, 1974, p. 22.]
[...] Segundo informações obtidas no relatório preliminar da Hidroservice, a produção de castanha para a Região do Baixo Tocantins atingiu 231,5 toneladas, sendo o município de Mocajuba o mais importante produtor, com 123 toneladas, ou seja, 53,13%. Entretanto esse destaque é apenas dentro da Micro-Região 18, uma vez que a produção de castanha de Mocajuba representa, apenas, 0,7% da produção estadual. [36: OP CIT. IDESP, 1974, p. 23]
Os dados do IDESP mostram que, com relação a Micro Região Tocantina, a produção de castanha no município era considerável, embora pequena quando comparada com os grandes centros produtores como Marabá e Tucuruí. 
Mesmo sem os registros históricos do comércio de castanha em Mocajuba nos anos supracitados, mas o fato do município se localizar na rota de comércio e transporte de cargas onde os marabaenses e regatões transportavam a castanha e outros produtos vegetais, a produção de castanha tinha certa importância. Conta R. C que nas proximidades da praia dos Górgons e na costa da ilha Santana funcionavam estaleiros de construção e manutenção dos barcos pesqueiros, marabaenses, regatões, canoas etc. Atualmente essa atividade está em declínio, embora ainda fabricam-se barcos de pequeno porte para o transporte de cargas e passageiros as ilhas mais próximas. [37: Entrevista realizada com o senhor Raimundo Cardoso, 85 anos, pescador, residente na localidade da prainha, agosto 2014.]
A crise dos estaleiros se acentuou a partir da década de 80, com a abertura das estradas, pois o transporte fluvial praticamente não conseguiu competir com o transporte rodoviário, mas Mocajuba continua e provavelmente continuará por muito tempo sendo uma cidade ribeirinha, pois o rio está em seu sangue, nas suas veias, no seu coração, na sua cultura. O balanço dos barcos, os meandros do rio, as margens e paragens têm um significado e um valor histórico imprescindível, indescritível para todos seus habitantes.
Na década de 80 do século XX como contam os antigos foi o auge da cultura da pimenta em Mocajuba, nesse período difundiram inúmeras firmas como: AgroJar, Wj, Okajima entre outras, a cidade prosperou e a riqueza móvel (dinheiro) movimentava a economia do município, nesta época foi inaugurada a ARM (Associação Recreativa Mocajubense), destinado as famílias dos ricos pimentalistas foi conhecido popularmente como “Clube” (o qual trataremos melhor mais adiante). No final dos anos 80 ocorreu à crise da pimenta do reino que atingiu fortemente a economia mocajubense, muitos empresários faliram, o clube foi abandonado durante anos, grande parte da população do município migrou para Tucuruí, Belém e outras cidades. Conforme podemos analisar no quadro a seguir:[38: Entrevista realizada com o senhor Enedino Ribeiro 65, anos pimentalista e residente da cidade de Mocajuba, agosto de 2014. ]
TABELA 1: EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA DE MOCAJUBA
	Ano
	Habitantes
	Habitantes
	
	Urbanos
	Rurais
	1970
	3087
	5535
	1980
	6235
	1765
	1990
	2805
	1841
	2000
	14570
	5980
Fonte: IBGE – Censos Demográficos.
Os dados mostram que houve um decréscimo populacional em meados da década de 90, reflexo de uma economia exclusivista, monopolista e relativamente instável baseada na monocultura da pimenta e no amadorismo empreendedor dos empresários sem visão de futuro e uma compreensão crítica dos fatores de mercado.
Compreender o processo histórico de formação de uma cidade ribeirinha é algo multidimensional, que consiste em analisar diversos aspectos a partir de uma abordagem holística não se detendo a economia, estatística, geografia, história ou a educação. O que queremos mostrar é que mesmo as cidades pequenas se formam e se transformam no contexto de relações locais, regionais e internacionais, apresentam movimento contínuo e dinâmico de multideterminações. 
O significado do que é ser uma cidade ribeirinha é algo de uma complexidade inimaginável presente na cotidianidade que, muitas vezes, nos torna condicionados, alienados. Mas, se não podemos ver na totalidade holística podemos então tatear os múltiplos aspectos dessa realidade e nossa compreensão se faz nesse sentido, não com a presunção de holisticamente, encontrar explicações e soluções para todos os problemas ou mesmo explicá-los de forma cabal.[39: AUGUSTO. Edir. As faces da cidade de Mocajuba: horizonte geográfico da Amazônia ribeirinha. Monografia de graduação da UFPA, 2003.]
O rio é a veia do coração da floresta, nele estão presentes diversos elementos que compõem nossa visão de mundo. Nossas lendas, a cobra grande que encanta as crianças, o boto, a iara. Enfim, o rio produz e sustenta a vida, transforma as margens moldando a seu modo a paisagem amazônica. [40: PEREIRA, Emersom Campos . Educação ambiental e cultura local: desafios e perspectivas de uma educação cidadã no horizonte da escola pública. Monografia de graduação FAED UFPA Cametá, 2006.]
 FOTO 2: Panorâmica da Praia da raiz Bairro da Fazenda ano de 2014.
FONTE: Autora 
Segundo Loureiro a cultura ribeirinha é algo que se constrói, reconstrói, que identifica, distingue, determina e caracteriza os habitantes da cidade, dos rios e até mesmo das colônias mais afastadas. Não queremos afirmar com isso o mito da identidade cultural, que considera uma cultura como manifestação de um purismo exacerbado, supervalorizando-a em detrimento de outras formas culturais. Identidade cultural não se identifica com racismo, preconceitos e estereótipos, da forma como o neonazismo e a Klus Klu Klanidentificam. [41: Organização racista norte-americana inspirada nos princípios da superioridade da etnia branca.][42: Op Cit. LOURERO, 1992, p. 9.]
Para Homma a ideia de identidade cultural é algo que se sustenta a partir de relações sociais com o meio ambiente e, neste contexto, caracterizam uma cultura com visão de mundo própria, mas que se formou da miscelânea de diversos atores sociais, no nosso caso: índios, negros e brancos que viveram na região do município de Mocajuba. Das relações, desses três grupos humanos surgiu um elemento novo característico da sociedade amazônica no período colonial, o ribeirinho, que, segundo dicionário Aurélio e de modo genérico significa: “habitante do rio ou ribeira”. Mas de um modo orgânico os ribeirinhos amazônicos possuem uma realidade ambiental e cultural diferente dos caiçaras do litoral brasileiro e também dos povos indígenas, embora com relação a este último, no que diz respeito à cultura, não se possa prescindir deles.[43: Op Cit. HOMMA, 1993, p. 5.]
O que queremos evidenciar é que sempre houve influências externas nessas complexas relações dos três principais grupos étnicos que compõem a sociedade brasileira. Em Mocajuba, particularmente, houve a influência dos holandeses, embora em pequeno número, contudo significativos no contexto geral, pois suas visões de mundo, seu humanismo religioso e social exerceu profundas raízes no povo da cidade e do interior. Os padres holandeses e particularmente Padre Peter Hermans e Padre Peter Nota e o “irmão”, como assim chamavam os mocajubenses, ao senhor Leonardus Huys.
Contam os antigos que Padre Peter Hermans pertenceu à Congregação Lazarista e se estabeleceu na cidade de Mocajuba nos idos da década de 60, aproximadamente. Realizou muitas obras no município principalmente em defesa do povo carente. Ao falar em educação no município de Mocajuba, é imprescindível falar no seu nome e em sua obra humanitária. Sua família arrecadava doações na Holanda que eram distribuídas da cidade e no interior. Outra obra importante de sua iniciativa foi criação das comunidades cristãs no município. PadrePeter Hermans tem seu nome escrito na história de Mocajuba por ter sido uma pessoa simples, popular e com espírito vivo e cativante. Tinha imenso amor nesta terra que o acolheu e que o tem como um dos seus filhos mais ilustres.[44: Entrevista realizada com a senhora Maria Raimunda Pinto, 63 anos professora aposentada, residente da cidade de Mocajuba, agosto, 2014.]
Segundo M. R.. Padre Peter Nota, foi um padre holandês que contribuiu imensamente com a educação e a cultura. Era conhecido por suas habilidades como ferreiro, mecânico, marceneiro e professor, pois dava aulas na marcenaria-escola auxiliando os jovens na sua formação profissionalizante. Muitos estudantes daquela época ainda trabalham no ofício que aprenderam. A iniciativa da Escola de Marcenaria São José é algo notável que poderia servir de exemplo aos políticos de hoje. Pois, nessa época, o modo de vida simples e pacífico se distancia incomparavelmente aos índices de violência que temos hoje. [45: IDEM, Maria Raimunda Pinto, agosto, 2014.]
Com relação à criminalidade conforme o estudo do IDESP de 1970
Segundo informações do delegado de polícia de Mocajuba, a população do Município é bastante tranqüila. No último ano não foi registrado nenhum delito grave,[...] As ocorrências mais comuns referem-se à embriaguês e desordem. O problema do menor se restringe à assistência a filmes impróprios, ingestão de bebidas alcoólicas, apedrejamento e outros. [46: OP CIT. IDESP, 1974, p.18.]
A baixa criminalidade em 1970 é explicada por diversos fatores como: os valores familiares, o isolamento do município, a ausência da violência televisiva e também a atuação educativa, religiosa e profissionalizante dos Padres holandeses.
Segundo os antigos Leonardus Huys foi também um holandês, proprietário do único cinema de Mocajuba, o Cine Panorama, que em 1970 funcionava no salão paroquial, anos mais tarde foi transferido para o um prédio próprio que hoje se encontra funcionando como uma escola de Ensino Fundamental “Instituto Nossa Senhora da Conceição”. Huys também deve ser lembrado por seu excelente trabalho como cinegrafista, pois foi ele quem selecionou, organizou e filmou “Mocajuba no Pano Branco” o filme documentário que trabalhamos aqui, obra de valor histórico incalculável que mostra a natureza da cidade, os animais, a maloca, as festas folclóricas, o carnaval, o comércio, a abertura das estradas, o cotidiano dos habitantes e muitos outros aspectos educativos, culturais, sociais, ambientais, geográficos e históricos. [47: Entrevista realizada com o senhor Patrício Neris, 58 anos carpinteiro, residente da cidade de Mocajuba, agosto 2014. ]
A história de Mocajuba é permeada de lacunas e possibilidades, isso se deve em parte devido há existência de poucos registros e documentos históricos sobre a origem do município. Por trás dessa névoa obscura podemos fazer apenas conjeturas hipotéticas, algumas vezes com embasamento em registros históricos, outras embasadas na pesquisa em lócus através da história oral, do estudo de caso e trabalhos relativamente recentes publicados a respeito de diversos assuntos. Entre os trabalhos publicados no município destacamos as pesquisas do IDESP, os registros históricos de IGBE, e trabalhos de pesquisadores como Seguin Dias, Ignácio Batista de Moura, estes usados como base para este trabalho.[48: OP CIT, IDESP, 1974.][49: OP CIT, IBGE,][50: OP CIT, DIA, 1996.][51: OP CIT, MOURA, 1989.]
FOTO 3: Vista panorâmica de Mocajuba a partir do antigo trapiche de madeira por volta do ano de 1890. A cidade tinha aspectos de uma pacata vila com poucos moradores. 
FONTE: Ignacio Baptista de Moura 
 
Os documentos oficiais do município contam uma história positivista (precisa e ordenada) supervalorizando os acontecimentos políticos e econômicos, a partir de uma concepção que Marilena Chauí denomina de “história dos heróis e grandes homens”. Nessa concepção a história é linear e factual, não se valoriza a cultura do povo e outras dimensões do saber popular.[52: CHAUÍ, Marilena de Souza. O que é ideologia? Coleção primeiros passos. Editora brasiliense.1980.]
Partindo da história oficial e ao mesmo tempo questionando-a criticamente, conta-se que a palavra Mocajuba advém de um topônimo tupi mocajá, fruta da palmeira Acrocomia esclerocarpa Mart, cujo fruto era abundante no sitio onde se localiza atualmente a cidade. O sufixo “ubá” significa lugar. Uma das hipóteses é que Mocajuba significa “lugar de abundância de mocajá”.[53: ANNAES DA BIBLIOTECA E ARQUIVO PÚBLICO DO PARÁ – Tomo Nono – João Palma Muniz – 1916. – Sinopse Estatística do Município de Mocajuba – C.N.E. – 1948. – Arquivo da Agência Municipal de Estatística. – Documentação da Inspetoria Regional estatística do Pará; Elaboração da Inspetoria Regional de Estatística do Pará. (Julho de 1957)]
Há outras composições etimológicas como a de Pompeu que diz Mbocá significa “cabo” e “juba” amarelo. Seria uma alusão ao fato de que rio Tocantins faz uma curva em frente à cidade parecendo um contorno de um cabo devido à existência do rio Tauaré. Entretanto esse mesmo autor enfatiza que essa visão não é abonada oficialmente.[54: POMPEU. José Danuzio Pinto. Dicionário Toponímico da Microrregião de Cametá: O significado dos nomes das localidades existentes nos municípios de: Abaetetuba, Baião, Cametá, Igarapé-Miri, Limoeiro do Ajuru, Mocajuba e Oeiras do Pará. Cametá: UFPA, 1998.]
Mocajuba, segundo Muniz, Mboy equivale a “cobra” e cajá “amêndoa”, significação possível “a amêndoa da cobra”. Há inclusive uma lenda contada pelo pescador R.C. de que uma imensa cobra teria como morada o subterrâneo da Igreja matriz nas proximidades do mocajazeiro às margens do rio Tocantins. O pesquisador lembra que Mo = mbo (fazer) caá equivale a “mato” e cajá = cayá = caroço cheio, a semente, a amêndoa). “ya” na língua tupi guarani significaria “aquele que”. Seria então, “aquele que faz mato”, pela abundância da palmeira no local.[55: OP CIT, Raimundo Cardoso, agosto, 2014.][56: MUNIZ, APUD PEREIRA, Emersom Campos. Educação ambiental e cultura local: desafios e perspectivas de uma educação cidadã no horizonte da escola pública. Monografia de graduação da UFPA, FAED Cametá 2006.]
Augusto enfatiza que o termo Mocajuba talvez tenha origem da palavra africana mocambo, pois, segundo ele, os dois termos têm o mesmo radical. É uma hipótese nova e embora sem comprovação histórica, é interessante porque resgata a importância da cultura negra na formação e transformação da sociedade mocajubense. Como sabemos a história oficial era escrita pela elite dominante da época a qual Gonçalves denominou de “coronéis de barranco”, essa elite, cujo poder econômico e influência política se desenvolvia tanto a nível local como a nível estadual, não se preocupou em documentar a história, a tradição, as lendas e, de modo geral, a cultura negra.[57: OP CIT, AUGUSTO.][58: GONÇALVES, APUD PEREIRA, Emersom Campos. Educação ambiental e cultura local: desafios e perspectivas de uma educação cidadã no horizonte da escola pública. Monografia de graduação da UFPA, FAED Cametá 2006.]
O convívio entre negros e brancos na cidade foi permeado de conflitos conforme podemos observar no fragmento a seguir:
[...] um pequeno núcleo residencial, que pode se considerar como bairro, o ‘Arraial’, oferece certa resistência. Tal núcleo é constituído, principalmente, por famílias de origem negra que não se integram satisfatoriamente à vida da comunidade maior, devido a recíproca segregação, cuja origem, embora, basicamente racial, evoluiu no sentido de uma segregação espacial. [59: OP CIT, IDESP,1970.p17]
 
Contam os antigos que Mocajuba foi um município onde o “apartheid” social se estruturou intensamente, a segregação racial e espacial era bem visível. As cercanias que hoje constitui o bairro do arraial, outrora constituía uma comunidade negra cujas raízes se estruturaram no lugar desde longa data, mas a história oficial registra o surgimento de Mocajuba na localidade de Maxi.[60: Entrevista realizadacom a senhora Maria José Campos 63 anos, professora aposentada, residente da cidade de Mocajuba, setembro, 2014.]
Segundo M. J, uma moradora antiga, remanescente das comunidades quilombolas, o próprio salão do Rosário, possuía uma divisão interna separando brancos e negros e as contendas eram constantes para que acontecessem bastava que alguém (negro ou branco) ultrapasse o limite interno do salão. Segundo ela, Nossa Senhora do Rosário deveria ter sido a padroeira do município, mas por ser venerada pelos negros foi colocada em segundo plano adotando-se como padroeira uma santa “branca” Nossa Senhora da Conceição.[61: IDEM, Maria José Campos, setembro, 2014.]
O crescimento urbano em Mocajuba é recente, desde o seu surgimento como cidade em 1895, segundo Moura , os dois bairros principais eram: o arraial (considerado o mais antigo) e o bairro Centro, os outros bairros como Campina, Pranchinha e Cidade nova surgiram a partir do “boom da pimenta”.[62: OP CIT, MOURA, 1989.]
A Campina, particularmente se desenvolveu a partir do povoamento em torno do igarapé do mesmo nome, fato este que durante muito tempo acarretou muitos transtornos a população principalmente na época do inverno quando as águas inundam as casas dos moradores.[63: OP CIT, Maria José Campos, setembro, 2014]
O Bairro da Cidade Nova surgiu a partir do governo de Rodolfo Bacha (1984-1988) quando foram abertas as primeiras ruas e traçados os primeiros loteamento na área. A partir daí o povoamento se expandiu num terreno basicamente de vegetação de campos naturais (típico do município) e pequenas elevações. O traçado das ruas obedeceu ao plano original caracterizado por quarteirões pequenos, quadrados e muitas ruas paralelas. Após a construção do bairro houve uma expansão deste em direção ao igarapé Uxipocu.[64: Entrevista realizada com o senhor Juscelino Gonçalves, 56 anos, autônomo residente do bairro da cidade nova, agosto, 2014.]
Conta N.B.S, um morador antigo, que às margens de um igarapé, até então sem nome, viveu um homem com sua família. E, por usar, cotidianamente, uma prancha, para atravessar de um lado ao outro a margem chamou o igarapé de pranchinha. Essa é a origem do nome do bairro que surgiu a partir dos mutirões do governo Rodolfo Bacha. A prefeitura nessa época usou máquinas para abrir as primeiras ruas e também auxiliavam as pessoas com materiais para a construção de suas casas, embora pouquíssimas casas tenham sido concluídas pelo projeto, houve um rápido povoamento da comunidade Nossa Senhora das Graças e áreas ao redor. [65: Entrevista realizada com o senhor Nário Barbosa Serão, 50 anos vendendo residente no bairro da Pranchinha, setembro, 2014.]
Como observamos no filme: Mocajuba no pano branco, o bairro Monte alegre em 1970 não existia, surgiu, segundo os moradores locais, a partir da grande enchente de 1980 e apresentou um significativo acréscimo populacional com a inauguração da UHT (Usina Hidrelétrica de Tucuruí) em 1985, isso porque a construção da usina acarretou muitos impactos ambientais e sociais na vida da população ribeirinha, obrigada a fugir da fome nas ilhas. 
Essa é a triste origem do bairro Monte alegre que surgiu como reflexo de um problema social e ainda hoje convive com um relativo isolamento da cidade devido sua localização numa área de baixada em torno do igarapé Uxipocu, distante aproximadamente 300 metros do bairro da cidade nova. 
O Bairro Novo surgiu no ano 2000 resultado da pressão provocada pelo crescimento populacional urbano. De modo geral, a localização física, o terreno plano, a condições naturais são adequadas para a população do bairro, embora ainda necessite de infraestrutura básica como asfalto, saneamento em todas as casas etc.[66: OP CIT, Maria Raimunda Campos, agosto, 2014.]
Bairro Novo Horizonte surgiu em 2007 com a chegada do Presidio em Mocajuba, conforme observamos na foto de satélite de 2008, presente no Google Maps, este bairro não existia. Os primeiros moradores se estabeleceram nas margens da estrada PA 151, nas cercanias do presídio. As ruas deste bairro seguem paralelas e perpendiculares ao sentido da estrada, o terreno foi invadido. O senhor G.C nos contou que:
O que eu me lembro é que até nos anos 90 neste lugar tinha um lago em que as crianças brincavam. O terreno é área de campo com muita areia e árvore baixa. Era muito bonito observar uma plantinha chamada flor do campo que tinha muito naquela época. Em 1995, mais ou menos, a prefeitura iniciou um lixão no local, o resultado foi que a flor do campo nunca mais foi vista lá.[67: Entrevista realizada com o senhor Godofredo Campos, 48 anos, professor residente na cidade de Mocajuba, setembro, 2014.]
Ainda segundo o que nos contou o morador, outro aspecto importante da ação antrópica no bairro foi à construção da estrada, que devido ao aterramento, funciona como uma espécie de barragem, impedindo que a água da chuva possa descer ladeira a baixo, como ocorria no passado. O resultado é que, no inverno, durante o período das chuvas, muitas casas de moradores são alagadas. Com relação ao aspecto social a maioria dos moradores que compõem o bairro são pessoas de baixa renda e isso se observa pelo tipo de moradia existente. O bairro ainda necessita de muita infraestrutura, saneamento básico, asfalto, local de lazer, como praças etc.[68: IDEM, Godofredo Campos, setembro 2014.]
O FILME DOCUMENTÁRIO MOCAJUBA NO PANO BRANCO COMO FONTE DE PESQUISA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA REGIONAL.
Do ponto de vista prático a proposta de utilizar o filme Mocajuba no pano branco como fonte de pesquisa para as aulas de história regional foi realizado em três momentos: primeiro, com uma exposição de fotos antigas realizada em sala de aula e também nos corredores da escola, o objetivo da exposição era que os alunos conhecessem um pouco mais o que seria tratado no filme. O segundo momento foi à aplicação do filme em sala de aula e o terceiro momento foi à realização das atividades de classe e socialização dos resultados.
FOTO 4: Frame de abertura do filme.
FONTE: Leonardo Huys.
	Antes de tratar acerca dos aspectos do filme que podem ser utilizados nas aulas de história na sala de aula, cabe primeiramente explicar aos alunos porque o filme recebeu este nome curioso. Conforme nos informou a senhora P. N o nome do filme é Mocajuba no Pano Branco porque naquela época as imagens eram projetadas em um pano branco que servia de tela, assim que o nome do filme significa, em outras palavras, Mocajuba no cinema, ou o povo de Mocajuba no cinema ou ainda o ambiente, a cultura, o patrimônio histórico de Mocajuba no cinema. [69: OP CIT, Patrício Neris, agosto, 2014.]
O filme “Mocajuba no Pano Branco” é um documento muito rico para ser usado como fonte de pesquisa no ensino da história regional. A seguir sugerimos alguns aspectos que podem ser usados. Nossa proposta é uma sugestão, não uma receita pronta e acabada. Outros aspectos que porventura não foram lembrados nesse trabalho também poderão ser usados.
1. Aspecto Ambiental – se refere ao ambiente natural, os rios, igarapés, florestas animais, que aparecem no filme. É interessante trabalhar com os alunos um antes e depois, demonstrando que onde havia muitas florestas, hoje existe muito concreto, isso reflete no clima da cidade uma vez que o entorno de Mocajuba que caracteriza pela chamada vegetação de campo natural. Um tipo de vegetação baixa adaptada ao solo arenoso e seco, isso tem um reflexo no clima, Mocajuba possui um clima quente e seco.[70: OP CIT, IBGE.]
Durante a realização da atividade de classe, constantes na aplicação do projeto, solicitamos aos alunos que fotografasse os locais que aparece no filme, para assim fazermos um estudo das mudanças e permanências do ponto de vista ambiental. O objetivo desta atividade era refletir acerca de quem, em tese, poderia ter a melhor qualidade de vida do ponto de vista ambiental, a população da época do filme ou atual? Quem bebia a água mais limpa e respirava um ar mais puro? Se, por um lado, a populaçãoda década de 1970, conforme observamos nas imagens do filme e nos relatos das entrevistas, não tinha acesso a serviços médicos adequados, saneamento básico, energia elétrica, agua encanada etc, por outro lado havia muitos alimentos, muitos peixes no rio, não havia lixões e contaminação do solo, da água e do ar. Existia uma pequena cachoeira próxima a rua João Machado, neste local hoje em dia existe um esgoto. [71: OP CIT, PEREIRA, 2006.]
 
FOTO 5 e 6: No frame acima observe que a beleza do Igarapé da Campina, na época do filme, contrasta com a realidade atual (um canal de esgoto).
FONTE: Leonardo Huys.
Analisar o aspecto ambiental historicamente permite ao aluno uma visão crítica da realidade entendendo as mudanças e sendo capaz de explicá-las e, mais que isso, agir com educação ambiental percebendo que ao poluir seu ambiente, não estamos prejudicando somente o planeta, mas a nós mesmos.
2. Aspecto Cultural - bastante amplo e diversificado pode-se referir as lendas as estórias de fantasmas eram comuns e curiosas. Com relação a isso, no questionário de atividades perguntamos aos alunos por que essas estórias não existem mais hoje? O objetivo não é procurar uma explicação racional, mas que cada aluno possa explicar seu ponto de vista. Uma lenda só surge em uma determinada cultura de acordo com o ambiente, é por isso que em Mocajuba nunca teve lenda de homem das neves, simplesmente por que aqui não existe neve. Um mistério também é um ingrediente para se criar uma lenda, a escuridão da noite, as florestas fechadas, o medo inerente a todos nós. Como dissemos antes, não queremos desmistificar as lendas até por que, todas têm uma beleza e um papel a nos ensinar. A lenda do boto que vira homem, serve para nos ensinar que uma garota jovem não deve estar sozinha no rio em vez de dizer que existe perigos ocultos nas águas, os pais dizem que um homem, que na verdade é um boto, engravida essas mulheres que desobedecem seus pais.[72: OP CIT, PEREIRA, 2006.]
 
FOTO 7 e 8: As cenas acima mostram dois aspectos históricos da cultura em Mocajuba, a festa do boi e o desfile do 7 de setembro.
FONTE: Leonardo Huys.
3. Patrimônio histórico – o filme é uma descrição da cidade de forma que os principais prédios de patrimônio histórico são representados como: Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, prédio do banco do Brasil, a casa comercial e moradia do senhor João Costa, casa do padre, salão paroquial, escola Almirante Barroso, Instituto Nossa Senhora das Graças são basicamente os poucos prédios ainda “preservados”. O povo de Mocajuba e autoridades, não se preocuparam em preservar a memória, nunca houve um museu na cidade, os documentos históricos sobre o município foram extraviados durante a demolição da prefeitura, vários outros prédios foram destruídos como o antigo cliper de 1910, no lado direito da praça havia também um coreto palco, e nas proximidades uma estátua de cobre do fundador da cidade Jerônimo Antônio de Farias, tudo isso foi perdido de forma que o filme Mocajuba no Pano Branco constitui um dos mais importantes documentos contando a história da cidade. 
 
FOTO 9 e 10: Grupo Escolar Almirante Barroso e Instituto Nossa Senhora das Graças, um dos poucos exemplos de patrimônio histórico do município ainda preservado.
FONTE: Leonardo Huys.
Estudar a história das sociedades clássicas Egito, Roma, Grécia, Mesopotâmia, certamente é importante, porque contribui com a ampliação do conhecimento do estudante; por outro lado, a abordagem da história regional local, permite uma maior aproximação do aluno com a história percebendo-a não é algo abstrato, mais sim real presente no seu dia a dia. 
Demonstrar aos alunos que as pessoas que aparecem no filme Mocajuba no pano branco podem ser seus parentes, pais, tios e irmãos. E, o mais importante, demonstrar que não são só os ricos, heróis e presidentes que fazem a história e, acima de tudo sem a história seríamos simplesmente pessoas sem conhecimento, em outras palavras, pessoas alienadas do mundo. 
4. Aspectos psicossociais – neste aspecto poderemos mostrar aos alunos os comportamentos que eram comuns naquela época, à moda, tipos de alimentos, diversão etc. Só para citar um exemplo, vemos crianças trabalhando pesado na agricultura e hoje em dia essa prática é considerada criminosa. Os homens usavam um short tão curto que hoje é considerado ridículo. O estudo desse aspecto tem por objetivo conscientizar os alunos acerca do etnocentrismo, do respeito com as diferenças e, entender que, o que consideramos normal hoje pode não ser amanhã.
5. Aspectos econômicos – com relação a este aspecto falaremos com mais profundidade quando abordamos a história de Mocajuba, cabe ressaltar que a esse respeito o filme nos mostra os pimentais descrevendo o processo de produção, colheita e armazenamento da pimenta do reino, produto que durante muito tempo foi à base econômica do município de Mocajuba.
FOTO 11: Colheita da pimenta do reino, principal produto de exportação da economia mocajubense nas décadas de 80 e 90. 
FONTE: Leonardo Huys.
CINEMA EM MOCAJUBA
	É impossível falar sobre a história do cinema em Mocajuba sem citar Leonardus Huys e sua obra. Através de sua paixão pelo cinema Mocajuba conheceu pela primeira vez a sétima arte. Contam os antigos que a primeira sessão de cinema foi realizada no salão paroquial, inclusive se observamos com atenção no filme Mocajuba no Pano Branco, perceberemos uma faixa em frente ao salão paroquial escrito Cine Panorama. É difícil imaginar como teria sido essa primeira sessão, quais as impressões que a população teve ao respeito desta novidade, certamente devem ter ficado impressionados, assustados com os tiros e explosões que viam na tela, não sabiam que aquele momento seria histórico e marcaria a história da cidade por várias décadas. 
FOTO 12: Prédio do antigo Cine Panorama ainda com suas características originais, vista aqui em 2008.
FONTE: Emerson Campos 
Segundo P. N, Leonardus Huys tinha um sonho de construir o primeiro cinema, assim que comprou um terreno na rua João Machado construiu de madeira um prédio de dois andares estilo arquitetônico das antigas casas do oeste américa. O Cinema foi um sucesso de público principalmente nas duas décadas seguintes. Com o dinheiro que ganhou modernizou seu cinema com novas instalações de equipamentos. O salão principal tinha capacidade para mais de 300 espectadores na geral, havia também uma área “VIP” no segundo andar composta de dois corredores, um do lado direito e outro do esquerdo. As sessões ocorriam geralmente nos finais de semana quando as pessoas chegavam de suas propriedades rurais.[73: OP CIT, Patrício Neris, agosto, 2014.]
FOTO 13: Leonardo Huys no período em que morou em Mocajuba.
FONTE: Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição
Acerca de Leonardo Huys a professora aposentada M.R.P nos contou que, Huys gostava tanto do seu cinema que praticamente morava nele, era tão querido na cidade que as pessoas o chamavam de “irmão”. Às vezes era comum vê-lo conversando em holandês com seus compatriotas padre Peter Hermans e padre Peter Nota, os mocajubenses achavam isso engraçado, por que não entendiam nada. A língua tem essa função dupla e até contraditória de aproximar ou afastar as pessoas. A conversa da língua materna é um modo de se aproximar de sua terra mãe. Dona M. ainda nos contou que os três holandeses escutavam rádio na língua holandesa em frente à casa do padre, queriam saber das notícias de sua terra. Além dos três havia também o Jorge, um alemão que morava com os padres.[74: OP CIT. Maria Raimunda Pinto, agosto, 2014.]
De acordo com a entrevista realizada na paróquia, durante o período do auge da produção da pimenta do reino em Mocajuba, que ocorreu até o final dos anos 80, o negócio do cinema era muito lucrativo. No início dos anos 1990 houve a crise da pimenta em Mocajuba e o cinema também sofreu reflexo desta crise, por outro lado surgiram outras formas de entretenimento como o vídeo cassete, permitindo assistir a um filmeno conforto de sua casa. O cinema já não tinha o mesmo encanto de antigamente. Assim que, finalmente, Leonardus Huys, decidiu vender o prédio e mudar de cidade. O novo dono, Miguel Braga, tentou continuar o negócio do cinema, mas não obteve sucesso e, durante muito tempo, o prédio ficou abandonado. Serviu de depósito para guardar pimenta do reino até que 2008 foi vendido e transformado na escola IDEIC (Instituto Nossa Senhora da Conceição).[75: Entrevista realizada com o senhor Paulo Dutra, 50 anos funcionário da Paróquia, residente da cidade de Mocajuba, setembro, 2014.]
	Percebemos em algumas cenas que o filme foi editado, e muitas partes foram cortadas, por causa deste fato se torna difícil a localização de alguns lugares. Na versão original, feita por Leonardus Huys, o filme possuia uma trilha sonora antiga composta de músicas de faroeste, e outras músicas instrumentais. Numa cena vemos o antigo cine Panorama, o lugar onde Huys se sentia especial, ao mostrar para o povo os filmes que divertiam e emoconavam as plateias. Os filmes eram, na sua maioria, toscos e violentos, mas para o povo isso não importava. Segunto P. N, aprendiz de Huys, assim como no filme italiano “Cinema Paradiso” o cinema era a alma do povo, exercia um poder sobre a mente da população, um fascínio que só o cinema pode ter. Mas, diferente do filme italiano, o prédio do cinema não foi demolido, foi tranformado numa escola de ensino fundamental, sua fachada foi mantida e ainda hoje podemos perceber onde ficava a bilheteria, a escada principal para comprar os ingressos, o mural onde eram exibidos os pósteres dos filmes e a entrada principal.[76: OP CIT, Patrício Neris, agosto, 2014.]
FOTO 14: Foto da fachada do antigo Cine Panorama e atual escola IDEIC.
FONTE: Jesse Campos.
O FILME DOCUMENTÁRIO MOCAJUBA NO PANO BRANCO
	Com relação às informações técnicas como tipo de equipamento utilizado na produção e projeção do filme não conseguimos essas informações porque somente o autor do filme Leonardus Huys poderia nos dizer algo a respeito. E, ao longo desta pesquisa, não conseguimos uma entrevista com o mesmo. As informações coletadas nas entrevistas, nos informam que Huys visitou Mocajuba no ano de 2011 e tinha por intuito voltar a morar na cidade, seu objetivo era comprar novamente o prédio em que funcionava o seu antigo cinema, mas infelizmente não conseguiu realizar seu plano e, assim voltou para a Holanda no ano seguinte (2012). 
 Com relação à estrutura narrativa do filme, faremos a seguir um relato apresentando diversos aspectos que compõem a película.
O filme inicia mostrando um mapa do rio Tocantins percorrendo a distância de Belém até a cidade de Tucuruí, observamos neste o nome das principais cidades e localidades. O interessante é que o filme foi produzido antes da construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, assim muitos nomes de localidades que aparecem no mapa não existem mais ou mudaram de nome ou de local, neste último caso podemos citar a cidade Jacundá, que era uma cidade ribeirinha que foi transferida para uma área próxima à estrada de PA 150. Em seguida a imagem se fixa na cidade de Mocajuba, o interessante é que, segundo este mapa, nesta época não existia a estrada PA 151 assim que o único acesso a cidade de Mocajuba era por barco, e a única estrada que visualizamos é um ramal Mocajuba-Cairari. Apesar de um pouco rústico o mapa representa bem geograficamente as terras do baixo-Tocantins, as ilhas também estão bem representadas, o contorno do rio se assemelha com a realidade física geográfica. Após o mapa observamos uma visão panorâmica da cidade a partir do rio, podemos notar que o autor parte de uma visão macro (geral) para uma visão micro (particular).[77: HUYS, Leonardus. Filme Mocajuba no Pano Branco. Produção independente 1970-1989.]
Em sequência o filme mostra o rio, observamos o estaleiro que existia nas proximidades da casa do senhor Amadeu Braga. Havia muitos barcos chamados marabaenses, que eram usados para transporte de castanha do Brasil. Existiam poucas casas e muitas florestas, a praia dos Gorgóns não existia. Em seguida observamos a igreja matriz, a praça e o mercado municipal. Nas proximidades visualizamos o antigo bar São Geraldo, um prédio do patrimônio histórico que existe até o dia de hoje. As mangueiras centenárias aparecem na tela, vemos também o prédio da antiga prefeitura, patrimônio histórico que foi destruído por governantes sem consciência da importância histórica do passado. Um aspecto curioso e absurdo para os dias de hoje são os chamados “banheiros públicos”, uma rústica construção de madeira a beira do rio, era uma obra da prefeitura e tinha por objetivo servir de urinol para a população. O local onde hoje se situa o mercado novo não existia como um terreno físico precisou ser aterrado nos anos 1990.[78: IDEM, HUYS, 1970-1989.]
Na sequência seguinte do filme vemos a parte frontal da cidade, predominam as residências de estilo colonial, grandes janelas e imensas portas havia poucas pessoas nas ruas isso demonstra como a cidade era bastante tranquila. Os automóveis podiam ser contados a dedo, apenas pessoas mais abastadas tinham o privilégio de comprar um trator, um jipe ou uma Toyota, os principais tipos de automóveis que existia na cidade. Na cena seguinte vemos o chamado “jirico”, um trator usado no transporte da pimenta do reino, vemos um caminhão antigo, que segundo contam os antigos, veio da Europa e foi usado na segunda Guerra Mundial. A cena seguinte mostra pessoas e suas indumentárias características da moda dos anos 1970, vestidos longos, calças “boca de sino”, camisas manga compridas em pleno calor amazônico, os homens usavam também um short bastante curto e estranho para os dias de hoje.[79: IBIDEM, HUYS, 1970-1989.]
 As pessoas pousam curiosas para a câmera a cena a seguir mostra o mercado, um senhor comprando gás de cozinha, que na época era muito caro e apenas os mais ricos podiam pagar. Na feira havia vendas de roupas colocadas sob um plástico no chão, venda de alimentos como pão, tacacá, pratos feitos etc. As crianças vendiam produtos alimentícios nas ruas, isso ajudava a constituir a renda da família. Um carro diferente aparece em cena, era uma rural modelo que não se fabrica mais na atualidade. No antigo trapiche muitos barcos aparecem em cena, e observamos que a chegada dos barcos que vinham de Belém era um espetáculo para a população. Todos se reuniam na ponte para esperar os parentes, amigos ou conhecidos que vinham de Belém e de outras cidades. O centro da vida ribeirinha era o trapiche e não o terminal rodoviário, que na época não existia. A maioria dos barcos eram de madeira, segundo M.R.P havia também um barco ferro chamado “Chatinha”, pertencente a hoje falida empresa ENASA, que fazia linha para a cidade de Tucuruí.[80: IBIDEM, HUYS, 1970-1989.][81: OP CIT, Maria Raimunda Pinto, agosto, 2014.]
FOTO 15: Foto do antigo trapiche da Cidade Mocajuba, podemos observar a festa da população ao ver o barco que vinha de Belém Chegar.
FONTE: Junior Barros
Na cena seguinte vemos um pequeno barco pertencente à paróquia inclusive existem fotos do Padre Peter Hermans conduzindo o mesmo. A seguir vemos a Rua João Alfredo nas proximidades da paróquia, uma visão geral do salão paroquial com um cartaz intitulado Cine Panorama, foi neste local que aconteceu a primeira sessão de cinema da cidade, contam os antigos que foi um frenesi maravilhoso, as pessoas ficavam admiradas e aquilo parecia algo de outro mundo, não importava o tipo de conteúdo o que importava era ver aquela magia nova que se descortinava diante de seus olhos.[82: OP CIT, HUYS, 1970-1989.]
A seguir vemos a Rua João Alfredo, nas proximidades da Igreja Matriz, percebemos que a mesma possuía apenas 4 (quatro) casas. Em continuação vemos a Rua João Machado, deste ângulo concluímos que a cidade terminava no bairro da pedreira, um jipe amarelo cruza a tela e numa barbearia do mercado observamos na parede a data 1971, parece um tipo de calendário da época. O trabalho de barbeiros

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