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Eduardo Lengruber Oliveira Medicina 2020 24/08/2017 Patologia Cardiovascular Prof. José Carlos 1 - Arteriosclerose: A arteriosclerose é um grupo de doenças que se caracteriza pelo espessamento e perda da elasticidade das artérias. Há três padrões gerais, com diferentes consequências clínicas e patológicas. Padrões: Obs: Calcificação da média de Monckeberg → não tem importância clínica pois não há estreitamento da luz devido ao espessamento da túnica média. Acomete plexos pélvicos e artérias femorais, tibiais e coronárias. Não é uma lesão dinâmica. Arterioloesclerose → é um espessamento de arteríolas e capilares por deposição de material hialino (proteico) logo abaixo do endotélio com redução da luz, comprometendo a troca e a vascularização do órgão. Ocorre em pacientes idosos e é mais generalizado e severo em hipertensos e diabéticos, sendo a principal característica morfológica da nefrosclerose. 1.1 – Aterosclerose: A aterosclerose caracteriza-se por lesões da íntima chamada de ateromas (placas ateromatosas ou ateroscleróticas) que fazem protrusão nas luzes dos vasos. Uma placa ateromatosa consiste em uma lesão elevada com centro mole, amarelo e grumoso de lipídios, coberta por uma cápsula fibrosa branca. Além de obstruir mecanicamente o fluxo sanguíneo, as placas ateroscleróticas podem romper-se, levando a uma trombose catastrófica dos vasos; as placas também enfraquecem a média subjacente e, assim, levam à formação de aneurismas. Definição: doença de artérias caracterizada por acúmulo, na íntima, de lipídeos, componentes do sangue, celulares e intercelulares (matriz) 25% de óbitos no Brasil. Principal causa de doença isquêmica cardíaca. Arteriosclerose Aterosclerose Calcificação da Média de Monckeberg (camada muscular média em idosos) Arteriolosclerose (hipertensão e diabetes - vasos renais) Eduardo Lengruber Oliveira Medicina 2020 24/08/2017 Principais fatores de risco: Predisposição genética; Idade (as manifestações clínicas aparecem em idades mais avançadas, no entanto, a aterosclerose tem seu início nos primeiros anos de vida – lesão precoce: estrias gordurosas) e gênero (masculino é o mais afetado); Hiperlipidemia; Hipertensão; Tabagismo; Diabetes. Patogenia da aterosclerose- Aterogênese (PROVA!) Primeiramente, há uma agressão endotelial crônica (causada por HAS, diabetes, hiperlipidemia, estresse mecânico, tabagismo, agentes infecciosos) que causa uma disfunção endotelial (↑ permeabilidade vascular), com isso permite-se a passagem do colesterol – LDL - presente no sangue para a região da íntima (matriz extracelular – MEC). Na íntima, o LDL deflagra uma resposta inflamatória crônica. Posteriormente, há um recrutamento contínuo de monócitos que viram macrófagos e células espumosas que, por sua vez, tentam fagocitar os lipídios nessa região. Os macrófagos por si só não conseguem fagocitar os lipídios que entram na íntima de forma contínua. Assim, os próprios macrófagos estimulam a migração das células musculares lisas para função de fagocitose na íntima. Num primeiro momento, na fase inicial da aterosclerose não há nenhum indício na parede das artérias. No entanto, numa fase posterior, as células espumosas começam a se juntar e produzem uma leve elevação na parede – de cor amarelada, linhas amareladas denominadas estrias gordurosas. Essas estrias – que são assintomáticas -, ao longo da parede, são marcadoras de uma lesão precoce por aterosclerose – é a que tende a aparecer na infância. Placa de ateroma (“mingau”) No centro da placa, os lipídios entram de forma contínua na íntima por perda da função endotelial e, num determinado momento, ocorre maior estímulo para proliferação de células musculares lisas. Da mesma forma, ocorre estímulo com maior recrutamento de macrófagos na tentativa de eliminar o agente agressor. Isso pode culminar numa lesão que, inicialmente, é delimitada por células musculares lisas e no meio formada por células espumosas liberando enzimas líticas que irão destruir a MEC em meio a gordura, caracterizando uma necrose gordurosa. Essa, por sua vez, é amarelada e pastosa, remetendo a um mingau. Lesão mais elevada (placa) e amarelada (aspecto de mingau). A célula muscular lisa, além de fazer fagocitose, tem papel fundamental na aterogênese ao sintetizar matriz extracelular. A placa de ateroma pode levar a repercussões clínicas pois se forma gradualmente e se for um vaso de pequeno calibre, pode obstruí-lo levando a um processo isquêmico crônico com sua repercussão clínica específica. Eduardo Lengruber Oliveira Medicina 2020 24/08/2017 (PROVA!) Constituição da placa de ateroma Capa fibrosa; Células espumosas (células musculares lisas ou macrófagos); Células inflamatórias (linfócitos); Centro necrótico (necrose gordurosa – cristais de colesterol). A delimitação da placa é feita pelas células musculares lisas. Se está havendo uma destruição de MEC por necrose, há posteriormente um reparo tecidual com produção de matriz, começando na periferia – capa fibrosa ou fibromuscular, até a placa ficar cicatrizada. Além disso, há um processo de neovascularização. Uma placa com mais processo necrótico (menos estável) tem maior chance de rompimento e formação de trombo. Uma placa cicatrizada é mais estável. Placa complicada – Avançada As placas ateroscleróticas são suscetíveis às seguintes alterações clinicamente importantes: Ruptura, ulceração ou erosão da superfície da íntima de placas ateromatosas expõem o sangue a substancias altamente trombogênicas e induzem trombose. Tal trombose pode ocluir parcialmente ou completamente a luz e levar à isquemia distal. Se o paciente sobreviver à oclusão trombótica inicial, o coágulo poderá tornar-se organizado e ser incorporado à placa em crescimento. Hemorragia em uma placa. A ruptura da cápsula fibrosa subjacente ou dos vasos com paredes finas nas áreas de neovascularização pode causar hemorragia intraplaca; um hematoma contido pode expandir a placa ou induzir ruptura da placa. Ateroembolia. A ruptura da placa pode descarregar resíduos ateroscleróticos na corrente sanguínea, produzindo microêmbolos. Formação de aneurisma. A pressão induzida pela aterosclerose ou a atrofia isquêmica da média subjacente, com perda de tecido elástico, causa fraqueza que resulta em dilatação aneurismática e potencial ruptura. A calcificação é uma das complicações da placa de ateroma, refletindo uma aterosclerose que já se encontra há um tempo instaurada. Complicações: Ulceração ou ruptura; Trombose; Hemorragia; Calcificação. Eduardo Lengruber Oliveira Medicina 2020 24/08/2017 Classificação clínico-morfológica (American Heart Association) TIPOS CARACTERÍSTICAS IDADE CLÍNICA Tipo I Macrófagos espumosos isolados 1ª década Silenciosa Tipo II Estrias gordurosas – marca de aterosclerose precoce 1ª década Silenciosa Tipo III Intermediário. Poucos depósitos lipídicos. Quando num momento, a entrada de lipídios excede a fagocitose, não é reversível. Tente a evoluir para os outros estágios. 2ª década Silenciosa Tipo IV Placa de ateroma 2ª década Silenciosa ou não Tipo V Placa fibromatosa 4ª década Silenciosa ou não Tipo VI Placa complucada 4ª década Silenciosa ou não Obs: A placa não necessariamente segue todos os estágios dessa sequência. Principais consequências clínicas da formação da placa Oclusão crônica → Isquemia crônica. Oclusão aguda → Infarto. Trombo → Embolia. Espessamento da parede arterial→ Dificuldade de perfusão crônica → Atrofia da muscular → Aneurisma 2 – Cardiopatia isquêmica - CI (Angina e Infarto do Miocárdio) Principal causa de morte no mundo tanto para homens como para mulheres. A CI é a designação para um grupo de síndromes fisiologicamente relacionadas que resultam da isquemia do miocárdio – um desequilíbrio entre o suprimento (perfusão) e a demanda do coração por sangue oxigenado. A isquemia não abrange apenas uma insuficiência de oxigênio, mas também uma disponibilidade reduzida de substratos nutrientes e uma remoção inadequada de metabólitos. Por esta razão, a isquemia geralmente é menos tolerada pelo coração do que a hipóxia. Ambos dependem da balança de oferta x demanda de oxigênio. Principal causa de ↓ de oferta: aterosclerose ↑ da demanda: hipertrofia de VE, exercícios físicos Conceitos clínicos: 2.1. Angina do peito: Episódios recorrentes de desconforto precordial causados por isquemia miocárdica transitória (15s a 15m) sem a necrose (infarto) Eduardo Lengruber Oliveira Medicina 2020 24/08/2017 Tipos de angina: Estável – mais comum, estenose crônica coronariana por aterosclerose – melhora com repouso. Placa mais dura. Prinzmetal – mais rara, causada por vasoespamo da artéria coronária. Instável – dor com aumento progressivo da frequência. Ocorre no repouso e é mais duradoura. Placa mais mole – pela necrose - sujeita à ruptura que levaria a diminuição aguda de oferta de oxigênio. Obs: região subendocárdica é a primeira a necrosar por ser a menos oxigenada. 2.2 Infarto do miocárdio Conceito: foco bem definido de necrose isquêmica (coagulação) do miocárdio Características clínicas: dor precordial tipo esmagadora, irradiação para face interna do braço esquerdo ou para mandíbula, sudorese, náuseas, vômitos e dispneia. Lesão reversível → Enzimas normais Lesão irreversível → necrose. Enzimas alteradas: mioglobina, troponinas (T/I), CKMB. Topografia dos infartos – acometimento miocárdico Infartos subendocárdicos: por hipoperfusão cardíaca (aterosclerose, choque, etc). Infartos transmurais: oclusão total por alterações súbitas na placa de ateroma. Topografia – território coronariano (PROVA!) Uma obstrução na descendente anterior (40-50%), há o comprometimento parede anterior do VE, próximo ao ápice; a parte anterior do septo atrioventricular esquerdo e o ápice de modo circular. Uma obstrução da coronária direita (30-40%), a área de infarto envolve a parede inferior/posterior do ventrículo esquerdo; a parte posterior do septo ventricular; e a parede livre inferior/posterior do VD em alguns casos. Uma obstrução na artéria circunflexa esquerda (15-20% dos infartos), há o comprometimento da parede lateral do VE, com exceção do ápice. Progressão Angina estável → doença isquêmica crônica → cicatrização. Angina instável ou infarto subendocárdico → infarto agudo transmural Eduardo Lengruber Oliveira Medicina 2020 24/08/2017 Evolução morfológica do infarto (PROVA!) TEMPO MACRO MICRO 30 min – 4h Normal Necrose com bandas de contração 1 – 3 Dias Palidez Necrose de coagulação 3 – 7 Dias Centro amarelado amolecido com halo vermelho Necrose de coagulação com neutrófilos 7 – 14 Dias Acinzentado deprimido Tecido de granulação – início da cicatrização. 4 – 6 Semanas Branco espessado (cicatriz) Fibrose Complicações (PROVA!) Arritmia; Insuficiência cardíaca aguda esquerda e choque; Ruptura muscular miocárdica (hemopericárdio) e músculo papilar (insuficiência mitral); Pericardite fibrinosa; Extensão e expansão da área infartada; Formação de aneurismas; Trombose mural – parede – e embolia (pode embolizar para o SNC); Insuficiência cardíaca esquerda crônica. Obs: Hemopericárdio: Tamponamento, ↓ diastólica Tríade de Beck: turgência jugular patológica, hipofonese de bulhas e hipotensão. Eduardo Lengruber Oliveira Medicina 2020 24/08/2017 Aula Prática MICRO 1 – Diagnóstico: Infarto Antigo PPB: reparo cicatricial e inflamação crônica Descrição: extensas áreas de fibrose com infiltrado inflamatório crônico Complicações clínicas: Insuficiência cardíaca e arritmia. 2 – Diagnóstico: Aterosclerose PPB: inflamações crônica e acúmulo de colesterol Descrição: Placa de ateroma com capa fibromuscular, núcleo necrótico contendo calcificações, além de células espumosas na periferia. MACRO 1 – Diagnóstico: Infarto Antigo PPB: Reparo cicatricial Descrição: área brancacenta e firme na parede lateral do VE 2 – Diagnóstico: Infarto recente PPB: Necrose de coagulação Descrição: área amarelada e amolecida com halo hemorrágico na parede anterior do VE. Obs.: Saber tempo de lesão e manifestações macroscópicas. 3 – Diagnóstico: Aterosclerose PPB: Inflamação crônica e acúmulo de colesterol Descrição: Placas amarelas, sobrelevadas por vezes endurecidas (calcificadas). 4 – Diagnóstico: Aneurisma com dissecção e rotura PPB: Hemorragia Descrição: aorta ascendente com aneurisma, além de extensa dissecção com ponto de ruptura. Presença de hemorragia na adventícia.
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