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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Curso de graduação em Medicina Maria Clara Coelho Coutinho APOSTILA DE PATOLOGIA MÉDICA II Betim 1º/2019 2 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX SUMÁRIO SISTEMA CARDIOVASCULAR ...................................................................................... 7 CARDIOPATIA HIPERTENSIVA ................................................................................ 7 ATEROSCLEROSE ................................................................................................... 7 1. ESTRIA LIPÍDICA ............................................................................................. 7 2. PLACA ATEROMATOSA/ATEROMA .............................................................. 8 CARDIOPATIA HIPERTENSIVA ........................................................................... 17 CARDIOPATIA ISQUÊMICA ..................................................................................... 22 CIRCULAÇÃO CORONARIANA ............................................................................... 22 ETIOPATOGÊNESE ................................................................................................... 23 FATORES DE RISCO (deve haver sinergismo entre os fatores) .................................. 25 FORMAS DE MANIFESTAÇÃO................................................................................. 25 1.1. ANGINA PECTORIS .................................................................................... 25 1.2. IAM ............................................................................................................... 26 1.3. MORTE SÚBITA CARDÍACA ...................................................................... 34 1.4. ISQUEMIA CRÔNICA DO MIOCÁRDIO ................................................... 34 CARDIOPATIA CHAGÁSICA .................................................................................... 35 CARDIOPATIA CHAGÁSICA AGUDA .................................................................. 36 CARDIOPATIA CHAGÁSICA CRÔNICA .............................................................. 37 PATOGÊNESE DA CARDIOPATIA CHAGÁSICA ................................................ 40 CARDIOPATIA REUMÁTICA ................................................................................... 42 ETIOPATOGÊNESE ................................................................................................ 42 EXAMES LABORATORIAIS .................................................................................. 43 FASE AGUDA .......................................................................................................... 43 FASE CRÔNICA ...................................................................................................... 46 ACOMETIMENTOS ................................................................................................ 47 PROGNÓSTICO DA DOENÇA REUMÁTICA ....................................................... 52 COMPLICAÇÕES DA ENDOCARDITE REUMÁTICA ......................................... 53 ENDOCARDITE INFECCIOSA .................................................................................. 53 COR PULMONALE ..................................................................................................... 56 SISTEMA RESPIRATÓRIO ........................................................................................... 59 ASPECTOS GERAIS E HISTOLÓGICOS DO SISTEMA RESPIRATÓRIO ............. 59 PNEUMOPATIAS (ou doenças pulmonares) ................................................................ 61 1. ALTERAÇÕES DO FLUXO PULMONAR ....................................................... 61 3 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX 1.1. SÍNDROME DA ANGUSTIA RESPIRATÓRIA DO RECÉM-NASCIDO (SAR RN): ................................................................................................................. 61 1.2. DOENÇAS PULMONARES RELACIONADAS AO FLUXO AÉREO: ........ 64 ENFISEMA PULMONAR ........................................................................................ 65 BRONQUITE CRÔNICA ......................................................................................... 69 BRONQUIECTASIAS .............................................................................................. 70 ATELECTASIA OU COLAPSO PULMONAR ........................................................ 71 2. DOENÇAS VASCULARES ............................................................................... 71 2.1. EMBOLIAS PULMONARES ........................................................................ 71 2.2. INFARTO PULMONAR ............................................................................... 75 2.3. HIPERTENSÃO PULMONAR ...................................................................... 76 2.4. EDEMA PULMONAR ................................................................................... 79 3. PROCESSOS INFLAMATÓRIOS .................................................................... 83 3.1. PNEUMONIA LOBAR .................................................................................. 84 3.2. BRONCOPNEUMONIA ................................................................................ 85 3.3. PNEUMONIA INTERSTICIAL .................................................................... 87 3.4. ABSCESSO .................................................................................................... 88 3.5. PNEUMONIAS BACTERIANAS .................................................................. 89 3.6. PNEUMONIAS POR FUNGOS ..................................................................... 90 3.7. PNEUMONIAS POR VÍRUS ......................................................................... 90 3.8. PNEUMONIA POR ASPIRAÇÃO ................................................................ 90 3.9. TUBERCULOSE ........................................................................................... 91 A. ETIOPATOGENIA ........................................................................................... 91 4. NEOPLASIAS ................................................................................................... 98 1. ETIOPATOGENESE ...................................................................................... 100 2. FATORES EXTERNOS .................................................................................. 100 3. TOPOGRAFIA ................................................................................................ 101 4. TIPOS HISTOLÓGICOS ................................................................................ 102 4.1. CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS (CCE) .................................. 102 4.2. ADENOCARCINOMA ................................................................................ 105 4.3. CARCINOMA BRONQUÍOLO-ALVEOLAR ............................................. 106 4.4. CARCINOMA DE GRANDES CÉLULAS .................................................. 108 4.5. CARCINOMA DE PEQUENAS CÉLULAS (“oat cells”) ............................ 109 5. CLÍNICA (depende da topografia) .................................................................. 110 4 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX 6. METÁSTASES ................................................................................................ 111 7. ESTADIAMENTO ANATOMOPATOLÓGICO (feito em todas as lesões malignas). ................................................................................................................ 111 8. PROGNÓSTICO ............................................................................................. 112 9. TUMORES METASTÁTICOS ....................................................................... 112 SISTEMA DIGESTÓRIO ..............................................................................................112 ESÔFAGO ..................................................................................................................... 113 1. DRGE E ESOFAGITE DE REFLUXO ............................................................... 115 2. ESÔFAGO DE BARRETT .................................................................................. 116 3. NEOPLASIAS ..................................................................................................... 120 3.1. NEOPLASIAS BENIGNAS ......................................................................... 120 3.2. NEOPLASIAS MALIGNAS ........................................................................ 120 3.2.1. ADENOCARCINOMA DE ESÔFAGO ................................................... 120 3.2.2. CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS DE ESÔFAGO ................. 122 ESTÔMAGO .................................................................................................................. 124 1. GASTRITE ......................................................................................................... 126 1.1. GASTRITE AGUDA.................................................................................... 127 1.2. GASTRITE CRÔNICA ............................................................................... 128 1.2.1. H. PILORY .............................................................................................. 128 2. CARCINOMA GÁSTRICO ................................................................................ 131 3. ÚLCERA PÉPTICA ............................................................................................ 143 INTESTINO DELGADO E GROSSO ............................................................................ 149 1. DOENÇA ISQUÊMICA INTESTINAL .............................................................. 149 1.1. INFARTO INTESTINAL ............................................................................ 150 1.1.1. INFARTO TRANSMURAL ..................................................................... 151 1.1.2. INFARTO DA MUCOSA ......................................................................... 152 1.2. ISQUEMIA CRÔNICA ............................................................................... 153 2. DOENÇA DIVERTICULAR ............................................................................... 154 3. MEGAS DO TUBO DIGESTIVO ....................................................................... 156 3.1. MEGAS CHAGÁSICOS .............................................................................. 156 3.2. DOENÇA DE HIRSCHSPRUNG OU MEGACÓLON CONGÊNITO ......... 159 4. TUBERCULOSE INTESTINAL ......................................................................... 160 5. DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL ...................................................... 161 5.1. DOENÇA DE CROHN ................................................................................ 162 5 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX 5.2. COLITE ULCERATIVA ............................................................................. 164 6. TUMORES DO INTESTINO GROSSO .............................................................. 167 6.1. PÓLIPOS NÃO NEOPLÁSICOS ................................................................ 167 6.1.1. PÓLIPO HIPERPLÁSICO ...................................................................... 167 6.1.2. PÓLIPO INFLAMATÓRIO .................................................................... 168 6.1.3. PÓLIPOS HAMARTOMATOSOS .......................................................... 168 6.1.3.1. PÓLIPO JUVENIL .............................................................................. 169 6.2. PÓLIPOS NEOPLÁSICOS ou ADENOMA COLÔNICO ............................... 170 6.3. POLIPOSE ADENOMATOSA FAMILIAR (FAP) ...................................... 172 6.4. CARCINOMA HEREDITÁRIO DO CÓLON SEM POLIPOSE – SÍNDRME DE LYNCH ............................................................................................................. 173 7. CARCINOMA DE CÓLON ................................................................................ 173 7.1. ADENOCARCINOMA ................................................................................ 175 FÍGADO ........................................................................................................................ 177 SÍNDROMES HEPÁTICAS ........................................................................................... 185 1. ICTERÍCIA ........................................................................................................ 185 2. HIPERTENSÃO PORTA .................................................................................... 189 3. INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA ............................................................................ 191 4. CIRROSE HEPÁTICA ....................................................................................... 192 HEPATITES E HEPATOPATIA ALCÓOLICA ........................................................... 199 1. HEPATITES VIRAIS ......................................................................................... 199 1.1. HEPATITE AGUDA.................................................................................... 200 1.2. HEPATITE CRÔNICA ............................................................................... 201 1.3. HEPATITE POR VÍRUS A ......................................................................... 203 1.4. HEPATITE POR VÍRUS B .......................................................................... 203 1.5. HEPATITE POR VÍRUS C ......................................................................... 206 1.6. HEPATITE POR VÍRUS D ......................................................................... 207 2. HEPATITE ALCÓOLICA .................................................................................. 207 2.1. ESTEATOSE ............................................................................................... 210 2.2. ESTEATO-HEPATITE ............................................................................... 211 2.2.1. ESTEATO-HEPATITE ALCÓOLICA .................................................... 211 2.2.2. ESTEATO-HEPATITE NÃO ALCÓOLICA ........................................... 212 2.3. CIRROSE ALCÓOLICA ............................................................................. 212 2.4. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS .................................................................. 213 6 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX 3. HEPATITE POR DROGAS ................................................................................ 213 4. HEPATITE AUTOIMUNE ................................................................................. 214 7 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX SISTEMA CARDIOVASCULAR CARDIOPATIA HIPERTENSIVA Na doença aterosclerótica o acúmulo de gordura, colesterol e de éster de colesterol ocorre no subendotélio, abaixo da camada íntima. Na lâmina elástica há uma camada de fibras elásticas que divide a camada íntima e a camada muscular (composta por células musculares lisas). A camada adventícia possui os vasos responsáveis pela irrigação da parede dos próprios vasos, que são o vaso vasorum. A única coisa que diferencia as artérias elástica e muscular é a presença das fibras elásticas na túnica média das artérias elásticas. Por que existem artérias musculares e artérias elásticas? Porque em alguns momentos precisamos de artérias que sustentam uma maior pressão e, em outros, de vasos que possuam maior permeabilidade. Por exemplo, as artérias de grande calibre possuem mais componentes elásticos porque precisam se distender com maior facilidade sem que ocorra seu rompimento. ATEROSCLEROSE 1. ESTRIA LIPÍDICA Antes da formação da placa propriamentedita, o primeiro passo é a formação das estrias lipídicas (lipidoses). Nesse caso, há alteração apenas na camada íntima onde, se for analisado macroscopicamente, observam-se áreas de coloração amarelada. Essas manchas caracterizam os depósitos de colesterol que ainda não são capazes de causar protrusão na parede do vaso. Esses depósitos ocorrem de maneira aleatória e podem ter formatos e tamanhos variados. A grande maioria dos pacientes é assintomática. Ela é reversível e pode estacionar como estria ou ainda pode progredir para a placa ateromatosa. As estrias lipídicas podem surgir no primeiro ano de vida. Porém, é importante lembrar que a pessoa não nasce com ela, mas sua formação pode ser desencadeada dependendo dos fatores aos quais a pessoa é exposta. Macroscopia: manchas amareladas que ainda não fazem protrusão na parede do vaso. 8 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Microscopia: no subendotélio há macrófagos com vacúolos contendo colesterol e ésteres de colesterol em seu citoplasma. Além de raros e musculares lisas contendo (células xantomizadas ou espumosas). A placa aterosclerótica começa sua formação envolvendo a camada íntima, mas há também acometimento da camada média com liberação de células musculares lisas da média para a íntima. 2. PLACA ATEROMATOSA/ATEROMA É a principal característica da doença aterosclerótica. São lesões irreversíveis, portanto a sua prevenção é mais importante do que o seu tratamento. Há lesões de tamanhos e formas variadas. A placa faz protrusão em direção à luz do vaso e isso obstrui a luz, fazendo com que haja diminuição da função do mesmo. A placa ateromatosa possui uma grande composição de gordura, por isso sua coloração é amarelada. Ela se localiza na camada íntima. E as lesões podem ser confluentes, ou seja, podem estar localizadas em regiões próximas e vão crescendo até se confluírem e formarem uma única lesão. Progressão da placa ateromatosa Macroscopia: obstrução da luz do vaso e alteração do relevo do vaso. Microscopia: a quantidade de componentes de uma placa ateromatosa varia de pessoa para pessoa e de vaso para vaso. São eles: Células musculares lisas que migraram da camada média em direção à placa. Fibroblastos → participam do processo de organização da placa, formando a capa fibrosa. Macrófagos e outros leucócitos. Substância fundamental amorfa (basicamente proteína - poliglicanos) e fibras colágenas (produzidas pelos fibroblastos). 9 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Lipídeos: ∟ É o que dá a cor amarelada da macroscopia. ∟ O principal componente é o colesterol. ∟ Podem ser intracelulares (macrófagos xantomizados) ou extracelulares (na forma de cristais de colesterol e são observados nas imagens negativas no material intercelular). Os trombos podem estar associados às placas ateromatosas. Sempre que houver lesão endotelial, tem-se exposição de fatores agregantes plaquetários e predisposição para a formação de trombos. E nas placas ateromatosas há predisposição para que haja a lesão endotelial, aumentando a chance de se formar os trombos aderidos à placa. Isso agrava ainda mais a obstrução da luz do vaso. ESQUEMA DE PROGRESSÃO DA PLACA ATEROMATOSA Célula normal. Início do acúmulo de lipídeos pela presença da hiperlipidemia levando à lesão endotelial. Nesse momento ainda não há formação da placa, pois não há protrusão da parede do vaso. Formação da placa ateromatosa com protrusão da luz do vaso. Formação da capa fibrosa e neoformação de vasos na periferia. Esses vasos podem se romper e causar hemorragia dentro da placa e aumentar ainda mais o seu tamanho e o grau de obstrução de sua luz. 10 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Se a placa for instável pode haver sua ruptura com extravasamento de seus componentes, formando um ateroêmbolo que cai na corrente sanguínea e pode impactar algum órgão e causar um quadro isquêmico. 2.1. CLASSIFICAÇÃO (depende da relação de cada componente) A. PLACA MOLE/TÍPICA Possui grande quantidade de lipídeio, principalmente extracelular, que está sob a forma de cristais de colesterol. Macroscopicamente se apresenta com coloração amarelada. Possuem poucas fibras colagenas e muitos leucócitos (neutrófilos). Esse tipo de placa é instavel, podendo se romper e causar complicações. Pode haver perda do endotélio com formação de ateroêmbolo, erosão ou ulceração da placa. B. PLACA DURA Nesse tipo de placa há predomínio de fibroblastos (tecido conjuntivo), de uma capa fibrosa mais organizada e muitas células musculares lisas (miofibroblastos). A capa fibrosa dá estabilidade à placa e, assim, elas apresentam menor risco de se romper. Além disso, há poucas células inflamatórias e menor quantidade de gordura fazendo com que ela adquira coloração brancacenta à macroscopia. C. PLACAS COMPLICADAS Essas placas possuem fatores que obstruem ou que causam maior prejuízo na função do vaso. As calcificações são deposições de cálcio em quantidades e extensões variadas que levam ao prejuízo na distensão da parede vascular, comprometendo a função da placa. As placas calcificadas são mais rígidas e com menor quantidade de gordura, por isso são mais estáveis e difíceis de se romperem. As hemorragias consistem no sangramento de pequenos vasos ao redor da lesão ou são resultados da neovascularização. Isso leva ao endurecimento da placa com maior obstrução da luz do vaso. 11 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX As ulcerações ou erosões levam à perda da continuidade do endótelio com ruptura da capa fibrosa e formação de um ateroêmbolo. Isso leva à exposição de uma masssa necrótica ao sangue circulante. A trombose ocorre predominantemente quando há lesões no endotélio. É uma massa resultante da coagulação sanguínea. Presença de um trombo obstruindo a luz do vaso. As complicações na placa são os principais fatores determinantes das doenças isquêmicas que ocorrem em órgãos com aterosclerose, especialmente coração e encéfalo. A instabilidade da placa diz respeito a sua integridade e ao seu risco de ruptura. Comparação entre placa dura e placa mole 12 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX 2.2. SEDES DA ATEROSCLEROSE A aorta é o vaso mais comumente atingido, principalmente sua porção abdominal. A aorta é uma artéria de grande calibre e, para que seja obstruída, é necessário que seus ramos sejam obstruídos anteriormente. Os ramos da aorta são: vasos cerebrais (carótidas), ramos intracranianos; artérias coronárias (muito frequentes e importantes); artérias mesentéricas renais; vasos dos membros inferiores. Em uma mesma pessoa pode haver comprometimento de vários locais ao mesmo tempo e lesões em diferentes níveis de gravidade. O mesmo paciente pode ter uma carótida apenas com estria, uma coronária com obstrução de 70% e uma ilíaca com nenhuma alteração. Isso quer dizer que um paciente hipertenso, tabagista e diabético pode não ter todas as estruturas comprometidas. 2.3. CONSEQUÊNCIAS/COMPLICAÇÕES: R çã z v r b r çã → é raro na aorta e bem mais expressivo em aa. de menor calibre. H m rr g r → há uma expansão da lesão obstruindo ainda mais a luz do vaso. Trombose → predomina em placas instáveis, pois com a ruptura da placa há exposição de fatores de coagulação formando os trombos. Emb → pode ser por fragmentos provenientes da ruptura da placa (ateroembolia) ou por fragmentos oriundos do trombo (tromboembolia). Há obstrução em territorios mais adiantes da placa. Espasmos vasculares: ∟ Além da obstrução pode haver alteração do fluxo sanguíneo. ∟ Na camada média tem a presença da musculatura lisa. No local da placa ha lesão endotelial com agregação plaquetária e liberação de tromboxano A2 (TXA2) pelasplaquetas. O TXA2 é um importante vasoconstritor. Assim, a predomínio de vasoconstritores em relação a vasodilatadores e isso provoca o vasoespamo. Há contrações anormais e alterações de fluxo sanguíneo que aumentam a obstrução da luz. 13 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX ∟ É importante ressaltar que SEMPRE QUE HÁ LESÃO E/OU ROMPIMENTO DO ENDOTÉLIO, HÁ AGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA. Isquemia (principal consequência): ∟ Locais: cérebro, coração, rim (podem levar a HAS), membros inferiores. No ultimo caso, a necrose gera um prejuízo na irrigação das extremidades e o paciente tem a chamada claudicação intermitente. O paciente manca por conta da dor que ele sente em extremidades. Dilatação vascular (outra consequência importante): ∟ Principalmente em vasos de maior calibre e pode evoluir para um aneurisma caso seja uma dilatação expressiva. ∟ A medida que a placa evolui, há migração de células musculares lisas para a camada íntima e isso provoca a expansão da placa, comprimindo a camada média e diminuindo a resistência dessa camada. Nessas áreas onde há o enfraquecimento é onde ocorre a dilatação exacerbada e a formação dos aneurismas. Aneurisma: sempre que há diminuição da resistência da parede do vaso. ∟ Placas com muitos neutrófilos há muita produção de proteases, que são proteínas que quebram principalmente as fibras elásticas da camada média, enfraquecendo-a ainda mais. ∟ A dilatação pode ser focal ou generalizada. ∟ Na aorta abdominal, a dilatação fusiforme/circunscrita provoca a formação de um aneurisma abdominal entre a saída dos ramos das arterias renais direita e esquerda e das arterias ilíacas. ∟ Mecanismo de morte: A r r → rm çã r r . b m → r q m r . b m → çã x rb rm çã r m b m → r r r m → gr m → h q h v êm → b . 14 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX 2.4. ETIOPATOGÊNESE O que provoca a aterosclerose é o sinergismo dos fatores de risco por meio da formação da placa ateromatosa com obstrução da luz do vaso, levando à doença isquêmica. As células endoteliais são importantes e tem como principal função recobrir a camada íntima dos vasos. Morfologicamente são células pavimentosas e possuem uma ampla superfície, mas são muito finas. E entre uma célula e outra exitem pequenos espaços intercelulares, o que não permite a passagem de células ou de macromoléculas. Elas precisam sofrer alguma agressão para que se tenha o início da formação da placa ateromatosa. As agressões podem ser por disfunção ou lesão. A disfunção leva à alteração ou perda de alguma proteína estrutural da céula que vai alterar a conformação da célula e ela deixa de ser pavimentosa para se tornar globosa, aumentando o espaço entre uma célula e outra. Já a lesão é quando há perda de uma célula e o espaço permite a entrada de LDL ou quando há a alteração de sua forma, se tornando globosa. O VLDL e LDL são lipoproteínas carreadoras de colesterol. O LDL apresenta uma densidade baixa, enquanto que o VLDL apresenta uma densidade menor ainda. Assim, o LDL é capaz de carrear uma maior quantidade de colesterol. Quando essa lipoproteína está aumentada, haverá mais colesterol sendo transportado e elas penetram na camada íntima levando à aterosclerose. O HDL é uma lipoproteína de alta densidade capaz de transportar o colesterol resultante do metabolismo celular até o fígado, onde é degradado. Assim, quanto maior a quantidade de HDL no organismo menor a chance de desenvolver aterosclerose e quanto maior o nível de LDL maior o risco de desenvolver aterosclerose. As lesões endoteliais podem ocorrer por fatores físicos, biológicos ou químicos/metabólicos. Dentre os fatores físicos estão as forças mecânicas a partir do cisalhamento sanguíneo e agressão de células endoteliais com aumento de PA ou quando há modificação do fluxo sanguíneo. Nos fatores biológicos estão os agentes infecciosos (citomegalovírus e clamídia) e hipóxia. 15 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Já nos fatores químicos as substâncias tóxicas (radicais livres) causam disfunção endotelial, principalmente quando são provenientes de processos inflamatórios e de tabagismo. Na hipercolesterolemia a presença do colesterol causa alteração da configuração da membrana celular por causar um estado hiperinflamatório no organismo liberando radicais livres. No diabetes a presença do colesterol causa alteração da configuração da membrana celular por causar um estado hiperinflamatório no organismo liberando radicais livres. Fatores etiopatogenéticos da aterosclerose A chegada dos macrofágos na placa e a agregação plaquetária promovem a liberação de quimiocina (PGDF) que, por meio de sua ação sobre as células musculares, lisas vão fazer com que essas células migrem da camada média até a camada íntima, onde está ocorrendo a formação da placa. Além disso, a PGDF tem uma ação mitogênica sobre as células musculares lisas. Assim, as placas possuem lípides + células musculares lisas + células espumosas (lípides intracitoplasmáticos). O LDL que chegou na placa dentro do macrófago, sofre oxidação la dentro e causa ainda mais agressão, principalmente no endotélio, levando a permanência do processo causando lesão de outras células endoteliais. Por isso que a lesão progride. O LDL oxidado não é degradado pelos macrófagos e pelas células lisas e ele se acumula. Por isso, a agressão se mantém. A migração das células musculares lisas (leiomiócitos) da camada média, por meio da liberação de PGDF e plaquetas, se multiplicam na camada íntima e vão se transformar em miofibroblastos. Assim, elas serão capazes de sintetizar fibras colágenas 16 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX e substância fundamental amorfa (SFA). Dessa forma, a sucessão e repetição desses fenômenos acarretam a formação da placa ateromatosa. 2.5. FATORES DE RISCO (é necessário que haja um sinergismo desses fatores para que o doente tenha a doença aterosclerótica). Hiperlipidemia: ∟ Hipercolesterolemia → seu risco está relacionado à ingestão de gorduras saturadas que são provenientes de alimentos de origem animal. Tabagismo: ∟ Aumenta o colesterol plasmático. ∟ Produz radicais livres e leva à lesão endotelial. ∟ Aumenta a oxidação de LDL . ∟ Aumenta a viscosidade do sangue podendo levar à formação de trombos. Hipertensão arterial ∟ Cisalhamento e agreção endotelial. Diabetes ∟ Microangiopatia e aterosclerose – lesões endoteliais. Fator genético: ∟ O polimorfismo em genes que codificam receptores para lipoproteínas, moléculas ABC transportadoras de colesterol e apoproteínas estão associados a hipercolesterolemia e aterosclerose. A aterosclerose é uma doença de caráter inflamatório, pois há agressão ao endotélio, liberação de citocinas e quimiocinas (PGDF), expressão de moléculas de adesão para que ocorra a migração de células inflamatórias e exsudação de leucócitos para a íntima (saída de células inflamatórias da inflamação). As complicações da placa (fissuras e erosões) parecem estar mais relacionadas com a maior intensidade do processo inflamatório na íntima. Principalmente por conta dos leucócitos com maior produção de metaloproteases, que favoreceem a ruptura das placas, especialmente de suas margens, onde o número de células inflamatórias é maior. Então nas placas moles, onde há maior produção de leucócitos, é onde se tem a maior chance de rompimento. 17 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX CARDIOPATIA HIPERTENSIVA É um conjunto de alterações morfológicas que ocorrem no coração em consequência de HAS. Se o paciente estiver com alterações morfológicas no exame ou uma clínica de insuficiência cardíaca, indicando que ele já tem uma alteração morfológica porconta de HAS a provável hipótese diagnóstica já deve incluir o acometimento do coração e tem que colocar cardiopatia hipertensiva, pois já tem o acometimento de um órgão alvo. Na maioria das vezes ocorre em pacientes que possuem HAS primária ou essencial. Esse tipo de HAS não possui uma causa orgânica, ou seja, não há alteração hormonal, presença de tumor ou obstrução de uma artéria que justifique o aumento da PA. Nesse caso há aumento da resistência vascular periférica. Se não tem um controle desse aumento, o coração tenta se adaptar a essa nova condição. Assim, ocorre a hipertrofia de VE já que ele terá que bombear o sangue para a circulção sistêmica vencendo uma resistência maior. E r rm VE → 1,2-1,4 cm. E r m h r r → 1,5-2 cm. (pode ser medido nos exames de imagem ou no anatomopatológico). A. TIPOS DE HIPERTROFIA MIOCÁRDICA DE VE Na hipertrofia concêntrica há um aumento da espessura da parede do coração com diminuição da luz da camara cardíaca. Nesse caso os sarcômeros aumentam em paralelo, ou seja, um do lado do outro. O coração ainda consegue ejetar o volume sanguíneo e manter o débito cardíaco. O suprimento sanguíneo é adequado, mas há um trabalho maior por parte das células miocárdicas. Na microscopia observa-se o aumento dos cardiomiócitos ou das células miocárdicas. 18 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Essa hipertrofia constitui uma reação do miocárdio na tentativa de vencer o aumento da pressão sistêmica. A espessura aumentada da parede tende a normalizar a tensão sistólica sofrida pelos miofilamentos. É uma resposta adaptativa para manter o DC. Em algum momento um momento que a câmara cardíaca não consegue mais se hipertrofiar concentricamente e ai começa a ter um acúmulo de volume sanguíneo dentro da câmara cardíaca. Assim, a câmara terá que lidar com uma sobrecarga de volume gerando a hipertrofia excêntrica. Na macroscopia os sarcômeros estão em série – um em cima do outro. Na hipertrofia compensatória pós-infarto a região do infarto é substituída por tecido de fibrose e não é capaz de realizar a função contrátil do miocárdio. A outra parte do tecido miocárdico que restou tenta compensar a parte que foi perdida se hipertrofiando. B. MACROSCOPIA Aumento significativo da espessura da parede de VE com diminuição, em um primeiro momento, da luz da câmara cardíaca. Macroscopia da hipertrofia de VE C. MICROSCOPIA As fibras musculares cardíacas aumentam seu diâmetro devido ao aumento do número de sarcômeros. 19 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Mecanismo de hipertrofia concêntrica D. DIAGNÓSTICO Na hipertrofia concêntrica de VE ao exame de imagem é possível ver o aumento da espessura da parede com diminuição da câmara cardíaca. É necessário que haja um quadro de hipertensão arterial associado e ausência de outras doenças cardiovasculares que poderiam justificar essa alteração cardíaca. CARDIOPATIA HIPERTENSIVA COMPENSADA (hipertrofia concêntrica) Nesse caso a hipertensão arterial ainda é assintomática, ou seja, o paciente ainda não possui sintomas cardíacos. Isso é um perigo, pois o paciente ainda não sabe que tem essa condição ou sabe que tem, foi medicado e a PA se controlou e ele acha que não precisa mais tomar o medicamento. A fase compensada dura de 10 a 15 anos. É a fase incial da doença. O tratamento rigoroso com o uso de antihipertensivo pode levar à regressão da hipertrofia. O risco de morte súbita é aumentado porque o aumento do número de sarcômeros leva ao aumento da atividade dos cardiomiocitos que estão sob maior trabalho para manter o DC. 20 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX A capacidade de hipertrofia é limitada. Chega um momento em que ele não consegue mais se hipertrofiar e manter o DC, levando a uma sobrecarga de volume diastólico. Isso gera dilatação da cavidade com consequente insuficiência cardiaca (hipertrofia excêntrica). Figura 9 – Mecanismo de hipertrofia excêntrica CARDIOPATIA HIPERTENSIVA DESCOMPENSADA (hipertrofia excêntrica) Ocorre dilatação da cavidade e o coração não consegue mais exercer sua função, fazendo com que o paciente entre em insuficiência cardíaca. O coração está aumentado de volume, com a câmara cardíaca dilatada e VE dilatado. O suprimento sanguíneo é insuficiente em relação à demanda. Pode ocorrer de concomitantemente o paciente ter aterosclerose devido a alteração do fluxo sanguíneo. Na imagem abaixo é possivel observar a macroscopia do coração hipertrofiado. VE fica dilatado e nota-se uma diminuição da espessura de sua parede. Tanto na fase compensada como na descompensada há diminuição da complacência de VE (diminui sua capacidade de contração) associada ao aumento das necessidade de oxigênio (aumento do número de sarcômeros), aumentando o risco de isquemia miocárdica. Assim, o paciente terá uma hipertrofia progressiva das fibras e substituídas por fibrose. 21 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX QUADRO CLÍNICO Dispneia Tosse Edema pulmonar agudo ∟ A m r m r ç r r m r → úm líquido no interstício de alvéolos pulmonares devido às altas pressões atriais esquerdas. Fadiga Astenia Progressão da doença com hipertensão pulmonar importante: o paciente começa a ter acometimento de VD com hipertrofia concêntrica até o seu limiar de compensação até não conseguir mais manter e começa a ocorrer a hipertrofia excêntrica, que resulta em dilatação de VD. Assim, haverá afastamento dos folhetos da valva tricúspide tornando-os insuficientes. Durante a sístole de VD, haverá refluxo sanguíneo de VD para AD provocando dilatação de AD, diminuição do 22 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX refluxo venoso e insuficiência cardíaca congestiva. Na macroscopia observa-se aumento global do coração (dilatação das quatro câmaras cardíacas). E isso gera as seguintes manifestações no paciente: ∟ Cianose ∟ Jugulares ingurgitadas ∟ Refluxo hepatojugular ∟ Hepatomegalia ∟ Edema, principalmente de MMII ∟ Fadiga ∟ Astenia CARDIOPATIA ISQUÊMICA A isquemia ocorre quando há deficiência ou ausência de suprimento sanguíneo e, consequentemente, do aporte de O2, em determinado tecido ou órgão. No caso do coração, existe um grupo de cardiopatias isquêmicas que incluem a angina pectoris e o infarto agudo do miocárdio (IAM). Elas são importantes de serem estudadas uma vez que possuem alta incidência e alta prevalência. Quando já é o IAM possui alta morbidade e mortalidade, principalmente pela demora do diagnóstico ou por ser um infarto mais extenso causando uma morte tecidual muito grave. CIRCULAÇÃO CORONARIANA A artéria coronária esquerda, na parte anterior do coração, originará o ramo descendente anterior e a a. circunflexa. A coronária esquerda e seus ramos são responsáveis pela irrigação da parede anterior, da parede lateral e parte da parede posterior de VE, da parede anterior de VD, da porção anterior do septo interventricular e 23 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX da ponta do coração. Basicamente são responsáveis pela irrigação da parte anterior do coração e do septo interventricular anterior. Já a artéria coronária direita caminha para a porção posterior do coração onde da origem ao ramo marginal e ao ramo descendente posterior. Juntos eles irrigam a parede lateral de VD e a porção posterior do septo interventricular. Acreditava-se que no nascimento o padrão de circulação coronariana era terminal, ou seja, o trajeto começa em um ponto e termina no outro. Ao longo da vida, até os 25-30 anos de idade, com a prática de atividades físicas e/ou fatores genéticos favoráveis, as coronárias e seu ramos desenvolvem uma circulação colateral para proteger o tecido caso haja uma obstrução. A partir daí tem-se odesenvolvimento de padrão não terminal de circulação como um mecanismo protetor adaptativo. O ventrículo esquerdo normalmente está exposto a maior pressão, pois os vasos presentes estão sob o efeito de maior pressão. O tecido mais próximo do miocárdio e da cavidade sofre mais o efeito dessa pressão aumentada e os vasos tendem a se colabar com maior facilidade. Normalmente, essa região já tem maior prejuízo por conta dessa pressão intracavitária ser maior e fazer com esse tecido próximo sofra mais. Ela é, portanto, mais irrigada para os vasos que estão perfundindo a região sofram menos com a pressão intracavitária. Por isso que o infarto ocorre mais da região subendocárdica para a região do pericárdio. ETIOPATOGÊNESE Etiologia: desequilíbrio na oferta e na demanda de O2. Em situações de normalidade a relação entre a oferta e a demanda de O2 ≥ 1. N isquemia há uma diminuição da oferta e/ou um aumento da demanda causando um desequilíbrio nessa relação e o individuo pode desenvolver a cardiopatia isquêmica. Essa relação de O2 é menor do que 1. Uma das principais causas desse desequilíbrio é aterosclerose. ↓ r → obstrução do fluxo sanguíneo, que pode ou não estar associado à presença de trombos ou vasoespasmos. No coração a principal causa de diminuição da oferta é a obstrução das coronárias, ramo a. descendente anterior que irriga a parede anterior do coração. 24 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX ↑ m O2 → o tecido cardíaco precisa de mais oxigênio, mas a irrigação não consegue suprir esse aumento. Indivíduos com cardiopatia hipertensiva são mais sujeitos a desenvolverem isquemia por conta da maior distancia entre o centro da célula e o capilar e por conta da hipertrofia, na qual há maior demanda de trabalho cardíaco. Paciente que tem fator de risco para isquêmica e passam por situações de estresse, emoção ou esforço físico podem desenvolver a isquemia devido ao aumento súbito do trabalho cardíaco. Patogênese: obstrução por placas ateroscleróticas com ou sem trombose secundária. Há outros fatores relacionados com essa placa aterosclerótica. Depende da velocidade de progressão, extensão e duração da obstrução coronariana; do estado do miocárdio (hipertrofia, sobrecarga funcional); existência de circulação colateral; condições circulações (PA) e capacidade de transporte de O2 no sangue. A aterosclerose é a causa mais comum, acometendo 90% dos pacientes. Isoladamente, a cardiopatia isquêmica só desencadeia manifestações clínicas quando atinge níveis expressivos de obstrução ou quando se forma um trombo secundário. Por exemplo, quando o paciente apresenta 90% de obstrução em repouso e 75%, no exercício. O evento que geralmente favorece a formação de um trombo secundário é uma alteração abrupta da placa, principalmente quando há ruptura com exposição de fatores pró-coagulantes. A alteração aguda da placa, seguida de trombose, ocorre nas placas mais vulneráveis/moles, ou seja, aquelas que possuem grande quantidade de lipídeo. Nesses casos há maior quantidade de infiltrado inflamatório (principalmente neutrófilo). Nas placas mais estáveis isso é menos frequente por conta da capa fibrosa presente nelas. As placas ateromatosas geram uma maior atividade inflamatória sistêmica e o paciente pode desenvolver desde angina instável (pré-infarto: um quadro que gera uma obstrução grave a ponto de ter manifestações clínicas, mas ainda não tem morte celular), IAM ou morte súbita. Muitas vezes não é possível saber o que pode ter gerado esses eventos, se foram trombos ou o vasoespasmo. 25 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX FATORES DE RISCO (deve haver sinergismo entre os fatores) C r h r v : h r r VE → ↑ m O2 → ↑ r CI. Vida sedentária Obesidade Hipercolesterolemia Diabetes mellitus Tabagismo Hipóxia: anemia ou doenças respiratórias. Historia familiar positiva para doença cardíaca prematura. Homem com mais de 45 anos e mulher com mais 55 anos. FORMAS DE MANIFESTAÇÃO Na clínica, as cardiopatias isquêmicas são englobadas dentro das síndromes coronarianas agudas (SCA). Elas podem ocorrer sem a elevação do segmento ST ou com elevação desse segmento. A angina instável se enquadra nas SCA sem elevação do segmento ST, enquanto que no IAM pode ou não elevar o segmento. 1.1. ANGINA PECTORIS É uma isquemia miocárdica transitória de curta duração. Nesse caso não há necrose miocárdica, portanto não há alteração das enzimas cardíacas. Dura 15s a 15min (pode variar). O paciente vai ter crise, ataque súbito de dor pré-cordial paroxística → r r v , m r v , m m . CLÁSSICA OU ESTÁVEL REPOUSO OU PRINZ METAL INSTÁVEL OU PROGRESSIVA PRÉ- IAM Cessado o estimulo, cessa a dor. Paciente com aterosclerose associada à vasoespasmo. Duração cada vez maior e episódios mais frequentes. ↑ r b h r (paciente com aterosclerose). Melhora com o uso de vasodilatador. Placas ateroscleróticas complicadas. 26 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX 1.2. IAM É a forma de manifestação mais grave e importante de CI. Caracterizada por isquemia mais intensa e duradoura em que obrigatoriamente há necrose isquêmica do miocárdio e alteração das enzimas cardíacas. Pode ser causada por aterosclerose, trombose e vasoespasmo. Os locais mais acometidos por ordem de frequência são: Descendente anterior (ramo da coronária esquerda): parede anterior do VE e porção anterior do septo interventricular. Coronária direita: parede posterior (diafragmática) do VE. Circunflexa: parede lateral do VE. A classificação dos infartos depende da extensão ocupada de necrose isquêmica na espessura da parede do coração e podem ser: Transmurais (+ comum): acometem toda a parede do miocárdio. Não transmurais ou subendocárdico: acometem somente uma parcela da parede do coração. Nesse caso é possível reestabelecer o fluxo sanguíneo. 27 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX As complicações do IAM dependem do tipo de infarto. No caso do infarto subendocárdico é mais frequente ter complicações relacionadas aos eventos tromboembólicos, principalmente AVE. TROMBOSE INTRACAVITÁRIA DEVIDO À ULCERAÇÃO DO ENDOCÁRDIO ↑ FLUXO SANGUÍNEO FORMAÇÃO DE TROMBOÊMBOLOS AORTA FENÔMENOS TROMBOEMBÓLICOS (RIM, CÉREBRO E MESENTÉRIO). 28 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Já o infarto transmural pode levar à ruptura da parede com acúmulo de sangue no saco pericárdico. Isso gera o hemopericárdio com tamponamento cardíaco e parada cardíaca por pressão externa. Clinicamente, os pacientes com IAM podem ser assintomáticos ou cursar com fáscie de dor intensa, palidez cutâneo-mucosa por conta de vasoconstrição periférica, taquicardia e taquipneia. A dor precordial é intensa com duração maior do que 15 minutos ou irradiada (braço, pescoço e dorso). O paciente sente um desconforto, queimação ou sensação de opressão. É importante avaliar qualidade, intensidade, caráter, localização, duração, irradiação, fatores desencadeantes (de alívio e de piora), forma de apresentação e evolução da dor. E ter CUIDADO porque a dor pode se localizar em região epigástrica e cessar com eructações, acompanhada de indigestão, sendo erroneamente interpretada como dispepsia. O diagnóstico é pela sintomatologia e pelas alterações ao ECG. A principal é a elevação do segmento ST, porém o ECG completamente normal não descarta IAM. O ECG é essencial na avaliação prognóstica. As alterações bioquímicas são importantes de serem avaliadas, pois identificam a necrose. No caso do IAM há aumento das enzimas séricas Troponina e CPK. TROPONINA Elevação inicial: 3 a 12 horas Pico: 24 a 48 horas Normalização: 5 a 10 dias. Mais sensível e específico (96,9%e 94,5%). Melhor marcador. T m rm çã r g → m m m r rê vezes maior de óbito. Melhor conduta: dosar na internação e repetir após 6 e 12 horas do 29 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX início da dor. CPK Elevação inicial: 3 a 12 horas. Pico: 20 a 24 horas. Normalização: 48 a 72 horas. Isso é importante nos casos de reinfarto, pois se o paciente tiver uma piora e reinfartar em alguns dias eu consigo identificar essa piora, pois a normalização é rápida. Ao contrário da troponina que não da para saber se é um reinfarto ou se é o infarto antigo que ainda não normalizou, pois a normalização da enzima é mais lenta. MIOGLOBINAS Aparece mais precoce (1-3 horas). A anatomia patológica é utilizada em casos de necrose ou para saber a causa e o tempo de óbito do paciente. As alterações macro e microscópicas variam ao longo do tempo. Somente há sinais após 24 horas de ocorrido o infarto com o indivíduo vivo. Caso contrário, com menos de 24 horas, utiliza-se o corante denominado nitroblue tretazólio (NBT) em que as fibras necrosadas coram-se de branco e as fibras sem necrose, de azul. TEMPO MACROSCOPIA MICROSCOPIA 2 a 4 horas Necrose em bandas de contração 30 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX 4 a 6 horas Reação com NBT Necrose de coagulação 1 dia Palidez Necrose de coagulação nítida e difusa 3 a 6 dias Borda vinhosa e centro amarelado Infiltração por neutrófilos 7 a 14 dias Acinzentado, deprimido Tecido de granulação 4 a 6 semanas Branco Substituição por colágeno 31 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX MICROSCOPIA 1 a 3 dias Necrose por coagulação em que se têm as fibras mais hipereosinofílicas e há perda dos núcleos. Em alguns cardiomiócitos não se vê núcleo nenhum ou vê apenas um núcleo. O infiltrado inflamatório é neutrofílico. 1 a 2 semanas Presença de tecido de granulação. As regiões mais avermelhadas representam a neoformação dos capilares e as regiões mais claras são as fibras colágenas. As células com um núcleo maior são os macrófagos. Mais de 4 semanas Representa o infarto antigo e é possível ver áreas de cicatriz fibrosa nos locais onde ficavam os cardiomiócitos e as fibras cardíacas. Entre 3 a 7 dias é o período mais crítico, pois o miocárdio está liquefeito sem fibrose (parede muito delicada). Entre o tecido infartado e o tecido normal existe uma 32 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX faixa de células que é chamada de área de transição da borda do infarto, que ainda é reversível. As células estão em sofrimento isquêmico, mas ainda não sofreram morte celular. Se voltar a reperfusão de sangue naquele local, as células voltam ao normal. Elas estão em degeneração hidrópica e microscopicamente as células estão com o citoplasma vacuolizadas e seu aspecto é mais claro. E pelo fato de haver apenas o sofrimento isquêmico sem necrose, há poucas células inflamatórias. O IAM pode levar às seguintes consequências e complicações: Arritmias cardíacas: na área infartada, ao invés de se ter cardiomiócitos tem tecido de fibrose. Quando chega na área cardíaca, o estímulo se torna errático por conta da destruição das fibras e dessa forma há um distúrbio de condução elétrica do coração. Pode ser reversível ou não. Dependendo do tipo de arritmia, pode ter turbilhonamento do sangue intracavitário e isso leva a cisalhamento do sangue na parede da cavidade e a formação de trombos intracavitários. Fenômenos tromboembólicos: mais frequente em infarto do subendocárdio. Insuficiência cardíaca: dependendo da extensão do infarto, leva a diminuição da função cardíaca e compromete o debito cardíaco. Edema pulmonar: em pacientes com IC pode haver refluxo de sangue para os pulmões. Esse sangue se acumula causando um extravasamento do líquido, podendo levar ao edema. Ruptura do miocárdio: ∟ Parede livre: tamponamento cardíaco. ∟ Parede septal: shunt interventricular, comunicação entre os ventrículos direito e esquerdo, gerando uma quebra do DC. ∟ Músculos papilares: a valva mitral fica frouxa e ocorre sua eversão em direção ao átrio esquerdo e não haverá sístole, uma vez que a valva está frouxa e evertida ela não se fecha. Formação e ruptura de aneurisma cardíaco: a parte necrosada que foi substituída por tecido de fibrose fica mais delgada/fina e ela tende a formar os aneurimas. Hemopericárdio: tamponamento. 33 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Choque cardiogênico: quando há necrose de mais de 40% da massa miocárdio. Pericardite: infarto transmural pode ter acometimento do pericárdio por conta de processos inflamatórios. O pericárdio fica opacificado com áreas esbranquiçadas com pontos de hemorragia ou congestão, superfície. O IAM pode evoluir com cura, com alguma consequência ou complicação ou com morte súbita. A reperfusão sanguínea é feita, geralmente, 3 horas após o início do infarto. Se logo após a obstrução coronariana o fluxo sanguíneo for reestabelecido, pode ocorrer recuperação parcial do tecido, limitação do tamanho do infarto e aumento da sobrevida. O tempo máximo que a célula suporta de sofrimento isquêmico sem morte celular total é 40 minutos. Experimentalmente foi observado que após 40 minutos o infarto é somente da porção subendocárdica. Após 3 horas, a reperfusão salva a metade externa da parede da área de risco e a parte interna continua infartada. Após 96 horas já tem infarto transmural e apenas uma faixa estreita subepicárdica está sem infarto. Após a reperfusão, microscopicamente, na área necrosada tem infarto hemorrágico, por conta do extravasamento de hemácias. *essa reperfusão depende do tempo: se a reperfusão for pouco tempo depois da isquemia, o tecido pode voltar ao normal caso a área de infarto seja pequena; se o tempo r rm ár r m m ár “ r ”, ã v r , ã volta ao normal imediatamente, o miocárdio demora algumas horas para voltar a exercer 34 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX suas funções normais; se o tempo for grande, pode ter infarto hemorrágico e pode ter o fenômeno de não-reperfusão**; se o tempo for muito grande tem-se o miocárdio “h b r ” q r r m , m isquêmico e as células não são capazes de manter sua função de maneira adequada. **Nesse fenômeno, apesar de ocorrer a reperfusão, por conta de edema intersticial na área de tecido que ainda não sofreu infarto, existem fenômenos trombóticos em microvasos e a reperfusão não ocorre de maneira efetiva porque o edema comprime o vaso e não deixa o sangue fluir. 1.3. MORTE SÚBITA CARDÍACA É a morte inesperada em indivíduos sem doença cardíaca sintomática. O paciente possui uma doença cardíaca que é compensada. Ocorre após o inicio de algum sintoma, geralmente 1 hora depois. Geralmente é consequência de arritmia letal (assistolia ou fibrilação ventricular). O IAM é a causa mais comum. É uma lesão isquêmica que afeta o sistema de condução gerando uma instabilidade cardíaca eletromecânica e uma arritmia letal. Pode estar associado à: anormalidades congênitas estruturais ou coronarianas, estenose ou prolapso da valva aórtica, miocardite, miocardiopatia dilatada ou hipertrófica, hipertensão pulmonar, arritmias cardíacas, hipertrofia cardíaca de qualquer origem (ex: hipertensão) e abuso de drogas. Morfologicamente, 80-90% possuem aterosclerose coronariana acentuada com estenose de alto grau de um mais vasos essenciais. A maior parte está associada a irritabilidade da isquemia do miocárdio – arritmias ventriculares malignas. As cicatrizes de infartos anteriores e vacuolização do cardiomiócito subendocárdico são indício de isquemia crônica grave. 1.4. ISQUEMIA CRÔNICA DO MIOCÁRDIOÉ o comprometimento difuso e insidioso do miocárdio por isquemia, que pode levar tardiamente a insuficiência cardíaca congestiva, geralmente com episódios de angina e/ou infarto do miocárdio prévios. O coração pode estar normal, diminuído ou aumentado de volume. As artérias coronárias exibem graus acentuados de estenose por aterosclerose. 35 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Os ventrículos mostram aumento da espessura ao lado de áreas de adelgaçamento da parede por infartos prévios. Há fibrose intersticial difusa do miocárdio, em geral fina, podendo ter áreas cicatriciais mais grosseiras. Há focos de hipotrofia de fibras cardíacas ao lado de miocélulas hipertróficas e necrose de células individuais. Quando presentes, os infartos são antigos e representados por áreas de fibrose. CARDIOPATIA CHAGÁSICA A doença de Chagas é uma doença que atualmente possui baixa incidência e alta prevalência. A fase aguda da doença tem duração de 1 a 2 meses e diz respeito às primeiras semanas que se seguem a após a infecção. Na grande maioria das vezes é assintomática e isso dificulta o diagnóstico. Se o paciente for sintomático e for possível fazer o diagnóstico, é possível tratar e ter cura. A sintomatologia é localizada já que está relacionada com o local de penetração do T. cruzi. São os chamados sinais de porta de entrada: chagoma de inoculação (pele hiperemiada) e sinal de Romanã (edema bipalpebral e unilateral). Geralmente é acompanhado de aumento dos linfonodos satélites, aqueles que estão próximo à área de inoculação. Além disso, o paciente pode ter sintomas inespecíficos. Dentre eles febre, fraqueza, prostração, hepatoesplenomegalia, aumento de linfonodos. Isso dificulta ainda mais o diagnóstico na fase aguda. Já a fase crônica possui duração prolongada (meses, anos ou décadas) e pode ser a forma indeterminada, ou a forma cardíaca (cardiopatia chagásica crônica) ou forma digestiva (megaesôfago e megacólon). 36 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Na forma indeterminada o paciente é assintomático e não há nenhuma alteração em exames complementares (ECG e RX normais e exame sorológico positivo). Nesse caso, o comprometimento cardíaco é discreto, sem perda funcional aparente. Pode evoluir para outras formas, mas é raro. CARDIOPATIA CHAGÁSICA AGUDA No caso da cardiopatia chagásica aguda há uma alta parasitemia, ou seja, uma grande quantidade de parasitos no sangue. Além disso, tem-se um parasitismo celular, dentro do cardiomiócito estão os amastigotas. Isso é chamado de miocardite chagásica aguda. Com a ruptura dessas células, haverá a exposição desses parasitos ao sistema imune e focos de inflamação com hiperemia ativa (vasos dilatados) e edema (visualizado por meio da separação das miocélulas adjacentes). Nessa fase o infiltrado inflamatório é predominantemente granulomononuclear, ou seja, neutrófilos. Além do acometimento do miocárdio há também o acometimento do epicárdio, que é a camada mais externa da parede do coração. A pessoa pode desenvolver epicardite com as mesmas características da miocardite (infiltrado de neutrófilos, edema e congestão), periganglionite e ganglionite. No pericárdio tem muitos gânglios nervosos, que serão acometidos pelo infiltrado inflamatório. Esse infiltrado pode estar ao redor dos gânglios envolvendo eles 37 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX (periganglionite) ou dentro dos gânglios (ganglionite), que pode levar a destruição neuronal. Pode também acometer o endocárdio e gerar endocardite, porém é menos frequente e menos extensa. Presença de infiltrado inflamatório, edema, congestão e inflamação do sistema excito-condutor (NSA, NAV ou feixe de Hiss). A cardiopatia chagásica aguda pode ser fatal quando houver grave comprometimento cardíaco. Pode ser causa de morte súbita por conta de uma arritmia letal. CARDIOPATIA CHAGÁSICA CRÔNICA As manifestações clínicas são: Insuficiência cardíaca: r m g → ↑ âm r r → ICC Arritmia cardíaca: espectro amplo em relação a gravidade e ao tipo. Fenômenos tromboembólicos: trombos intracardíacos, tanto do lado direito do coração como do esquerdo. Morte súbita por fibrilação ventricular. Histologicamente, o músculo cardíaco possui duas membranas de revestimento: perimísio e endomísio. O perimísio é o tecido conjuntivo que envolve o fascículo muscular, que é o conjunto de miocélulas orientadas de forma regular. É o ponto de apoio para as células durante a contração. Já o endomísio é o tecido conjuntivo frouxo que envolve as miocélulas individualmente, dentro dos fascículos. A contração do coração depende tanto das células contrateis (miocélulas) como desse arcabouço de tecido conjuntivo (principalmente perimísio). Assim como na aguda, pode acometer miocárdio, endocárdio ou epicárdio. Na miocardite o infiltrado inflamatório é predominantemente mononuclear (linfócitos e macrófagos), de extensão variada com consequente destruição de algumas miocélulas e substituição por tecido conjuntivo de fibrose. Essa neoformação conjuntiva ocorre, predominantemente, dentro dos fascículos entre as células adjacentes (fibrose do tipo endomisial). Assim, a fibrose pode interromper a orientação normal da fibra formando novos pontos de ancoragem para a célula cardíaca. Esses pontos sofrem desestruturação e gera comprometimento da transmissão nervosa, outro mecanismo de arritmias. 38 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Além disso, há o comprometimento da nutrição porque a fibrose endomisial comprime os capilares, que se perdem e compromete a irrigação. Há o espessamento dos capilares, com redução da luz (causa desconhecida). ↓ m rá + ↑ j v = ê r ( r j z tanto na diástole como na sístole). Na microscopia da miocardite é possível visualizar o infiltrado inflamatório crônico e, em um primeiro momento, observa-se o afastamento das células por perda da massa contrátil. Já num segundo momento é possível ver a fibrose endomisial por meio do afastamento das fibras. Na epicardite tem infiltrado inflamatório mononuclear, ganglionite ou periganglionite. Dependendo do tempo de evolução da doença por haver perda neuronal com limitação da capacidade de hipertrofia dos cardiomiócitos e prejuízo do sistema de condução (arritmias). Há baixo parasitismo e baixa parasitemia. As alterações macroscópicas são: cardiomegalia e alteração da forma do coração (globoso – a ponta do coração passa a ser formada pelos 2 ventrículos por conta da dilatação de VE e VD, sendo que normalmente é formada só de VE). Na epicardite pode ser vista a deposição de fibrina no epicárdio devido ao processo inflamatório. Essa deposição pode ser: Monoliforme ou em rosário (FOTO): acompanha o trajeto da coronária. Em placa. Em faixa. Vilosa: na ponta do coração. Ao abrir o coração, visualiza-se a dilatação das quatro câmaras cardíacas. Pode ocorrer aumento ou não da espessura das paredes cardíacas, mas é mais frequente haver uma redução dessa espessura por conta da descompensação e da dilatação com adelgaçamento das fibras cardíacas. 39 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Macroscopicamente pode-se detectar a lesão vorticilar ou do vórtex. Na ponta do coração, mais frequente em VE, há um adelgaçamento com dilatação dessa região por conta do fluxo de sangue que empurra essa ponta adelgaçada, formando uma região herniada do endocárdio em direção ao epicárdio. Nessa região, por conta do turbilhonamento sanguíneo, pode haver a formação de um aneurisma. Essa lesão é patognomonica da cardiopatia chagásica crônica, ou seja, é exclusiva dessa condição. 40 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX É muito frequente a presença de trombos intramurais nas cavidades cardíacas. Por que esses trombos aparecem? Pa m IC → modificação da velocidade do fluxo sanguíneo. Arr m → m çã v x sanguíneo. E r → r çã m . L ã v r r → rb h m g . PATOGÊNESE DA CARDIOPATIA CHAGÁSICA Múltiplos fatores patogenéticos que depende tanto de fatores inerentes ao parasito quanto de fatores relacionados ao hospedeiro. INERENTES AO PARASITO RELACIONADOS AO HOSPEDEIRO Moléculas de superfície Constituição genética Polimorfismo Gênero Tropismo Idade Constituição antigênica Resposta imunitária Constituição genética Estado nutricional Na fase aguda há a presença forte do parasito. Após a picada, o tripomastigota cai na corrente sanguínea e se transforma em amastigota. Isso gera comprometimento da integridade estrutural e funcional celular levando a ruptura da célula. Com essa ruptura, tem-se a exposição do antígeno do parasito e haverá uma reação inflamatória e hiperplasia dos linfonodos. Após a ruptura da célula, os parasitos são liberados para ir para outras regiões (inclusive o coração). 41 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX Na fase crônica há uma queda importante da parasitemia e do parasitismo. Hoje em dia, acredita-se na teoria imunitária do processo inflamatório que diz que a doença comportaria como sendo autoimune. O parasito tem antígenos com semelhança estrutural a moléculas do organismo e, enquanto está muito presente nosso organismo, ele produz anticorpos contra essas estruturas. Assim, ao longo do tempo, esses anticorpos destroem as estruturas semelhantes. Essa teoria, entretanto, não explica totalmente a complexidade da doença e não explica como cada indivíduo evolui com a doença. Diferentes cepas têm virulência variada e tropismo tecidual diferente. Sabe-se que isso também pode variar de acordo com a espécie. Por exemplo, determinada cepa pode ter tropismo por um órgão de uma espécie e por outro órgão em outra espécie. 42 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX CARDIOPATIA REUMÁTICA A doença reumática, também conhecida como febre reumática, é uma doença sistêmica que pode acometer sistema nervoso, coração, pulmão e articulações. Ela acomete principalmente crianças entre 5 e 15 anos de idade, devido a sua associação com infecções do trato respiratório superior (faringoamigdalites) e lesões de pele. Porém, não quer dizer que essa doença só aparece em crianças. É uma doença inflamatória, de natureza imunitária e caráter recorrente. Essa recorrência quer dizer que se o paciente reumático possui acometimento cardíaco, ele pode apresentar uma lesão aguda, que depois pode se tornar crônica (lesão cicatricial). Em determinado momento, ele pode novamente apresentar uma lesão aguda no coração. Ou seja, em um mesmo coração pode haver, concomitante, lesões agudas e crônicas. Clinicamente o paciente se apresenta com febre. É uma doença que compromete prioritariamente o tecido conjuntivo de qualquer órgão, por exemplo, o perimísio no miocárdio. No coração as lesões são definitivas e mais graves, geralmente. A cardiopatia reumática tem uma evolução crônica e prolongada. E suas repercussões podem ocorrer na juventude, dependendo da gravidade das lesões, ou na fase adulta. No Brasil tem se observado uma diminuição da incidência dessa doença, por conta do que se tem feito com relação a medidas profiláticas. Em pacientes com história çõ v r β-hemolíticos são realizadas medidas para se evitar que ele se torne sensibilizado e apresente maior chance de desenvolver a doença reumática. Além disso, é importante realizar o diagnóstico precoce para que ele não tenha recorrência da doença e tenha tratamentos mais eficazes. Outros fatores associados à diminuição da incidência da doença é a melhoria das condições socioeconômicas da população e mudança na patogenicidade dos estreptococos. ETIOPATOGÊNESE Etiologia: É h r m g r β-hemolítico do grupo A, associado a infecções do trato respiratório superior. 43 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX A proteína M que está presente na estrutura da bactéria tem uma estrutura molecular semelhante a algumas moléculas do organismo, principalmente proteínas do tecido conjuntivo das nossas valvas cardíacas. Além do coração, a proteína M pode ser semelhante a células nervosas ou substância fundamental amorfa, podendo acometer qualquer órgão. Patogênese: reação antígeno-anticorpo aos antígenos bacterianos e por reação cruzada às moléculas do organismo (proteína M e proteínas do hospedeiro). Assim, tem-se a formação de imunocomplexos contra estruturas do hospedeiro, provocando uma reação inflamatória no hospedeiro. Geralmente, essa reação inflamatória e os sintomas agudos de doença reumática ocorrem de maneira importante após 2 a 4 semanas da infecção bacteriana de vias aéreas superiores. EXAMES LABORATORIAIS São métodos de diagnóstico utilizados em conjunto com a história clínica do paciente para confirmar a suspeita. O exame solicitado é a dosagem sérica de anti-estreptolisina “O”. A r “O” g b r - r “O” r produzido pelo organismo humano, indicando um contato prévio com essa bactéria. FASE AGUDA 1. MACROSCOPIA: Coração aumentado de volume, flácido e globoso → ê r . Pericardite fibrinosa ( r ár ) → x çã br . Há m processo inflamatório acentuado, com aumento da permeabilidade vascular e saída de fibrina da circulação para o interstício. Essa fibrina se deposita no pericárdio, tornando-o opacificado/esbranquiçado. Discreta hipertrofia da parede e evidente dilatação das câmaras, principalmente dos ventrículos em relação aos átrios. Agr g çã à v v r m r çã m m → g b r de fechamento das válvulas que compõem as valvas cardíacas, por conta da destruição dessas estruturas, observa-se vegetações róseo-acinzentadas. 44 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX 2. MICROSCOPIA: (regiões da vegetação) Lesão patognomônica → nódulo de Aschoff. É visualizado em todos os momentos da doença, mas é mais evidente na fase proliferativa ou granulomatosa. Fase exsudativa ou inicial (2 a 3 semanas do inicio da doença): Infiltrado inflamatório discreto, com alguns linfócitos e plasmócitos. 45 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX A r çã br ág q rm m r → tumefação (hipermia e edema), fragmentação e aumento da eosinofilia* das fibras colágenas. * possuem coloração mais rósea, se assemelhando à fibrina. Por isso, fala-se que elas apresentam aspecto fibrinoide. Fase proliferativa ou granulomatosa (3 a 4 semanas da doença): formação do nódulo de Aschoff. Acúmulo de macrófagos formando as células gigantes multinucleadas. Linfócitos com formação de uma estrutura granulomatosa. Fibroblastos dispostos em um arranjo grosseiramente paralelo. Fase cicatricial (4 a 6 meses da doença): Infiltrado inflamatório começa a diminuir, uma vez que a fase aguda começa a regredir. Surgem fibroblastos e começa a deposição de br ág → cicatrização. Apesar de o nódulo ser mais fácil de ser encontrado na fase aguda, ele ainda pode ser visto na fase cicatricial, mesmo sem atividade clínica da doença. É mais difícil, mas ainda pode encontrar. Quando o patologista recebe um coração de explante cardíaco, ou seja, que foi retirado do paciente, que está dilatado macroscopicamente e o patologista possui a sorologia positiva para Chagas e nem a história pregressa da pessoa, a única coisa que você consegue dizer é que ele possui uma cardiopatia dilatada. Não é possível saber a causa da dilatação, uma vez que todas ascardiopatias cursam com dilatação das quatro câmaras nas fases finais das doenças. É importante saber as particularidades de cada uma das cardiopatias, pois algumas delas apresentam chances de recidivas. Assim, mesmo transplantado, o paciente pode vir a desenvolver a doença novamente. 46 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX FASE CRÔNICA Posteriormente, essas alterações inflamatórias são substituídas por neoformação conjuntiva (fibrose). Nos locais onde há as vegetações róseo-acinzentadas haverá deposição de fibrose. Devido ao fato de haver lesões recorrentes (agressão seguida de cicatrização), as estruturas afetadas sofrem conjuntivação progressiva. Pode atingir epicárdio, miocárdio e endocárdio. Na cardiopatia reumática, o endocárdio é sempre mais afetado, gerando principalmente endocardite valvar. Além disso, pode haver miocardite intersticial difusa e inespecífica, porém geralmente não há necrose dos cardiomiócitos como na Chagásica. Na cardiopatia reumática o mais importante é: 47 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX E m j v → r ç . Infiltrado inflamatório com linfócitos T e B, plasmócitos, macrófagos e neutrófilos (ordem de predomínio). Na fase crônica há um predomínio das sequelas do comprometimento pelos surtos de inflamação aguda. Em outras palavras, há predomínio da fibrose. 1. MACROSCOPIA (há deformidade por conta da retração das estruturas) Folhetos valvares irregularmente espessados (depósitos recorrentes de fibrose), r ( r r çã rr br ) , g m v z (↓ mobilidade do folheto valvar). F ã m r v v r m r m v v r → “b x ” Valvas atrioventricular → m , ã r m r tendíneas. P r ár r → br . ACOMETIMENTOS A endocardite (endocárdio mural + endocárdio valvar) é o principal acometimento no caso da cardiopatia reumática. Locais preferenciais de acometimento da cardiopatia reumática são: Valva mitral → 50 70% . V v m r + r → 30 50% . 48 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX 1. VALVA MITRAL: Anatomicamente essa valva é constituída por duas cúspides, uma anterior e outra posterior, inseridas em um anel fibroso. A comissura valvar é a região de encontro das cúspides. Na fase crônica, na qual há uma importante deposição de tecido conjuntivo fibrose nas comissuras, ocorre fusão dessas comissuras com diminuição da abertura da valva provocando a estenose valvar. 49 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX A fibrose também pode levar ao encurtamento da extensão total das cúspides (cicatriz) devido à retração das mesmas. Assim, essas valvas não se fecham mais de maneira adequada provocando outro vício valvar denominado de insuficiência valvar. As cordas tendíneas ficarão mais espessas e encurtadas, podendo ocorrer aderência entre as cordas, por conta da fibrose. Além disso, há acometimento do endocárdio valvar com aumento da predisposição para a formação de trombos grandes aderidos as cordas tendíneas. Se a corda tendínea se encurtar muito e retrair, haverá um afunilamento das cúspides em direção ao VE. E ai, essas valva não se fechará adequadamente. 1.1. VÍCIOS VALVARES OU TRANSTORNOS FUNCIONAIS DAS VALVAS a. ESTENOSE VALVAR: É caracterizada pela diminuição do orifício de abertura da valva, principalmente quando há fusão das comissuras valvares por conta de fibrose. Isso gera na valva uma incapacidade de abrir completamente dificultando a passagem do x g . A m , há ↓ m b das valvas (espessamento e endurecimento). É importante salientar que a fusão das comissuras depende do grau de aderência. 50 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX A estenose valvar pode trazer as seguintes consequências: Sempre que houver um paciente com estenose mitral deve-se pensar em doença reumática, pois é a causa mais frequente desse tipo de estenose. Normalmente, não há acometimento do VE quando há estenose mitral isolada. b. INSUFICIENCIA VALVAR: Nesse caso a valva não consegue se fechar completamente e, consequentemente, há refluxo de sangue (também chamado de fluxo invertido ou regurgitação). Associa-se com ↓ da mobilidade das valvas (espessamento e endurecimento) e ↓ da extensão da superfície total da valva, não se fechando totalmente (afastamento das bordas). Pode haver também encurtamento das cordas tendíneas, no caso das atrioventriculares, com afunilamento das cúspides em direção a VE. As consequências da insuficiência são: ESTENOSE MITRAL DIFICULDADE DA PASSAGEM DE SANGUE DE AE PARA VE REPRESAMENTO DE SANGUE NO AE COM SOBRECARGA ATRIAL DILATAÇÃO DA CAVIDADE CONGESTÃO PULMONAR EDEMA PULMONAR HIPERTENSÃO PULMONAR SOBRECARGA DE VD (hipertrofia e posterior dilatação) VALVA TRICÚSPIDE DILATADA INSUFICIÊNCIA TRICÚSPIDE SOBRECARGA DE AD CONGESTÃO GENERALIZADA E ANASARCA 51 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX c. DUPLO VÍCIO OU DUPLA LESÃO (estenose + insuficiência): Nesses casos ocorre a imobilidade da valva e ela fica praticamente inextensível. Porém, há um predomínio de um dos vícios. 1.2. VALVA AÓRTICA: Anatomicamente, a valva aórtica é constituída por 3 semilunares. Não possui cordas tendíneas e nem músculos papilares. Nesse caso, também há espessamento e endurecimento, eventualmente calcificação. Há retração da superfície total dos folhetos e fusão das comissuras valvares (aderência). a. VÍCIOS FUNCIONAIS (associados com imobilidade das valvas). Estenose: fusão das comissuras. Insuficiência: depende do grau de retração da superfície total dos folhetos). VALVA MITRAL INSUFICIENTE REFLUXO DE SANGUE PARA AE ↓ DO DC COM SOBRECARGA DE VE HIPERTROFIA DE VE, COM POSTERIOR DILATAÇÃO SOBRECARGA DE AE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA GLOBAL Estenose: associada com fusão das comissuras. Insuficiência: associada à retração com diminuição da extensão total das cúspides. IMPORTANTE: Aqui não m r çõ m r → prova o paciente tiver acometimento de valva aórtica e pedir a descrição da valva, não coloque nada sobre cordas tendíneas e nem músculos papilares. 52 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX b. CONSEQUÊNCIAS Clinicamente, o paciente apresenta ↓ da pressão diastólica (pressão exercida na parede de VE), uma vez que o sangue não consegue passar, devido a um aumento na sobrecarga de volume diastólico. Além disso, quando VE não conseguir mais se dilatar e manter o DC, VE se torna não complacente e não está mais hipertrofiado. Nesse momento, há um aumento da chance de isquemia cardíaca. *Pressão divergente: quando a diferença entre PAS e PAD são maiores do que 60 mmHg. Nesse caso, a PAS está muito alta porque o coração está tentando manter o DC (contraindo com muita força) e a PAD esta muito baixa. PROGNÓSTICO DA DOENÇA REUMÁTICA Depende essencialmente do comprometimento do coração, ou seja, se há lesão ou não e o grau dessa lesão. Pode ser letal. As lesões extra-cardíacas têm comportamento benigno, principalmente as artrites. É preciso realizar a profilaxia de v r g r v r v m b r → m r çã VÍCIO AÓRTICO SANGUE NÃO PASSA ADEQUADAMENTE REFLUXO DE SANGUE PARA VE SOBRECARGA DE VE SANGUE SE ACUMULA EM VE VE PRECISA BOMBEAR COM MUITO MAIS FORÇA PARA MANTER O DC HIPERTROFIA COM POSTERIOR DILATAÇÃO DE VE ↓ PD VE BOMBEANDO COM MAIS FORÇA PARA MANTER O DEBITO SISTÓLICO EFETIVO APARECIMENTO DE PRESSÃO DIVERGENTE* (> 60 mmHg) 53 Maria Clara Coelho Coutinho – Turma IX penicilina periódica
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