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Tópicos de empresa familiar A EMPRESA FAMILIAR Para Kets de Vries (2009, p. 33), na maior parte das sociedades, a família é uma instituição fundamental para transmitir valores às gerações seguintes e assegurar seu desenvolvimento físico e emocional. Segundo Gersick et al. (2006, p. 2), para a maior parte das pessoas, as duas coisas mais importantes de suas vidas são suas famílias e seu trabalho. O vínculo emocional e os conhecimentos profissionais dos membros da família envolvidos em uma empresa familiar contribuem de forma significativa para que seja alcançado oobjetivo de garantir o sucesso e a continuidade da empresa, mantendo o negócio na família por diversas gerações. As empresas familiares se diferem das demais organizações devido ao fato de os ambientes casa e trabalho absorverem a maior parte do tempo das pessoas. A ligação dos dois ambientes, neste caso, é direta e constante, sendo praticamente impossível separar os assuntos. (Miranda, extraído em 18/05/2014) Em entrevista à Exame, Joseph Astrachan, professor da universidade americana KennesawStateUniversity e especialista em negócios em família, afirma que esses negócios geralmente têm melhores resultados e algumas das famílias mais antigas do mundo usam os negócios para manter os familiares juntos e desenvolver responsabilidade e produtividade. Lethbridge (1997) afirma que as empresas familiares podem ser classificadas em três tipos conforme segue [...] a tradicional, que mais corresponde ao estereótipo da instituição, o capital é fechado, existe pouca transparência administrativa e financeira e a família exerce um domínio completo sobre os negócios; a híbrida, onde o capital é aberto, mas a família ainda detém o controle, havendo, contudo, maior transparência e participação na administração por profissionais não-familiares; e a de influência familiar, em que a maioria das ações está em poder do mercado, mas a família, mesmo afastada da administração cotidiana, mantém uma influência estratégica através de participação acionária significativa. Segundo Gersick et all. (2006, p. 2), as empresas familiares são a forma predominante de empresa em todo o mundo. Elas ocupam uma parte tão grande da nossa paisagem econômica e social que sequer nos damos conta. Pesquisa realizada pelo SEBRAE/SC em 2005 aponta que no Brasil 90% das empresas são familiares, sendo elas de pequeno, médio ou grande porte, desde restaurantes ou padarias até grandes grupos que atuam no mercado por anos. Apesar da importância e grande 2 participação destas empresas para o setor financeiro, há uma série de preocupações para manter uma empresa familiar. A mesma pesquisa realizada pelo SEBRAE/SC afirma que de cada 100 empresas familiares brasileiras, 30% chegam na segunda geração e apenas 5% na terceira geração. Para Oliveira (1999) dentre as causas das mortes das empresas familiares, pode-se citar o foco em um produto específico, não conseguindo desligar-se do mesmo quando o mercado entra em declínio, falta de planejamento estratégico e conflitos na sucessão. 2.1.1 Conceito de empresa familiar Quando se ouve falar em empresa familiar, em geral acredita-se que são empresas que as pessoas da família trabalham, porém, este seria um conceito vago e falho. Segundo Moreira (2007, p.11) a empresa familiar recebe diversas definições, que, quando comparadas, não revelam grandes diferenças. Para Bernhoef (1987, p.29) uma empresa familiar é aquela que tem sua origem ou sua historia vinculadas a uma família; ou ainda, aquela que mantém membros da família na administração dos negócios. Donnelley (1967) classifica como familiar a empresa que tenha estado ligada a uma família pelo menos durante duas gerações e com ligações familiares que exerçam influencia sobre as diretrizes empresariais. Já Bornholdt (2005, p. 34), utiliza de um conceito mais amplo: Considera-se uma empresa familiar quando um ou mais dos fundamentos a seguir podem ser identificados numa organização ou grupo de empresas: a) O controle acionário pertence a uma família e/ou a seus herdeiros; b) Os laços familiares determinam a sucessão do poder; c) Os parentes se encontram em posições estratégicas, como na diretoria ou no conselho da administração; d) As crenças e os valores da organização identificam-se com os da família; e) Os atos dos membros da família repercutem na empresa, não importando se nela atual; f) Ausência de liberdade total ou imparcial de vender suas participações/quotas acumuladas ou herdadas na empresa. Segundo Gersick et all. (2006, p. 3), as empresas possuídas e administradas por famílias constituem uma forma organizacional peculiar, cujo “caráter especial” tem conseqüências positivas e negativas. Lodi (1994) diz que um negócio familiar se torna sólido 3 e duradouro a partir da descoberta ou afirmação dos valores da família, quanto mais forte seus princípios, mais forte será a empresa. 2.1.2 Sucessão Segundo Oliveira (1999, p. 24) o processo sucessório representa um dos momentos mais importantes para que se otimize a continuidade da empresa familiar. Florani (2002) diz que uma empresa familiar que chega a um alto patamar de sucesso quando na gestão do seu fundador, enfrenta dilemas no momento da sucessão, como quem irá suceder e de que maneira o fará. Para Bernhoeft (2003) cada nova geração de sucessores deve ampliar a agregar os valores dentro da empresa, caso contrário, a empresa pode se deparar com um final não previsto. Oliveira (1999) afirma que existem dois tipos de processo sucessório na empresa familiar: a sucessão familiar que tem como principais vantagens a continuidade da gestão na família, o conhecimento do sucessor e o interesse do mesmo nos resultados atuais e futuros da empresa, e principais desvantagens a disputa de poder entre os membros da família e a dificuldade em demitir o sucessor; e a sucessão profissional, que tem como principais vantagens a facilidade de selecionar um executivo com determinado perfil e receber novas experiências e conhecimentos profissionais, e principais desvantagens a maior possibilidade de perder o executivo. Entende-se que a sucessão familiar tem sido a alternativa mais utilizada pelas empresas, porém, não se pode descartar a sucessão profissional como forma de evolução da empresa. Segundo Fritz (1993, p. 234), muitos empresários eventualmente passarão as rédeas de suas empresas para seus filhos, que deveriam ser bons seguidores antes de assumir a responsabilidade de liderança. Para que exista a sucessão é preciso que ambos, fundador e sucessor, trabalhem juntos, ou seja, o segundo só estará pronto para assumir a liderança da empresa se estiver acompanhando o processo desde muito tempo. Não há, atualmente, uma regra que delimite quanto tempo dura o processo de sucessão, normalmente se inicia sem que os membros da família percebam. Passos (2006) diz que alguns donos de empresas entendem que cinco anos é o tempo necessário para que o sucessor tenha experiência profissional suficiente para dar continuidade nos negócios, outros acreditam que o processo pode levar apenas alguns meses. 4 Para Tedesco e Grzybovski (2000, p. 40) não há duvida que a sucessão é, talvez, o elemento mais preocupante para a empresa familiar, pois implica a sua sobrevivência, expansão e continuidade. 2.1.3 Modelo dos três círculos Segundo Bornholdt (2005, p. 36) o modelo de três círculos descreve o sistema de empresa familiar como três sistemas independentes, mas sobrepostos: em primeiro, a família, depois, o sócio e, por fim, a empresa. Fig. 1 Adaptaçãode Gersick ET AL (2006) Desta forma é possível identificar em qual dos sete setores estão localizados os membros, familiares ou não, da empresa, sendo eles: 1: os membros da família não sócios e não trabalham na empresa; 2: sócios que não são membros da família e não trabalham na empresa; 3: executivos não familiares, nem sócios; 4: familiares não sócios que trabalham na empresa; 5: familiares sócios que não trabalham na empresa; 6: executivos e sócios não familiares e 7: sócios familiares e que trabalham na empresa. (BORNHOLDT, 1999). Para Bernhoeft (2003), existe, ainda, o setor 8, membros da família que são proprietários e ocupam posições estratégicas na sociedade, pessoas escolhidas por suas capacidades e legitimidades e que devem tomar decisões com base em uma visão futura de investimento, sem considerar os negócios já existentes. Publicado no final dos anos 80, o modelo dos três círculos, é uma ferramenta que auxilia na compreensão dos fatores que causaram os conflitos interpessoais, dilemas de papeis e definição de limites na empresa familiar. Segundo Grapeia (2008) “a partir desse modelo foi possível explicar o desenvolvimento da empresa familiar envolvendo os desenvolvimentos de família e propriedade concomitantes”. 5 2.1.4 Ciclo de vida da empresa familiar Para Bornholdt (2005) o ciclo de vida das empresas familiares independe das gerações e possuem uma certa influencia de fatores internos e externos, o que gera a necessidade de desmistificar a ideia de que exista uma lei que diga que a primeira geração é rica, a segunda é nobre e a terceira é pobre. Segundo Grapeia (2008) “o ciclo de vida na empresa familiar não é distinto do ciclo de vida de qualquer organização, a não ser pelo fato de aquelas trazerem, junto do desenvolvimento da empresa, os desenvolvimentos das relações familiares de seus proprietários”. Bornholdt (2005), afirma que existem dois tipos diferentes de ciclo de vida, cada um com três fases, um correlacionado às gerações, onde a primeira fase é dos fundadores e empreendedores, a segunda, da sociedade entre irmãos e a terceira, do consórcio de primos, e o ciclo de outro correlacionado ao estágio da empresa, onde a primeira fase é definida como o início, a segunda, expansão e a terceira, maturidade. Para Najjar (2013) o ciclo de vida da empresa familiar possui seis fases, conforme segue. A primeira é a fase do empreendedorismo, onde o fundador vê uma oportunidade e decide explorar, mantendo o foco na viabilidade do negócio e contando com a família para levar a idéia adiante. A segunda fase é a da sobrevivência, onde a empresa precisa gerar lucros para que possa acreditar que irá se tornar competitiva no mercado e que há grandes possibilidades de crescimento. A terceira fase é a do crescimento, onde a empresa precisa inovar e ganhar destaque no mercado, criando novos produtos ou expandindo novas unidades em outras regiões, prospectando e fidelizando clientes. A quarta fase é a da maturidade, onde se deve reforçar a cultura organizacional, manter o foco nos negócio e onde os herdeiros devem tomar decisões visando o crescimento da empresa e não só pessoal. A quinta fase é a da renovação, onde a empresa pretende diminuir os custos, utilizando da criatividade da sua equipe e da descentralização da tomada de decisão. E a sexta fase é a do declínio. A empresa somente entrará nessa fase caso o desejo pelo poder e as metas pessoais forem mais importantes que as metas da empresa. 6 2.2 CONFLITO Fritz (1993, p. 156) explica que “cada individuo vê as coisas de maneira ligeiramente diferente, e cada um tem a certeza de que a sua maneira é a maneira correta”. Desta forma quando existe a divergência de opiniões entre duas ou mais pessoas se inicia um conflito e, em muitos casos, eles tendem a ser constantes. Adachi (2006, p. 207) afirma que não se pode confundir o conflito com uma simples discussão, nem com um debate de ideias, tampouco com uma briga mais calorosa. Normalmente os envolvidos em um debate, por exemplo, tendem a expor idéias e usar de argumentos que tentem convencer os demais a concordarem consigo, o conflito se diferencia por ter duas ou mais pessoas com idéias divergentes que devam se aplicar na mesma situação. Segundo Moreira e Neto (2007, p.23), a empresa familiar, embora não seja universalmente conhecida por uma única definição, carrega na sua natureza diversas características, entre elas a existência de conflitos pessoais. Passos (2006) explica que os conflitos acontecem devido aos membros da família, em algum momento, discordarem pelo simples fato de que são pessoas diferentes que precisam encontrar objetivos em comum. Pode-se considerar que a convivência e administração da empresa familiar é diferente das demais empresas, visto que, na maioria dos casos, o profissional e pessoal não se separam, ou seja, após o expediente profissional, permanece a relação no ambiente doméstico, porém, desta vez como uma relação pessoal. Esta separação nem sempre é bem feita pelos membros da família, o que causa uma série de conflitos que interferem tanto no ambiente pessoal como profissional. Para Bornholdt (2005, p. 44), é preciso conviver e administrar as relações afetivas e as gerenciais entre familiares quando se está em um campo que exige objetividade. Segundo Gersicket al. (2006, p. 3) os papeis na família e na empresa podem torna-se confusos. As pressões da empresa podem sobrecarregar e destruir relacionamentos familiares. Podemos considerar o conflito como um dos motivos para o amadurecimento de uma organização, visto que, segundo Lima (2010, p. 67), o conflito, na maioria das vezes, é inevitável, faz parte da vida das organizações e, sem dúvida, contribui para o seu desenvolvimento. Para que isso aconteça, é preciso saber administrar o conflito, entender os motivos que levaram a sua existência e definir a melhor maneira de administrar estas questões para que não gerem impacto na empresa. 7 5. REFERÊNCIAS AMARAL, Antonio Carlos Rodrigues do etall. Empresas familiares brasileiras: perfil e perspectivas. São Paulo: Negócio Editora, 1999. BERNHOEF, Renato. 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GRAPEIA, Leonardo Soares. Ciclo de vida das empresas familiares. http://www.ogerente.com.br/novo/colunas_ler.php?canal=10&canallocal=31&canalsub2=101 &id=1117, extraído em 01/06/2014 8 KETS DE VRIES, Manfred F. R.et al. A empresa familiar no divã : uma perspectiva psicológica. Porto Alegre: Bookman, 2009. LETHBRIDGE, Eric. Tendências da empresa familiar no mundo.http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/revista/rev707.pdf, extraído em 03/03/2014 LIMA, José Luís Barbosa de. Gestão da empresa familiar / [organizado pela] Universidade Luterana do Brasil. / Curitiba: Ipbex, 2010 LODI, João Bosco. A ética na empresa familiar.São Paulo: Pioneira, 1994 MIRANDA, José Renato de. Vamos dar um rumo na nossa empresa familiar.http://www.empresafamiliarconsultoria.com.br/vamos-dar-um-rumo-na-nossa- empresa-familiar.htm, extraído em 18/05/2014 MOREIRA JUNIOR, Armando Lourenço; NETO, Adelino de Bortoli. Empresa familiar : um sonho realizado. 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