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Caderno 01 - Concepcoes e Fundamentos

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ADOLESCÊNCIAS, JUVENTUDES
E SOCIOEDUCATIVO:
Concepções e Fundamentos
1ª Edição
Brasília
2009
Expediente: 
Esta é uma publicação técnica da Secretaria Nacional de Assistência Social. 
Secretária Nacional de Assistência Social: Ana Lígia Gomes
Diretora do Departamento de Gestão do SUAS: Simone Aparecida Albuquerque
Diretora do Departamento de Proteção Social Especial: Valéria Maria Massarani Gonelli
Diretora do Departamento de Benefícios Assistenciais: Maria José de Freitas
Diretor-Executivo do Fundo Nacional de Assistência Social: Fernando Antônio Brandão
Diretora do Departamento de Proteção Social Básica: Aidê Cançado Almeida
Coordenadora-Geral de Regulação das Ações de Proteção Social Básica: Mariana López Matias
Assessor Técnico do Departamento de Proteção Social Básica: Alexandre Valle dos Reis
Colaborador: Jeison Pábulo Andrade. 
Consultoria*:
Dra. Silvia Helena Simões Borelli (Coordenadora); 
Dra. Raquel Raichelis Degenszajn; 
Dra. Rosangela Oliveira Dias Paz; 
Dra. Abigail Silvestre Torres; 
Alex Fabiano de Toledo; 
Dra. Isaura Isoldi de Mello Castanho e Oliveira; 
Dr. Pedro de Carvalho Pontual e 
Stela da Silva Ferreira.
*Equipe de pesquisa e elaboração do Instituto de Estudos Especiais/
IEE da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).
Tiragem: 30.000 exemplares
Projeto Gráfico: Grafix Dourado & Souza Ltda CNPJ: 02.341.721/0001-90
Impressão: Gráfica Brasil
Coordenação da Publicação: Departamento de Proteção Social Básica.
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Secretaria Nacional de Assistência Social
Esplanada dos Ministérios, Bloco C, 6° andar, sala 641
CEP: 70.054-900 –Brasília – DF 
Telefone 0800 707 2003
http://www.mds.gov.br
Adolescências, juventudes e socioeducativo : concepções e fundamentos / 
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. – 1. ed. – 
Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 
2009.
56 p. (Projovem Adolescente : Serviço Socioeducativo)
ISBN 978-85-60700-20-2
ISBN 978-85-60700-21-9
1. Juventude. 2. Assistência Social. 3. Políticas Públicas. 4. Serviço so-
cioeducativo. 5. Programa Nacional de Inclusão de Jovens – PROJOVEM. 
I. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. II.Título.
PROJOVEM Adolescente
Apresentação 
O tema da juventude ocupa um lugar de destaque na Agenda Social do Governo Federal, cujos objetivos gerais 
são a redução da pobreza e da desigualdade, a erradicação da fome e a promoção da autonomia e da inclusão social das 
famílias brasileiras em situação de vulnerabilidade.
Com igual ênfase política e de maneira complementar ao Plano de Aceleração do Crescimento – PAC, a Agenda 
Social enuncia prioridades e organiza as ações que vêm demonstrando, na prática, ser possível promover o crescimento 
econômico aliado ao desenvolvimento social.
No processo de construção da Agenda Social, sob a coordenação da Secretaria-Geral da Presidência da 
República, os Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, do Trabalho e Emprego – MTE, 
da Educação – MEC, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos – SEDH e a Secretaria Nacional de Juventude 
– SNJ constituíram um Grupo de Trabalho com a tarefa de discutir a integração de programas governamentais 
voltados aos jovens – Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano, Saberes da Terra, Projovem, Consórcio 
Social da Juventude, Juventude Cidadã e Escola de Fábrica. O objetivo foi elaborar uma estratégia que articulasse 
intersetorialmente as políticas públicas e os respectivos programas, conferindo-lhes escala, otimizando ações e 
potencializando resultados.
Como resultado dessa iniciativa, optou-se pela reformulação do Programa Nacional de Inclusão de Jovens – 
Projovem, criado em 2005, ampliando sua faixa etária para o público de 15 a 29 anos e criando quatro modalidades: 
Projovem Adolescente – Serviço Socioeducativo, Projovem Urbano, Projovem Trabalhador e Projovem Campo – 
Saberes da Terra. O novo Projovem foi lançado em setembro de 2007 pelo Presidente da República, Luís Inácio Lula 
da Silva, e posteriormente regulamentado pela Lei nº 11.629, de 10 de junho de 2008.
A intersetorialidade na concepção e implantação do Projovem vai além da sua gestão compartilhada e busca 
alcançar a efetiva integração de programas e ações promovidos por cada um dos ministérios parceiros. Sua lógica visa 
assegurar um atendimento integral e contínuo aos jovens dos 15 aos 29 anos de idade, oferecendo-lhes a possibilidade 
de participação nas diversas modalidades do Programa.
O Projovem Adolescente, coordenado pelo MDS, é voltado para jovens de 15 a 17 anos de famílias bene-
ficiárias do Programa Bolsa Família e jovens vinculados ou egressos de programas e serviços da proteção social 
especial, como o Programa de Combate à Violência e à Exploração Sexual e o Programa de Erradicação do 
Trabalho Infantil – PETI, ou ainda jovens sob medidas de proteção ou socioeducativas previstas no Estatuto da 
Criança e do Adolescente. Como forma de promover e garantir a intersetorialidade na modalidade Projovem 
Adolescente foi constituído um comitê, sob a coordenação do MDS, com representantes dos ministérios e se-
cretarias parceiros, a saber: Ministérios da Cultura, do Esporte, da Saúde, do Meio Ambiente, do Trabalho, da 
Educação, Secretaria Especial de Direitos Humanos, Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade 
Racial e Secretaria Nacional de Juventude.
Um importante avanço na concepção da política de proteção e promoção social para os jovens e suas famílias é o 
aprofundamento da integração entre as transferências de renda e os serviços socioassistenciais. A alteração dos critérios 
de concessão dos benefícios variáveis do Programa Bolsa Família, estendidos às famílias com jovens de 16 e 17 anos que 
frequentam a escola, foi articulada à modalidade Projovem Adolescente, como parte de uma acertada estratégia de pro-
mover a integração das políticas sociais voltadas à juventude, público mais exposto à violência e ao desemprego.
PROJOVEM Adolescente
O Projovem Adolescente – Serviço Socioeducativo confi gura-se, assim, como mais um passo importante na con-
solidação da rede de proteção e promoção social que estamos construindo de forma republicana e pactuada no Brasil. 
Ele é mais um componente do processo de construção do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, implementado 
com a atuação solidária do Governo Federal, de Estados, de Municípios e do Distrito Federal.
Desde a criação do MDS, em janeiro de 2004, temos trabalhado vigorosamente pelo fortalecimento e institucionaliza-
ção das políticas de proteção e promoção social, promovendo a estruturação de uma rede articulada de políticas de Assistência 
Social, de Segurança Alimentar e Nutricional e de Renda de Cidadania. Estamos ainda ampliando e integrando as ações de 
geração de oportunidades para a inclusão produtiva voltada às famílias em situação de pobreza e vulnerabilidade social.
Nosso compromisso é consolidar essas políticas no campo das políticas públicas de garantia de direitos de cidadania, 
regulamentadas com padrões de qualidade, critérios republicanos de alocação de recursos, transparência e controle social.
No Projovem Adolescente, esse compromisso está expresso neste conjunto de publicações. Aqui são apresen-
tados os fundamentos, a concepção, os referenciais e princípios metodológicos estruturantes e norteadores das ações 
integrantes do Projovem Adolescente – Serviço Socioeducativo.
Mais do que superar a fome e a miséria – estabelecendo um patamar mínimo obrigatório de dignidade humana 
– é necessário garantir a todos as oportunidades para desenvolverem plenamente suas potencialidades e capacidades e, 
assim, viverem de forma digna e autônoma. Esse é o propósito que une as pessoas de bem, comprometidas com a jus-
tiça social, que tratam as políticas sociais de forma republicana e suprapartidária, comouma responsabilidade do poder 
público com a melhoria da qualidade de vida de nossos cidadãos, principalmente daqueles historicamente alijados do 
processo de desenvolvimento do País. O investimento que estamos fazendo hoje em nossa juventude seguramente 
trará frutos não apenas para seus benefi ciários diretos, mas para toda a nação brasileira.
Patrus Ananias de Sousa
Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
PROJOVEM Adolescente
O Projovem Adolescente na Política Nacional 
de Assistência Social – PNAS
O Projovem Adolescente – Serviço Socioeducativo integra a Política Nacional de Assistência Social, política pú-
blica de proteção social de caráter universalizante, que se materializa por meio do Sistema Único de Assistência Social – 
SUAS, composto por uma rede articulada e orgânica de serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais. 
A política de assistência social, desenvolvida no âmbito da seguridade social, juntamente com a saúde e a previ-
dência social, organiza-se em proteção social básica (que visa a prevenção de situações de risco por meio do desenvolvi-
mento de potencialidades e aquisições em várias dimensões e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários) 
e em proteção social especial (que visa a proteção a indivíduos e famílias em situação de risco pessoal e social, em 
decorrência de abandono, maus-tratos, exploração sexual, envolvimento com atos infracionais, trabalho infantil, entre 
outras). A intervenção de cada forma de proteção, ou de ambas, depende das necessidades dos contextos de prevenção 
ou da ocorrência de riscos e da complexidade dos danos sociais e do comprometimento do direito à vida e à sobrevi-
vência que envolva indivíduos, famílias ou grupos sociais.
Na Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004), a concepção de proteção social amplia o campo da 
assistência social pelo signifi cado preventivo incluído na ideia de proteção. “Estar protegido signifi ca ter forças próprias 
ou de terceiros, que impeçam que alguma agressão / precarização / privação venha a ocorrer, deteriorando uma dada 
condição.” (SPOSATI, 2007, p. 17). 
A PNAS, nessa perspectiva, organiza sua rede socioassistencial não mais em função de públicos, mas de seguran-
ças que respondam às necessidades e assegurem direito, dentre os quais:
(a) segurança de renda, cujo objetivo é garantir que todo cidadão brasileiro, independentemente de ter vín-
culos ou não com trabalho, tenha acesso à provisão material necessária para suprimento de suas necessidades básicas, 
por meio do acesso aos benefícios socioassistenciais e a outras formas de transferência de renda. A segurança de renda 
também se materializa por meio da realização de projetos de enfrentamento à pobreza; 
(b) segurança de acolhida, que visa garantir o direito das pessoas ao atendimento, por profi ssional qualifi cado, para 
obter informações sobre direitos e como acessá-los. Em casos de abandono, fragilização ou perda de vínculos familiares ou 
em situações que impeçam a convivência e a permanência na família, os serviços de acolhida operam na atenção às necessi-
dades humanas de abrigo, reforço (ou construção) de vínculos familiares, proteção à vida, alimentação e vestuário;
(c) segurança do convívio, que tem por foco a garantia do direito constitucional à convivência familiar e à 
proteção à família, com vistas ao enfrentamento de situações de isolamento social, enfraquecimento ou rompimento 
de vínculos familiares e comunitários, situações discriminatórias e estigmatizantes, por meio de ações centradas no 
fortalecimento da autoestima, dos laços de solidariedade e dos sentimentos de pertença e coletividade. Alguns autores1 
se referem às relações de convivência como uma rede de apoios de sociabilidades, capaz de oferecer um ambiente edu-
cativo e emocionalmente seguro às pessoas em sua convivência social.
O Projovem Adolescente articula um conjunto de ações dos dois âmbitos da proteção social – básica e especial – e 
busca desenvolver seguranças sociais de acolhida, convívio familiar e comunitário. Destina-se a jovens de famílias em condi-
1. Entre os quais, Aldaíza Sposati (2007) e Maria do Carmo Brant de Carvalho (2003).
PROJOVEM Adolescente
ções de extrema pobreza e àqueles marcados por vivências resultantes de diferentes circunstâncias de riscos e vulnerabilidades 
sociais – retirados de situações de trabalho infantil, abuso e exploração sexual, violência doméstica, abandono, negligência e 
maus-tratos – e alguns em situação de confl ito com a lei, cumprindo medidas socioeducativas em meio aberto ou egressos 
de medida de internação – Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.
De forma preventiva e potencializadora do papel de referência e contrarreferência do Centro de Referência de 
Assistência Social – CRAS, o Projovem Adolescente visa contribuir para fortalecer as condições de autonomia das 
famílias e dos jovens, para que possam gerir seu processo de segurança social.
O Projovem Adolescente, como serviço socioeducativo, apoia-se em dois importantes pilares do SUAS:
1) matricialidade sociofamiliar: que considera a capacidade protetiva e socializadora da família (seja ela bioló-
gica ou construída) em relação aos jovens em seus processos peculiares de desenvolvimento, assim como leva em conta 
a necessidade de que as políticas públicas compreendam a família como portadora de direitos e de proteção do Estado, 
bem como assegurem o seu papel de responsável pelo desenvolvimento dos jovens e garantam o exercício pleno de 
suas funções sociais;
2) territorialização: o serviço deve ser ofertado próximo à moradia dos jovens e suas famílias, no território de 
abrangência do CRAS. Defi ne-se aí um universo cultural e histórico e um conjunto de relações e interrelações a serem 
considerados, bem como situações a serem objeto da ação articulada das diversas políticas públicas.
Outro fato a destacar é a intersetorialidade dos serviços socioassistenciais que diz respeito à: 
a) oferta tanto do Serviço Socioeducativo do Projovem Adolescente, como de outras políticas públicas bási-
cas (Saúde, Educação, Meio Ambiente, Assistência Social, Trabalho, Esporte e Lazer, Cultura, Direitos Humanos e 
Segurança Alimentar);
b) socialização e democratização do acesso a esses serviços e benefícios; e 
c) articulação e funcionamento intersetorial dos serviços, como condições para sua universalidade de acesso e de 
ampliação dos direitos de cidadania das pessoas. 
O conjunto de necessidades decorrentes da pobreza e dos processos de exclusão social e vulnerabilidades sociais, 
aliado às necessidades peculiares do desenvolvimento dos jovens em seu ciclo de vida, exigem ações que vão além da 
transferência de renda e bens materiais. Trata-se de associar serviços e benefícios que permitam a prevenção de riscos 
e contribuam para o reforço da autoestima dos jovens, o desenvolvimento de sua autonomia e capacidade de sobrevi-
vência futura, bem como para a ampliação de seu acesso e usufruto à cultura e aos bens sociais.
As ações de proteção social que viabilizam um conjunto de bens sociais, serviços e benefícios não-materiais 
situam-se no arco dos serviços socioeducativos que se constituem no caráter principal do Projovem Adolescente e 
estarão refl etidas no Traçado Metodológico.
O Serviço Socioeducativo do Projovem Adolescente integra-se a outras estratégias de ação voltadas para as famí-
lias, tais como o Programa Bolsa Família – PBF e o Serviço de Proteção e Atenção Integral à Família – PAIF, imple-
mentados no Centro de Referência de Assistência Social – CRAS, e aos programas e serviços de proteção social especial 
executados pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS, voltados aos jovens, às famílias e 
PROJOVEM Adolescente
à comunidade. Essa integração se dá de forma complementar e não substitutiva, de modo a proporcionaralternativas 
emancipatórias para o enfrentamento da vulnerabilidade social decorrente das condições de pobreza e de desigualdades 
sociais, as quais afl igem milhares de famílias nas diversas regiões do Brasil.
Decerto os problemas sociais estão arraigados profundamente na vida dos homens e mulheres desse país. São 
problemas complexos e de difícil solução. Atuar em escala e preventivamente junto à juventude, abrindo-lhe oportu-
nidades de desenvolvimento humano, inserção social e participação cidadã, como propõe o Projovem Adolescente, é 
um passo importante que se dá rumo à sociedade que almejamos construir.
Secretaria Nacional de Assistência Social
PROJOVEM Adolescente
Sumário
1. Juventudes, adolescências ........................................................................................................................................................15
1.1. Jovens e juventudes ...................................................................................................................................................15
1.1.1 Coletivos juvenis e redes de socialidades ..................................................................................................17
1.1.2 Nomadismos e gregarismos ........................................................................................................................18
1.1.3 Inclusão produtiva/mundo do trabalho ......................................................................................................19
1.1.4 A criminalização e o estigma da violência .................................................................................................20
1.1.5 Temporalidades ............................................................................................................................................21
1.1.6 Tensões geracionais .....................................................................................................................................21
1.2. Adolescentes, adolescências .....................................................................................................................................22
2. Políticas públicas, adolescências e juventudes: a concretização do direito..........................................................................31
2.1 O direito de jovens e adolescentes à assistência social ............................................................................................35
3. O socioeducativo em questão: formas de potencializar a convivência e a participação .....................................................41
3.1 O socioeducativo como direito à assistência social .................................................................................................47
4. Bibliografi a ................................................................................................................................................................................50
PROJOVEM Adolescente
Introdução
É preciso compreender o presente não apenas como presente de limitações, mas como 
presente de possibilidades. (PAULO FREIRE)
A Política Nacional de Assistência Social – PNAS/2004 – vive um presente de intensa ebulição. O processo 
de defi nição de um novo arcabouço político-institucional que assegure a ação pública comprometida com direi-
tos socioassistenciais tem requerido debates constantes, revisões de práticas historicamente instaladas e defi nição 
de pactos de corresponsabilidade. Tal dinâmica tem oferecido inúmeras possibilidades e desafi os que requerem 
um alinhamento de todos os sujeitos envolvidos, de modo a construir coletivamente um outro patamar de aten-
ção às necessidades sociais. 
O convite agora é para o diálogo entre a Política Nacional de Assistência Social e a proposta de fi rmar-se uma 
Política Nacional para a Juventude que articule diferentes setores e distintas áreas do saber. Esta interlocução deve ser 
pautada por uma compreensão dos jovens como sujeitos de direitos, o que requer posturas que favoreçam e estimulem 
o protagonismo juvenil, valorizem saberes adquiridos, respeitem a diversidade de culturas e valores; que assegurem, 
enfi m, o acesso a políticas de proteção social com a participação ativa de adolescentes e jovens em todo o ciclo de seu 
desenvolvimento. 
O debate sobre a Política Nacional para a Juventude é igualmente recente e avançou signifi cativamente no Brasil 
a partir da instalação, em 2004, do grupo interministerial responsável por estabelecer um diagnóstico sobre a situação 
da juventude brasileira. Tal grupo gerou a criação do Conselho Nacional de Juventude e, mais recentemente, desen-
cadeou a unifi cação das iniciativas do Governo Federal para a Juventude por meio do Programa Nacional de Inclusão 
de Jovens – PROJOVEM.
Pois bem, é a partir desse presente repleto de desafi os e possibilidades que o texto a seguir busca oferecer sub-
sídios para que os gestores e profi ssionais da assistência social, no âmbito municipal, possam implantar o Projovem 
Adolescente – Serviço Socioeducativo, em consonância com as diretrizes nacionais do Sistema Único de Assistência 
Social – SUAS e utilizando-se do conhecimento acumulado acerca das juventudes e adolescências no Brasil, em toda 
a sua riqueza e diversidades. 
Neste texto, o leitor encontrará uma refl exão conceitual que busca favorecer a compreensão acerca de quem 
são os jovens e adolescentes brasileiros, as articulações entre a Política Nacional de Juventude e a Política Nacional de 
Assistência Social e as dimensões do trabalho socioeducativo, que devem orientar o trabalho com o coletivo juvenil. 
Para favorecer a aproximação de elementos conceituais importantes para nortear a atenção a jovens e adolescen-
tes na Assistência Social, a primeira refl exão proposta diz respeito a melhor compreender: de que jovens e adolescentes 
falamos? Com quais conceitos de juventude e adolescente trabalhamos? 
A particularidade do Projovem Adolescente requer a compreensão tanto de juventudes quanto adolescências, 
reconhecendo-se a heterogeneidade de interesses, expectativas e desejos entre adolescentes de 15 e de 17 anos. Aqui se 
inserem os debates acerca da diversidade de experiências e presenças dos coletivos juvenis brasileiros nas esferas privada 
e pública, que conduzem a vivências cotidianas distintas nos diversos territórios de moradia e de vida em que se situ-
am. O desafi o maior é aprofundar o conhecimento das singularidades e das universalidades que os distinguem, para 
superar preconceitos e mitos e colaborar para promover sua inclusão social. 
PROJOVEM Adolescente
O debate que se segue diz respeito à identifi cação da responsabilidade das políticas sociais públicas na atenção 
a jovens e adolescentes. A refl exão busca explicitar pontos de interseção nos marcos regulatórios das políticas sociais 
brasileiras, pós Constituição de 1988, destacando-se os compromissos democraticamente fi rmados pelos entes federa-
dos e por diferentes instâncias político-institucionais, que requerem ações efetivas para a consolidação dos direitos ali 
expressos, com destaque especial para os direitos de jovens e adolescentes à proteção social da Assistência Social. 
O texto se encerra com as refl exões acerca do trabalho socioeducativo, comprometido com a promoção e o 
favorecimento da autonomia, da participação, do convívio com a diferença, a valorização da liberdade e da criação, 
dimensões essas que sejam capazes de provocar a reinvenção dos modos de compreender e lidar com jovens e adoles-
centes no âmbito da Política de Assistência Social. 
É a partir dessa concepção de que é possível a reinvenção do trabalho socioeducativo com jovens e adolescentes que 
são apresentados, no Traçado Metodológico que integra este material de orientação, as diretrizes e modos de funciona-
mento do Projovem Adolescente. O objetivo, portanto, é oferecer todos os elementos necessáriospara que, seguindo as 
diretrizes do Sistema Único de Assistência Social, o serviço socioeducativo seja implantado em todo o território nacional 
de forma a assegurar sua unidade conceitual e metodológica, respeitadas as diversidades regionais e locais. 
A ênfase presente em todo o texto, e que será intencionalmente reiterada por diversas vezes, diz respeito a superar 
práticas reiteradoras de subalternidade e de preconceitos contra jovens e adolescentes, substituindo-as por aquelas que 
estimulem e favoreçam a presença e a voz, o respeito às diferenças e o exercício da autonomia. O convite é, pois, para 
que transformemos nosso tempo presente em um tempo de mudanças, de refl exão sobre os caminhos percorridos e 
a projeção de novos rumos, em uma travessia que possibilite novos “olhares e fazeres” no campo das políticas para a 
juventude: 
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do 
nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o 
tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos fi cado, para sempre, à margem de nós 
mesmos. (Fernando Pessoa)
PROJOVEM Adolescente 15
1. JUVENTUDES, ADOLESCÊNCIAS2
1.1. JOVENS E JUVENTUDES3
A cultura de massa dá forma à promoção dos valores juvenis e assimila uma parte das experiências 
adolescentes. Sua máxima é “sejam belos, sejam amorosos, sejam jovens”. Historicamente, ela acelera o vir-
a-ser, ele mesmo acelerado de uma civilização. Sociologicamente, ela contribui para o rejuvenescimento da 
sociedade. Antropologicamente, ela prolonga a infância e a juventude junto ao adulto. Metafi sicamente, 
ela é um protesto ilimitado contra o mal irremediável da velhice (EDGAR MORIN).
A experiência juvenil ou os modos de ser e de viver de jovens no Brasil, América Latina e em muitas partes do 
mundo é complexa e encontra-se atravessada por grandes temas e formas de inserção heterogêneas e implica, para 
muitos, a vivência cotidiana de dolorosas e por vezes intransponíveis situações de exclusão.
De que jovens falamos? Para responder a esta indagação propomos um caminho de refl exão que nos permita 
“pensar juntos” sobre as condições de vida dos jovens referidos ao Projovem Adolescente.
Parte-se da premissa de que ser jovem (BORELLI; ROCHA; OLIVEIRA, 2007) signifi ca responder por inser-
ções singulares e experimentar, de forma confl ituosa: a hierarquia de classes; as desigualdades sociais; a maior ou menor 
exposição à violência e os limites entre vida e morte; as condições de gênero, etnia, nível de escolaridade, qualidade de 
moradia, pertença familiar; a diversidade cultural; o acesso ou a exclusão ao consumo; a participação política, cultural, 
comunitária; o protagonismo juvenil.
Tais singularidades expressam-se nas próprias diversidades que marcam a condição juvenil. Publicação da pes-
quisa IBASE/PÓLIS (2005) aponta que dos 34 milhões de jovens existentes no Brasil, 28,2 milhões (83%) vivem nas 
zonas urbanas e 5,9 milhões (17%) na zona rural (IBGE, 2004). Publicação do MEC/Ação Educativa (2007), por sua 
vez, mostra que no conjunto da população não alfabetizada no Brasil (estimado em 16 milhões de pessoas no Censo 
de 2000), os jovens aparecem como segmento específi co que chama a atenção, com um total aproximado de 3 milhões 
(IBGE, Censo 2000). Deste total de jovens não alfabetizados, mais da metade encontra-se na região nordeste (60 em 
cada 100 jovens), a maioria vive na zona rural (16 em cada 100), enquanto nas cidades, a proporção é de 7 para 100. 
As desigualdades também se evidenciam em relação ao gênero e aos diferentes grupos étnicos/raciais: a maior parte dos 
não alfabetizados é composta por rapazes e moças negras.
Essa tendência permite conceber jovens e juventudes no plural e construir uma refl exão que seja capaz de res-
ponder por este ou aquele coletivo juvenil particular, situado, que constrói relações dentro de seus próprios territórios: 
a cidade, o bairro, a rua, a família, a escola, a igreja, os diversos polos de ação das políticas públicas, organizações não-
governamentais e outras instituições que garantem aos jovens uma designação local, um lugar de origem e de referên-
cia para o desdobramento de suas trajetórias de vida. Alguns autores enfatizam que esta singularidade juvenil estaria 
diretamente conectada às condições de pertença a esta ou aquela classe social:
2. O perfil do público alvo do Projovem Adolescente, cuja faixa etária varia entre 15 e 17 anos, constitui-se em um segmento híbrido, mesclado 
na fronteira entre a adolescência e a juventude. Deste pressuposto resulta tanto uma concepção voltada para os jovens e as juventudes, quanto 
outra, referida aos adolescentes e adolescências.
3. Para uma conceituação sobre jovens/juventude ver: BORELLI, Silvia Helena Simões; ROCHA, Rosamaria Luiza de Melo; OLIVEIRA, Rita Alves 
et alii. Jovens na cena metropolitana: percepções, narrativas e modos de comunicação. São Paulo: Paulinas, 2009 (no prelo).
PROJOVEM Adolescente16
Juventude é um conceito vazio de conteúdo fora de seu contexto histórico e sociocultu-
ral (...) O conceito de juventude se inscreve nas características fundamentais da classe social 
de pertença (...) O estudo dos fenômenos juvenis, portanto, só será entendido no marco geral 
das grandes mudanças socioeconômicas e culturais (VALENZUELA, 1998, p. 38-39).
Entretanto, de forma a somar e não excluir, é possível pensar jovens e juventudes não apenas pelas marcas da dife-
rença, mas também pela percepção de que há alguns substratos universais (MORIN, 1984) – que podem ser avaliados 
como positivos ou negativos – identifi cáveis em jovens e coletivos juvenis com visibilidade em todo o mundo: enfrentam 
confl itos intergeracionais; inventam e se comunicam por meio de linguagens que lhes são próprias – e isto parece ainda 
mais evidente no uso das novas tecnologias, móveis e interativas; assumem certo tom de rebeldia, heroísmo e gosto pela 
aventura; aderem ao movimento, ao jogo, às intensas emoções; manifestam forte ligação com o presente – aqui e agora 
–, certa difi culdade em equacionar o passado – nem sempre as lembranças são boas – e alguma relutância em projetar 
o futuro – há um tanto de vazio na espera; valorizam o novo e a novidade e tendem a desconsiderar a experiência – em 
especial, o saber e o conhecimento acumulado pelos mais velhos; buscam a autorrealização, exaltam a vida privada, o 
consumo e os ideais de beleza, amor e felicidade (BORELLI; ROCHA; OLIVEIRA, 2007).
Oscilam entre o nomadismo – ganhar a rua, atravessar a cidade, conhecer o mundo para além das fronteiras 
territoriais – e o gregarismo – voltar para casa, buscar refúgio e segurança, reconstruir redes de sociabilidade; desfrutam 
de alguns gostos culturais e estilos de vida semelhantes no oriente e no ocidente, nos centros e nas periferias das gran-
des metrópoles, em alguns agrupamentos indígenas e coletivos autorreferidos etnicamente: a música, alguns itens de 
vestimenta – como o tênis, por exemplo –, os adereços e acessórios, o uso – ou o desejo de usar – das novas tecnologias 
são capazes de fornecer pistas interessantes para a construção destas cartografi as de perfi l mais universalizante.
Nesse sentido, as alternativas propostas – jovens e juventudes ao mesmo tempo como referências singulares e 
universais – devem dialogar entre si de forma a evitar a exclusão ou correr o risco de compreender a juventude apenas 
como “etapa, ponte, momento sem consistência ou identidade reduzido a uma mera transição entre grupos de idade” 
(MARTÍN-BARBERO, 1998, p. 23).
Vale a pena esclarecer que, quando o conceito de identidade é aqui acionado, ele não supõe, de forma alguma, 
qualquer conotação de homogeneidade; pelo contrário, reforça a heterogeneidade, a diversidade cultural e a existên-
cia de múltiplas juventudes particulares:
Em nenhuma parte do mundo a juventude representa um bloco homogêneo capaz de 
responderpor um conjunto de categorias fi xas (...) [Os jovens] trabalham, vão à escola, abraçam 
algumas causas, mas os referenciais identitários não passam pela fábrica, pela escola, pelo par-
tido. A identidade está em outra parte. São identidades móveis, efêmeras, mutantes, capazes de 
respostas ágeis e, por vezes, surpreendentemente comprometidas (REGUILLO, 1988, p. 58).
O que se reivindica do ponto de vista conceitual é que os jovens possam emergir não pela negação, pelo “não ser” 
– criança ou adulto – mas por um estatuto afi rmativo que procure dar conta daquilo que realmente representam ou, em 
outras palavras, da “emergência da juventude como ator social, com estatuto próprio, sensibilidade e expressões próprias, 
trânsitos urbanos, apropriações e ressignifi cações” (CUBIDES, TOSCANO e VALDERRAMA, 1998:X).
Sintetizando este ponto: é fundamental a perspectiva universal e também é imprescindível a compreensão sobre 
o caráter singular destas juventudes no plural: o que podemos assumir é que os jovens são, ao mesmo tempo, universais 
e singulares e que vivem em situações de fortes tensões entre o seu mundo e o mundo dos outros; mundo de adultos 
PROJOVEM Adolescente 17
organizado por lógicas institucionais que nem sempre conseguem incorporar outras sensibilidades, novas formas de 
relacionamentos, conhecimento, experimentação.
Há um dado interessante a ser considerado e que pode nos ajudar a estabelecer a importância e o signifi cado de 
ser jovem no mundo de hoje. A “juvenilização e longevidade juvenil” tornaram-se, historicamente, princípios marcan-
tes na constituição de um modelo de sociedade moderna. E esse modelo não diz respeito apenas a jovens instituídos 
em faixas etárias ou situados pelo recorte da geração; ele permite o vazamento das fronteiras:
O novo modelo (...) é o do homem e da mulher que não querem envelhecer que querem fi car 
sempre jovens (...) Igualmente, o tema da juventude não concerne apenas aos jovens, mas também 
àqueles que envelhecem (...) O adulto juvenil de trinta, quarenta, cinquenta, sessenta anos (...) até 
as portas da morte, com a angústia da morte que confere certa febre ao presente (MORIN, 1984, 
p. 152-153).
No mercado de bens simbólicos ser jovem é ter prestígio; os que emanam ‘juventude’ 
têm alta cotação (MARGULIS; URRESTI, 1998, p. 5).
Os jovens aparecem enquanto um coletivo singular se colocados, por exemplo, em contraposição às gerações que 
os antecedem. Dialogam com tradições e modelos mais conservadores de conduta e percepção – lógicas institucionais e 
familiares; educação ofi cial e religiosa que, inúmeras vezes, recusam as práticas e os saberes cotidianos, criando tensões 
e afastamentos; mercado de bens simbólicos que os transforma em consumidores, ora incluindo, ora excluindo; mas 
introjetam, também, outras formas de sensibilidade, adquiridas na relação com a cultura moderna, o consumo cultural 
e a cultura das mídias e, em especial, hoje em dia, na forma como se apropriam dos recursos resultantes de suas rela-
ções, mesmo que eventuais, com as novas tecnologias. Esse processo não se dá por exclusão entre tradições e rupturas, 
mas por confl ituosas interações capazes de gerar tensões, mas também sensórios e sensibilidades bastante complexos. É 
importante ressaltar que estas tensões entre modelos tradicionais e condutas transformadoras podem ser observadas, ao 
mesmo tempo – mesmo que de forma diversifi cada e em maior ou menor intensidade –, em jovens que habitam gran-
des centros urbanos ou cidades de menor porte, assim como em jovens que vivem em comunidades indígenas, distantes 
dos pólos urbanizados (VITTI, 2005).
1.1.1 Coletivos juvenis e redes de socialidades
É necessário considerar, na compreensão e avaliação dos coletivos juvenis e na implantação de modalidades 
de serviços socioeducativos como o Projovem Adolescente, que alguns jovens, em especial aqueles que vivem em 
grandes cidades, articulam-se preferencialmente em redes de “socialidades”, buscando formas mais autônomas e, 
por vezes, autogestionárias, de “estar juntos”; o objetivo aparente na formação destes coletivos é o de questionar 
relações sociais institucionalmente constituídas e imprimir uma marca de independência em relação às organi-
zações formais da sociedade. Enquanto muitas das instituições sociais privilegiam o que tem sido conceituado 
como “sociabilidades” – “indivíduos e suas associações contratuais” –, a “socialidade vai acentuar as dimensões 
afetiva e sensível, onde se cristalizam as agregações de toda ordem, tênues, efêmeras, de contornos indefi nidos” 
(MAFFESOLI, 1987, p. 101-102). 
Por meio das redes de socialidade – e nem sempre articulados a projetos institucionais –, alguns coletivos 
juvenis se tornam atores sociais, participam e intervêm em processos dentro de suas próprias comunidades, assim 
como nos espaços públicos das cidades em que residem. Alteram e transformam as estruturas e características ori-
PROJOVEM Adolescente18
ginais dos cenários urbanos pela ação da música, teatro, leituras e narrativas, dança e arte popular urbana, entre 
elas: grafi tes, pichações, stickers4 (OLIVEIRA, 2006); intervêm em movimentos voltados para a ecologia, o meio 
ambiente, as novas ordens planetárias, entre outras alternativas de participação5 que adquirem um caráter político 
por sua intencionalidade e pelas formas por meio das quais se apropriam dos espaços públicos transformando-os, 
mesmo que efemeramente, em “lugares seus”.
Dessa forma, seria interessante atentar para os novos sentidos que se pode atribuir ao que, tradicionalmente, considera-
mos participação ou mesmo participação política: observa-se a emergência de alternativas de participação, novas “artes de fazer” 
(CERTEAU, 1994) e conceber o político e a política, em propostas assumidas, inúmeras vezes, por estes coletivos juvenis.
1.1.2 Nomadismos e gregarismos
Um dos elementos que se sobressai na caracterização do perfi l da juventude, em tempos modernos ou pós-modernos, 
diz respeito a sua condição de mobilidade ou, em outras palavras, ao nomadismo. O nomadismo tanto pode ser entendido 
em seu sentido literal – deslocamento espacial e geográfi co ou mesmo “des-centramento, des-espacialização” (MARTÍN-
BARBERO, 1997) – como também o signifi cado se amplia em direção a uma mobilidade temporal – viver tempos de 
passagem, de alternância momentânea, de simultaneidades; ou, ainda, supor a existência de um nomadismo de percepção 
– absorver fl uxos, fi ltrar, aparar, assimilar, equacionar os inúmeros “chocs” (BENJAMIN, 1989, p. 109-113) que resultam de 
uma vida cotidiana tensa e intensa permeada pela relação com a cidade e também conectada a “velhas” e “novas” mídias.
É interessante observar que mesmo jovens inseridos em outros lugares que não as grandes cidades, experimen-
tam esta mobilidade temporal e espacial, propiciada, por exemplo, pelo contato com a televisão ou mesmo com a 
Internet, quando acessível. Esta relação com as mídias permite que o distante se torne próximo, inserido em seu coti-
diano doméstico e familiar, e que a informação possa ser apropriada quase que em tempo real. 
O nomadismo torna-se mais claro quando compreendemos que os jovens se percebem situados em um mundo “estra-
nho/estrangeiro” (MAFFESOLI, 2000, p. 152-153) e que sua inserção se dá de forma contraditória: ora respondem de ma-
neira organizada e programada, acatando propostas originadas das instituições – Estado, família, igreja, escola –, atuando no 
contexto familiar e comunitário, solidifi cando a pertença e os laços identitários e reforçando, portanto, sua condição gregária 
– viver em grupo e buscar no território o refúgio e a proteção que a família, a igreja, a escola e os projetos de políticas públicas 
podem oferecer; ora, contudo, replicam, de tempos em tempos, de forma “insidiosa, desordenada e insolente” expressando 
a recusa às imposições de um contexto institucional que consideram “envelhecido” e deledesejam se distanciar. Os jovens, 
nessa perspectiva, não estariam propriamente posicionados a favor ou contra as instituições, mas defi nindo outros lugares por 
onde “escapar”, confi ando menos nas instituições ofi ciais e mais em mecanismos próprios, de auto-organização. Nesse sentido, 
pode-se afi rmar que os jovens são “um objeto nômade, de contornos difusos” (MARTÍN-BARBERO, 1998, p. 22).
São nômades porque, com “rodinhas nos pés”, tomam conta da cidade, numa circulação transversal e desor-
denada, que explode os limites da espacialidade urbana. São nômades na percepção sobre diferentes temporalidades 
e portadores de uma sensibilidade, que Simmel (1973, p. 11) denominaria “vida mental”, capaz de dar conta, por 
simultaneidade, de múltiplos infl uxos, como sons, imagens, palavras: ouvem música, ao mesmo tempo em que assis-
tem a TV, falam ao celular, estudam e navegam pela Internet. O “nomadismo de percepção” caracteriza um tipo de 
atenção difusa, capaz de equacionar um grande número de fl uxos e atividades, em que se relacionam práticas culturais 
tradicionais com outras, que envolvem a televisão, as novas tecnologias e as mídias digitalizadas.
4. Os stickers são pequenos adesivos com imagens produzidas por jovens em diferentes centros urbanos; são em geral colados em postes, 
placas de sinalização, muros e paredes, como formas de apropriação e intervenção urbanas.
5. As alternativas de participação dos coletivos juvenis serão analisadas mais adiante no contexto da reflexão sobre o socioeducativo.
PROJOVEM Adolescente 19
São nômades também em relação ao consumo e aos estilos de vida, às expressões da religiosidade e aos seus po-
sicionamentos diante da vida, da cultura, da política, das instituições em geral.
São nômades na busca por pertença fora do locus de origem e nas cisões dentro do contexto familiar. Nômades nas ruptu-
ras com a escolaridade e com a escola ofi cial, por vezes calcada em normas autoritárias, em um corpo de valores individualistas e 
na exclusão do “outro”, do diferente do seu rol de referências (CUBIDES, TOSCANO e VALDERRAMA. 1998:IX).
É importante considerar que as relações entre nomadismo e gregarismo deveriam ser avaliadas, de forma di-
versifi cada, dentro do próprio segmento de jovens, entre 15 e 17 anos, público alvo do Projovem Adolescente. A 
possibilidade de ser mais ou menos nômade está proporcionalmente vinculada à faixa etária, aos locais de moradia: os 
meninos e meninas mais novos apresentam – por razões óbvias –, maior difi culdade em circular pela cidade, ganhar o 
mundo; ainda estão na dependência das famílias, quase não saem à noite, e o acesso ao “mundo de fora” é precário e o 
nomadismo se transforma em desejo, em horizonte de espera. Já os próximos da faixa etária dos 17 anos circulam mais, 
e são depositários de certa autonomia que lhes permite ganhar a cidade e conhecer lugares “estranhos e distantes”: 
lugares de ir, circular, encontrar pessoas, fi car; lugares onde as coisas acontecem! Meninos e meninas que vivem em 
regiões com carência de infraestrutura restam mais confi nados em seu bairro de origem e, consequentemente, restritos 
aos precários, e por vezes inexistentes, equipamentos culturais e espaços de lazer.
É preciso considerar, ainda, que a condição de nomadismo se expressa pela diversidade dos contextos territoriais, 
das heterogeneidades dos centros urbanos e as dos vínculos familiares. 
O nomadismo é um tema de extrema importância a ser considerado nas propostas das políticas públicas e 
merece uma atenção especial por parte dos gestores: há uma mudança de sensibilidade em curso e temos que pensar 
em saídas e alternativas capazes de dar conta destes desafi os. Precisamos, de certa forma, inventar abordagens, atentar 
para os novos cenários e dialogar com esses jovens de forma permeável, evitando negar seus modos de ser e de viver e 
acreditando em suas propostas de participação.
1.1.3 Inclusão produtiva/mundo do trabalho
É possível detectar uma tendência em várias partes do mundo: os jovens, principalmente os de poder aquisitivo 
e capital cultural elevados, têm permanecido na casa dos pais por mais tempo do que as gerações anteriores. Têm a 
oportunidade de prolongar o período de estudos, demoram a ingressar no mercado de trabalho6, relutam em assumir 
os compromissos e responsabilidades constitutivas do mundo adulto (relações afetivas mais duradouras, fi lhos) e aca-
bam por usufruir uma série de vantagens inerentes a uma condição de vida dos setores sociais médios e altos7.
Entre os jovens de classes populares, entretanto, a continuidade dos estudos e o adiamento da entrada no mercado de 
trabalho formal ou informal passam a ser um horizonte de expectativas e não propriamente uma condição de vida concreta, 
passível de realização. Sabemos que o trabalho, para esses jovens e suas famílias, insere-se na vida cotidiana como uma neces-
sidade, nem sempre acessível, e que a perspectiva de continuar estudando é desejável, mas ainda deveras remota8.
6. Segundo IBASE/PÓLIS (2005), dos jovens (15-24 anos) que informaram não estar trabalhando, 62,9% afirmaram estar à procura de trabalho. Se 
for considerado, entretanto, o segmento social desses jovens observa-se que há uma significativa discrepância entre os mais ricos e os mais pobres. 
Enquanto os primeiros estendem sua entrada no mercado de trabalho, os últimos procuram acelerar esta experiência. Assim, 69,5% dos jovens das 
classes D/E e 65,6% da classe C estavam procurando trabalho, enquanto 49,6% das classes A/B se encontravam na mesma situação. 
7. O Dossiê Universo Jovem III, MTV (2005), revela que 71% dos jovens entre 15 a 30 anos têm pouca ou nenhuma vontade de sair da casa 
dos pais, apesar do índice já ter sido maior em 1999 (82%). O mesmo estudo ainda indica que 23% dos jovens da amostra estão casados e/
ou vivem com companheiro(a), sendo que esse número cai para 7% se for considerada apenas a classe A.
8. Segundo a mesma pesquisa IBASE/PÓLIS, e considerando a faixa etária, 60,6% dos jovens que têm entre 18 e 20 anos e 47,7% dos que 
têm 21-24 anos de idade não trabalham. Dos jovens entre 15-17 anos, idade destinada à escolarização, 22,2% estavam trabalhando.
PROJOVEM Adolescente20
Os jovens mais pobres falam das difi culdades que enfrentam para acessar o sistema educativo e permanecer até a 
conclusão da educação básica. Reivindicam uma formação integral que contemple uma formação cidadã e uma forma-
ção para o trabalho. Ainda segundo a pesquisa IBASE/POLIS (2005) o trabalho (ou sua falta) aparece como referência 
dominante em suas vidas sendo que a ênfase dos jovens está na necessidade de ampliação da oferta de trabalho, da for-
mação profi ssional e de estágios remunerados. Os depoimentos apontam para a necessidade de uma compatibilização 
entre a qualifi cação profi ssional, o primeiro emprego e a garantia da continuidade dos estudos, por meio de horários 
mais fl exíveis e organogramas educacionais mais abertos.
Entre as políticas recomendadas em relação ao trabalho destacam-se:
• promover garantias para que os jovens estudem e não precisem trabalhar antes dos 16 anos;
• garantir que o trabalho dos adolescentes ocorra estritamente nas condições defi nidas pela Lei do Aprendiz; 
• ampliar o debate sobre mundo do trabalho nas escolas, incluindo este tema nos currículos do ensino 
médio, nas redes e nos fóruns juvenis;
• fomentar a educação profi ssional como formação complementar à educação básica;
• incentivar política nacional de qualifi cação profi ssional, articulada a diversos ministérios, empresas, sistema 
S, ONGs etc. que considere as especifi cidades das demandas de públicos distintos, tais como jovens do campo 
e das cidades, de comunidades tradicionais como quilombolas e indígenas e jovens com defi ciência.
1.1.4 A criminalização e o estigma da violência
Dentre os diversos aspectos que se apresentam à análise desta problemática, chama a atenção, ao confrontarmospercepções correntes, representações midiáticas e as próprias narrativas juvenis, a tensão entre protagonismo e vitimi-
zação (ROCHA, 1999). Assim, embora as estatísticas brasileiras apontem claramente para a quantitativa vitimização 
de homens jovens por atos de violência criminal, cristalizou-se um imaginário social no qual se associa o segmento 
juvenil – em especial as classes populares – à condição de protagonistas da violência e, mais ainda, à constituição de 
uma ameaça indiscriminada a toda a sociedade. A criminalização da juventude toma a dimensão de verdadeiro estigma 
social. Perniciosamente, pode-se identifi car, em caminho complementar, a adoção por alguns jovens desta atribuição 
estigmatizadora como estratégia de afi rmação de identidades assumidamente desviantes.
A disseminação da violência, em todas as suas expressões, tem exigido do poder público perseguir novos rumos 
que possam dar visibilidade à questão, rompendo o ciclo do silêncio e do medo:
(...) a violência e o medo combinam-se a processos de mudança social nas cidades contemporâ-
neas, gerando novas formas de segregação espacial e discriminação social (CALDEIRA, 2000, p. 9).
O trabalho social cotidiano entra em contato com as vítimas e os praticantes de violência em suas complexas mani-
festações, sem, frequentemente, estar atento a isso, preocupando-se apenas em atender ao imediato. Muitas vezes se furta 
a pesquisar as manifestações de violência, por medo ou por difi culdade objetiva de trabalhar com a questão, até porque as 
instituições formadoras nem sempre têm a preocupação de trazer o debate sobre a violência para o interior de seus currí-
culos e as instituições sociais nem sempre aportam a capacitação contínua necessária. A violência aparece, por vezes, como 
exterior e alheia ao fazer profi ssional, ocupando pouco espaço nas refl exões e estudos dos técnicos do social.
PROJOVEM Adolescente 21
Pesquisas sobre homicídios na cidade de São Paulo (PAVEZ; OLIVEIRA, 1999) têm mostrado que a maioria de suas 
vítimas começou a apresentar problemas de comportamento e conduta social na adolescência, no início da atividade sexual e 
no início da vida pública, da descoberta e conquista de novos amigos, da participação na vida noturna da grande cidade, atra-
vés da frequência a bares e danceterias nas proximidades da moradia, ensejando os primeiros contatos e uso de drogas lícitas e 
ilícitas e o acesso a meios de sobrevivência muito mais vantajosos e imediatos do que aqueles auferidos por seus pais. 
Trata-se, portanto de uma temática da maior relevância para a sociedade, impondo-se como pauta obrigatória do traba-
lho social, destinada especialmente a grupos operativos de crianças, adolescentes e jovens, de forma contínua e sistemática. 
1.1.5 Temporalidades
As diversas concepções de temporalidade dividem as gerações. O presente, para os jovens, vincula-se, no geral ao 
aqui e agora. Por outro lado, o tempo para as outras gerações resulta da época em que foram socializados:
A geração remete à história que dá conta do momento social em que um grupo se incorpo-
ra à sociedade. Ser integrante de uma geração implica ter nascido e crescido em um determinado 
período histórico, com sua particular confi guração política, sensibilidade e confl itos (...) Cada 
geração é portadora de uma sensibilidade distinta, de uma nova episteme, de diferentes memó-
rias e é expressão de outra experiência histórica (MARGULIS; URRESTI, 1998, 7 e 4).
No relato dos jovens, o passado e o futuro parecem não ter vida própria e quando são referidos, emergem articu-
lados ao tempo presente. Alguns autores têm sugerido que os jovens estariam vivendo uma “multiculturalidade tem-
poral”. Seriam “nativos do presente” (MARGULIS; URRESTI, 1998, p. 4) e perceberiam o passado pela observação 
das outras gerações, principalmente pais e avós.
Interessante observar que, no geral, as refl exões sobre o passado, em tempos modernos, preconizam a necessi-
dade do lembrar, do caminhar na contramão do grande risco representado pelo esquecimento. O passado, a tradição 
são temas recorrentes nestes cenários de intensa modernidade e de perda de referências. Entretanto, algumas vezes, o 
passado diz respeito a algo que precisa ser esquecido.
1.1.6 Tensões geracionais
A tensão entre as gerações emerge como um dos temas polêmicos e delicados de serem tratados. Todos sabem que os 
confl itos existem, mas poucas vezes eles são revelados; os relatos sobre confl itos estruturais vêm, no geral, reforçados poste-
riormente por um discurso sobre as boas relações, a importância de se ter uma família e os bons instantes passados juntos. 
Entretanto, muitas vezes a cisão é profunda e os adultos, perplexos diante da rebeldia, dos imponderáveis e do desconhecido, 
tendem a identifi car os jovens, como “outros”: “aqueles que vivem próximos a ‘nós’, mas nos separam barreiras cognitivas, 
abismos culturais vinculados a modos de perceber o mundo que nos rodeia” (MARGULIS; URRESTI, 1998, p. 4). Os jovens 
são “outros” e são também e por isto, “rebeldes”. A rebeldia irrompe como um componente universal da condição juvenil:
Os valores de contestação se cristalizam na adolescência: repugnância ou recusa pelas 
relações hipócritas e convencionais, pelos tabus, recusa extremada do mundo. É então que 
ocorre seja a dobra niilista sobre si ou sobre o grupo adolescente, seja a revolta – revolta sem 
causa ou revolta que assume as cores políticas (MORIN, 1984, p. 155).
PROJOVEM Adolescente22
Os confl itos entre pais e fi lhos expressam-se desde os mais usuais – discordâncias em relação à aparência, aos 
estilos adotados, às roupas e acessórios, ao tipo de cabelo, piercings e tatuagens, ao excessivo barulho das músicas pre-
feridas, entre outros – até a revelação de questões mais suscetíveis que dizem respeito à sexualidade, virgindade, uso da 
camisinha, gravidez na adolescência, álcool, cigarros e drogas ilícitas, rumos profi ssionais. 
Há enfrentamentos, também, entre os jovens e outras gerações ainda mais velhas e muitos destes confl itos se re-
velam por meio das opções religiosas e, sem dúvida, se exacerbam pelos agudos processos de aceleração e de mudanças, 
inerentes aos tempos modernos e que transformam cada geração em um mundo à parte.
As tensões e os confl itos geracionais são elementos que transcendem os espaços das diferenças e das singulari-
dades e se tornam características universais. Em outras palavras, tensões e confl itos geracionais estão em toda parte e 
atravessam indistintamente esta ou aquela classe social, esta ou aquela família, os moradores deste ou daquele bairro. Se 
comparada, por exemplo, à classe social, a geração remete à história e a classe supõe um horizonte de continuidade:
Nesse sentido, pertencer à outra geração supõe, de algum modo, possuir códigos cul-
turais diferentes, que orientam percepções, gostos, valores e modos de apreciar que geram 
mundos heterogêneos com distintas estruturações de sentido (MARGULIS; URRESTI, 
1998, p. 7).
1.2. ADOLESCENTES, ADOLESCÊNCIAS
Esclarecendo e retomando um pressuposto: falamos, até então, de jovens e juventudes, coerentes com a compre-
ensão anteriormente explicitada de que o segmento abarcado pelo Projovem Adolescente – faixa etária entre 15 e 17 
anos – é híbrido, localizado na fronteira entre ser jovem/ser adolescente. Vamos, então, compreender as singularidades 
dos modos de ser e de viver dos adolescentes.
Ao escutarmos o termo adolescência, quais são as primeiras impressões que nos vêm à mente? Rapidamente pen-
samos em um período de transição, mudanças físicas, espinhas, busca de autonomia, falta de limites, crise existencial, 
consumismo, rebeldia, individualismo, alienação, entre outros.
Algumas ideias passam a ser comuns, não apenas para os pais, que sentem dificuldade em lidar com seus 
filhos neste momento de suas vidas, mas também para muitas pessoas, formando o que podemos chamar de 
uma “imagem daadolescência”.
Quem nunca escutou, leu em alguma revista, ou ainda, viu algum personagem de novela, em uma cena onde 
uma pessoa tenta acalmar uma mãe afl ita com alguma situação vivida pelo fi lho, dizendo: “É da adolescência, isso 
passa”, “Seu fi lho está em crise”! “São os hormônios”, ou ainda “São as más infl uências”.
Essas frases são comumente escutadas e repetidas a tal ponto que poucos questionam se são verdadeiras ou não, 
criando assim um modelo/imagem do que é a adolescência.
Mas qual será o grande problema? Os adolescentes não são assim mesmo quando os vemos aparecer nos meios 
de comunicação, ou em comerciais cheios de ação, com imagens bonitas, com um tipo padrão de corpos bem defi ni-
dos, bronzeados, magros, ou sendo vítimas ou agentes de violência nas grandes cidades?
PROJOVEM Adolescente 23
Manchetes assim tornaram-se comuns em nosso dia a dia: “Dois adolescentes foram assassinados nesta madrugada”; 
“Polícia apreende adolescente que roubou celular”; “Pesquisa demonstra os padrões de consumo dos adolescentes”.
O pequeno trecho do poema chamado Noite, de Fernando Pessoa, talvez nos ajude a compreender 
melhor sobre o que estamos nos referindo, pois o poema diz: “só alcançamos até onde nosso braço chega, só 
vemos até onde chega nosso olhar”.
Cabe neste momento uma pergunta: Quando utilizamos o termo adolescência, a que nos referimos? Quando 
estamos frente a frente com um adolescente, o que estamos vendo? O que queremos ver? Ou como diz o poema até 
onde nosso braço alcança? Nossa visão está clara ou estamos vendo apenas imagens, sombras e vultos?
Se dermos um passo à frente, na direção destes adolescentes poderemos vê-los e enxergá-los melhor, talvez seja 
possível ver e alcançar algo novo, diferente das coisas que estamos acostumados a escutar. A partir deste movimento, 
uma nova compreensão poderá ser possível.
Por vezes, a noite nos engana. Nossos sentidos também podem nos enganar. Olhamos, mas não vemos, ou vemos, mas 
não enxergamos. Este é um ponto de extrema importância, pois, geralmente, o que não enxergamos com clareza nos é estranho 
e, na maior parte das vezes, tememos o que é estranho, pois não entendemos e não sabemos como lidar com o desconhecido.
O primeiro ponto é termos clareza sobre o conceito de adolescência e como ele é utilizado pela ciência e pelo 
senso comum, buscando nos aproximar deste conceito tendo claras suas implicações. Para isto, precisamos distinguir 
o signifi cado dos termos puberdade e adolescência.
Por puberdade entendemos o conjunto de transformações biológicas surgidas no corpo, ligadas à maturação 
sexual, características do desenvolvimento da infância à maturidade.
Modifi cações biológicas surgidas no corpo como resultado das ações hormonais, desenca-
deando o desenvolvimento dos testículos nos meninos e dos ovários nas meninas, provocando a 
primeira menstruação nas meninas e a primeira ejaculação no menino, indícios biológicos da 
capacitação para procriação, que se dá por volta dos 12 aos 15 anos. (JOST, 2006, p. 58)
Esse é um período de rápido desenvolvimento em todos os aspectos – físico, emocional, psicológico, social e espi-
ritual. Fora o período pré e neonatal, a puberdade é apontada como a fase de mais rápido desenvolvimento humano. 
A adolescência, categoria mais complexa e controvertida, tornou-se um termo utilizado para designar as trans-
formações psicossociais que acompanham as mudanças físicas na puberdade:
(...) período da vida humana que sucede à infância, começa com a puberdade, e se 
caracteriza por uma série de mudanças corporais e psicológicas. (AURELIO, 1988)
O termo adolescência é relativamente novo, uma vez que sua utilização data do fi m do século XVIII. “Adolescência 
é um termo de origem latina, do verbo adolescere, que signifi ca desenvolver-se, crescer”. (MATHEUS, 2007, p. 18)
Não é por acaso que as imagens que aparecem nos meios de comunicação, por vezes também no meio acadêmico 
e em nossas conversas cotidianas sobre a adolescência, trazem em seu bojo o termo associado a “algo negativo”, como 
um problema, uma doença, pois sua própria origem guarda proximidade com o termo adoecer.
PROJOVEM Adolescente24
O termo adolescência em latim, adolescere, está muito próximo do termo addolescere, este que tem como signi-
fi cado fi car doente (adoecer). Apesar da proximidade dos termos em sua origem, apenas em anos mais recentes que o 
uso do termo adolescência tem sido associado a adoecer. 
Nas últimas décadas, os jovens vêm sendo objeto dos meios de comunicação com maior intensidade. Por vezes, 
são encarados como mercado potencial de consumidores a serem conquistados e em outros momentos ocupam lugares 
nas páginas policiais como protagonistas “da escalada da violência” nas grandes cidades.
O espaço dado pelos meios de comunicação, de um modo geral, para questões relacionadas à juventude 
e adolescência contribuiu para trazer à tona a importância deste período, mas propiciou também o surgimento 
de vários estereótipos sobre esta fase da vida. Estes estereótipos são facilmente reconhecidos, principalmente 
na caracterização da adolescência:
(...) o senso comum, que toma os jovens como os principais causadores da violência, 
ameaçados continuamente pelo fantasma das drogas, irremediavelmente individualis-
tas, apáticos, consumidores vorazes de produtos ou mercadorias inúteis e desinteressados 
das questões públicas. (ABRAMO, 2002, p. 8)
Alguns autores fundamentam suas análises atribuindo um valor apenas negativo a características próprias da 
adolescência. Um exemplo é o valor negativo por vezes atribuído a importância do grupo para o adolescente.
Esse período é caracterizado pelo distanciamento afetivo da família, pela busca de 
independência e pela forte valorização do grupo formado por seus pares, o que leva à pro-
cura de conformização com as normas, os costumes e a “ideologia” desse grupo, trazendo 
em seu bojo, muitas vezes, uma rebeldia aos valores estabelecidos pelos pais ou pela socie-
dade, num confl ito entre a independência desejada e a dependência ainda não rompida. 
(JOST, 2006, p. 58)
Contudo, o grupo que é apontado como uma característica negativa, por vezes torna-se um espaço de possibili-
dade, de troca de experiências e amadurecimento, conforme apontam os próprios adolescentes.
Pra mim foi fundamental. Aprendi muito. Saía pras palestras. Tive muita orienta-
ção para pensar como pessoa porque se eu não tivesse tido a orientação eu acho que eu não 
poderia estar aqui hoje. (depoimento de jovem egresso do Programa Agente Jovem. MDS/
DATAUFF, 2006, p. 34)
É uma questão de você respeitar primeiro, se amar primeiro pra depois você amar 
e respeitar as outras pessoas. Mas com a consciência que tem que respeitar as diferenças 
pra viver no mundo que vivemos e que o agente jovem passa pra gente este sentimento 
de coletivo. (...) de coletivo de você enxergar certos problemas na sua casa e ter opinião 
própria pra resolver junto com os pais ou com os irmãos. (...) Aprendi muita coisa boa 
e conheci muita gente nova. (depoimento de jovem egresso do Programa Agente Jovem. 
MDS/DATAUFF, 2006, p. 49)
PROJOVEM Adolescente 25
Dentre várias possibilidades, talvez a mais forte característica associada à adolescência seja a ideia de “crise”, 
transformada em um traço intrínseco, universal e negativo deste período – “a adolescência como um período de crise”, 
a “crise da adolescência”.
A associação entre “crise” e adolescência, além de não ser encontrada nos textos antigos, como aponta Matheus 
(2007), pode ser entendida, de acordo com o dicionário Aurélio, como “manifestação violenta e repentina de ruptura 
de equilíbrio; estados de dúvidas e incertezas”, o que, no entanto, pode ser considerado um movimento gerador de 
mudanças positivas e não apenas negativas.
Ozella (1998, p. 4) questiona esta abordagem da adolescência enquanto período de crise. O autor indaga 
sea crise é uma característica da adolescência ou o contexto social de crise em que os adolescentes vivem é o 
fator desencadeador de suas próprias crises, de modo que uma sociedade que não esteja em constante crise po-
deria gerar adolescentes sem crise.
Este não é apenas um jogo de palavras, mas uma perspectiva teórica que concebe a adolescência como fenômeno 
historicamente construído pela sociedade.
Buscarmos encontrar as características que são atribuídas à adolescência, na população em geral, talvez seja um 
bom exercício para não olharmos para os jovens a partir de preconceitos e estereótipos, por exemplo: a infl uencia-
bilidade e o consumismo são apontados como características inerentes a todos os jovens, mas somente os jovens são 
infl uenciáveis? Somente os jovens são consumistas?
As tensões entre infância e vida adulta, tendo como desencadeador o fenômeno da puberdade enquanto mo-
mento de transformações biológicas, serão apropriadas pela sociedade pelo viés dos estigmas e preconceitos, estabele-
cendo uma verdadeira sintomatologia deste período.
Existe um corpo que está se desenvolvendo e que tem características próprias (puberdade), mas nenhum elemen-
to biológico ou fi siológico isoladamente tem expressão direta na subjetividade tendo em vista a mediação de outros 
elementos que também são complexos neste processo.
Nesse sentido, para compreender o fenômeno designado como adolescência é necessário inseri-lo na totalidade 
sócio-histórica no qual o mesmo foi produzido e constituído, ganhando sentido e signifi cado. Estamos nos referindo 
às condições que construíram uma determinada adolescência:
Entende-se assim a adolescência como constituída socialmente a partir de necessidades so-
ciais e econômicas e de características que vão se constituindo no processo. (BOCK, 1998, p. 60).
Isto é, alguém que constrói formas para satisfazer suas necessidades junto com outros 
homens. Um ser histórico com características forjadas de acordo com as relações sociais con-
textualizadas no tempo e no espaço histórico em que ele vive. (OZELLA, 2003, p. 8).
Para que nossa visão alcance um pouco mais longe, precisamos dar um passo na escuridão, e talvez outro, 
quem sabe outros em direção aos próprios adolescentes. A cada passo, uma nova visão será possível, mais clara e 
precisa, sobre estes sujeitos. Aos poucos, a imagem que tínhamos no início da caminhada poderá ser modifi cada e, 
como uma máquina fotográfi ca, nosso foco neste percurso poderá ser ajustado, nos mostrando novas imagens, mais 
claras, mais nítidas sobre a adolescência.
PROJOVEM Adolescente26
O conceito de adolescência é polêmico e aponta para peculiaridades e diversidades de expressão dessa fase da 
vida nas diferentes sociedades e culturas. No entanto, como destaca o UNICEF, um consenso tem sido possível em 
torno da compreensão da adolescência como momento específi co do desenvolvimento humano. É com este espírito 
que o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) abordará a adolescência.
Fruto da mobilização dos vários setores da sociedade envolvidos na luta pela defesa dos direitos da crian-
ça e do adolescente, até aquele momento sem garantias e sem direitos específicos assegurados, em sintonia com 
a Convenção sobre os Diretos da Criança e demais documentos internacionais, o Estatuto da Criança e do 
Adolescente garantiu vários avanços para a sociedade brasileira no que se refere ao trato das questões relacio-
nadas à infância e à juventude.
O ECA introduz o Princípio da Proteção Integral em substituição à Doutrina da Situação Irregular e reconhece 
a Criança e o Adolescente enquanto sujeitos de direitos e titulares de garantias: 
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pes-
soa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, 
por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fi m de lhes facultar o 
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de 
dignidade. (ECA, 1990, art.3°).
Incorpora o princípio da incompletude institucional quanto à necessidade de um conjunto articulado de ações 
governamentais e não governamentais de atenção à criança e a adolescência.
O Estatuto abandona a compreensão das crianças e dos adolescentes enquanto seres incapazes e incompletos e 
que, por este motivo, necessitam da tutela e da vigilância, introduzindo o princípio do ser em desenvolvimento, que 
deve ser protegido, garantindo-se todas as condições para o seu crescimento integral.
Ao nos aproximarmos das concepções de adolescência, notamos os estereótipos e estigmas construídos sobre um 
“adolescente ideal” ou “identidade adolescente”, criados a partir de características que lhes são atribuídas. 
A busca de equilíbrio entre o embate da realidade das condições objetivas vivenciadas pelo adolescente com a 
“imagem de ideal de adolescência” a ele atribuída pode gerar muitas crises.
Sendo assim, podemos afirmar que os meios de comunicação têm um papel importante neste processo 
de atribuição e construção da identidade. A indústria cultural, de um modo geral, descobriu no jovem um 
grande mercado consumidor e, por isto, através dos meios de comunicação, tem investido nas propagandas 
voltadas ao público juvenil. 
Uma imagem de adolescência é transmitida como “padrão” ou “ideal”; esta imagem comporta padrões de 
beleza, locais a serem frequentados, roupas a serem usadas e culturas a serem consumidas, entre tantas outras 
coisas, sendo transformada em produtos à venda no mercado. Basta ter recursos fi nanceiros para consumi-las. 
Como apontam os adolescentes, esta imagem aparece na maioria das vezes relacionada à aparência: “Eles olham 
muito pela aparência”. (Depoimento de jovem egresso do Programa Agente Jovem. MDS/DATAUFF, 2006, p. 55):
PROJOVEM Adolescente 27
Se, por um lado, encontramos no Brasil o fenômeno da adolescência prolongada – comum 
nas classes média e alta em que a condição de adolescente tende a prolongar-se em função das 
expectativas de uma formação profi ssional cada dia mais exigente e especializada – temos, igual-
mente, a realidade de um signifi cativo contingente populacional de adolescentes que, pelas condi-
ções de pobreza de suas famílias, fi ca impedido de viver essa etapa preparatória, sendo obrigado a 
uma inserção precoce no mercado de trabalho, formal ou informalmente. (UNICEF, s/d, p. 9)
Como aponta o UNICEF, devem ser consideradas no debate sobre a adolescência no Brasil as grandes diver-
sidades e desigualdades existentes, de modo que não se pode abordar a adolescência como uma realidade homogê-
nea em todas as regiões e camadas sociais. Por este motivo, é preciso apontar a existência não de uma adolescência, 
mas de “adolescências”.
Compreendendo a importância deste período de transformações e desenvolvimentos, as propagandas 
e incentivos ao consumo terão um papel central na formação da identidade dos adolescentes, pois a imagem 
transmitida associa o não possuir determinado produto – mesmo que este seja supérfluo – como ausência de 
um status, como um não ser.
A violência urbana tem sido associada pelos meios de comunicação à juventude, de um modo geral, e também à 
adolescência. Tal associação propicia, em certa medida, o surgimento de vários estereótipos sobre esta questão, inclu-
sive apontando o ECA como um dos responsáveis pelo aumento da violência, associando-o à impunidade.
Mendez (2006, p. 22) afi rma que os meios de comunicação têm sido muito “efi cazes” em vincular de forma 
automática o problema da insegurança pública, com comportamentos atribuídos aos jovens, particularmente aos “me-
nores de dezoito anos”.
Esta associação da violência e da insegurança pública a atos infracionais cometidos por jovens tem produzido 
um discurso desqualifi cador, que acaba por permear e habitar não apenas o senso comum, mas encontra eco em vários 
setoresda sociedade, reforçando preconceitos e estereótipos, conforme observa Adorno:
Imagens veiculadas pela mídia, impressa e eletrônica, constroem cenários cada 
vez mais dramáticos: a de adolescentes audaciosos e violentos, destituídos de quaisquer 
freios morais, frios e insensíveis que não hesitam em matar. De tempos em tempos, a 
opinião pública é surpreendida com a notícia de homicídio praticado contra algum 
cidadão portador de maior projeção social, praticado por um adolescente no curso 
de um roubo. Fatos desta ordem têm a propriedade de reforçar apreensões coleti-
vas e consequentemente acentuar preconceitos contra esses seguimentos da população. 
(ADORNO, 1999, p. 15 apud FRAGA, 2004, p. 8)
O que os meios de comunicação não apresentam é que, ao contrário das ideias veiculadas, os jovens têm sido as 
maiores vítimas da violência nos grandes centros:
Os jovens são, assim, as principais vítimas da violência criminal, seja devido às con-
sequências dos confl itos travados com a polícia, da ação de grupos de extermínio ou de rixas 
entre quadrilhas. (FRAGA, 2004, p. 86).
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Como aponta o UNICEF (s/d, p. 5): 
O ECA representa um importante momento de consolidação de uma nova abordagem 
da questão da infância e da adolescência, baseada na garantia dos direitos, no estímulo à par-
ticipação e no desenvolvimento de políticas públicas universais e de qualidade para todos.
Referir-se a crianças e adolescentes a partir do Estatuto implica considerá-las como seres em desenvolvimento 
e, por este motivo, devem ter garantidas as condições para que se desenvolvam em todos os aspectos, não restritos a 
uma de suas necessidades, mas à integralidade dos seus direitos, de modo que a eles seja possível o desenvolvimento 
“físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade” (ECA, 1990, art. 3°).
A mudança de paradigma operada pelo Estatuto é a demonstração da construção histórica da adolescência, pro-
pondo um novo olhar para a infância, diverso do olhar presente até aquele momento.
É necessário a todos que trabalham diretamente com as juventudes, e de modo particular com público alvo do 
Projovem Adolescente, uma desconstrução dos estereótipos e estigmas, que não nos ajudam a compreendê-las mas, 
ao contrário, nos ofuscam a visão.
Em seu relatório “Situação Mundial da Infância 2002”, o UNICEF defi niu a adolescência como uma “janela de 
oportunidades”, que precisam ser reconhecidas. Esta afi rmação é confi rmada pelos próprios jovens:
(...) só queremos ser reconhecidos, só queremos ter o direito de você ser o que você é. 
(depoimento de jovem egresso do Programa Agente Jovem. MDS/DATAUFF, 2006, p. 54)
É a partir da compreensão dos adolescentes como seres em desenvolvimento e sujeitos de direitos, e do período 
compreendido por adolescência como um período de oportunidades, que podemos refl etir sobre a importância da 
educação como oportunidade de desenvolvimento pessoal e social.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, ao assegurar em seu artigo 53 o direito à educação a todas as crianças 
e adolescentes, afi rma que esta deve visar o “pleno desenvolvimento de sua pessoa, o preparo para o exercício da cida-
dania e qualifi cação profi ssional” (ECA.199, art. 53).
Contudo, não é possível reduzir educação à escolarização formal através do sistema de ensino.
A partir desta concepção, pode-se compreender que à criança e ao adolescente devem ser asseguradas oportuni-
dades educacionais para o seu desenvolvimento de forma integral. É necessário considerar a importância do trabalho 
e da cultura, juntamente com a dimensão educativa, entendida em sentido amplo como um processo continuado de 
novas aquisições e apropriações.
Apesar do avanço da legislação presente na garantia do direito à educação, como aponta o CONJUVE, existe 
um distanciamento dos jovens e adolescentes do sistema de ensino, com a proximidade da vida adulta:
A maioria dos jovens brasileiros, conforme se aproximam da idade adulta, deixam progressiva-
mente de se relacionar com a educação para se relacionar com o trabalho. (CONJUVE, 2006, p. 24)
O movimento de ampliação do acesso à educação não foi acompanhado pela melhoria da qualidade do ensino. 
Este fato, somado às situações de vulnerabilidades em que se encontra grande parte da população, tem como consequ-
PROJOVEM Adolescente 29
ência o afastamento de um número expressivo de adolescentes e jovens do sistema de ensino para se inserir no mercado 
de trabalho como condição para a sua própria sobrevivência e de suas famílias.
Esta inserção precoce dos adolescentes no mercado de trabalho se realiza, em grande parte, de maneira informal e 
precária. O trabalho, que poderia ter dimensões de aprendizado, de realização, de prazer, e representar uma possibilidade de 
convivência com pessoas diferentes, passará a signifi car exploração, alienação e afastamento do mundo escolar:
Hoje o que se tem é uma perversa diferenciação entre jovens que podem combinar 
trabalhos criativos e educação de qualidade, e outros que, quando têm emprego e tentam 
perseguir alguma escolarização, têm que se engajar em trabalhos exaustivos que tolhem a 
possibilidade de dedicação a estudos refl exivos e críticos. (CONJUVE, 2006, p. 27)
Tendo em vista os princípios da Proteção Integral e da concepção das crianças e adolescentes como seres em 
desenvolvimento, o Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe o trabalho a crianças e adolescentes menores de 16 
anos, exceto na condição de aprendiz.
No ano de 2000, a idade mínima para a condição de aprendiz foi alterada de 16 para 14 anos com a Lei do 
Aprentdiz nº10.097/2000, que determina que toda empresa de grande e médio porte deve ter de cinco a quinze por 
cento de aprendizes em relação ao número total de funcionários.
Vale observar que a condição de aprendiz não se restringe apenas à faixa etária estabelecida pelo ECA para a ado-
lescência, abrangendo também jovens de 14 a 24 anos, que devem cursar o ensino fundamental ou médio e também 
um curso de formação técnica. 
O objetivo da Lei do Aprendiz, portanto, é o de incentivar os jovens e adolescentes a continuar estu-
dando e aprender uma profissão. Assim sendo, seu foco não se encontra no trabalho propriamente dito, mas 
sim na garantia da escolarização, uma vez que a frequência escolar é obrigatória; na qualificação profissional, 
com a exigência da frequência em cursos profissionalizantes dos serviços nacionais de aprendizagens ou cursos 
oferecidos e registrados por organizações não governamentais registradas no Conselho Municipal da Criança 
e do Adolescente; e na preparação para o mundo do trabalho, partindo de uma perspectiva que articula for-
mação e experimentação.
Os programas e ações de preparação para o mundo do trabalho tornam-se fundamentais para a formação e 
aprendizado, tendo em vista que possibilitam aos adolescentes a construção de uma trajetória de inserção não apenas 
no mundo do trabalho, mas também em relações sociais mais amplas.
 As possibilidades de vivências estabelecidas nestas atividades, entendidas como um processo socializador 
mais amplo, como aponta o UNICEF, tornam-se de grande importância no processo educativo, ainda como 
uma oportunidade de ampliação da socialização dos adolescentes, tendo em vista que o trabalho coletivo e a 
possibilidade de convivência democrática com os demais adolescentes e adultos constituem bases fecundas para 
a inserção participativa e cidadã na sociedade. 
É a partir do processo socializador amplo, vivido na adolescência, que o sujeito é co-
locado diante da possibilidade de experimentar seu lugar de cidadão na sociedade, em sua 
plenitude. (UNICEF s/d, p. 61)
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Iniciativas como a Lei do Aprendiz e outras ações e programas governamentais ou não, devem possibilitar aos 
adolescentes o desenvolvimento de competências e habilidades básicas, específi cas,

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