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TECNOLOGIA ASSISTIVA PROFESSOR (A): COORDENADOR PEDAGÓGICO TECNOLOGIA ASSISTIVA PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 2 Sumário INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 LINGUAGEM E TECNOLOGIAS ASSISTIVAS ........................................................... 6 HISTÓRIAS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES ESSENCIAIS ......................................... 6 Aplicação das Tecnologias Assistivas ...................................................................... 7 Objetivos da Tecnologia Assistiva:........................................................................... 8 OS VÁRIOS TIPOS E CATEGORIAS DE TECNOLOGIAS ASSISTIVAS: ................. 9 A IMPORTÂNCIA DAS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS ............................................. 12 DAS AJUDAS TÉCNICAS À TECNOLOGIA ASSISTIVA: DEFINIÇÃO E EVOLUÇÃO 15 Objetivos ................................................................................................................ 19 O processo de desenvolvimento das ajudas técnicas............................................ 20 O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIA ASSISTIVA ............................. 22 CARACTERÍSTICAS DOS SERVIÇOS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA – EQUIPE MULTI/TRANSDISCIPLINAR .................................................................................... 24 Atuação da Tecnologia Assistiva ........................................................................... 27 A funcionalidade .................................................................................................... 27 MODELOS CONCEITUAIS PARA INCAPACIDADE ................................................ 30 Modelo Médico: ...................................................................................................... 30 Modelo Social: ....................................................................................................... 30 Abordagem Biopsicossocial: .................................................................................. 30 TECNOLOGIA ASSISTIVA: MODALIDADES, CATEGORIAS OU CLASSIFICAÇÃO .................................................................................................................................. 31 Auxílio para a vida diária ........................................................................................ 32 CAA - Comunicação Aumentativa e Alternativa ..................................................... 33 Prancha de comunicação, vocalizador com varredura e vocalizador portátil. ........ 33 Recursos de acessibilidade ao computador ........................................................... 34 Sistemas de controle de ambiente ......................................................................... 35 Projetos arquitetônicos para acessibilidade ........................................................... 35 Órteses e próteses ................................................................................................. 36 Adequação postural ............................................................................................... 37 Auxílios de mobilidade ........................................................................................... 38 Auxílios para cegos ou para pessoas com visão subnormal .................................. 39 PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 3 Auxílios para pessoas com surdez ou com déficit auditivo .................................... 40 Adaptações em veículos ........................................................................................ 40 A LINGUAGEM E A LEITURA RECOMBINATIVA GENERALIZADA ....................... 41 AS REPRESENTAÇÕES E OS SÍMBOLOS DA TA ................................................. 46 Tipos de símbolos .................................................................................................. 47 TÉCNICAS DE SELEÇÃO DOS SÍMBOLOS ......................................................... 50 A INFORMÁTICA, A INCLUSÃO ESCOLAR E A TECNOLOGIA ASSISTIVA .......... 51 LEIS BRASILEIRAS SOBRE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.................................. 62 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 66 PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 4 INTRODUÇÃO Documentos internacionais e nacionais têm procurado definir a tecnologia assistiva e garantir políticas públicas que favoreçam o seu uso. Na literatura internacional as definições de tecnologia assistiva enfatizaram o uso de recursos, estratégias e serviços aplicados para atenuar os problemas funcionais encontrados pelos indivíduos com deficiências e proporcionar ou ampliar suas habilidades e, consequentemente, promover independência, qualidade de vida e inclusão. (KING, 1999; LAHM; SIZEMORE, 2002; JOHNSTON; EVANS, 2005; JUDGE; FLOYD; JEFFS, 2008). No Brasil a tecnologia assistiva é uma área de conhecimento relativamente nova e o termo “ajudas técnicas” aparece como sinônimo de tecnologia assistiva. O Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), em ata da reunião VII DE dezembro de 2007, aprovou a adoção da seguinte conceito de Tecnologia Assistiva: área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (CAT, 2007). As pesquisas enfatizaram a necessidade do envolvimento de profissionais especializados, em diferentes áreas do conhecimento, para o trabalho com pessoas com deficiência, objetivando atender as diferentes etapas dos serviços da tecnologia assistiva: ✓ avaliação e identificação das habilidades e necessidades; ✓ prescrição e confecção dos recursos; ✓ acompanhamento, bem como perceber necessidades de modificações destes recursos durante a sua utilização. Para que essas etapas de serviços se efetivem é necessário desenvolver estratégias de intervenção a fim de mediar o uso dos recursos de tecnologia assistiva nos diferentes contextos (MANZINI; SANTOS 2002; PELOSI, 2009). PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 5 A tecnologia assistiva vem conquistando um espaço importante na educação especial no Brasil e, nos últimos anos, pode-se observar o aumento significativo de estudos sobre esta temática. Estes estudos enfatizaram o uso de tecnologia assistiva na educação especial por meio de recursos, serviços e estratégias que colaboram com a acessibilidade, com o processo de aprendizagem e com o desenvolvimento das habilidades de alunos com deficiências (BARNES; TURNER, 2001; MANZINI; SANTOS, 2002; BERSCH, 2006; COPLEY; ZIVIANI, 2004; JUDGE, 2006; OKOLO; BOUCK, 2007; JUDGE; FLOYD; JEFFS, 2008; PELOSI 2008, 2009; GALVÃO FILHO,2009). Os documentos nacionais que regem a educação no Brasil, também enfatizaram que, na proposta da educação especial, a tecnologia assistiva tem a função de atender às especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais e os habilitar, funcionalmente, nas atividades escolares. Em relação à educação inclusiva a tecnologia assistiva está inserida com o objetivo de conduzir à promoção da inclusão de todos os alunos na escola. Portanto, o espaço escolar deve ser estruturado como aquele que oferece os recursos, serviços e estratégias de tecnologia assistiva (BRASIL, 2006, 2007). Também preocupados com a sistematização do uso da tecnologia assistiva com alunos com deficiência no contexto escolar, Manzini e Santos (2002), descreveram as etapas para implementar a tecnologia assistiva na escola: entender a situação, gerar ideias, escolher alternativas, representar a ideia, construir o objeto, avaliar e posteriormente acompanhar o uso do recurso de tecnologia assistiva. Os mesmos autores ainda alertaram que durante a implementação da tecnologia assistiva é necessário conhecer o usuário destes recursos, sua história, suas necessidades e desejos, bem como, identificar quais são as necessidades reais considerando todo o seu contexto social e as possíveis barreiras que limitem a sua independência (PARETTE; BROTHERSON, 2004). Manzini e Santos (2002) descreveram que a primeira etapa para a implementação do recurso de tecnologia assistiva na escola deve permitir, ao profissional, entender a situação que envolve o estudante, para isto é necessário escutar seus desejos, identificar as características físicas, psicomotoras e comunicativas, observar a dinâmica do estudante no ambiente escolar, reconhecer o PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 6 contexto social e também as necessidades da professora para ampliar a participação do aluno no processo de ensino e aprendizagem. O uso da tecnologia assistiva na escola demanda não somente o recurso, mas também um serviço que ofereça estratégias para o seu uso. As estratégias devem ter inicio anteriormente à prescrição ou construção do recurso, ou seja, é necessário observar a dinâmica do estudante no ambiente escolar e reconhecer suas necessidades. Por meio das informações do aluno, dos profissionais da escola e do ambiente é possível estabelecer critérios para elaborar recursos, com perspectivas funcionais, que atendam às necessidades especificas do aluno com deficiência e, consequentemente, diminua as taxas de abandono dos recursos de tecnologia assistiva. LINGUAGEM E TECNOLOGIAS ASSISTIVAS HISTÓRIAS, CONCEITOS E DEFINIÇÕES ESSENCIAIS O termo Assistive Technology, traduzido no Brasil como Tecnologia Assistiva (TA), foi criado, oficialmente, em 1988, sendo definindo como: toda e qualquer ferramenta ou recurso utilizado com a finalidade de proporcionar uma maior independência e autonomia à pessoa com deficiência. Seria a tecnologia destinada a fornecer um suporte (mecânico, elétrico, eletrônico, computadorizado, etc.) às pessoas com deficiência física (visual, auditiva, motora ou múltipla). As pesquisas que usam o paradigma de equivalência de estímulos, em geral, trabalham com procedimentos informatizados e têm produzido uma tecnologia de ensino voltada para a instalação de repertórios comportamentais complexos com diferentes populações. Stromer, Mackay e Stoddard (1992) usaram o termo tecnologia de ensino para definir esse conjunto de instrumentos e estratégias que promovem desempenhos mais eficientes e inúmeros estudos disponibilizaram essa tecnologia. Entretanto, há poucos registros do uso dessa tecnologia de ensino em pessoas com Paralisia Cerebral (PC), principalmente, utilizando essa tecnologia aliada à Tecnologia Assistiva (TA). PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 7 No estudo relatado por Rossit e Zuliani (2003), é descrito o ensino de habilidades acadêmicas de leitura, escrita e matemática com o uso de procedimentos informatizados e programas educativos através do programa Mestre® (GOYOS, ALMEIDA, 1994) Outros autores como Santos et all (1997) utilizaram um programa informatizado de controle e registro de dados comportamentais para formação de classes numéricas e sintáticas. No entanto, os principais estudos, no Brasil, que têm sido desenvolvidos com o uso de tecnologia em crianças com PC enfocando o processo de aprendizagem são providos de estratégias e recursos da TA, associados à Tecnologia de Ensino, porém, não há uma descrição correlacionada com o paradigma de equivalência de estímulos. Aplicação das Tecnologias Assistivas A Tecnologia Assistiva engloba as áreas de comunicação alternativa e ampliada (CAA), como: ✓ adaptações de acesso ao computador; ✓ equipamentos de auxílio para visão e audição; ✓ controle do meio ambiente, adaptação de jogos e brincadeiras; ✓ adaptações da postura sentada; mobilidade alternativa; ✓ próteses e a integração dessa tecnologia nos diferentes ambientes como a casa, a escola, a comunidade e o local de trabalho (KINQ, 1999 apud PELOSI, 2005). Muitos profissionais podem estar envolvidos no trabalho da tecnologia Assistiva como engenheiros, educadores, terapeutas ocupacionais, protéticos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, oftalmologistas, enfermeiras, assistentes sociais e especialistas em audição. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 8 Objetivos da Tecnologia Assistiva: Conforme Dias de Sá (2003) a TA visa proporcionar à pessoa portadora de deficiência maior independência, qualidade de vida e inclusão social, através da ampliação da comunicação, mobilidade, controle do seu ambiente, habilidades de seu aprendizado, competição, trabalho e integração com a família, amigos e sociedade. A TA é uma expressão utilizada para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, promover vida independente e inclusão. Ainda, de acordo com Dias de Sá (2003), a tecnologia Assistiva deve ser compreendida como resolução de problemas funcionais, em uma perspectiva de desenvolvimento das potencialidades humanas, valorização de desejos, habilidades, expectativas positivas e da qualidade de vida, as quais incluem recursos de comunicação alternativa, de acessibilidade ao computador, de atividades de vida diárias, de orientação e mobilidade, de adequação postural, de adaptação de veículos, órteses e próteses, entre outros. O serviço de tecnologia Assistiva na escola é aquele que buscará resolver os problemas funcionais do aluno, no espaço da escola, encontrando alternativas para que ele participe e atue positivamente nas várias atividades neste contexto (BRASIL, 2006). PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 9 Fazer uso da Tecnologia Assistiva na escola é buscar, com criatividade, uma alternativa para que o aluno realize o que deseja ou precisa. É encontrar umaestratégia para que ele possa fazer de outro jeito. É valorizar o seu jeito de fazer e aumentar suas capacidades de ação e interação a partir de suas habilidades. É conhecer e criar novas alternativas para a comunicação, escrita, mobilidade, leitura, brincadeiras, artes, utilização de materiais escolares e pedagógicos, exploração e produção de temas através do computador, etc. É envolver o aluno ativamente, desafiando-se a experimentar e conhecer, permitindo que construa individual e coletivamente novos conhecimentos. É retirar do aluno o papel de espectador e atribuir-lhe a função de ator (BRASIL, 2007). OS VÁRIOS TIPOS E CATEGORIAS DE TECNOLOGIAS ASSISTIVAS: I. Auxílios para a vida diária e vida prática - Materiais e produtos que favorecem desempenho autônomo e independente em tarefas rotineiras ou facilitam o cuidado de pessoas em situação de dependência de auxílio, nas atividades como se alimentar, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar necessidades pessoais. São exemplos os talheres modificados, suportes para utensílios domésticos, roupas desenhadas para facilitar o vestir e despir, abotoadores, velcro, recursos para transferência, barras de apoio, etc. II. CAA - Comunicação Aumentativa e Alternativa - Destinada a atender pessoas sem fala ou escrita funcional ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade em falar e/ou escrever. Recursos como as pranchas de comunicação, construídas com simbologia gráfica (BLISS, PCS e outros), letras ou palavras escritas, são utilizados pelo usuário da CAA para expressar suas questões, desejos, sentimentos, entendimentos. A alta tecnologia dos vocalizadores (pranchas com produção de voz) ou o computador com softwares específicos, garantem grande eficiência à função comunicativa. III. Recursos de acessibilidade ao computador - Conjunto de hardware e software especialmente idealizado para tornar o computador acessível, no PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 10 sentido de que possa ser utilizado por pessoas com privações sensoriais e motoras. São exemplos de equipamentos de entrada os teclados modificados, os teclados virtuais com varredura, mouses especiais e acionadores diversos, softwares de reconhecimento de voz, ponteiras de cabeça por luz, entre outros. Como equipamentos de saída podemos citar a síntese de voz, monitores especiais, os softwares leitores de texto (OCR), impressoras braile e linha braile. IV. Sistemas de controle de ambiente - Através de um controle remoto, as pessoas com limitações motoras, podem ligar, desligar e ajustar aparelhos eletroeletrônicos como a luz, o som, televisores, ventiladores, executar a abertura e fechamento de portas e janelas, receber e fazer chamadas telefônicas, acionar sistemas de segurança, entre outros, localizados em seu quarto, sala, escritório, casa e arredores. O controle remoto pode ser acionado de forma direta ou indireta e neste caso, um sistema de varredura é disparado e a seleção do aparelho, bem como a determinação de que seja ativado, se dará por acionadores (localizados em qualquer parte do corpo) que podem ser de pressão, de tração, de sopro, de piscar de olhos, por comando de voz etc. V. Projetos arquitetônicos para acessibilidade - Projetos de edificação e urbanismo que garantem acesso, funcionalidade e mobilidade a todas as pessoas, independente de sua condição física e sensorial. Adaptações estruturais e reformas na casa e/ou ambiente de trabalho, através de rampas, elevadores, adaptações em banheiros, mobiliário, entre outras, que retiram ou reduzem as barreiras físicas. VI. Órteses e próteses - Próteses são peças artificiais que substituem partes ausentes do corpo. Órteses são colocadas junto a um segmento do corpo, garantindo-lhe um melhor posicionamento, estabilização e/ou função. São normalmente confeccionadas sob medida e servem no auxílio de mobilidade, de funções manuais (escrita, digitação, utilização de talheres, manejo de objetos para higiene pessoal), correção postural, entre outros. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 11 VII. Adequação Postural - Ter uma postura estável e confortável é fundamental para que se consiga um bom desempenho funcional. Fica difícil a realização de qualquer tarefa quando se está inseguro com relação a possíveis quedas ou sentindo desconforto. Um projeto de adequação postural diz respeito à seleção de recursos que garantam posturas alinhadas, estáveis e com boa distribuição do peso corporal. Indivíduos cadeirantes, por passarem grande parte do dia numa mesma posição, serão os grandes beneficiados da prescrição de sistemas especiais de assentos e encostos que levem em consideração suas medidas, peso e flexibilidade ou alterações músculo- esqueléticas existentes. Adequação postural diz respeito a recursos que promovam adequações em todas as posturas, deitado, sentado e de pé, portanto, as almofadas no leito ou os estabilizadores ortostáticos, entre outros, também podem fazer parte deste capítulo da TA. VIII. Auxílios de mobilidade - A mobilidade pode ser auxiliada por bengalas, muletas, andadores, carrinhos, cadeiras de rodas manuais ou elétricas, scooters e qualquer outro veículo, equipamento ou estratégia utilizada na melhoria da mobilidade pessoal. IX. Auxílios para cegos ou para pessoas com visão subnormal - Equipamentos que visam a independência das pessoas com deficiência visual na realização de tarefas como: consultar o relógio, usar calculadora, verificar a temperatura do corpo, identificar se as luzes estão acesas ou apagadas, cozinhar, identificar cores e peças do vestuário, verificar pressão arterial, identificar chamadas telefônicas, escrever, ter mobilidade independente, etc. Inclui também auxílios ópticos, lentes, lupas e telelupas; os softwares leitores de tela, leitores de texto, ampliadores de tela; os hardwares como as impressoras braile, lupas eletrônicas, linha braile (dispositivo de saída do computador com agulhas táteis) e agendas eletrônicas. X. Auxílios para pessoas com surdez ou com déficit auditivo - Auxílios que inclui vários equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos para surdez, PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 12 telefones com teclado-teletipo (TTY), sistemas com alerta táctil-visual, entre outros. XI. Adaptações em veículos - Acessórios e adaptações que possibilitam uma pessoa com deficiência física dirigir um automóvel, facilitadores de embarque e desembarque como elevadores para cadeiras de rodas (utilizados nos carros particulares ou de transporte coletivo), rampas para cadeiras de rodas, serviços de autoescola para pessoas com deficiência (BERSCH, 2008). A IMPORTÂNCIA DAS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis. (RADABAUGH, 1993). Inclusão, adaptação, oportunidades de acesso, direitos sociais, direitos humanos, escolha de recursos, efetivação de políticas e programas, são algumas das ações/conquistas, não necessariamente nessa ordem, que fazem parteda nossa história, da história da educação e da aquisição da cidadania por nós brasileiros. É uma luta que começou algumas décadas passadas e só vem se fazendo crescer pela união entre governo e sociedade de maneira geral. A Constituição Federal (CF), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN); as reuniões dos Comitês Técnicos, decretos como o Decreto nº 6.949 de 2009 que promulgou a Convenção Internacional (2007) sobre os Direitos das pessoas com Deficiência e o Decreto nº 7.612 de 17 de novembro de 2011 que instituiu o Plano Nacional dos Direitos da pessoa com deficiência “Viver sem limites” são apenas alguns dos documentos oficiais e, digamos, “ordens” do legislativo que corroboram com os direitos de acesso das pessoas com alguma deficiência, sem esquecermos da Lei nº 10.098 de 19 de dezembro de 2000 que estabeleceu normas PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 13 gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. O Decreto nº 3298 de 20 de dezembro de 1999 considera “Ajudas Técnicas” como os elementos que permitem compensar uma ou mais limitações funcionais motoras, sensoriais ou mentais da pessoa portadora de deficiência, com o objetivo e permitir-lhe superar as barreiras da comunicação e da mobilidade e de possibilitar sua plena inclusão social. O art. 61 do Decreto nº 5.296 de 02 de dezembro de 2004 diz que Ajudas Técnicas é o termo utilizado na legislação brasileira que engloba, produtos, instrumentos e equipamentos ou tecnologias adaptadas ou especialmente projetadas para melhorar a funcionalidade da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia pessoal total ou assistida. O termo Tecnologia Assistiva (TA), por sua vez, pode ser entendido como um arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, promover vida independente e inclusão. Na verdade, como afirmam Bersch e Pelosi (2006, p. 8), duas das pesquisadoras que nortearão nosso trabalho, Ajudas Técnicas e Tecnologia Assistiva são expressões sinônimas quando se referem aos recursos desenvolvidos e disponibilizados às pessoas com deficiência e que visam ampliar suas habilidades no desempenho das funções pretendidas. Contudo, o conceito da Tecnologia Assistiva é mais abrangente e agrega a organização de serviços destinados ao desenvolvimento, indicação e ensino relativo à utilização da tecnologia. O trabalho na TA busca promover a autonomia e a independência funcional de seu usuário. Esperamos que essas breves explicações deixem claro que nosso objetivo neste módulo é trabalhar com a Tecnologia Assistiva, passando por conceitos, objetivos, sua implementação, os símbolos, as técnicas de seleção, os materiais como órteses, próteses e outros e sua classificação, a aplicabilidade prática, os benefícios, enfim, todo o universo que permeia a TA. O uso da informática tem espaço reservado e não poderíamos nos furtar a levantar alguns questionamentos e levá-los a refletir sobre a questão da inclusão PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 14 escolar que ainda, mesmo que veladamente, é tabu e um tanto rejeitada por uma parcela da sociedade. Afinal de contas, inclusão não é somente abrir as portas da escola e falar, podem vir! Não mesmo. A inclusão de alunos com necessidades especiais na classe regular implica o desenvolvimento de ações adaptativas, como a flexibilização do currículo, para que ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula, e atender as necessidades individuais de todos os alunos. Essas adaptações curriculares realizam-se em três níveis: a) Adaptações no nível do projeto pedagógico (currículo escolar) que devem focalizar, principalmente, a organização escolar e os serviços de apoio, propiciando condições estruturais que possam ocorrer no nível de sala de aula e no nível individual. b) Adaptações relativas ao currículo da classe, que se referem, principalmente, à programação das atividades elaboradas para sala de aula. c) Adaptações individualizadas do currículo, que focalizam a atuação do professor na avaliação e no atendimento a cada aluno. Uma escola inclusiva é aquela em que todos os alunos recebem oportunidades adequadas às suas habilidades e necessidades. O princípio orientador da declaração de Salamanca de 1994 é de que todas as escolas devam receber todas as crianças independentemente das suas condições físicas, sociais, emocionais ou intelectuais (CARVALHO, 1997 apud WALTER, 2010). Em anexo, disponibilizamos uma lista com a legislação para pessoas com necessidades e sites eletrônicos de empresas que trabalham e vendem produtos para ajudas técnicas. Alguns podem estar se perguntando porque falar em leis, convenções, se o curso é voltado para capacitar o profissional a trabalhar com TA. Simples: vocês podem vir a serem gestores, podem participar de comissões técnicas, de grupos de trabalho, portanto, nada mais embasador do que conhecer as leis e políticas que regem esse universo para ajudarem a construir um futuro melhor. No Brasil, o Comitê de Ajudas Técnicas - CAT, instituído pela Portaria N° 142, de 16 de novembro de 2006 propõe o seguinte conceito para a tecnologia PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 15 Assistiva: “Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social” (ATA VII - Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) - Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) - Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Presidência da República). DAS AJUDAS TÉCNICAS À TECNOLOGIA ASSISTIVA: DEFINIÇÃO E EVOLUÇÃO Podemos pontuar como segunda na metade da década de 1980, o surgimento dos movimentos e lutas que almejavam ampliação do acesso e da qualidade na educação das pessoas com deficiência. Estamos falando de algo em torno de 30 anos e muitas têm sido as oportunidades para que os sujeitos com alguma deficiência, principalmente aqueles impossibilitados de se expressar de maneira adequada pela fala, de utilizarem recursos alternativos para se efetivar a comunicação. Walter (2010) sintetiza assim a história da comunicação alternativa: ✓ início no Brasil, na década de 70, na escola Quero-Quero em São Paulo com o uso do método Bliss por estudantes com deficiência motora, porém sem alterações cognitivas, possibilitando o uso de um sistema simbólico altamente abstrato; ✓ na década de 80, as escolas especiais começaram a utilizar alguns sistemas com fotos e figuras como sistema de comunicação alternativa com alunos não oralizados e com deficiência motora e também nas escolas destinadas ao atendimento de pessoas com autismo; ✓ na década de 90, a Comunicação Alternativa começa a ser questionadae implementada no campo científico, passando a compor a metodologia utilizada por pesquisadores de programas de pós-graduação em educação especial, sendo colocados a prova diferentes métodos e recursos destinados a compensar a ausência de fala por sujeitos com diferentes deficiências. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 16 Nesta última década, temos visto inúmeros trabalhos já publicados e os resultados vêm apontando grande vantagem no uso da Comunicação Alternativa e Tecnologia Assistiva nos diferentes contextos da vida, pois elas são de extrema importância para suprir e compensar os graves distúrbios da comunicação oral de pessoas não verbais incluídas no ensino regular e, como dito, em outros contextos da vida. Em 16 de novembro de 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República – SEDH/PR –, através da portaria nº 142, instituiu o Comitê de Ajudas Técnicas – CAT –, que reúne um grupo de especialistas brasileiros e representantes de órgãos governamentais, em uma agenda de trabalho. O CAT tem como objetivos principais: ➢ apresentar propostas de políticas governamentais e parcerias entre a sociedade civil e órgãos públicos referentes à área de tecnologia assistiva; ➢ estruturar as diretrizes da área de conhecimento; ➢ realizar levantamento dos recursos humanos que atualmente trabalham com o tema; ➢ detectar os centros regionais de referência, objetivando a formação de rede nacional integrada; ➢ estimular nas esferas federal, estadual, municipal, a criação de centros de referência; ➢ propor a criação de cursos na área de tecnologia assistiva, bem como o desenvolvimento de outras ações com o objetivo de formar recursos humanos qualificados e propor a elaboração de estudos e pesquisas, relacionados com o tema da tecnologia assistiva (BRASIL, 2006). Segundo nos conta Bersch (2010), para elaboração de um conceito de tecnologia assistiva que pudesse subsidiar as políticas públicas brasileiras os membros do CAT fizeram uma profunda revisão no referencial teórico internacional, pesquisando os termos Tecnologia Assistiva, Tecnologia de Apoio, Ajudas Técnicas, Ayudas Tecnicas, Assistive Technology e Adaptive Technology. O conceito português era muito abrangente, extrapolando a concepção de produto e agrega outras atribuições ao conceito de ajudas técnicas como: PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 17 estratégias, serviços e práticas que favorecem o desenvolvimento de habilidades de pessoas com deficiência, como se observa, Entende-se por ajudas técnicas qualquer produto, instrumento, estratégia, serviço e prática utilizada por pessoas com deficiência e pessoas idosas, especialmente, produzido ou geralmente disponível para prevenir, compensar, aliviar ou neutralizar uma deficiência, incapacidade ou desvantagem e melhorar a autonomia e a qualidade de vida dos indivíduos (PORTUGAL, 2007 apud BERSCH, 2010). A legislação americana apresenta a TA como recursos e serviços sendo que: Recursos são todo e qualquer item, equipamento ou parte dele, produto ou sistema fabricado em série ou sob medida utilizado para aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais das pessoas com deficiência. Serviços são definidos como aqueles que auxiliam diretamente uma pessoa com deficiência a selecionar, comprar ou usar os recursos acima definidos. (ADA - American with Disabilities (ACT 1994 apud BERSCH, 2010). A partir destes e outros referenciais o CAT – aprovou, em 14 de dezembro de 2007, o seguinte conceito: Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. (CORDE – Comitê de Ajudas Técnicas – ATA VII, disponível em: http://www.mj.gov.br/sedh/ct/corde/dpdh/corde/comite_at.asp). De acordo com Dias de Sá (BRASIL, 2006), a tecnologia assistiva deve ser compreendida como resolução de problemas funcionais, em uma perspectiva de desenvolvimento das potencialidades humanas, valorização de desejos, habilidades, expectativas positivas e da qualidade de vida, as quais incluem recursos de comunicação alternativa, de acessibilidade ao computador, de atividades de vida PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 18 diárias, de orientação e mobilidade, de adequação postural, de adaptação de veículos, órteses e próteses, entre outros. Um último conceito importante que compõe essa área que leva as pessoas a obterem autonomia, temos o conceito de “Desenho Universal”, definido no Decreto nº 5.296 de 2004 como: concepção de espaços, artefatos e produtos que visam atender simultaneamente todas as pessoas, com diferentes características antropométricas e sensoriais, de forma autônoma, segura e confortável, constituindo-se nos elementos ou soluções que compõem a acessibilidade. Acreditamos que este importante conceito do desenho universal, que contempla a realidade da diversidade humana, deva estar cada vez mais presente na formação das nossas engenharias de edificações e de produtos. Desta forma, não precisaríamos investir em reformas e adaptações para atender a um grupo específico de pessoas, mas novos ambientes e produtos seriam originalmente criados buscando atender a todos, independente de sua idade, tamanho, condição física ou sensorial. Precisamos também ultrapassar o entendimento de que o Desenho Universal se destina exclusivamente à concepção e desenvolvimento de espaços e artefatos. Ele se aplica devidamente à ação educacional, quando esta é preparada e exercida levando-se em conta a diversidade existente na escola e o seu valor, na qualificação da educação para todos (BERSCH, 2008). Segundo Rose e Meyer, O Desenho Universal para Aprendizagem (Universal Design for Learning - UDL), é um conjunto de princípios baseados na pesquisa e constitui um modelo prático para maximizar as oportunidades de aprendizagem para todos os estudantes. Os princípios do Desenho Universal se baseiam na pesquisa do cérebro e mídia para ajudar educadores a atingir todos os estudantes a partir da adoção de objetivos de aprendizagem adequados, escolhendo e desenvolvendo materiais e métodos eficientes, e desenvolvendo modos justos e acurados para avaliar o progresso dos estudantes (ROSE; MEYER, 2002 apud BERSCH, 2008). PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 19 Pois bem, sendo a Tecnologia Assistiva composta e pensando em termos de escola, de sala de aula, enfim de educação, temos: a) O recurso – é o equipamento utilizado pelo aluno, que lhe permite ou favorece o desempenho de uma tarefa. b) O serviço de tecnologia assistiva na escola é aquele que buscará resolver os problemas funcionais do aluno, no espaço da escola, encontrando alternativas para que ele participee atue positivamente nas várias atividades neste contexto. Fazer TA na escola é buscar, com criatividade, uma alternativa para que o aluno realize o que deseja ou precisa. É encontrar uma estratégia para que ele possa fazer de outro jeito. É valorizar o seu jeito de fazer e aumentar suas capacidades de ação e interação a partir de suas habilidades. É conhecer e criar novas alternativas para a comunicação, escrita, mobilidade, leitura, brincadeiras, artes, utilização de materiais escolares e pedagógicos, exploração e produção de temas através do computador, etc. É envolver o aluno ativamente, desfiando-se a experimentar e conhecer, permitindo que construa individual e coletivamente novos conhecimentos. É retirar do aluno o papel de espectador e atribuir-lhe a função de ator (BERSCH, 2007). É importante ressaltar que a legislação brasileira garante ao cidadão brasileiro com deficiência ajudas técnicas, portanto o professor especializado, sabendo desse direito do aluno, deve ajudá-lo a identificar quais são os recursos necessários para a sua educação, a fim de que ele possa recorrer ao poder público e obter esse benefício. Objetivos Concordamos plenamente com Bersch (2008) quando afirma que num sentido amplo, a evolução tecnológica caminha na direção de tornar a vida mais fácil. Sem nos apercebermos, utilizamos constantemente ferramentas que foram especialmente desenvolvidas para favorecer e simplificar as atividades do cotidiano, como os talheres, canetas, computadores, controle remoto, automóveis, telefones celulares, relógio, enfim, uma interminável lista de recursos, que já estão assimilados PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 20 à nossa rotina e, num senso geral, são instrumentos que facilitam nosso desempenho em funções pretendidas. Se decorrente desse sentido, TA deve ser então entendida como um auxílio que promoverá a ampliação de uma habilidade funcional deficitária ou possibilitará a realização da função desejada e que se encontra impedida por circunstância de deficiência ou pelo envelhecimento, podemos então dizer que o seu maior objetivo é proporcionar à pessoa com deficiência maior independência, qualidade de vida e inclusão social, através da ampliação de sua comunicação, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado e trabalho. Enfim, o objetivo da TA é promover a qualidade de vida e inclusão social de seus usuários. O processo de desenvolvimento das ajudas técnicas Consta no Manual do Ministério da Educação intitulado “Portal de Ajudas Técnicas para Educação” (MANZINI; DELIBERATO, 2006), o processo que serve de orientação para os profissionais da educação no sentido de encontrarem soluções por meio da utilização de objetos que auxiliem o aprendizado de pessoas com necessidades educacionais especiais. Cada necessidade é única e, portanto, cada caso deve ser estudado com muita atenção. A experimentação deve ser realizada muitas vezes, pois permite observar como a ajuda técnica desenvolvida está contemplando as necessidades percebidas. A seguir temos o fluxograma para o desenvolvimento de ajudas técnicas e suas respectivas explicações: PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 21 Fonte: Manzini e Deliberato (2006, p. 8). 1. Entender a situação que envolve o estudante: ➢ escutar seus desejos; ➢ identificar características físicas/psicomotoras; ➢ observar a dinâmica do estudante no ambiente escolar; ➢ reconhecer o contexto social. 2. Gerar ideias: ➢ conversar com usuários (estudante/família/colegas); ➢ buscar soluções existentes (família/catálogo); ➢ pesquisar materiais que podem ser utilizados; ➢ pesquisar alternativas para confecção do objeto. 3. Escolher a alternativa viável: ➢ considerar as necessidades a serem atendidas (questões do educador/aluno); ➢ considerar a disponibilidade de recursos materiais para a construção do objeto – materiais, processo para confecção, custos. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 22 4. Representar a ideia: (por meio de desenhos, modelos, ilustrações) ➢ definir materiais; ➢ definir as dimensões do objeto – formas, medidas, peso, textura cor, etc. 5. Construir o objeto para experimentação: ➢ experimentar na situação real do uso. 6. Avaliar o uso do objeto: ➢ considerar se atendeu o desejo da pessoa no contexto determinado; ➢ verificar se o objeto facilitou a ação do aluno e do educador. 7. Acompanhar o uso: ➢ Verificar se as condições mudam com o passar do tempo e se há necessidade de fazer alguma adaptação no objeto (MANZINI; DELIBERATO, 2006). O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIA ASSISTIVA Um protocolo de avaliação para implementação da TA, conhecido como Processo Básico de Avaliação, foi apresentado pelo ATACP – Assistive Technology Application Certificate Program – do Center on Disabilities da California State University de Northridge, EUA, para auxiliar a organização dos passos necessários ao conhecimento do aluno, a implementação e o seguimento da utilização da TA. Segundo Bersch e Pelosi (2006), neste protocolo de avaliação para implementação da TA foram propostas dez fases: 1ª) Coleta de informações do usuário: Compreende o conhecimento do aluno, sua história, necessidades e intenções com o uso da TA. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 23 2ª) Identificação de necessidades: Identificação das necessidades do contexto escolar, incluindo as necessidades do professor, dos colegas, os desafios curriculares, as tarefas exigidas no âmbito coletivo da sala de aula e as possíveis barreiras encontradas que impeçam o acesso do aluno aos espaços da escola, às relações interpessoais e/ou ao conhecimento. 3ª) Identificação de resultados desejados: A partir do conhecimento e da identificação das necessidades do aluno, são estabelecidas metas e definidos os objetivos que a equipe pretende alcançar. Para tal consideram-se as expectativas do aluno e do contexto escolar. 4ª) Mecanismos de fortalecimento da equipe: Em um serviço de TA, a ação interdisciplinar deve ser acompanhada da participação da família e do aluno para que se obtenha um bom resultado. Durante todo o processo de avaliação e implementação da TA deve-se buscar a valorização e organização do serviço implementado, o gerenciamento de tarefas, a escolha de lideranças para cada caso, trocas efetivas de experiências entre os membros da equipe, objetividade das ações implementadas e a participação igualitária de todos os membros do grupo. 5ª) Avaliação das habilidades: O principal objetivo da avaliação do aluno é pesquisar suas habilidades. Em TA aproveita-se o que o aluno consegue fazer e amplia-se esta ação por meio da introdução de um recurso. 6ª) Seleção/confecção e teste de recursos: Conhecendo as necessidades e habilidades do aluno e, determinando claramente os objetivos a atingir, faz-se apesquisa sobre os recursos disponíveis para aquisição ou desenvolve-se um projeto para confecção de um recurso personalizado, que corresponda aos objetivos traçados. 7ª) Revisão dos resultados esperados: PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 24 O aluno poderá necessitar de algum tempo para experimentar, aprender e avaliar se o resultado obtido com o auxílio do recurso corresponde as suas expectativas e necessidades. A avaliação da eficácia do recurso é fundamental antes da aquisição do material, principalmente, quando estiver relacionado a um recurso de alta tecnologia e alto custo. 8ª) Compra do recurso: Confirmada a eficácia do recurso proposto, este deve ser fornecido ao aluno na escola ou sua família deverá ser orientada para a aquisição. 9ª) Implementação da TA: Todo o projeto de TA encontra sentido se o aluno termina o processo de avaliação e leva consigo o recurso que lhe garante maior habilidade. O recurso de Tecnologia Assistiva pertence ao usuário e não pode ficar restrito ao espaço do atendimento especializado. A implementação da TA se dá, de fato, quando o recurso fica a serviço do aluno em todos os espaços. A equipe de TA deverá conhecer fontes de financiamento e propor à escola a aquisição dos recursos que venham atender às necessidades de sua clientela. 10ª) Seguimento e acompanhamento constante: A equipe de TA deverá seguir o aluno e acompanhar o seu desenvolvimento no uso da tecnologia. Modificações poderão ser necessárias, novos desafios funcionais poderão surgir e as necessidades do dia-a-dia trarão novos objetivos de intervenção para estes profissionais (BERSCH; PELOSI, 2006). CARACTERÍSTICAS DOS SERVIÇOS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA – EQUIPE MULTI/TRANSDISCIPLINAR Os serviços de TA são geralmente de característica multidisciplinar ou transdisciplinar e devem envolver profundamente o usuário da tecnologia e sua família, bem como os profissionais de várias áreas, já envolvidos no atendimento PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 25 deste aluno. Outros profissionais como os fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e psicólogos poderão auxiliar os professores na busca da resolução de dificuldades do aluno com deficiência. Convênios com secretaria da saúde e integração das equipes sempre serão bem-vindos (BERSCH, 2007). Outra alternativa interessante será o estabelecimento de contatos do professor especializado com os profissionais que já atendem seu aluno em instituições de reabilitação. Esses profissionais, que já conhecem o aluno, poderão compor com a escola a equipe de TA. É importante, também, que o professor especializado saiba que a reabilitação é um direito garantido por lei (Decreto nº 5.296/04) a todo brasileiro com deficiência e, se seu aluno não está recebendo acompanhamento nesta área, poderá também solicitar ao Estado. No âmbito da educação, o serviço de TA vai além do simplesmente auxiliar o aluno a fazer tarefas pretendidas. As palavras de Mantoan (s.d.) sobre o encontro entre a tecnologia e a educação fala muito bem do papel do educador e sua função primordial junto ao aluno com deficiência: O desenvolvimento de projetos e estudos que resultam em aplicações de natureza reabilitacional são, no geral, centrados em situações locais e tratam de incapacidades específicas. Servem para compensar dificuldades de adaptação, cobrindo déficits de visão, audição, mobilidade, compreensão. Assim sendo, tais aplicações, na maioria das vezes, conseguem reduzir as incapacidades, atenuar os déficits: Fazem falar, andar, ouvir, ver, aprender. Mas tudo isso só não basta. O que é o falar sem o ensejo e o desejo de nos comunicarmos uns com os outros? O que é o andar se não podemos traçar nossos próprios caminhos, para buscar o que desejamos, para explorar o mundo que nos cerca? O que é o aprender sem uma visão crítica, sem viver a aventura fantástica da construção do conhecimento? E criar, aplicar o que sabemos, sem as amarras dos treinos e dos condicionamentos? Daí a necessidade de um encontro da tecnologia com a educação, entre duas áreas que se propõem a integrar seus propósitos e conhecimentos, buscando complementos uma na outra. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 26 Sartoretto e Bersch (2013) elencam as seguintes áreas de atuação: ➢ Fisioterapia; ➢ Terapia ocupacional; ➢ Fonoaudiologia; ➢ Educação; ➢ Psicologia; ➢ Enfermagem; ➢ Medicina; ➢ Engenharia; ➢ Arquitetura; ➢ Design; ➢ Técnicos de muitas outras especialidades. Lembrem que a TA deve ser entendida como o “recurso do usuário” e não como “recurso do profissional” ou de alguma área específica de atuação. Isto se justifica pelo fato de que ela serve à pessoa com deficiência que necessita desempenhar funções do cotidiano de forma independente. Por exemplo, uma bengala é de uma pessoa cega ou que precisa apoio para a locomoção, a cadeira de rodas é de quem possui uma deficiência física, a lente servirá a quem tem baixa visão. Esta característica diferencia a TA de outras tecnologias como a médica PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 27 (desenvolvida para avaliação e terapêutica da saúde) ou a tecnologia educacional (projetada para favorecer o ensino e aprendizagem) (BERSCH, 2008). O serviço de TA tem, então, como objetivo, a avaliação, prescrição e ensino da utilização de um recurso apropriado. Todo este processo deverá envolver diretamente o usuário e terá como base o conhecimento de seu contexto, a valorização de suas intenções e necessidades funcionais pessoais, bem como suas habilidades atuais. A equipe de profissionais contribuirá com o conhecimento sobre os recursos de TA disponíveis e indicados para cada caso, ou desenvolverá um novo projeto que possa atender uma necessidade particular do usuário em questão. Atuação da Tecnologia Assistiva Para que os recursos e a resolução de problemas sejam efetivos, a Tecnologia Assistiva precisa ser funcional, como veremos adiante. Aqui também se faz necessário conhecer alguns modelos conceituais que explicam a incapacidade para, mais uma vez, se tornar efetivo o uso da TA. A funcionalidade De acordo com os objetivos propostos para a Tecnologia Assistiva, podemos inferir que ela visa melhorar a funcionalidade de pessoas com deficiência. O termo funcionalidade deve ser entendido num sentido maior do que habilidade em realizar tarefa de interesse. Segundo Sá (2003), o sucesso de alunos com deficiência pode ficar comprometido pela falta de recursos e soluções que os auxiliem na superação de dificuldades funcionais no ambiente da sala de aula e fora dele. É o que se observa nas escolas, a partir das situações e necessidades específicas destes alunos, cujo aprendizado e a realização de atividades próprias da rotina escolar, junto com toda a turma, são desafiadores para eles, seus familiares, colegas e professores. Os recursos e as alternativas disponíveis são considerados algocaro e pouco acessíveis para todos. Por isso, torna-se necessário disseminar esse conhecimento e fomentar a produção de tecnologias assistivas e torná-las funcionais, é claro! A professora que busca a resolução de problemas funcionais, no dia a dia da escola, mesmo sem o saber, produz tecnologia Assistiva. Por exemplo, ao engrossar o lápis para facilitar a preensão e a escrita ou ao fixar a folha de papel com uma fita adesiva para possibilitar que não deslize com a movimentação involuntária do aluno, PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 28 ou ainda, ao projetar um assento e um encosto de cadeira que garanta estabilidade postural e favoreça o uso funcional das mãos. Ao fazer isso, a professora cria soluções e estratégias, a partir do reconhecimento de um universo particular. Assim, mais uma vez afirmamos que a tecnologia assistiva deve ser compreendida como resolução de problemas funcionais, em uma perspectiva de desenvolvimento das potencialidades humanas, valorização de desejos, habilidades, expectativas positivas e da qualidade de vida. Segundo a CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade –, o modelo de intervenção para a funcionalidade deve ser biopsicossocial e diz respeito à avaliação e intervenção em: 1) Funções e estruturas do corpo – deficiência. 2) Atividades e participação – limitações de atividades e de participação. 3) Fatores Contextuais Ambientais e Pessoais. Vejamos cada uma delas: 1. Funções e Estruturas do Corpo e Deficiências Definições: ✓ funções do Corpo são as funções fisiológicas dos sistemas orgânicos (incluindo as funções psicológicas); ✓ estruturas do Corpo são as partes anatômicas do corpo, tais como, órgãos, membros e seus componentes; ✓ deficiências são problemas nas funções ou na estrutura do corpo, como um desvio importante ou uma perda. 2. Atividades e Participações/Limitações de Atividades e Restrições de Participação Definições: ✓ atividade é a execução de uma tarefa ou ação por um indivíduo; PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 29 ✓ participação é o envolvimento numa situação da vida; ✓ limitações de Atividades são dificuldades que um indivíduo pode encontrar na execução de atividades. ✓ restrições de Participação são problemas que um indivíduo pode experimentar no envolvimento em situações reais da vida. 3. Fatores Contextuais: Representam o histórico completo da vida e do estilo de vida de um indivíduo. Eles incluem dois fatores – Ambientais e Pessoais – que podem ter efeito num indivíduo com uma determinada condição de saúde e sobre a Saúde e os estados relacionados com a saúde do indivíduo. a) Fatores Ambientais: Constituem o ambiente físico, social e atitudinal, no qual as pessoas vivem e conduzem sua vida. Esses fatores são externos aos indivíduos e podem ter uma influência positiva ou negativa sobre o seu desempenho, enquanto membros da sociedade, sobre a capacidade do indivíduo para executar ações ou tarefas, ou sobre a função ou estrutura do corpo do indivíduo. b) Fatores Pessoais: Fazem parte do contexto pessoal, o histórico particular da vida e do estilo de vida de um indivíduo e englobam as características do indivíduo que não são parte de uma condição de saúde ou de um estado de saúde. Esses fatores podem incluir o sexo, raça, idade, outros estados de saúde, condição física, estilo de vida, hábitos, educação recebida, diferentes maneiras de enfrentar problemas, antecedentes sociais, nível de instrução, profissão, experiência passada e presente (eventos na vida passada e na atual), padrão geral de comportamento, caráter, características psicológicas individuais e outras características, todas ou algumas das quais podem desempenhar um papel na incapacidade em qualquer nível. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 30 MODELOS CONCEITUAIS PARA INCAPACIDADE Para compreender e explicar a incapacidade e a funcionalidade, foram propostos vários modelos conceituais, dentre eles citamos: Modelo Médico: Considera a incapacidade como um problema da pessoa, causado diretamente pela doença, trauma ou outro problema de saúde, que requer assistência médica sob a forma de tratamento individual por profissionais. Os cuidados em relação à incapacidade têm por objetivo a cura ou a adaptação do indivíduo e mudança de comportamento. A assistência médica é considerada como a questão principal e, a nível político, a principal resposta é a modificação ou reforma da política de saúde. Modelo Social: O modelo social de incapacidade, por sua vez, considera a questão principalmente como um problema criado pela sociedade e, basicamente, como uma questão de integração plena do indivíduo na sociedade. A incapacidade não é um atributo de um indivíduo, mas sim um conjunto complexo de condições, muitas das quais criadas pelo ambiente social. Assim, a solução do problema requer uma ação social e é da responsabilidade coletiva da sociedade fazer as modificações ambientais necessárias para a participação plena das pessoas com incapacidades em todas as áreas da vida social. Portanto, é uma questão atitudinal ou ideológica que requer mudanças sociais que, a nível político, se transformam numa questão de direitos humanos. De acordo com este modelo, a incapacidade é uma questão política. Abordagem Biopsicossocial: A CIF baseia-se numa integração desses dois modelos opostos. Para se obter a integração das várias perspectivas de funcionalidade é utilizada uma abordagem "biopsicossocial". Assim, a CIF tenta chegar a uma síntese que ofereça uma visão coerente das diferentes perspectivas de saúde: biológica, individual e social (SARTORETTO; BERSCH, 2013). PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 31 TECNOLOGIA ASSISTIVA: MODALIDADES, CATEGORIAS OU CLASSIFICAÇÃO A TA se organiza em modalidades ou especialidades e essa forma de classificação varia conforme diferentes autores ou instituições que trabalham com a TA. A organização por modalidades contribui para o desenvolvimento de pesquisas, recursos, especializações profissionais e organização de serviços (SÁ; 2003; BERSCH, 2007). Igualmente afirmam Sartoretto e Bersch (2013) que a importância das classificações no âmbito da tecnologia assistiva se dá pela promoção da organização desta área de conhecimento e servirá ao estudo, pesquisa, desenvolvimento, promoção de políticas públicas, organização de serviços, catalogação e formação de banco de dados para identificação dos recursos mais apropriados ao atendimento de uma necessidade funcional do usuário final. Bersch (2008) explica que os recursos de tecnologia assistiva são organizados ou classificados de acordo com objetivos funcionais a que se destinam. Os profissionais que trabalham com a Tecnologia Assistiva são responsáveis pela avaliação do usuário e seleção do recurso apropriado; o desenvolvimento de novas tecnologias; o ensino sobre a utilização do equipamentoe a implementação nos diferentes ambientes como a casa, a escola, a comunidade e o local de trabalho. Relembrando que a equipe de TA é de característica multidisciplinar e envolve professores, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, engenheiros, entre outras áreas (BERSCH; PELOSI, 2006). Várias classificações de TA foram desenvolvidas para finalidades distintas e ela cita a ISO 9999/2002 como uma importante classificação internacional de recursos, aplicada em vários países. O Sistema Nacional de Classificação dos Recursos e Serviços de TA, dos Estados Unidos, diferencia-se da ISO ao apresentar, além da descrição ordenada dos recursos, o conceito e a descrição de serviços de TA. A classificação HEART, é apresentada de forma adaptada no documento EUSTAT – Empowering Users Through Assistive Technology –, que foi elaborado por um grupo de pesquisadores de vários países da União Europeia e é considerada por eles, como sendo a mais apropriada para a formação dos usuários finais de TA, bem como para formação de recursos humanos nesta área. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 32 Como Sá (2003), Bersch (2008) justifica que ao apresentar uma classificação de TA, seguida de redefinições por categorias, destaca-se que a sua importância está no fato de organizar a utilização, prescrição, estudo e pesquisa de recursos e serviços em TA, além de oferecer ao mercado focos específicos de trabalho e especialização. A classificação abaixo foi construída com base nas diretrizes da ADA, tomamos também contribuições de Bersch (2008); Manzini (2006), Sá (2003) porém, não é definitiva e pode variar segundo alguns autores. Auxílio para a vida diária Materiais e produtos que favorecem desempenho autônomo e independente em tarefas rotineiras ou facilitam o cuidado de pessoas em situação de dependência de auxílio, nas atividades como se alimentar, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar necessidades pessoais. São exemplos os talheres modificados, suportes para utensílios domésticos, roupas desenhadas para facilitar o vestir e despir, abotoadores, velcro, recursos para transferência, barras de apoio, etc. Alimentação Vestuário PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 33 Materiais escolares que favorecem recorte, escrita e leitura CAA - Comunicação Aumentativa e Alternativa Destinada a atender pessoas sem fala ou escrita funcional ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade em falar e/ou escrever. Recursos como as pranchas de comunicação, construídas com simbologia gráfica (BLISS, PCS e outros), letras ou palavras escritas, são utilizados pelo usuário da CAA (na próxima unidade falaremos dos símbolos destinados ao CAA) para expressar suas questões, desejos, sentimentos, entendimentos. A alta tecnologia dos vocalizadores (pranchas com produção de voz) ou o computador com softwares específicos, garantem grande eficiência à função comunicativa. Prancha de comunicação, vocalizador com varredura e vocalizador portátil. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 34 Recursos de acessibilidade ao computador Conjunto de hardware e software especialmente idealizado para tornar o computador acessível, no sentido de que possa ser utilizado por pessoas com privações sensoriais e motoras. São exemplos de equipamentos de entrada os teclados modificados, os teclados virtuais com varredura, mouses especiais e acionadores diversos, softwares de reconhecimento de voz, ponteiras de cabeça por luz, entre outros. Como equipamentos de saída podemos citar a síntese de voz, monitores especiais, os softwares leitores de texto (OCR), impressoras braile e linha braile. Teclado Intellikeys, acionadores com mouse adaptado, mouse por movimento da cabeça, monitor com tela de toque e órtese para digitação Fonte: Bersch (2008, p. 7). Dispositivo de saída linha Braille e software para controle do computador com síntese de voz Fonte: Bersch (2008, p. 7). PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 35 Sistemas de controle de ambiente Através de um controle remoto, as pessoas com limitações motoras, podem ligar, desligar e ajustar aparelhos eletroeletrônicos como a luz, o som, televisores, ventiladores, executar a abertura e fechamento de portas e janelas, receber e fazer chamadas telefônicas, acionar sistemas de segurança, entre outros, localizados em seu quarto, sala, escritório, casa e arredores. O controle remoto pode ser acionado de forma direta ou indireta e, neste caso, um sistema de varredura é disparado e a seleção do aparelho, bem como a determinação de que seja ativado, se dará por acionadores (localizados em qualquer parte do corpo) que podem ser de pressão, de tração, de sopro, de piscar de olhos, por comando de voz, etc. Representação de controle de ambiente Projetos arquitetônicos para acessibilidade Projetos de edificação e urbanismo que garantem acesso, funcionalidade e mobilidade a todas as pessoas, independente de sua condição física e sensorial. Adaptações estruturais e reformas na casa e/ou ambiente de trabalho, através de rampas, elevadores, adaptações em banheiros, mobiliário, entre outros, que retiram ou reduzem as barreiras físicas. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 36 Rampa de acesso Projeto de acessibilidade arquitetônica em elevadores, calçadas e banheiros Órteses e próteses Próteses são peças artificiais que substituem partes ausentes do corpo. Órteses são colocadas junto a um segmento do corpo, garantindo-lhe um melhor posicionamento, estabilização e/ou função. São normalmente confeccionadas sob medida e servem no auxílio de mobilidade, de funções manuais (escrita, digitação, utilização de talheres, manejo de objetos para higiene pessoal), correção postural, entre outros. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 37 Prótese de membro inferior e órtese de mão Fonte: Bersch (2008, p. 8). Adequação postural Ter uma postura estável e confortável é fundamental para que se consiga um bom desempenho funcional. Fica difícil a realização de qualquer tarefa quando se está inseguro com relação a possíveis quedas ou sentindo desconforto. Um projeto de adequação postural diz respeito à seleção de recursos que garantam posturas alinhadas, estáveis e com boa distribuição do peso corporal. Indivíduos cadeirantes, por passarem grande parte do dia numa mesma posição, serão os grandes beneficiados da prescrição de sistemas especiais de assentos e encostos quelevem em consideração suas medidas, peso e flexibilidade ou alterações músculo-esqueléticas existentes. Adequação postural diz respeito a recursos que promovam adequações em todas as posturas, deitado, sentado e de pé, portanto, as almofadas no leito ou os estabilizadores ortostáticos, entre outros, também podem fazer parte deste recurso da TA. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 38 Desenho representativo da adequação postural Carrinho para transporte Auxílios de mobilidade A mobilidade pode ser auxiliada por bengalas, muletas, andadores, carrinhos, cadeiras de rodas manuais ou elétricas, scooters e qualquer outro veículo, equipamento ou estratégia utilizada na melhoria da mobilidade pessoal. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 39 Cadeira de rodas motorizada e cadeira de rodas de alta-propulsão Cadeira de rodas especial para praia e andador com freio Auxílios para cegos ou para pessoas com visão subnormal Equipamentos que visam a independência das pessoas com deficiência visual na realização de tarefas como: consultar o relógio, usar calculadora, verificar a temperatura do corpo, identificar se as luzes estão acesas ou apagadas, cozinhar, identificar cores e peças do vestuário, verificar pressão arterial, identificar chamadas telefônicas, escrever, ter mobilidade independente, etc. Inclui também auxílios ópticos, lentes, lupas e telelupas; os softwares leitores de tela, leitores de texto, ampliadores de tela; os hardwares como as impressoras braile, lupas eletrônicas, linha braile (dispositivo de saída do computador com agulhas táteis) e agendas eletrônicas. PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 40 Termômetro falado e teclado falado Auxílios para pessoas com surdez ou com déficit auditivo Auxílios que inclui vários equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos para surdez, telefones com teclado-teletipo (TTY), sistemas com alerta táctil-visual, entre outros. Adaptações em veículos Acessórios e adaptações que possibilitam uma pessoa com deficiência física dirigir um automóvel, facilitadores de embarque e desembarque como elevadores para cadeiras de rodas (utilizados nos carros particulares ou de transporte coletivo), rampas para cadeiras de rodas, serviços de autoescola para pessoas com deficiência. Elevador para cadeira de rodas PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 41 É importante que, a partir do entendimento conceitual, o professor que trabalha: ➢ com alunos cegos saiba que o livro em braile, o material pedagógico confeccionado em relevo, os programas de computador que fazem o retorno auditivo, também são TA; ➢ para o aluno surdo, o material especificamente produzido com referencial gráfico visual e que procura traduzir o que é comumente escutado, ou a campainha que é substituída por sinalização visual etc., também é TA; ➢ para o aluno com dificuldades de aprender a ler e a escrever, podemos construir ou disponibilizar recursos e materiais especiais com apoio de símbolos gráficos junto à escrita. Para esse aluno, o computador, com software de retorno auditivo, auxiliará a explorar mais facilmente os conteúdos de textos e tudo isso é TA (BERSCH, 2007). A LINGUAGEM E A LEITURA RECOMBINATIVA GENERALIZADA No Brasil, vários estudos têm apresentado diferentes procedimentos de ensino com objetivo de ensinar habilidades básicas de leitura em crianças com dificuldades de aprendizagem (ARAÚJO, 2007), com desenvolvimento atípico (CRUZ, 2005; ALVES; KATO; ASSIS; MARANHÃO, 2007; ALVES; ASSIS; KATO; BRINO, 2011) ou ainda, pré-escolares (HÜBNER; GOMES; MCILVANE, 2009). Esses estudos priorizam o desenvolvimento de leitura recombinativa generalizada, que consiste no responder adequadamente a diferentes combinações das unidades linguísticas que compõem os estímulos verbais mais complexos, como a palavra (MUELLER; OLMI; SAUNDERS, 2000). A leitura recombinativa generalizada, isto é, a leitura de novas palavras constituídas por recombinações de letras e sílabas de palavras já aprendidas, pode ocorrer em função de uma série de variáveis, sendo que o o desenvolvimento de controle de estímulos por unidades textuais mínimas (SKINNER, 1992), parece ser um pré-requisito imprescindível. Diferente de Skinner, que sugere um desenvolvimento "natural" dessa habilidade, para Sidman (1994), o controle de PÓS-GRADUAÇÃO – INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO Rua Silva Jardim, 296 Floresta – Belo Horizonte - MG www.institutoibe.com.br | facebook.com/institutoibe 42 estímulos pelas unidades básicas deve ser estabelecido diretamente, garantindo que o comportamento não fique sob controle concorrente de variáveis não identificadas. Pesquisas conduzidas a partir do paradigma de equivalência de estímulos (SIDMAN, TAILBY, 1982; SIDMAN, 1994) descrevem a leitura como um conjunto de operantes discriminados que compõem uma rede de relações entre estímulos e entre estímulos e respostas, cujos elementos são inter-relacionados e interativos. Diferentes operantes verbais (SKINNER, 1992) passam a fazer parte da rede de relações durante a aquisição de leitura (SIDMAN, TAILBY, 1982; MACKAY, 1985; SEREJO et al. 2007). Em um estudo pioneiro conduzido por Sidman (1971) com um rapaz de 17 anos, com necessidades educacionais especiais, o participante aprendeu a relacionar corretamente 20 palavras ditadas (A) às respectivas figuras (B), a nomear corretamente essas 20 figuras (relação BD) e emparelhar palavra escrita com palavra escrita (relação CC). Nos primeiros testes, ele não apresentou leitura auditivo-receptiva (relação AC) e nem os emparelhamentos de figuras (estímulo modelo) e palavras impressas (estímulos de escolha), e vice-versa (relações BC e CB). Foi ensinada, então, a relação AC (escolher as palavras escritas correspondentes àquelas ditadas pelo experimentador). Nesse treino, o número de palavras ensinadas era gradualmente aumentado e, antes de cada aumento, as relações CB, BC e CD (nomeação oral da palavra pelo participante) eram testadas. Após o ensino das 20 palavras, o participante apresentou 100% de acertos em todas as relações. Com base nos resultados, o autor concluiu que emparelhamentos de palavras ditadas como modelo, com figuras correspondentes como escolha (relação AB) e o ensino de palavras ditadas como modelo, com palavras escritas como escolhas (AC), eram pré-requisitos suficientes para a emergência de dois tipos de relações, sem necessidade de treino adicional: as relações entre palavras escritas e figuras e a nomeação oral de palavras (leitura oral). Portanto, relações de equivalência são definidas por apresentarem as propriedades relacionais de reflexividade, simetria e transitividade (SIDMAN, 1994). A reflexividade consiste na relação de um elemento
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