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Relatório de pesquisa - Desafios do processo licitatório

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1. INTRODUÇÃO
O tema a ser estudado será os desafios enfrentados durante o processo licitatório, que podemos descobrir ao longo do dia-a-dia. Esse tema foi escolhido em razão de trabalharmos no Setor de Licitações, pois vivenciamos e presenciamos diversas dificuldades em várias etapas do processo. 
Por meio deste relatório de pesquisa buscamos demonstrar quais as principais dificuldades que encontramos em nosso cotidiano, ao montar o processo licitatório, e apresentar possíveis soluções a esses obstáculos.
Esta pesquisa foi realizada através de material bibliográfico, leis federais, estaduais e municipais, revistas informativas e sites, onde as participantes do grupo colheram as informações pertinentes para a elaboração do projeto, como também, através de reuniões do grupo, onde foram levantadas questões cotidianas do nosso trabalho e para debates quanto ao tema em estudo.
	O objetivo desse relatório de pesquisa é demonstrar alguns desafios enfrentados no processo licitatório em nosso Município e buscar sanar tais dificuldades, e também encontrar aspectos positivos na elaboração do processo, para trazer cada vez mais economicidade aos cofres públicos. 
2. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
	Inicialmente faremos uma breve conceituação de licitação, apresentaremos a fundamentação jurídica e os princípios norteadores do processo licitatório, buscando, assim, melhor entendimento do assunto tratado.
2.1 Conceito de licitação
	Sucintamente podemos conceituar licitação como o procedimento pelo qual a Administração seleciona, através de critérios preestabelecidos, a melhor opção para a celebração de um contrato. Tal procedimento tem o intuito de que interessados ofereçam propostas e seja escolhida, assim, a que seja mais vantajosa ao interesse público.
	No mesmo sentido, o doutrinador MEIRELLES conceitua:
“Licitação é o procedimento administrativo mediante o qual a Administração pública seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse. Como procedimento, desenvolve-se através de uma sucessão ordenada de atos vinculados para a Administração e para os licitantes, o que propicia igual oportunidade a todos os interessados e atua como fator de eficiência e moralidade nos negócios administrativos.”
Nesse âmbito, a licitação é composta de etapas e atos que visam a levantar informações e condições dos interessados e a viabilizar a participação de fornecedores, a fim de saber quem se propõe a oferecer ao ente público a melhor oferta.
De acordo com o valor da licitação ou da pretensão contratual, deverá ser determinada a modalidade licitatória, podendo ser: Concorrência; Tomada de Preços; Convite; Concurso; Leilão (Alienação); e Pregão. Esta última amparada pela Lei nº 10.520/2002. 
2.2 Fundamento legal
	Em nosso ordenamento jurídico podemos observar diversos fundamentos legais quanto ao procedimento licitatório, como na Constituição Federal, que dispõe em seu artigo 22, inciso XXVII que:
“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;”
Assim, vemos que a União possui competência para legislar sob normas gerais e que outros entes poderão legislar sobre normas específicas, como é o caso, por exemplo, do Município de Marechal Cândido Rondon, que possui normas municipais que tratam de licitação, como a Instrução Normativa Conjunta nº 001/2017, da Controladoria Geral do Município e a Procuradoria Geral do Município que regulamenta as contratações de serviços sob o Regime de Execução Indireta no âmbito da Administração Pública de Marechal Cândido Rondon e o decreto nº 187, de 07 de junho de 2016, que regulamenta aquisição de bens e contratação de serviços pelo Sistema Registro de Preços no âmbito da administração pública municipal direta e indireta do município.
Na Carta Magna, devemos destacar, também, o inciso XXI do artigo 37 o qual diz o seguinte:
”XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações”.
Ou seja, as obras, serviços, compras e alienações devem ocorrer, em regra, através de procedimento licitatório. A Lei nº 8.666 de 21 de junho de 1993 regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal e institui normas para licitações e contratos da administração pública no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Citando a Lei nº 8.666/93 que traz as modalidades constantes no subitem 2.1 deste relatório, devemo-nos lembrar também de abordar brevemente a Lei nº 10.520 de 17 de julho de 2002, que institui e regulamenta a modalidade de licitação denominada Pregão, para aquisição de bens e serviços comuns, independente do valor da contratação. A finalidade do procedimento licitatório na referida modalidade sempre será o interesse público, porém, podemos segmentar o princípio da chamada “Supremacia do interesse público” em algumas características, dentre elas a celeridade, competitividade, justo preço e economicidade.
A referida modalidade pode ser disposta em duas formas: Pregão presencial ou eletrônico. A segunda, inclusive, regulamentada através do Decreto nº 5.450 de 31 de maio de 2005.
Não podemos deixar de citar, também a Lei Complementar nº 123 de 14 de dezembro de 2006, e suas alterações, como a Lei Complementar nº 147, de 07 de agosto de 2014, que dispõe sobre o tratamento diferenciado em relação aos benefícios de contratação de empresas enquadradas como Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, como por exemplo a regularidade fiscal tardia e empate ficto.
2.3 Princípios norteadores
	O processo licitatório deve respeitar os princípios elencados no artigo 37, caput, da Constituição Federal, sendo eles os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
	A Lei nº 8.666/93 traz, em seu artigo 3º, princípios específicos da licitação, ao dispor: 
“A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.”
2.4 Realidade no Município
Em nosso município (Marechal Cândido Rondon), podemos perceber diversos desafios em várias etapas do processo licitatório.
Na fase inicial, o órgão gerenciador e/ou o responsável pelo setor de compras das secretarias e unidades descentralizadas têm dificuldade em dar andamento no processo, visto vários problemas. Podemos citar a dificuldade do órgão gerenciador para dar início ao processo em razão da demora e falta de comprometimento dos demais envolvidos no trâmite para enviar documentação informando quais produtos e/ou serviços, quantidade, dotação orçamentária e fundamentação para aquela contratação.
Percebemos que há dificuldade com relação ao planejamento, uma vez que as secretarias solicitam produtos e serviços desnecessários ou em quantidades exageradas, quando o processo será regido pelo Sistema Registro de Preços, e assim, além dos valores que poderiam ser economizados, existe a questão da frustração por parte dos licitantes, uma vez quevislumbram um edital com valor alto e no decorrer da execução da Ata de Registro de Preço, uma grande porcentagem do objeto não é contratada. Por outro lado, também pode ocorrer que algumas secretarias solicitam quantitativo insuficiente ou nenhum e, quando surge a necessidade, precisam se utilizar de uma Ata com quantitativo e/ou qualitativo que foi planejada por outra unidade, fazendo com que a falta de planejamento por parte da primeira, afete toda uma estrutura.
Para a definição de valores do edital, podemos citar o Acórdão nº 4624/17 – Tribunal Pleno do Tribunal de Contas do Estado do Paraná: 
“A regra geral a ser observada para fixação de preço máximo de um bem ou serviço é da diversidade das fontes de consulta. Nessa linha de raciocínio, segundo a Lei 8666/93 e a construção jurisprudencial do Tribunal de Contas da União, cuja corrente interpretativa nos filiamos, a Administração dispõe dos seguintes recursos de consulta de preços: (1) portal de compras governamentais www.comprasgovernamentais. gov.br; (2) editais de licitação e contratos similares firmados por entes da Administração Pública, além de contratações anteriores do próprio órgão, concluídos em até 180 dias anteriores a consulta ou em execução; (3) atas de registro de preços da Administração Pública; (4) publicações especializadas; (5) cotações com fornecedores em potencial; e (6) sites especializados, desde que de amplo acesso, fazendo constar a data e horário da consulta.”
Existe um grande problema que enfrentamos em relação à definição dos valores (do preço do objeto) da licitação. Apesar de realizarmos todas as etapas citadas no referido acórdão, há uma dificuldade em se determinar valores médios, ou mínimos para um edital, com a pesquisa do objeto, que muitas vezes não encontramos similaridades, e com isso, os valores são diferentes, e também a partir do recebimento e análise de orçamentos fornecidos por empresas. A grande maioria dos fornecedores da nossa municipalidade não se mostra disposto a encaminhar orçamento, ou em últimos casos, quando recebemos a cotação, ela possui valores exorbitantes que não condizem com os reais preços de mercado, normalmente sendo maiores que o referencial, e que ao final da análise, tal orçamento acaba sendo descartado.
Apesar de tais dificuldades, nossos pareceristas jurídicos aconselham que todas essas etapas sejam seguidas, sempre que possível. Assim, com a dificuldade de conseguir orçamentos e consequentemente definir os valores para lançamento do edital, o processo acaba ficando parado por muito tempo, aguardando resposta de fornecedores ou em busca de novos meios para tal definição. E tal situação não colabora em aspecto algum para a celeridade do processo.
No entanto, às vezes não possuímos conhecimento do real valor de mercado dos materiais e serviços, e assim abrimos a licitação com valor muito acima do que realmente é praticado no mercado, gerando gastos desnecessários aos cofres públicos.
Percebemos também, que há dificuldade das secretarias municipais em montar o processo, seja por falta de capacitação suficiente ou até mesmo pelo acúmulo de tarefas que um mesmo servidor executa, não conseguindo, desta forma realizar com êxito aquilo que se propõe a fazer.
Já na fase externa do processo podemos citar os inconvenientes sofridos em relação às empresas interessadas no certame. É o caso das impugnações. Os editais possuem prazo limite para protocolização de impugnação, sendo para o referido Município, 2 (dois) dias úteis antes da abertura da sessão. Porém, algumas empresas fazem seu protocolo no limite final do prazo estipulado, causando atraso em todo o processo. Outra questão em relação à impugnação pode se dar em relação aos descritivos do objeto elaborados de maneira inadequadas ou insuficientes.
Outra dificuldade enfrentada são os problemas com dimensionamento das propostas por parte dos licitantes, com breves pedidos de aditivo ou reequilíbrio logo ao iniciar a execução do objeto, além da dificuldade em convocar as empresas vencedoras para que façam assinatura de Contrato ou Ata de Registro de Preços.
2.5 Solução
	No que pese ao problema de planejamento das secretarias municipais, a capacitação voltada a este assunto ajudaria a sanar o problema, uma vez que aprenderiam formas de realizar um planejamento adequado. Por hora, as secretarias podem utilizar o sistema que utilizamos dentro do Paço Municipal, para gerar relatórios com os gastos daquele objeto nos anos anteriores, tendo, assim, uma noção da quantidade a ser solicitada em cada ano, considerando a margem de aumento ou supressão que aquele item pode sofrer, devido à vários fatores. Além disso podem buscar também descrever aquilo que se propõe a contratar de maneira correta para evitar os transtornos com impugnação, por exemplo. 
	Caberia também ao Município realizar cursos de capacitação na área ou motivar os servidores a buscar conhecimento.
	A solução para o acumulo de tarefas seria a convocação através de concurso público, de servidores efetivos para suprir a demanda que o setor exige, uma vez que o assunto no qual estamos trabalhando requer tanto conhecimento, quanto experiência.
	Os servidores precisam, também, melhorar a comunicação entre si. Uma só pessoa dificilmente conseguirá dizer realmente o que a secretaria inteira necessita, uma vez que há diversas unidades descentralizadas, devendo ser levantada a necessidade em todas as unidades.
	Quanto a questão da dificuldade em relação aos orçamentos, deveria haver conscientização por parte de toda a comunidade, para que possam fiscalizar, acompanhar e colaborar para que o serviço público tenha bom andamento.
Acreditamos que a única solução para extinguir os casos que retardam o processo licitatório de sua fase externa até a sua finalização, por exemplo, é a integração de várias etapas em conformidade e padronizadas, além de serem colocadas em práticas por parte de todos a severa fiscalização e consequente penalização de qualquer que seja o autor de atraso no decorrer do processo.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
	O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise bibliográfica e de vivência no setor de licitações deste município. Diante do exposto, foi possível a conclusão de que a Lei Federal nº 8.666/93 que trata das Licitações e Contratos Administrativos, corrobora e regula, no artigo 37 inciso XXI, da Constituição Federal de 1988, a melhor forma de oficializar a contratação entre a administração pública e particulares e/ou outros, de forma imparcial e transparente.
	Com a análise do presente relatório, pudemos concluir que existem diversos desafios a serem vencidos quando se trata da elaboração do processo licitatório, desde a etapa inicial da definição do objeto, de pesquisa de preços até a sua conclusão, quando da assinatura do instrumento contratual.
	Visto que, em contrapartida dos desafios, podemos perceber que os mesmos também possuem soluções a serem alcançadas para um único objetivo: a eficiência do processo licitatório como um todo.
4. REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Marcus Vinicius Corrêa (ORG.). Programa em Governança Municipal – Livro I.
CEGALA, Joana Ribeiro Gomes. Conceitos, princípios, tipos de licitação, fase de habilitação do processo licitatório interpretados pela doutrina pátria. 2015. Disponível em:<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11030>. Acesso em: 25 de novembro de 2018.
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GUIMARÃES, Fernando Augusto Mello. ACÓRDÃO Nº 4624/17 - Tribunal Pleno, R. dig. Trib. Contas Est. Paraná, Curitiba, n. 19, p. 104-123, out./nov./dez. 2017.
Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8666compilado.htm> Acesso em: 25 de novembro de 2018.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 35. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.
MENDES, Renato Geraldo. As modalidades de licitação. Revista Zênite – Informativo de Licitações e Contratos, Curitiba: Zênite, n. 215, p. 5-19, janeiro de 2012.
SANTANA, Jair Eduardo. Pensamentos linear-cartesiano, sistêmico e complexo aplicados à governança pública – As aquisições governamentais. Revista Zênite – Informativo de Licitações e Contratos, Curitiba: Zênite, n 226, p. 1207-1217, dezembro de 2012.
VADE MECUM, 12 Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.

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