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Fontes de Receita do Governo

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Resumo: Capítulo ll. As Fontes da Receita Geral ou Públicas da Sociedade 
O dinheiro para cobrir as despesas necessárias do governo pode ser proveniente de fundos que pertençam ao soberano ou à república, ou pode ser produto de impostos sobre rendimentos do povo.
Primeira Parte
Os Fundos de Receita que Podem Pertencer Particularmente ao Soberano ou ao Estado
Esses fundos são, necessariamente, compostos por capitais ou por terras fundiárias.
O capital soberano produz lucros, se for usado pelo próprio soberano, ou juros, se ele o emprestar a outros.
Assim, o rendimento de um chefe árabe ou tártaro é composto por lucros. Estes provêm sobretudo da criação de vastas manadas. Pequenas repúblicas como Hamburgo obtiveram, por vezes, lucros colossais provenientes de negócios comerciais (no caso, uma loja de vinho e uma farmácia). Repúblicas maiores, como a própria Hamburgo num período posterior, mas também Veneza e Amsterdã, obtiveram rendimentos com origem num banco público. Por vezes, houve quem avançasse a ideia de que a Grã-Bretanha poderia assegurar, ela mesma, a condução do Banco de Inglaterra e obter lucros importantes. Tal não boa ideia, diz Adam Smith, para quem uma empresas desse gênero pode ser gerida por uma administração organizada, vigilante e parcimoniosa de uma aristocracia como as de Veneza ou Amsterdã, mas não pelo governo inglês , que nuca foi conhecido por sua parcimônia econômica. Em tempos de paz mostrou-se cair nos excessos e na instabilidade próprios das democracias. Os correios, pelo contrário, são empresas que geralmente são conduzidas com sucesso por toda a espécie de governos.
Há príncipes que se dedicam a especulações comerciais, mas nunca com sucesso, sublinha Smith. É praticamente impossível que tal se deva unicamente a quantidade de assuntos que tem de gerir. Acontece também que os agentes de um príncipe vivem geralmente na abundancia e consideram as riquezas do seu senhor inesgotáveis. Nunca se inquietam com o preço ao qual vendem, nem com o preço ao qual compram. Após várias aventuras deste gênero, os príncipes de Médicis abandonaram o oficio de mercadores, apesar de ter este ter estado na origem da ascensão da família. Na verdade, não há dois feitos mais incompatíveis do que o de príncipe e o de mercador. O espirito mercantil dos diretores da companhia das Índias inglesas resultaram em soberanos muito maus e seu espirito de soberania, por outro lado, fez deles muito maus mercadores. 
Por saber que o soberano tomará para si parte do lucro da melhoria. É preciso encontrar um sistema que não seja desincentivador. Adam Smith propõe que o proprietário possa, antes de iniciar as melhorias na terra, chamar oficiais do fisco para apurar o valor da mesma. Ele seria, então, taxado com base nessa avaliação durante um certo número de anos, de forma a indenizar a sua despesa. 
O que deve dominar aqui é o encorajamento máximo do proprietário para tirar partido do mais pequeno pedaço de terreno, para gozar da plenitude do fruto do seu esforço.
O soberano deve proporcionar-lhe um mercado o mais alargado possível para escoar a sua produção (melhorando as vias de comunicação terrestres) em toda a extensão do seu Estado e garantir-lhe a liberdade de exportação o mais ilimitada possível para Estados estrangeiros.
Este imposto ajustar-se-ia imediatamente por si às variações no estado da agricultura. Preservaria constantemente os princípios de justiça e de igualdade. Deveria por esse motivo, ser estabelecido como regulamento perpétuo e inalterável e substituir o imposto cuja recepção é baseada numa avaliação fixa. Deveria tornar-se a “lei fundamental do Estado”.
Por vezes, em vez de se servir do método simples e natural de registro dos alugueres, o Estado recorre ao método penoso e dispendioso do levantamento e uma avaliação de todas as terras do país. Trata-se aqui de evitar entendimentos entre os contratantes para esconder as cláusulas reais do aluguer, com vista a enganar o fisco. O grande cadastro de Inglaterra foi resultado de um tal levantamento. Este foi efetuado com grande exatidão. Foi também o caso dos antigos Estados da Prússia, da Boémia, de Sabóia, de Piemonte, etc...Este sistema gera desigualdades. Nos Estados do rei da Prússia, os rendimentos eclesiásticos são taxados de forma mais gravosa do que os dos proprietários laicos, Porquê? Porque os terrenos da Igreja não são bem explorados e não contribuem para crescimento da receita. Na Silésia, as terras dos nobres são taxadas 3% acima das terras pertencentes a não nobres para compensar as honras e os privilégios da nobreza. Em França é o contrário: o taille real ou fundiária atinge unicamente as pessoas comuns, enquanto as terras da nobreza são isentas de impostos.
Um imposto territorial assente num levantamento e numa avaliação geral acaba necessariamente por, ao fim de pouco tempo, se tornar desigual. Isto obriga o governo a uma atenção penosa e contínua a todas as variações que possam interferir com o valor e o produto de cada uma das diferentes quintas do país. Esta vigilância constante é pouco conforme a natureza de um governo e é provável que, devido aos embaraços e humilhações que causa aos contribuintes, ela acabe por desaparecer a longo prazo.
Segunda Parte 
Impostos
Dos impostos que são proporcionais ao produto da terra e não ao rendimento do proprietário.
Os impostos que incidem sobre o produto da terra são, na realidade, impostos sobre a renda e o aluguer que, mesmo sendo avançados pelo rendeiro, são sempre suportados, em última análise pelo proprietário. De fato, quando uma parte do produto tem de ser consagrada ao imposto, o rendeiro calcula sempre – com o máximo de rigor – o valor do imposto e subtrai-o ao montante que tem de pagar ao proprietário.
O dízimo e qualquer outro imposto do mesmo tipo é, contrariamente as aparências, extremamente desigual, pois exige a mesma porcentagem de cobrança sobre as terras excelentes e sobre as terras medíocres. Para entender bem este ponto, é preciso distinguir duas partes do produto anual da terra:
-Uma parte serve para substituir o capital do rendeiro e assegurar-lhe os lucros normais que um capital assim investido rende no cantão;
-Outra parte (a porção restante) consiste naquilo que o rendeiro pode pagar ao proprietário como renda ou aluguer.
Suponhamos que a terra é muito fértil e imaginemos que 50% do produto basta para cobrir o capital do rendeiro e assegurar os seus lucros. Se não houver dizimo, o proprietário obteria os outros 50% . Se o dizimo é de 10%, o proprietário só recebera 40% (uma vez que o dizimo não pode incidir sobre a parte do rendeiro que, de outro modo, não teria qualquer interesse em trabalhar). Suponhamos agora que a terra é pobre e que a parte do produto necessária para cobrir o capital do rendeiro e o seu lucro normal se cifra em 80%. Após a dedução do dizimo de 10%, o proprietário apenas receberá 10% do produto. O dizimo é, assim, um imposto desigual porque, no primeiro caso, equivale a cerca de um quinto da parte do proprietário (10% que se retiram a 50%) e, no segundo caso, a metade da sua parte (10% retirados a 20%) .
Por outro lado, o dizimo é um fator de desmotivação do proprietário para fazer melhorias e do rendeiro para cultivar. Ele desencoraja, e por vezes dissuade totalmente, melhorias importantes ou um aumento das colheitas, porque a Igreja, receptora do dizimo, chama a si uma grande parte do lucro sem contribuir em nada para a despesa.
Na China, a principal receita do soberano ascende a 10% do produto das terras do império. No entanto, como esta décima parte está assente numa avaliação muito moderada, afirma-se que não excede 1/30 do produto normal. Esta espécie de imposto territorial incita, diz-se, o soberano a interessar-se pelo cultivo e pelo melhoramento das terras. Isto explica por que motivo tanto na China como em Bengala, antes da chegada dos Ingleses, e no Egito (país onde este imposto existia), os soberanos construíram e mantiveram com dedicação boas estradas e canais navegáveis: isso dava as mercadoriasum mercado mais alargado possível. O dizimo da Igreja, pelo contrário, é redistribuído de tal modo que nenhum dos “dizimadores” pode ter interesse em desenvolver vias de comunicação. Um padre de uma paróquia nunca vai construir uma estrada ou abrir um canal.
Estes impostos sobre o produto das terras podem ser recebidos em gêneros ou em dinheiro (em função de uma avaliação). Isto depende um pouco da dimensão do terreno. Um proprietário que alcance com, os seus olhos o terreno vizinho pode ter vantagem em receber em gêneros. Para um proprietário rico, mais vale ser pago em dinheiro.
Um imposto sobre os alugueis pagos pelo locatário não influencia de forma duradoura as receitas dadas pelas superfícies ou pelas construções. Porquê? Porque, se o empresário não for compensado (se o seu lucro se revelar insuficiente), ele e muitos outros empresários abandonarão e setor. Isso fará aumentar a procura de prédios e colocará o lucro no seu nível justo. Este imposto recaíra em parte sobre o locatário e em parte sobre o proprietário do solo.
Adam Smith avança no seguinte exemplo: imaginemos uma pessoa que não pode dar mais de 60 libras anuais por aluguer. Um imposto de 20% faz com que a habitação de 60 libras lhe custe 72 (20%¨de 60 são 12). Como ela não pode desembolsar mais de 60 libras por ano, vê-se obrigada a encontrar algum aluguer de 50 libras (pelo qual pagará dez libras de imposto), renunciando algumas comodidades do bem que queria alugar inicialmente. Porém, essa renúncia será apenas parcial, pois no dia em que tal imposto for criado, ele incidirá sobre todas as habitações e forçará cada potencial locatário a procurar um bem de menor valor. Isto significa que a procura de habitações decairá, exceto a daquelas com aluguer mais baixo. Assim, os proprietários serão forçados a reduzir os preços para reavivar a procura. A redução deve, a longo prazo, recair sobre os alugueis do solo. E a pessoa poderá ter a sua casa de 60 libras que, doravante, se alugará por 50. O pagamento deste imposto será partilhado entre o locatário e o proprietário do solo. Como faz a partilha? Depende das circunstâncias. É um imposto desigual. Quanto mais pobre o locatário, mais imposto recairá sobre o proprietário solo, o que, porém, não tem nada de irrazoável.
O aluguer das casas é similar ao arrendamento das terras, mas difere num ponto essencial. Qual? A renda da terra serve para pagar a utilização de uma coisa produtiva (A terra). Já o aluguer das casas serve para pagar o uso de uma coisa não produtiva (nem a casa, nem o terreno sobre o qual ela assenta produzem o que quer que seja). A pessoa que paga o aluguer tende a encontrar uma fonte distinta e independente de rendimento para suportar esta utilização. Um imposto sobre o aluguer recai sobre o locatário. Um tal imposto faz parte dos impostos que não incidem apenas sobre uma única fonte de receitas mas as três fontes indistintamente. Tem a mesma natureza que os impostos que incidem sobre bens consumíveis. O aluguer é, sem dúvida, o artigo de consumo mais revelador do orçamento de uma pessoa. Como tal, Adam Smith considera que seria necessário haver um imposto proporcional sobre o aluguer. Este não deveria ser muito elevado, pois tal incitaria as pessoas a satisfazerem-se com habitações medíocres e a gastar de outro modo a maior parte de seu orçamento.
Poderíamos determinar a proporção do aluguer do mesmo modo que se determina a proporção de um rendimento fundiário. As casas desabitadas não deveriam pagar imposto porque o seu proprietário seria taxado por uma coisa que não lhe dá qualquer rendimentos. As casas habitadas pelo proprietário deveriam ser taxadas consoante a renda que teriam, se fossem alugadas. Se as casas fossem taxadas em função da despesa inerente à sua construção, esse imposto arruinaria quase todas as famílias grandes e ricas do país e, provavelmente, de todos os países civilizados. De fato, as amplas moradias são fruto da despesa de várias gerações em objetos magníficos mas têm um valor de troca bastante reduzido face aos investimentos nelas feitos.

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