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Síndromes Neuróticas e suas Características

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PSICOPATOLOGIA GERAL
7º SEMESTRE
UNIVERSIDADE PAULISTA UNIP
Professor: Flávio Rossi.
Síndromes neuróticas ( fobias, quadros obsessivo-compulsivo, histeria, somatizações)
Identificar um indivíduo como tendo um quadro neurótico permite uma compreensão adequada para um considerável número de pacientes que apresenta sintomas ansiosos, fóbicos, obsessivos, histriônicos e hipocondríacos. Tais sintomas oscilam e se alternam no tempo, com muita frequência, permanecendo um núcleo constante, que se denomina neurose. Além disso, o constructo neurose aponta para uma estruturação da subjetividade expressiva de conflitos intrapsíquicos (recalque, luta interna, impulsos inaceitáveis perante um julgamento rígido, etc.) e interpessoais(frustração recorrente nas relações pessoais, insatisfação constante com o que recebe e dá aos outros, rigidez, etc.) (LópezIbor, [1966] 2001). Assim, o constructo neurose fornece essa moldura conceitual e classificatória que abarca a grande sobreposição e o intercâmbio de sintomas da série da ansiedade, da fobia, da obsessão, da frustração, da dissociação e da somatização.
No sistema diagnóstico DSM-IV, o conceito de neurose foi totalmente suprimido e, em seu lugar, permaneceram transtornos mentais ditos “menores”, tais como os transtornos de ansiedade (sobretudo os transtornos de ansiedade generalizada, de pânico e de estresse pós-traumático), fóbicos, obsessivo-compulsivos, dissociativos, conversivos e de somatização.
Na CID-10, o constructo neurose, embora criticado, não é abandonado. Os transtornos fóbicos, de ansiedade, obsessivo-compulsivo, dissociativos e conversivos, bem como as somatizações, a neurastenia e a hipocondria permanecem agrupados em um mesmo capítulo (Capítulo F40 a F48), de alguma forma orbitando em torno de um constructo mais amplo denominado neurose. Entretanto, a CID-10 não o considera um “princípio organizador”. Há, portanto, certa ambiguidade na permanência desse constructo nessa classificação.
Segundo Van Den Berg (1970, p. 237),a neurose é uma perturbação do contato inter-humano, uma perturbação nas relações com outrem, sem que, para explicá-la, se possa apelar exclusivamente a defeitos corporais, doenças corporais, psicoses, falhas constitucionais ou anomalias de caráter.
No centro de todas as neuroses, está a angústia. O homem neurótico vive os conflitos humanos fundamentais de forma particularmente dolorosa e recorrente. Ainda segundo o psiquiatra holandês Van Den Berg, a neurose também pode ser vista como uma forma particular de relação do indivíduo com os outros, com a corporeidade própria e a dos outros, com os objetos (materiais e simbólicos) do mundo, fonte de uso e de gozo. Para esse autor, quem não atribui importância particular ao contato com outros, à existência corporal própria e alheia, e às disponibilidades úteis e gozosas não pode ficar neurótico.
Nessa mesma linha, para Henri Ey 1974), as neuroses são transtornos caracterizados por conflitos intrapsíquicos que inibem e perturbam as condutas sociais. As neuroses produzem antes uma perturbação do equilíbrio interior do sujeito neurótico que uma mudança em seu sistema de realidade. Nos neuróticos, de modo geral, sobressaem-se as manifestações de uma angústia permanente e de mecanismos de defesa que, em última análise, fracassam na resolução de conflitos. São dificuldades e conflitos intrapsíquicos e interpessoais que antêm o sofrimento, a frustração, a angústia, o empobrecimento e a inadequação tanto do Eu como das relações interpessoais. 
As principais síndromes neuróticas e somatoformes podem ser descritas e classificadas da seguinte forma: síndromes fóbicas, obsessivo compulsivas, histéricas, hipocondríacas e neurastênicas (atualmente, em parte, compreendidas na síndrome da fadiga crônica.
As síndromes fóbicas caracterizam-se por medos intensos e irracionais, por situações, objetos ou animais que objetivamente não oferecem ao indivíduo perigo real e proporcional à intensidade de tal medo. As síndromes fóbicas mais importantes são apresentadas a seguir (Hollander; Simeon 2004).
Na agorafobia, o medo e a angústia relacionam-se a espaços amplos ou com muitas pessoas, à possibilidade de estar em locais de onde possa ser difícil escapar ou onde o auxílio ou a presença de pessoas próximas não seja rapidamente acessível. Os indivíduos com agorafobia têm, freqüentemente, crises de medo e angústia quando estão fora de casa, em um congestionamento, em uma ponte ou túnel, em meio à multidão, em um estádio de futebol, em um grande supermercado, no cinema ou no teatro. Têm, com freqüência, medo de viajar de ônibus, automóvel ou avião. Há tendência de evitar tais situações,mo que geralmente leva a um estreitamento das possibilidades vivenciais do indivíduo, restringindo-o, às vezes, à sua casa e a ambientes muito familiares e seguros.
A fobia simples ou específica caracteriza-se por medo intenso, persistente, desproporcional e irracional, como medo de animais (barata, sapo, cobra, passarinho, cachorro, cavalo, etc.), medo de ver objetos como seringas, sangue, faca, vidros quebrados, etc. A exposição ao objeto ou animal fobígeno geralmente deflagra uma crise de angústia ou mesmo de pânico. Os indivíduos acometidos reconhecem o caráter irracional e desproporcional de seus medos.
A fobia social caracteriza-se por um medo intenso e persistente de situações sociais que envolvam expor-se ao contato interpessoal, demonstrar certo desempenho ou situações competitivas e de cobrança. O indivíduo sente intensa angústia ao ter de falar em público, apresentar um seminário, fazer uma palestra, ler um trecho de um livro, etc. O medo à exposição é mais forte com pessoas estranhas ou tidas como superiores. O indivíduo tenta evitar tais situações e reconhece o caráter absurdo de seus temores.
SÍNDROMES OBSESSIVO-COMPULSIVAS
Os quadros obsessivo-compulsivos caracterizam-se por idéias, fantasias e imagens obsessivas e por atos, rituais ou comportamentos compulsivos. Esses quadros são vividos como uma pressão sobre o indivíduo, como algo que o obriga e submete. 
Na prática clínica, nem sempre é fácil demarcar com precisão o limite entre a obsessão e a fobia (p. ex., obsessão por limpeza, fobia de sujeira ou contaminação), ou entre a idéia delirante e a obsessão (com pouca crítica e insight). Da mesma forma, em alguns casos é difícil diferenciar entre o ato compulsivo (vivenciado como obrigatório e desprazeiroso) e o ato impulsivo.
As síndromes obsessivo-compulsivas dividem-se em dois subtipos básicos: aquelas nas quais predominam as idéias obsessivas e aquelas nas quais predominam os atos e os comportamentos compulsivos(Miguel, 1996). Muito freqüentemente, entretanto, se observam formas mistas.
As síndromes obsessivas caracterizam-se por idéias, pensamentos, fantasias ou imagens persistentes, que surgem de forma recorrente na consciência; são vivenciadas com angústia e como algo que “invade” a consciência. O indivíduo reconhece o caráter irracional e absurdo desses pensamentos, tentando, às vezes, neutralizá-los com outros pensamentos ou com atos e rituais específicos. Nas síndromes compulsivas, predominam os comportamentos e rituais repetitivos, como lavar as mãos inúmeras vezes, tomar muitos banhos, verificar se as portas estão trancadas por dezenas de vezes, etc., assim como por atos mentais como repetir palavras mentalmente em silêncio, fazer determinadas contas, rezar, etc., em geral em resposta a uma idéia obsessiva (“Devo estar com AIDS ou sífilis; então tenho que me lavar constantemente.”). 
Os comportamentos e os atos compulsivos também podem surgir como forma de cumprir regras mágicas que precisam ser rigidamente seguidas. Outras razões para os atos e os rituais compulsivos são pensamentos mágicos que vinculam a realização do ato compulsivo com o afastamento de algum evento temível ou indesejado (“Se eu der 15 voltas no quarteirão antes de entrar em casa, ninguém da família morrerá proximamente”).
QUADROS HISTÉRICOS:CONVERSÕES E DISSOCIAÇÃO(QUADROS DISSOCIATIVOS)
As síndromes histéricas caracterizam-se por apresentar manifestações clínicas tanto referentes ao corpo como à mente e ao comportamento. No corpo, predominam as alterações das funções sensoriais e motoras e, na mente, aquelas relacionadas à consciência vígil, à memória e às percepções (Micale, 1995). O comportamento do indivíduo com histeria é caracteristicamente dramático, teatral (o paciente quer constantemente ser o centro das atenções), infantil, sedutor e, eventualmente, manipulativo. Segundo Van Den Berg (1970), o paciente histérico apresenta uma peculiaridade: necessita de contato e tem incapacidade de mantê-lo e aprofundá-lo. Do ponto de vista existencial, tais indivíduos vivem em um contexto de inautenticidade no contato interpessoal; suas relações soam falsas, eles parecem que precisam representar constantemente no seu relacionamento com as pessoas.
Subdividem-se as síndromes histéricas em dois grandes grupos: histeria de conversão ou conversiva e histeria dissociativa (usa-se atualmente o termo “transtorno dissociativo”).
Na histeria de conversão, os sintomas e as perturbações corporais são muito variados: paralisias histéricas, anestesias e analgesias histéricas, cegueira histérica, perturbações histéricas no andar e no ficar de pé (astasia-abasia) e perda da fala ou rouquidão histérica (afonia histérica). Chama a atenção, nesses pacientes, o fato de, ao notarem seus distúrbios corporais aparentemente muito graves (paralisias, cegueira, anestesias, etc.), reagirem vivencialmente com indiferença exemplar. A isso, os clínicos antigos denominaram: la belle indifférence des hystériques(a bela indiferença dos histéricos).
Na histeria dissociativa, podem ocorrer alterações da consciência, com pseudo crises que se assemelham a crises epilépticas (Harris, 2005). Ocorrem freqüentemente como crises histérico-dissociativas, com rebaixamento e afunilamento da consciência (estado crepuscular histérico). Também são consideradas formas de histeria de dissociação as amnésias histéricas, nas quais o indivíduo esquece elementos seletivos e significativos do ponto de vista psicológico. Além disso, podem ocorrer fugas histéricas e fenômenos sensoperceptivos (ilusões, pseudo-alucinações) de natureza histérica. Estudos recentes indicam que ocorrem alterações cerebrais funcionais durante os episódios com sintomas histéricos de conversão (Black et al., 2004).
Do ponto de vista clínico, é fundamental poder diferenciar as crises histéricas das crises epilépticas. O Quadro 29.1 visa resumir e sistematizar os elementos desse importante diagnóstico diferencial.
SÍNDROMES HIPOCONDRÍACAS E SOMATIZAÇÃO 
Nos quadros hipocondríacos, predominam os temores e as preocupações intensas com a idéia de ter uma doença grave. Essas idéias surgem geralmente a partir de sensações corporais ou sinais físicos insignificantes. O indivíduo procura constantemente os médicos e os serviços de saúde para ter garantias de que não tem doença grave. Entretanto, embora haja uma preocupação enorme com a possibilidade de sofrer de tais doenças, essas preocupações não possuem caráter delirante, podendo o indivíduo fazer uma crítica, em algum momento, quanto ao caráter absurdo de suas preocupações. Já a somatização é um termo designificação muito ampla, referenteao processo pelo qual um indivíduo usa(consciente ou inconscientemente) seu corpo ou sintomas corporais para fins psicológicos ou para obter ganhos pessoais. Os sintomas comuns são dores difusas (cefaéias, lombalgias, artralgias, dores abdominais, “corpalgias”, etc.), sintomas gastrintestinais (náuseas, diarréias, dispepsias,etc.) e síndromes pseudoneurológicas.
A somatização pode ocorrer na presença de doença física demonstrável (intensificando demasiadamente a sua apresentação sintomática), assim como na ausência de qualquer patologia física. Em geral, há o desejo de adquirir o papel de doente físico para obter ganhos primários (psicológicos, intrapsíquicos) ou secundários (sociais ou interpessoais). A somatização pode servir como um meio de comunicação quando a expressão verbal mais direta está bloqueada. Pode também representar uma forma de expressão de sofrimento e desconforto em pessoas que não conseguem reconhecer e verbalizar seus sentimentos. Denomina-se alexitimia a dificuldade de identificar sentimentos e diferenciá-los de sensações corporais, assim como a dificuldade de falar sobre as próprias emoções e a tendência a ter um estilo de pensamento orientado para o externo. A alexitimia parece ser mais freqüente em alguns grupos sociais e culturais e possivelmente se associa a certos traços de personalidade, como introversão, isolamento e piores relações interpessoais. Embora tenha sido postulado anteriormente, nos dias atuais considera-se polêmico se há relação entre a alexitimia e a maior ocorrência de somatizações (revisão sobre alexitimia em Páez; Casullo, 2000).
Os quadros de somatização podem ser situacionais e transitórios (durante uma fase difícil da vida), ou estáveis e duradouros, passando a ser um estilo ou modo de conduzir a vida(Ford, 1986). Os indivíduos hipocondríacos e somatizadores tendem a rejeitar a idéia de que seu sofrimento seja de origem psicológica ou psicossocial.
SÍNDROMES NEURASTÊNICAS
Introduzida pelo norte-americano Georg Miller Beard (1839-1883), em 1869, a neurastenia já foi uma categoria muito utilizada por clínicos e pelo público leigo.
Atualmente está em relativo desuso, tendendo a ser substituída pelo conceito de síndrome da fadiga crônica. A neurastenia caracteriza-se por fadiga fácil depois de esforço físico ou mental, dores musculares, dificuldade em relaxar, sensação de fraqueza e exaustão corporal, irritabilidade, dificuldade em concentrar-se, tonturas, cefaléias e insegurança. Pode haver dificuldades com o sono. Sintomas depressivos sobrepõem-se amplamente aos da neurastenia (Bertolote, 1997).Finalmente, cabe assinalar que, na prática clínica diária, sintomas como dores musculares, cansaço, tontura, dores abdominais e de outras partes do corpo, em mais de 15% dos casos, permanecem sem justificativas biomédicas. Segundo Kirmayer e colaboradores (2004), tais sintomas ocorrem nas mais diversas culturas e estão associados pelos portadores a estresses emocionais e sociais dos mais variados (as próprias culturas dispõem de sistemas médico-explicativos que formulam hipóteses locais que elucidam e classificam tais experiências), não sendo sempre adequado reduzi-los à categoria somatização ou transtorno psicossomático.
BIBLIOGRAFIA
Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais.

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