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UNIP Direito da Informática I. Bibliografia fundamental: PAESANI, Liliana Minardi. Direito de Informática – Comercialização e Desenvolvimento Internacional do Software. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2015. II. Bibliografia complementar: PINHEIRO, Patricia Peck. Direito Digital. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. GARCIA MARQUES; LOURENÇO MARTINS. Direito da Informática. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2006. 1. Diferença entre Direito da Internet, Direito da Informática, Direito Digital e Direito da Tecnologia. 2. Internet: conceito, diferença entre internet e world wide web. 3. História do computador e da internet, no mundo e no Brasil. 4. Características da internet. 5. A chamada sociedade de informação e suas características. Revolução 4.0. 6. A relação jurídica básica de Direito da Informática. 7. A informática como disciplina jurídica. Conceito de Direito da Informática. 8. Direito da Informática, Direito Autoral e Direito da Propriedade Industrial. 8. Legislação fundamental de Direito da Informática (Lei n. 7.232/1984 – Lei de informática; Lei nº 9.609/1998 – Lei do software). 9. Marco Civil da Internet (Lei n. 12.965/2014). 10. Lei Geral de Proteção de Dados (Lei n. 13.709/2018). 11. Relações jurídicas de Direito Privado e Internet. Direito da Internet ≠ Direito da Informática (computadores) ≠ Direito Digital (programas em geral) ≠ Direito da Tecnologia (robôs, jurimetria etc). Na realidade, então: Direito da Internet < Direito da Informática < Direito Digital < Direito da Tecnologia. (Considerando-se uma ordem do ramo menos abrangente para o mais abrangente, como se fossem círculos concêntricos). A internet, sem dúvida alguma, é o coração de todos esses ramos, na atualidade. I. Introdução geral: Computadores, internet e informática 1. Internet. 1.1. Conceito: é um sistema global de redes de computadores interconectadas que usam um conjunto próprio de protocolos de comunicação (Internet Protocol Suite – TCP/IP) para interligar dispositivos ao redor do mundo. - É uma “rede de redes de computadores/dispositivos”. - Tida atualmente como importante meio de comunicação. 1.2. Internet ≠ Rede Mundial de Computadores (em inglês: World Wide Web, também conhecida pelos termos web ou WWW). A rede mundial de computadores é um sistema de documentos em hipermídia, os quais são interligados e executados na internet. - É uma “rede de documentos em hipermídia”. (- Obs.: conceito de hipertexto: Hipertexto é o termo que remete a um texto ao qual se agregam outros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, palavras, imagens ou sons, cujo acesso se dá através de referências específicas, no meio digital denominadas hiperligações. Estas hiperligações ocorrem na forma de termos destacados no corpo de texto principal, ícones gráficos ou imagens e têm a função de interconectar os diversos conjuntos de informação.) Através dessa rede de dispositivos que é Internet são executados: (i) a rede mundial de computadores (world wide web); (ii) correio eletrônico (e-mail); (iii) telefonia; (iv) compartilhamento de arquivos; (v) serviços de streaming; etc. etc. 1.3. Breve histórico da internet (e do computador) no mundo: - 3000 a.C., na Mesopotâmia: invenção do ábaco (instrumento de cálculo que é o antecedente remoto do computador). - O matemático inglês BABBAGE (1791-1871), considerado o “pai do computador” desenvolve o projeto que designou “máquina analítica” (a qual, movida a vapor, podia realizar operações aritméticas). - 1889: inventor americano Herman HOLLERITH usa cartões perfurados para instruir uma máquina, a fim de tornar mais célere o censo da população. Após, leva o uso dos cartões perfurados à atividade comercial, por meio de companhia que funda em 1896 e que viria a se tornar a IBM. - 1924: surge a IBM. - Entre 1939 e 1940: John Vincent ATANASOFF inventa o computador eletrônico digital (computador ABC). O reconhecimento formal dessa invenção por ATANASOFF ocorreu na decisão de um juiz federal dos EUA, em 1973 (caso Honeywell v. Sperry Rand). - 1943: ALAN TURING dirige o projeto Colussus, utilizando uma máquina ordenadora para decifrar as mensagens codificadas dos alemães na 2ª Guerra Mundial (decifrar o código Enigma). Peculiaridade de TURING: partir do tipo de problemas que a máquina poderia resolver, seguindo regras lógicas. Filme: o jogo da imitação - 15/02/1946: o ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer), que já fora desenvolvido desde junho de 1943, é apresentado ao mundo, como o primeiro computador de grande escala, pesando cerca de 30 toneladas e capaz de fazer 5 mil operações por segundo, criação de John Eckert e John Mauchly (utilizando o modelo de completude de Turing) . O dia da informática é celebrado hoje mundialmente em 15/08, data associada ao ENIAC, mas essa data não se mostra correta. - 1958: os EUA criam a ARPA (Advanced Research Projects Agency), hoje DARPA, agência destinada a coordenar os contratos de investigação federais. - 1969: a DARPA inaugura a rede ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network), com o objetivo de garantir uma segura e sobrevivente (se necessario) rede de comunicações para organizações ligadas à investigação científica na área de defesa. A ARPANET é considerada a “mãe” da internet. Sua finalidade, em suma, era militar: interligar as bases militares e os departamentos de pesquisa do governo americano. - Década de 1980: surge o nome INTERNET (= Interconnected Networks), quando a tecnologia da ARPANET passou a ser usada para ligar universidades e grandes empresas. - 1987: passam a ser permitidos conteúdos e comunicações de índole comercial. Meados da década de 1980: nascimento da internet moderna. - Início da década de 1990: surge a World Wide Web, como resultado de um projeto suíço com o intuito de compartilhar facilmente documentos científicos. - Década de 1990: é a década da “explosão” da internet no mundo. - 05 de julho de 1994: é fundada a Amazon, uma das primeiras (e hoje a maior) empresa de comércio eletrônico do tipo “varejista pela internet” do mundo. - 1995: fundação do e-bay. - 05 de agosto de 1999: fundação do MercadoLivre (empresa argentina). - As compras online na China atingiram 253 bilhões de dólares na primeira metade de 2015, correspondendo a 10% do total de vendas no varejo na China no período. - 2017/2018: administração Trump e o fim da neutralidade da rede nos EUA: provedores de internet podem agora bloquear ou limitar o tráfego, ou oferecer linhas mais rápidas pagas. Ainda: os provedores de serviços de internet passam a ter maior poder para regulamentar o conteúdo que os clientes acessam, o que se choca com um acesso mais igualitário à rede. 1.3. Breve histórico da internet no Brasil: - A Internet no Brasil se desenvolveu junto ao meio acadêmico e científico no final dos anos 1980. No seu início, o acesso era restrito a professores e funcionários de universidades e instituições de pesquisa. - Em 1988, o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) conseguiu se conectar a Universidade de Maryland. - Em 1994, alunos da USP criaram inúmeras páginas na Web. - Em 1995 foi realizada a primeira transmissão a longa distância entre estados brasileiros, realizada por São Paulo e Rio Grande do Sul. - Em maio de 1995 a internet deixou de ser exclusividade das universidades e da iniciativa privada para se tornar de acesso público. - Ainda em 1995: é criado o Comitê Gestor da Internet no Brasil, com a atribuição de “coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços de Internet no país, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a disseminaçãodos serviços ofertados”. Criado pela Portaria Interministerial n. 147, de 31 de maio de 1995. - Em 1996 surgem os dois primeiros portais de internet privados do Brasil: o ZAZ (antecessor do Terra) e o UOL. O governo também desenvolve um serviço permitindo a entrega da declaração do Imposto de renda por meio da Internet. - Em 2014: advento do Marco Civil da Internet (Lei n. 12.965/2014) - Em 2016, mais de 50% dos domicílios brasileiros estão conectados à Internet. - Em 2016, as vendas em varejo no e-commerce no Brasil atingiram cerca de 17 bilhões de dólares. - Em agosto de 2020 a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei n. 13.709/2018) entrará em vigor. 1.4. Alguns números sobre a internet, seu uso e o comércio eletrônico - Em 1994, apenas 3% das salas de aula americanas tinham internet, enquanto em 2002 esse índice saltou para 92%. - Em junho de 2012, mais de 2,4 bilhões de pessoas — mais de um terço da população mundial — usaram os serviços da internet. 1.5. Algumas características da internet e da WWW: - A internet não tem governança centralizada acerca de implementação tecnológica ou de políticas de acesso e uso; cada rede constituinte define suas próprias políticas. Apenas as definições dos dois principais espaços de nomes na internet — o Internet Protocol Adress (IP adress) e o Domain Name System (DNS) — são dirigidos por uma organização mantenedora, a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN). - A ARPANET já trazia esse princípio: uma rede em que todos os pontos se equivalem, não havendo um comando central. Se um ponto for atingido, os outros continuam podendo se comunicar. - A internet funciona numa dupla finalidade: como meio de publicação e como meio de comunicação. 2. Sociedade de Informação (SI). 2.1. Pluralidade de expressões: sociedade de (ou da) informação, sociedade global de informação, era da informação, sociedade digital, sociedade de risco (Ulrich Beck – vivemos numa sociedade em que o risco, e risco anormal!, intenso, faz parte e é elemento central da rotina de todos nós... Chernobyl, Bug do Milênio, Aquecimento Global), sociedade de massa, sociedade globalizada... aspectos diferentes, mas interligados, de uma mesma realidade. 2.2. Papel central do nascimento da internet para a configuração desse novo modelo de sociedade. A internet é o instrumento da sociedade de informação. 2.3. Origem da expressão “sociedade de informação”: (i) precursor do conceito: economista FRITZ MACHLUP, já em 1962, em estudo sobre o efeito das patentes na pesquisa; (ii) ALVIN TOFLER, escritor e futurista americano, já falava nos anos 1970 de uma era ou sociedade da informação; (iii) OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) utiliza a expressão pela primeira vez em 1975; (iv) na Europa, a expressão “sociedade de informação” é cunhada em 1993 por JACQUES DELORS, então Presidente da Comissão da Comunidade Econômica Europeia, por ocasião do Conselho de Kopenhagen. 2.4. Base da sociedade de informação: informação como meio de criação do conhecimento. Ligação com uma economia da informação, ou economia do conhecimento. A informação em si como um “bem de consumo não rival” (na medida em que pode ser usado por uma multiplicidade de pessoas, ao contrário do que ocorre com os bens corpóreos). Há 40 anos atrás, a informação era um bem muito mais caro. 2.5. Conceito de sociedade de informação: novo paradigma de sociedade, no qual a energia é progressivamente substituída pela informação, como fonte primeira do progresso social, tendo como produto essencial a prestação de serviços novos. Baseia-se no uso ótimo das novas tecnologias da informação e da comunicação, com o respeito aos princípios democráticos, da igualdade e da solidariedade, visando o reforço da economia e da prestação de serviços públicos e, ao final, a melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos. 2.6. Características da sociedade de informação: (i) Tendência de queda dos custos relativos e disponibilidade universal da informação; (ii) Introdução do tempo real na informação e na sociedade (reconfiguração de noções de tempo e espaço na transmissão de informações, “ao vivo”, e na noção de pertencimento – aldeia global). Após, a introdução da noção de tempo virtual ou digital (ainda mais rápido do que o tempo real: várias ações devendo ser realizadas simultaneamente, ultrapassando a barreira do tempo real... E isso repercute também sobre o jurídico. “Se a fórmula jurídica estiver errada, mesmo que se possa corrigi-la, o custo do tempo pode ser fatal.” (Tempo digital é implacável, exigente). (iii) Novos riscos para as pessoas e a vida em sociedade: crimes cibernéticos, novas violações ao direito geral da personalidade, ciberterrorismo etc. 3. A relação jurídica básica de Direito da Informática - Segundo a teoria geral da relação jurídica (importante instrumento desenvolvido por juristas alemães, no século XIX, para pensar e compreender os fenômenos jurídicos), toda a relação que interessa ao Direito (chamada de relação jurídica) é composta de 4 elementos: (i) sujeitos; (ii) objeto; (iii) fato jurídico constitutivo da relação (fato da realidade sobre o qual incide uma norma jurídica, e que coloca os sujeitos em relação, acerca de um específico objeto); e (iv) garantia (que corresponde ao conceito de ação, isto é, ao conjunto de meios que o ordenamento jurídico confere aos sujeitos em relação, destacadamente ao sujeito ativo, para assegurar a realização do seu direito, a realização do seu interesse). A relação jurídica tem, ainda, um conteúdo, que não se confunde com nenhum desses quatro elementos, e que é dado pela conexão, pelo encontro, entre os direitos subjetivos (poderes jurídicos) do sujeito ativo e os deveres jurídicos do sujeito passivo. - Existe uma relação jurídica que pode ser chamada de “relação jurídica básica de Direito da Informática”, estando na base da nossa disciplina. É uma relação jurídica que tem a seguinte configuração: (i) Seu sujeito ativo é o titular de um direito de propriedade intelectual, de caráter imateral (conforme estudaremos mais adiante no curso); (ii) Seu sujeito passivo é o chamado sujeito passivo universal, isto é, corresponde à coletividade, ao conjunto indeterminado de todos os demais sujeitos que vivem em sociedade, e que tem o dever geral de respeitar o direito de propriedade intelectual titularizado pelo sujeito ativo. (iii) Podem ser objetos desta relação jurídica tanto o software (= programas de computador) como o hardware (equipamentos que servem como suporte físico para rodar softwares). Obs.: mesmo no caso do hardware – que é um bem corpóreo, material (isto é, um coisa, em sentido estrito) – o direito sobre ele nessa relação jurídica básica de direito da propriedade não é um direito de propriedade verdadeiro (como previsto no art. 1.228 do Código Civil, no âmbito dos direitos reais); trata-se aí de um direito imaterial, sobre a criação ou desenvolvimento de um modelo, de um produto de hardware (um direito de “paternidade intelectual”por quem criou). O objeto último dessa relação jurídica é, portanto, a informação (porque software e hardware são os dois aspectos pelos quais a informática processa, armazena e transmite informações). (iv) O fato jurídico constitutivo da relação jurídica de direito da informática é a criação, o desenvolvimento de um software, ou a invenção de algum tipo, versão, modelo de equipamento (hardware). II. O Direito da Informática, O Direito Autoral e o Direito da Propriedade Industrial 1. Informática como Disciplina Jurídica - O Direito da Informática, até recentemente, era considerada área obscura e pouco conhecida. Entendia-seque só quem pertencesse ao “grupo fechado” da área entenderia a sua linguagem. - O Brasil acabou se filiando aos princípios e ao modelo italiano, ao invés do norte- americano (que no início das discussões nos anos 70 parecia que seria o nosso caminho). - O Direito traz em si um impulso de conservação, é reflexivo... enquanto a tecnologia avança muito rapidamente. Como conciliar duas coisas tão díspares, como o Direito e a tecnologia? R: encontrar um ponto de equilíbrio. - Origem do vocábulo informática: é um galicismo, nascido da fusão dos termos information e automatique, que significa tratamento automático da informação. E o computador é a base desse tratamento automatizado. - Conceito de direito da informática: o Direito da Informática é o novo ramo do Direito, na intercessão entre o direito público (e.g., proteção dos dados pessoais, proteção das liberdades públicas na rede, crimes cibernéticos) e o privado (e.g. proteção do software, proteção de bancos de dados), que cuida da disciplina jurídica da informação (caracteriza- se pelo seu objeto mais amplo, portanto), tendo por objeto o software, o hardware e os diversos bens digitais (livros digitais, milhas aéreas, moedas virtuais, e-mails, redes sociais, cybercultura etc.) 2. Legislação fundamental de Direito da Informática: - Lei de Informática (Lei n. 7.232/1984). - Política de Informática e a Lei nº 10.176/2001. - Legislação de Proteção à Propriedade Intelectual de Programas de Computação (Lei de Software) – Lei nº 9.609, de 19 de fevereiro de 1998. Normas mais importantes da Lei de Software (Lei n. 9.609/1998): - Art. 1º: define o que é programa de computador (software): conjunto organizado de instruções em linguagem natural ou codificada. E define para que ele serve: emprego em “máquinas automáticas de tratamento da informação, dispositivos etc.”, para fazê-los funcionar de modo e para determinados fins. - Qual é o regime jurídico da proteção do software no Brasil? R: é o regime jurídico do Direito Autoral, segundo o art. 2º da Lei de Software: “Art. 2º O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de computador é o conferido às obras literárias pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes no País, observado o disposto nesta Lei. § 1º Não se aplicam ao programa de computador as disposições relativas aos direitos morais, ressalvado, a qualquer tempo, o direito do autor de reivindicar a paternidade do programa de computador e o direito do autor de opor-se a alterações não-autorizadas, quando estas impliquem deformação, mutilação ou outra modificação do programa de computador, que prejudiquem a sua honra ou a sua reputação.”