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ASPECTOS GERAIS E MICROBIOLÓGICOS DAS MICOSES SUPERFICIAIS

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ASPECTOS GERAIS E MICROBIOLÓGICOS DAS MICOSES SUPERFICIAIS
GENERAL AND MICROBIOLOGICAL ASPECTS OF SURFACE MICOSES
Letícia Chaves Tameirão 
 Discente do Curso de Fisioterapia, Universidade Presidente Antônio Carlos
Resumo
As micoses superficiais são micoses provocadas por fungos que vivem sobre a superfície da pele, penetrando nos interstícios da camada córnea ou ao redor dos pelos e caracterizam-se frequentemente por serem transmitidas por contato direto. É representado pela Pitiríase Versicolor (Malassezia sp), Piedra branca (Trichosporum sp.), Piedra Preta (Piedrae hortae) e Tinea Nigra (Phaeoannellomyces werneckii). O diagnóstico pode ser feito através de exame micológico direto, com o material biológico obtido do paciente com suspeita de micose. Essas informações, em conjunto com a anamnese, auxiliam o diagnóstico laboratorial e permitem o clínico a instituir o tratamento adequado e precocemente. O objetivo do presente estudo é conhecer os aspectos gerais e microbiológicos das micoses superficiais. Este estudo trata-se de uma revisão literária.
Palavras-chave: Micoses Superficiais, Fungos, Microbiologia.
Abstract
Superficial mycoses are fungal mycoses that live on the surface of the skin, penetrating the interstices of the corneous layer or around the hairs and are often characterized as being transmitted by direct contact. It is represented by Pityriasis versicolor (Malassezia sp), piedra piedra (Trichosporum sp.), Piedra pedra (Piedrae hortae) and tinea nigra (Phaeoannellomyces werneckii). The diagnosis can be made through direct mycological examination, with the biological material obtained from the patient with suspected mycosis. This information, together with the anamnesis, helps the laboratory diagnosis and allows the clinician to institute the appropriate and early treatment. The objective of the present study is to know the general and microbiological aspects of superficial mycoses. This study is a literary review.
Key words: Surface Mycoses, Fungi, Microbiology.
Introdução
O Brasil possui altos índices de infecções causadas por fungos, principalmente, de micoses superficiais em decorrência do clima tropical, onde existem condições ideais de calor e umidade, necessárias para o desenvolvimento dos fungos.
As micoses superficiais: pitiríase versicolor, piedra branca e preta e tinea nigra normalmente apresentam seus agentes confinados no estrato córneo da pele e anexos, com pouca ou nenhuma resposta inflamatória do hospedeiro (SIDRIM; MOREIRA, 2004; OLIVEIRA et al., 2006). Essas micoses são de fácil diagnostico e medidas terapêuticas especificas geralmente resultam em boas respostas clinicas (ZAITZ, 1998).
O objetivo do presente estudo é conhecer os aspectos gerais e microbiológicos das micoses superficiais. 
Metodologia 
Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica. Foi realizada pesquisa em livros na biblioteca da Fundação Presidente Antônio Carlos de Teófilo Otoni e em alguma bases de dados virtuais como SCIELO e Google Acadêmico. 
Micoses Superficiais 
Existem várias formas de manifestação das micoses superficiais, dependendo do local afetado e também do tipo de fungo causador da da micose.  Alguns dos tipos mais frequentes:  
Pitiríase Versicolor
É, de todas as micoses superficiais, a mais frequente. É provocada pelo bolor Malassezia furfur, também designado Pityrosporum orbiculare, um microrganismos lipofílico (cresce nos meios habituais para fungos, com adição de azeite ou outra fonte de ácidos gordos saturados os insaturados) semelhante a uma levedura.
 Este fungo é encontrado em áreas do corpo ricas em 2/5 glândulas sebáceas e pensa-se, embora ainda não esteja confirmado, que faz parte da população microbiana normal da pele, sendo o seu crescimento estimulado pelo calor e pela humidade. É um microrganismo exclusivamente antropotrofílico, que cresce como levedura em brotamento, embora algumas vezes sejam observadas formas em hifas. 
 As lesões da Pitiríase Versicolor ocorrem fundamentalmente na parte superior do tronco, braços e abdómen, e apresentam-se na forma de lesões maculares hipo- ou hiperpigmentadas, que descamam com facilidade. A pele na área lesada, após a descamação fina e superficial, apresenta um aspecto seco e calcário. As lesões são, regra geral, assintomáticas, podendo alguns doentes referir um ligeiro prurido que é exacerbado pelo banho, e as manchas tornam-se mais evidentes após a exposição solar. 
 O diagnóstico clínico da Ptiríase Versicolor ocorre através da observação microscópica a fresco das escamas da área lesional (para tal, raspa-se a pele com uma lâmina, trata-se a amostra com hidróxido de potássio, pode ou não corar-se com Azul de Algodão, e observa-se ao microscópio); o aspecto do fungo, que se encontra nas áreas mais superficiais da lesão, ao microscópio é bastante característico e, na maioria das vezes, dispensa o exame cultural – aspecto em “esparguete com almôndegas”. 
 O contágio ocorre através do contato direto (pele-pele) ou indireto (através da roupa) com as escamas infectadas.
Tínea Negra 
 É muito frequente em áreas tropicais e subtropicais, onde o calor e a humidade favorecem o seu desenvolvimento. 
 Tem como agente etiológico o Phaecannelomyces werneckii, também designado Exophiala werneckii, um fungo dimórfico que produz melanina, conferindo às lesões maculares uma cor castanha ou preta.
 Este fungo cresce como levedura, produzindo estruturas características ovaladas (fases iniciais da colónia) e hifas alongadas, enquanto nas culturas mais velhas, predominam os micélios e os conídeos. 
 As lesões da Tínea Negra atingem maioritariamente áreas muito queratinizadas como as palmas das mãos ou as plantas dos pés, embora possam ocorrer em outras áreas do corpo. As lesões são, regra geral, assintomáticas e consistem em áreas maculares bem demarcadas, que aumentam por extensão periférica, e sem descamação.
 Diagnóstico diferencial: por vezes, as manchas são tão pigmentadas que podem ser confundidas com melanoma; a observação de fungos na área lesional exclui esta possibilidade. Para o diagnóstico efetua-se a observação a fresco ao microscópio do raspado da lesão pigmentada, onde se podem ver células leveduriformes densamente pigmentadas e fragmentos de hifas; geralmente, procede-se à cultura para confirmação do diagnóstico.
As lesões de Tínea mais comuns são :
Tínea do corpo: forma lesões arredondadas, que coçam e se iniciam por ponto avermelhado.
Tínea da cabeça: mais frequente em crianças, forma áreas arredondadas com falhas nos cabelos, que se apresentam cortados rente ao couro cabeludo nestes locais (tonsurados).  É muito contagiosa.
Tínea dos pés: causa descamação e coceira na planta dos pés que sobe elas laterais para a pele mais fina.
Tínea interdigital (frieira): causa descamação, maceração (pele esbranquiçada e mole), fissuras e coceira entre os dedos dos pés.  
Tínea crural (virilha): forma áreas avermelhadas e descamativas com bordas bem limitadas, que se expandem para as coxas e nádegas, acompanhadas de muita coceira.  
Tínea das unhas (onicomicose): apresenta-se de várias formas: descolamento da borda livre da unha, espessamento, manchas brancas na superfície ou deformação da unha.  Quando a micose atinge a pele ao redor da unha, causa a paroníquia ("unheiro").  O contorno ungueal fica inflamado, dolorido, inchado e avermelhado e, por consequência, altera a formação da unha, que cresce ondulada.
Piedra Negra
 É uma infecção superficial dos pêlos, que afeta predominantemente o cabelo e o pêlo da face (poupando o pêlo púbico e o pêlo axilar) e se caracteriza pelo aparecimento de nódulos de consistência dura e cor escura, ao longo da haste infectada do pêlo. Estes nódulos lesionais são difíceis de destacar do pêlo..
 O agente etiológico mais frequente é a Piedraia hortae. Esta micose é mais frequente em meios quentes e com pouca higiene, onde o crescimento do fungo é favorecido,e raramente é sintomática. - Geralmente, o tratamento destas situações limita-se à raspagem dos pêlos afectados e à melhoria das condições de higiene. 
Piedra Branca 
 É uma infecção superficial dos pêlos, que afecta predominantemente o pêlo axilar e púbico e é causada por fungos do género Trichosporon, que podem ou não pertencer à população microbiana normal da pele, nomeadamente o Trichosporon beigelii (agente da PMN da pele, que pode ser agente de infecções disseminadas em imunodeprimidos). 
 A lesão, raramente sintomática, consiste no aparecimento de nódulos de consistência mole e cor clara, aderentes à haste do pêlo mas facilmente destacáveis. - É mais frequente em áreas tropicais e subtropicais, onde o calor favorece o crescimento do fungo. 
As culturas de fungos causadores de micoses superficiais devem ser mantidas na estufa a 25ºC, uma vez que estes organismos, estando habituados a crescer na superfície corporal (onde as temperaturas são inferiores), não sobrevivem facilmente a 37ºC (temperatura do organismo humano). Em regra, estes agentes demoram entre uma a três semanas a crescer, pelo que não se podem rejeitar culturas antes das quatro semanas de incubação.
Tratamento
No tratamento tem de se ter em consideração que é necessário ter paciência para se obter resultados positivos, pois são necessárias algumas semanas para eliminar a infecção. Para além disso, deve-se impedir o contágio de e a outras pessoas mantendo as zonas afetadas limpas e secas. 
Normalmente estas infecções são tratadas mediante a aplicação nas zonas afetadas de antifúngicos, que são fármacos específicos para estes microrganismos. Em casos de micoses muito extensas ou refractárias ao tratamento, pode ser necessário administrar também, por via oral, um fármaco antifúngico. O uso de anti-histamínicos pode ser indispensável para o controlo e alívio da comichão, sobretudo nas tineas do couro cabeludo.
Pode acontecer que seja necessários diferentes períodos de tratamento, ou que a doença reapareça sob a forma de surto. Muitas vezes devido ao incumprimento das medidas de prevenção e do controlo epidemiológico, ou à falta de perseverança no tratamento.
O prognóstico em geral é bom, mas é importante recordar que enquanto se mantiverem as circunstâncias favorecedoras anteriormente descritas é provável uma nova infecção.
Medidas profiláticas 
Hábitos higiénicos são importantes para evitar as micoses, e uma análise básica referente a higiene pessoal são fundamentais na prevenção:
- Seque-se sempre muito bem após o banho, principalmente as dobras de pele como as axilas, as virilhas e os dedos dos pés.
- Evite ficar com roupas molhadas durante muito tempo.
- Evite o contato prolongado com água e sabão.
- Não use objetos pessoais (roupas, calçado, pentes, toalhas, bonés) de outras pessoas.
- Não ande descalço em pisos constantemente húmidos (vestiários, saunas, etc.)
- Evite mexer na terra sem usar luvas.
- Use somente o seu material de manicura.
- Evite usar calçados fechados o máximo possível. Opte pelos mais largos e ventilados.
- Evite roupas quentes e justas, tecidos sintéticos, principalmente na roupa interior. Esses tecidos aumentam a sudorese e não absorvem o suor (MURRAY,1992).
Considerações finais
Portanto as micoses superficiais são facilmente diagnosticadas, o tratamento é simples, e são classificadas conforme a parte que ocorreu a infecção, no caso de pele Petiríase versicolor e Tinea nigra, e infecções que envolvem os pelos Pidra negra e Piedra branca.
O melhor método para combater as micoses , ainda é a prevenção, e aspectos de higiene pessoal devem ser levados em consideração.
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