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Livro Eletrônico Aula 03 Direito Penal p/ MP-SP (Analista Jurídico) - Com Videoaulas Professor: Renan Araujo `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo AULA 03: CONCURSO DE PESSOAS E CONCURSO DE CRIMES. SUMçRIO 1 CONCURSO DE PESSOAS ....................................................................................... 3 1.1 Conceito, natureza e caractersticas ............................................................... 3 1.2 Requisitos ...................................................................................................... 4 1.2.1 Pluralidade de agentes .................................................................................... 4 1.2.1.1 Autoria mediata ...................................................................................... 5 1.2.2 Relevncia causal da colaborao ..................................................................... 8 1.2.3 Vnculo subjetivo (ou liame subjetivo) ............................................................... 8 1.2.4 Identidade de infrao penal ........................................................................... 8 1.2.5 Existncia de fato punvel ................................................................................ 9 1.3 Modalidades ................................................................................................... 9 1.3.1 Coautoria ...................................................................................................... 9 1.3.2 Participao ................................................................................................ 13 1.4 Comunicabilidade das circunstncias ........................................................... 16 1.4.1 Espcies de elementares e de circunstncias .................................................... 17 1.5 Cooperao dolosamente distinta ................................................................ 18 1.6 Multido delinquente ................................................................................... 19 2 CONCURSO DE CRIMES ....................................................................................... 19 2.1 Conceito e natureza ..................................................................................... 19 2.2 Espcies ....................................................................................................... 20 2.2.1 Concurso material (ou real) de crimes ............................................................ 20 2.2.2 Concurso formal de crimes ............................................................................ 21 2.2.3 Aplicao da pena no concurso formal ............................................................. 22 2.2.4 Crime continuado ......................................................................................... 23 2.2.5 Requisitos para a configurao do crime continuado ......................................... 24 2.2.6 Aplicao da pena no crime continuado ........................................................... 26 2.2.7 Crime continuado e conflito de leis penais no tempo ......................................... 26 2.2.8 Crime continuado e prescrio ....................................................................... 27 2.2.9 Aplicao da pena de multa no concurso de crimes ........................................... 27 3 DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES ............................................................... 28 4 SòMULAS PERTINENTES ..................................................................................... 29 4.1 Smulas do STF ............................................................................................ 29 4.2 Smulas do STJ ............................................................................................ 30 5 RESUMO .............................................................................................................. 30 6 EXERCêCIOS PARA PRATICAR ............................................................................. 37 7 EXERCêCIOS COMENTADOS ................................................................................. 55 8 GABARITO .......................................................................................................... 91 Ol, meus amigos! `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo Na aula de hoje vamos estudar dois temas muito importantes. O primeiro deles est relacionado prpria figura delituosa e sua caracterizao, que o concurso de agentes. O segundo est relacionado aos efeitos da prtica criminosa, mais especificamente, aplicao da pena, que o concurso de crimes. Bons estudos! Prof. Renan Araujo `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo 1! CONCURSO DE PESSOAS 1.1!Conceito, natureza e caractersticas O concurso de pessoas pode ser conceituado como a colaborao de dois ou mais agentes para a prtica de um delito ou contraveno penal. O concurso de pessoas regulado pelos arts. 29 a 31 do CP: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) ¤ 1¼ - Se a participao for de menor importncia, a pena pode ser diminuda de um sexto a um tero. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) ¤ 2¼ - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe- aplicada a pena deste; essa pena ser aumentada at metade, na hiptese de ter sido previsvel o resultado mais grave. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Circunstncias incomunicveis Art. 30 - No se comunicam as circunstncias e as condies de carter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Casos de impunibilidade Art. 31 - O ajuste, a determinao ou instigao e o auxlio, salvo disposio expressa em contrrio, no so punveis, se o crime no chega, pelo menos, a ser tentado. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Mas como compreender a natureza jurdico-penal de uma conduta criminosa praticada por diversas pessoas? Trs teorias surgiram: ¥! Pluralista (ou pluralstica) - Para esta teoria cada pessoa responderia por um crime prprio, existindo tantos crimes quantos forem os participantes da conduta delituosa, j que a cada um corresponde uma conduta prpria, um elemento psicolgico prprio e um resultado igualmente particular1. ¥! Dualista (ou dualstica) Ð Segundo esta teoria, h um crime para os autores, que realizam a conduta tpica emoldurada no ordenamento positivo, e outro crime para os partcipes, que desenvolvem uma atividade secundria. ¥! Monista (ou monstica ou unitria) Ð A codelinquncia (concurso de agentes) deve ser entendida, para esta teoria, como CRIME òNICO, devendo todos responderem pelo mesmo crime. a adotada pelo CP. Isso no significa que todos que respondem pelo delito tero a mesma pena.A pena de cada um ir corresponder valorao de cada uma das condutas (cada um responde Òna medida de sua culpabilidade). Em razo desta diferenciao na pena de cada um dos infratores, diz-se que o CP adotou uma espcie de teoria monista temperada (ou mitigada). 1 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Ð Parte Geral. Ed. Saraiva, So Paulo, 2015, p. 548 `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo O concurso de pessoas pode ser, basicamente, de duas espcies: ¥! EVENTUAL Ð Neste caso, o tipo penal no exige que o fato seja praticado por mais de uma pessoa. Isso no impede, contudo, que eventual ele venha a ser praticado por mais de uma pessoa (Ex.: Furto, roubo, homicdio). ¥! NECESSçRIO Ð Nesta hiptese o tipo penal exige que a conduta seja praticada por mais de uma pessoa. Divide-se em: a) condutas paralelas (crimes de conduta unilateral): Aqui os agentes praticam condutas dirigidas obteno da mesma finalidade criminosa (associao criminosa, art. 288 do CPP); b) condutas convergentes (crimes de conduta bilateral ou de encontro): Nesta modalidade os agentes praticam condutas que se encontram e produzem, juntas, o resultado pretendido (ex. Bigamia); c) condutas contrapostas: Neste caso os agentes praticam condutas uns contra os outros (ex. Crime de rixa) 1.2!Requisitos Mas quais so os requisitos para que se possa falar em concurso de pessoas? Cinco so os requisitos para que seja caracterizado o concurso de pessoas. Vejamos: 1.2.1!Pluralidade de agentes Para que possamos falar em concurso de pessoas, necessrio que tenhamos mais de uma pessoa a colaborar para o ato criminoso. necessrio que sejam agentes culpveis? A doutrina se divide, mas prevalece o entendimento de que todos os comparsas devem ter discernimento, de maneira que a ausncia de culpabilidade por doena mental, por exemplo, afastaria o concurso de agentes, devendo ser reconhecida a autoria mediata. Assim, se uma pessoa, perfeitamente mental e maior de 18 anos (penalmente imputvel) determina a um doente mental (sem qualquer discernimento) que realize um homicdio, no h concurso de pessoas, mas autoria mediata, pois o autor do crime foi o mandante, que se valeu de uma pessoa sem vontade como mero instrumento2 para praticar o crime. No h concurso, pois um dos agentes no era culpvel. Todavia, bom ressaltar que, nos crimes plurissubjetivos3, se um dos colaboradores no culpvel por qualquer razo, mesmo assim permanece o crime. Nos crimes eventualmente plurissubjetivos (crime de furto, por exemplo, que eventualmente pode ser um crime qualificado pelo concurso de 2 WELZEL, Hans. Derecho Penal, parte general. Ed. Roque Depalma. Buenos Aires, 1956, p. 106 3 Aqueles em que necessariamente deve haver mais de um agente, como no crime de associao criminosa, por exemplo Ð art. 288 do CP `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo pessoas, embora seja, em regra, unissubjetivo) tambm no necessrio que todos os agentes sejam culpveis, bastando que apenas um o seja para que reste configurado o delito em sua forma qualificada. EXEMPLO: Jos, maior e capaz, perfeitamente imputvel, combina de realizar um roubo juntamente com Paulo, adolescente de 17 anos de idade e, portanto, inimputvel. O roubo se realiza. Neste caso, no podemos falar em autoria mediata entre Jos e Paulo, eis que Paulo no foi mero instrumento nas mos de Jos. Paulo quis participar da empreitada criminosa, e responder por isso, de acordo com as regras prprias do ECA4. Neste caso, como no houve autoria mediata, Jos dever responder pelo crime roubo com a majorante de ter sido o crime praticado em concurso de pessoas5, ainda que Paulo responda de acordo com o ECA, e no de acordo com a Lei Penal. Nessas duas ltimas hipteses, no entanto, no h propriamente concurso de pessoas, mas o que a Doutrina chama de concurso imprprio, ou concurso aparente de pessoas. Contudo, essa ressalva s se aplica ao caso de concurso entre culpvel e Òno culpvel que possui discernimentoÓ. Assim, se o agente culpvel se vale de algum sem culpabilidade como mero instrumento, sem que ele possua qualquer discernimento, teremos sempre autoria mediata. 1.2.1.1! Autoria mediata A autoria mediata ocorre quando o agente (autor mediato) se vale de uma pessoa como instrumento (autor imediato) para a prtica do delito. EXEMPLO: Jos, maior e capaz, entrega uma arma de fogo a uma criana de 05 anos, dizendo que ela deve colocar a arma na cabea de Maria e fazer uma brincadeira, pois ao apertar o gatilho, sair gua da arma. A criana aperta o gatilho e Maria morre. Neste caso, temos autoria mediata, pois Jos (autor mediato) se valeu da criana (executor) como mero instrumento para a prtica do delito. Todavia, no basta que o executor seja um inimputvel, ele deve ser um verdadeiro INSTRUMENTO do mandante, ou seja, ele no deve ter qualquer discernimento no caso concreto. Ex.: Jos e Pedro (este menor de idade, com 17 anos) combinam de matar Maria. Jos arma o plano e entrega a arma a Pedro, que a executa. Neste caso, 4 Estatuto da Criana e do Adolescente. 5 Art. 157, ¤2¼, II do CP. `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo Pedro inimputvel por ser menor de 18 anos, mas possui discernimento, no se pode dizer que foi um mero ÒinstrumentoÓ de Jos. Assim, aqui no teremos autoria mediata, mas concurso aparente de pessoas. Ex.2: Jos, maior e capaz, entrega a Mauro (um doente mental sem nenhum discernimento) uma arma e diz para ele atirar em Maria, que vem a bito. Neste caso h autoria mediata, pois Mauro (o inimputvel) foi mero instrumento nas mos de Jos. ⇒!Mas esta a nica hiptese de autoria mediata? A resposta negativa. A melhor Doutrina divide a autoria mediata em trs hipteses, basicamente6: 1 Ð Autoria mediata por erro do executor Ð Neste caso, aquele que pratica a conduta foi induzido a erro pelo mandante (erro de tipo ou erro de proibio). Ex.: Mdico que entrega enfermeira uma injeo contendo determinada substncia txica, e determina que esta aplique no paciente, alegando que se trata de morfina, para aliviar a dor7. A enfermeira, aqui, no atua dolosamente (do ponto de vista ÒfinalsticoÓ), pois apesar de dar causa morte do paciente (causalidade fsica, pois foi ela quem injetou a substncia), no dirigiu sua conduta a este resultado. O domnio do fato pertencia ao mdico, o real infrator. 2 Ð Autoria mediata por coao do executor Ð Aqui o infrator coage uma terceira pessoa a praticar um delito. Em se tratando de coao MORAL irresistvel, teremos um agente no culpvel (a coao moral irresistvel afasta a culpabilidade). Desta forma, aquele que executa o faz em situao de no culpabilidade. A culpabilidade recai apenas sobre o coator, no sobre o coagido. Ex.: Mdico que determina enfermeira que aplique sobre o paciente uma dose cavalar de veneno. Omdico, porm, no esconde da enfermeira que se trata de veneno, ao contrrio deixa isso bem claro. Porm, diz enfermeira que se ela no fizer o que foi determinado, ir matar sua filha. Vejam que, neste caso, a enfermeira sabe que est injetando o veneno, de forma que age dolosamente, mas ainda assim sem culpabilidade, por inexigibilidade de conduta diversa. 3 Ð Autoria mediata por inimputabilidade do agente Ð Nesta hiptese o infrator se vale de uma pessoa inimputvel para a prtica do delito. A inimputabilidade, aqui, pressupe que o executor (inimputvel) no tenha discernimento necessrio8. Caso o executor, mesmo inimputvel, possua discernimento, no haver autoria mediata. Ex.: Jos, 20 anos, organiza um plano para furtar uma loja de eletrnicos, e combina com Marcelo, de 17, a execuo do plano. Neste caso, no h autoria mediata, pois Marcelo, a despeito de sua inimputabilidade legal, tem discernimento para no ser considerado como ÒobjetoÓ. Por outro lado, no mesmo exemplo, imaginemos que Marcelo tenha 30 6 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 560 7 O exemplo de Hans Welzel. (cf. WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p. 106) 8 WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p. 107-108 `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo anos, mas seja absolutamente incapaz de entender o que se passa (doente mental completo). Neste caso, a inimputabilidade de Marcelo afasta o reconhecimento do concurso de pessoas com Jos, que responder como autor mediato do crime. cabvel autoria mediata nos crimes prprios e de mo prpria? Em relao aos crimes prprios se admite a autoria mediata, desde que o autor MEDIATO rena as condies especiais exigidas pelo tipo penal. EXEMPLO: Paulo, servidor pblico, coage moralmente Maria (coao irresistvel), obrigando-a a subtrair 10 notebooks da repartio em que ele, Paulo, exerce suas funes. Paulo, para a execuo do delito, se valeu de sua funo para facilitar a subtrao. Neste caso, Paulo poder responder por peculato-furto na qualidade de autor mediato. Mas, e se Maria quem fosse a servidora e Paulo fosse um particular? Poderia haver autoria mediata? No, neste caso no poderamos falar em autoria mediata. Contudo, se no h autoria mediata e no h concurso de pessoas (pois no h concurso de pessoas entre coator e coagido), Paulo ficar impune? No, a Doutrina desenvolveu, para tais casos, a figura da AUTORIA POR DETERMINAÌO. Consiste, basicamente, em punir aquele que, embora no sendo autor nem partcipe, exerce sobre a conduta domnio EQUIPARADO figura da autoria.9 No se pode considerar o agente como autor por no reunir os elementos necessrios para tanto. Tambm no se pode considera-lo como partcipe, eis que a participao pressupe o crime praticado por outro autor (e no h). Ele ser punido, portanto, por ser o autor da determinao para a conduta (ter sido o responsvel por sua ocorrncia). Em relao aos crimes de mo prpria, contudo, no se admite a figura da autoria mediata, eis que o crime no pode ser realizado por interposta pessoa (Ex.: A testemunha, no crime de falso testemunho, no pode coagir algum a depor em seu lugar, prestando testemunho falso). Neste caso, porm, exemplificativamente, se a testemunha for coagida por terceira pessoa, esta terceira pessoa poder ser considerada AUTOR por determinao, conforme explicado anteriormente. 9 PIERANGELI, Jos Henrique. ZAFFARONI, Eugenio Ral. Manual de Direito Penal Brasileiro. Ed. RT. So Paulo, 2008, p. 580/581 `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo 1.2.2!Relevncia causal da colaborao A participao do agente deve ser relevante para a produo do resultado, de forma que a colaborao que em nada contribui para o resultado um indiferente penal. Alm disso, a colaborao deve ser prvia ou concomitante execuo, ou seja, anterior consumao do delito. Se a colaborao for posterior consumao do delito, como o fato j ocorreu, no h concurso de pessoas, podendo haver, no entanto, outro crime (favorecimento real, receptao, etc.). Porm, se a colaborao for posterior consumao, mas combinada previamente, h concurso de pessoas. Ex: Imagine que Poliana decide matar seus pais, e combina com seu namorado para que ele esteja s 20h em ponto na porta de sua casa para lhe ajudar na fuga. Assim, a conduta do namorado (auxiliar na fuga) posterior consumao, mas fora combinada anteriormente, havendo, portanto, concurso de pessoas. Diversa seria a hiptese, no entanto, se o namorado tivesse ido casa da namorada sem saber que deveria lhe ajudar na fuga. L chegando, a namorada conta o ocorrido e ele, a partir da, concorda em auxili-la na fuga. Nessa hiptese, o namorado comete o crime de favorecimento pessoal (nos termos do art. 348 do CP). Cuidado com isso! 1.2.3!Vnculo subjetivo (ou liame subjetivo) Tambm conhecido como concurso de vontades. Assim, para que haja concurso de pessoas, necessrio que a colaborao dos agentes tenha sido ajustada entre eles, ou pelo menos tenha havido adeso de um conduta do outro. Deste modo, a colaborao meramente causal, sem que tenha havido combinao entre os agentes, no caracteriza o concurso de pessoas. Trata-se do princpio da convergncia. Caso haja colaborao dos agentes para a conduta criminosa, mas sem vnculo subjetivo entre eles, estaremos diante da autoria colateral, e no da coautoria. 1.2.4!Identidade de infrao penal Tambm conhecido como unidade de infrao penal para todos os agentes, est fundamentado no art. 29 do CP: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984). Da podemos perceber que, se 20 pessoas colaboram para a prtica de um delito (homicdio, por exemplo), todas elas respondem pelo homicdio, independentemente da conduta que tenham praticado (um apenas conseguiu a `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo arma, o outro dirigiu o veculo da fuga, outro atraiu a vtima, etc.). As condutas dos agentes, portanto, devem constituir algo juridicamente unitrio10. 1.2.5!Existncia de fato punvel Trata-se do princpio da exterioridade. Assim, necessrio que o fato praticado pelos agentes seja punvel, o que de um modo geral exige pelo menos que este fato represente uma tentativa de crime, ou crime tentado. Para a caracterizao do crime tentado, necessrio que seja dado incio execuo do crime. Se o fato ficar meramente no plano abstrato, no plano da cogitao, no h fato punvel, nos termos do art. 14, II do CP. O art. 31 do CP determina, ainda, de modo especfico para a hiptese de concurso de pessoas, que a colaborao s punvel se o crime for, ao menos, tentado: Art. 31 - O ajuste, a determinao ou instigao e o auxlio, salvo disposio expressa em contrrio, no so punveis, se o crime no chega, pelo menos, a ser tentado. (Redaodada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984). ! Importante ressaltar que, em alguns casos, os atos preparatrios j configuram fato punvel, seja porque a lei assim expressamente determina, seja porque eles constituem tipo penal autnomo. EXEMPLO: Jos e Paulo combinam de fabricar moeda falsa (crime do art. 289 do CP) e, para tanto, adquirem o maquinrio necessrio, mas no iniciam a produo das notas falsas. Neste caso, a princpio, a conduta de Jos e Paulo seria impunvel, eis que no foi iniciada a execuo do crime de moeda falsa. Todavia, o CP j criminaliza essa conduta como tipo penal autnomo. Trata-se do crime de Òpetrechos de falsificaoÓ, art. 291 do CP.11 1.3!Modalidades 1.3.1!Coautoria Para entendermos o fenmeno da coautoria, devemos, primeiramente, estudar o que seria a autoria do delito. Vrias teorias, ao longo do tempo, procuraram definir o conceito de AUTOR. O conceito extensivo de autor no diferencia autor e partcipe, considerando que todos aqueles que concorrem para o crime so autores do 10 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 553 11 Petrechos para falsificao de moeda Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a ttulo oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado falsificao de moeda: Pena - recluso, de dois a seis anos, e multa. `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo delito. Esse conceito baseado numa premissa Òcausal-naturalistaÓ de que todo aquele que d causa ao delito (por qualquer forma), deve ser considerado autor do crime. Contudo, como pelo conceito extensivo de autor no era possvel definir quem era autor e quem era partcipe, surgiu a teoria subjetiva da participao, que considerava como autor aquele que pratica o fato como prprio, que quer o crime Òcomo prprioÓ, como seu, e partcipe aquele que quer o fato como alheio, pratica uma conduta acessria ao Òcrime de outra pessoaÓ.12 Isso era fundamental para a fixao da pena de cada um, j que aos autores deveriam ser aplicadas penas, em tese, mais severas. Como o conceito extensivo apresentou mais problemas que solues, surgiu o conceito restritivo de autor13. Para esta teoria restritiva14, autor e partcipe no se confundem. Autor ser aquele que praticar a conduta descrita no ncleo do tipo penal (subtrair, matar, roubar, etc.). Todos os demais, que de alguma forma prestarem colaborao (material ou moral), sero considerados partcipes. Esta foi a teoria adotada pelo CP. Agora que j sabemos que o CP diferencia autor e partcipe, precisamos saber qual o critrio para se diferenciar um do outro. Trs teorias surgiram. A primeira teoria, a teoria objetivo-formal, estabelece que autor quem realiza a conduta prevista no ncleo do tipo, sendo partcipes todos os outros que colaboraram para isso, mas no realizaram a conduta descrita no ncleo do tipo. Para esta teoria, por exemplo, no crime de homicdio, somente seria autor aquele que efetivamente praticasse a conduta de ÒmatarÓ algum. Todos os outros colaboradores seriam partcipes. O grande problema desta teoria considerar o autor intelectual (mandante) como partcipe, e no como autor. Mais que isso: Essa teoria no explica o fenmeno da autoria mediata (quando algum se vale de um inimputvel para cometer um crime). A segunda teoria, a teoria objetivo-material, entende que autor quem colabora com participao de maior importncia para o crime, e partcipe quem colabora com participao reduzida, independentemente de quem pratica o ncleo do tipo (verbo que descreve a conduta criminosa Ð matar, subtrair, etc.). A terceira e ltima teoria, a teoria do domnio do fato, criada pelo pai do finalismo, Hans Welzel15, e posteriormente desenvolvida por Claus Roxin, defende que autor todo aquele que possui o domnio da conduta criminosa, seja ele o executor (quem pratica a conduta prevista no ncleo do tipo) ou no16. Para esta teoria, o autor seria aquele que decide o trmite do crime, sua prtica ou no, etc. Essa teoria explica, satisfatoriamente, o caso do mandante, por 12 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 555 13 PIERANGELI, Jos Henrique. ZAFFARONI, Eugenio Ral. Manual de Direito Penal Brasileiro. Ed. RT. So Paulo, 2008, p. 572. 14 Tambm chamada por alguns de teoria dualista ou objetiva. 15 WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p. 105 16 MUOZ CONDE, Francisco. Teora general del delito. Ed. Temis Editorial. Bogot, 1999, p. 155-156 `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo exemplo, que mesmo sem praticar o ncleo do tipo (Òmatar algumÓ), possui o domnio do fato, pois tem o poder de decidir sobre o rumo da prtica delituosa. Para esta teoria, o partcipe existe, e aquele que contribui para a prtica do delito17, embora no tenha poder de direo sobre a conduta delituosa. O partcipe s controla a prpria vontade, mas a no a conduta criminosa em si, pois esta no lhe pertence. A teoria do domnio do fato tem por finalidade estabelecer uma diferenciao entre autor e partcipe a partir da noo de Òcontrole da situaoÓ. Aquele que, mesmo no executando a conduta descrita no ncleo do tipo, possui todo o controle da situao, inclusive com a possibilidade de intervir a qualquer momento para fazer cessar a conduta, deve ser considerado autor, e no partcipe. O controle (ou domnio) da situao pode se dar mediante18: 1 - Domnio da ao - O agente realiza diretamente a conduta prevista no tipo penal 2 - Domnio da vontade - O agente no realiza a conduta diretamente, mas o "senhor do crime", controlando a vontade do executor, que um mero instrumento do delito (hiptese de autoria mediata). 3 - Domnio funcional do fato - O agente desempenha uma funo essencial e indispensvel ao sucesso da empreitada criminosa, que dividida entre os comparsas, cabendo a cada um uma parcela significativa, essencial e imprescindvel. Em todos estes casos, o agente ser considerado autor do delito. A teoria do domnio do fato, porm, no se aplica aos crimes culposos, pois neste no h domnio final do fato, pois o fato final (resultado) no buscado pelos agentes, que pretendiam outro resultado19. A teoria adotada pelo CP a teoria objetivo-formal, considerando autor aquele que realiza a conduta descrita no ncleo do tipo, j que denota sua Òvontade de autorÓ (animus auctoris), em contraposio Òvontade de colaboraoÓ do partcipe (animus socii). Entretanto, considera-se adotada a teoria do domnio do fato para os crimes em que h autoria mediata, autoria intelectual, etc., de forma a complementar a teoria adotada. 17 WELZEL, Hans. Op. Cit.___, p.117-119 18 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 557-558 19 Idem, p. 558 `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo Esta , portanto, a posio doutrinria a respeito da posio do CP sobre a diferena entre autor e partcipe. Desta maneira, aps entendermosquem seria considerado autor do delito para o CP, podemos definir a coautoria como a espcie de concurso de pessoas na qual duas ou mais pessoas praticam a conduta descrita no ncleo do tipo penal. Assim, no crime de roubo, se duas ou mais pessoas entram num banco, portando armas, e anunciam um assalto, todas elas praticaram a conduta descrita no ncleo do tipo do art. 157, ¤ 2¡, I e II do CP (subtrair para si ou para outrem, mediante violncia ou grave ameaa...). Logo, todas so coautoras do delito. No mesmo exemplo, porm, o dono do carro, que emprestou o veculo para a fuga, mero partcipe. No confundam coautoria com autoria colateral. Na coautoria, deve haver vnculo subjetivo ligando as condutas de ambos os autores. Na autoria colateral, ambos praticam o ncleo do tipo, mas um no age em acordo de vontades com o outro. Imaginem que A e B, desafetos de C, sem que um saiba da existncia do outro, escondem-se atrs de rvores esperando a passagem de C, a fim de mat-lo. Quando C passa, ambos atiram, e C vem a bito. Nesse caso, no houve coautoria, mas autoria colateral. Entretanto, a vai mais uma informao: Imaginem que o laudo identifique que apenas uma bala atingiu C, direto na cabea, levando-o a bito. Nesse caso, o laudo no conseguiu apontar de qual arma saiu a bala que matou C. Nesse caso, como no se pode definir quem efetuou o disparo fatal, ambos respondem pelo crime de homicdio TENTADO, pois no se pode atribuir a nenhum deles o homicdio consumado, j que o laudo inconclusivo quanto a isto. Este o fenmeno da autoria incerta. No entanto, se ambos estivessem agindo em conluio, com vnculo subjetivo, ou seja, se houvesse concurso de pessoas, ambos responderiam por crime de homicdio CONSUMADO, pois nesse caso seria irrelevante saber de qual arma partiu a bala que levou C a bito. A coautoria pode ser funcional (ou parcial), que aquela na qual a conduta dos agentes so diversas e se somam, de forma a produzir o resultado. Assim, se Ricardo segura a vtima para que Poliana a espanque, ambos so coautores do crime de leso corporal, mediante coautoria funcional. Porm, a coautoria pode ser, ainda, material (direta), que a hiptese em que ambos os coautores realizam a mesma conduta. Assim, no exemplo acima, se Ricardo e Poliana espancassem a vtima, ambos seriam coautores mediante coautoria material. No quadro abaixo vou mostrar para vocs algumas hipteses polmicas de aplicao do instituto da coautoria: `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo Ø! Admite-se a coautoria nos crimes prprios, desde que ambos os agentes possuam a qualidade exigida pela lei, ou que, aqueles que no a possuem, ao menos tenham cincia de que o outro agente age nessa qualidade. Ø! No se admite a coautoria nos crimes de mo-prpria, pois so considerados de conduta infungvel, s podendo ser praticados pelo sujeito especificamente descrito pela lei. Ø! A Doutrina se divide quanto possibilidade de coautoria em crimes omissivos, da seguinte forma: 1 Ð Parte entende que NÌO Hç POSSIBILIDADE DE COAUTORIA OU PARTICIPAÌO (Concurso de agentes), pois TODAS AS PESSOAS PRATICAM O NòCLEO DO TIPO, DE MANEIRA AUTïNOMA; 2 Ð Outra parte da Doutrina entende poderia haver concurso de pessoas, na modalidade de coautoria, mas minoritrio; 3 Ð A Doutrina ligeiramente majoritria entende que possvel PARTICIPAÌO, mas NÌO COAUTORIA. Ø! Na autoria mediata no h concurso de pessoas entre autor mediato autor imediato, respondendo apenas o autor mediato, que se valeu de algum sem culpabilidade para a execuo do delito. Ø! Entretanto, possvel coautoria e tambm participao na autoria mediata, desde que haja colaborao entre os agentes mediatos. NUNCA HAVERç CONCURSO DE PESSOAS ENTRE AUTOR MEDIATO E AUTOR IMEDIATO. Ø! CUIDADO! Na coao fsica irresistvel, no h autoria mediata, mas autoria direta, pois o agente que realiza a ao no possui conduta, j que no h vontade. Nesse caso, aquele que pratica a coao fsica irresistvel autor direto, no mediato; Ø! Admite-se a autoria mediata nos crimes prprios, mas no nos crimes de mo prpria (h alguns doutrinadores que entendem ser possvel). 1.3.2!Participao Conforme estudamos, no Brasil adotou-se o conceito restritivo de autor, distinguindo-se autor e partcipe. Adotou-se, ainda, a teoria objetivo-formal, de forma que podemos definir a participao como a `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo modalidade de concurso de pessoas na qual o agente colabora para a prtica delituosa, mas no pratica a conduta descrita no ncleo do tipo penal. A participao pode ser: ¥! Moral Ð aquela na qual o agente no ajuda materialmente na prtica do crime, mas instiga ou induz algum a praticar o crime. A instigao ocorre quando o partcipe age no psicolgico do autor do crime, reforando a ideia criminosa, que j existe na mente deste. O induzimento, por sua vez, ocorre quando o partcipe faz surgir a vontade criminosa na mente do autor, que no tinha pensado no delito; ¥! Material Ð A participao material aquela na qual o partcipe presta auxlio ao autor, seja fornecendo objeto para a prtica do crime, seja fornecendo auxlio para a fuga, etc. tambm chamada de cumplicidade. Este auxlio no pode ser prestado aps a consumao, salvo se o auxlio foi previamente ajustado. ⇒! J que o partcipe no pratica a conduta descrita no ncleo do tipo penal, como puni-lo? A punibilidade do partcipe no pode ser realizada diretamente pela descrio do fato tpico. De fato, aquele que empresta uma arma para que algum mate outra pessoa, no poderia responder por homicdio, pois o art. 121 do CP diz: Òmatar algumÓ. Aquele que empresta a arma no est ÒmatandoÓ, por isso se diz que no h, aqui, adequao tpica imediata. Contudo, a punibilidade do partcipe possvel porque h normas de extenso da adequao tpica (no caso, o art. 29 do CP), que permitem a extenso do raio de aplicao do tipo penal para aqueles que, de alguma forma, tenham contribudo para o delito. Trata-se da chamada adequao tpica mediata. Como a conduta do partcipe considerada acessria em relao conduta do autor (que principal), o partcipe punido em razo da teoria da acessoriedade20. Porm, existem quatro teorias da acessoriedade: ¥! Teoria da acessoriedade mnima Ð Entende que a conduta principal deva ser um fato tpico, no importando se ou no um fato ilcito. EXEMPLO: Imagine que Marcio e Joo combinam de matar Paulo. Na data combinada para a execuo, Marcio guia o carro at o local e fica esperando do lado de fora. Joo se dirige at Paulo e, aps uma discusso, Paulo comea a agredir Joo, que na verdade mata Paulo em legtima defesa. Joo matou Paulo em legtima defesa e no em razo do ajuste com Marcio (no tendo praticado fato ilcito, mas apenas tpico), mas por esta teoria, mesmo assim Marcio 20 A teoria da acessoriedade deriva de uma das teorias dos FUNDAMENTOS da punibilidade do partcipe, que a TEORIA DO FAVORECIMENTO (ou da CAUSAÌO), que diz que o partcipe deve ser punido por ter coloborado para que o delito fosse realizado. Em contraposio a esta, havia a teoria da participao na culpabilidade,que defendia que o partcipe deveria ser punido apenas por exercer Òinfluncia negativaÓ sobre o autor. Esta ltima foi abandonada pela Doutrina h algumas dcadas. `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo responderia como partcipe do crime. Veja que Joo, de fato, matou Paulo. Contudo, o fato no ilcito, pois Joo agiu em legtima defesa. Porm, para esta teoria, ainda que a conduta de Joo seja considerada apenas tpica, mas no ilcita, Marcio deveria ser punido. O pior de tudo que, neste caso, Mrcio, que no praticou a conduta seria punido, mas Joo seria absolvido pela legtima defesa. ¥! Teoria da acessoriedade limitada Ð Exige que o fato praticado (conduta principal) seja pelo menos uma conduta tpica e ilcita. Assim, no exemplo dado acima, a conduta do partcipe Marcio no punvel, pois a conduta principal, apesar de tpica, no ilcita. Veja que, para esta corrente Doutrinria, se o fato praticado pelo autor NÌO FOR ILêCITO (Ainda que seja um fato tpico), em razo de legtima defesa, etc., o partcipe no deve ser punido. ¥! Teoria da acessoriedade mxima Ð Para esta teoria, o partcipe s ser punido se o fato for tpico, ilcito e praticado por agente culpvel. Essa teoria faz exigncia irrazovel, pois a culpabilidade uma questo pessoal do agente, no guardando relao com o fato. Assim, imagine que Carlos, maior de idade, seja partcipe de um roubo praticado por Lucas, menor de idade. Para esta corrente, Carlos no poderia responder pelo roubo praticado (na qualidade de partcipe), pois Lucas (o autor principal) inimputvel (no tem culpabilidade), sendo o fato apenas tpico e ilcito, sem o complemento da culpabilidade. ¥! Teoria da hiperacessoriedade Ð Exige que, alm de o fato ser tpico e ilcito e o agente culpvel, o autor tenha sido efetivamente punido para que o partcipe responda pelo crime. ainda mais irrazovel que a ltima. Imagine que Jos seja partcipe de um roubo praticado por Marcelo. No decorrer do processo, Marcelo vem a falecer (o que gera a extino da punibilidade de Marcelo, nos termos do CP). Para esta corrente, como houve extino da punibilidade em relao a Marcelo (o autor do delito), o partcipe (Jos) no poder mais ser punido. O Nosso CP no adotou expressamente nenhuma das quatro teorias, mas com certeza no adotou a teoria da acessoriedade mnima nem a teoria da hiperacessoriedade (as extremas). A Doutrina entende que a teoria que mais se amolda ao nosso sistema a teoria da acessoriedade limitada21, exigindo que o fato seja somente tpico e ilcito para que o partcipe responda pelo crime. Questes interessantes acerca da participao: 21 BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit.___, p. 565 `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo Ø! A lei admite a reduo da pena de 1/6 a 1/3 se a participao de menor importncia (art. 29, ¤ 1¡ do CP). Isto no se aplica s hipteses de coautoria, mas apenas participao; Ø! A Doutrina admite a participao nos crimes comissivos por omisso, quando o partcipe devia e podia evitar o resultado (art. 13, ¤ 2¡ do CP). Ø! A participao incua no se pune. Assim, se A empresta uma faca a B, de forma a auxili-lo a matar C, e B mata C usando seu revlver, a participao de A foi absolutamente incua, pois em nada auxiliou no resultado. Da mesma forma, se A instiga B a matar C, e B realiza a conduta porque j estava determinado a isso, a instigao promovida por A no teve qualquer eficcia, pois B j mataria C de qualquer forma. Ø! Participao em cadeia possvel: Assim, se A empresta uma arma a B, para que este a empreste a C, a fim de que este ltimo mate D, tanto A quanto B so partcipes do crime, por prestarem auxlio material em cadeia. Ø! A participao em ao alheia ocorre quando o partcipe, sem qualquer liame subjetivo com o autor, contribui de maneira culposa para a prtica do delito. Assim, o funcionrio pblico que no tranca a porta da repartio ao final do expediente, e esta vem a ser furtada por um particular na madrugada, responde por peculato culposo (art. 312, ¤ 2¡ do CP), enquanto o particular responde por furto. No h concurso de pessoas pois falta o liame subjetivo entre ambos (coerncia de vontades). 1.4!Comunicabilidade das circunstncias O art. 30 do CP estabelece que: Art. 30 - No se comunicam as circunstncias e as condies de carter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Antes de estudarmos a comunicabilidade ou no das circunstncias, devemos diferenciar a mera circunstncia da circunstncia elementar do crime. A circunstncia elementar aquela que se refere a algo indispensvel para a caracterizao do crime. Assim, a circunstncia ÒalgumÓ no crime de homicdio, uma elementar, pois se o fato for praticado contra um animal, por exemplo, no haver homicdio. Por sua vez, a mera circunstncia no indispensvel caracterizao do crime, pois apenas agregam um fato que, se presente, aumenta ou diminui a pena. Assim, o Òmotivo torpeÓ uma circunstncia no-elementar, ou mera `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo circunstncia, pois caso o fato seja praticado sem essa circunstncia, continua a existir homicdio, no entanto, sem a qualificadora. 1.4.1!Espcies de elementares e de circunstncias Podem ser subjetivas (de carter pessoal), quando relativas pessoa do agente. o caso da condio de funcionrio pblico, que pessoal, pois se refere ao agente. Podem ser, ainda, objetivas (ou de carter real), quando se referem ao fato criminoso em si, seu modus operandi, etc. Assim, o emprego de violncia, no crime de roubo (art. 157 do CP) uma elementar objetiva. As condies pessoais no se confundem com as circunstncias ou elementares de carter pessoal. As primeiras so fatores pessoais do agente, que independem da prtica da infrao penal. Assim, o fato de o agente ser menor de 21 anos uma condio pessoal, e no uma circunstncia de carter pessoal, tampouco uma elementar. Com base nesses trs institutos (elementares, circunstncias e condies pessoais), podemos extrair trs regras do CP: ü! As circunstncias e condies de carter pessoal no se comunicam Ð Se A contrata B, para que este mate C, em razo deste ltimo ter estuprado sua filha, A comete o crime de homicdio privilegiado, em razo do relevante valor moral (art. 121, ¤ 1¡ do CP). Entretanto, B no comete o crime de homicdio privilegiado, pois a circunstncia Òrelevante valor moralÓ pessoal, no se estendendo ao coautor; ü! As circunstncias de carter real, ou objetivas, se comunicam Ð Porm, necessrio que a circunstncia tenha entrado na esfera de conhecimento dos demais agentes. Imagine que A contrata B para matar C. B informa a A que usar de emboscada (portanto, homicdio qualificado, nos termos do art. 121, ¤ 2¡ do CP), e A concorda com isto. Nesse caso, a circunstncia objetiva ÒemboscadaÓ (relativa ao meio utilizado), se comunica,pois embora A no tenha usado de emboscada, concordou com esta prtica por B. Diversamente, se B praticasse o crime mediante emboscada sem nada comunicar ao mandante, A, esta circunstncia no se comunicaria, por no ter entrado na esfera de conhecimento de A; ü! As elementares sempre se comunicam, sejam objetivas ou subjetivas Ð No entanto, mais uma vez se exige que estas elementares tenham entrado no mbito de conhecimento dos demais agentes. Imaginem que Jlio, servidor pblico, convida Marcelo a entrar na repartio onde trabalham, valendo-se da condio de Jlio, para subtrair alguns computadores. Caso Marcelo conhea a condio de funcionrio pblico de Jlio, ambos respondem pelo crime de peculato-furto (art. 312, ¤ 1¡ do CP). Caso Marcelo desconhea essa circunstncia elementar, responde ele apenas pelo crime de furto, `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo pois a ausncia dessa circunstncia faz desaparecer o crime de peculato-furto, mas a conduta ainda punvel como furto comum. 1.5!Cooperao dolosamente distinta A cooperao dolosamente distinta, tambm chamada de Òparticipao em crime menos graveÓ ou Òdesvio subjetivo de condutaÓ, ocorre quando ambos os agentes decidem praticar determinado crime, mas durante a execuo, um deles decide praticar outro crime, mais grave. Nesse caso, aplica-se o art. 29, ¤ 2¡ do CP: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) (...) ¤ 2¼ - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe- aplicada a pena deste; essa pena ser aumentada at metade, na hiptese de ter sido previsvel o resultado mais grave. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) EXEMPLO: Imaginem que Camila e Herval combinam de realizar um furto a uma casa que imaginam estar vazia. Camila espera no carro enquanto Herval adentra residncia. Entretanto, ao chegar residncia, Herval se depara com dois seguranas, e troca tiros com ambos, levando-os a bito (sinistro esse cara). Aps, entra na casa e subtrai diversos bens. Volta ao carro e ambos fogem. Camila no quis participar de um latrocnio (que foi o que efetivamente ocorreu), mas apenas de um furto. Assim, segundo a primeira parte do ¤ 2¡ do art. 29 do CP, responder somente pelo furto. Entretanto, se ficar comprovado que Camila podia prever que o latrocnio era provvel (se soubesse, por exemplo, que Herval estava armado e que havia a possibilidade de ter seguranas na casa), a pena do crime de furto (no a do latrocnio!!) ser aumentada at a metade. A lei diz Òat a metadeÓ, logo, o aumento pode no chegar a esse patamar. O aumento de pena ir variar conforme o grau de previsibilidade do crime mais grave para o qual Camila no se predisps, mas era previsvel. CUIDADO MASTER! Existe uma questo muito controvertida no que se refere ao concurso de pessoas. a possibilidade (ou no) de concurso de pessoas em crimes CULPOSOS. So muitas, MUITAS ideias diferentes. Cada autor inventa alguma coisa para vender seu livro, certo? Bom, resumidamente, podemos definir a Doutrina majoritria da seguinte forma: `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo COAUTORIA EM CRIMES CULPOSO Ð possvel, pois possvel que duas pessoas, de comum acordo, resolvam praticar uma conduta imprudente, por exemplo. Ex.: Dois rapazes resolvem atirar um mvel do 10¼ andar de um prdio, sem inteno de atingir ningum, mas acabam lesionando uma pessoa. PARTICIPAÌO EM CRIME CULPOSO Ð Depende. Podemos estar falando de participao DOLOSA ou participao CULPOSA. DOLOSA Ð No cabe participao dolosa em crime culposo, pois a Doutrina entende que no h Òunidade de vontadesÓ entre os agentes (um quer o resultado a ttulo de dolo, e o outro, executor, apenas um descuidado). Assim, no h Òvnculo subjetivoÓ entre eles no que tange ao resultado. Logo, cada um responde por sua conduta. CULPOSA Ð possvel, pois possvel que algum, por culpa, induza, instigue ou preste auxlio ao executor de uma conduta tambm culposa, e haveria Òunidade de vontadesÓ. CUIDADO: O STJ entende que NÌO cabe nenhum tipo de participao em crime culposo. Parte da Doutrina tambm segue este entendimento. 1.6!Multido delinquente Tambm chamada de Òmultido criminosaÓ22, so considerados pela doutrina como aqueles atos em que inmeras (incontveis, uma multido) pessoas praticam o mesmo delito, agindo em concurso de pessoas, muitas vezes sem um acordo prvio, mas cada uma aderindo tacitamente conduta da outra. Ex.: Linchamentos, brigas de torcidas organizadas, saques a lojas ou a carretas tombadas, etc. A Doutrina sustenta que, mesmo nestes casos, tm-se CONCURSO DE PESSOAS, pois h vnculo subjetivo entre estas pessoas, ainda que tcito (no explcito). O agente que praticar o delito nestas condies, porm, dever ter sua pena atenuada, nos termos do art. 65, e do CP, j que se trata de situao em que h maior vulnerabilidade psicolgica para que uma pessoa venha a aderir a uma conduta criminosa. Por outro lado, os que promoverem, organizarem ou liderarem a conduta criminosa tero suas penas agravadas (art. 62, I do CP). 2! CONCURSO DE CRIMES 2.1!Conceito e natureza Assim como plenamente possvel que duas ou mais pessoas se unam para praticar determinado delito, plenamente possvel que de uma mesma conduta (ou de uma srie de condutas interligadas) surjam vrios crimes. 22 O termo Òmultido criminosaÓ utilizado, dentre outros, por Ren Ariel Dotti (cf. DOTTI, Ren Ariel. Curso de Direito Penal, Parte Geral. Ed. Revista dos Tribunais. 4¼ ed. So Paulo. 2012, p. 459) e `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo O concurso de crimes pode ser de trs espcies: concurso formal, concurso material e crime continuado. A exata caracterizao de cada um dos institutos bastante importante, pois isso influenciar na adoo do sistema de aplicao da pena. Trs tambm so os sistemas de aplicao da pena: ¥! Sistema do cmulo material Ð Aqui, ao agente aplicada a pena correspondente ao somatrio das penas relativas a cada um dos crimes cometidos isoladamente. Foi adotado no que tange ao concurso material (art. 69 do CP), no concurso formal imprprio ou imperfeito (art. 70, caput, 2¡ parte) e no concurso de penas de multa (art. 72 do CP); ¥! Sistema da exasperao Ð Aplica-se ao agente somente a pena da infrao penal mais grave, acrescida de determinado percentual. Foi acolhido no que se refere ao concurso formal prprio ou perfeito (art. 70, caput, primeira parte, do CP) e ao crime continuado (art. 71 do CP); ¥! Sistema da absoro Ð Aplica-se somente a pena da infrao penal mais grave, dentre todas as praticadas, sem que haja qualquer aumento. Foi adotado (jurisprudencialmente) em relao aos crimes falimentares. 2.2!Espcies 2.2.1!Concurso material (ou real) de crimes Est regulado pelo art. 69 do CP: Art.69 - Quando o agente, mediante mais de uma ao ou omisso, pratica dois ou mais crimes, idnticos ou no, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicao cumulativa de penas de recluso e de deteno, executa-se primeiro aquela. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) ¤ 1¼ - Na hiptese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, no suspensa, por um dos crimes, para os demais ser incabvel a substituio de que trata o art. 44 deste Cdigo. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) ¤ 2¼ - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprir simultaneamente as que forem compatveis entre si e sucessivamente as demais. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Nesse fenmeno, o agente pratica duas ou mais condutas e produz dois ou mais resultados. Pode ser homogneo, quando todos os crimes praticados so idnticos, ou heterogneo, quando os crimes so diferentes. Esse cmulo de penas deve ser aplicado pelo Juiz na hora da sentena, se os processos tiverem sido reunidos por conexo, ou pelo Juiz da execuo, caso tenham sido aplicadas as penas em processos diversos (nos termos do art. 66, III, a da LEP). d `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo Se for imposta pena de recluso a um dos crimes e de deteno a outro, executa-se primeiramente a de recluso, nos termos do art. 69, caput, segunda parte, do CP. S ser possvel a aplicao de penas restritivas de direitos a um dos crimes se em relao aos outros foi aplicada pena tambm restritiva de direitos ou, em caso de ter sido aplicada pena privativa de liberdade, esta foi suspensa ( o chamado sursis), nos termos do art. 69, ¤ 1¡ do CP. As penas restritivas de direitos podem ser cumpridas simultaneamente, desde que compatveis. Assim, a pena de limitao de final de semana no pode ser cumprida simultaneamente com outra restritiva de direitos idntica (limitao de final de semana), pois nesse caso o agente estaria cumprindo apenas uma das penas (e pagando as duas o malandro!). Entretanto, plenamente possvel o cumprimento simultneo de pena restritiva de direitos consistente em prestao de servios comunidade e outra consistente em prestao pecuniria ($$), pois isso no importa em prejuzo a ningum (nem ao Estado nem ao infrator). S possvel a suspenso condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95) se o somatrio das penas mnimas previstas para todos os crimes for inferior a um ano. Assim, se o acusado praticou dois crimes em concurso material, sendo a pena mnima de ambos estipulada em 03 meses de deteno, possvel a suspenso condicional do processo. 2.2.2!Concurso formal de crimes No concurso formal, ou ideal, o agente, mediante uma nica conduta, pratica dois ou mais crimes, idnticos ou no. Nos termos do art. 70 do CP: Art. 70 - Quando o agente, mediante uma s ao ou omisso, pratica dois ou mais crimes, idnticos ou no, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto at metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ao ou omisso dolosa e os crimes concorrentes resultam de desgnios autnomos, consoante o disposto no artigo anterior.(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Pargrafo nico - No poder a pena exceder a que seria cabvel pela regra do art. 69 deste Cdigo. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Primeiramente, deve ser esclarecido a vocs que deve haver unidade de conduta e pluralidade de resultados. No entanto, a unidade de conduta no significa unidade de atos, pois existem condutas que podem ser fracionadas em diversos atos, como no caso de algum que mata outra pessoa com diversas pauladas na cabea. Embora neste caso haja diversos atos, h unidade de conduta. O concurso formal ser homogneo se todos os crimes cometidos mediante a conduta nica forem idnticos, e ser heterogneo se os crimes praticados forem diversos. O concurso formal pode ser, ainda, perfeito ou imperfeito: ¥! Concurso formal perfeito (prprio) Ð Aqui o agente pratica uma nica conduta e acaba por produzir dois resultados, embora d `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo no pretendesse realizar ambos, ou seja, no h desgnios autnomos (inteno de, com uma nica conduta, praticar dolosamente mais de um crime). Exemplo: Imaginem que Camila, dirigindo seu Bugatti pelas ruas de So Paulo, em altssima velocidade, atropela, sem querer, um pedestre, que vem a bito, e causa leses graves em outro pedestre. Nesse caso, Camila responde pelos crimes de homicdio culposo e leso corporal culposa em concurso formal, aplicando-se a ela a pena do homicdio culposo (mais grave) acrescida de 1/6 at a metade23; ¥! Concurso formal imperfeito (imprprio) Ð Aqui o agente se vale de uma nica conduta para, dolosamente, produzir mais de um crime. Imaginem que, no exemplo anterior, Camila desejasse matar o pedestre, antigo desafeto, bem como lesionar o outro pedestre (sua ex-sogra). Assim, com sua nica conduta, Camila objetivou praticar ambos os crimes, respondendo por ambos em concurso formal imperfeito, e lhe ser aplica a pena de ambos cumulativamente (sistema do cmulo material), pois esse concurso formal formal apenas no nome, j que deriva de intenes (desgnios) autnomas, nos termos do art. 70, segunda parte, do CP. 2.2.3!Aplicao da pena no concurso formal Via de regra, no concurso formal o sistema utilizado o da exasperao, utilizando-se como base a pena do crime mais grave, aumentada (exasperada) de 1/6 at a metade (art. 70, primeira parte, do CP). O quantum do aumento (entre 1/6 e metade da pena usada como base) ser definido mediante a anlise da quantidade de crimes praticados. Se praticados poucos crimes, aplica-se o aumento mnimo; se praticados diversos crimes mediante a nica conduta, aplica-se o aumento em seu montante mximo. Trata-se, portanto, de uma frmula de aplicao da pena que visa a beneficiar o ru, em razo do menor desvalor de sua conduta. Entretanto, se estivermos diante de concurso formal imperfeito (imprprio), aplica-se a regra estabelecida pelo art. 70, segunda parte, do CP, ou seja, o sistema do cmulo material, pois o agente se valeu de uma nica conduta para praticar diversos crimes de maneira dolosa, agindo com intenes autnomas (desgnios autnomos). H, ainda, a figura que se denominou de cmulo material benfico, que ocorre quando o sistema da exasperao se mostra prejudicial ao ru em relao ao sistema da cumulao. 23 possvel o reconhecimento de concurso formal prprio entre crimes dolosos, desde que seja possvel compreender que houve uma nica empreitada criminosa, ou seja, os crimes faziam parte de um nico intento criminoso (ex.: Jos entra num nibus e rouba o dinheiro relativo s passagens e tambm rouba o celular de um passageiro). No h, aqui, crime nico, ante a diversidade dos patrimnios lesados, devendo, no entendimento do STJ, ser reconhecido o concurso formal de crimes. 0 `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujowww.estrategiaconcursos.com.br 23 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo EXEMPLO: Imaginem que o agente tenha cometido homicdio doloso simples (pena de 06 a 20 anos) e tenha, culposamente, mediante a mesma conduta, lesionado levemente uma terceira pessoa, cometendo o crime de leses corporais culposas em concurso formal com o homicdio (art. 129, ¤ 6¡ do CP, pena de 02 meses a um ano de deteno). Nesse exemplo acima, o sistema da exasperao muito prejudicial ao ru. Imaginem que o infrator tenha sido condenado pelo crime de homicdio a 10 anos de recluso (crime mais grave). Nesse caso, pelo sistema da exasperao, por ter havido concurso formal, essa pena deve ser aumentada de 1/6 at a metade. Logo, a pena dele variar de 11 anos e 08 meses a 15 anos de recluso (pena base + 1/6 e pena base + metade). Pelo sistema do cmulo material, como a pena de leses culposas bem pequena, a pena do agente variaria de 10 anos e dois meses a 11 anos de recluso. Nesse caso, percebam, o sistema da exasperao prejudicial ao ru. Assim, a lei estabelece que, nesse caso, ELE NÌO SE APLICA, aplicando-se o sistema do cmulo material, pois o sistema da exasperao foi criado para beneficiar o ru e no pode ser aplicado quando resultar em prejuzo a ele. Nos termos do ¤ nico do art. 70 do CP: Art. 70 (...) Pargrafo nico - No poder a pena exceder a que seria cabvel pela regra do art. 69 deste Cdigo. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) 2.2.4!Crime continuado Tambm conhecido como continuidade delitiva, a espcie de concurso de crimes na qual o agente pratica diversas condutas, praticando dois ou mais crimes, que por determinadas condies so considerados pela Lei (por uma fico jurdica) como crime nico. Nos termos do art. 71 do CP: Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ao ou omisso, pratica dois ou mais crimes da mesma espcie e, pelas condies de tempo, lugar, maneira de execuo e outras semelhantes, devem os subseqentes ser havidos como continuao do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um s dos crimes, se idnticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois teros. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Pargrafo nico - Nos crimes dolosos, contra vtimas diferentes, cometidos com violncia ou grave ameaa pessoa, poder o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstncias, aumentar a pena de um s dos crimes, se idnticas, ou a mais grave, se diversas, at o triplo, observadas as regras do pargrafo nico do art. 70 e do art. 75 deste Cdigo.(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Duas teorias buscam explicar este instituto: ¥! Teoria da fico jurdica Ð Para esta teoria, a continuidade delitiva uma fico, pois, na verdade, existem diversos crimes, tendo a Lei considerado os diversos atos como apenas um crime, para fins de aplicao da pena. Esta teoria foi desenvolvida por Francesco Carrara; f `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo ¥! Teoria da realidade, ou da unidade real Ð Para esta teoria, o crime continuado , por sua prpria natureza, um nico delito, no havendo que se falar em fico jurdica. O nosso CP adotou a teoria da fico jurdica, pois a considerao dos diversos delitos como um nico crime se d apenas para fins de aplicao da pena, tanto que, no que tange prescrio, eles so considerados crimes autnomos, nos termos do art. 119 do CP: Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extino da punibilidade incidir sobre a pena de cada um, isoladamente. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) 2.2.5!Requisitos para a configurao do crime continuado A Doutrina entende serem trs os requisitos do crime continuado: a) pluralidade de condutas; b) pluralidade de crimes da mesma espcie; e c) condies semelhantes de tempo, lugar, modo de execuo e outras semelhanas. H divergncia doutrinria quanto necessidade de haver ou no unidade de desgnio. A pluralidade de conduta decorre da redao do art. 71, que fala em Òmediante mais de uma ao ou omissoÓ. A pluralidade de crimes causa polmica. O que seriam crimes da mesma espcie? A Doutrina e a Jurisprudncia no so pacficas. Parte minoritria entende que crimes da mesma espcie so aqueles que tutelam o mesmo bem jurdico. Assim, para essa corrente, furto, estelionato, apropriao indbita, etc., seriam todos crimes da mesma espcie, pois seriam todos Òcrimes contra o patrimnioÓ. No entanto, a corrente que prevalece, inclusive no STJ, a de que crimes da mesma espcie so aqueles tipificados pelo mesmo dispositivo legal, na forma simples, privilegiada ou qualificada, consumados ou tentados. Assim, seriam crimes da mesma espcie roubo e roubo qualificado. Vejamos: (...) No h continuidade delitiva porque os crimes de falsificao de documento pblico e falsidade ideolgica no so da mesma espcie. (...) (AgRg no AREsp 311.775/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 27/05/2014, DJe 03/06/2014) Entretanto, essa corrente entende que, alm de serem tratados no mesmo dispositivo legal, devem tutelar o mesmo bem jurdico. Assim, roubo simples (art. 157) e latrocnio (art. 157, ¤ 3¡ do CP) no seriam crimes da `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo mesma espcie, pois o latrocnio tutela, ainda, o direito vida, e no somente o patrimnio. O STJ j solidificou este entendimento: (...) 1. Os crimes de roubo e latrocnio, apesar de serem do mesmo gnero, no so da mesma espcie. No crime de roubo, a conduta do agente ofende o patrimnio. No delito de latrocnio, ocorre leso ao patrimnio e vida da vtima, no havendo homogeneidade de execuo na prtica dos dois delitos, razo pela qual tem aplicabilidade a regra do concurso material. (...) (HC 186.575/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 27/08/2013, DJe 04/09/2013) Por fim, a semelhana entre os delitos deve obedecer conexo de quatro gneros: temporal, espacial, modal e ocasional. A conexo temporal exige que os crimes tenham sido cometidos na mesma poca. Mesma poca no implica mesmo momento. A jurisprudncia tem entendido que os crimes no podem ter sido cometidos em um lapso temporal superior a 30 dias. No entanto, no que se refere aos crimes contra a ordem tributria, o STF j entendeu que pode haver continuidade delitiva desde que os delitos tenham sido cometidos em lapso temporal no superior a 03 anos. A conexo espacial indica que, para que seja considerada continuidade delitiva, os crimes devem ser cometidos no mesmo local. A Jurisprudncia entende que a conexo espacial s estar presente se os crimes forem cometidos na mesma cidade, ou, no mximo, na mesma regio metropolitana. A conexo modal se verifica quando o agente pratica o crime sempre da mesma maneira, seja pelo modo de execuo, pela utilizao de comparsas, etc. A conexo ocasional no possui previso expressa na Lei, mas parte da Doutrina a entende como a necessidade de que os primeiros crimes tenham proporcionado uma ocasio que gerou a prtica doscrimes subsequentes. Com relao unidade de desgnios, ou seja, a necessidade de que todos os crimes praticados na verdade tenham sido partes de um nico projeto criminoso, a Doutrina dividida, mas a maioria da Doutrina, bem como a Jurisprudncia, entendem ser necessria essa unidade de desgnios, de forma que a mera reunio dos demais requisitos no configura a continuidade delitiva se os crimes foram praticados de maneira isolada, sem nenhum vnculo `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo entre eles. Isso significa que a maioria da Doutrina e a Jurisprudncia adotam a teoria objetivo-subjetiva, desprezando a teoria objetiva pura, que no prev a necessidade de unidade de desgnios. 2.2.6!Aplicao da pena no crime continuado Existem trs espcies de crime continuado: simples, qualificado e especfico. Entretanto, em todos os casos se aplica o sistema da exasperao. No crime continuado simples, as penas dos delitos parcelares so as mesmas. Exemplo: 10 furtos simples praticados em continuidade delitiva. Nesse caso, aplica-se a pena de apenas um deles, acrescida de 1/6 a 2/3 (varia conforme a quantidade de delitos). No crime continuado qualificado, as penas dos delitos praticados so diferentes, de modo que se aplica a pena do mais grave deles, aumentada de 1/6 a 2/3. Por fim, o crime continuado especfico est previsto no ¤ nico do art. 71 do CP: Art. 71 (...) Pargrafo nico - Nos crimes dolosos, contra vtimas diferentes, cometidos com violncia ou grave ameaa pessoa, poder o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstncias, aumentar a pena de um s dos crimes, se idnticas, ou a mais grave, se diversas, at o triplo, observadas as regras do pargrafo nico do art. 70 e do art. 75 deste Cdigo.(Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Assim, nos crimes dolosos cometidos com violncia ou grave ameaa pessoa, sendo as vtimas diferentes, poder o Juiz aplicar a pena de um deles (ou a mais grave, se diversas), aumentada at o triplo. Vejam que se adotou o mesmo sistema da exasperao, entretanto, o ¤ nico previu um quantum maior a ser acrescido pena-base. A lei no estabelece a quantidade mnima nesse caso, mas a Jurisprudncia, inclusive o STF, entende que o mnimo aqui tambm de 1/6. Aqui tambm se aplica a regra do Òconcurso material benficoÓ, ou seja, se o sistema da exasperao se mostrar mais gravoso, dever ser aplicado o sistema do cmulo material. 2.2.7!Crime continuado e conflito de leis penais no tempo Se durante a execuo do crime continuado sobrevir lei nova, mais gravosa ao ru, esta ltima aplicada, pois se considera que o crime continuado est sendo praticado enquanto no cessa a continuidade delitiva. Assim, sendo o tempo do crime o momento em que cessa a continuidade, a lei nova chegou a vigorar antes de sua consumao, aplicando-se a este, por ser a lei vigente ao tempo do crime. Este entendimento est, inclusive, sumulado pelo STF: `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo SòMULA N¼ 711 A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO CRIME CONTINUADO OU AO CRIME PERMANENTE, SE A SUA VIGæNCIA ANTERIOR Ë CESSAÌO DA CONTINUIDADE OU DA PERMANæNCIA. 2.2.8!Crime continuado e prescrio Nos crimes continuados, por haver mera fico jurdica de crime nico, apenas para fins de aplicao da pena, a prescrio calculada em relao a cada crime isoladamente. Entretanto, para o clculo da prescrio RETROATIVA (a que leva em considerao a pena Òem concretoÓ), leva-se em conta a pena mnima estabelecida para a pena-base, desprezando-se o acrscimo que seria aplicado em decorrncia da continuidade delitiva. EXEMPLO: Se h dois furtos qualificados praticados em continuidade delitiva (penas mnimas de dois anos), tendo a sentena aplicado a pena mnima, por exemplo (02 anos), acrescida de determinado percentual decorrente da continuidade delitiva (1/4), a prescrio calculada tendo por base a pena aplicada, mas sem computar o acrscimo decorrente da continuidade delitiva (apenas 02 anos, e no 02 anos + !, que seria 02 anos e 06 meses). Para termos uma ideia de como isso influencia a prescrio, se utilizssemos os Òdois anos e seis mesesÓ como base para o clculo da prescrio retroativa, ela ocorreria em 08 anos, por fora do art. 109, IV do CP. Como devemos considerar a pena aplicada, sem o acrscimo (02 anos), a prescrio retroativa ter o prazo de 04 anos, por fora do art. 109, V do CP. Esta previso consta do verbete n¡ 497 da smula do STF: SòMULA N¼ 497 QUANDO SE TRATAR DE CRIME CONTINUADO, A PRESCRIÌO REGULA-SE PELA PENA IMPOSTA NA SENTENA, NÌO SE COMPUTANDO O ACRSCIMO DECORRENTE DA CONTINUAÌO. 2.2.9!Aplicao da pena de multa no concurso de crimes Assim prev o art. 72 do CP: Art. 72 - No concurso de crimes, as penas de multa so aplicadas distinta e integralmente. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Assim, o art. 72 do CP prev a aplicao do sistema do cmulo material no que tange s penas de multa. Essa aplicao inquestionvel no concurso material e no concurso formal. No entanto, no que se refere ao crime continuado, h forte divergncia. `Ìi`ÊÕÃ}ÊÌ iÊvÀiiÊÛiÀÃÊvÊ�vÝÊ*��Ê `ÌÀÊÊÜÜÜ°Vi°V Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 92 DIREITO PENAL P/ MP-SP (2018) Ð ANALISTA JURêDICO Teoria e questes Aula 03 Ð Prof. Renan Araujo A primeira corrente (amplamente majoritria na Doutrina) entende que esta regra tambm se aplica ao crime continuado, por no ter a Lei feito qualquer distino. A segunda corrente (majoritria na Jurisprudncia, inclusive no STJ), entende que, nesse caso, no se aplica a regra do art. 72, por ter a lei entendido que se trata de crime nico, mediante fico jurdica. 3! DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES CîDIGO PENAL Ä Arts. 29 a 31 do CP Ð Regulamentam o concurso de agentes no Cdigo Penal: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) ¤ 1¼ - Se a participao for de menor importncia, a pena pode ser diminuda de um sexto a um tero. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) ¤ 2¼ - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe- aplicada a pena deste; essa pena ser aumentada at metade, na hiptese de ter sido previsvel o resultado mais grave. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Circunstncias incomunicveis Art. 30 - No se comunicam as circunstncias e as condies de carter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Casos de impunibilidade Art. 31 - O ajuste, a determinao ou instigao e o auxlio, salvo disposio expressa em contrrio, no so punveis, se o crime no chega, pelo menos, a ser tentado. (Redao dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984) Ä Arts. 69 a 72 do CP Ð Regulamentam o concurso de crimes no Cdigo Penal: Concurso material Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ao ou omisso, pratica dois ou mais crimes, idnticos
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