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4.10. Dopagem no Esporte Mauricio Yonamine e Daniela Mendes Louzada de Paula sUMÁRIO 1. Introdução 2. Regulamentos do controle da dopagem 3. Substâncias utilizadas na dopagem 3.1. Agentes Anabólicos 3.1.1. Esteróides anabólicos androgênicos 3.1.2. Outros agentes anabólicos 3.2. Hormônios como agentes de dopagem 3.2.1. Eritropoietina (EPO) 3.2.2. Hormônio de Crescimento (GH) 3.2.3. Gonadotrofinas 3.2.4. Insulina 3.2.5. Corticotrofina (ACTH) 3.3. Agonistas beta-2 3.4. Agentes com atividade antiestrogênica 3.4.1. Inibidores de aromatase .3.4.2. Moduladores seletivos de receptores estrogênicos 3.4.3. Outras substâncias com atividade antiestrogênica 3.5. Diuréticos 3.6. Agentes mascarantes 3.7. Estimulantes 3.7.1. Simpatomiméticos 3.7.2. Cocaína 3.8. Narcoanalgésicos 3.9. Canabinóides 3.10. Glicocorticóides 4. Substâncias proibidas em determinados esportes 4.1. Etanol 4.2. Bloqueadores beta-adrenérgicos 5. Substâncias específicas 6. Métodos de dopagem 6.1. Transportadores de oxigênio 6.1.1. Dopagem sangüínea 6.1.2. Transportadores artificiais de oxigênio 6.2. Manipulação química e física 6.3. Dopagem genética 7. Aspectos analíticos no controle da dopagem 8. Prevalência da Dopagem 9. Bibliografia 1. INTRODUÇÃO As substâncias químicas e os métodos, que são utilizados na tentativa de melhorar o desempenho em atividades fisicas ou mentais, são conhecidos no mundo do esporte como doping. O uso de substâncias químicas ou dos métodos caracteriza a dopagem. Essa prática é comum em diversos segmentos da sociedade; assim, a dopagem não está restrita ao campo esportivo. Estudantes, militares, artistas, intelectuais, e trabalhadores também utilizam esse recurso com o objetivo de manter o estado de vi- gília por longo tempo e de aumentar a capacidade de atenção, concentração e raciocínio. Contudo, é no meio desportivo que a dopagem sempre mereceu lugar de destaque. Ao longo dos anos, as substâncias e os métodos capazes de alterar o ·desempenho dos atletas aumen- taram de forma significativa. Segundo Philostratos e Galeno, nos Jogos Olímpicos realizados na Grécia no final do século III a.c., os atletas já procuravam au- mentar, de maneira empírica, o desempenho nas com- petições com os recursos disponíveis na época. Com o decorrer do tempo essa prática evoluiu na mesma proporção da importância conferida ao esporte. ~ A crescente mercantilização observada no meio esportivo aumentou a pressão sobre o atleta para alcançar o seu rendimento máximo em curto prazo. Vencer tomou-se mais importante que competir. Essa inversão de valores tem provocado mudanças na ética desportiva, induzindo os atletas à utilização de todos os recursos disponíveis, lícitos ou não, para vencer. \Entre os fatores que contribuem para a dopagem estão: freqüência, duração e intensidade dos treina- mentos e das competições; período de recuperação insuficiente entre esses eventos; condições atmosfé- ricas desfavoráveis e estresse provocado pelo públi- co, meios de comunicação e patrocinadores. Existe um limite para o desempenho e aqueles que têm consciência de que não conseguirão atingir metas pré-estabelecidas podem recorrer à ajuda de agentes exógenos. Essa atitude, contudo, constitui fraude para com os adversários e o público, pois é uma tentativa de romper o equilíbrio estabelecido por regras que colocam os atletas em igualdade de condições na competição, valorizando a preparação física e mental. . Infelizmente, na maioria das vezes, as discussões sobre o assunto são restritas à eficácia ou não do do- ping ou se o atleta teve ou não intenção de se dopar. As evidências disponíveis, entretanto, parecem indi- car que a maioria dos recursos utilizados para essa finalidade apresenta grande probabilidade de provo- car efeitos nocivos ao atleta. Dessa maneira, a luta contra a prática da dopagem tem por base a proteção da saúde e a manutenção da segurança dos atletas. Não é aceitável que dirigentes, treinadores e in- divíduos que são formadores de opinião tentem ne- gar a realidade da dopagem ou minimizar os efeitos prejudiciais dessa prática no meio desportivo. A dopagem, além de ser um fato eticamente con- denável, representa risco para quem a utiliza, pois a escolha do agente de dopagem é feita de acordo com o que o atleta, hipoteticamente, acredita que poderá favorecer o seu rendimento em determinado esporte. Assim, para obter um resultado acima da sua capaci- dade orgânica normal, os atletas utilizam a dopagem na tentativa de influenciar diretamente a capacidade fisiológica de um determinado sistema do organismo que contribui para o desempenho atlético ou para re- mover barreiras psicológicas que poderiam afetar o rendimento durante a competição. A dopagem também é utilizada para abreviar o período de recuperação fisica, eliminar a dor ou re- tardar o aparecimento da fadiga, suprimindo impor- tantes sinais e sintomas que caracterizam situações de risco para o organismo. 2. REGULAMENTOS DO CONTROLE DA DOPAGEM A luta antidopagem, na sua forma moderna, co- meçou na década de 1960. Segundo relatos da época, cerca de 30% dos participantes de eventos desportivos internacionais usavam algum tipo de estimulante quí- mico. Esta situação obrigou as autoridades governa- mentais e esportivas a tomarem medidas severas con- tra tal conduta. Em alguns países, foram sancionadas leis que puniam com rigor aqueles que praticassem ou facilitassem a execução da dopagem. Em 1967, o Comitê Olímpico Internacional (CO!) condenou a dopagem, apresentou uma lista de subs- tâncias consideradas proibidas e iniciou o controle antidopagem sob seus auspícios. No Brasil, o controle oficial da dopagem foi re- gulamentado inicialmente em 1972, através da De- liberação 5.172. Em 2003, foi instituída a Comissão de Combate ao Doping, que propôs ao Conselho Nacional de Esportes (CNE) as normas básicas de controle de dopagem nas partidas, provas ou equiva- lentes do desporto registradas na Resolução n02 (de 2004) do Ministério dos Esportes. A Agência Mundial Antidopagem (AMA), constituída paritariamente por membros do Movi- mento Olímpico e representantes de governos dos cinco continentes, passou, a partir de 2000, a ter a 468 FUNDAMENTOS DE TOXICOLOGIA responsabilidade de coordenar o movimento interna- cional de prevenção e controle da dopagem. O conceito de dopagem apresentado no Código Antidopagem do Movimento Olímpico é "o uso de um expediente - substância ou método - que pode ser potencialmente prejudicial à saúde dos atletas, capaz de aumentar seu desempenho e que resulta na presen- ça de uma substância proibida ou na evidência do uso de um método proibido no organismo do atleta". A lista de substâncias e métodos proibidos con- siderados doping é revisada anualmente e tem ser- vido de base para a elaboração de regulamentações próprias de outras federações esportivas. De acordo com a AMA, as substâncias e os métodos que estão na lista apresentam como característica, pelo menos, dois dos três seguintes critérios: possibilidade de au- mento no desempenho, risco à saúde e violação do espírito esportivo. A classificação dos agentes de dopagem pela AMA, com vigência em 2007, é apresentada a seguir: Substâncias proibidas S I. Agentes anabólicos 1. Esteróides anabólicos androgênicos 2. Outros agentes anabólicos S2. Honnônios e outras substâncias relacionadas 1. Eritropoietina (EPO) 2. Honnônio do crescimento (GH), fator de crescimento tipo insulina (p.ex., IGF-l) e fator de crescimento mecano (MGF) 3. Gonadotrofinas (hCG, LH), somente para atletas do sexo masculino 4. Insulina 5. Corticotrofinas (ACTH) S3. Agonistas beta-2 S4. Agentes com atividade antiestrogênica 1. Inibidores da aromatase 2. Moduladores seletivos de receptores es- trogênicos (MSRE) 3. Outras substâncias antiestrogênicas S5. Diuréticose outros agentes mascarantes S6. Estimulantes S7. Narcóticos S8. Canabinóides S9. Glicocorticóides Substâncias proibidas em determinados esportes PI. Etanol P2. Bloqueadores beta-adrenérgicos Substâncias específicas Métodos proibidos MI. Transportadores de oxigênio I. Dopagem sangüínea 2. Transportadores artificiais de oxigênio M2. Manipulações químicas e fisicas M3. Dopagem genética Para algumas substâncias a proibição está rela- cionada à via de exposição. São exemplos: • os agonistas beta-2 (salbutamol, fonnoterol, salmeterol e terbutalina) podem ser utiliza- dos por via respiratória (inalação) nos casos de prevenção à ocorrência ou de tratamento da asma induzida por exercício. É necessária uma notificação por escrito de um especialis- ta ou médico da delegação ou equipe com a indicação de que o atleta tem asma ou asma induzida pelo exercício, dirigida à autoridade médica competente, antes da competição. • todos os estimulantes de estrutura imidazóli- ca são permitidos para uso tópico; • a adrenalina associada com anestésico local ou em administração local (nasal, oftalmoló- gica) não é proibida; • preparações tópicas de corticosteróides utili- zadas nas vias dénnica, auricular, nasal, oftal- mo lógica, bucal, gengival e perianal são per- mitidas e dispensadas de notificação médica. 3. SUBSTÂNCIAS QUíMICAS UTILIZADAS NA DOPAGEM As substâncias químicas são usadas, principal- mente, na tentativa de aumentar a força, a resistên- cia e o tamanho corporal. Esses atributos podem ser medidos individualmente, mas o efeito total no de- sempenho atlético é dificil de ser avaliado. O atleta poderia obter mais força com o uso de substâncias químicas; contudo, se a coordenação olhos/mãos não for adequada à modalidade esportiva praticada, os resultados permanecerão imutáveis. A dopagem química sempre ocupou um lugar de destaque entre os recursos utilizados pelos atletas. Na sociedade atual existe favorecimento sociocultural para o uso abusivo de substâncias químicas na forma de especialidades farmacêuticas ou produtos formula- dos sem nenhum critério técnico-científico. Esse há- bito pode levar o indivíduo ao consumo de produtos imediatamente antes ou durante a competição, com o objetivo de aumentar o seu desempenho. 4.10. DOPAGEM NO ESPORTE 469 Os resultados obtidos em numerosos estudos so- bre o assunto são contraditórios e não muito convin- centes. É tarefa árdua estabelecer se o uso de doping é realmente efetivo, pois existe um considerável fa- tor subjetivo que está associado à vontade do atleta de melhorar o seu desempenho a qualquer custo. Nos círculos esportivos, as informações leigas prevalecem sobre as científicas, fazendo com que a dopagem seja caracterizada pelo uso não medicinal de fármacos. Entretanto, grande parcela das substân- cias que são utilizadas como agentes de dopagem necessíta de prescrição médica, mesmo quando usa- das na terapêutica, devido aos efeitos adversos que podem ocasionar. Na dopagem, os atletas consomem doses exces- sivas para conseguir o máximo de efeitos farmacoló- gicos usados na terapêutica ...ou para conseguir obter determinados efeitos colaterais. Dessa maneira, a relação riscolbeneficio para o uso de fármacos não é adequadamente considerada. Esse uso indevido pode levar à ocorrência de intoxicações, ao desenvolvimento de tolerância aos efeitos farmacológicos e à dependência. O estilo de vida dos atletas, no qual são comuns longos períodos de concentração, afastamento do convívio familiar e viagens constantes, pode atuar como reforço positi- vo secundário para auto-administração de drogas. Na literatura especializada são relatados nume- rosos casos de intoxicações agudas e morte de atle- tas devido à dopagem química. O uso de fármacos como dopagem apresenta, ainda, um risco adicional para os atletas, pois os produtos podem ser prove- nientes de produção e comercialização clandestinas, não apresentando segurança para o seu usuário. 3.1. Agentes anabólicos 3.1.1. Esteróides anabólicos androgênicos. O abuso dos esteróides anabólicos androgênicos para aumentar o desempenho começou nos anos 1950, teve seu uso acentuado nos anos 1970 e até hoje tem sido um dos grandes problemas na área esportiva. Esteróides endógenos, principalmente testosterona, são os preferidos, devido à dificuldade na detecção de seu uso. Outros esteróides sintéticos, como a bol- denona, a nandrolona, a metenolona e o estanozolol, também têm sido amplamente utilizados. Esteróides anabólicos, quando administrados por longo período de tempo, podem aumentar a massa muscular e a força do atleta e, provavelmente, de- vem melhorar o desempenho em modalidades es- portivas que requeiram e~sas propriedades. Contu- do, uma série de efeitos adversos pode ser observada em usuários: depressão; dependência; doenças car- diovasculares, como aterosclerose e infarto do mio- cárdio; anormalidades hepáticas, como colestases e tumores; e aumento da secreção de glândulas sebá- ceas com formação exagerada de acne, oleosidade da pele e cabelos, alopécia e dermatite seborréica. Nos homens é comum sintomas como atrofia testi- cular, infertilidade, perda de libido e ginecomastia, enquanto que nas mulheres, virilização, anovulação e amenorréia são relacionadas ao uso abusivo. Ou- tros aspectos dos esteróides anabólicos serão discu- tidos em capítulo posterior. 3.1.2. Outros agentes anabólicos. Substâncias anabolizantes que não apresentam estrutura química ou mecanismo de ação similar aos esteróides são agrupadas na classe de outros anabólicos, como é o caso do clembuterol, tibolona, zeranol e zilpaterol. O clembuterol é uma substância simpatomimé- tica que age principalmente nos receptores beta- adrenérgicos. Experimentos em animais, tratados oralmente com clembuterol, resultaram em aumen- to da massa muscular em numerosas espécies. Em humanos, algumas pesquisas demonstram que o uso sistêmico e a ação nos receptores beta-2-agonistas em longo prazo podem aumentar a massa muscular de certos tipos de fibras. A tibolona é um fármaco que ao ser biotransfor- mado no organismo humano produz três metabóli- tos; um deles, a .0.4-tibolona, possui ação progesta- gênica e levemente androgênica. Uma proposta do mecanismo androgênico desse metabólito é a dimi- nuição da globulina de ligação ao hormônio sexual que resulta no aumento de testosterona livre. Promotores de crescimento utilizados em ani- mais de corte, como o zeranol e o zilpaterol, são um outro grupo de substâncias proibidas pela AMA. 3.2. Hormônios como agentes de dopagem 3.2.1. Eritropoietina (EPO). A eritropoietina é um hormônio sintetizado principalmente pelos rins e regula a velocidade de síntese dos eritrócitos. A epoietina, também conhecida como eritropoietina humana recombinante (rHuEPO), é um derivado de eritropoietina, preparada com técnicas da engenha- ria genética, para tratamento de anemia proveniente da falência renal crônica. Desde 2001, uma forma modificada da eritropoetina é comercializada, a dar- bepoetina, com potência 10 vezes superior e a meia- vida mais longa do que a do hormônio endógeno. Essas substâncias têm sido utilizadas por atletas na tentativa de estimular a produção de eritrócitos e, 470 FUNDAMENTOS DE TOXICOLOGIA conseqüentemente, aumentar a capacidade de trans- porte de oxigênio pelo sangue, fato que poderia me- lhorar o desempenho em esportes de resistência. Os efeitos que essas substâncias provocam, em pacientes sob tratamento de anemia, exigem que o hematócrito e a pressão sangüínea sejam freqüente- mente controlados para o ajuste da dose e da freqü- ência de uso, de modo a evitar o aparecimento de reações adversas. O Counci/ on Scientific AjJairs da American Me- dica/ Association afirma que hematócritos acima de 0,55 estão associados com o risco de reações tóxi- cas, tais como encefalopatias, distensãovascular, diminuição do fluxo sangüíneo e hipóxia. Atletas de provas de resistência perdem fluidos corpóreos durante a competição, o que acarreta no aumento da viscosidade sangüínea e em um risco maior de trombose e ataque cardíaco. Nessas con- dições, o hematócrito pode aumentar 0,1 ou mais durante uma corrida de maratona. Após o uso da eri- tropoietina, a produção de hemácias continua por 5 a 10 dias, podendo atingir níveis perigosos. Embora os níveis do hormônio administrado di- minuam bastante após uma semana, os efeitos bioló- gicos persistem por muito tempo, pois os eritrócitos produzidos permanecem de 3 a 4 meses no sangue. A epoietina, geralmente, é adquirida no merca- do ilegal e é auto-administrada, aumentando o risco para seus usuários. 3.2.2. Hormônio de crescimento (GH). Des- de início do século XXI, o hormônio de crescimento (GH) tem sido uma das substâncias de maior pro- cura entre os atletas. Esses acreditam que o seu uso aumentaria o tamanho corporal, provocaria redução nos depósitos de gordura e produziria efeitos simi- lares aos dos esteróides anabólicos, sem apresentar efeitos adversos. O GH é utilizado por praticantes de fisiculturis- mo, que acreditam que seu uso ajudaria na formação de uma aparência "esculpida", promovendo incor- poração de aminoácidos em proteinas musculares e interferindo no metabolismo de lipídios. São relatados casos de atletas que utilizam doses 20 vezes maiores do que a recomendada na terapêu- tica, com sérios riscos do aparecimento de efeitos adversos em longo prazo como, por exemplo, a acro- megalia. O GH é de alto custo e a dificuldade em se en- contrar uma formulação que seja pura (e não uma falsificação) acarreta na procura pelos atletas por substâncias do tipo clonidina, propranolol, levodopa e ácido gama-hidroxibutírico (GHB), que estimula- riam a secreção do GH endógeno. Supostamente, a realização de exercícios fisicos e ingestão de elevada quantidade de aminoácidos também estimulam a secreção do GH; assim, mui- tos atletas maximizam a intensidade de seus treina- mentos e consomem uma dieta rica em proteínas. Entretanto, especialistas no assunto sugerem que a administração do GH produz aumento mínimo ou nenhum efeito no tamanho e peso corpóreos. O GH estimula a liberação hepática do fator de crescimento tipo insulina (IGF-I) e a atividade des- sas duas substâncias no músculo e no metabolismo são similares, variando na intensidade do efeito. O fator de crescimento mecano é um tipo muscu- lar da IGF-I produzido na célula muscular em respos- ta ao estímulo mecânico. Este fator é responsável por iniciar a hipertrofia e reparar o dano muscular locali- zado e por ativar as células musculares precursoras. 3.2.3. Gonadotrofinas. A gonadotrofina cori- ônica humana (hCG) é uma glicoproteína produzida em grande quantidade durante a gravidez. A concen- tração máxima no sangue e na urina é observada en- tre a 8" e 10" semanas, seguidas de declínio gradual até a 17" ou 20" semanas. É secretada em pequenas quantidades no homem e em mulheres não grávidas. Atletas têm usado especialidades farmacêuticas que contêm o hCG para estimular a produção de tes- tosterona antes de competições e/ou para prevenir a atrofia testicular verificada durante ou após o uso prolongado de substâncias androgênicas. Seu uso foi proibido pelo CO) em 1987. O uso desse hormônio estimula a produção de testosterona e epitestosterona sem que seja observa- do aumento na relação existente entre essas substân- cias, ao contrário do uso exógeno da testosterona. Outro possível efeito "benéfico" seria o estimulo na formação de eritrócitos devido à ação sobre a produ- ção da eritropoietina. Um efeito indesejável que o uso continuado de hCG pode provocar em homens adultos sadios é a ginecomastia, provavelmente como resultado do au- mento da secreção de estrógenos. Em mulheres não grávidas, não há porque se acreditar na obtenção de melhora no rendimento atlético pelo uso de hCG. O hormônio luteinizante (LH) é uma outra gona- dotrofina que estimula a produção testicular de esper- ma e a síntese e secreção de testosterona em homens, o que contribui para o seu consumo. Em mulheres, o LH tem como principal função regular o ciclo mens- trual, pouco influenciando no desempenho atlético. 4.10. DOPAGEM NO ESPORTE 471 3.2.4. Insulina. A insulina foi adicionada à lis- ta de substâncias proibidas em 1998, pois era utili- zada pelos atletas associada ao uso intravenoso de glicose e/ou aminoácidos com o objetivo de estimu- lar a glicogênese e a síntese protéica. Além dessas informações não serem comprovadas, o uso de insu- lina em indivíduos saudáveis pode ocasionar até hi- poglicemia letal, principalmente pela sensibilidade aumentada em atletas em atividade física. O uso de insulina em atletas só é permitido para o tratamen- to da diabetes insulino-dependente. Nessa circuns- tância- o-endocrinologista ou o médico responsável pelo atleta deve apresentar notificação informando a existência dessa enfermidade. 3.2.5. Corticotrofina (ACTH). A corticotrofi- na (ACTH) pode ser utilizada como agente de do- pagem para aumentar os ~íveis de corticosteróides endógenos no sangue, com a intenção de obter efei- tos euforizantes. Pode ainda exercer ação sobre o sistema hematopoiético. A administração dessa substância é considerada equivalente à administração oral, intramuscular ou intravenosa de corticosteróides, que são formas proi- bidas no esporte. O uso por um período longo pode até proporcionar efeito oposto ao desejado, pois causa diminuição da síntese protéica e, conseqüentemente, perda de massa muscular. Efeitos adversos do abuso de ACTH ainda incluem hipertensão, amenorréia, osteo- porose, fraqueza muscular e síndrome psiquiátrica. 3.3. Agonistas beta-2 Os agonistas beta-2, como o salbutamol, são os principais fármacos utilizados no tratamento da asma. O uso oral de fármacos dessa classe aumen- ta a resistêricíã e irrrirííii a fadiga musCular. A dose páraa cançar esseefêito necessita ser I.0-;20 vezes superior à dose usada na inalação. Entretanto, o uso de agonista beta-2, de forma inalatória, não altera o desempenho de atletas não asmáticos e tampouco ocasiona efeito anabólico; mas é digno de nota o au- mento da função pulmonar observado em vários es- tudos. Aparentemente, o uso desses fármacos induz algum grau de broncodilatação em atletas saudáveis, mas isso pouco contribui no desempenho de atletas em treinamento, provavelmente porque a ventilação não é um fator limitante durante a realização máxi- ma de um exercício. 3.4. Agentes com atividade antiestrogênica 3.4.1. Inibidores de aromatase. Os inibidores de aromatase possuem ação antiestrogênica. Eles foram originalmente desenvolvidos para serem usados em mulheres, principalmente na prevenção e no trata- mento adjuvante em cânceres de mama dependente de estrogênio. A enzima aromatase é responsável por metaboli- zar a testosterona em estrona. A inibição dessa enzi- ma aumenta a concentração de testosterona plasmá- tica nos homens, fato que justifica a proibição dessa classe nos esportes. Até o momento, nenhum efeito na alteração na concentração de testosterona plas- mática foi encontrado em mulheres. Fazem parte dessa classe os fármacos: anastra- zol, letrozol, exemestano, formestano, entre outros. 3.4.2. Moduladores seletivos de receptores estrogênicos. Esses agentes possuem uma mistura de ação agonista e antagonista de receptores estro- gênicos que varia de acordo com o tipo de receptor presente em cada tecido, por isso são denominados de moduladores seletivos de receptores estrogênicos (MSRE). O seu uso clínico é similar ao dos inibi- dores de aromatase. São representantes desta classe: raloxifeno, tamoxifeno e toremifeno. Esses fármacos bloqueiam o feedback negativo responsável pela liberação de testosterona, por meio da inibição dos receptoresestrogênicos a no hipo- tálamo, o que acarreta no aumento de testosterona sangüínea em homens, mas em mulheres esse resul- tado ainda não foi verificado. Poucos experimentos existem sobre os efeitos tóxicos destes moduladores em homens; há relatos de puberdade tardia, baixa estatura, ginecomastia e até infertilidade. 3.4.3. Outras substâncias com atividade antíes- trogênica. Fulvestrant e clomifeno são antagonistas de receptores estrogênicos, mas que não possuem ati- vidade estrogênica, como é o caso dos MSRE. São fármacos que contribuem para o aumento na concen- tração de testosterona plasmática pelo mesmo meca- nismo de ação apresentado pelos MSRE. Os atletas os utilizam junto com os esteróides ana- bolizantes no intuito de diminuir a ginecomastia e a retenção de água pelo organismo, contudo estas infor- mações não são confirmadas por estudos científicos. 3.5. Diuréticos Com o aumento das restrições ao uso de determinadas substâncias, os atletas passaram a em- pregar fármacos que não eram considerados de uso proibido, mas que poderiam diminuir ou retardar a 472 FUNDAMENTOS DE TOXICOLOGIA eliminação dos agentes de dopagem. Com esse ex- pediente os indivíduos procuram dificultar sua de- tecção nos exames. De acordo com seu principal mecanismo de ação ou sua estrutura química, os diuréticos são classifi- cados como: inibi dores da anidrase carbônica, diu- réticos da alça, tiazídicos, poupadores de potássio e antagonistas da aldosterona. São fármacos empre- gados na terapêutica em situações de hipertensão, insuficiência cardíaca, insuficiência renal, síndrome nefrótica e cirrose. No esporte, o abuso de diuréticos tem as seguin- tes finalidades: aumentar o fluxo urinário; reduzir rapidamente o peso corpóreo e impedir a retenção de água no organismo, fenômeno freqüentemente observado em usuários de esteróides anabólicos. A diluição da amostra altera as concentrações urinárias de substâncias proibidas, dificultando sua identificação. A redução do peso em intervalo de tempo muito curto permite a inclusão do atleta, durante a pesagem realizada no período pré-compe- tição, em determinada categoria. Uma rápida hidra- tação posterior coloca-o em vantagem sobre o ad- versário com menor peso. Efeitos adversos do uso de diuréticos incluem desidratação, dores de cabeça, náuseas, cãibras, ver- tigens e problemas renais. Outros aspectos do abuso de diuréticos no esporte serão discutidos em outro capítulo. 3.6. Agentes mascarantes Além do uso de diuréticos na tentativa de evitar a detecção de agentes de dopagem, outras substân- cias são usadas com esses fins, como: probenecida, epitestosterona, expansores de plasma e inibi dores de 5-alfa-redutase. O uso da probenecida é um exemplo. A substân- cia foi desenvolvida para reduzir a excreção renal da penicilina. Essa propriedade tem sido utilizada pelos atletas para inibir a excreção urinária de substâncias consideradas doping e dificultar a sua detecção nas análises de dopagem. A epitestosterona é um subproduto de metabolis- mo dos esteróides, mas que em humanos não é pro- veniente da testosterona. Por esse motivo, a razão testosterona/epitestosterona é usada como forma de detectar o consumo de anabolizantes, principalmen- te da testosterona. Quando essa razão é maior que 4, é levantada uma suspeita sobre o abuso. Atletas podem forjar o uso de esteróides adicionando epites- tosterona na urina de forma a alterar a interpretação do resultado. Os expansores de plasma, como albumina e dex- tran, foram desenvolvidos como substituto do plasma no tratamento de hemorragia e choque hipovolêmi- co. No esporte, são utilizados pelos atletas que fa- zem uso de dopagem sangüínea ou de eritropoetina. Em ambos os casos, ocorre aumento no número de eritrócitos, aumentando a capacidade de oxigenação muscular. Para burlar o exame do hematócríto, usa- do na triagem para detecção de dopagem, os atletas utilizam os expansores de plasma como dilui dor do sangue para alterar o resultado laboratorial. A classe de fármacos dos inibidores de S-alfa- redutase, representada pela finasterida, é usada no tratamento benigno da hipertrofia prostática e na alopecia androgênica. Investigações mostraram que o uso desses fármacos complica a detecção de vários esteróides anabólicos no controle da dopagem, o que restringe o seu uso nos esportes. 3.7. Estimulantes Na Era Moderna do esporte, o emprego de subs- tâncias para alterar o rendimento começou com os estimulantes que têm sido utilizados com a finalida- de de aumentar o estado de alerta, de reduzir a fadiga e de aumentar a competitividade. Eventualmente, poderiam aumentar o desempe- nho, podendo ocasionar, contudo, a perda da capaci- dade de julgamento, levando à ocorrência de aciden- tes em determinadas modalidades esportivas. Os efeitos nocivos que podem provocar são nu- merosos, entre estes: alteração no controle da tem- peratura corporal, hipertensão, taquicardia, arritmia, vasoconstrição cutânea, midríase, excitação nervosa, ansiedade, crises convulsivas e outros. Alguns esti- mulantes apresentam acentuado reforço positivo para seu uso, pois sua ação nos centros de recompensa do cérebro produz efeitos farmacológicos agradáveis que podem levar a sua auto-administração contínua. 3.7.1. Simpatomiméticos. Entre os estimulan- tes, os simpatomiméticos são amplamente usados como agentes de dopagem. Quando consumidos em doses terapêuticas, provocam sensação de maior energia e capacidade de concentração. Os efeitos subjetivos são dependentes da dose, via de adminis- tração e padrão de uso. Os efeitos colaterais incluem: taquicardia, ano- rexia, insônia, irritabilidade, hipertensão, cefaléia, ansiedade e tremor. Em doses elevadas atuam como estimulantes da atividade mental e aumentam o flu- xo sangüíneo. Dentre os simpatomiméticos, as anfetaminas fo- ram durante muito tempo as substâncias de maior 4.10. DOPAGEM NO ESPORTE 473 prevalência de uso entre os atletas. O início do uso abusivo em grande escala de anfetaminas ocorreu durante a IIGuerra Mundial, época em que foram realizadas pesquisas para sintetizar substâncias que pudessem retardar o aparecimento de fadiga nos soldados. O Pervitin" (metanfetamina) foi desenvol- vido na Alemanha e amplamente usado por pilotos em vôos noturnos e por soldados durante as longas marchas realizadas. O uso desse fármaco aumentava o tempo para atingir o estado de exaustão e soldados continuavâm marchando apesar de formação de ve- sículas ("bolhas") nos pés. Durante as décadas de 1950 e 1960, alguns ca- sos de atletas que utilizavam anfetaminas foram descritos. No ciclismo, a morte de atletas por uso de anfetaminas foi relatada. Nos Jogos Olímpicos de Roma, um atleta morreu aPós ter usado quinze comprimidos de anfetamina e oito de fenilisopropi- lamina. Mesmo em doses consideradas normais, o uso de anfetaminas tem causado a morte de atletas quando em condições de atividade fisica máxima. Distúrbios nos centros de regulação da temperatu- ra corporal juntamente com fatores externos, como a temperatura elevada do meio ambiente, podem contribuir para a ocorrência dessas mortes. Na into- xicação letal, a morte vem após convulsão, coma e hemorragia cerebral. A incidência de uso ainda é grande. Jogadores de futebol americano e beisebol usam anfetaminas para aumentar o estado de alerta e a concentração; corredores e nadadores podem usá-Ias para aumen- tar a energia e a resistência, e jóqueis, para suprimir o apetite e evitar aumento do peso corporal. Um estudo realizado para verificar o uso des- ses fármacos por jogadores profissionais de futebol americano demonstrou que os indivíduos que atuam em posições que requerem grande concentração ten- dem a usar doses mais baixas (5-10 mg) e jogadores de defesa e ataque, que necessitam de força e agres- sividade, usam até 150 mg antes de cada jogo. Contudo,a afirmação de que a dextroanfetamina e a metanfetamina (5-15 mg/70 kg) aumentariam a velocidade, a força, a resistência e a concentração é contestada por estudiosos do assunto. O aumento no desempenho seria explicado pela propriedade das anfetaminas de mascarar os sintomas de fadiga, fato que levaria o atleta a continuar competindo acima de seus limites de segurança e resistência. As contradições encontradas podem ser explica- das, em parte, pela população estudada, geralmente, constituída por atletas do meio universitário. Ainda não foi totalmente definido se os estimulantes po- dem ou não aumentar o desempenho de atletas con- siderados de alto nível e altamente treinados. A maioria dos efeitos adversos observados na conduta é resultante do excesso de estímulo do SNC e inclui: agitação, ansiedade, vertigem, tremor, irri- tação, reflexos hiperativos, aumento da libido, insô- nia, delírio, paranóia, conduta estereotipada e alu- cinações. Geralmente, esses efeitos são reversíveis com a interrupção do uso. São observados, também, efeitos cardiovascu- lares como palpitações, angina, arritmias, hiper ou hipotensão, bradicardia ou taquicardia e colapso cardiovascular. Após uso de doses elevadas pode ocorrer a "síndrome abrupta", caracterizada por cri- se depressiva acompanhada por fadiga crônica, le- targia e hiperfagia. Associações extemporâneas de especialidades farmacêuticas podem apresentar considerável toxi- cidade, uma vez que são usadas sem nenhum critério científico. Um exemplo é o uso concomitante de an- fetamínicos e agentes alcalinizantes. Esses agentes podem levar a uma alcalose sistêmica que vai influir substancialmente na excreção de aminas. Além dis- so, as anfetaminas apresentam forte reforço positivo para seu uso, podendo levar ao uso crônico abusivo e à dependência. Recentemente o uso de metanfetamina voltou a ser motivo de preocupação devido ao seu consumo por via respiratória. Usuários da droga verificaram que essa poderia ser "fumada", como ocorre com a cocaína na forma básica (crack), com a vantagem do tempo de duração dos efeitos ser muito mais pro- longado. Nessa forma a metanfetamina é conhecida como ice. Outra substância que despertou interesse dos atletas é a efedrina. Os alcalóides provenientes da planta Ephedra são usados no tratamento da asma e da alergia na China há mais de 5.000 anos. Nos últimos anos, há relatos de numerosos casos de do- pagem com essa substância; inclusive no Brasil, em modalidades esportivas que exigem massa muscular desenvolvida e vigor fisico acentuado. A efedrina tem recebido grande atenção por parte dos pratican- tes dessas modalidades. Vários estudos sugerem que o efeito produzido pela efedrina no desempenho psicomotor é depen- dente da dose. Os efeitos fisiológicos e de compor- tamento produzidos pela efedrina, anfetamina e me- tilfenidato foram comparados. Em doses de 75-150 mg/70 kg, a efedrina produz efeitos similares aos da anfetamina (em doses 15-30 mg/70 kg). Em doses terapêuticas (25 mg/70 kg), a efedrina produz efeitos periféricos, mas pode atravessar a barreira hemato- encefálica para produzir efeitos no SNC em doses acima de 75 mg/70 kg. Doses de 24 mg ministra- 474 FUNDAMENTOS DE TOXICOLOGIA das a indivíduos sadios não produzem diferenças na força, resistência, tempo de reação e coordenação olhos/mãos. Os simpatomiméticos (como a efedrina e a pseu- doefedrina) são normalmente encontrados em formu- lações de especialidades farmacêuticas, utilizadas nos casos de resfriados, gripes e alergias. Dessa forma, é necessário que os atletas recebam orientação para não utilizarem estes medicamentos quando em competi- ção. Entretanto, concentrações urinárias abaixo de 10 ug/ml, de efedrina são toleradas pela AMA. A fencanfamina é um estimulante do SNC que foi bastante consumido no Brasil, até sua produção e comercialização serem proibidas no país. Duas espe- cialidades farmacêuticas, uma na forma de injetável e outra como drágea, eram de venda livre. Foram constatados alguns casos de dopagem en- tre jogadores de futebol no Estado de São Paulo. O padrão de uso era de aplicação intravenosa de duas ampolas do medicamento, antes da competição. O perfil farmacológico é semelhante ao da anfetamina, não sendo relatada propensão ao uso compulsivo. 3.7.2. Cocaína. A constatação de resultados positivos para o uso de cocaína, inclusive em atletas consagrados no Brasil e no exterior, tem despertado grande preocupação no meio esportivo. A falta de maior esclarecimento e informação toma os atletas bastante vulneráveis ao abuso dessa droga. Nas décadas de 1980 e 1990, a cocaína era a droga de abuso mais usada pelos jogadores da National Foo- tbal/ League Players Association nos Estados Unidos. Diversas mortes foram relatadas devido ao consumo dessa droga pelos atletas, principalmente pela combi- nação com estimulantes e agentes anabolizantes. Entretanto, na maioria dos casos, quando há com- provação do uso de cocaína no esporte, não fica carac- terizada se a finalidade era o aumento no desempe- nho ou se era uso recreativo. Em doses menores, é possível que a cocaína produza, no desempenho atlético, efeitos similares aos dos anfetamínicos. Ex- periências conduzidas com usuários de estimulantes mostram que eles não são capazes de distinguir os efeitos produzidos por essas substâncias. Contudo, nas provas de longa duração, os atletas dão prefe- rência para o uso da anfetamina, provavelmente em decorrência da sua meia-vida biológica de 7-14 h, enquanto a da cocaína é de aproximadamente 85 mi- nutos. Atletas que fizeram uso de cocaína antes da atividade esportiva relatam prejuízo no julgamento e desorientação em relação ao tempo, que podem in- terferir no desempenho atlético. A cocaína apresenta potencial de abuso maior do que o dos anfetamínicos, fazendo com que o indi- víduo aumente a dose utilizada mais rapidamente. Esse uso abusivo pode levar ao desenvolvimento de ansiedade, paranóia, alucinações, distúrbios na me- mória, agressividade e depressão. Sendo uma droga de uso ilícito, geralmente é en- contrada acrescida de adulterantes que aumentam o risco de efeitos tóxicos. Os efeitos obtidos pelo uso da cocaína na forma de crack poderão, eventualmen- te, contribuir no futuro para aumentar seu consumo no meio desportivo. 3.8. Narcoanalgésicos Os narcoanalgésicos, representados pela morfina e seus análogos, são utilizados na dopagem devido a • sua ação analgésica para tratamento da dor. No gru- po dos narcoanalgésicos são permitidos a codeína, o dextrometorfano, o dextropropoxifeno, o difeno- xilato, a diidrocodeína, a etilmorfina, a folcodina e o tramadol. O abuso de narcóticos analgésicos tem o propó- sito de minimizar a sensação de dor física, possibi- litando ao atleta exercer atividades mesmo após a ocorrência de uma grave lesão. Essa prática apresen- ta risco muito grande, pois a realização de atividades esportivas mesmo com a existência de uma lesão sé- ria tende a piorar o estado físico do atleta, podendo levar no futuro a uma lesão permanente. São fármacos que apresentam efeitos secundários, colaterais e indesejáveis: depressão respiratória e car- diovascular, diminuição do hormônio luteinizante, diminuição da testosterona, aumento da liberação de vasopressina, alterações gastrintestinais etc. Na terapêutica existem substâncias, sem proprie- dades narcóticas, que podem ser empregadas como analgésicos, antiinflamatórios e aritijiiréticos no tra- tamento de lesões provocadas pela prática desporti- va. Antiinflamatórios derivados do ácido fenilalca- nóico (p.ex., diclofenaco) não são de uso proibido. 3.9. Canabinóides A popularidade da Cannabis entre os jovens, como uma droga de consumo social, a coloca como uma das principais substâncias detectadas pelos la- boratórios de antidopagem. No esporte, a Cannabis pode melhorar de forma indireta o desempenhodo atleta. O efeito eufórico, a redução da ansiedade e o aumento da sociabilida- de podem colaborar no desempenho em uma prova quando o atleta encontra-se nervoso. Pode propor- 4.10. DOPAGEM NO ESPORTE 475 cionar também efeito relaxante ou permitir que o atleta durma mais facilmente antes do jogo. Outros estudos demonstram que o uso da can- nabis, de forma aguda, reduz o desempenho máxi- mo em exercícios de resistência, como o ciclismo, e diminui o estado de alerta e o tempo de reflexo nos esportes, como o automobilismo. Se a cannabis for consumida rotineiramente, o risco de prejuízo no desempenho e na motivação é elevado. 3:1Õ.Glicocorticóides Os glicocorticóides são usados na medicina como antiinflamatórios e analgésicos, além de serem usa- dos no tratamento da asma, caracterizada por infla- mação no trato respiratório. O seu uso na medicina esportiva é indicado para o tratamento das lesões, principalmente do sistema musculoesquelético. Se- gundo regulamentação da AMA, o uso de glicocor- ticóides é proibido quando administrado pelas vias oral, retal, intravenosa e intramuscular. Nestes casos, uma notificação médica deve ser encaminhada à fe- deração esportiva. O uso tópico de glicocorticóides (auricular, oftálmico, dermatológico) é permitido. São usados por atletas que acreditam no efeito de broncodilatação e, em altas doses, para mascarar as dores das lesões ou para aumentar a capacidade de treinamento. Sérios efeitos tóxicos podem ocorrer se o uso de corticosteróides é prolongado. Um dos mais graves é a síndrome de Cushing, caracterizada por obesidade de tronco, estrias, cicatrização ineficiente de feridas e até osteoporose. 4. SUBSTÂNCIAS PROIBIDAS EM DETERMINADOS ESPORTES 4.1. Etanol Para a maioria dos esportes, o etanol causa di- minuição no rendimento, pois o tempo de reação, a coordenação motora, a precisão e o equilíbrio são alterados negativamente. Desta forma, o etanol faz parte da classe de substâncias proibidas em determi- nados esportes, como: esportes de tiro, boliche, arco e flecha, automobilismo e motociclismo. O etanol é utilizado no esporte principalmen- te como ansiolítico, com a intenção de aumentar a autoconfiança e melhorar a resposta psicomotora. A intensidade dos efeitos observados após o consumo do etanol é bastante variável entre os consumidores. Em esportes de tiro, estudos realizados com bai- xa dose mostraram tendência em reduzir o tremor muscular. Esse é um enorme beneficio em um es- porte que erros de milímetros podem alterar o acerto do alvo. Além de prejudicar o desempenho, o consumo de etanol pode interferir na saúde do atleta. O etanol diminui o tempo de recuperação do organismo, in- terfere negativamente no metabolismo protéico e na utilização de carboidratos. Sua ação depressora no sistema nervoso central, aliada ao consumo de gran- de quantidade, pode ocasionar intoxicações agudas. O consumo de álcool no esporte é controlado so- mente quando existe solicitação específica das Federa- ções. Sendo considerado uma droga, seu controle deve- ria ser realizado de maneira rotineira e não esporádica. 4.2. Bloqueadores beta-adrenérgicos Os bloqueadores beta-adrenérgicos (BBA) são fármacos utilizados principalmente no tratamento de doenças cardiovasculares. Os BBA têm ação sobre o sistema nervoso simpático reduzindo a ansiedade, a freqüência cardíaca, a pressão sangüínea e o tremor. O uso de BBA pode provocar redução do consumo de oxigênio pelo miocárdio, promovendo a queda da freqüência e do trabalho do músculo cardíaco. Como agentes de dopagem são utilizados para re- duzir o tremor muscular, a taquicardia emocional, o suor palmar e o estresse, principalmente nas modali- dades esportivas de pouca atividade fisica e que exi- gem precisão e exatidão para a sua prática. Entre estas se destacam o tiro ao alvo, o arco e flecha e o golfe. Devido a diferenças químicas existentes entre os BBA, ocorre grande variedade de efeitos no SNC (tontura, letargia, sonolência, distúrbios visuais, insônia e depressão). Têm sido observada fadiga e redução do desempenho devido à limitação cardio- vascular ou por efeito no SNC. Em cerca de 2 a 11% dos pacientes sob terapia com BBA foram observados efeitos adversos como diarréia, náusea, constipação, dermatite e dispnéia. Relata-se disfunção sexual em parte dos pacientes. O Comitê Olímpico Internacional (COI), em 1988, incluiu os BBA na lista de substâncias consi- deradas de uso proibido por atletas quando em com- petição. A proibição é limitada para determinadas modalidades esportivas, como automobilismo, mo- tociclismo, bilhar e salto em esqui, visto que o seu uso não se justifica em modalidades que requerem atividade fisica elevada. Entre os BBA, os mais utilizados são proprano- 101,atenolol e metoprolol. O propranolol é o mais empregado em especialidades farmacêuticas exis- tentes no Brasil. 476 FUNDAMENTOS DE TOXICOLOGlA 5. SUBSTÂNCIAS ESPECíFICAS Em 2005, a AMA introduziu, na lista de subs- tâncias proibidas, as substâncias específicas. Nessa listagem encontram-se substâncias presentes na lista de substâncias proibidas, como a classe dos beta-2- agonistas, canabinóides, estimulantes de venda livre, glicocorticóides, etanol e beta-bloqueadores. Essa relação existe para alertar sobre a possi- bilidade dessas substâncias serem usadas de forma inadvertida pelos atletas, podendo ser caracterizada como dopagem, mesmo que não intencional. Nes- ses casos, o atleta pode obter redução de sua pena desde que consiga provar que o uso da substância não estava relacionado com intenção de aumentar o desempenho esportivo. 6. MÉTODOS DE DOPAGEM 6.1. Transportadores de oxigênio Em atividades esportivas com duração maior que um minuto, o principal modo de produção de energia é o aeróbico. Isso significa que o desempenho é li- mitado pelo oxigênio, que é liberado e utilizado pela atividade muscular. O oxigênio é transportado até o músculo pela hemoglobina presente nos eritrócitos; conseqüente- mente, o aumento na massa total dessas células pos- sibilita melhor transporte de oxigênio no organismo, além de aumentar a capacidade de manter o pH mus- cular, e auxiliar no controle da temperatura corpó- rea. Essas variáveis fisiológicas podem aumentar a resistência do indivíduo. Os principais métodos de dopagem utilizados para aumentar a capacidade carreadora de oxigênio na circulação são a transfusão sangüínea e o uso de captadores, transportadores e liberadores artificiais de oxigênio. 6.1.1. Dopagem sangüínea. A transfusão san- güínea, também conhecida como dopagem sangüínea, foi o primeiro método a ser utilizado com o objetivo de melhorar o desempenho. Para tanto, é administra- do sangue de um doador específico ou até o sangue do próprio atleta. O sangue é coletado, armazenado por 4 a 5 semanas e os eritrócitos são, posteriormente, reinfundidos alguns dias antes da competição. Uma transfusão sangüínea pode apresentar sérios riscos para o indivíduo, tais como trombose venosa, f1e- bite, septicemia e desenvolvimento de reações alérgi- cas ou hemofilicas. Ademais, o sangue proveniente de outros doadores pode transmitir doenças infecciosas. 6.1.2. Transportadores artificiais de oxigê- nio. Outro método proibido, de utilização mais re- cente, é a administração de transportadores artificiais de oxigênio. São soluções úteis na terapêutica quan- do da necessidade de substituir ou de repor fluidos de sangue humano em casos de absoluta exigência. As principais classes são os perfluorocarbonos e os carreadores de hemoglobina oxigenada. Os perfluorocarbonos são sintéticos e podem dis- solver um amplo volume de oxigênio e outros gases respiratórios na corrente circulatória. Os carreadores de hemoglobina oxigenada são moléculas de hemoglobina microencapsuladas ou ligadas entre si, derivadas de variadas fontes. 6.2. Manipulaçãoquímica e física As manipulações são empregadas com o intui- to de alterar a validade e integridade das amostras fornecidas pelos atletas. São exemplos desses mé- todos a cateterização, a substituição e/ou alteração da amostra. Casos de manipulação da amostras já foram constatados pelos laboratórios de antidopagem cre- denciados pela AMA. Em 2003, três amostras pro- venientes de três atletas diferentes foram encami- nhadas para análise e foi constatado que todas as três apresentavam o mesmo DNA, que diferia do DNA dos atletas. 6.3. Dopagem genética A terapia genética humana envolve a inserção de DNA (ou RNA) nas células somáticas para produzir um efeito terapêutico. Essa técnica foi inicialmen- te visualizada como um progresso no tratamento de desordens genéticas, mas hoje já avança em vários campos de aplicação, como no tratamento do câncer, de infecções e de doenças degenerativas. In vivo, a introdução (fê um gene no genoma humano pode ser realizada por métodos biológi- cos (vetor viral), fisicos (injeção direta) ou quími- cos (usando lipossomas). A forma mais comum de transferência de material genético para a célula é por meio de um vetor viral. Para tanto, os vírus são gene- ticamente desenhados de forma a não terem um po- tencial infeccioso enquanto mantêm a capacidade de carrear o gene terapêutico para a célula selecionada. Genes relevantes para o doping, como os respon- sáveis pela síntese do hormônio de crescimento, do fator de crescimento tipo insulina (IFG-I) e da eri- tropoietina, já estão disponíveis. Eles poderiam ser uma alternativa para o consumo dessas substâncias, 4.10. DOPAGEM NO ESPORTE 477 cujo risco já é conhecido. O mesmo não pode ser dito para a terapia genética, pois ainda existem pou- cas informações sobre esta forma de intervenção ce- lular. As conseqüências não podem ser previstas, e o atleta que escolhe esse caminho não possui controle sobre efeitos ainda desconhecidos. 7. ASPECTOS ANALÍTICOS NO CONTROLE DA DOPAGEM Até o presente, a maneira mais eficaz de mini- mizar a dopagem nos esportes tem sido seu controle sistemático pela realização de análises toxicológicas em material fornecido pelo atleta. Esse controle tem sido realizado no período das competições ou duran- te os treinamentos. Embora às vezes exista oposição à sua realiza- ção, o controle reduz drasticamente a freqüência da dopagem em todos os tipos de competições. O controle da dopagem nos Jogos Olímpicos co- meçou efetivamente em 1968, com os Jogos Olímpi- cos de Inverno em Grenoble (França) e com os Jogos Olímpicos de Verão na cidade do México. No Brasil, o controle foi introduzido pela Federação Paulista de Futebol, em 1974, através da realização das análises no Laboratório de Análises Toxicológicas da Facul- dade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (LATIFCFIUSP). A caracterização da dopagem tem por base a identificação do fármaco (inalterado) e/ou seus pro- dutos de biotransformação (metabólitos) em espéci- me biológico fornecido pelo atleta. A urina é con- siderada a amostra de eleição para essa finalidade. Contudo, mais recentemente, o sangue tem sido uti- lizado como amostra alternativa para a identificação de compostos endógenos utilizados como doping. Outras amostras, como o cabelo, a saliva e o suor, também vêm sendo estudadas para identificação de agentes de dopagem. A análise não é quantitativa, pois o significado do valor de concentração urinária proveniente de uma coleta única é limitado. A concentração encon- trada iria variar de acordo com o tempo decorrido entre a utilização do fármaco e a coleta da amostra, variação do fluxo e pH urinário. Entretanto, para algumas substâncias em es- pecial, existem valores de referência que definem quando um resultado deve ser considerado normal ou anormal, ou seja, acima dessas concentrações o resultado é considerado positivo. Na Tabela 1 estão apresentadas essas substâncias e seus respectivos valores de referência. Tabela 1. Substâncias proibidas e respectivos valores de referência de concentração urinária, acima dos quais o resultado é considerado positivo (resultado analítico adverso). Substância Valor de referência Ácido 11-nor-delta-9- 15 nanogramas/mL tetraidrocanabinol-9-carboxílico Catina Efedrina Epitestosterona Metilefedrina Morfina 5 microgramas/mL 10 microgramas/mL 200 nanogramas/mL 10 microgramas/mL 1 micrograma/mL 2 nanogramas/mL 1.000 nanogramas/mL* 19-norandrosterona Salbutamol Testosterona/epitestosterona Relação 4/1 *A concentração de salbutamol na urina maior do que 1.000 nanogramas/mL é definida como violação do do- pingoAs concentrações maiores que 100 ng/mL devem ser consideradas resultado adverso analítico para o uso de beta-2-agonista. Outro fator que toma complexa a interpretação dos resultados é a biotransformação que as substân- cias sofrem no organismo. Um exemplo que ilustra o problema são os simpatomiméticos. A anfetamina encontrada na urina pode ser originária de metanfe- tamina ou dos anorexígenos femproporex e cloben- zorex (Figura 1). A morfina pode ser proveniente do uso da heroína e da morfina, ambos considerados agentes de dopagem, ou da codeína, que não possui restrição de uso. Diversas técnicas são empregadas para detecção de fármacos e/ou seus produtos de biotransformação em amostras biológicas no controle antidopagem. Em geral, as análises toxicológicas são divididas em duas categorias: triagem e confirmação. Técnicas de triagem são utilizadas para eliminar amostras com resultados negativos. Amostras que apresentarem resultado positivo na fase de triagem devem ser submetidas à confirmação com o emprego de técnicas mais específicas. Idealmente, urna técnica de triagem para o controle da dopagem deve apresen- tar as seguintes características: fornecer resultados rapidamente, ser específica, apresentar alta sensibili- dade, ser de fácil execução, de baixo custo e abranger o maior número de substâncias de interesse. Uma vez que nenhuma das técnicas analíticas dis- poníveis preenchem todos os requisitos perfeitamen- te, na prática, duas ou mais técnicas são empregadas para estender a análise de triagem para maior grupo de substâncias proibidas. No controle da dopagem, 478 FUNDAMENTOS DE TOXICOLOGIA as técnicas mais empregadas como triagem são as cromatográficas (cromatografia em fase gasosa-GC e cromatografia líquida-HPLC) e os imunoensaios. Amostras de sangue e urina podem ser analisadas por essas técnicas. A espectrometria de massa associada à cromato- grafia em fase gasosa (GC-MS) ou à cromatografia líquida (LC-MS) é a técnica de eleição para confir- mação da presença de determinada substância em uma amostra biológica. Essa técnica fornece um espectro de massa que é único para cada particular composto químico, sendo considerada inequívoca para a identificação de substâncias em análises to- xicológicas. Concentrações mais baixas de fármacos elou metabólitos presentes nas amostras também po- dem ser analisadas por espectrometria de massa de alta resolução (HRMS) ou espectrometria de massa tandem (MS-MS). Todas as substâncias exógenas de uso proibido no esporte podem ser identificadas utilizando esse esquema analítico, incluindo os estimulantes, os nar- cóticos analgésicos, os agentes anabólicos sintéticos e os diuréticos. Entretanto, a caracterização da do- pagem pelo uso de compostos endógenos apresenta dificuldade maior devido à presença normal desses na urina. Para alguns, existem concentrações ou relações já definidas. No caso da testosterona, o limite tem por base a relação de concentração de testosterona/epites- tosterona (TIE) na urina. Valores de TIE maiores que 4 sugerem condição fisiológica alterada, estado pato- lógico ou abuso de testosterona pelo atleta. Outra técnica para a identificação do abuso de es- teróides endógenos,como a testosterona e a desidro- epiandrosterona (DHEA), é a determinação isotópica dessas substâncias presentes nas amostras biológicas fornecidas pelos atletas. A técnica consiste em croma- tografia em fase gasosa, subseqüente combustão dos compostos a C02 e finalmente análise por espectro- metria de massa de razão isotópica desse gás (GCICI IRMS). O método é baseado no fato de que a razão isotópica de carbonos (C13/C12) é significativamente diferente nas substâncias sintéticas do que nos com- postos de origem exclusivamente biológica. O LC-MS também tem se destacado como téc- nica analítica para determinação de outras subs- tâncias endógenas, como os hormônios peptídicos e glicoprotéicos. Isso se deve ao desenvolvimento da cromatografia líquida, que possibilitou técnicas mais robustas e reprodutíveis, e da espectrometria de massa, com aprimoramento dos analisadores e da bioinformática. H OIN~NI ;..--~ H ~N"VI femproporex dietilpropiona Figura 1. Biotransformação de simpatomiméticos. clobenzorex I metanfetamina ~NH2VI ~~"Vi efedrina anfetamina fenilpropanolamina 4.10. DOPAGEM NO ESPORTE 479 8. PREVALÊNCIA DA DOPAGEM Evidências da prevalência do consumo de do- ping são captadas por meio dos resultados positivos obtidos no controle da dopagem em laboratórios cre- denciados pela AMA. De 1993 a 2004, a porcentagem de resultados analíticos adversos, ou seja, positivo, variou de 1 a 2%. A Tabela 2 apresenta as principais classes detectadas entre os anos de 1994 e 2004. Esses resultados po- dem não refletir a realidade, apenas indicam quantas amostras de atletas deram resultados positivos, e não quantos atletas estavam usando doping. A maioria dos resultados positivos pertence às classes: esteróides anabólicos, estimulantes, cor- ticosteróides e cannabis. Os altos números para os agonistas beta-2 se justificam pela inclusão de resul- -" tados positivos, mesmo com a notificação médica, de preparações inalatórias de agonistas beta-Z per- mitidos pela AMA. Em 2004, as 12 substâncias mais identificadas pelos laboratórios credenciados pela AMA foram, em ordem decrescente: canabinóides, testosterona, nandrolona, salbutamol, triancinolona, estanozo- 101,betametasona, anfetamina, efedrina, terbutalina (agonista beta-Z), cocaína e metandienona (esteróide anabólico ). No Brasil, um levantamento de dados dos exa- mes, fora e dentro de competição, do ano de 2003, demonstrou que a cocaína e os agentes anabólicos fo- ram os principais agentes de dopagem detectados. Foi possível verificar que esportes como fisiculturismo, equitação, luta de braço, boxe e atletismo são os que apresentam o maior índice de resultados positivos. Tabela 2. Número de agentes de dopagem identificados durante 1994·2004. Classes 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Agentes anabólicos 891 986 1.131 967 856 973 946 914 966 872 1.191 Hormônios 3 9 4 5 12 20 12 26 41 79 78 Agonista beta-z" 393 479 536 489 398 382 297 381 Diuréticos + ag. 78 73 60 101 92 142 96 126 159 161 157mascarantes Estimulantes 347 310 281 356 412 532 453 352 392 516 382 Narcóticos 42 34 37 47 18 9 14 29 13 26 15 Canabinóides 75 224 154 164 233 312 295 298 347 378 518 Corticosteróides 2 89 46 249 286 548 Beta bloqueadores 15 14 6 11 12 24 21 20 15 30 25 'Classificados como agentes anabólicos antes de 1996. 9. BIBLIOGRAFIA BRASIL. MINISTÉRIO DO ESPORTE. Resolução 2, de 5 de maio de 2004, Brasília, 2004. CAMPOS, D.R.; YONAMINE, M.;MOREAU, R.L.M. Marijua- na as doping in sports. Sports Med, v.33, p.395-399, 2003. DE ROSE, E.H.; AQUINO NETO, R.F.; MOREAU, R.L.M.; CASTRO, R.R.T. Controle antidoping no Brasil: resulta- dos do ano de 2003 e atividades de prevenção. Rev. Bras. Med. Esporte, v.l0, n.4, p.289-293, 2004. 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