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Holandeses No Brasil
Após o desencadeamento da Reforma Protestante na Europa, a partir de 1517, diversas tensões e reviravoltas políticas passaram a ocorrer em diversas nações. Sendo algumas dessas nações também impérios ultramarinos, as suas respectivas colônias também passaram a sofrer o impacto dos distúrbios político-religiosos entre os séculos XVI e XVII. O Brasil, então colônia portuguesa, foi palco de um desses impactos: As invasões holandesas.
As invasões holandesas consistiram no maior conflito político-militar do período da Colonização do Brasil, tendo ocorrido de 1624 a 1637. Em 1637, os holandeses conseguiram estabelecer-se no nordeste brasileiro, tendo como governador o príncipe Maurício de Nassau. Tais invasões ocorreram na fase da chamada União Ibérica, iniciada em 1580 pelo rei Felipe II, da Espanha. Essa união foi promovida após a morte do jovem rei Dom Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir em 1578.
Antes de Portugal unir-se à Espanha, a relação comercial que os portugueses mantinham com os holandeses era amistosa e sem grandes confrontos. Com a União Ibérica, a Espanha, que, como nação católica, era uma ferrenha opositora política do protestantismo holandês, passou a determinar o modo como os portugueses passariam a gerir seus engenhos de açúcar e a comercializar esse produto. Entretanto, antes, o refinamento e a distribuição do açúcar português produzido no Brasil eram feitos pela Holanda.
A rixa entre Espanha e Holanda provocou a reação violenta dessa última. Os holandeses, entre o fim do século XVI e o início do XVII, começaram a invadir e a pilhar as regiões da costa ocidental da África, então pertencentes a Portugal, bem como a colônia americana desse país, o Brasil. O historiador Boris Fausto, em seu livro História do Brasil, assim descreveu a primeira tentativa de invasão entre os anos 1624 e 1625 e a respectiva resistência de portugueses e brasileiros:
As invasões começaram com a ocupação de Salvador, em 1624. Os holandeses levaram pouco mais de 24 horas para dominar a cidade, mas praticamente não conseguiram sair de seus limites. Os chamados homens bons refugiaram-se nas fazendas próximas à capital e organizaram a resistência, chefiada por Matias de Albuquerque, novo governador por eles escolhido, e pelo bispo dom Marcos Teixeira. Utilizando-se da tática de guerrilhas e com reforços de 52 navios e mais de 12 mil homens juntou-se, a seguir, às tropas combatentes. Depois de duros golpes, os holandeses se renderam, em maio de 1625. “Tinham permanecido na Bahia por um ano.”
Após essa tentativa rechaçada de dominar a cidade de Salvador, os holandeses tentaram mais uma vez estabelecerem-se no nordeste brasileiro, mas, agora, na região de Pernambuco. Essa região era cobiçada principalmente em razão da sua ampla estrutura erguida em torno da economia açucareira. As novas investidas holandesas começaram em 1630, com um ataque contra a cidade de Olinda. Até o ano de 1637, portugueses e brasileiros procuraram de todas as formas resistir à pressão dos holandeses. Foi nesse período que se destacou a atuação de Domingos Fernandes Calabar, que foi morto pelos portugueses sob a acusação de tê-los traído ao fornecer informações precisas aos holandeses.
De 1637 a 1644, Maurício de Nassau governou a região de Pernambuco e realizou transformações grandiosas na infra-estruturar e no sistema de produção açucareira. Data dessa época uma grande efervescência de atividades artísticas e científicas, sobretudo com a vinda de naturalistas europeus, patrocinados por Nassau, para estudar a fauna e a flora do Brasil. O “Brasil Holandês” teve fim após as “guerras de reconquista”, que caracterizaram o período entre 1645 e 1654.
Povos Pré-Colombianos
Ao longo da Idade Média, a concepção de mundo do homem europeu o impelia ao isolamento e o reforço do pensamento religioso. Influenciados pela estabilidade dos valores cristãos e a instabilidade das invasões bárbaras da Alta Idade Média, os homens viviam reclusos no interior dos feudos. O desconhecido e o inusitado seriam palavras que causariam o mal-estar de uma realidade sustentada pela harmonia das ordens clerical, nobiliárquica e servil.
Com a ascensão da burguesia mercantil e as grandes navegações, muitos desses valores medievais foram revistos e abandonados. No entanto, muitas narrativas míticas que falavam de terras paradisíacas cercadas de um exotismo e da fartura construíram-se ao longo de muitos anos no ideário das sociedades européias. Além disso, vários relatos míticos também faziam menção sobre as bestas selvagens habitantes dos mares e terras até então desconhecidas pelos povos europeus.
Esse misto de fascínio e terror encontrado nas narrativas e representações iconográficas fez com que o homem moderno ainda guardasse muito desses valores em seu imaginário. Com o advento da descoberta da América, os colonizadores europeus depararam-se com um mundo onde muitas daquelas situações imaginadas em nada traduziam a situação das chamadas civilizações pré-colombianas. Ao mesmo tempo, essa pré-concepção do outro acabou fazendo do nativo americano algo a ser repudiado e civilizado pelo europeu.
No entanto, toda essa condição de estranhamento, admiração e repúdio deixou para trás toda uma rica gama de valores culturais desenvolvidas pelos povos que aqui já existiam. No fim do século XV, período que marca a chegada dos espanhóis ao continente, o continente contava com três grandes civilizações: maias, astecas e incas. Muitas das cidades criadas por essas civilizações faziam frente a qualquer centro urbano europeu do século XVI. Mesmo contando com um amplo leque de características e conhecimento, o contato dos nativos com os europeus marcou um dos maiores genocídios que se tem registro.
Mesmo que diversos traços dessa cultura fossem perdidos com o processo de colonização, vemos no estudo das sociedades pré-colombianas um rico campo de reflexão sobre a questão da relatividade cultural. Conhecendo um pouco mais desses povos podemos repensar o antigo valor que nos impõe a Europa como o berço das mais complexas e avançadas civilizações da História.

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