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DIREITO CIVIL I PROFª CECÍLIA LÔBO CONTEÚDO DESTA AULA NOME DA DISCIPLINA O CÓDIGO CIVIL DE 2002 PERSONALIDADE JURÍDICA CAPACIDADE JURÍDICA DIREITOS DA PERSONALIDADE EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL PESSOA JURÍDICA DIREITO CIVIL I ➢ Etimologicamente, Direito Civil vem do latim cives (cidadão) e se dirige a regulamentação das relações sociais travadas entre as pessoas desde o nascimento (e mesmo antes dele) até a morte (e, inclusive, depois dela). ➢ Visando desvincular-se do caráter individualista do CC anterior e interiorizar os direitos e as garantias constitucionais nas relações privadas, o CC de 2002 adotou três paradigmas de inspiração constitucional, são eles: a) Socialidade b) Eticidade c) Operacionalidade ou concretude NOME DA DISCIPLINA ▪Pode-se afirmar que o homem, enquanto um ser eminentemente social, não deve cumprir os seus fins isoladamente, mas sim socialmente. ▪Logo todo o poder de agir concedido a uma pessoa deve realizar uma finalidade social; caso contrário, a atividade individual falecerá de legitimidade e o intuito do titular do direito será recusado pelo ordenamento jurídico. ▪Daí o predomínio do social sobre o individual. Ex: a função social do contrato, art.421 do CC e da função social da propriedade, art.1.228 do CC, cc, art.5º inc.XXII e XXIII da CF/88. a) Socialidade b) Eticidade ▪ A eticidade determina um padrão ético a ser seguido pelas partes nas relações civis. Logo as partes devem agir com honestidade, lealdade, probidade. ▪ Introduziu a boa fé objetiva ▪ Boa fé objetiva ≠ boa fé subjetiva c) Operacionalidade ou concretude ▪Tal princípio visa facilitar a interpretação e a aplicação dos institutos do direito civil. ▪Exemplo disso foram as distinções mais claras entre prescrição e decadência e os casos em que são aplicadas; estabeleceu diferença objetiva entre associação e sociedade, servindo a primeira para indicar as entidades de fins não-econômicos e a última para designar as de objetivos econômicos. Constitucionalização do Direito Civil ▪Logo, a Constitucionalização do Direito Civil, consiste na interpretação e na aplicabilidade das normas de Direito Civil em conformidade com as regras e com os princípios constitucionais, bem como, a inserção e a regulamentação de institutos civilistas no corpo da Constituição, anteriormente monopolizados pelo Código Civil. PERSONALIDADE JURÍDICA Art. 1o: Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. ➢Dessa hermenêutica pode-se concluir que pessoa, é todo sujeito de direitos que pode titularizar relações jurídicas – relações da vida social reguladas pelo Direito. ➢Enfim, pessoa é o sujeito que titulariza relações jurídicas, atuando nestas ora como sujeito ativo – ou seja, exercendo direitos – ora como sujeito passivo – submetendo- se a deveres. ➢É, por tal motivo, que os animais não são considerados sujeitos de direitos, embora mereçam toda proteção, não podendo, por exemplo, ser beneficiados em testamento. ENTÃO O QUE É PERSONALIDADE JURÍDICA? ➢Inicialmente se pode afirmar que, personalidade jurídica é tão somente, a aptidão genérica reconhecida a toda e qualquer pessoa – natural ou jurídica – para que possa titularizar relações jurídicas. ➢Todavia, há determinadas entidades ou grupos NÃO PERSONALIZADOS – tais como, o condomínio edilício, a massa falida e o espólio – que podem titularizar diversas relações jurídicas, mesmo desprovidos de personalidade. ➢ Ex: o espólio pode atuar como parte de um processo. Art.2º do CC: a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. O INÍCIO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ➢Conforme expressa o CC, o nascimento com vida, é o marco inicial da personalidade jurídica da pessoa humana. No entanto, há três teorias que defendem o início da personalidade jurídica para o ordenamento jurídico. São elas: ➢Teoria Natalista ➢Teoria da Condição ➢Teoria da Concepção ➢ Teoria natalista ▪Parte da interpretação literal da lei e dispõe que o nascituro não é pessoa, e por tal, não pode ser dotado de personalidade jurídica, uma vez que esta somente é adquirida pelo nascimento com vida. ➢Teoria condicionalista ▪ O nascituro é na verdade uma pessoa virtual, condicional, estando a sua personalidade condicionada ao eventual nascimento com vida. ➢Teoria concepcionsita ▪ Sob influência do direito francês, defende que o nascituro é pessoa humana desde o momento da concepção, o que implica dizer que a personalidade jurídica é adquirida a partir do momento da concepção, no entanto, essa personalidade jurídica somente o faz ser titular de direitos extrapatrimoniais, direitos da personalidade – direitos subjetivos atinentes a própria condição humana, tais como o direito ao nascimento com dignidade, a uma gestação saudável – ou seja, não pode ser titular de direitos patrimoniais, dos decorrentes de herança, de legado e de doação, pois para tal, precisa nascer com vida. DA CAPACIDADE CIVIL ➢Capacidade jurídica: é a aptidão que o indivíduo tem de pessoalmente exercer direitos e contrair obrigações, ou seja, a aptidão da pessoa de titularizar pessoalmente relações jurídicas. ▪Capacidade de direito ≠ capacidade de fato INCAPACIDADE: EM QUE CONSISTE? ➢Segundo Gonçalves (2016, p.110), a incapacidade é a restrição legal ao exercício pessoal dos atos da vida civil, imposta pela lei somente aos que, excepcionalmente, necessitam de proteção, uma vez que a capacidade é a regra. ➢O legislador previu a incapacidade absoluta, no art.3º e a incapacidade relativa no art.4º do Código Civil. Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. INCAPACIDADE ABSOLUTA ➢A incapacidade absoluta acarreta a proibição total do exercício, por si só, dos atos da vida civil. ➢O ato somente poderá ser praticado pelo representante legal do absolutamente incapaz. A inobservância desta regra provoca a nulidade do ato – o ato será nulo, não produzirá qualquer efeito jurídico – nos termos do art.166, I, do CC. INCAPACIDADE RELATIVA Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I – Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade IV – os pródigos Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. ➢ Como a incapacidade é reconhecida? ➢ Pelo critério cronológico se dar pela idade, de modo que aquele que tem idade inferior a 16 anos será um absolutamente incapaz e aquele que tem idade superior a 16 e inferior a 18 anos será relativamente incapaz. ➢ No entanto, quando o critério é subjetivo e a pessoa tem idade igual ou superior a 18 anos o meio adequado para declarar a incapacidade é a ação de curatela. AÇÃO DE CURATELA: é um procedimento judicial de jurisdição voluntária – não há lide; não há partes; mas tão somente o Judiciário administrando interesse particular – através do qual se investiga e se declara a incapacidade da pessoa maior, para fim de ser assistida (incapacidade relativamente) por um curador. Art.1.767 do CC. A CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE ➢Em regra, a incapacidade cessa com o fim da causa que lhe determinou – por exemplo, quando a pessoa consegue exprimir plenamente a sua vontade – ou com a aquisição da maioridade civil, o que ocorre aos dezoito anos de idade (art.5º do CC). ➢Ao lado das hipóteses de término da incapacidade, figura-se a possibilidade do instituto jurídico da EMANCIPAÇÃO. ➢Permite-se através desta que, uma pessoa – ainda incapaz em face da idade – seja considerada, do ponto de vistajurídico, plenamente apta, capacitada, para a prática dos atos da vida civil, sem necessidade de assistência. ➢A idade mínima para se emancipar é de 16 anos. ➢Os incisos I ao V do parágrafo único do art.5º do CC descreve as possibilidades de incidência da emancipação. ➢Da hermenêutica destes dispositivos advêm três espécies de emancipação: a) a emancipação voluntária: realizada por meio de escritura pública. b) a emancipação judicial: declarada por sentença judicial c) a emancipação legal: pelo casamento (obs: da Lei nº13.811 de 2019); pelo exercício de emprego público efetivo; pela colação de grau em curso de ensino superior; pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. OS DIREITOS DA PERSONALIDADE ➢ Os direitos da personalidade são direitos inerentes aos valores existenciais da pessoa humana e a ela ligados de maneira perpétua e permanente. Apresentam as seguintes características: a) Intransmissibilidade e irrenunciabilidade: não pode o titular cedê-los a terceiros. b) Absolutismo: são erga omnes c) Não limitação: rol meramente exemplificativo d) Imprescritibilidade e) Extrapatrimonialidade f) Impenhorabilidade: não podem ser dados como garantia da pagamento de dívidas. h) Vitalicidade ➢ Mesmo não inseridos em um rol taxativo, pode-se classificar os direitos da personalidade segundo: a) integridade física: direito à vida, direito ao corpo, direito à saúde ou a inteireza corporal, direito ao cadáver e outros; b) integridade moral ou psíquica: direito à imagem, direito à privacidade, ao nome, etc; c) integridade intelectual: direito à autoria científica ou literária, à liberdade religiosa e de expressão, dentre outras manifestações do intelecto. DIREITO À INTEGRIDADE FÍSICA ➢O direito à integridade física, consiste na proteção jurídica ao corpo humano, incluindo nesta a tutela ao corpo vivo e ao corpo morto, além dos tecidos, órgãos e partes suscetíveis de separação e individualização. ➢ Dessa forma o art.13 tutela o corpo vivo, o art.15 o consentimento informado do paciente e o art.14 tutela o corpo morto (Lei nº 9.434/97). INTEGRIDADE MORAL OU PSÍQUICA O direito à integridade moral concerne a proteção conferida aos atributos psicológicos relacionados à pessoa, tais como: ▪ a imagem: consiste em proteger a pessoa em relação à sua forma plástica e aos seus respectivos componentes identificadores (rosto, olhos, voz, características fisionômicas, etc) que a individualizam na coletividade. É um direito autônomo. Art.20 do CC; ▪ a honra: visar tutelar a pessoa contra falsas imputações de fatos desabonadores que possam macular a sua reputação diante da sociedade; ▪ a privacidade: consiste, no direito de obstar que, a atividade de terceiro venha conhecer, descobrir ou divulgar as particularidades de uma pessoa. Art.21 do CC. ➢ o nome: pré-nome e sobrenome. Alteração relativa (Lei. n.6.015/73). Direito à integridade intelectual ➢ O direito à integridade intelectual destina-se tutelar as criações, as manifestações do intelecto humano, bem como a liberdade de pensamento. Ex: direito autoral e o direito a propriedade industrial DOMICÍLIO DA PESSOA NATURAL ➢O art.70 do CC, empregou a palavra domicílio, como sinônimo de residência, uma vez caracterizá-lo com sendo o local designado pela pessoa para se estabelecer com animus definitivo. ➢ O domicílio múltiplo, art.71 do CC: situação em que a pessoa tem diversas residências e que nelas vive alternadamente. ➢ Domicílio ocasional ou domicílio aparente, art.73 do CC: ou seja, se a pessoa não tiver residência habitual, será considerado o seu domicílio, o local onde a mesma for encontrada. ➢ O domicílio profissional, local onde o indivíduo exerce a sua profissão. Art.72, parágrafo único do CC. ➢ Necessário ou legal: art.76,§ único do CC. Ex: o domicílio do recém nascido, é o domicílio dos seus pais; do incapaz, o do seu representante. EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL ➢ Morte real: ocorre quando há morte encefálica. ➢ Há situações em que o corpo não é encontrado. Então nessa situação o Código Civil prevê: 2) Morte presumida com declaração de ausência: segunda parte do art.6, c/c arts.22 a 39do CC. 1) Morte presumida sem decretação de ausência: art.7º do CC ▪ Desaparecimento de uma pessoa que se encontrava presente a uma catástrofe; ▪Desaparecida em campanha (operações militares); ▪ Feita prisioneira de guerra e que neste último caso não tenha sido encontrada até dois anos após o seu término. ➢ O familiar requer uma justificação de óbito 2) Morte presumida com declaração de ausência: segunda parte do art.6, c/c arts.22 a 39do CC. ➢Cumpre explicar que AUSENTE é a pessoa que desaparece do seu domicílio, sem dar notícia de seu paradeiro e sem deixar um representante ou procurador para administrar-lhe os bens, art.22 do CC. ➢ O CC prevê também a ausência no caso em que a pessoa deixa mandatário e este último não queira, não possa exercer, ou continuar a exercer o mandato, ou se os seus poderes conferidos forem insuficientes, art.23 do CC. ➢ A morte presumida com declaração de ausência é composta pelas seguintes fases: I - a curatela dos bens do ausente (arts.22 a 25): onde há a arrecadação dos bens do ausente e nomeia-se um curador para administrá-los. Essa fase dura 1 ano. II- a sucessão provisória (arts.26 a 36): os herdeiros se emitem provisoriamente na posse dos bens do ausente, para tal devem dar garantias, com exceção dos herdeiros legítimos. III - a sucessão definitiva (arts.37 a 39): a transmissão de herança ocorre em caráter definitivo. 1- Se o ausente reaparece na primeira fase – da curadoria dos bens do ausente – nada acontecerá, uma vez que não decorreu qualquer efeito; 2- Regressando na segunda fase, durante a sucessão provisória, receberá os bens no estado em que deixou, podendo levantar a caução prestada na hipótese de ter ocorrido depreciação ou perecimento. Se houve melhoria, deverá indenizar os possuidores de boa-fé. Entretanto, se o ausente aparecer e ficar provado que a ausência foi voluntária e injustificada, PERDERÁ ELE, EM FAVOR DO SUCESSOR, SUA PARTE NOS FRUTOS E RENDIMENTOS, parágrafo único do art.33 do CC. 3- Retornando na terceira fase, na sucessão definitiva, receberá os bens no estado em que estão ou que se sub-rogou em seu lugar. 4- Porém se o regresso do ausente ocorrer depois do prazo de 10 anos da sentença que declarou aberta a sucessão definitiva, não haverá mais qualquer direito ao recebimento dos bens. PESSOA JURÍDICA ➢ Pode-se definir pessoa jurídica – também denominada de ente moral ou ente coletivo – como sendo, um organismo formado por um agrupamento de pessoas naturais (sociedades e associações) ou de bens afetados – para determinado fim, como as fundações – cuja constituição volta-se para a consecução de fins comuns. ➢O ordenamento jurídico por ter lhe emprestado autonomia e independência, dotou- a de personalidade e capacidade jurídica, permitindo dessa forma que a pessoa jurídica possa titularizar relações jurídicas e ser sujeito de direitos e obrigações. ➢Temos as seguintes pessoas jurídicas: associações, fundações, sociedade simples e sociedade empresária. 1) Associações: conforme dispõe o art.53 do CC, as associações são pessoas jurídicas de direito privado constituídas por pessoas que se reúnem para a realização de fins não econômicos, tais como científicos, religiosos, educacionais e desportivos. 2) As fundações são entidades criadas com bens livres, afetados, por ato de vontade de seu titular, através de escritura pública ou de testamento (art.62 do CC), para atender a uma finalidade específica, de caráter não lucrativo,que poderá ter as finalidade descritas no parágrafo único do art.62 do CC (alterado pela Lei n.13.151/2015), dentre estas: assistência social, saúde, educação, cultura... 3) Sociedade simples: é constituída normalmente por profissionais que atuam na mesma área, com o escopo de exercer atividades de fins econômicos, porém, de natureza não empresarial, cujo lucro deve ser repartido entre os sócios, art.981 do CC c/c com parágrafo único do art.966 do CC. Ex: escritório de advocacia. 4) Sociedade empresária: é constituída para o exercício de atividade econômica de finalidade empresarial – produção ou circulação de bens e serviços – cujo lucro deve ser repartido entre os sócios, arts. 966 a 982 do CC. ➢São quatro os requisitos para a constituição da pessoa jurídica: 1) a vontade humana: materializa-se no ato constitutivo 2) a elaboração de um ato constitutivo (estatuto ou contrato social); 3) registro do ato constitutivo no órgão competente (Cartório de Títulos e Documentos de Pessoa Jurídica e Junta Comercial); 4) a licitude de seu objeto. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ➢ Significa o desprezo eventual – em determinado caso concreto – pelo Poder Judiciário, da personalidade autônoma da pessoa jurídica, com o propósito de permitir que os sócios respondam com o seu patrimônio pessoal pelos atos abusivos ou fraudulentos praticados sob o véu societário. ➢ OBJETIVO: atribuir responsabilidade patrimonial aos sócios ou administradores que praticaram ato fraudulento ou abusivo, de modo que, passam a responder com o seu patrimônio pessoal por uma obrigação constituída, originalmente, pela pessoa jurídica que se encontrava impossibilitada de arcar com a dívida.
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