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APLICAÇÃO DE TÉCNICA ELETROCINÉTICA EM LABORATÓRIO A DOIS TIPOS DE SOLOS ARGILOSOS Celina Aída Bittencourt Schmidt TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISISTOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL. Aprovada por: Prof ª Maria Claudia Barbosa, D.Sc. Prof. Márcio de Souza Soares de Almeida, Ph.D. Dra. Antônia Garcia Torres Volpon, D.Sc. Prof ª Denize Dias de Carvalho, D.Sc. Prof ª Elisabeth Ritter, D.Sc. Prof. Jacques de Medina, Livre Docente RIO DE JANEIRO, RJ-BRASIL OUTUBRO DE 2004 i SCHMIDT, CELINA AÍDA BITTENCOURT Aplicação de Técnica Eletrocinética em Laboratório a Dois Tipos de Solos Argilosos [Rio de Janeiro] 2004 XIV, 336 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, D.Sc., Engenharia Civil, 2004) Tese – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE 1. Remediação Eletrocinética I. COPPE/UFRJ II. Título (série) ii ÁGUAS QUE MOVEM MOINHOS SÃO AS MESMAS ÁGUAS QUE ENCHARCAM O CHÃO E SEMPRE VOLTAM HUMILDES PRO FUNDO DA TERRA, PRO FUNDO DA TERRA ... (Guilherme Arantes) iii Ao meu filho Matheus À minha mãe Lêda À minha avó Celina (“in memoriam”) Ao meu pai Salvador (“in memoriam”) Saudades iv AGRADECIMENTOS Aos meus orientadores Maria Claudia Barbosa e Márcio de Souza Soares de Almeida pelo apoio, amizade e respeito. Ao Professor Akram Alshawabkeh pela orientação na concepção geral do equipamento e pelas informações preciosas que me deu ao longo do trabalho, respondendo rapidamente a meus emails aflitos. À química Maria da Glória Marcondes pelo profissionalismo, boa vontade, competência e infinita paciência com que trabalhou nas centenas de análises químicas que minha pesquisa demandou. Minha grande admiração. Ao engenheiro Ricardo Gil pela execução física e programação do sistema de aquisição de dados, que foram fundamentais para este trabalho. Ao aluno de Iniciação Científica da Escola Politécnica da UFRJ, Anselmo Borba, que me prestou uma ajuda inestimável em todas as atividades de laboratório. À aluna de doutorado da Área de Geotecnia da UFRJ, Ana Júlia Pereira Pinto, pela colaboração, pelo bom astral e pela troca de idéias. Ao aluno de mestrado da Área de Geotecnia da COPPE/UFRJ, Leonardo Deotti, pelo apoio nos ensaios finais e disponibilização dos resultados de permeabilidade para os solos estudados. A todos os colegas, professores e funcionários técnicos e administrativos da Área de Geotecnia da COPPE/UFRJ, que de forma direta ou indireta contribuíram para a realização desta pesquisa. À Márcia da Incomplast, pelas sugestões valiosas e execução da maior parte da célula eletrocinética.. v À Professora Lucy Seldin do Instituto de Microbiologia da UFRJ, por gentilmente disponibilizar seu laboratório e seu tempo para as análises microbiológicas. À aluna de doutorado do IM, Sílvia, pela grande ajuda na execução dos ensaios. Às Professoras da Escola de Química da UFRJ, Magali Cammarota e Denize Carvalho e à Gisele, pelas análises de óleos e graxas. À Samira Mohamed Hassan pelas aulas de Química e pela amizade. A Silvio Tavares, Daniel Gómez e Flávio Barbosa da Embrapa pela colaboração. À Universidade do Estado do Rio de Janeiro pela licença concedida através do PROCAD (Programa de Capacitação Docente), sem a qual teria sido impossível a conclusão deste trabalho. À PETROBRAS, Petróleo Brasileiro S/A, pelo apoio financeiro, através do Projeto CT- PETRO-703, e pelo fornecimento do material para esta pesquisa. À Bióloga da Petrobrás, Antônia Volpon, pelo empenho pessoal na coleta de amostras de solo e interesse na pesquisa. Ao Professor Marcus Pacheco, pelo incentivo constante e entusiasmado. Aos companheiros do Coral da COPPE e ao regente, Sérgio Sansão, pela alegria de fazer música. Ao Jairo, à Beth e à Bruna, da Secretaria do PEC, pelo atendimento correto e atencioso que sempre me dispensaram. Aos médicos Dr Camilo e Dr Francisco, do Hospital Evangélico, que salvaram minha vida. A Sonia Maria Pires por cuidar com carinho da minha casa, meu filho, meus gatos e minhas plantas. vi Aos amigos, Álvaro, Beth, Cláudia, Emília, Maria Ercília, Marisa e Teresa, sempre presentes para me dar uma força. A minha afilhada, Iasmim, por ser o motivo das breves pausas no meu árduo trabalho, enchendo minha casa de alegria. A minhas queridas sobrinhas Janina e Flávia pelo carinho e pelas ajudinhas no AUTOCAD. A minha irmã Lúcia, por todo o apoio e dedicação nas horas mais difíceis do meu período de tese: em todos os momentos no hospital e no acompanhamento das minhas obras. Ao Flávio que segurou a barra também. A minha irmã Sônia por ter sempre uma palavra amiga e pela colaboração na confecção da tese e da apresentação. Ao André pelo apoio e pela “trilha sonora”. À minha mãe, Lêda, pelo colo nas horas mais difíceis. Ao meu querido filho, Matheus, pela compreensão, carinho e enorme apoio e felicidade que sempre me deu. vii Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.) APLICAÇÃO DE TÉCNICA ELETROCINÉTICA EM LABORATÓRIO A DOIS TIPOS DE SOLOS ARGILOSOS Celina Aída Bittencourt Schmidt Outubro/2004 Orientadores: Maria Claudia Barbosa Márcio de Souza Soares de Almeida Programa: Engenharia Civil Este trabalho apresenta o programa de ensaios eletrocinéticos realizados em um modelo físico de laboratório (célula eletrocinética) com dois solos: um solo fabricado com caulim e bentonita e um solo natural orgânico, silto-argiloso, contaminado por óleo cru. A célula eletrocinética e seu sistema de instrumentação e aquisição de dados foram desenvolvidos durante a pesquisa. Utilizou-se o solo fabricado durante a fase de desenvolvimento do equipamento. O solo natural, coletado em área contaminada para a qual foi feito um diagnóstico de biorremediação eletrocinética, foi usado nos ensaios finais para avaliação da possibilidade de injeção de nutrientes no solo em processos de bioestimulação. Análises microbiológicas e de teores de óleos e graxas foram realizadas para esse solo. Diversos parâmetros foram monitorados ao longo dos ensaios e após os ensaios foram realizadas análises químicas de solo e água intersticial. Mostrou-se viável o transporte de amônio e nitrato no solo natural, sendo necessário, porém, o controle do pH, a fim de otimizar a aplicação da técnica e evitar impactos nos microorganismos. A aplicação da técnica modificou a composição do fluido intersticial e do complexo sortivo do solo. Os aspectos construtivos, o tipo de eletrodo e os fluidos injetados influenciaram o comportamento dos ensaios. Verificou-se também que houve remoção de óleo do solo em dois ensaios realizados com o solo natural. viii Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.) ELECTROKINETIC LABORATORY EXPERIMENTS ON CLAYEY SOILS Celina Aída Bittencourt Schmidt October/2004 Advisors: Maria Claudia Barbosa Márcio de Souza Soares de Almeida Department: Civil EngineeringThis work presents the electrokinetic experiments done in a laboratory cell using two kinds of soil: one prepared with kaolin and betonite; the other, a natural, organic, silty clayey soil contaminated by crude oil. The electrokinetic cell, its instrumentation and data aquisition system were developed during the research, when it was used the prepared soil. The natural soil, which has been collected in a contaminated area that had gone through a diagnosis of electrokinetic remediation, was used in the final experiments, in order to evaluated the possibility of injecting nutrients in the soil in a bioestimulation process. This soil has suffered microbiological and oil contet analysis. Many parameters were monitored, in both soils, during the experiments; and after them, the soil and the pore water were chemically analyzed, what has allowed a full evaluation on the effects of the application of the electrokinetic technique. It has been observed the possibility of ammonium and nitrate transportation through the natural soil, but it is necessary to control the pH in order to achieve the better application of the technique and to avoid impact on the microorganisms. The application of the technique changed the composition of the pore fluid and the CEC of the soil. The constructive aspects, the kind of electrode used and the fluids injected has affected the behaviour of the experiments. It has been observed oil removal from natural soil in two experiments. ix INDICE 1. INTRODUÇÃO 1 1.1. RETROSPECTIVA E APRESENTAÇÃO 1 1.2. OBJETIVOS DA PESQUISA 3 1.3. RELEVÂNCIA 4 1.4. ORGANIZAÇÃO DO PRESENTE TRABALHO 5 2. MIGRAÇÃO DE CONTAMINANTES EM SOLOS 6 2.1. TRANSPORTE DE CONTAMINANTES DISSOLVIDOS ATRAVÉS DE SOLOS SATURADOS 8 2.1.1. Advecção 8 2.1.2. Dispersão Hidrodinâmica: Difusão e Dispersão Mecânica 10 2.1.3. Equação Diferencial do Transporte de Massa Advectivo-Dispersivo Unidimensional 14 2.1.4. Processos que Influenciam o Fluxo 19 2.1.5. Equação do Transporte Advectivo-Dispersivo para Compostos Reativos 23 2.2. MIGRAÇÃO DE LÍQUIDOS NÃO MISCÍVEIS NOS SOLOS 25 2.2.1. Migração de LNAPLs 26 2.2.2. Migração de DNAPLs 27 2.2.3. Sorção para Compostos não Miscíveis 28 3. PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DAS ARGILAS 30 3.1. INTRODUÇÃO 30 3.2.UNIDADES CRISTALOGRÁFICAS BÁSICAS 31 3.3. ARRANJOS DAS UNIDADES CRISTALOGRÁFICAS BÁSICAS 32 3.4. ARGILO-MINERAIS MAIS COMUNS 33 3.5. SUBSTITUIÇÕES ISOMÓRFICAS 35 3.6. SUPERFÍCIE ESPECÍFICA 36 3.7. SITEMA ARGILA-ÁGUA: CÁTIONS TROCÁVEIS, CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA E DUPLA CAMADA DIFUSA. 36 3.8. CARGA DEPENDENTE DO pH DO MEIO PARA SOLOS TROPICAIS 42 3.9. CAPACIDADE TAMPÃO DO SOLO 44 x 4. BIORREMEDIAÇÃO 45 4.1. INTRODUÇÃO 45 4.2. BIODEGRADAÇÃO E TIPOS DE TRANSFORMAÇÕES BIOLÓGICAS 45 4.3. REQUISITOS BÁSICOS PARA A BIODEGRADAÇÃO 47 4.4. BIODEGRADABILIDADE DOS COMPOSTOS E DO MEIO 50 4.5. SUBSTRATOS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS, COMETABOLISMO 52 4.6. BIODEGRADAÇÃO AERÓBIA E ANAERÓBIA 52 4.7. TAXAS DE BIODEGRADAÇÃO 54 4.8. TÉCNICAS DE BIORREMEDIAÇÃO “IN SITU”: 56 4.8.1. Biorremediação “in-situ” versus Biorremediação “ex-situ” 57 4.8.2. Fatores que Influenciam as Técnicas de Remediação 57 4.8.3. Biorremediação Aeróbia “in-situ” 58 4.8.4. Biorremediação Intrínseca 60 5. MÉTODOS ELETROCINÉTICOS 61 5.1. INTRODUÇÃO 61 5.2. FUNDAMENTOS DE ELETROQUÍMICA 62 5.2.1.Condutores Eletrônicos e Eletrolíticos 63 5.2.2. Corrente Elétrica, Carga Elétrica, Diferença de Potencial e Resistência 63 5.2.3. A Lei de Faraday para a Eletrólise 64 5.2.4. Resistividade e Condutividade Elétrica 65 5.2.5. Equilíbrio Químico 66 5.2.6. Reações Redox e Potencial Redox 70 5.2.7. Eletroquímica em Solos 75 5.3. PRINCÍPIOS DE REMEDIAÇÃO ELETROCINÉTICA DE SOLOS 77 5.3.1. Mecanismos de Transporte Eletrocinético 79 5.3.2. Reações de Eletrólise 84 5.3.3. Reações Geoquímicas e o pH 85 5.3.4. Melhorias dos processos eletrocinéticos por controle do pH 87 5.3.5. Equação do Fluxo de Massa no Transporte Eletrocinético 88 5.4. ESTUDOS RELEVANTES 91 xi 6. REMEDIAÇÃO DE AQUÍFEROS CONTAMINADOS / PROJETO DE INVESTIGAÇÃO DE CAMPO EXECUTADO 95 6.1. Remediação de Aquíferos Contaminados 95 6.1.1. Introdução 95 6.1.2. Escolha da(s) Técnica(s) de Remediação 96 6.1.3. Avaliação de Risco 98 6.2. PROJETO DE INVESTIGAÇÃO DE CAMPO REALIZADO 99 6.2.1. Aspectos Gerais dos Locais e da Contaminação 100 6.2.2. Programa de Investigação 102 6.2.3. Investigações de Campo 102 6.2.4. Ensaios de Laboratório 106 6.2.5. Análise dos Resultados e Diagnóstico de remediação 114 7. DESENVOLVIMENTO DOS EQUIPAMENTOS 118 7.1. CÉLULA ELETROCINÉTICA (EK) 118 7.1.1. Fonte de Alimentação Elétrica 119 7.1.2. Bombas Peristálticas 119 7.1.3. Tanques de Alimentação 120 7.1.4. Célula EK propriamente dita 122 7.2. INSTRUMENTAÇÃO E SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE DADOS 134 7.2.1. Pinos de Voltagem 134 7.2.2. Medição de Temperatura 136 7.2.3 . Medição do Fluxo Eletroosmótico 138 7.2.4. Sistema de Aquisição Automática de Dados 139 7.3. ESQUEMA GERAL DE FUNCIONAMENTO DO EQUIPAMENTO DE ENSAIO 141 7.4. APARATO DE MOLDAGEM 143 8. MATERIAIS E METODOLOGIAS 148 8.1. DESCRIÇÃO DOS SOLOS UTILIZADOS 148 8.1.1. Solo Fabricado 148 8.1.2. Solo Natural 149 8.1.3. Ensaios de Caracterização Geotécnica 150 8.1.4. Determinação da Condutividade Hidráulica 151 8.1.5. Capacidade Tampão 152 xii 8.1.6. Sais solúveis e condutividade elétrica do solo 153 8.2. PREPARAÇÃO DOS CORPOS DE PROVA 153 8.2.1. Procedimentos para o Solo Fabricado 153 8.2.2. Moldagem das amostras de solo natural 156 8.3. METODOLOGIA PARA OS ENSAIOS ELETROCINÉTICOS 157 8.3.1. Procedimentos de Preparação do Ensaio 157 8.3.2. Procedimentos Durante os Ensaios 160 8.3.3. Procedimentos Após os Ensaios 161 8.4. ANÁLISES APÓS OS ENSAIOS 163 8.4.1. Análises Químicas dos Líquidos 163 8.4.2. Análise Químicas dos Solos 164 8.4.3. Análises dos Teores de Carbono Orgânico e Matéria Orgânica 165 8.4.4. Análises Microbiológicas 165 8.4.5. Análises de Óleos e Graxas 166 8.5. PROGRAMADE ENSAIOS 167 9.APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DE MONITORAMENTO DOS ENSAIOS 171 9.1. PARÂMETROS ELÉTRICOS 171 9.1.1. Ensaios com Solo Fabricado 176 9.1.2. Ensaios com Solo Natural 192 9.1.3. Repetibilidade dos Resultados 201 9.2. ELETROOSMOSE 205 9.2.1. Apresentação dos Gráficos de Monitoramento 205 9.2.2. Análise dos parâmetros eletroosmóticos 207 9.3. VARIAÇÃO DO pH NOS ELETRÓLITOS 212 9.3.1. Ensaios com Solo Fabricado 212 9.3.2. Ensaios com Solo Natural 216 9.4. VARIAÇÃO DA TEMPERATURA NO CORPO DE PROVA 219 10. ANÁLISES APÓS ENSAIOS – APRESENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS 224 10.1. ANÁLISES QUÍMICAS DOS LÍQUIDOS 225 10.1.1. Ensaios com Solo Fabricado 226 10.1.2. Ensaios com Solo Natural 241 xiii 10.1.3. Análise do Ferro e Níquel Produzidos pela Oxidação dos Anodos 260 10.2. CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DOS SOLOS 265 10.2.1. Ensaios com Solo fabricado 266 10.2.2. Ensaios com Solo Natural 275 10.2.3. Conclusões Parciais 277 10.3. TEORES DE CARBONO ORGÂNICO E MATÉRIA ORGÂNICA 281 10.4. ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS 282 10.5. ANÁLISES DE ÓLEOS E GRAXAS 285 11. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 287 11.1. CONCLUSÕES 287 11.2. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 29312. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 294 APÊNDICE I: DESCRIÇÃO DAS MOLDAGENS E DOS ENSAIOS ELETROCINÉTICOS REALIZADOS 298 APÊNDICE II: TABELAS DE RESULTADOS DAS ANÁLISES QUÍMICAS DA ÁGUA 329 xiv CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 1.1. RETROSPECTIVA E APRESENTAÇÃO Embora casos de contaminação de aqüíferos já sejam reportados em publicações técnicas desde o início da década de 60, somente a partir da década de 1980 o assunto passou a ganhar maior importância no meio técnico e científico, constituindo-se hoje em uma das grandes preocupações dos profissionais envolvidos com os problemas relacionados ao meio ambiente. O aumento da contaminação de subsolos e o conhecimento em relação a suas implicações nocivas levaram a uma maior conscientização da importância das águas subterrâneas para a existência humana e do meio ambiente como um todo. É nesse cenário que o engenheiro geotécnico passa a atuar mais ativamente nas questões ambientais que envolvem a contaminação de solos, notadamente na investigação geo-ambiental e aplicação de técnicas de remediação (descontaminação) “in situ”. Entende-se como contaminação, qualquer modificação nas características físico- químicas do ambiente em relação à sua situação inicial, provocada pela intervenção humana. Uma contaminação caracteriza-se como poluição quando são introduzidos elementos perigosos aos seres humanos e nocivos ao meio ambiente em geral. Os líquidos contaminantes migram através do solo atingindo os aqüíferos subterrâneos. Os contaminantes têm seu comportamento no transporte através dos solos fortemente influenciado pela sua composição química, com relação à sua interação com a fase líquida e a fase sólida do solo. Diversas atividades humanas constituem-se em fontes potenciais de contaminação do subsolo, sendo as principais atividades geradoras de resíduos, o esgoto, o lixo, a agricultura (pesticidas) e atividades industriais diversas. Destaca-se também a contaminação subterrânea por derivados de petróleo em atividades de extração, produção, refino e distribuição. 1 Os líquidos presentes em contaminações de subsolo podem ser divididos em duas categorias quanto à sua interação com a água: líquidos miscíveis em água e líquidos não miscíveis em água, conhecidos como NAPLs (“non-aqueous phase liquids”). Os compostos orgânicos não miscíveis ou NAPLs estão presentes em numerosas contaminações no Brasil e no resto do mundo industrializado. Sua remediação, ou seja, restauração das condições do subsolo a níveis aceitáveis, é reconhecida como um dos maiores desafios da comunidade técnico-científica. As dificuldades devem-se às peculiaridades no transporte dos NAPLs através do subsolo e à sua interação com o solo e águas subterrâneas. Os NAPLs distribuem-se no subsolo sob várias formas: sorvidos na fase sólida, como líquidos não miscíveis em água (fase livre e fase residual), dissolvidos na água, e sob a forma gasosa, o que torna necessária a utilização de técnicas específicas para cada fase. Essas dificuldades levaram ao desenvolvimento de novas técnicas, ditas inovativas, para o tratamento de contaminações por NAPLs, sendo muitas vezes utilizada uma associação de técnicas visando otimizar os processos. Sob a denominação de técnica de remediação estão englobadas todas aquelas que visam a recuperação de uma área contaminada, por remoção do material contaminado, bloqueio parcial ou impedimento do caminho do contaminante através do solo e diminuição ou eliminação do potencial tóxico do contaminante (atenuação). As técnicas usuais de remediação in situ (no local) de subsolo baseiam-se, em geral, no fluxo hidráulico ou de gases através do solo. Desta forma sua aplicação depende fundamentalmente da condutividade hidráulica e permeabilidade do solo, sendo influenciadas também pelas heterogeneidades dos solos. As técnicas eletrocinéticas, objeto deste estudo, funcionam em solos de baixa permeabilidade e em meios heterogêneos. As técnicas eletrocinéticas podem ser também utilizadas para melhorar as condições de biorremediação, promovendo o transporte de elementos necessários para a biodegradação até a população de microorganismos do solo contaminado ou o transporte de bactérias até o local contaminado, em processos de biorremediação eletrocinética. 2 A área de Geotecnia da COPPE realizou entre 2000 e 2002 um programa de investigação geoambiental visando o desenvolvimento de um programa de remediação de solos contaminados em três áreas localizadas em um campo de produção de petróleo. Foi realizado um diagnóstico de contaminação, sendo apresentadas sugestões para a remediação dos solos afetados, para as condições locais. Com base nos resultados do programa de investigação realizado foi sugerida a aplicação de técnica de biorremediação eletrocinética “in situ” a uma das áreas, sendo realizada esta pesquisa em laboratório, como estudo preliminar para possível aplicação no campo. 1.2. OBJETIVOS DA PESQUISA O estudo executado na presente pesquisa visou a verificação em laboratório da viabilidade do transporte de nutrientes e aceptores de elétrons em solos finos orgânicos, em processos de biorremediação eletrocinética. Tendo em vista o solo natural do estudo de campo realizado, o nutriente a ser suprido é o nitrogênio (N). O nitrogênio é, depois do carbono, o principal componente dos microorganismos e se apresentou como limitante das atividades microbiológicas do local estudado. O nitrogênio existe no solo de diversas formas orgânicas e inorgânicas, podendo funcionar como aceptor de elétrons em ambientes anaeróbios. A validação do funcionamento do equipamento desenvolvido, que a princípio se apresentava como um objetivo acessório, passou a ter importância no estudo realizado, devido à complexidade do equipamento, desenvolvido integralmente durante a pesquisa. Durante o desenvolvimento do equipamento foi usado também um solo fabricado, composto de bentonita e caulim, conhecido por ter sido utilizado em diversas pesquisas na COPPE. A quantidade limitada de solo natural disponível também determinou a escolha de um material fabricado durante os testes. Esta tese apresenta o desenvolvimento do programa de ensaios e análises de laboratório, incluindo a montagem de célula eletrocinética. Objetivou-se a avaliação em laboratório da viabilidade da aplicação da técnica de biorremediação eletrocinética ao material do local contaminado, com vistas à sua aplicação na área analisada e em áreas similares. 3 No desenvolvimento da pesquisa, diversos aspectos sobre a técnica eletrocinética foram abordados e analisados, através de monitoramento e análises de solo e líquidos. 1.3. RELEVÂNCIA Sabe-se que cerca de 71% da superfície terrestre é coberta por água, porém, apenas 6% da hidrosfera corresponde à água doce, distribuída da seguinte maneira: 4,34 % nas águas subterrâneas, 0,01 % em rios e lagos e 1,65 % em capas de gelo e geleiras. Verifica-se, portanto, a importância do montante correspondente aos aqüíferos subterrâneos na sobrevivência de todas as formas de vida do planeta e no equilíbrio do ecossistema em geral. Assim o desenvolvimento e a aplicação de técnicas de remediação emergentes que possam se associar a outras técnicas conhecidas de forma a possibilitar a remediação das mais diversas situações é de grande relevância. O estudo de técnicas eletrocinéticas é relativamente recente em aplicação à remediação de solos, mas é crescente sua importância, tendo sido realizado em 2001 o “3rd Symposium and Status Report on Electrokinetic Remediation” (EREM2001) em Karlsruhe,Alemanha. Sua importância fundamental é o fato de ser uma técnica capaz de promover o transporte de contaminantes em processos de remediação em solos de baixa permeabilidade, onde outras técnicas não são capazes. Poucos são os trabalhos que se referem a compostos orgânicos não miscíveis (NAPLs), sendo a maior parte referente a metais, para os quais os métodos eletrocinéticos foram analisados inicialmente. Com relação aos orgânicos, a maior parte das pesquisas estudou o comportamento de orgânicos solúveis para os quais as técnicas eletrocinéticas têm aplicação direta. Mais recente é sua aplicação em processos de biorremediação para NAPLs, na adição de substâncias inorgânicas em solos de baixa permeabilidade. Raros também são os estudos em solos finos orgânicos, cujas características podem afetar significativamente as reações geoquímicas que interferem no transporte eletrocinético. As características do solo do local estudado, associadas ao tipo de contaminação e às condições anóxicas das áreas alagadas, tornam o estudo relevante para aplicação em locais com características semelhantes, não reportados pela bibliografia consultada. 4 1.4. ORGANIZAÇÃO DO PRESENTE TRABALHO Esta tese está organizada em doze capítulos. Um histórico dos ensaios realizados e das moldagens de corpos de prova é apresentado no apêndice 1. Os capítulos 2 a 5 apresentam, os fundamentos físico-químicos da migração de contaminantes, a natureza mineralógica das frações finas dos solos e as bases teóricas da biorremediação e do transporte eletrocinético. No capítulo 5 são apresentados, além da revisão teórica, alguns estudos relevantes na aplicação de técnicas eletrocinéticas de remediação. O capítulo 6 apresenta o trabalho de campo que deu origem a esta pesquisa e uma revisão sobre os principais aspectos de um projeto de remediação. O capítulo 7 mostra o desenvolvimento dos equipamentos utilizados. O capítulo 8 mostra os procedimentos padrão para os ensaios e preparo de amostras e apresenta as características dos dois solos utilizados nos ensaios eletrocinéticos. No capítulo 9 são apresentados e analisados os resultados do monitoramento dos ensaios. O capítulo 10 apresenta os resultados das análises realizadas após os ensaios, para solo e líquidos e sua avaliação. No apêndice 2 são apresentadas as tabelas referentes às análises químicas dos líquidos, que originaram os gráficos do capítulo 10. No capítulo 11 são apresentadas as conclusões e sugestões para pesquisas futuras. As referências bibliográficas são apresentadas no capítulo 12. 5 CAPÍTULO 2 MIGRAÇÃO DE CONTAMINANTES EM SOLOS Este capítulo apresenta uma revisão teórica dos principais aspectos da geotecnia de meio ambiente, relativos à contaminação de águas subterrâneas. Os conceitos aqui apresentados se destinam ao entendimento global dos processos de transporte, não sendo objeto específico deste trabalho. Os compostos líquidos podem ser divididos em duas categorias quanto à sua interação com a água: líquidos miscíveis e líquidos não miscíveis ou imiscíveis, de comportamentos distintos quanto ao seu transporte através do solo. Uma classificação geral de líquidos contaminantes em função dos aspectos citados é mostrada na Figura 2.1. Os compostos miscíveis se solubilizam em água formando uma única fase e seu transporte se dá por processos de advecção, difusão e dispersão mecânica. A contaminação se distribui ao longo do tempo a partir de uma fonte, adquirindo a forma de uma pluma, denominada pluma de contaminação, cujo avanço pode ser modelado, obtendo-se a cada instante a concentração do soluto no espaço. Devem ser considerados, ainda, a sorção pelas partículas sólidas e outros processos físicos, químicos e biológicos. Os compostos orgânicos não miscíveis (NAPLs - non-aqueous phase liquids) são divididos quanto à sua densidade, em LNAPLs (light non-aqueous phase liquids), menos densos que a água, e DNAPLs (dense non-aqueous phase liquids), mais densos que a água. Os LNAPLs incluem uma série de derivados de petróleo presentes em combustíveis automotivos e de aviação. Os DNAPLs incluem hidrocarbonetos halogenados, hidrocarbonetos poliaromáticos, solventes e pesticidas. Os NAPLs formam fase separada no meio aquoso, caracterizando o fluxo como multifásico. A migração desses contaminantes depende primeiramente da sua quantidade e propriedades químicas e da estrutura do solo por onde se movem (YONG et al, 1992). 6 LNAPLS – Light Non-Aqueous Phase Liquids (Ex: hidrocarbonetos aromáticos, como o grupo BTEX) DNAPLS – Dense Non-Aqueous Phase Liquids (Ex: tricloroetileno, hidrocarbonetos halogenados) Ácidos Orgânicos (Ex: Ácido acético) Compostos Polares Neutros. (Ex: cetonas, álcools) Bases Orgânicas (anilina) Ácidos Ex: (HCl) Sais Ex: (NaCl) Soluções Orgânicas Hidrofílicas Soluções Químicas Inorgânicas Líquidos Miscíveis (Aqueous) Fluidos Imiscíveis (Non-aqueous) Líquidos Bases Ex: (NaOH) Figura 2.1 - CLASSIFICAÇÃO DE LÍQUIDOS CONTAMINANTES (Shackelford, 1999) 7 2.1. TRANSPORTE DE CONTAMINANTES DISSOLVIDOS ATRAVÉS DE SOLOS SATURADOS O transporte de contaminantes dissolvidos através de solos saturados depende de processos físicos, químicos e biológicos. Os principais e mais bem conhecidos processos de transporte de massa dissolvida no fluido dos poros do solo são os processos físicos de advecção, difusão e dispersão mecânica, sendo que os dois últimos compõem a dispersão hidrodinâmica. Processos químicos e biológicos de interação solo contaminante também influenciam o transporte de miscíveis. O fluxo de massa de um soluto é uma medida da taxa de transporte da substância dissolvida, dimensionalmente expresso em ML-2T-1 (M= unidade de massa, L= unidade de comprimento, T= unidade de tempo). O fluxo pode ser definido de forma genérica como o produto de um fator de proporcionalidade por uma força diretriz. Neste item são apresentadas a equações de transporte de massa em termos de fluxo de massa (J) e em termos de concentração em função do tempo. As equações podem ser estabelecidas para três dimensões, porém, aqui só serão apresentadas para fluxo unidimensional em meio saturado. Diferentes forças diretrizes são responsáveis pelos processos de advecção, difusão e dispersão mecânica. No transporte advectivo-dispersivo puro não são consideradas as interações durante o transporte que provocam produção ou destruição das espécies dissolvidas, admitindo-se conservar-se constante a massa total de um determinado soluto no sistema. 2.1.1. Advecção A adveção é processo de transporte dos elementos dissolvidos na água intersticial, devido ao fluxo da hidráulico no subsolo. No transporte advectivo puro a água se move devido a um gradiente hidráulico na direção das linhas de fluxo, deslocando o contaminante como uma frente contínua em uma direção, sem que ocorra alteração da concentração dessa frente. 8 A figura 2.2 mostra dois exemplos de fluxo unidimensional devido a um gradiente hidráulico. Da hidráulica de solos temos que a vazão de água (Q) é controlada pela condutividade hidráulica do solo, obedecendo à lei de Darcy, dada pela equação 2.1. Q = v.A (L3T-1) (2.1) Onde, A é a seção transversal total do solo atravessada pelo fluxo (L2) v é a velocidade ap te ou de Darcy, dada por dL dhkikv ×=×= (LT-1) 2)Onde k é a co tividade hidráulica do meio (LT-1); i é o gra entre do Figura Fluxo H A veloc solo atr formado ndu diente hidráulico (adimensional), onde dh é a diferença de potencial hid is pontos do solo entre os quais ocorre o fluxo e dL é a distância entre ele dh dh NA dL A dL 2.2- Fluxo unidimensional em meio poroso devido a um gradiente hidráu orizontal, b) Fluxo vertical. idade aparente do fluido é obtida considerando a seção transversal, A, t avessada pelo fluxo, porém o fluxo se dá na realidade através de cana s pelos poros ou vazios do solo. fluxo h solo NA NA fluxo v 9 (2. aren ráulico s. A dh lico, a) otal do lículos NA A velocidade advectiva leva em conta apenas a área dos poros por onde o fluido pode efetivamente percolar e varia de uma seção para outra. Em um solo saturado a velocidade advectiva média, va é igual à velocidade de Darcy, v, dividida pela porosidade, n, do solo (equação 2.3), o que equivale a considerar para o fluxo a área média dos poros ao longo do solo. (LT-1) (2.3) n vva = logo, dL dh n kva ×= (LT-1) (2.4) Para uma fonte contínua, o fluxo unidimensional de um soluto na direção x, Jx, devido à advecção em um meio poroso saturado é dado pelo produto da velocidade de Darcy na direção x, vx, pela concentração, C, do soluto no fluido que se desloca no meio (Eq. 2.5). CvJ xx ×= (ML2T-1) (2.5) Ou em termos de velocidade advectiva média, CvnJ axx ××= (2.6) 2.1.2. Dispersão Hidrodinâmica: Difusão e Dispersão Mecânica Ao longo do tempo verifica-se que os íons e moléculas dissolvidos na água se afastam das trajetórias e velocidades previstas no transporte advectivo puro. Esses efeitos ocorrem devido à dispersão hidrodinâmica, que é a soma dos processos de transporte de difusão e dispersão mecânica. A dispersão hidrodinâmica provoca mudanças de concentração dos contaminantes que se deslocam a diferentes velocidades e segundo 10 trajetórias que podem seguir diferentes direções, inclusive perpendiculares às linhas de fluxo. Esses mecanismos se traduzem em diluição da frente de contaminação. A difusão é o processo de transporte de massa provocado por um gradiente de concentração, onde a frente dissolvida se desloca no fluido, de um ponto de maior concentração para um ponto de menor concentração. A difusão não depende, portanto, de um gradiente hidráulico, mas sim de um gradiente de concentração. A dispersão mecânica é o espraiamento irregular da massa dissolvida no fluido intersticial, provocado por variações de velocidade e trajetórias do fluxo devido a heterogeneidades do meio, em escalas microscópicas e macroscópicas. Este processo depende da existência de um gradiente hidráulico. Em escala microscópica as variações ocorrem em relação aos canalículos formados pela interligação dos poros e podem ser de três naturezas; a) variações do atrito ao longo de um canal individual, onde o fluido se desloca com maior velocidade no centro do que próximo às partículas; b) variações de velocidade de um canal para outro, devido a diferenças entre os diâmetros dos canalículos e c) diferenças nos comprimentos das trajetórias das partículas, devido à tortuosidade do meio. Para a difusão a expressão do fluxo é dada pela 1a Lei de Fick, apresentada na equação 2.7, onde De é o coeficiente de difusão efetivo do elemento no solo. dx dCnDJ ex ××−= (2.7) O coeficiente de difusão molecular em água livre, Do, é tabelado para vários elementos. No solo, a difusão do elemento diminui, por ser afetada pela tortuosidade do meio, expressa pelo fator de tortuosidade, τ, que relaciona o coeficiente de difusão efetivo, De, e o coeficiente de difusão em água pura, Do, conforme a expressão 2.8. 0DDe ×= τ (L2T-1) (2.8) O fluxo por dispersão mecânica é dado pela expressão 2.9. 11 dx dCnDJ mx ××−= (2.9) onde, Dm é o coeficiente de dispersão mecânica, que é diretamente proporcional à velocidade advectiva média, como mostra a expressão 2.10. xaLm vD ×= α (2.10) onde αL é a dispersividade. Diversas expressões empíricas para a dispersividade são conhecidas, como a expressão 2.11, de Perkins & Johnson,1963. dL ×= 75,1α (L) (2.11) Onde d é o diâmetro característico do solo (diâmetro médio das partículas). O sinal negativo nas expressões 2.7 e 2.9 é utilizado porque o fluxo se dá no sentido da diminuição da concentração, ou seja, do ponto de maior concentração para o ponto de menor concentração de um determinado soluto. A expressão do fluxo por dispersão hidrodinâmica (2.12 e 2.13), é a soma das expressões 2.7 e 2.9 dx dCnD dx dCnDJ mex ××−××−= (2.12) Ou, ( ) dx dCnDDJ mex ××+−= (2.13) A soma dos coeficientes de difusão e dispersão mecânica é igual ao coeficiente de dispersão hidrodinâmica, D, como na expressão 2.14. 12 me DDD += (2.14) E a expressão do fluxo para dispersão hidrodinâmica em uma direção x fica, dx dCnDJ xx ××−= A predominância da difu depende fundamentalment pode ser avaliada através dado pela expressão 2.16. 0D vdP ae ×= Perkins & Johnston,1963 D/Do em função do núme Fetter,1993. D/Do difusão Figura 2.2 – Variaçã hidrodinâmica e a difusão Peclet (Perkins & Johnston (2.15) são ou da dispersão mecânica na dispersão hidrodinâmica e da granulometria do solo e da velocidade de advecção, e do número de Peclet (Pe), que é um número adimensional (2.16) , obtiveram através de resultados experimentais, a relação ro de Peclet, expressa no gráfico da figura 2.2, mostrado em advecção dispersão o a D vd × o da relação entre a dispersão molecular em função do número de ,1963) 13 2.1.3. Equação Diferencial do Transporte de Massa Advectivo-Dispersivo Unidimensional A expressão do fluxo de massa de um soluto, por advecção e dispersão hidrodinâmica na condição unidimensional (equação 2.17), é a soma das equações 2.6, 2.7 e 2.9. nDCvnJ eax x ×−××= nDCvnJ xax x ×−××= Para o fluxo advectivo-d há produção ou destruiçã conservação de massa. D haja produção ou destrui quaisquer de um sistem variação da massa dissol A equação diferencial do em um meio poroso pode um elemento de solo de água segundo a direção x Z Jx Figura 2.3 – Elemento d dCD dx dC −× dx dC× ispersivo o de uma e acordo ção da esp a em um vida da es transpor ser estab dimensõ , como n dz dx e solo atr dx nm ×× , ou (2.17) puro, admite-se uma condição conservativa, onde não determinada espécie no sistema, sendo válida a lei de com a lei de conservação de massa, desde que não écie no sistema, a variação do fluxo entre dois pontos determinado intervalo de tempo deve ser igual à pécie analisada nesse intervalo. te de massa unidimensional de um soluto não reagente elecida, aplicando-se a lei da conservação de massa a es dx, dy e dz, que seja atravessado por um fluxo de a figura 2.3. dy X Y Jx + ∂Jx dx ∂x avessado por um fluxo na direção X. 14 Para o elemento de solo da figura 2.3 a massade soluto que entra (Me) no elemento representativo de volume na direção x em um determinado intervalo de tempo é ( dtdzdyJM xe ×××= ) (2.18) A massa de soluto que sai (Ms) do elemento de volume nesse intervalo de tempo é dtdzdydx x JJM xxs × ×× ×∂ ∂+= (2.19) A diferença entre a massa que entra e a massa que sai do elemento de volume em um intervalo de tempo é, portanto dzdydx x J dt MM dt dM xes ×××∂ ∂=−= (2.20) A massa dissolvida de um determinado soluto é igual à sua concentração multiplicada pelo volume de fluido considerado. Em meios porosos o fluido circula através dos canalículos formados pelos vazios, leva-se em conta apenas o volume de vazios do elemento, igual ao volume total multiplicado pela porosidade, ndo meio. Assim, a taxa de variação da massa de soluto com o tempo em um elemento representativo de volume em um meio poroso saturado, também pode ser dada pela expressão 2.21. dzdydx t Cn dt dM ×××∂ ∂×−= (2.21) Igualando as expressões (2.20) e (2.21), obtém-se a equação da continuidade de massa, dada pela expressão (2.22) x J t Cn x∂ ∂−=∂ ∂× (2.22) Assim, para o fluxo advectivo puro, aplicando-se (2.6) em (2.22) a equação diferencial do fluxo de massa fica 15 x Cv t C ax ∂ ∂×−=∂ ∂ (2.23) Para o fluxo dispersivo puro, aplicando-se (2.15) em (2.22) obtém-se a equação (2.24) que representa a Segunda Lei de Fick ou Lei da Conservação de massa para fluxo dispersivo. 2 2 x CD t C ∂ ∂×=∂ ∂ (2.24) Aplicando-se (2.17) em (2.22) obtém-se a Equação Diferencial de Fluxo Advectivo- Dispersivo Unidimensional, dada pela equação (2.25). 2 2 x CD x Cv t C ax ∂ ∂×+∂ ∂−=∂ ∂ (2.25) A solução da equação diferencial do fluxo advectivo dispersivo pode ser apresentada graficamente através das curvas características de transporte ou “breakthrough curves”. Essas curvas podem ser obtidas experimentalmente para cada elemento, em ensaios de coluna, medindo-se a concentração do elemento no efluente de um corpo de prova de solo, atravessado por um fluido com concentração do soluto conhecida. A figura 2.4 mostra as curvas características do transporte em um gráfico de concentração ao longo da extensão do solo para um determinado tempo t, considerando uma fonte contínua de um soluto a uma concentração igual a Co, que se desloca em uma direção X, através de um meio poroso saturado, cujo fluido intersticial tem concentração desse soluto igual a zero. Para o fluxo advectivo puro, a frente avança continuamente substituindo o líquido inicial do meio poroso. É o chamado efeito pistão, onde a concentração de soluto para um determinado instante t, muda bruscamente de C inicial igual a zero para C igual a Co, em uma seção do solo distante X(t)=vx × t da fonte, como mostra a curva a) da figura 2.4. Para o fluxo advectivo-dispersivo, os processos de difusão e dispersão mecânica provocam a mudança da curva característica do transporte, que assume a forma da curva b) da figura 2.4. Nesse caso, para uma fonte contínua de 16 um elemento a uma concentração Co, a concentração de soluto para um determinado tempo t, na seção X(t), que deveria ser igual a Co para o fluxo advectivo puro, é igual a Co/2. A frente de contaminação atinge uma distância maior que a do fluxo hidráulico pelo deslocamento relativo das partículas em relação à água pelos processos de difusão e dispersão. Esse avanço provoca diminuição da concentração em seções anteriores a X(t), que apresentariam valor igual a Co ra o fluxo advectivo puro. C Co Co 2 X = vx.t distância X da fonte Figura 2.4 – Curvas características de transporte de massa de soluto com concentração Co que infiltra na água dos poros, em um instante t. Na remediação, em geral, retira-se o líquido intersticial contaminado injetando-se água limpa. Nesse caso, considerando-se a concentração Co como a concentração inicial do contaminante no fluido intersticial e como nula a concentração no fluido injetado, as curvas características da concentração do fluido intersticial com o tempo são as apresentadas na figura 2.5. C Co Co 2 X b) a) a) fluxo advectivo puro b) fluxo advectivo-dispersivo Figura 2.5 – Curvas característica concentração inicial Co removida = vx a b a) s de t da ág C pa .t distância X da fonte ) fluxo advectivo puro ) fluxo advectivo-dispersivo b) ransporte de massa de soluto com ua dos poros, em um instante t. 17 Nos ensaios de coluna faz-se infiltrar um fluido com concentração, Co, de um determinado soluto, verificando-se periodicamente a concentração do efluente. As curvas características são colocadas em gráficos de concentração, C, por volume de líquido percolado, V, normalizados, como na figura 2.6. Nessa figura o volume de fluido que drena do corpo de prova,V, é normalizado em relação ao volume de vazios do corpo de prova, Vv, e C é normalizada em relação à concentração inicial, Co, do fluido que infiltra no corpo de prova. O volume de vazios é dado pela equação 2.26, onde L e A são respectivamente o comprimento e área do CP, n é a porosidade e Av é a área dos vazios. Vv = L×Av = L × n ×A (2.26) C/Co a) fluxo advectivo puro b) fluxo advectivo-dispersivo a) 1 1 b) 2 1 V/Vv Figura 2.5 – Curvas características de transporte normalizadas para um contaminante à concentração Co, que infiltra no corpo de prova com concentração inicial nula. A curva a) da figura 2.6 representa o fluxo advectivo puro, onde para um volume de efluente igual ao volume de vazios, todo o fluido intersticial inicial foi expulso do CP, passando a concentração de soluto imediatamente a ser igual à concentração de soluto na fonte de contaminação. A curva b) da figura 2.5 representa o fluxo advectivo- dispersivo, mostrando que a concentração do efluente começa a ficar diferente de zero para um volume de efluente menor que o volume de vazios do CP, ou seja, antes de se completar toda a expulsão do fluido inicial. Para 1 (um) volume de vazios percolado a concentração do soluto no efluente é igual à metade da concentração do soluto na fonte e a concentração do efluente só atinge o valor Co para um volume percolado maior que o volume de vazios do CP (V/Vv>1). 18 2.1.4. Processos que Influenciam o Fluxo Os principais processos químicos e biológicos que afetam a migração de contaminantes miscíveis são, a sorção, o decaimento radioativo, a dissolução e precipitação, as reações ácido-base, a complexação, a hidrólise e substituição, as reações de oxi-redução e a biodegradação (Shackelford e Rowe, 1997). Esses processos modificam as concentrações de massa dissolvida no fluido, o que se traduz em alterações no fluxo de uma frente de contaminação, modificando a equação diferencial do transporte advectivo-dispersivo expressa naequação 2.25. 2.1.4.1. Sorção A sorção, termo que engloba a adsorção e a dessorção, é uma interação de uma espécie química (contaminante) presente no fluido dos poros, com a fase sólida de um solo. É um processo de particionamento entre o material dissolvido em fase líquida e o material adsorvido na fase sólida. Na adsorção os contaminantes dissolvidos são removidos da solução e ficam “aderidos” à superfície sólida, sendo retirados da solução. Na dessorção os contaminantes são removidos das superfícies das partículas de solo, indo para a solução intersticial, aumentando sua concentração em água livre. Para os líquidos miscíveis em água, a sorção é função do contaminante e do tipo de solo. As características dos contaminantes que influenciam a sorção são a solubilidade em água, e características polares e iônicas. Com relação ao solo a sorção depende da densidade de carga superficial, características e concentração das espécies catiônicas, existência de matéria orgânica e carbonatos, permeabilidade, porosidade, homogeneidade e superfície específica. Os aspectos de sorção para os contaminantes orgânicos não miscíveis é descrito no item 2.2.3. O particionamento de contaminantes entre fase líquida e sólida em um meio poroso é normalmente expresso pelo coeficiente de distribuição, Kd , que, no caso dos compostos miscíveis, é a razão entre a concentração sorvida (Cs) e a concentração dissolvida (C), conforme a equação 2.27. 19 dC dCK Sd = (ML-3) (2.27) O coeficiente de distribuição Kd é utilizado para calcular o fator de retardamento devido à sorção no transporte (item 2.2.5). Pode ser obtido experimentalmente em ensaios de sorção em laboratório, traçando-se curvas que relacionam a massa adsorvida por unidade de massa de solo seco (Cs) e a concentração do contaminante em solução (C). Essas relações gráficas são chamadas de isotermas. Para baixas concentrações dissolvidas a isoterma é linear e o coeficiente de distribuição Kd é constante e igual à inclinação da reta Cs = f (C). Para concentrações mais altas as isotermas não são lineares, o que dificulta a previsão da influência da sorção no transporte. Para a solução do problema é necessária a utilização de análises teóricas, onde as curvas de laboratório são ajustadas a modelos conhecidos de isotermas. As expressões de três tipos de isotermas; linear, de Freundlich e de Langmuir, mostradas a seguir, são descritas em RITTER,1998. • Isoterma Linear CKC dS ×= • Isoterma de Freundlich ∈×= CKC fS • Isoterma de Langmuir bC bCSC mS += 1 Onde Kf e ε são constantes determinadas experimentalmente, b é uma constante relacionada com a energia de adsorção e Sm é a capacidade máxima de adsorção pelo sólido (RITTER, 1998). O potencial de adsorção de cátions de metal pesado geralmente aumenta com o aumento da capacidade de troca catiônica do solo, dependendo fortemente desse parâmetro. No caso de compostos orgânicos não miscíveis, a adsorção está diretamente relacionada ao teor de matéria orgânica do solo. 20 A maior parte das técnicas de remediação “in situ” trata a fase dissolvida dos contaminantes, baseando-se no seu transporte através do solo. Nesse sentido, a adsorção retarda a remoção, pois retira o contaminante da solução, e a dessorção aumenta a taxa de remoção, pois aumenta a concentração de contaminantes na água. A adsorção, embora retire contaminantes do aqüífero, não pode ser considerada como um processo de imobilização de contaminantes por ser reversível. O material adsorvido pode ser dessorvido ao longo do tempo, sendo uma fonte de contaminação que deve ser removida, por particionamento para a fase líquida. O pH interfere nos processos de sorção de espécies iônicas, pois tem influência na capacidade de troca catiônica do solo e na forma química e mobilidade de espécies suscetíveis à perda e ganho de prótons. Valores de pH baixos (ácidos) provocam a dessorção de contaminantes nas superfícies das partículas de argila, sendo importantes para a extração de contaminantes em solos finos. Podem, porém, acarretar a dissolução dos argilo-minerais da fração sólida do solo. 2.1.4.2. Complexação A complexação é uma reação química em que um cátion se combina com ânions e às vezes com moléculas, por ligações covalentes, formando um íon complexo. O cátion ou átomo central é, em geral, um metal. Os ânions ou moléculas são chamados de ligantes e, de acordo com BEDIENT et al (1994), incluem várias espécies inorgânicas comumente encontradas na água intersticial como, Cl, F, Br, SO4, PO4, CO3, podendo também ser ligantes moléculas orgânicas, como aminoácidos. Alguns metais são anfotéricos, ou seja, podem existir tanto sob a forma de íons negativos como positivos, dependendo do pH local. 2.1.4.3. Precipitação/ Dissolução A precipitação ocorre quando espécies iônicas existentes na água intersticial reagem formando novas substâncias, que se estiverem a concentrações superiores ao seu limite de solubilidade, precipitam-se como fase sólida. Os metais pesados tendem a reagir com 21 carbonatos, formando compostos de baixa solubilidade, que se precipitam, sendo removidos do fluido intersticial, diminuindo a taxa de remoção de contaminantes. A dissolução é um processo inverso à precipitação, que remove as espécies químicas da fase sólida para a solução intersticial, aumenta a concentração de contaminantes dissolvidos na água dos poros, aumentando a taxa de remediação, na remoção por transporte de contaminantes. As equações que traduzem os processos de precipitação/dissolução, mostradas em ALSHAWABKEH & McGRATH, 2000, são baseadas no limite de solubilidade e no equilíbrio entre as espécies presentes, considerando-se que os metais só precipitam quando a concentração na água é superior ao limite de solubilidade. Condições de pH alto ou básico diminuem a solubilidade e causam precipitação de grande parte dos metais pesados e radíonuclídeos. A precipitação retira contaminante do fluido dos poros. Já os valores baixos de pH aumentam a taxa de dissolução e, portanto, a concentração iônica, o que pode ser considerado favorável para a remediação por extração de contaminantes. Para as espécies não polares, não iônicas, como os NAPLs, não ocorre precipitação e a dissolução não é influenciada pelo pH. A dissolução de NAPLs é influenciada pela temperatura. Uma elevação de temperatura aumenta a solubilização. 2.1.4.4. Decaimento Radioativo O decaimento radioativo é o declínio irreversível na atividade de um radionuclídeo. É quantificado em termos da meia-vida do radionuclídeo, ou o tempo necessário para que a atividade radioativa diminua à metade. 2.1.4.5. Reações ácido-base Reações ácido-base são aquelas que envolvem a transferência de prótons (H+). São importantes por controlarem outras reações, como as de precipitação e dissolução. 22 2.1.4.6. Reações de Oxi-Redução As reações de oxi-redução são aquelas que envolvem transferência de elétrons e são importantes por controlarem a precipitação de metais. Essas reações estão descritas em maiores detalhes no item 5.2.5. 2.1.4.7. Biodegradação Reações controladas por microorganismos do solo, que degradam os contaminantes e diminuem sua concentração no meio. Principal processo de degradação para os compostos orgânicos, também influencia os compostos de nitrogênio e outras espécies utilizadas nos processos metabólicos dos microorganismos. Os processos de biodegradação estão apresentados com maiores detalhes no capítulo 4, referente à biorremediação. 2.1.5.Equação do Transporte Advectivo-Dispersivo para Compostos Reativos Embora todos os processos citados sejam reconhecidos, somente os fenômenos de sorção e decaimento radioativo são correntemente incluídos em aplicações práticas de modelagem. Os demais processos são mais complexos e sua modelagem apresenta ainda grandes incertezas, sendo mais utilizada em projetos de pesquisa específicos. O decaimento radioativo é um processo restrito a radionuclídeos. Assim, para líquidos miscíveis reativos e não radioativos é utilizada geralmente a equação 2.28 para o transporte advectivo-dispersivo, considerando-se apenas a influência da sorção. t C nx CD x Cv t C S ax ∂ ∂×−∂ ∂×+∂ ∂−=∂ ∂ 2 2 ρ (2.28) onde ρ é a massa específica aparente seca do solo, n é a porosidade, Cs é a concentração de soluto sorvida, ou seja a massa de soluto por unidade de massa de material sólido do solo. Pode significar adsorção ou dessorção. 23 Aplicando-se o valor de Kd definido pela equação 2.27 à equação 2.28, tem-se, t CK nx CD x Cv t C dax ∂ ∂×−∂ ∂×+∂ ∂−=∂ ∂ 2 2 ρ (2.29) A maior parte das técnicas de remediação “in situ” trata a fase dissolvida dos contaminantes, baseando-se no seu transporte através do solo. Nesse sentido considera- se que a adsorção retarda a remoção, pois retira o contaminante da solução, e a dessorção aumenta a taxa de remoção, pois aumenta a concentração de contaminantes na água. Definindo-se um fator de retardamento devido à sorção no transporte, Rf, através da expressão (2.30). df Kn R ρ+= 1 (2.30) Rearranjando a equação 2.29, temos. 2 2 x CD x Cv t CK nt C axd ∂ ∂×+∂ ∂−=∂ ∂×+∂ ∂ ρ ⇒ 2 2 1 x CD x CvK nt C axd ∂ ∂×+∂ ∂−= +∂ ∂ ρ (2.31) Chegando-se à equação diferencial (2.32), em função do fator de retardamento. ( ) 22xCDxCvRtC axf ∂∂×+∂∂−=∂∂ (2.32) Para processos de produção ou remoção de contaminantes, considera-se que tudo se passa como se a velocidade do fluxo de massa fosse multiplicada pelo fator de retardamento. O fator de retardamento é menor que a unidade para a adsorção, significando uma redução da velocidade do fluxo. O fator de retardamento é maior que a unidade para a dessorção, significando um aumento da velocidade do fluxo. A utilização do fator de retardamento na equação do fluxo de massa não é uma unanimidade entre os trabalhos pesquisados. 24 2.2. MIGRAÇÃO DE LÍQUIDOS NÃO MISCÍVEIS NOS SOLOS Um importante aspecto da contaminação hidrogeológica por orgânicos é o fluxo multifásico através do solo. O fluxo pode ser bifásico (água e NAPL), como na zona saturada, ou trifásico (ar, água e NAPL), como na zona vadosa ou não saturada do solo. O fluxo depende, com relação aos fluidos percolantes, das densidades, viscosidades e tensões interfaciais (GRUBB, 1998a). Os NAPLs podem se volatilizar, transformando- se em vapor na zona vadosa. Os NAPLs podem ser também parcialmente solúveis, de forma a se apresentarem como uma fase dissolvida, para a qual valem as modelagens para os processos referentes aos líquidos miscíveis Assim, os contaminantes orgânicos não miscíveis em água (NAPL) podem se apresentar no solo como gás, como fase dissolvida, como NAPL em fase livre ou residual e sorvidos nas partículas sólidas. Grande parte das técnicas de remediação tem por objetivo a transferência de massa de uma fase para outra, o que obedece a leis específicas, de acordo com as respectivas propriedades físico-químicas do contaminantes. Como exemplos temos as técnicas que utilizam a volatilização, as que aumentam a solubilidade dos compostos, as que utilizam processos de sorção. Para os NAPLs são ainda limitadas as simulações por modelos numéricos por falta de informações de laboratório e de campo. Os NAPLs migram verticalmente através do solo a partir de uma fonte superficial, devido a pressões hidrostáticas em seu próprio corpo contínuo (BEDIENT et AL, 1994), descendo através da zona não saturada do solo em direção ao aquífero. Inicialmente como uma frente contínua ou fase livre (móvel), deixam ao longo do caminho bolhas ou gânglios, que ficam presos no interior de poros do solo, devido a forças geradas por tensões interfaciais (ver figura 2.6). Esses gânglios permanecem no interior do solo como fase residual, de difícil remoção e localização, mantendo-se como uma fonte contínua de contaminação ao se dissolverem na água subterrânea. O comportamento de LNAPLs e DNAPLs em contaminações do subsolo apresentam diferenças, sendo o comportamento dos DNAPLS mais complexo que o dos LNAPLs como descrito nos itens 2.2.1 e 2.2.2, a seguir. 25 NAPL Partículas sólidas Poros Figura 2.6 - Gânglios de NAPL, presos nos poros do solo- fase residual. 2.2.1. Migração de LNAPLs Os LNAPLs, forçados pela fonte, por gravidade, migram através da zona não saturada do solo. A fase livre do LNAPL ao atingir o lençol d’água permanece sobre a franja capilar ou flutuando sobre o nível d’água, gerando uma pluma de LNAPL. Parte dessa pluma se dissolve pelo contato permanente com a água, gerando uma pluma dissolvida na água subterrânea. Quando a quantidade de NAPL é muito pequena, todo o contaminante pode ficar retido nos poros como fase residual. Nesse caso a contaminação atinge o aquífero por infiltração de água onde se dissolvem os NAPLs mais solúveis. A figura 2.7 apresenta as duas situações descritas, típicas de contaminação por LNAPLs. a) b) Tanque Tanque N APL residual NAPL dissol- Pluma de NAPL vido por Infiltração Pluma dissolvida Figura 2.7 – Distribuições típicas de LNAPLs em contaminação do subsolo a) LNAPL atingindo o nível d’água como fase contínua, b) LNAPL, totalmente retido como fase residual. 26 Os LNAPLs não ultrapassam o nível d’água (na realidade nível da franja capilar) por terem a densidade mais baixa que a da água. Assim não deveria ocorrer LNAPL residual na zona saturada do solo. Apesar disso registra-se a existência de LNAPL residual na zona saturada, devido a variações do nível d’água. Ao rebaixar-se o nível d’água, por qualquer motivo, o LNAPL sobrenadante desce junto com a superfície do lençol. Ao retornar o nível à posição anterior, parte do LNAPL fica retida sob a forma de gânglios, agora na zona saturada.Os compostos do grupo BTEX (benzeno, tolueno, etil-benzeno e xilenos), presentes na gasolina, são exemplos de LNAPLs, que se constituem nos mais comuns alvos de remediação. Embora de baixa solubilidade, são os mais solúveis compostos orgânicos, sendo os primeiros a serem dissolvidos por infiltração. São reconhecidamente carcinogênicos e apresentam grau de toxicidade nociva ao ser humano mesmo para baixas concentrações. São compostos monoaromáticos, possuindo em sua cadeia um anel benzênico. 2.2.2. Migração de DNAPLs Os DNAPLs são especialmente problemáticos devido à sua baixa solubilidade e alta densidade, que os permite que penetrar a maiores profundidades que os LNAPLs. Os DNAPLs, mais pesados que a água, ultrapassam a superfície da zona saturada e continuam migrando até encontrarem uma camada de permeabilidade muito baixa, onde permanecem sob a forma de piscinas (pools), que são regiões de alta saturação residual (entre 60 e 70%). Podem ainda romper a estrutura da camada de baixa permeabilidade e penetrar através de fissuras. Por esse motivo os DNAPLs atingem grandes profundidades e são de mais difícil remediação que os LNAPLs. Devido a heterogeneidades no solo a distribuição dos DNAPls no subsolo é irregular, o que torna ainda mais difíceis, tanto sua caracterização quanto sua remediação, em relação aos LNAPLs,. A figura 2.8 mostra uma distribuição típica de DNAPLs no subsolo. Exemplos de DNAPL são os hidrocarbonetos poliaromáticos (HPAs), ou seja, com mais de um anel benzênico em sua cadeia; os organo clorados como, dicloroeteno (DCE), tricloroeteno (TCE) e tetracloroeteno (PCE), pesticidas, etc.. 27 Figura 2.8 – Distribuição de DNAPL no subsolo (apud GRUBB,1998) FONTE 2.2.3. Sorção para Compostos não Miscíveis Para os NAPLs é usada a teoria hidrofóbica de acordo com a qual, a adsorção de um contaminante a um sólido é quase exclusivamente uma função da fração do carbono orgânico do solo (foc), desde que essa seja no mínimo igual a 1% em peso de solo seco (BEDIENT et al,1994). Para os compostos orgânicos neutros, o coeficiente de distribuição, Kd (ML -3), tem uma forte correlação com a fração de carbono orgânico, foc (ML-3). Foi definido um termo de correlação, Koc (adimensional), ou coeficiente de partição orgânico-carbono, pela expressão 2.32 (KARICKHOFF et al, 1979, citado por BEDIENT et al, 1994). oc d oc f KK = (2.32) Posteriormente uma forte correlação linear entre Koc e o coeficiente de partição água- octanol, Kow, foi observada, sendo proposta por KARICKHOFF, 1981 (citado por BEDIENT et al, 1994), a expressão 2.33, que os correlaciona. Koc = 0,411. Kow (2.33) 28 O coeficiente de partição água-octanol, Kow (adimensional), é medido em laboratório, estando já definido e tabelado para vários compostos. Representa a distribuição de uma espécie química entre água e octanol em contato, na condição de equilíbrio. É dado pela razão entre a concentração do composto em octanol, Coctanol (ML -3), e sua concentração na água, C (ML-3), pela expressão 2.34. Kow = Coctanol/C (2.34) Na realidade Kow é uma medida de hidrofobicidade de um composto orgânico, mas está relacionado com a solubilidade e adsorção, pois, quanto mais hidrofóbico é um composto, maior é o potencial de adsorção e menor a solubilidade. 29 CAPÍTULO 3 PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DAS ARGILAS 3.1. INTRODUÇÃO O conhecimento da mineralogia dos solos é importante para o entendimento de seu comportamento, pois é o primeiro fator que controla o tamanho, forma e propriedades físico-químicas das partículas de solo. A revisão teórica apresentada neste capítulo baseou-se principalmente nos trabalhos de MITCHELL,1976; MITCHELL, 1993; RITTER, 1998; SCHMIDT, 2001, WHITLOW, 1995; PENN,1997, CASTRO,1989. A fase sólida de um solo (partículas sólidas) é composta em sua maioria por minerais cristalinos inorgânicos, divididos em argilo-minerais e minerais não argílicos. Os solos formados por minerais não argílicos são o produto do intemperismo físico de rochas, constituindo-se em fragmentos de rocha ou grãos dos próprios minerais que formam a rocha de origem, como o quartzo, nas areias. São estáveis em presença de água, pois suas partículas são eletricamente neutras. As estruturas dos solos formadas por minerais não argílicos são ditadas principalmente pelo tamanho e forma dos grãos, textura e distribuição granulométrica. A mineralogia desses solos, no entanto, tem influência em seu comportamento mecânico, constituindo-se a resistência do mineral que os forma uma parcela de grande importância na resistência e estabilidade dos solos. Os argilo-minerais, mesmo presentes nos solos em menor proporção que os minerais não argílicos, têm grande influência no comportamento dos solos. Têm dimensões coloidais, por vezes agregados em dimensões maiores, sendo a superfície das partículas eletricamente carregadas. A mineralogia das argilas, ou solos finos, é de particular importância para os problemas de contaminação de solos. Por suas características físico- químicas, os argilo-minerais interagem com os contaminantes, interferindo de forma significativa no seu transporte e remediação. As partículas de solos finos são, geralmente, laminares, com superfícies eletronegativas e características plásticas quando misturados com água. 30 3.2.UNIDADES CRISTALOGRÁFICAS BÁSICAS As unidades cristalográficas básicas na estrutura dos argilo-minerais são os tetraedros de silício e os octaedros de alumínio ou magnésio, mostrados na figura 3.1. Os tetraedros de silício são unidades cristalográficas formadas por um átomo de silício (Si) coordenado com quatro átomos de oxigênio (O). Os octaedros de alumínio ou magnésio são formados por um átomo de alumínio (Al) ou magnésio (Mg), coordenado com seis átomos de oxigênio (O) ou hidroxilas (OH). 3.1a) Tetraedro de Silício Si +4 (cátion Silício de nóx +4) O - 2 (ânion Oxigênio de nóx -2) 3.1b) Octaedro de Alumínio ou Magnésio Al+3 (cátion alumínio nóx.+3) O-2 (ânion oxigênio nóx.-2) Mg+2 (cátion magnésio nóx.+2) OH-1 (ânion oxidrila nóx.-1) Figura 3.1- ARGILO-MINERAIS - UNIDADES CRISTALOGRÁFICAS BÁSICAS 31 3.3. ARRANJOS DAS UNIDADES CRISTALOGRÁFICAS BÁSICAS Nos argilo-minerais as estruturas são predominantemente em folha, forma sob a qual as unidades cristalográficas básicas se combinam ou arranjam Os tetraedros de silício se combinam para formar uma folha de sílica em ligações que compartilham íons oxigênio, como mostrado no diagrama da figura 3.2. Os octaedros de alumínio e magnésio se unem formando estruturas em folha denominadas, gibsita (G) e brucita (B), respectivamente, com ligações onde são compartilhadas as hidroxilas comuns (figura 3.3 e 3.4). Diagrama (Si4O10) 4- Esquema: Figura 3.2 –Arranjos das unidades cristalográficas básicas de argilo-minerais: Camada ou folha de sílica. ♦ Diagrama (Al4(OH)12) Esquema G Figura 3.3 –Arranjos das unidades cristalográficas básicas de argilo-minerais: Camada ou folha de octaedros de alumínio (gibsita). 32 ♦ Diagrama (Mg6 (OH)12)♦ Esquema B Figura 3.4 –Arranjos das unidades cristalográficas básicas de argilo-minerais: Camada ou folha de octaedros de magnésio (brucita). 3.4. ARGILO-MINERAIS MAIS COMUNS As unidades estruturais básicas dos argilo-minerais são camadas formadas pelo empilhamento de duas ou três folhas. Diferentes argilo-minerais são formados pelas combinações das folhas de tetraedros de silício, gibsita e brucita. As estruturas com duas folhas são formadas por uma folha de tetraedros e uma folha de octaedros, sendo ditas estruturas 1:1. As estruturas com três folhas são formadas por um “sanduíche” com duas folhas de octaedros tendo ao centro uma folha de tetraedros, sendo ditas estruturas 2:1. Os argilo-minerais mais comuns são as caulinitas, as ilitas e as montmorilonitas, de plasticidades crescentes nesta ordem, cuja descrição sucinta é aqui apresentada. • Caulinitas Em geral, provenientes da degradação de feldspatos presentes no granito são o principal componente do caulim. A unidade estrutural básica característica, mostrada esquematicamente na figura 3.5, é formada por uma folha de tetraedros de silício e uma folha de octaedros de alumínio, sendo considerado um mineral 1:1. A ligação entre as camadas duplas é feita por forças de Van der Waals e por pontes de hidrogênio, bastante resistentes, o que lhes confere uma estrutura rígida e estável em presença de água. Sua fórmula teórica é Al4Si4O10(OH)8. 33 G G Figura 3.5 – Estrutura Básica das Caulinitas Ilitas: As ilitas argilo-minerais do tipo mica (“micalike clay minerals”), provenientes, em geral, da decomposição de micas sob condições marinhas. A estrutura característica das ilitas consiste de camadas triplas com uma gibsita entre duas folhas de sílica, como mostra a figura 3.6, sendo considerado um mineral 2:1. As camadas combinadas são ligadas por íons K+, não trocáveis, que são ligações mais frágeis que as das caulinitas. Sua fórmula teórica é (OH)4K2(Si6Al2)Al4O20. Na vermiculita, argilo-mineral também do grupo das micas, íons cálcio e magnésio estão presentes nas ligações, junto com o potássio, conforme MITCHELL,1976. G K K K K K K G Figura 3.6 – Estrutura Básica das Ilitas • Montmorilonitas: Também chamadas de esmectitas, resultam, em geral, da degradação da ilita e pelo intemperismo de feldspatos em depósitos de cinzas vulcânicas. Consistem do principal componente das bentonitas, argilas formadas a partir de cinzas vulcânicas e solos pretos 34 tropicais de acordo com WHITLOW, 1994. Estruturalmente análogas às ilitas (mineral 2:1), como mostra a figura 3.7, são mais expansivas e instáveis em presença de água, porque as ligações entre unidades de montmorilonita são mais frágeis. Os espaços entre as camadas combinadas são ocupados por moléculas de água e cátions trocáveis para balancear deficiências de cargas insatisfeitas. As ligações entre camadas são feitas por força de Van der Waals e pelos cátions presentes nos espaços interlamelares (entre as camadas), facilmente quebráveis por clivagem ou separadas pela adsorção de fluidos. Sua fórmula teórica é Al4Si8O20(OH)4.nH2O. G n.H2O G Figura 3.7 – Estrutura Básica das Montmorilonitas 3.5. SUBSTITUIÇÕES ISOMÓRFICAS As substituições isomórficas são importante fator na estrutura e comportamento dos argilo-minerais. Entende-se por substituição isomórfica aquela que ocorre nas unidades cristalográficas básicas, onde um íon normalmente encontrado é substituído por outro, mantendo-se a mesma estrutura cristalográfica. O nome substituição é na realidade inadequado. Estas substituições ocorrem durante a formação do mineral, em todos os argilo-minerais, com uma possível exceção da caulinita. Em uma folha de gibsita ideal todos os cátions são de alumínio, em uma folha de brucita todos os cátions são de magnésio, em uma folha de tetraedros de silício todos os cátions são silício. Na formação dos argilo-minerais costumam ocorrer substituições isomórficas tais que algumas posições nas estruturas tetraédricas e octaédricas são ocupadas por cátions diferentes da estrutura ideal. Exemplos comuns são o Al no lugar do Si, o Mg no lugar do Al e o Fe no lugar do Mg. 35 3.6. SUPERFÍCIE ESPECÍFICA Outra importante característica para as argilas é a superfície específica, que é a razão entre a área superficial das partículas de solo e sua massa. A área superficial corresponde ao somatório das áreas superficiais de todos os grãos contidos em uma unidade de massa de solo Quanto menor é o tamanho das partículas maior será sua superfície específica. Assim, as argilas apresentam uma superfície específica maior que os solos granulares, como mostra a tabela 3.1. No caso da migração de líquidos através do solo, quanto maior é a superfície específica maior é o contato e portanto a interação do solo com o fluido dos poros, o que interfere nos processos de transporte. Tabela 3.1 Superfícies específicas típicas (adaptada deWHITLOW, 1995) SOLO SUPERFÍCIE ESPECÍFICA (m2/g) Areia (Quartzo) 0,02 Caulinita 20 Ilita 80 Montmorilonita 800 3.7. SITEMA ARGILA-ÁGUA: CÁTIONS TROCÁVEIS, CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA E DUPLA CAMADA DIFUSA. A superfície das partículas apresenta, em geral, carga eletronegativa, devida principalmente às substituições isomórficas, que provocam um desequilíbrio de cargas. Para neutralizar a eletronegatividade das superfícies das partículas, cátions são atraídos e adsorvidos, permanecendo na superfície e bordos das partículas. Em um solo seco, os cátions em excesso e os ânions associados a estes, estão presentes como sais precipitados. Em presença de água os sais precipitados vão para a solução. Como a concentração dos cátions próximo às superfícies das partículas é maior há uma tendência desses cátions se difundirem para equilibrar a concentração na solução. Essa tendência é, porém, eletrostaticamente contida pela carga eletronegativa das superfícies das partículas, enquanto os ânions são excluídos pelo campo negativo de força das 36 partículas, dando origem a uma distribuição onde se encontra uma concentração maior de cátions próximo à superfície das partículas. A concentração de cátions decresce com a distância à superfície da partícula e a concentração de anions cresce, conforme distribuição mostrada na figura 3.8. A superfície eletronegativa e a distribuição de cargas adjacentes na água formam a chamada dupla camada difusa (DCD), que incorpora o balanço entre as forças de atração dos íons pela superfície das partículas e o gradiente de concentração de íons causando sua difusão a partir
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