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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE TECNOLOGIA GEOLOGIA APLICADA A ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL 1) O processo de extração do carvão implica necessariamente em escavação do subsolo. Quais são as principais características geológicas que interferem diretamente no processo? As características de qualidade de maciços rochosos são fundamentalmente consequência do seu estado de alteração e de fracturação. A ocorrência de água percolando nos maciços actua também, com frequência, na respectiva estabilidade. Importa desde já referir os dois primeiros parâmetros considerados - estado de alteração e grau de fracturação - e fazer considerações sobre os critérios de classificação de maciços neles baseados. O estado de alteração é vulgarmente indicado à custa da sua descrição baseada em métodos expeditos de observação. Em solos, por exemplo, é de grande utilidade a indicação da facilidade com que se desmonta o material com determinados tipos de ferramentas. Em rochas é costume referir-se a maior ou menor facilidade com que se parte o material, utilizando um martelo de mão, ou a sua coloração e brilho como consequência da alteração de certos minerais como feldspatos e minerais ferromagnesianos. O número de graus a considerar em relação ao estado de alteração de uma dada formação varia necessariamente com o tipo de problema e, consequentemente, com a necessidade de pormenorizar a informação respectiva. Na maioria dos casos parece adequado considerarem-se cinco graus de alteração dos maciços rochosos. W1 são sem quaisquer sinais de alteração, W2 pouco alterado sinais de alteração apenas nas imediações das descontinuidades; W3 medianamente alterado alteração visível em todo o maciço rochoso mas a rocha não é friável; W4 muito alterado alteração visível em todo o maciço e a rocha é parcialmente friável. Sempre que se realizam sondagens com recuperação contínua de amostra, um indicador muito utilizado para informar quanto ao estado de alteração das rochas atravessadas, mas também influenciado pelo estado de fracturação destas, é o da percentagem de recuperação resultante das operações de furação. A percentagem de recuperação obtém- se multiplicando por 100 o quociente entre a soma dos comprimentos de todos os tarolos obtidos numa manobra e o comprimento do trecho furado nessa manobra. 3- Que tipos de ensaios (investivação do subsolo) podem ser realizados para minimizar os acidentes? O ensaio consiste em fazer uma perfuração vertical com diâmetro normal 2,5" (63,5mm). A profundidade varia com o tipo de obra e o tipo de terreno, ficando em geral entre 10 a 20 m. Enquanto não se encontra água, o avanço da perfuração é feita, em geral, com um trado espiral (helicoidal). O avanço com trado é feito até atingir o nível de água ou então algum material resistente. Daí em diante, a perfuração continua com o uso de trépano e circulação de água, processo denominado de “lavagem”. O trépano é uma ferramenta da largura do furo e com terminação em bisel cortante, usado para desagregar o material do fundo do furo. O trépano vai sendo cravado no fundo do furo por repetidas quedas da coluna de perfuração (trépano e hastes). O martelo cai de uma altura de 30 cm, e a queda é seguida por um pequeno movimento de rotação, acionado manualmente da superfície, com uma cruzeta acoplada ao topo da coluna de perfuração. Injeta-se água sob pressão pelos canais existentes nas hastes, esta água circula pelo furo arrastando os detritos de perfuração até a superfície. Para evitar o desmoronamento das paredes nas zonas em que o solo apresenta-se pouco coeso é instalado um revestimento metálico de proteção (tubos de revestimento). A sondagem prossegue assim até a profundidade especificada pelo projetista (que se baseia na norma), ou então até que a percussão atinja material duro como, por exemplo, rocha, matacões, seixos ou cascalhos de diâmetro grande. Durante a perfuração, a cada metro de avanço é feito um ensaio de cravação do amostrador no fundo do furo, para medir a resistência do solo e coletar amostras. Esse ensaio, denominado ensaio de penetração ou ensaio SPT, é feito com equipamento e procedimento padronizados no mundo todo, para permitir a correlação de seu resultado com a experiência consolidada de muitos estudos feitos no Brasil e no exterior. O amostrador (figura ao lado) é cravado através do impacto de uma massa metálica de 65 kg caindo em queda livre de 75 cm de altura. O resultado do teste SPT será a quantidade de golpes necessários para fazer penetrar os últimos 30 cm do amostrador no fundo do furo. Se o solo for muito mole, anota-se a penetração do amostrador, em centímetros, quando a massa é simplesmente apoiada sobre o ressalto. A medida correspondente à penetração obtida por simples apoio, ou zero golpes, pode ser expressiva em solos moles. Na penetração por batida da massa conta-se o número de golpes aplicados, para cada 15 cm de penetração do amostrador. As diretrizes para a execução de sondagens são regidas pela NBR 6484, "Execução de Sondagens de simples reconhecimento", a qual recomenda que, em cada teste, deve ser feita a penetração total dos 45 cm do amostrador ou até que a penetração seja inferior a 5 cm para cada 10 golpes sucessivos. A cada ensaio de SPT prossegue-se a perfuração (com o trado ou o trépano) até a profundidade do novo ensaio. No Brasil, as empresas de sondagem estão adquirindo equipamentos com sistema hidráulico e movidos por motor a combustão, para execução do ensaio SPT, cujo amostrador é cravado no terreno por meio de martelo mecânico. Coleta de amostras Na sondagem a percussão são coletadas amostras obtidas pelo amostrador e aquelas retiradas nos avanços dos furos entre um e outro ensaio de SPT, por trado ou lavagem. As amostras retiradas do amostrador devem ser acondicionadas em frascos herméticos para a manutenção da umidade natural e das suas estruturas geológicas. As amostras de trado devem ser acondicionadas em sacos plásticos ou ordenadas nas próprias caixas de amostragem. As amostras retiradas por sedimentação da água de lavagem ou de circulação também devem ser guardadas. Elas são constituídas principalmente pela fração arenosa do solo original, pois os finos geralmente são levados pela água de circulação da sondagem. Índice de resistência à penetração O índice SPT foi definido por Terzaghi-Peck, que nos diz que o índice de resistência à penetração (SPT) é a soma do número de golpes necessários à penetração no solo, dos 30 cm finais do amostrador. Despreza-se portanto o número de golpes correspondentes à cravação dos 15 cm iniciais do amostrador. Ainda que o ensaio de resistência à penetração não possa ser considerado como um método preciso de investigação, os valores de SPT obtidos dão uma indicação preliminar bastante útil da consistência (solos argilosos) ou estado de compacidade (solos arenosos) das camadas do solo investigadas. 4) Com base no texto “CARVÃO BRASILEIRO: TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE”, A) A lavra de carvão e o meio ambiente em Santa Catarina As atividades de lavra a céu aberto, em Santa Catarina, nas décadas passadas não foram desenvolvidas com um adequado planejamento e nem observaram os padrões de recuperação necessários e indispensáveis para manter a qualidade do meio ambiente no entorno das áreas mineradas. O material estéril (compreendendo o material de descobertura) e os rejeitos foram dispostos sem controle, e o solo não foi preservado. Muitas áreas foram simplesmente abandonadas. Isso gerou diversos problemas, que incluíram, entre outros, geração de drenagem ácida de mina, impacto visual, erosão e liberação de gases para a atmosfera, o que comprometia a qualidade do ar. Alguns desses impactos ainda persistem na região. O conjuntoda obra gerou um clamor popular de tal ordem que praticamente a lavra a céu aberto de carvão desapareceu do cenário de mineração no estado de Santa Catarina. B) Recuperação de áreas impactadas pela mineração de carvão a céu Encontramos nos rejeitos do beneficiamento do carvão e nos estéreis escavados, as principais fontes de alteração da qualidade das águas e do solo, haja vista a presença em seu meio de minerais sulfetados. A solução encontrada para obstar a poluição do ambiente por estes materiais foi distinta: (1) para os rejeitos, sua disposição final no solo, confinados no interior de compartimentos especialmente construídos (células de depósito de rejeitos). (2) para os estéreis, retorno à sua condição original no interior do perfil do solo, porém distribuídos sob camadas de argila (remodelamento topográfico/reconstrução do solo). C) aberto em Santa Catarina: gestão de rejeitos e revegetação A disposição final dos rejeitos no interior do solo, confinados em compartimentos especialmente construídos, conhecidos como “células de depósito de rejeitos” ou simplesmente, “células de rejeitos”, teve por objetivo o isolamento destes do contato com o oxigênio e a água, evitando a geração de drenagem ácida de mina e a consequente solubilização de seus constituintes. A vegetação para recomposição das áreas impactadas teve por desafio selecionar espécies que atendessem as necessidades diversas do projeto, tais como o isolamento dos estéreis da superfície pela camada de argila, como também permitir a formação natural, nessa camada de argila, de “áreas verdes” estruturadas na diversidade do bioma da Mata Atlântica. A solução para essas questões, envolvendo todas as particularidades que o assunto requer, foi alcançada pela introdução de espécies pioneiras diversas, apoio ao seu estabelecimento, acompanhamento do processo sucessório e promoção do aumento da biodiversidade local. Plano estratégico adotado para a vegetação das áreas em recuperação: − Semeio de espécies herbáceas e arbóreas nativas pioneiras nas áreas remodeladas, com aplicação concomitante de “turfa ambiental”; − Adensamento dos remanescentes florestais com espécies arbóreas nativas secundárias e climácias; Recomposição da mata ciliar com espécies arbóreas pioneiras, secundárias e climácias nativas; − Implantação de poleiros artificiais “secos” e “verdes”; − Implantação de “Ilhas de Diversidade” no tempo da recomposição das áreas pelas espécies arbóreas pioneiras. D) Controle e mitigação dos impactos da drenagem ácida em operações de mineração Para que toda essa estrutura de solo construída sobre os estéreis se mantivesse protegida e funcional, principalmente no período em que a vegetação estivesse se estabelecendo, um sistema de drenagem de superfície foi executado para captação e direcionamento do excesso hídrico pluvial. O sistema, composto por curvas em desnível, bacias de contenção de sedimentos, escadarias de drenagem com dissipadores de energia e canaletas de plataforma, permitiu que as águas pluviais fossem conduzidas rápida e seguramente aos corpos receptores, sem se contaminarem e sem erodirem o solo criado. Na implantação das estruturas de drenagem, a empresa executora sugeriu a substituição do concreto e do ferro por materiais alternativos, tais como troncos de eucalipto, pedras e geotêxtil, indicando locais no Brasil e no exterior onde a técnica havia sido implantada com sucesso. A alternativa foi aceita pelo projetista e pela CSN e adotada no projeto, viabilizando a integração harmoniosa da engenharia ao meio ambiente (engenharia naturalística).
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