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Teoria da História
Aula 1- A importância da reflexão teórica para o ofício do historiador
A teoria e a Metodologia como fundamento operacional da produção do conhecimento histórico
A produção do conhecimento demanda um procedimento discursivo capaz de dar coerência à mensagem transmitida. É exatamente nesse aspecto operacional que reside a teoria e a metodologia.
O termo “teoria” nos remete à antiguidade grega, quando existia a figura do theorios, quer era o expectador do teatro; ou seja, o ato de teorizar é etmologicamente e culturamente relacionado à observação, à contemplação.
O termo método já relaciona-se ao caminho percorrido para atingir determinado fim; ou seja, o método é uma forma de fazer algo.
O método está vinculado à teoria; uma determinada forma de contemplar determinado objeto implica em um procedimento destinado a traçar um caminho até ele.
Por exemplo, o interesse em determinada experiência histórica demanda uma abordagem, uma certa forma de contemplar e observar essa experiência; a isso chamamos teoria.
A análise desse experiência envolve um procedimento de leitura da historiografia já produzida sobre o tema, o exame da documentação e a produção de um texto destinado a oferecer ao leitor a “sensação de verdade”.
A partir disso, podemos supor que o conhecimento histórico é produto de uma operação intelectual caracterizada pela subjetividade autoral; ou seja, a história não é um relato mecânico sobre o passado, ela relaciona-se diretamente ao seu espaço de produção, à experiência do tempo em que viveu o historiador.
Na sua qualidade de discurso historicamente construído, a história não opera com verdades definitivas e universalmente aceitas. As verdades históricas se apresentam sob a forma de hipóteses e são transitórias, podendo ser questionadas a qualquer momento.
Diante disso, podemos falar que a história é uma espécie de discurso retórico que através de procedimentos teóricos e metodológicos pretende inocular no leitor uma certa “sensação de verdade”.
Revirando o Baú
Uma análise teórico-metodológica demanda a compreensão de outros dois conceitos fundamentais: paradigma e campo.
O paradigma: Uma certa forma de conceber os estudos históricos, uma espécie de “lente” que o historiador adquire com a sua formação e que prefigura a maneira como ele interpreta determinada experiência. Já vimos as principais marcas no paradigma marxista (também conhecido como “materialismo histórico) e do paradigma foucaultiano. Vejamos agora as principais características do paradigma estruturalista.
http://www.youtube.com/watch?v=DHXc4kFy10A&feature=related
O paradigma estruturalista será fundamental para o nosso curso de teoria da história; ele foi hegemônico na historiografia durante grande parte do século XX, quando entrou em crise na década de 1970.
O campo: Os diversos paradigmas historiográficos disputam as “verdades” históricas em um campo específico do conhecimento. A ideia de “campo” nos remete a um espaço de produção do conhecimento relativamente autônomo que funciona de acordo com regras específicas.
Por exemplo, o campo da história possui regras e métodos específicos que o diferencia do campo da literatura. É claro que essa diferenciação não exclui a possibilidade de diálogo entre esses campos.
Podemos dizer então que o campo dos estudos históricos é uma arena de conflito, onde diversas abordagens – paradigmas – disputam a hegemonia. Os donos dessa posição mudam ao sabor das circunstâncias, o que nos leva a definir a história como um conhecimento historicamente construído. Como exemplo disso, vejamos o vídeo da conferência de Carlo Guinzburg, um dos principais representantes do paradigma historiográfico atualmente hegemônico.
Aula 02: História e crise dos paradigmas
Durante grande parte do século XX a historiografia ocidental foi caracterizada pelos paradigmas estruturalistas. 
A principal característica do estruturalismo é a supressão do indivíduo como centro da reflexão. Ou seja, os paradigmas estruturalistas, em suas mais diversas versões, definiram as estruturas como o principal objetivo da análise científica. Entre os paradigmas estruturalistas podemos citar:
O marxismo – trata o indivíduo como uma parte das estruturas produtivas.
A sociologia durkheimiana – trata o indivíduo como uma parte das estruturas sociais.
A antropologia levi-straussiana – trata o indivíduo como parta das estruturas culturais.
Ou seja, na análise estruturalista o sujeito não tem importância como algo em si, como um indivíduo dotado de particularidades, mas sim como a parte de um todo.
Outra característica fundamental do estruturalismo é o apego à cientificidade; as análises estruturalistas pretendem analisar cientificamente a realidade.
Dentro do campo dos estudos históricos, o estruturalismo ganhou muita força com o projeto da “História Social” formulado pelo movimento dos “annales”, fundado em 1929 pelos historiadores franceses Marc Bloch e Lucien Febvre.
Os “annales” criticaram a abordagem historiográfica característica do historicismo, preocupada com a narrativa política dos grandes homens. A grande inspiração teórica dessa crítica à centralidade do sujeito foi a sociologia criada pelo francês Émille Durkheim.
Para Durkheim, a sociologia deve se preocupar com as estruturas sociais enquanto o sujeito deve ser tema da psicologia.
Ainda que tenha certo funcionamento próprio, a atividade letrada não ocupa um mundo à parte e independente do mundo social. De alguma maneira, a atividade intelectual é “contaminada” pela lógica social na qual se insere.
É a partir dessa perspectiva que podemos entender a crise dos paradigmas estruturalistas.
O pano de fundo dessa crise é a experiência da guerra total, especialmente a Segunda Guerra Mundial, que aconteceu na primeira metade do século XX. Essa experiência provocou um grande desencantamento em relação á ciência, que até então era vista com grande otimismo e como o vetor do progresso e da felicidade do homem.
http://www.youtube.com/watch?v=tMCIgV4xu7Y
A perda do prestígio da ciência impactou também o campo da produção letrada; é exatamente no conjunto desses impactos que devemos situar a crise dos estruturalismos.
Nesse sentido, a crise dos estruturalismo foi uma espécie de crise das certezas e da noção de verdade científica; essa crise, que atingiu o seu ápice na década de 1970, inaugurou um tempo de incertezas na grande área dos estudos sobre a sociedade. Foi a partir desse cenário que Friedrich Nietzsche pôde ganhar a posição de um dos pensadores mais importantes da filosofia contemporânea.
Nietzsche foi um filósofo que no século XIX criticou a tradição do racionalismo ocidental que, segundo ele, foi inaugurada pelo pensamento socrático e desenvolvida por Platão e Aristóteles.
Ao contrário do que podemos pensar, a crise dos paradigmas estruturalistas não foi catastrófica, pelo contrário, foi fértil. Foi a partir desse cenário de crise que se abriram várias possibilidades teóricas para os historiadores. Cada uma dessas possibilidades tem as suas particularidades, porém elas se assemelham no ceticismo em relação aos paradigmas estruturalistas. Entre essas possibilidades podemos destacar:
A “Nova” História Cultural, que criticou a abordagem culturalista desenvolvida na “História das Mentalidades.
A “Nova” História Política, que criticou a marginalização do fato político na “História Social” desenvolvida pelos Annales.
A “virada linguística”, que criticou a pretensão de cientificidade da historiografia.
A “micro-história”, que criticou a dimensão macro do estruturalismo.
Revisão da aula
Nessa aula aprendemos que os paradigmas estruturalistas foram hegemônicos na historiografia durante grande parte do século XX.
Vimos também que esses paradigmas entraram em crise na segunda metade do século XX e que essa crise, de alguma forma, relaciona-se à experiência da Segunda Guerra Mundial.
Essa crise foi fértil e abriu diversas possibilidades aos historiadores.
Aula 3- A história econômica e a história social
Ahistória econômica é uma abordagem que foi bastante utilizada pelos historiadores ao longo do século XX.
Economia: O dispositivo que em uma determinada sociedade regula a produção, circulação e o consumo de riquezas. 
Nesse sentido, o historiador da economia tem interesse em entender como uma determinada sociedade produz sua riqueza, a interação entre produtores e consumidores, as relações de poder que fundamentam a produção dessa riqueza e a importância dessas relações para a hierarquia social.
É importante lembrar que nas sociedades pré-capitalistas, das quais podemos citar como exemplo a sociedade do Antigo Regime, a economia não era representada como uma esfera autônoma do mundo social. A produção e a circulação da riqueza era caracterizada pelo “ethos” aristocrático. 
Mesmo nas sociedades capitalistas, a economia não deve ser considerada uma esfera completamente autônoma e opaca às influências das demais instituições sociais. Por isso, a história social e a história econômica estão interligadas.
A grande particularidade das sociedades capitalistas, segundo Karl Marx, é que a economia se tornou o grande parâmetro para as outras atividades sociais. Porém, não podemos esquecer que as atividades sociais se relacionam e, por isso, a racionalidade econômica não pode ser vista como imune aos contatos com as outras esferas do mundo social.
http://www.youtube.com/watch?v=cs6yaMKrEM4
Dentro da abordagem econômica, ao longo do século XX, se destacaram alguns procedimentos metodológicos, como, por exemplo, a história serial. A história serial privilegia a abordagem quantitativa, possibilitada pelo contato com uma extensa documentação capaz de propiciar ao historiador a compreensão da constância e estabilidade de determinada experiência. 
A proposta da história serial foi durante muito tempo canônica no modelo historiográfico proposto pelos Annales.
Aula 4 - A história política e as diversas formas de poder
 Podemos dizer que Tucidides, historiador grego que viveu no século V a.c, foi o fundador da história política.
A história política é uma abordagem historiográfica interessada nas relações de poder em uma determinada sociedade.
A história política assumiu várias formas ao longo da história da historiografia ocidental; esse tipo de abordagem variou de acordo com a concepção vigente de poder no momento de sua produção. Podemos destacar três momentos distintos dessa história:
		1°- A história política desenvolvida por Tucidides – Ao escrever a sua “História” da Guerra do Peloponeso, Tucídides propôs uma abordagem política fundamentada na “autópsia”, ou seja, no recurso à visão como procedimento de investigação histórica.
		2°- A história política desenvolvida nos quadros do historicismo- Uma abordagem do poder comprometida com construção da identidade nacional e fundamentada na análise de fontes escritas. O Alemão Leopold Ranke 
		3°- A história política desenvolvida nos quadros do pós-estruturalismo- Uma abordagem fundamentada no princípio de que o poder assume várias formas e se capilariza pelo corpo social.
A história política no historicismo
O historicismo se caracterizou por uma abordagem caracterizada pela proposição de que o discurso historiográfico e a experiência pretérita se relacionam de forma quase mimética.
A historiografia desenvolvida nos quadros do historicismo era caracterizada pelo compromisso político de fomentar a identidade nacional através da narrativa dos feitos dos “grandes” homens.
Essa relação de proximidade entre historiografia e poder não é uma especificidade do historicismo, mas sim uma característica do discurso historiográfico.
O principal representante da historiografia política historicista foi Leopold Ranke.
A história política no pós-estruturalismo
Como vimos anteriormente, as abordagens estruturalistas foram profundamente questionadas. Vimos também que essa crise foi bastante fértil já que abriu um vasto leque de possibilidades aos historidadores contemporâneos; uma dessas possibilidades foi a re-vitalização da história política, que foi marginalizada na historia social desenvolvida nos quadros da Escola dos Annales.
Essa “nova” história política é caracterizada por um conceito multifacetado de poder; ou seja, o poder não é mais analisado somente em sua dimensão “macro”, na dinâmica da força repressiva do Estado. Muito em virtude das contribuições de Michel Foucault, o poder passou a ser analisado em sua dimensão micro-física, presente nas mais diversas e cotidianas ações sociais.
Aula 5 - As influências de Tucídides e Heródoto na historiografia contemporânea e a crise dos paradigmas estruturalistas
A cultura histórica ocidental no século XIX foi marcada pelo paradigma historicista, que tinha como grande característica a produção de uma história política comprometida com a narrativa da vida dos grandes heróis. 
O paradigma historicista tinha em Tucidides a sua grande fonte de inspiração.
Em 1929, os historiadores franceses Marc Bloch e Lucien Febvre fundaram a “Revista dos Annales”, que com o passar das décadas desenvolveu uma crítica ao paradigma historicista e propôs um novo paradigma historiográfico que conhecemos como “História Social”. Em um primeiro momento, a História social dos Annales esteve preocupada com os fatores econômicos.
Um dos grandes teóricos inspiradores da história social desenvolvida pelos Annales foi o sociólogo francês Émille Durkheim, o principal responsável pela fundação da Sociologia. Para Durkheim, o conhecimento sociológico deve ser caracterizado pela metodologia científica e não deve se limitar ao estudo de indivíduos, esse seria o campo de estudos da Psicologia. Nesse sentido, o grande objeto da sociologia deveria ser as estruturas sociais, coletivas e anônimas.
Na esteira da sociologia Durkheimiana, os Annales desenvolveram uma historiografia de inspiração estruturalista preocupada com as massas anônimas e com a lenta mudança das estruturas sociais.
Essa inspiração estruturalista foi hegemônica na historiografia ocidental até a década de 1970, quando aconteceu a crise dos paradigmas estruturalistas.
Dentro do paradigma estruturalista se desenvolveu, a partir da década de 1950, uma abordagem cultural. Chamamos essa abordagem cultural de “História das Mentalidades”, que foi buscar sua inspiração em Heródoto.
A História das Mentalidades se fortaleceu no período em que Fernand Braudel foi o principal líder da Escola dos Annales. Podemos dizer que a “História das Mentalidades” foi influenciada pela antropologia estruturalista de Claude Lévi-Strauss.
É importante saber que a “História das Mentalidades” se encontra dentro do projeto da “História Social” desenvolvido pelos Annales; ou seja, a abordagem cultural desenvolvida pela “História das Mentalidades” também tem perfil estruturalista.
A “História das Mentalidades” é baseada no conceito de “utensilhagem mental”; ou seja, na suposição de que existe uma estrutura cultural em um determinado contexto histórico e que essa grade pode ser encontrada nas ações dos sujeitos inseridos nesse contexto.
A partir da década de 1970 os paradigmas estruturalistas, incluindo aí a “História das Mentalidades”, passaram a ser severamente questionados. 
A crise dos Paradigmas Estruturalistas e as múltiplas possibilidades da historiografia contemporânea
A experiência das Guerras Mundiais provocaram desencantamento em relação à técnica cientificista, o que, consequentemente, levou ao questionamento dos paradigmas estruturalistas.
Esse cenário de desencantamento engendrou mudanças no campo disciplinar da história, entre estas podemos destacar:
A crise da “História das Mentalidades” e o desenvolvimento de uma outra abordagem cultural. Essa “Nova” História Cultural, que tem o historiador Roger Chartier como seu principal representante, se debruça sobre a lógica das práticas e representações dos sujeitos históricos. Nesse sentido, podemos dizer que a “Nova” História Cultural é uma crítica à História das Mentalidades.
A revitalização da abordagem política e o desenvolvimentode uma nova concepção de poder. O principal inspirador dessa abordagem foi o filósofo francês Michel Foucault, que desenvolveu a noção de que o poder se capilariza e assume uma dimensão microfísica.
É importante saber que o cenário de crise dos paradigmas estruturalistas é bastante fértil e desenvolveu várias possibilidades para o atual campo da pesquisa histórica. De abordagens estruturalistas, baseadas na consideração de que o sujeito não deveria ser o centro da atenção do historiador, os atuais paradigmas são atentos às práticas cotidianas e às estratégias mobilizadas pelos atores históricos.
Aula 06: A micro-história e outras abordagens disponíveis ao historiador contemporâneo
Geertz afirmou a impossibilidade de um conhecimento rigoroso sobre objetos amplos e totais; porém, a impossibilidade de conhecer tudo não significa que é impossível conhecer algo. Por isso, o antropólogo norte-americano propõe uma análise antropológica baseada no procedimento metodológico da “descrição densa”, que significa a análise cuidadosa de uma realidade micro e recortada de acordo com o critério do tempo e do espaço.
Aula 07: A micro-história e outras abordagens
Todo trabalho historiográfico precisa definir com precisão um problema – a questão que será investigada -, um recorte cronológico e um recorte espacial. Sem a proposição dessas definições a pesquisa fica sem rumo e confusa.
Exemplo de problemas históricos:
		“Como os militares do exército brasileiro construíram uma memória da Guerra do Paraguai (1864-1870) na década de 1880?”
		“Como o escritor paulista Eduardo Prado desenvolveu uma argumentação política crítica à primeira ditadura militar brasileira?”
Os dois exemplos mostram problemas de pesquisa caracterizados por um recorte cronológico e espacial circunscrito. É exatamente essa a grande característica da historiografia contemporânea: as macro-análises interessadas nas totalidades históricas são cada vez mais alvo das desconfianças dos historiadores profissionais, que preferem trabalhar com realidades mais recortadas.
A definição do problema é importante também porque condiciona a escolha das fontes que serão utilizadas na pesquisa; por exemplo, se o problema aborda a história da arte, as fontes visuais serão fundamentais, se o problema aborda história da imprensa, são os jornais que serão o escopo básico da documentação analisada. Com isso podemos dizer que as fontes históricas são polissêmicas.	
-O tempo como uma categoria cultural-histórica
A forma como nos relacionamos com o tempo não é determinada pela natureza e tampouco pela biologia. O “tempo” é uma categoria cultural construída historicamente que se transforma ao sabor das instituições sociais e culturais que estão ao seu redor.
O espaço como categoria cultural e histórica
O mesmo tipo de reflexão que desenvolvemos para o tempo, pode ser desenvolvida para a noção de “espaço”; por exemplo, o espaço nacional é um conceito construído no século XIX.
A polissemia da fonte histórica
As fontes históricas podem assumir várias formas, entre estas podemos destacar dois tipos:
- As fontes escritas – típicas da historiografia historicista desenvolvida por Ranke.
- As fontes orais- características do atual momento da historiografia, definido pela escritora argentina Beatriz Sarlo como a “Era do Testemunho”.
Aula 08: História oral, memória e biografia 
O testemunho oral como uma fonte privilegiada na historiografia contemporânea
Durante a vigência do cânone estruturalista (final do século XIX até a década de 1950), a historiografia ocidental foi caracterizada pela ênfase nas estruturas sociais e econômicas. A derrocada dos estruturalismos, o que no campo da historiografia correspondeu à falência do modelo da história social, o sujeito voltou a atrair a atenção dos historiadores profissionais.
Esse cenário intelectual permitiu que os relatos e memórias individuais se tornassem um problema nobre para a historiografia contemporânea.
A centralidade do conceito de memória para a historiografia contemporânea
A memória é fundamental para a historiografia, que, em si, pode ser pensada como um tipo de memória. 
A memória não deve ser pensada como uma reprodução mecânica do passado, mas sim como um ato de re-significação criativa da experiência pretérita; ou seja, somente é possível lembrar do passado com os pés fincados no presente e, ao fazê-lo, o sujeito que lembra marca sua memória pela sua vivência.
Nos estudos atuais sobre o problema da memória, o esquecimento ganhou uma dimensão de positividade; ou seja, o esquecimento não é pensado como falha da memória, mas como um elemento constitutivo do ato mnemônico.
Nesse sentido, as perguntas que fazemos ao passado são inseparáveis da forma como nos relacionamos com o mundo.
A história do século XX foi marcada por inúmeras experiências traumáticas: os totalitarismo de direita e esquerda, o holocausto, as ditaduras latino-americanas e etc.
	
Todas essas experiências produziram a figura da vítima, que no século XX foi convertida em testemunha. 
		http://www.youtube.com/watch?v=6beGgNxPruI&feature=fvst
		http://www.youtube.com/watch?v=5Ak7Rsm52Gs
A problematização do testemunho das sujeitos históricos se tornou uma das principais características da historiografia contemporânea. Entretanto, não podemos supor que o testemunho é tomado como uma via de acesso direto à experiência; pelo contrário, os historiadores dedicados ao trato com esse tipo de documentação levam em conta a biografia das testemunhas e se debruçam sobre os relatos dessas testemunhas.
Uma das principais referências para os estudos contemporâneos dedicados ao problema da memória é o sociólogo francês Maurice Halbawchs; apesar de ser um pensador de formação durkheimiana, Halbawchs é a base dos estudos pós-estruturalistas a respeito das representações mnemônicas. Esse autor destacou a dimensão social da memória, ou seja, cada sujeito lembra sob as motivações das circunstâncias sociais que marcam a sua vida.
A febre biográfica na historiografia ocidental contemporânea
Desde a publicação das “Vidas Paralelas” de Plutarco que a biografia é um gênero privilegiado na historiografia ocidental.
No historicismo do século XIX a biografia se tornou o principal gênero de escrita historiográfica; por outro lado, a biografia historicista em pouca coisa lembra a atual biografia, que podemos chamar de “pós-estruturalista”.
No historicismo a escrita biográfica esteve comprometida com a narrativa da vida dos grandes homens.
A biografia pós-estruturalista critica as concepções de “gênio”, “dom” e “destino”, que durante muito tempo inspiraram a escrita biogrâfica.
Nesse sentido, o atual regime biográfico está preocupado em destacar a dimensão não linear da vida visando não incorrer naquilo que Pierre Bourdieu chamou de “ilusão biográfica”; ou seja, o cuidado de não tomar o início de uma vida a partir do seu fim.
Fontes históricas:
fontes textuais: Podemos inserir nesse grupo todo tipo de documentação escrita: processos crimes, imprensa, correspondência, inventários e etc. Durante muito tempo, os historiadores se debruçaram quase que exclusivamente sobre esse tipo de fonte. 
fontes não textuais: Com a diversificação do procedimento historiográfico, a comunidade dos historiadores profissionais passou a se debruçar sobre novos problemas, o que, obviamente, trouxe a necessidade da diversificação das fontes. Foi nesse movimento que as fontes escritas perderam a sua posição de quase exclusividade; outros tipos de material, tais como as imagens, os sons, os filmes, passaram a ser submetidos à análise do historiador. 
É possível subdividir o grupo das fontes em categorias específicas tais como:
Fontes iconográficas: Todo tipo documentação que pode ser enquadrada na categoria “imagens”. 
Fontes sonoras: Os sons também podem ser compreendidos como produto da atividade humana e, como tais, também podem ser objeto de interrogação historiográfica. 
O trato com as fontes não textuais demanda que o historiador trabalhe com umsignificado amplo do conceito de “discurso”, que pode ser entendido como um conjunto diversificado da capacidade comunicativa da cultura humana.
Apesar de terem uma lógica comunicativa diferente, as fontes não escritas, assim como as escritas, precisam ser submetidas à crítica historiográfica. Ou seja, o historiador que trabalha com sons ou imagens não pode supor que esse tipo de material lhe permite um acesso direto e mecânico à experiência analisada. É necessário entender que esses materiais comunicam sua mensagem a partir de um lugar específico e que eles não são nem mais e nem menos fidedignos do que as fontes textuais. 
Já que as fontes não escritas são de um tipo específico, elas exigem que o profissional adote um procedimento igualmente específico. Por exemplo, o historiador interessado na história da arte (seja a arte plástica ou a arte musical) precisa levar em consideração os seguintes conceitos:
	- Forma, gênero e estilo de época.
A partir desses conceitos o historiador consegue analisar o corpus documental de sua pesquisa; ele será capaz de definir a forma da fonte, ou seja, se escultura, pintura, música ou teatro, o gênero, se arte sacra ou expressionista, e o estilo da época, ou seja, como o material artístico dialogo com as instituições sociais que estão ao seu redor.
É necessário, então, que o historiador especializado no trato com documentação não escrita seja capaz de entender como que o seu material se relaciona com a experiência analisada. Com isso podemos concluir que um historiador da música está menos interessado na estrutura interna da música do que na compreensão de como a música, entendida como prática social, pode lhe permitir a compreensão de uma determinada experiência.

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