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Inflação: conceito e tipos

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INFLAÇÃO
INTRODUÇÃO:
 A inflação é um fenômeno por demais conhecido das sociedades monetárias e se caracteriza pela alta generalizada e persistente dos preços, de tal forma que uma simples elevação de preços que não se prolonga, ou mesma uma alta que se restrinja a apenas determinados tipos de produtos não caracteriza um processo inflacionário.
 A inflação é também a expressão de que algo está desequilibrado em determinada economia onde esta se apresenta. Afinal, a inflação é como uma febre que avisa que o corpo está doente e precisa ser tratado. Assim é que a inflação provoca diversos problemas no sistema de preços, no mercado de crédito, no mercado de trabalho, etc. Mas, sua principal conseqüência é o processo de concentração de renda que desencadeia e a crescente disputa por fatias da renda nacional e não apenas pelo crescimento desta renda. Isto porque se os preços estão subindo, ninguém quer esperar que estes subam primeiro para depois subir o seu. Todos procuram se antecipar e com isso saem na frente aqueles com maior poder de mercado, o que vai transferindo a renda dos mais frágeis para os mais poderosos e alterando os preços relativos de tal modo que determinados produtos vão ficando mais caros frente a outros.
 Uma característica sempre encontrada nos processos inflacionários é o crescimento mais que proporcional da quantidade de moeda no sistema e, embora até hoje alguns discutam se o aumento da quantidade de dinheiro provoca a inflação ou se a elevação dos preços é que acaba por exigir mais moeda, o importante é que existe uma correlação muito grande entre quantidade de moeda e preços. Assim, a primeira teoria explicativa sobre inflação teve por base a teoria quantitativa da moeda que pode ser resumida com a seguinte equação: MV=PT; onde: M é a quantidade de moeda, V é a velocidade de circulação da moeda, P são os preços e T é o volume ou quantidade física de mercadorias. Assim, sabendo-se que no curto prazo a velocidade de circulação é culturalmente constante e o volume de produção também o é já que não se altera rapidamente, poder-se-ia afirmar que um aumento na quantidade de moeda significaria um correspondente aumento nos preços, mantendo-se a igualdade. Obviamente, por esta teoria, o combate a inflação seria simples e único. Bastaria diminuir a quantidade de moeda do sistema que a inflação cairia aos níveis de preços desejados. Neste caso não importam o desemprego causado nem a quebradeira de empresas. Afirma-se que os que não fossem capaz de se manterem seria porque “viviam” da própria inflação, não cabendo-lhes lugar em um mercado competitivo. De todo modo, estes possivelmente seriam reaproveitados quando a economia retomasse seu curso normal de crescimento sem inflação.
 A sofisticação dos elementos de análise através do tempo, foram dando lugar a tipificação de diagnósticos de inflação. Dentre os mais conhecidos temos 4 tipos de inflação:
Inflação de Demanda: Derivada diretamente da teoria quantitativa da moeda, afirmava que a inflação tinha origem no aumento desmesurado da quantidade de moeda resultante de um governo perdulário acompanhados por agentes econômicos que se comportavam como o governo, gastando mais do que arrecadavam ou do que seus respectivos poder de compra. Este comportamento acabava por criar uma demanda maior que a oferta, com o que os preços subiam sancionados por uma oferta adicional de moeda. O combate à inflação deveria, portanto, seguir a receita de diminuir os gastos do governo ao nível do que este arrecadasse de impostos (fim do déficit público) e restrições ao crédito. Feito isto, bastava controlar a quantidade de moeda do sistema e impedir o governo de fazer novas emissões de moeda.
 Principais instrumentos de política monetária para controlar a quantidade de moeda no sistema:
Depósito compulsório bancário: Consiste na fixação pelo Banco Central, da percentagem dos depósitos do público junto aos bancos, que devem ser colocados indisponíveis para uso e empréstimos junto ao Banco Central. Assim, se o Banco Central aumenta a percentagem do depósito compulsório, diminui a quantidade de dinheiro na economia;
Política de Open-Market: Consiste na colocação ou recompra de títulos públicos do Tesouro Nacional junto ao mercado. Assim, se o governo quiser diminuir a quantidade de moeda no sistema, ele emite títulos e os troca por dinheiro no mercado. Aí, retira este dinheiro do mercado até a data de seu vencimento ou antes disso, se quiser novamente aumentar a quantidade de dinheiro do sistema. Para tanto, basta recomprar o título e devolver o dinheiro ao mercado;
 Controle do Crédito: Consiste em o Banco Central proibir que os agentes financeiros emprestem acima de determinado valor total, geralmente menor do que no ano anterior, ou ainda que financiem bens ou mesmo emprestem dinheiro para pagamentos em muitas prestações. Com isso, limitam a demanda dos agentes privados por novos bens de consumo ou gastos exagerados;
Política de Redesconto. Consiste em fixar a taxa de juros que vai incentivar ou desincentivar o banco a redescontar um título junto ao Banco Central. Ou seja, quando por exemplo uma empresa vende para recebimento futuro, ela pode esperar a data de vencimento da obrigação ou título ou então, ir a um banco e descontar este título de tal forma que o banco fica com o título e lhe paga o valor deste, descontado o valor da taxa de juros que ele cobra. Poderíamos exemplificar como um título de R$ 100,00 que seria descontado por R$ 95,00 ( taxa de juros de 5%). Na data de vencimento, o banco poderia resgatar o título pelo valor original (R$ 100,00). Mas, também, poderia não querer esperar a data de vencimento e fazer a mesma operação com o Banco Central que poderia redescontar este título à determinada taxa de juros. É obvio que os bancos somente vão procurar o Banco Central se a taxa de juros cobrada por este for baixa e, neste caso, o Banco Central estará colocando dinheiro no mercado, porque estaria trocando um título de dívida futura, por dinheiro agora. Para desincentivar os bancos a fazerem tal operação, basta elevar a taxa de juros.
Medidas de controle dos gastos públicos e de restrições ao crédito (aumento da taxa de juros ou controle de crédito) aliados a “sintonia fina” que poderia ser feita quase que diariamente com estes instrumentos de política monetária, diminuiriam sensivelmente a quantidade de moeda e a demanda da economia, o que seria suficiente para acabar com a inflação segundo os defensores desta teoria de inflação de demanda.
Inflação de Custos: Este tipo de inflação aconteceria em mercados onde há imperfeições na concorrência. Ou seja, onde existissem sindicatos de trabalhadores muito poderosos e empresas que dominassem mercados, poderíamos assistir a uma espiral inflacionária a partir de algum “choque de preços” inicial. Assim, a partir de um aumento em uma matéria-prima largamente utilizada na economia como o petróleo, por exemplo, ou de uma mudança na taxa de câmbio que favorecesse as exportações mais tornasse mais caros os produtos importados, começaria um processo de repasse para os preços daquele aumento de custos. Mas, isto afetaria o poder de compra dos salários, então os sindicatos iriam reivindicar o repasse para seus salários do reajuste dos preços. Entretanto, como salários são custos para as empresas, estas se viam diante da necessidade de reajustar seus preços novamente, o que produziria nova onda de reivindicações salariais e posteriormente reajustes de preços, criando um círculo vicioso interminável. É óbvio que dentro desta ótica, se não houvesse interferência dos sindicatos nem empresas capazes de impor preços sem concorrência, o aumento de custos inicial seria absorvido no primeiro impacto e logo cessaria. Seria, portanto, as interferências patronais e/ou trabalhadoras que mantinham as condições para o crescimento da inflação. Caberia ao governo como agente zelador da concorrência “quebrar” estas resistências retirando poderdos sindicatos trabalhadores e abrindo a concorrência à novos produtores, para que a inflação não resistisse. Se isto não fosse feito é porque o governo não era competente o suficiente para administrar a economia e a inflação era o resultado disso.
Inflação Estrutural: Este tipo de inflação foi diagnosticado pelos economistas da CEPAL (Comissão Econômica Para a América Latina) como sendo característica de países que foram ex-colônias e não conseguiram atingir o estágio dos países desenvolvidos. Para estes economistas a inflação era decorrente de problemas originados da própria estrutura de produção dessas economias que por se apresentarem com relativo atraso econômico, político e social acabavam por refletir estes desequilíbrios de forma inflacionária. Países como por exemplo o Brasil, necessitavam de elevados gastos governamentais tanto em empresas produtivas em setores não atrativos para iniciativa privada, como em infra-estrutura e para resgatar a dívida social. Só isso fazia com que o governo fosse obrigado a gastar mais do que poderia arrecadar com uma população em sua ampla maioria de miseráveis. Além disso, a produtividade agrícola e de mineração era muito pequena porque estava assentada sob modo quase feudal de produção e, estes eram os setores econômicos mais importantes da economia desses países periféricos desde os tempos coloniais. Assim, a inflação somente poderia ser combatida a partir de reformas de base que mudassem o perfil estrutural da economia.
Inflação Inercial: O conceito de inflação inercial deriva da lei de inércia da física, no sentido de que um corpo uma vez em movimento tenderia a manter este movimento infinitamente se não houvesse força contrária atuando em sentido oposto ou a interferência do atrito. Transportada a idéia para o plano econômico, e diante de uma economia indexada, verifico-se que sempre que anunciado o índice de inflação, todos tendiam a reajustar seus preços no valor do índice anunciado, repetindo como que por inércia os reajustes passados. Desta forma a inflação no mínimo se repetia no momento seguinte, impedindo o combate a inflação. Para combater este tipo de inflação seria necessário interromper o movimento inercial e acabar com a indexação dos preços e salários aos índices de inflação. 
 II) O Plano Cruzado:
O Brasil vinha desde a segunda metade dos anos 80, tentando praticar políticas gradualistas de combate a inflação que, entretanto, não davam resultados na medida em que os preços permaneciam se elevando ano após ano, sem dar sinais de controle. Assim, em finais de 1985, começava a ficar claro que, se não fossem aplicados ‘remédios’ mais fortes para controlar a alta acentuada dos preços, em pouco tempo o Brasil poderia enfrentar o efeito devastador de uma hiperinflação.
Foi exatamente nas experiências de hiperinflações no mundo, como por exemplo às da Bolívia, Alemanha, Iugoslávia, Áustria, etc., que os economistas do Brasil foram procurar soluções para o problema do combate à inflação. Nestas experiências, os economistas puderam constatar que após a inflação atingir elevados índices e enorme velocidade de reajustamento de preços, abruptamente, como de uma hora para outra, a inflação se esgotava e os preços se estabilizavam. Entretanto, quando chegado este momento, a economia do país já estava toda destruída e o número de desempregados era extremamente elevado. A questão era: como conseguir esta estabilidade, sem passar pelos dissabores da destruição econômica?
 A partir das análises das experiências, pôde-se constatar que a inflação acabava abruptamente, porque esta perdia sua funcionalidade, ou seja, quando os reajustes dos preços tornavam-se quase que instantâneos no tempo, ninguém mais ganhava ou perdia na corrida sobre a renda nacional, apenas que, todos se mantinham relativamente na mesma posição à um nível de preços mais elevado. Isto, é matematicamente igual a nenhum reajuste de preços porque os trocas entre os produtos passavam a se dar sempre pelas mesmas quantidades. Ora, se reajustes de preços generalizados, quase que instantâneos e nos mesmos patamares significavam preços relativos inalterados, os preços reais tinham reajuste zero e, poderiam ficar parados. Assim, era possível criar uma situação de parada instantânea e abrupta de preços, de forma artificial, que atingisse a todos ao mesmo tempo, antes que a economia fosse devastada pela hiperinflação.
Com esta fundamentação teórica, foi elaborado o Plano cruzado que tinha como base uma Lei Federal determinando que todos os preços da economia permaneceriam ‘congelados’ a partir de 28 de fevereiro de 1986, no patamar do último preço praticado. Assim, a inflação declinou rapidamente e o plano parecia ser um grande sucesso. Haviam, entretanto, três problemas que logo começaram a ameaçar o plano. Em primeiro lugar, junto com a estabilização dos preços o governo concedeu um reajuste de salários a todos os trabalhadores e além disso aplicou um desconto em todas as prestações que ainda estavam por se pagas nos próximos meses. Isto, aumentou muito rapidamente o poder de compra da população sem que tivessem aumentado a quantidade de produtos oferecidos. Em outras palavras: houve um grande aumento da demanda sem contrapartida na oferta de bens. Em segundo lugar, escaldados por larga experiência de controle de preços no Brasil, diversas empresas começaram a utilizar mecanismos de burla ao congelamento de preços que vieram a viabilizar o aparecimento do ágio. Em terceiro lugar, o Brasil encontrava-se carente de reservas de divisas internacionais, com o que não poderia enfrentar o desabastecimento com importações nem a má vontade dos investidores estrangeiros com o tratamento de choque escolhido pelo Brasil. Vejamos mais detalhadamente o primeiro problema.
principais mecanismos de burla ao ‘congelamento’ de preços:
lançar produtos ‘novos’ com diferenças mínimas, muitas vezes apenas visuais, com relação ao que já estava no mercado;
modificar a quantidade ou peso de apresentação de produto para o consumidor;
separar produtos antes vendidos conjuntamente ou juntar produtos antes vendidos separadamente;
vender produtos condicionados ao pagamento do frete;
Diante de tais mecanismos, e da generalização de práticas iguais ou semelhantes, o consumidor se viu obrigado a pagar ágio pelos produtos que desejava ou simplesmente não conseguir obtê-los. O governo então passou a tentar suprir o abastecimento com importações, mas o seu nível de reservas internacionais não permitiam compras muito elevadas e, por outro lado, o mercado de crédito internacional para o Brasil estava fechado, seja pela falta de capacidade de pagamento da economia brasileira, seja pela falta de vontade dos investidores internacionais em respaldar uma política que estava de alguma forma penalizando a lucratividade de empresas estrangeiras aquí instaladas. Ademais, com a prática de ágio, os preços estavam na prática sendo reajustados, apenas que, o governo deixava de arrecadar impostos sobre a parte do valor cobrado que ficava fora da nota fiscal. Assim, pouco a pouco, o governo foi se rendendo à necessidade de reconhecer os aumentos de preços e o retorno a situação anterior de alta generalizada de preços. Estavam repostas as condições pretéritas de inflação.
Apesar do fracasso, mas por receio do descontrole inflacionário, o Brasil ainda tentou dois outros congelamentos de preços. O chamado Plano Bresser, em alusão ao então Ministro da Fazenda, em maio de 1987, e posteriormente, o Plano verão, em janeiro de 1989. Ambos fracassaram pelos mesmos motivos e até de maneira mais rápida já que os próprios agentes já conheciam cada vez mais a fragilidade do mecanismo de congelamento de preços.
III) O Plano Collor:
Plano Collor teve como característica inicial o fato de ser um conjunto de medidas extremas frente a uma inflação descontrolada e, principalmente, com data marcada para ser anunciada. Ou seja, o Presidente eleito tomaria posse no dia 15 de março de 1990 e teriaque anunciar um programa audacioso de combate a inflação. Isto por si já vinha fazendo com que se acelerasse a corrida de preços às vésperas da data “fatal” e provocasse um movimento de defesa dos recursos financeiros, de tal forma que os aplicadores deslocavam seu dinheiro para o local tido como o mais seguro: as cadernetas de poupança.
A questão que se colocava era: como combater uma inflação galopante, tendo o congelamento de preços como instrumento desmoralizado em que os detentores da riqueza contestavam a capacidade do governo de manter os preços estáveis? Assim, o governo sabia que era preciso antes de qualquer coisa retirar a capacidade dos aplicadores de recursos financeiros de transformar suas riquezas que estavam na forma dinheiro, em produtos reais, o que iria provocar uma enorme pressão sobre os preços. A quantidade de dinheiro em circulação era muito superior a produção e naqueles tempos de inflação galopante a tendência de todos os agentes econômicos era se desfazer rapidamente do dinheiro que não parava de se desvalorizar, e adquirir bens materiais para se defender. Além disso, a dívida do governo em títulos com correção monetária era enorme e se nada fosse feito seria necessário uma grande emissão de papel moeda para poder pagar os compromissos da dívida. Nesta situação o dinheiro era um bem de pouco valor e isso em nada contribuía para o fim da inflação.
O governo à época se viu diante de algumas opções. Dentre elas: a) Simplesmente não reconhecer as dívidas em títulos públicos e promover um enorme calote, o que significaria perder toda a credibilidade, um desastre jurídico e fulminaria a riqueza aplicada em títulos financeiros; b) Rodar papel moeda em quantidade suficiente para pagar todas as dívidas, mas isso iria produzir uma inflação cavalar no curto prazo e de nada serviria o dinheiro recebido pelos aplicadores porque estes não teriam o que fazer com aquele dinheiro desvalorizado e nem haveria produtos suficientes para atender a demanda resultante dessa avalanche de dinheiro; c) manter tudo como estava e procurar governar com uma inflação que era explosivamente crescente e já estava na casa de 84% ao mês; d) retirar do mercado arbitrariamente uma quantidade significativa de dinheiro aplicado no mercado financeiro, ainda que de forma apenas temporária, de modo a manter baixo o volume mas valorizado o papel moeda em circulação.
 Esta última foi a fórmula escolhida porque dava um golpe imediato na inflação, sem pulverizar de uma vez por todas com a riqueza em títulos, já que havia a promessa de devolução do dinheiro posteriormente. Mas apresentava como principais defeitos, o fato de ser uma ofensa jurídica porque tornava arbitrariamente indisponível o dinheiro de diversos cidadãos e, também, porque ao manter existindo aquele dinheiro, o governo era alvo fácil de pressão para desbloqueá-lo. De todo modo, o plano consistiu em reter, indisponíveis por um ano e meio todos os valores depositados em contas bancárias, cadernetas de poupança e títulos financeiros que ultrapassassem a 50 mil cruzeiros reais de modo a que a economia fosse as poucos se recuperando monetariamente e o dinheiro se tornasse a mercadoria mais valorizado do sistema, com o que os preços cairiam violentamente na medida em que todos precisariam vender produtos baratos e rapidamente para conseguir dinheiro para suas necessidades. O congelamento de preços neste momento entrou apenas como medida adicional, e serviu muito mais para a economia ter uma referência de preços naquele momento de perplexidade. O fato de até as cadernetas de poupança terem sido afetadas, foi decorrência do próprio movimento de defesa dos aplicadores que ao perceberem que seria inevitável uma ação forte e arbitrária do governo no mercado de títulos financeiros correram para as cadernetas de poupança com objetivo de não serem atingidos. Mas, se depois de todos migrarem para as cadernetas de poupança, o governo não avançasse sobre elas, de nada teria valido reter o dinheiro das outras aplicações na medida em que já não representavam mais grandes volumes de recursos.
No primeiro momento o plano foi um grande sucesso. Apesar do desespero de diversos aplicadores, o plano foi inicialmente elogiado por economistas de todos os partidos e até pelo FMI. Tanto foi assim, que o plano foi aprovado no Congresso Nacional, como também, não houve amparo no Judiciário para ações de inconstitucionalidade enquanto o plano dava sinais de resultados concretos contra a inflação galopante do período anterior. A deflação do primeiro mês mostrava que o tiro teria sido certeiro, não fosse o fato de que a pressão sobre o governo para liberar o dinheiro retido foi superior a capacidade do governo de manter o dinheiro fora de circulação. Aos poucos, mas já nos primeiros meses, através de artifícios bancários e contábeis, além de imagens emotivas na televisão, os principais detentores da riqueza conseguiram liberar seus recursos retidos. Assim, depois de três meses só permanecia retido o dinheiro dos pequenos aplicadores que pouca importância tinha na estratégia de combate à inflação, os preços começavam a se mover para cima novamente em função do aumento da quantidade de dinheiro em circulação e, somente restavam o desacreditado congelamento de preços e um governo que começaria a pagar o preço da ousadia inicial, sem os resultados prometidos. Nestes termos, pelas mesmas razões anteriores a inflação retornou e em fevereiro de 1991 o governo tentou um novo congelamento de preços para impedir o descontrole que já era iminente.
Apesar de tudo isso a administração econômica do governo Collor foi fundamental para o sucesso posterior do plano real. Em primeiro lugar, pela abertura econômica do mercado brasileiro aos produtos estrangeiros que aumentou significativamente a concorrência obrigando as empresas aqui instaladas a produzir com maior qualidade e vender seus produtos a preços mais próximos daqueles encontrados no mercado internacional; Em segundo lugar porque de uma forma ou de outra, a retenção do dinheiro disponível permitiu que o governo diminuísse significativamente a sua dívida em títulos, tornando o governo mais facilmente administrável do ponto de vista financeiro; Em terceiro lugar porque mostrou a inconveniência de medidas juridicamente questionáveis ainda que em nome do bem comum.
Depois dessa experiência e diante, inicialmente, de um governo que já não tinha mais a menor credibilidade, e depois de um governo “de transição” como era caracterizado o governo Itamar, não restava outra alternativa se não preparar o caminho para um novo plano que seria gestado com calma e voltado principalmente para as eleições do próximo governo. A estratégia do governo passou a ser a de procurar manter estável o mercado, com elevadas taxas de juros que pudessem ao mesmo tempo conter a explosão do consumo e atrair capitais estrangeiros que buscavam elevados rendimentos financeiros para suas aplicações. Assim, o governo pode acumular divisas em moeda estrangeira o suficiente para arriscar-se em um novo plano: O Plano Real.
IV) O Plano Real:
Diante de uma situação de reservas de divisas elevadas e mercado aberto aos produtos estrangeiros, a equipe econômica do Governo Itamar pôde se aproveitar das experiências anteriores e formular um plano que envolvesse a teoria do Plano Cruzado, com a retirada de grande massa de dinheiro do mercado sem, entretanto, ferir as regras jurídicas. Ao invés de congelar os preços, criou-se um indexador de preços e salários chamado URV que variava todo dia de valor de acordo com a inflação. Assim, todos passaram, paulatinamente, e a medida que confiavam no indexador, à reajustar seus preços e valores na mesma data (todo dia) e no mesmo percentual (variação da URV), de modo que os preços foram ficando fixos em quantidades de URV e, principalmente, mantendo sem alteração a relação entre as quantidades de produtos na hora da troca. Ou seja, os preços relativos foram ficando estáveis como se ninguém reajustasse preços ou o queé a mesma coisa, como se todos ajustassem instantaneamente, ou ainda, como se tivesse congelado os preços. Apenas, a adesão ao mecanismo era, agora, voluntário e feito de forma suave no tempo.
Ao mesmo tempo, o Governo foi retirando o excesso de moeda do mercado, porque, a medida que os preços se estabilizavam em URV, menos dinheiro era necessário na economia. Além disso, o governo tinha como referência para a quantidade de moeda a permanecer no mercado, o valor da produção em moeda estrangeira e como eram elevadas suas reservas em divisas, pôde usá-las como lastro para a moeda nacional. Deste modo, quando em julho de 1994 o Governo anunciou que a nova moeda, o Real, valeria CR$ 2.750,00, os preços já eram estáveis em moeda forte e a quantidade de moeda no sistema já era pequena o suficiente para ser valorizada. A quantidade de Reais no início era tão pequena que este chegou a valer internamente até mais que a moeda americana. Daí em diante, a tarefa de manter os preços estáveis passou a ser apenas conter o valor do Real muito próximo ao do dólar e, para tanto, era preciso praticar uma elevada taxa de juros para estimular e atrair o capital estrangeiro e manter permanentemente o lastro.
O Plano Real foi um grande sucesso em termos de estabilização de preços, o que por si já foi importante para acabar com o processo de concentração de renda que a inflação causa. Sem inflação, os menos favorecidos e sem acesso às contas remuneradas puderem ter seu poder de compra mantido e até aumentado. Entretanto, a inflação apenas mostrava que havia alguma disfunção na economia. Detê-la, como foi feito, era apenas a abertura do caminho para as mudanças que se faziam necessário para que não houvessem mais causas para seu retorno. Para tanto, seria preciso, pelo menos: equacionar a forma de financiamento do setor público; promover a competitividade das empresas brasileiras para que fossem capazes de grandes volumes de exportação e desta forma o país poder obter divisas; promover a reforma agrária para revolucionar o mercado interno e começar a resgatar a dívida social. Infelizmente, mais uma vez o Governo se acomodou na popularidade fácil da estabilização e pouco fez. Preferiu manter tudo como era antes e financiar seus desequilíbrios com o capital estrangeiro especulativo, dívida do setor público e produtos estrangeiros importados. 
INFLAÇÃO E OS PLANOS BRASILEIROS DE COMBATE À INFLAÇÃO
UM TEXTO DIDÁTICO
(VERSÃO PRELIMINAR)
UNIRIO-ESCOLA DE DIREITO
BENEDITO ADEODATO
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