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ARTS. 130 a 137, 146 a 154, 161 a 167 do CP

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FACULDADES INTEGRADAS DO NORTE DE MINAS - FUNORTE 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
JOSIAS PEREIRA NEVES
KLARA LOPES MARTINS
VITÓRIA BARBOSA GUSMÃO
WILLOW ANDRADE SOUZA
WALLISSON MENDES SANTOS
DIREITO PENAL III
ARTS. 130 a 137, 146 a 154, 161 a 167 do CP
	
MONTES CLAROS – MG
2019
ARTIGO 130
PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º - Somente se procede mediante representação.
No presente artigo o bem jurídico protegido é a incolumidade física e a saúde da pessoa, aqui exposta, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea. O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, portadora da moléstia venérea, seja homem ou mulher. Qualquer indivíduo pode ser vítima, não importando o sexo ou reputação.
A ação incriminada consiste em manter relação sexual ou praticar qualquer ato libidinoso com a vítima, expondo está a contágio de moléstia venérea de que sabe ou devia saber ser portador. Trata-se de delito de ação vinculada, exigindo contato sexual (corpóreo) entre agente e vítima, caso outra seja a forma de transmissão da doença pode ficar caracterizado o crime do art. 131 do CP.
A forma qualificada do delito se dá, quando o agente apresenta o dolo direto, ou seja, ele tinha a intenção de transmitir a moléstia a outrem. Ou seja, o autor do delito não visa apenas a exposição da vítima, ele age com total intenção de contaminar a mesma durante o ato.
Cuida-se de crime de perigo abstrato, consumando-se no momento da prática do ato sexual capaz de transmitir a moléstia venérea, ainda que a vítima não seja contaminada. Não haverá o crime se, apesar da prática dos atos sexuais, mostrar-se ser impossível a criação do risco de contágio. Na mesma esteira, haverá crime impossível se a pessoa com a qual o agente mantém a relação sexual ou pratica ato libidinoso já estiver contaminada, situação em que o perigo de contágio não existirá. A ação penal neste crime só se promove mediante representação do ofendido. 
ARTIGO 131
PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE
Art. 131 – Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir contágio:
Pena – Reclusão, 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
O bem jurídico tutelado no presente artigo é a incolumidade física e a saúde da pessoa, dilatado a sua posição de combate ao perigo de contágio, estendendo-o a todas as espécies de enfermidades contagiosas graves. Porém, exigindo, para a realização do tipo, a intenção do agente de produzir a infecção, agiu com menos rigor do que com relação às doenças venéreas.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, desde que contaminada de moléstia grave contagiosa. Trata-se, de crime próprio, exigindo predicado especial do agente. O sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa, desde que não esteja contaminada por igual moléstia.
Pune-se aquele que, contaminado de moléstia grave (curável ou não) e contagiosa, pratica qualquer ato capaz de transmiti-la a outrem. Trata-se de delito de ação livre, podendo a transmissão ocorrer por qualquer meio, de forma direta ou indireta.
O crime só é punível a título de dolo, isto é, deve o agente buscar a transmissão da moléstia (dolo direto de dano). Não se admite o dolo eventual, com maior razão não há falar que culpa. A transmissão culposa, conforme circunstâncias o agente responderá por lesão culposa. 
Consuma-se o crime com a prática do ato perigoso, capaz de produzir o contágio, independentemente de transmissão (crime formal). Se ocorrer o contágio, resultando lesão de natureza leve, ficará absorvida, considerando o juiz tal circunstância na fixação da reprimenda-base. Se, no entanto, resultar lesão de natureza grave ou morte, por estes crimes responderá o agente causador da transmissão. A tentativa é perfeitamente possível. A pena do crime é perseguida mediante ação penal pública incondicionada.
ARTIGO 132
PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE OUTREM
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.
Como nos artigos 130 e 131, o objeto jurídico tutelado permanece o mesmo, isto é, a vida e a saúde da vítima.
Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa (crime comum). Pune-se aquele que, de qualquer forma coloca pessoa certa e determinada em perigo de dano direto, efetivo e iminente. Pode ocorrer a conduta na forma omissiva, sendo imprescindível, no caso, a criação de uma situação concreta e efetiva de perigo.
A sua voluntariedade é o dolo de perigo (direto ou eventual), consiste na vontade consciente de, mediante ação ou omissão colocar a vida ou a saúde de pessoa(s) determinada(s) em risco iminente. O tipo não prevê a forma culposa. Havendo dolo de dano, ou seja, pretendendo o agente atingir a vida ou a saúde de alguém, responderá por outro crime (tentativa de homicídio ou tentativa de lesão corporal). Surgindo o efetivo risco, o crime considera consumado. 
Existe a causa de aumento da pena (1/6 a 1/3) e se dá, quando o perigo advém de situação de transporte de trabalhador para a prestação do serviço.
O crime é de ação penal pública incondicionada, não dependendo de representação da vítima, ou de seu representante legal, para o início da persecução penal.
ARTIGO 133
ABANDONO DE INCAPAZ
Art. 133 – Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena – detenção, de seis meses a três anos.
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena – reclusão, de quatro a doze anos.
Aumento de pena
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
I – se o abandono ocorre em lugar ermo;
II – se o agente é ascendente ou descentende, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
III – se a vítima é maio de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
Com a presente incriminação, visou o legislador proteger a vida e a integridade físico-psíquica da vítima, pessoa incapaz de sozinha se proteger ou se defender. Cuida-se de crime próprio, figurando como autor do abandono apenas aquele que nem a vítima sob seu cuidado, estando desse modo, obrigado a zelar pelo bem-estar do incapaz.
Existem três tipos de abandono de incapaz: o intelectual, no qual os pais privam o filho de ir para a escola (de acordo com a legislação brasileira, é obrigatório que a criança curse até o Ensino Fundamental); o moral, que é quando o pai sabe quem é seu filho, mas ignora sua existência inclusive no sentido afetivo (o mesmo vale na relação entre filhos e pais, para idosos); e o material, caracterizado quando o considerado "incapaz" não tem condições materiais de subsistência.
O crime pode ser praticado mediante ação ( levando a vítima a um local ermo e ali deixa-la) ou omissão (afastar-se da vítima do lugar onde se encontra, deixando-a à própria sorte, sendo indiferente se o abandono foi temporário ou definitivo), desde que por tempo juridicamente relevante, suficiente para colocar o incapaz em risco.
É o dolo de perigo (direto ou eventual), consiste na vontade consciente de abandono a vítima, colocando-a em risco. Não admitindo a forma culposa.
O crime se consuma quando, em razão do abandono, a vítima sofre concreta situação de risco. Tratando-sede delito instantâneo, mesmo que o responsável, depois de efetivar o abandono, resolva reassumir o dever de assistência, não desnatura a infração penal.
Os dois primeiros parágrafos estabelecem as figuras qualificadas, quando do abandono resultar na vítima lesão grave ou morte. São delitos preterdolosos, havendo abandono doloso e resultado qualificador culposo. O último parágrafo prevê causa especial de aumento de pena, aplicável às formas simples e qualificadas. O crime é de ação penal pública incondicionada.
ARTIGO 134
EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - detenção, de um a três anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
Trata-se de uma figura privilegiada, com pena máxima inferior à do abandono de incapaz, em razão do elemento subjetivo do tipo, o fim de “ocultar desonra própria”. A pena do abandono de incapaz é de 6 meses a 3 anos, e a deste crime é de 6 meses a 2 anos. É certo que pouca diferença haverá na prática, pois a fixação da pena parte do mínimo legal, sendo muito frequente a fixação da pena mínima.
Em face dos valores predominantes neste momento em nossa sociedade, parece insustentável um tipo que beneficie quem abandona o próprio filho, para ocultar desonra. Se outrora a mãe solteira era estigmatizada, sofrendo forte segregação, atualmente isso não mais ocorre. O bem jurídico tutelado é a vida e a saúde do recém-nascido.
Por se tratar de crime que tem como elemento subjetivo o fim de ocultar a própria desonra, há quem sustente que o sujeito ativo é apenas a mãe. No entanto, como não é expressamente consignado no tipo, é possível dizer que é a mãe, nas hipóteses de gravidez extra-matrimonial, incestuosa ou adulterina, bem como o pai, se o filho for adulterino ou incestuoso.
Obviamente, por força do art. 30, CP, qualquer outra pessoa pode ser condenada por esse crime, como partícipe, desde que tenha induzido, instigado ou auxiliado a mãe a cometer o crime. Já o sujeito passivo é o recém-nascido.
Esse tipo contém duas condutas, expor e abandonar. Há quem sustente que os verbos têm significados idênticos. Para Bitencourt, porém, há diferença. Expor significa “exercer uma atividade sobre a vítima, transpontando-a, no espaço, da situação de segurança em que se encontrava para lugar onde ficará sujeita a risco contra a sua incolumidade pessoal.” Por sua vez o abandono é “um não-fazer”, em que o agente se afasta da vítima, “deixando-a ao desamparo”. De qualquer modo, quem expõe, levando a vítima para um outro lugar, na sequência, abandona, deixando o recém-nascido desprotegido. Tanto isso é verdade, que o crime de abandono de incapaz não contém o verbo expore, nem por isso, deixa de haver crime, caso a vítima seja levada a outro lugar.
O crime em questão é de perigo concreto, o que significa dizer que não existe o delito se não houver a real situação de perigo. Do ponto de vista processual, será imprescindível que se demonstre o efetivo perigo.
Além do dolo de expor ou abandonar, que pode ser direto ou eventual, é imprescindível o elemento subjetivo do tipo, fim de “ocultar desonra própria”.
Caso exista o abandono de recém-nascido, sem que essa seja a finalidade do agente, o crime será o de abandono de incapaz.
O crime se consuma com o perigo concreto, decorrente do abandono. É viável a tentativa, na modalidade comissiva.
Se em razão do abandono houver o resultado lesão corporal grave a pena será de 1 a 3 anos de reclusão (§ 1º) Se resulta morte, a pena será de 2 a 6 anos de reclusão (§ 2º). Observe-se que essa figura privilegiada do art. 134, traz pena bem mais branda, na hipótese de qualificadora pela morte, em comparação com o art. 133, CP.
As duas formas qualificadas são crimes preterdolosos, de modo que é preciso que exista culpa no resultado. Se, apesar do abandono, for imprevisível o resultado, não se aplica a qualificadora por força do art. 19, CP.
 
ARTIGO 135
OMISSÃO DE SOCORRO
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
A razão da tipificação da omissão de socorro reside na tutela da vida e da integridade física da pessoa. Ao contrário do que se afirma, não se protege a solidariedade humana; apenas se impõe ao cidadão a solidariedade, com o fim de proteger a vida e a integridade física.
Há controvérsia doutrinária sobre o alcance do bem jurídico tutelado. Haverá crime de omissão de socorro se uma pessoa se omite ao saber da existência de um crime de seqüestro e cárcere privado (art. 148), porque a liberdade pessoal seria também um bem jurídico tutelado. Todavia, mais correto é o entendimento de alguns doutrinadores que segundo os quais apenas a vida e a integridade física são bens jurídicos tutelados por este delito.
O Sujeito ativo é qualquer pessoa; a lei impõe um dever genérico de prestar assistência, sem exigir qualquer condição especial. Já o sujeito passivo é: a) criança abandonada ou extraviada: abandonada é a que foi deixada por familiares em qualquer lugar, onde não tenha condições de sobreviver, extraviada é a que se perdeu de seus familiares. b) pessoa inválida ao desamparo: inválida é a pessoa que não tem condições de sobrevivência, nas condições em que se encontra; é a pessoa indefesa, que encontra-se desamparada, ou seja, sem proteção ou assistência. c) pessoa ferida ao desamparo: ferida é a pessoa que sofreu algum tipo de lesão e, por isso, se encontra sem condições de defender-se. d) qualquer pessoa em grave e iminente perigo: independentemente de sua condição, pode ser sujeito passivo, pessoa que se encontre em perigo grave e iminente. Assim, um adulto que tenha caído em poço, mesmo que não seja inválido nem esteja ferido, poderá figurar como sujeito passivo deste delito.
A conduta é deixar de prestar assistência, que significa não socorrer, omitir socorro, abster-se de socorrer. Não importa que comportamento teve o agente, se ficou presente, se saiu, etc; basta que não tenha feito o que a lei determina, ou seja, prestar assistência. Essencial à configuração da conduta típica, que a omissão se dê em face de pessoa que se encontre em uma das situações anteriormente descritas.
Como todo crime omissivo, a abstenção só será típica se o sujeito tinha possibilidade de agir. Se não há como socorrer, inexiste a conduta típica. Nesse sentido, o tipo traz a locução “sem risco pessoal”, com a qual fica excluída a tipicidade se para prestar socorro, o agente tiver que expor sua própria vida ou integridade física a perigo. Não teria sentido que para preservar o bem jurídico da pessoa que se encontre na situação de perigo, a lei exigisse que outro indivíduo expusesse sua própria vida ou integridade física em perigo. Assim, se alguém se afoga em uma lagoa e quem assiste a isso não sabe nadar, seria um despropósito exigir que este indivíduo colocasse sua própria vida em perigo para salvar aquele que está se afogando. A outra conduta descrita é não pedir socorro da autoridade pública.
Há, como se vê, duas formas de socorro: o direto, e o indireto. O socorro direto ocorre quando a própria pessoa socorre, usando para isso seus próprios recursos. No socorro indireto o indivíduo, ao invés de socorrê-lo, chama a autoridade pública (corpo de bombeiros, ambulância, salva-vidas, etc) para que esta realize o socorro.
O entendimento predominante sempre foi no sentido de que só é válido ao agente lançar mão do socorro indireto, quando for impossível socorrer diretamente. Todavia, tem sido difundida a idéia de que o melhor, em acidentes, é chamara autoridade pública, para evitar que um socorro mal feito redunde em danos à integridade física (como lesões na coluna cervical). Quando o agente opta pelo socorro indireto por entender que este é o melhor modo de garantir a integridade física da pessoa em perigo, não há que se falar em crime, pois agiu para melhor preservar o bem jurídico tutelado.
Em hipóteses de acidente, em que a vítima tem morte instantânea, mesmo que o omitente não tenha consciência disso, não há que se falar em crime de omissão de socorro. Como a omissão de socorro é crime de perigo, inexiste o delito se não houver bem jurídico a ser tutelado. (Sobre este tema, confira-se na seção Dúvidas comentadas, neste site, a questão: Homicídio culposo e omissão de socorro)
Trata-se do dolo de perigo, ou seja, a vontade livre de abster-se de socorrer, com a consciência da situação de perigo em que se encontra a vítima. É irrelevante a motivação do agente, se egoística ou não. Consuma-se com a simples abstenção, ou seja, no exato instante em que a vítima poderia agir e preferiu omitir o socorro estará consumado o crime. É impossível a tentativa, por tratar-se de crime omissivo próprio.
O parágrafo único do art. 135 prevê duas causas de aumento de pena, se o resultado for decorrente da omissão de socorro. Se houver lesão corporal grave (art. 129, §§ 1º e 2º), a pena será aumentada de metade. Se o resultado for a morte, a pena será triplicada. “Há que ser provada — diz Mayrink da Costa — a relação de causalidade entre a omissão e o resultado decorrente.
ARTIGO 136
MAUS-TRATOS
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990)
 Trata-se de crime de perigo, portanto o bem jurídico tutelado é a vida, a integridade corporal e a saúde. É crime próprio, somente comete o crime quem possui com o sujeito passivo relação jurídica especificada: autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação ensino, tratamento ou custódia. Sujeito passivo é a pessoa que esteja subordinada a uma das situações descritas.
A conduta é expor a perigo, mediante uma das formas descritas. Crime de ação vinculada, a conduta só será típica se a exposição a perigo se der mediante uma das formas de execução: 
a) privação de alimentos: a privação pode ser absoluta, quando o autor não dá nenhuma comida à vítima, ou ou relativa, quando a vítima recebe comida insuficiente. Em qualquer hipótese, só haverá o crime se a vítima não puder, por seus próprios meios, obter alimentação, seja pela idade ou por sua condição física. No caso de privação absoluta de alimentos, por um período considerável de tempo, o crime que se configura é o homicídio, tentando ou consumado.
b) privação de cuidados indispensáveis: trata-se da privação cuidados relacionados à saúde da vítima, que não tem condições de se cuidar sozinha. Como privar de higiene, de agasalho no frio, de banho de sol, quando necessário. Há situações em que a pessoa é privada de alimentação e de cuidados indispensáveis, em tal caso haverá um só crime, devendo o juiz levar em conta a gravidade na fixação da pena.
c) sujeição a trabalhos excessivos ou inadequados: sujeitar é impor um domínio, submeter a pessoa a trabalho excessivo ou inadequado. Excessivo diz respeito à quantidade de trabalho, como a criança que é obrigada a trabalhar durante muitas horas, e inadequado relaciona-se à natureza do trabalho, que não é apropriado àquela pessoa. Assim, uma criança que é obrigada a trabalhar durante muitas horas, auxiliando sua mãe a lavar louça, é submetida a trabalho excessivo. A natureza do serviço não é incompatível com a idade da criança, mas a quantidade de horas, sim. Por outro lado, uma criança que é obrigada, pelo pai, a trabalhar em uma carvoaria, é submetida a um trabalho inadequado.
d) abuso dos meios de disciplina e correção: abusar significa exceder-se, exorbitar no uso na disciplina e correção.
Esse modo de execução do crime é um dos mais controvertidos. Corretivos que eram considerados válidos décadas atrás, hoje seria visto como um ato de inominável violência nos dias de hoje. Além disso, em razão da diversidade cultural existente em um país com dimensões continentais como o Brasil, há diversas visões sobre a melhor forma de se educar, especialmente a criança. Por outro lado, o crime exige que a vida ou a saúde da vítima seja exposta a perigo.
 Maus-tratos é um crime de perigo concreto, de modo que é imprescindível que se demonstre a ocorrência de uma concreta exposição a perigo. Não é suficiente conjecturar que a conduta poderia acarretar uma situação de dano, é necessário que, concretamente, se constate que a pessoa ficou exposta a perigo.
O tipo subjetivo do crime é o dolo de perigo, que pode ser direto ou eventual. É necessário que exista a consciência de que, com aquela conduta, a vítima está sendo exposta a uma situação perigosa. Não é necessário que exista dolo de causar sofrimento. Não há previsão de conduta culposa.
Com a prática de uma das formas descritas, desde que ocorra a situação de perigo. A tentativa é tecnicamente possível, apenas nas modalidades comissivas.
Como nos demais crimes de perigo, o tipo traz as figuras preterdolosas, em que a produção do resultado qualifica. Se houver lesão corporal grave, a pena será de reclusão de 1 a 4 anos, e se houver morte, de 4 a 12 anos. A pena sofrerá, ainda, uma majoração de 1/3, se a vítima for menor de 14 anos. Tal aumento incidirá na pena do caput, tanto quanto nas penas dos §§ 1º e 2º.Parte superior do formulárioParte inferior do formulário
ARTIGO 137
RIXA
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Com o fim de tutelar ordem pública e coibir sua perturbação, assim como preservar a incolumidade da pessoa, o Código Penal descreve a figura da rixa, que se caracteriza quando há uma briga, um entrevero desordenado envolvendo três pessoas ou mais, em que não é possível distinguir as condutas dos participantes. Exige-se que a contenda se dê com três pessoas ou mais porque no embate entre duas apenas configura a prática da contravenção vias de fato ou de lesões corporais recíprocas.
Assim, a norma penal quer reprimir o ato da pessoa que, em meio a uma coletividade em combate, atua com violência indeterminada contra outrem, ocasião em que não se mostra possível individualizar a autoria das agressões.
A exceção posta na parte final do dispositivo (“... salvo para separar os contentores.”) poderia caracterizar, ao menos em tese, uma situação de legítima defesa de terceiro. Não obstante, vê-se a intenção do legislador de antecipar o debate nesse sentido, já descrevendo a hipótese em que a intervenção no tumulto não resultará em responsabilidade daquele que atua para pôr fim ao delito.
Por pressupor uma agressão mútua, recíproca e indefinida entre os participantes, eles todos são simultaneamente sujeitos ativos e passivos do crime.
 Exige-se o animus rixandi. A voluntária participação na contenda caracteriza o dolo do sujeito na prática do crime, não havendo sanção àquela praticada culposamente.
Diz-se inviável a tentativa por se considerar que a conduta e o evento exaurem-se simultaneamente.
Apesar de a norma dispensar, na definição do crime, a individualização das condutasdos contendores, trata de dar pena mais severa para hipóteses extremas nas quais a violência resulta em lesão corporal grave ou morte de qualquer dos envolvidos (crime preterdoloso). Na hipótese de lesão corporal grave, também responderá pela forma qualificada o próprio lesionado.
Contudo, cogita-se possível o concurso material entre o crime de rixa e o de lesões corporais graves ou o de homicídio quando identificado o autor destas condutas e o respectivo dolo.
ARTIGO 146
CONSTRANGIMENTO ILEGAL
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Aumento de pena
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.
“Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (CF, art. 5º, II)
Como já sabemos, a Constituição Federal, dentre outros direitos, garante ao homem não ser compelido a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. No artigo 146 do CP, abriga essa liberdade da formação e atuação da vontade, da autodeterminação, de fazer ou não fazer alguém aquilo que deliberar.
O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, não exige qualidade específica (crime comum). Para o sujeito passivo é indispensável que possua capacidade de autodeterminação. Para que haja constrangimento ilegal é necessário que seja ilegítima a pretensão do sujeito ativo, ou seja, que o sujeito ativo não tenha o direito de exigir da vítima determinado comportamento – porque se tiver o direito estará incurso no crime de exercício arbitrário das próprias razões.
O sujeito para realizar o tipo, pode empregar violência, grave ameaça ou qualquer outro meio capaz de reduzir a resistência do ofendido. Trata-se de delito subsidiário, constituindo-se elemento de vários tipos penais. Só existe a conduta dolosa. Caso tenha objetivo econômico passaremos ao crime de extorsão (Art. 158 do CP).
É delito material. Consuma-se no momento em que a vítima faz ou deixa de fazer alguma coisa. E, tratando-se de delito material, em que pode haver fracionamento das fases de realização, admite a tentativa, desde que a vítima não realize o comportamento desejado pelo sujeito ativo por circunstâncias alheias a sua vontade. É crime de ação penal pública incondicionada.
ARTIGO 147
AMEAÇA 
Art. 147 – Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único – Somente se procede mediante representação.
A ameaça é uma espécie de crime contra a liberdade individual, é a manifestação idônea da intenção de causar a alguém qualquer mal injusto e grave. Justifica-se a incriminação, vez que representa um ataque à liberdade pessoal do ameaçado, perturbando a sua tranquilidade e a confiança na sua segurança jurídica, abalando, desse modo, a sua faculdade de determinar-se livremente.
No caso de emprego de arma, teremos o concurso material do crime de constrangimento ilegal com o crime previsto na lei de armas, uma vez que com a edição desta lei específica o porte e uso da arma passou a ter pena isoladamente maior do que o aumento previsto na qualificador do tipo em estudo.
A ameaça se diferencia do constrangimento ilegal (art. 146 do CP), porque neste o agente busca uma conduta positiva ou negativa da vítima e aqui, na ameaça, o sujeito ativo pretende tão somente atemorizar o sujeito passivo.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, e tratando-se de funcionário público, outro poderá ser o crime. O sujeito passivo é a pessoa com capacidade de entendimento.
Trata-se de crime subsidiário, constituindo meio de execução do constrangimento ilegal, extorsão, etc. A ameaça tem que ser verossímil, por obra humana, capaz de instituir receio, independente de causar ou não dano real a vítima.
Trata-se de crime formal, não sendo necessário que a vítima sinta-se ameaçada.
Consuma-se a ameaça no instante em que o sujeito passivo toma conhecimento do mal prenunciado, independentemente de sentir-se ameaçado ou não (crime formal). Contudo, é possível a tentativa, quando a ameaça é realiza por escrito.
Só é punível a título de dolo. Sendo posição vencedora em nossos Tribunais a de que o delito exige ânimo calmo e refletido, excluindo-se o dolo no caso de estado de ira e embriaguez.
A ação penal é pública, porém somente se procede mediante representação. A ação penal é pública incondicionada.
ARTIGO 148
SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO
Art. 148 – Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado:
Pena – reclusão, de um a três anos.
§ 1º – A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maiorde 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
II – se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital;
III – se a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze) dias.
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005)
V – se o crime é praticado com fins libidinosos. (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005)
§ 2º – Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
O sequestro e o cárcere privado são formas de privar alguém da sua liberdade de locomoção, isto é, do livre arbítrio, da livre escolha que cada pessoa faz sobre o local em que deseja ficar ou o momento de locomover-se para outro diverso daquele em que se acha. O bem jurídico tutelado é a liberdade de ir e vir e ficar (liberdade de movimento).
O sujeito ativo e passivo do crime pode ser qualquer pessoa. Quando o crime for praticado por funcionário público, haverá crime de abuso de autoridade. Tratando-se de bem disposto, o consentimento da vítima exclui o crime. 
A ação incriminadora consiste na privação da liberdade de alguém, a duração da dessa privação é irrelevante. São delitos materiais e permanentes, uma vez que o tipo descreve a conduta e o resultado.
O crime só é punido a tipo de dolo. São delitos materiais e permanentes, uma vez que o tipo descreve a conduta e o resultado. É possível a tentativa. A ação penal é pública incondicionada.
Observe-se que na causa de aumento (§1º, II) relativo à internação da vítima, deve existir o dolo de sequestrar camuflando o seqüestro com a internação.
Aqui é necessário distinguir o dolo de sequestrar, da conduta relacionada aos Arts. 22 e 23 da Lei 3.688/41 (contravenções penais) relativo à contravenção conhecida como internação irregular.
ARTIGO 149
REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO
Art. 149 - Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
§1º Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II – mantém vigilância ostensivano local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
§2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
I – contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
	
A doutrina dá ao crime de redução a condição à de escravo o nome de “plágio”, que significa a sujeição de uma pessoa ao poder (domínio) de outra. A escravidão é uma situação de direito em virtude da qual o homem perde a própria personalidade, tornando-se simplesmente coisa. Sem amparo legal em nosso país, pune-se, aqui, a redução do homem a condição análoga à de um escravo, estado de fato proibido por lei.
O sujeito ativo do delito pode ser qualquer pessoa, independentemente de qualidade e condições especiais. O mesmo se deve dizer do sujeito passivo.
O §2º traz caso de aumento de pena para os casos em que o crime é cometido contra criança ou adolescente ou por raça, cor, etnia, religião ou origem.
O que o tipo pune é a escravidão, de fato, da criatura humana, tornando-a submissa, reduzindo-a a condição de servo ou desfrutá-la como tal. Embora o agente não prenda a vítima diretamente, ele cria condições adversas para que ela não manifeste a sua vontade.
O consentimento do ofendido é irrelevante, uma vez que a situação de liberdade do homem constitui interesse preponderante do Estado.
O crime é exclusivamente doloso, consiste na vontade consciente de realizar a figura delituosa. 
Consuma-se o delito quando o indivíduo é reduzido a condição análoga á de escravo. Tratando-se de crime permanente, perdurando o delito enquanto houver a prática cerceadora da liberdade. A ação penal é pública incondicionada, não dependendo de qualquer pedido-autorização da vítima ou de seu representante legal.
ARTIGO 150
VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO
Art. 150 – Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena – detenção, de um a três meses, ou multa.
§ 1º – Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência.
§ 2º – Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do poder.
§ 3º – Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências:
I – durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência;
II – a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser.
§ 4º – A expressão “casa” compreende:
I – qualquer compartimento habitado;
II – aposento ocupado de habitação coletiva;
III – compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
§ 5º – Não se compreendem na expressão “casa”:
I – hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior;
II – taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
O Código Penal visa proteger a liberdade privada e doméstica do indivíduo, punindo a sua ilegal perturbação. A casa é para o ser humano o local certo para o encontro do sossego. A violação do lar configura um ataque ilegítimo a essa tranquilidade. Protege-se a Inviolabilidade Constitucional.
Constituição Federal: art. 5, XI – “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou durante o dia, por determinação judicial.” O tipo tem que ser analisado levando-se em conta a norma constitucional.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive o proprietário ao invadir o inquilino sem autorização deste. O sujeito passivo é o morador.
A conduta criminosa consiste em entrar ou permanecer na casa alheia ou em suas dependências, devendo a ação ser praticada clandestina ou astuciosamente.
Para configurar o tipo é indispensável a presença do dolo. O delito é mera conduta, consuma-se tão logo o agente entre completamente na casa alheia. 
O nome “casa” também abrange escritórios, consultórios (local de trabalho), local onde se exerce o animus domicili, como saveiros, barcos ou quartinhos. A jurisprudência não agasalha no conceito de “casa” – a boléia do caminhão ou os locais usados por mendigos para dormir em calçadas ou locais públicos.
Não há qualquer restrição quando o espaço é comum. Contudo, em áreas comuns reservadas, o assunto será regido pelo Regimento Interno. Em locais de grande extensão, preserva-se tão somente para os efeitos do tipo – o local onde se exerce a intimidade. 
Elemento normativo do tipo: se eu permito, exclui-se a tipicidade. Inclusive para tentar permanecer.
Não há violação de domicílio em casa abandonada. Contudo, não se pode confundir casa abandonada, com casa temporariamente desabitada. 
ARTIGO 151
VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA
Art. 151 – Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa. 
O caput do art. 151 do CP foi revogado pelo art. 40 da Lei 6.538/78, que trata das infrações contra o serviço postal e o serviço de telegrama. Trata-se de um artigo muito prejudicado com a edição de novas leis. Protege-se a inviolabilidade constitucionalmente protegida da Correspondência.
O bem jurídico protegido é a liberdade de comunicação do pensamento. A violação precisa ser de correspondência fechada e feita indevidamente. A violação legítima é permitida. Contudo, o agente não precisa abrir a carta, neste caso protege-se o conteúdo.
Não configura o delito a leitura de carta cujo envelope se encontra aberto, porque neste caso aquele que escreveu a carta previamente já renunciou tacitamente ao seu direito de ter em segredo o conteúdo da mesma.
Torna-se se crime impossível quando o agente não entende a linguagem enigmática, caso a carta seja com este tipo de escrita.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o sujeito passivo é de dupla subjetividade passiva. Remetente e destinatário.
É possível que um cego ou um analfabeto, apalpando por exemplo, cometa o crime, tomando conhecimento do conteúdo da carta.
Só é punível a título de dolo. O erro de tipo exclui a tipicidade. Ex. Abrir carta de terceiro pensando ser para si. 
É um crime comum, simples, instantâneo, comissivo e de mera Conduta. Admite-se a tentativa. É de ação penal pública condicionada a representação.
Vale a pena anotar que é crime a interceptação não autorizada judicialmente de conversações telefônicas. Contudo, a autorização judicial – na forma da lei 9.296/96 é causa excludente da tipicidade. O crime de interceptação consuma-se no momento da simples interceptação, não sendo mais necessário, como era à época do CP, a divulgação das informações.
ARTIGO 152
CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL
Art. 152 – Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo:
Pena – Detenção, de três meses a dois anos.
Parágrafo único – Somente se procede mediante representação.
Tutela-se a inviolabilidade de correspondência, agora comercial, sendo imprescindível que se refira ao estabelecimento.
Trata-se de crime próprio, somente figurado como autor o sócio ou o empregado do estabelecimento comercial ou industrial. 
Dispondo o tipo, como sujeito ativo, somente aquele que é sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial e o sujeito passivo pessoa jurídica - a industria ou o estabelecimento comercialque teve sua correspondência desviada, sonegada, subtraída, suprimida ou revelada.
Pune-se a conduta dolosa apenas, consiste na vontade de violar correspondência comercial. O tipo prevê, também, ocultamento de correspondência. Ação Penal é Pública condicionada a Representação.
ARTIGO 153
DIVULGAÇÃO DE SEGREDO
Art. 153 – Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.
§1º - Somente se procede mediante representação. (Parágrafo único renumerado pela Lei nº 9.983, de 2000)
§1ºA- Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
§2º- Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será incondicionada. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
 Tutela-se aqui a liberdade individual, com especial atenção voltada à conservação dos segredos, é dizer, detalhes íntimos da vida do indivíduo que, divulgados, podem causar danos.
Somente o destinatário ou o detentor particular ou de correspondência confidencial pode figurar como sujeito ativo, tratando-se de crime próprio. O sujeito passivo será todo aquele que, direta ou indiretamente, tenha interesse na conservação do segredo. Preservar-se o SIGILO.
Ficam fora da proteção penal as confidências obtidas por meio verbal, uma vez que o título protege claramente o conteúdo de documentos.
Trata-se de um crime formal. Consuma-se no momento da realização da conduta. Deve ser capaz de provocar danos, mesmo que não provoque. Admite a tentativa.
A ação penal pública condicionada a representação, salvo quando se tratar de segredo cuja revelação cause prejuízo a Administração Pública.
ARTIGO 154
VIOLAÇÃO DO SEGREDO PROFISSIONAL
Art. 154 – Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem:
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único – Somente se procede mediante representação.
Tutelando o direito à liberdade individual voltada a inviolabilidade dos segredos profissionais.
Trata-se de crime próprio, exigindo do agente a condição especial relacionada ao exercício das atividades. O sujeito ativo será toda pessoa que, em razão de função divulgar segredo de que tenha conhecimento. O sujeito passivo será o titular do segredo, passível de ser prejudicado com a indevida divulgação. É possível o concurso de agentes. 
Consiste no dolo de revelar o segredo, não se pune a conduta culposa. O erro do elemento normativo do tipo afasta o dolo e, portanto, impede a consumação do delito.
Trata-se de crime formal, perfazendo-se com a revelação do segredo, dispensado a efetiva ocorrência do dano. Crime de ação penal pública condicionada, mediante prévia representação da vítima.
ARTIGOS 154-A E 154-B
INVASÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO E SUA AÇÃO PENAL
Art. 154-A Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º -Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
§ 2º- Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico.
§ 3º -Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
§ 4º -Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos.
§ 5º -Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra:
I - Presidente da República, governadores e prefeitos;
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal.    
Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos. A privacidade, como bem jurídico a se tutelar.
A Lei nº 12.737/12 incorporou ao Código Penal o tipo designado Invasão de Dispositivo Informático. Com a evolução das técnicas de transmissão, armazenamento e computação de dados e informações, bem como das facilidades daí decorrentes, passou o legislador a tutelar a privacidade daqueles que pretendem o sigilo de dados e informações contidos em seus dispositivos informáticos.
Para tanto, passa a se considerar criminoso o ato de lograr acesso, sem autorização da vítima (do contrário não se trataria de invasão), às funcionalidades de dispositivo informático de terceiro, devendo ser compreendido como tal o mecanismo apto a receber dados, dar tratamento a estes e transmiti-los. Para a norma em questão, é indiferente o acesso do equipamento à rede mundial de computadores.
O tipo ainda exige uma maneira específica à invasão do dispositivo, que deve ser praticado mediante “violação indevida de mecanismo de segurança”. Não se trata, pois, de crime de ação livre. Por tal peculiaridade, a norma também dá a entender que o acesso aos dados ou informações sem a vulneração “indevida dos mecanismos de segurança” resultará em indiferente penal, justamente porque, a rigor, o delito só se configura quando praticado mediante burla à segurança do dispositivo.
A contrario sensu, parece que, se o acesso aos dados se der sem a violação indevida de mecanismo de segurança, já não se pode cogitar a prática do crime previsto no artigo 154-A do Código Penal. Exemplo disso pode ser o equipamento sem mecanismo de sigilo ou bloqueio, bem como aquele com tal funcionalidade desabilitada.
Ainda, num primeiro momento, há exigência de um dolo específico para a materialização do crime, justamente o objetivo de obter, adulterar ou destruir os dados protegidos. A rigor, e salvo melhor entendimento, também escapa do alcance da norma a invasão de um equipamento apenas para expor a fragilidade de seu mecanismo de segurança, sem visar a obtenção, adulteração ou destruição de dados e informações ali contidos.
O delito também se configura quando a invasão implicar na instalação de uma vulnerabilidade na segurança do dispositivo. Neste caso, contudo, também se pressupõe a finalidade de se obter uma vantagem indevida, um dolo específico.
Com efeito, a leitura mais atenta da norma pode revelar que seu alcance é menor do que pode parecer numa primeira vista, pois o tipo pressupõe um modo específico de execução, bem como um dolo peculiar.
O crime pode ser praticado por qualquer pessoa e qualquer um pode ser vítima, tratando-se, assim, de crime comum. Trata-se de crime doloso, sem previsão legal à repreensão da conduta culposa.
O crime se consuma com a efetiva invasão do dispositivo informático, pela violação de seu mecanismo de segurança, sendo possível a tentativa.
O artigo 154-Bfoi incluído aqui por tratar de matéria singela, sem exigência de um debate mais aprofundado em postagem própria. Trata, pois, da ação penal, que será condicionada à representação do ofendido, salvo quando a vítima se tratar da Administração Pública direta ou indireta, hipótese na qual será pública incondicionada.
ARTIGO 161
ALTERAÇÕES DE LIMITES
Art. 161- Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
Usurpação de águas
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias;
Esbulho possessório
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada.
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.
A garantia da propriedade, assegurada constitucionalmente pelo Estado (art. 5º, XXII, da Constituição Federal), também é resguardada mediante responsabilização criminal de quem atenta contra a titularidade dos bens imóveis. Assim se fez no Código Penal, que destina espaço próprio no Código Penal, justamente o Título Dos Crimes Contra o Patrimônio.
Dentro deste, há destaque à defesa da propriedade imobiliária no artigo 161 do Código Penal, que inaugura o Capitulo Da Usurpação ao estabelecer criminosa a conduta de “suprimir ou deslocar”, total ou parcialmente, tapumes, marcos ou sinais indicativos de linhas divisórias de coisa imóvel alheia.
O ato de suprimir se materializa com a conduta de retirar, de apagar, de eliminar, sendo o de deslocar a ação de mover, levar a outro local, mudar demover. São considerados tapumes as sebes vivas, cercas aramadas ou de madeira, enquanto o marco pode ser considerado um objeto ou um acidente geográfico empregado na identificação dos limites de um território, de uma propriedade imobiliária. Ao final o legislador também trata de admitir o indevido manejo de qualquer outro sinal indicativo da extensão ou limites da propriedade, como suficiente para a configuração do crime.
 Qualquer um pode ser autor do delito previsto no artigo 161 do Código Penal, já que a norma não estabelece uma condição especial do sujeito ativo para que promova a conduta criminosa. Noutros termos, ainda que ordinariamente seja deduzível a prática do crime pelos confinantes, eventualmente interessados na ampliação de sua propriedade, mediante apropriação ou apossamento de áreas da vítima, qualquer pessoa pode praticar a conduta.
Apenas o proprietário ou o possuidor da área cujos limites foram alterados podem ser considerados vítimas do crime, enquanto sujeitos passivos.
Condensa-se no dolo, presente quando demonstrada a vontade suprimir ou deslocar as divisas da propriedade imobiliária, com o objetivo de se apropriar dela, de toma-la para si e, a partir disso, usufruí-la. Há, portanto, a presença de um dolo específico que vai além do simples intento de alterar os limites da propriedade, justamente a intensão do autor de ter a coisa sob sua disposição.
O crime se consuma com a efetiva supressão ou deslocamento dos marcos indicativos da propriedade, cogitando-se possível a tentativa quando frustrada a conduta do autor por circunstâncias alheias à sua vontade.
Usurpação de Águas: O desvio ou o represamento de águas alheias é conduta típica equiparada ao delito previsto no caput do artigo 161, submetendo-se, assim, às mesmas penas daquele.
Cuida-se de figura que pressupõe o dolo do agente, a vontade de desviar ou represar a água (não há previsão para o delito culposo), o sujeito ativo será qualquer um, enquanto o passivo é aquele que dispõe do direito de uso dos recursos hídricos indevidamente manejados.
O desvio consiste na alteração de um curso d’água preestabelecido por força da natureza ou do homem, sendo o represamento a contenção do afluente, a resultar na acumulação de águas, ambas as ações em prejuízo ao legítimo usuário.  A tentativa se cogita possível.
Esbulho possessório: Consiste na ocupação, violenta ou ameaçadora à pessoa, de área de propriedade ou posse de terceiro, com o objetivo tomá-la mediante esbulho. Logo, pressupõe-se que a ação deve ser preordenada à obtenção da posse sobre a área, não se configurando o crime em questão a conduta que se limita a uma turbação, apenas a uma oposição de embaraços ou dificuldades à posse pela vítima, enquanto não despojada de seu imóvel.
A tentativa é possível e a consumação ocorre com o efetivo esbulho sobre a área da vítima
O resultado da violência empregada pode resultar em responsabilização penal autônoma (§ 2º).
A supressão ou deslocamento de limites de propriedade, a usurpação de águas e o esbulho possessório, promovidos sem violência à pessoa, demandam ação penal privada, a exigir a respectiva queixa-crime (§ 3º).
ARTIGO 162
SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE MARCA EM ANIMAIS
Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
O tipo do artigo 162 do Código Penal converge à tutela do direito à identificação da propriedade sobre semoventes voltados à criação, quando estabelecida a partir da marcação dos animais. Diz-se isso porque a propriedade do gado ou rebanho, considerada em si, já recebe especial tutela penal, a partir do § 6º do artigo 155 do Código Penal, introduzido pela Lei nº 13.330/16.
Logo, sem embargo à doutrina em sentido distinto, é adequado compreender que o bem jurídico aqui tutelado é também a inviolabilidade da marca do produtor sobre sua criação, isso a justificar, inclusive, a subsidiariedade do tipo em questão, quando empregado como simples meio para a prática de outros crimes contra o patrimônio, como pode ser, por exemplo, no furto e no estelionato. A tutela da propriedade, assim, vem como reflexo do atentado contra o sinal do produtor, que se afigura inviolável por força da norma em questão.
Nesse sentido, a norma coíbe o ato de suprimir, apagar, fazer desaparecer, tal como o de alterar, modificar, adulterar etc, marca ou sinal indicativo do proprietário. A marcação ou a sinalização podem ocorrer mediante queimadura no couro, pintura ou aposição de peças identificadoras dos animais (brincos, argolas e outros).
Não se configura o crime se o animal não possui marcas ou sinais de propriedade, a serem retirados ou alterados.
À materialidade do crime, compreende-se suficiente a supressão ou alteração do sinal de um animal apenas, não se ignorando, contudo, o entendimento no sentido de que as expressões “gado ou rebanho alheio” estão a indicar a necessidade de alteração de vários espécimes.
Qualquer pessoa pode ser autora do crime e apenas o proprietário dos animais marcados pode ser sujeito passivo do delito.
É caracterizado pelo dolo, consistente na vontade do autor desuprimir ou alterar a marca ou o sinal do proprietário nos animais, não havendo previsão para o crime em sua modalidade culposa.
A consumação ocorre com o efetivo êxito na supressão ou alteração do sinal indicativo da propriedade sobre o animal, sendo cogitável a tentativa quando, por circunstâncias alheias à vontade do autor, o resultado pretendido acaba frustrado.
ARTIGO 163
DANO
Art. 163 -Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos; (Redação dada pela Leinº 13.531, de 2017)
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
A norma do artigo 163 do Código Penal reafirma a preocupação do legislador na defesa do patrimônio, aqui atraindo a Teoria da Universalidade Passiva à ótica da tutela penal (dever que se opõe a todos de abstenção sobre a propriedade particular – tese, aliás, considerável a todos os tipos penais que resguardam o domínio sobre as coisas como bem jurídico a ser defendido). Evidentemente, o tipo penal quer coibir ingerências de terceiros no acervo patrimonial da vítima, mediante sanção a qualquer ato de destruição, inutilização ou deterioração de coisa alheia móvel.
O ato de destruir se materializa com a demolição da coisa, o seu desmonte, desmanche etc., enquanto a inutilização consiste na supressão da sua utilidade, das características e qualidades que garantem sua finalidade. Por fim, a deterioração consiste da decomposição, na degeneração da coisa da vítima.
Quer parecer que apenas bens corpóreos, dotados de uma materialidade física, são passíveis de tutela, não obstante controversa na doutrina civil a diferenciação e a conceituação de bens e coisas.
 Não exige a lei um atributo ou qualidade especial do autor do crime para que ele assim possa ser considerado sujeito ativo, tratando-se, portanto, de crime comum. De outro lado, só pode ser considerado sujeito passivo o proprietário da coisa ou o destinatário da utilidade a que esta se destina, pelo que eventualmente também se pode compreender o possuidor como sujeito passivo.
Só pode ser considerada típica a conduta na qual o autor age de forma livre e consciente para destruir, inutilizar ou deteriorar a coisa, não havendo previsão para a conduta praticada culposamente.
 
  Consuma-se o crime com o efetivo dano (destruição, inutilização ou deterioração) à coisa, cogitando-se plenamente plausível a tentativa em casos nos quais, apesar da ação do sujeito ativo, o dano não se materializa por circunstâncias alheias à sua vontade.
O legislador reserva sanções mais severas ao autor do crime quando ele faz uso de determinados meios para a prática da conduta, quando age em prejuízo a determinadas pessoas jurídicas de direito público ou quando atua de modo egoístico, bem como de forma a causar considerável prejuízo à vítima. Prevê, assim, uma pena de 06 (seis) meses a 03 (três) anos de detenção e multa, sem prejuízo à pena oriunda da violência.
Crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça – considera por punir mais severamente o autor do fato que pouca valia dá à integridade física e à tranquilidade da vítima, quando tidas obstáculos ao crime. Assim não são consideradas, contudo, se o dano vem como resultado de violência anterior;
Emprego de Substância Inflamável ou explosiva – Pelo risco de propagação ou explosão na forma utilizada para o dano, sendo compreendida de modo subsidiário pelo destaque à expressão “se o fato não constitui crime mais grave”;
Contra o Patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista – ficaram excluídas as empresas permissionárias, considerando-se a taxatividade da norma penal, enquanto garantia;
Por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: O dano simples não prevê um dolo específico para que se configure como ilícito (não há previsão legal nesse sentido), tornar-se-á qualificado, contudo, quando demonstrada a motivação egoística do autor. De outro lado, o prejuízo considerável contra a vítima deve ser ponderado a partir do montante total de seu patrimônio.
ARTIGO 164
INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM PROPRIEDADE ALHEIA
Art. 164- Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.
É deduzível compreender a incolumidade do imóvel alheio como bem jurídico a ser tutelado, já que, pela redação da norma, o crime se configura apenas quando a aposição de animais em propriedade de terceiro resultar em dano. Noutros termos, em prejuízo material ao imóvel.
Coíbe-se, então, do ato de introduzir, franquear acesso, adicionar, levar para dentro, e também a conduta de deixar, abandonar, omitir-se do dever de retirar os animais indevidamente acrescidos em propriedade alheia, de tudo isso resultando prejuízos na área invadida.
O prejuízo no imóvel se trata de elemento do tipo, não se compreendendo materializado o crime sem a prova do dano.
Pela redação da norma, também não há crime com o emprego de apenas um espécime invasor, já que o legislador optou designá-los no plural, presumindo-se, ao menos, o manejo de um rebanho mínimo para a prática do crime.
O titular do domínio sobre os animais, que indevidamente introduz ou nega a retirada de seu plantel da propriedade alheia pode ser considerado sujeito ativo do crime previsto no artigo 164 do Código Penal, figurando como vítimas o proprietário ou o possuidor da área, sujeitos passivos, pois.
Não há espaço para punir criminalmente a introdução acidental de animais ou a tentativa desastrosa de retirada dos espécimes do local, já que a norma não estabelece a modalidade culposa para a prática do crime. Pune-se, apenas, o ato voluntário do sujeito ativo nesse sentido, o efetivo dolo.
Consuma-se o crime com a invasão ou a permanência dos animais, acrescidos do efetivo dano na área ocupada. Não se cogitando possível a tentativa pois, enquanto ausente o dano, ainda não há crime.
ARTIGO 165
DANO EM COISA DE VALOR ARTÍSTICO, ARQUEOLÓGICO OU HISTÓRICO
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico:
Pena - detenção, deseis meses a dois anos, e multa.
Antes de tudo, convém considerar a revogação tácita do artigo 165 do Código Penal, a partir da Lei nº 9.605/98. Esta, mesmo que indiretamente, reafirma como criminosas as condutas descritas no caput daquele, além de ampliar a abrangência da norma, tal como se vê no artigo 62 da legislação especial.
Veja-se, enquanto originalmente apenas bens tombados por seu valor artístico, arqueológico ou histórico foram objeto da tutela penal, na Lei dos Crimes Ambientais a destruição, a inutilização ou a deterioração de bens protegidos por lei, ato administrativo ou decisão judicial, também passaram a ser tratados penalmente. Cuida-se, portanto, de um espectro muito maior de itens a serem alcançados pela legislação, tudo a dispensar a exclusividade do processo de tombamento.
Oportuno também o destaque às sanções, um pouco mais severas que as originalmente destinadas quando da antiga redação do tipo no Código Penal.
A oportunidade recomenda, aliás, a apreciação da legislação ambiental, neste ponto substitutiva das vetustas disposições do Código Penal a respeito da matéria.
Aqui o legislador reafirma das condutas do artigo 163 do Código Penal (é pertinente a leitura das anotações anteriores a respeito do crime de dano). A destruição, a inutilização ou a deterioração prosseguem como verbos nucleares do tipo e, como acima referido, os incisos do artigo 62 da Lei nº 9.605/98 trataram de ampliar o repertório de bens jurídicos a tutelar.
Assim a norma quer resguardar o patrimônio artístico, arqueológico e histórico, além de outros especialmente protegidos, sejam os assim reconhecidos por lei, por ato administrativo (como é o tombamento) e por decisão judicial (a exemplo de medidas liminares, sentenças ou acórdãos).
Qualquer pessoa pode ser considerada sujeito ativo do crime, pois a norma não atribui alguma condição especial a ele. A União, o Estado, o Município ou a coletividade enquanto titulares de um ativo especialmente protegido a ser tutelado, podem ser considerados sujeitos passivos.
O artigo 163 do Código Penal previa apenas o dolo na prática do crime. A partirda Lei nº 9.605/98, contudo, o parágrafo único de seu artigo 62 estabeleceu como típica a conduta culposa, o dano por imprudência, negligência ou imperícia.
Trata-se de crime que se consuma com a efetiva destruição, inutilização ou deterioração da coisa protegida, também sendo possível a tentativa. Entretanto, a tentativa culposa não se mostra possível.
ARTIGO 166
ALTERAÇÃO DE LOCAL ESPECIALMENTE PROTEGIDO
Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por lei:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
A compreensão da revogação tácita do artigo 165 do Código Penal, pelas disposições da Lei nº 9.605/98, também se aplica na hipótese do artigo 166, em razão da abrangência da nova norma. Contudo, o dispositivo que prevalece neste caso é o artigo 63 da Lei dos Crimes Ambientais.
Dita revogação oportuniza que se considerem, como objeto de análise, as disposições da legislação ambiental, assim como foi tratada a tese do artigo anterior (165 do CP).
Logo, da leitura do artigo 63 da Lei nº 9.605/98, compreende-se como bem jurídico a se resguardar o acervo de itens considerados relevantes a um povo ou grupo étnico, assim reconhecidos por lei, ato administrativo (como é o tombamento) ou decisão judicial (a exemplo de liminares, sentenças ou acórdãos), no que se refere à integralidade e à originalidade daqueles assim compreendidos por seus atributos paisagísticos, ecológicos, turísticos, artísticos, históricos, culturais, religiosos, arqueológicos, etnográficos ou monumentais.
Trata-se, aqui, de coibir o ato de modificar, adulterar, mudar estrutura de edificação ou apenas o local especialmente protegido. Percebe-se especial atenção à proteção da autenticidade e da intangibilidade dos bens imóveis e das construções nele contidas, cuja proteção especial restou reconhecida.
Qualquer pessoa pode ser considerada sujeito ativo do crime, pois a norma não atribui alguma condição especial a ele. De outro lado, a União, o Estado, o Município ou a coletividade, enquanto titulares de um ativo especialmente protegido a ser tutelado, podem ser considerados sujeitos passivos.
O artigo 166 do Código Penal previa apenas o dolo na prática do crime, assim se mantendo nas disposições do artigo 63 da Lei nº 9.605/98, que não prevê típica a conduta culposa, a alteração oriunda de imprudência, negligência ou imperícia.
Trata-se de crime que se consuma com a efetiva alteração do bem protegido, também sendo possível a tentativa.
ARTIGO 167
AÇÃO PENAL
Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede mediante queixa
O artigo 167 do Código Penal tratou de conferir apenas ao ofendido, ou a alguém capaz de representa-lo, a titularidade da ação penal do crime de dano simples, bem como o qualificado pelo motivo egoístico (artigo 163 e inciso IV de seu parágrafo único). Então, ambos demandam ação penal privada.
Assim também se exige com relação à introdução ou abandono de animal em propriedade alheia (art. 164).
Aos demais delitos previstos no “Capítulo IV – Do Dano”, porque não excepcionados pela norma, a ação penal será pública incondicionada.
REFERÊNCIAS
Cunha, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts. 121 ao 361)/Rogério Sanches Cunha – 10. Ed. Rev. – Salvador: JusPODIVM, 20018.
Greco, Rogério. Código Penal: comentado / Rogério Greco. – 11. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017.
Disponível em: <https://brasil.mylex.net/legislacao/codigo-penal-cp-art164_90341.html>. Acesso em 25/04/2019.

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