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AD1 - Literatura Brasileira III 2019 2

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AD1 – 2019.2 
 
 
Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro 
Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro 
Universidade Federal Fluminense 
Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ 
 
Disciplina: Literatura Brasileira III 
Coordenadora: Profª Flávia Amparo 
 
 
De acordo com o que você estudou nas Unidades 1, 2 e 3 sobre a Formação 
cultural brasileira, o Arcadismo e o Romantismo, responda às questões abaixo de 
modo dissertativo. 
Pesquise sobre o tema e responda ao que se pede com suas próprias palavras. Não 
copie respostas ou frases dos seus materiais de estudo nem de sites da internet. 
 
Questão 1 (2,5): Inspirados pelo poeta inglês Lord Byron, responsável por liderar o 
Romantismo Negro na Europa, muitos escritores do Romantismo brasileiro, como 
Álvares de Azevedo, afastaram-se dos vieses nacionalistas e nativistas ao escreverem suas 
obras, priorizando textos literários de tom mórbido, pessimista e negativista. Assim, a 
partir da leitura do trecho abaixo, retirado do livro Noite na taverna (1855), evidencie 
como as características dessa Segunda Geração romântica brasileira, também conhecida 
como Ultrarromântica, aparecem na obra azevediana. Utilize fragmentos ou exemplos do 
texto selecionado para fundamentar a sua resposta. 
 
Texto 1 – Noite na taverna (1855) – fragmento (Álvares de Azevedo) 
 
Eu e a mulher do comandante passamos um dia, dois, sem comer nem beber... 
Então ela propôs-me morrer comigo. — Eu disse-lhe que sim. Esse dia foi a última 
agonia do amor que nos queimava: gastamo-lo em convulsões para sentir ainda o mel 
fresco da voluptuosidade banhar-nos os lábios... Era o gozo febril que podem ter duas 
criaturas em delírio de morte. Quando soltei-me dos braços dela a fraqueza a fazia 
desvairar. O delírio tornava-se mais longo, mais longo: debruçava-se nas ondas e bebia a 
água salgada, e oferecia-ma nas mãos pálidas, dizendo que era vinho. As gargalhadas 
frias vinham mais de entuviada... 
Estava louca. 
Não dormi, não podia dormir: uma modorra ardente me fervia as pálpebras, o 
hálito de meu peito parecia fogo, meus lábios secos e estalados apenas se orvalhavam de 
sangue. 
Tinha febre no cérebro... e meu estômago tinha fome. Tinha fome como a fera. 
Apertei-a nos meus braços, oprimi-lhe nos beiços a minha boca em fogo, apertei-
a convulsivo, sufoquei-a. Ela era ainda tão bela! 
Não sei que delírio estranho se apoderou de mim. Uma vertigem me rodeava. O 
mar parecia rir de mim, e rodava em torno, escumante e esverdeado, como um 
sorvedouro. As nuvens pairavam correndo e pareciam filtrar sangue negro. O vento que 
me passava nos cabelos murmurava uma lembrança. 
De repente senti-me só. Uma onda me arrebatara o cadáver. Eu o vi boiar pálido 
como suas roupas brancas, seminu, com os cabelos banhados de água; eu via-o erguer-se 
na escuma das vagas, desaparecer, e boiar de novo; depois não o distingui mais: — era 
como a escuma das vagas, como um lençol lançado nas águas... 
Quantas horas, quantos dias passei naquela modorra nem o sei... Quando acordei 
desse pesadelo de homem desperto, estava a bordo de um navio. 
Era o brigue inglês Swallow, que me salvara... 
Olá, taverneira, bastarda de Satã! não vês que tenho sede, e as garrafas estão secas, 
secas como tua face como nossas gargantas? 
(AZEVEDO, Manuel Antônio Álvares de. Noite na taverna. Porto Alegre: L&PM, 1998.) 
 
Questão 2 (2,5): Assista, na Unidade 1 da Plataforma virtual, ao vídeo “O povo brasileiro: 
encontros e desencontros” e leia o subcapítulo intitulado “Os brasileiros” (página 126 a 
133), do livro O povo brasileiro, de Darcy Ribeiro. 
Após refletir sobre o que você leu e assistiu, explique como se formou a nossa 
“brasilianidade”, conceito que Darcy Ribeiro usa para falar sobre a criação de uma etnia 
verdadeiramente brasileira. 
 
 
Questão 3 (2,5): Os escritores do Arcadismo, além de buscarem uma linguagem mais 
simples e direta em reação aos exageros do estilo de escrita barroca, também se 
mostravam grandes admiradores do conceito de Natureza como Verdade, de modo a 
constituí-la como padrão de pureza, equilíbrio, racionalidade e integridade. Levando essa 
característica árcade em consideração, explique de que forma a admiração pela natureza 
se relaciona ao pedido de melhor aproveitamento do tempo que o eu lírico faz à Marília 
na Lira XIV, extraída do livro Marília de Dirceu (1799), de Tomás Antônio Gonzaga. 
Retire trechos da Lira para fundamentar a discussão. 
 
 
Texto 2 – Lira XIV (Tomás Antônio Gonzaga) 
Minha bela Marília, tudo passa; 
A sorte deste mundo é mal segura; 
Se vem depois dos males a ventura, 
Vem depois dos prazeres a desgraça. 
Estão os mesmos deuses 
Sujeitos ao poder do ímpio Fado: 
Apolo já fugiu do céu brilhante, 
Já foi pastor de gado. 
A devorante mão da negra Morte 
Acaba de roubar o bem que temos; 
Até na triste campa não podemos 
Zombar do braço da inconstante sorte: 
Qual fica no sepulcro, 
Que seus avós ergueram, descansado; 
Qual no campo, e lhe arranca os frios ossos 
Ferro do torto arado. 
Ah! enquanto os Destinos impiedosos 
Não voltam contra nós a face irada, 
Façamos, sim, façamos, doce amada, 
Os nossos breves dias mais ditosos. 
Um coração que, frouxo, 
A grata posse de seu bem difere, 
A si, Marília, a si próprio rouba, 
E a si próprio fere. 
Ornemos nossas testas com as flores, 
E façamos de feno um brando leito; 
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito, 
Gozemos do prazer de sãos Amores. 
Sobre as nossas cabeças, 
Sem que o possam deter, o tempo corre; 
E para nós o tempo que se passa 
Também, Marília, morre. 
Com os anos, Marília, o gosto falta, 
E se entorpece o corpo já cansado: 
triste o velho cordeiro está deitado, 
e o leve filho, sempre alegre, salta. 
A mesma formosura 
É dote que só goza a mocidade: 
Rugam-se as faces, o cabelo alveja, 
Mal chega a longa idade. 
Que havemos de esperar, Marília bela? 
Que vão passando os florescentes dias? 
As glórias que vêm tarde, já vêm frias, 
E pode, enfim, mudar-se a nossa estrela. 
Ah! Não, minha Marília, 
Aproveite-se o tempo, antes que faça 
O estrago de roubar ao corpo as forças 
E ao semblante a graça! 
(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. São Paulo: DCL, 2006.) 
 
Questão 4 (2,5): Como estudado na Unidade 3, no campo das letras, após a 
Independência do Brasil, os escritores do Romantismo, principalmente os envolvidos com 
produções literárias de viés nativista, buscaram, por meio de seus escritos, caracterizar o 
Brasil como país independente e construir uma literatura verdadeiramente nacional. A 
partir da leitura do fragmento retirado de O Guarani (1857), de José de Alencar, discuta 
a importância do Indianismo para o projeto nacionalista romântico e evidencie, 
destacando trechos do fragmento abaixo, como Alencar idealiza a figura do índio em seu 
romance. 
 
Texto 3 – O Guarani (1857) – fragmento do capítulo IV (José de Alencar) 
 
Quando a cavalgata chegou à margem da clareira, aí se passava uma cena curiosa. 
Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóbada de árvores, encostado a 
um velho tronco decepado pelo raio, via-se um índio na flor da idade. 
Uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à 
cintura por uma faixa de penas escarlates, caía-lhe dos ombros até ao meio da perna, e 
desenhava o talhe delgado e esbelto como um junco selvagem. 
Sobre a alvura diáfana do algodão, a sua pele, cor do cobre, brilhava com reflexos 
dourados; os cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos grandes com os cantos 
exteriores erguidos para a fronte; apupila negra, móbil, cintilante; a boca forte mas bem 
modelada e guarnecida de dentes alvos, davam ao rosto pouco oval a beleza inculta da 
graça, da força e da inteligência. 
Tinha a cabeça cingida por uma fita de couro, à qual se prendiam do lado esquerdo 
duas plumas matizadas, que descrevendo uma longa espiral, vinham rogar com as pontas 
negras o pescoço flexível. Era de alta estatura; tinha as mãos delicadas; a perna ágil e 
nervosa, ornada com uma axorca de frutos amarelos, apoiava-se sobre um pé pequeno, 
mas firme no andar e veloz na corrida. Segurava o arco e as flechas com a mão direita 
calda, e com a esquerda mantinha verticalmente diante de si um longo forcado de pau 
enegrecido pelo fogo. 
Perto dele estava atirada ao chão uma clavina tauxiada, uma pequena bolsa de 
couro que devia conter munições, e uma rica faca flamenga, cujo uso foi depois proibido 
em Portugal e no Brasil. 
Nesse instante erguia a cabeça e fitava os olhos numa sebe de folhas que se elevava 
a vinte passos de distância, e se agitava imperceptivelmente. 
Ali por entre a folhagem, distinguiam-se as ondulações felinas de um dorso negro, 
brilhante, marchetado de pardo; às vezes viam-se brilhar na sombra dois raios vítreos e 
pálidos, que semelhavam os reflexos de alguma cristalização de rocha, ferida pela luz do 
sol. 
Era uma onça enorme; de garras apoiadas sobre um grosso ramo de árvore, e pés 
suspensos no galho superior, encolhia o corpo, preparando o salto gigantesco. 
Batia os flancos com a larga cauda, e movia a cabeça monstruosa, como 
procurando uma aberta entre a folhagem para arremessar o pulo; uma espécie de riso 
sardônico e feroz contraía-lhe as negras mandíbulas, e mostrava a linha de dentes 
amarelos; as ventas dilatadas aspiravam fortemente e pareciam deleitar-se já com o odor 
do sangue da vítima. 
O índio, sorrindo e indolentemente encostado ao tronco seco, não perdia um só 
desses movimentos, e esperava o inimigo com a calma e serenidade do homem que 
contempla uma cena agradável: apenas a fixidade do olhar revelava um pensamento de 
defesa. Assim, durante um curto instante, a fera e o selvagem mediram-se mutuamente, 
com os olhos nos olhos um do outro; depois o tigre agachou-se, e ia formar o salto, quando 
a cavalgata apareceu na entrada da clareira. 
Então o animal, lançando ao redor um olhar injetado de sangue, eriçou o pêlo, e 
ficou imóvel no mesmo lugar, hesitando se devia arriscar o ataque. 
O índio, que ao movimento da onça acurvara ligeiramente os joelhos e apertava o 
forcado, endireitou-se de novo; sem deixar a sua posição, nem tirar os olhos do animal, 
viu a banda que parara à sua direita. 
Estendeu o braço e fez com a mão um gesto de rei, que rei das florestas ele era, 
intimando aos cavaleiros que continuassem a sua marcha. 
Como, porém, o italiano, com o arcabuz em face, procurasse fazer a pontaria entre 
as folhas, o índio bateu com o pé no chão em sinal de impaciência, e exclamou apontando 
para o tigre, e levando a mão ao peito: 
— É meu!... meu só! 
Estas palavras foram ditas em português, com uma pronúncia doce e sonora, mas 
em tom de energia e resolução. 
O italiano riu. 
— Por Deus! Eis um direito original! Não quereis que se ofenda a vossa amiga?... 
Está bem, dom cacique, continuou, lançando o arcabuz a tiracolo; ela vo-lo agradecerá. 
Em resposta a esta ameaça, o índio empurrou desdenhosamente com a ponta do 
pé a clavina que estava atirada ao chão, como para exprimir que, se ele o quisesse, já teria 
abatido o tigre de um tiro. Os cavaleiros compreenderam o gesto, porque, além da 
precaução necessária para o caso de algum ataque direto, não fizeram a menor 
demonstração ofensiva. 
 
*Glossário 
 
Junco: planta de haste flexível e direita que cresce na água e em locais úmidos 
Alvura diáfana: brancura límpida quase transparente 
Axorca: argola para adornar braços e pernas 
Forcado: utensílio agrário feito de madeira com duas ou três pontas usado, geralmente, para 
remexer folhas, feno ou palha 
Clavina tauxiada: arma de fogo (mesmo que carabina) ornamentada com metais preciosos 
Sebe: espécie de tapume vegetal feito com plantas enraizadas usado, geralmente, para limitar ou 
dividir espaços 
Marchetado: adornado 
Arcabuz: arma de fogo de cano curto e portátil

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