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Curso básico de linguística gerativa, de Eduardo Kenedy # Unidade 04: Inatismo # 1) Qual é a relação entre o problema de Platão e a hipótese inatista formulada pela linguística gerativa? Resposta: O Problema de Platão busca desvendar a origem do conhecimento humano, ou seja, a capacidade humana de aquirir conhecimento a partir de uma existência tão limitada e fragmentada. Noam Chomsky, considerado o precursor da teoria gerativista, tira esse questionamento do seu habitat abstrato e traz para o campo linguístico: somos capazes de falar e de entender uma língua porque nascemos com todo o aparato genético, biológico para tanto. É essa faculdade da linguagem, segundo o linguista, que nos permitiu construir uma competência linguística (língua I) a partir da análise da língua do ambiente (língua E) em nossos primeiros anos de vida. 2) De acordo com a hipótese inatista, é correto dizer que, no Brasil, as crianças já nascem com a capacidade de falar português? Podemos dizer que o ambiente linguístico e a interação social são irrelevantes para a aquisição da linguagem? Resposta: Não. A competência linguística é o resultado de um processo. Na verdade, a criança possui a faculdade da linguagem (dotação genética) que a permite, através do contato com a língua do ambiente, obter todas as informações necessárias para a contrução do seu conhecimento linguístico. É como se a criança nascesse com um código linguístico universal e o meio linguístico na qual está inserida elencasse os dados necessários para a construção daquele conhecimento específico. Assim, o ambiente linguístico e a interação social funcionam como uma espécie de gatilho, um estímulo para a aquisição da linguagem. 3) Diferencie a hipótese inatista forte da hipótese inatista fraca. Resposta: O inatismo forte é o inatismo “chomskyano”, ou seja, aquele que postula que a faculdade da linguagem é resultante de especificações genéticas inscritas no genoma humano – o homem nasce com uma máquina de aprender na mente. Já o inatismo fraco defende que a faculdade da linguagem é um tipo de disposição genética capaz de criar neurônios especializados em retirar dados linguísticos do ambiente para a construção de uma competência linguística. Resumidamente, enquanto a forte acredita que nascemos “prontos” para aprender, a fraca acredita que nascemos propensos a aprender. 4) Em que medida a hipótese da “teoria da mente” de Tomasello pode ser considerada contrária ao nativismo linguísticos? Resposta: Um dos principais críticos do inatismo linguístico, Tomasselo defende que a aquisição e o desenvolvimento da linguagem não são apenas um processo biológico, mas, sobretudo, cultural. Nesse aspecto, o ser humano é dotado de uma capacidade de se colocar no lugar de outras pessoas e, portanto, deduzir a sua forma de pensar e de entender os acontecimentos do mundo (empatia). É essa habilidade sociocognitiva, chamada de teoria da mente, que permite com que a criança seja capaz de perceber as referências e intencionalidades das palavras e, a partir dessa percepção, adquira a linguagem. 5) Identifique e descreva as principais semelhanças e diferenças entre a hipótese inatista fraca e o conexionimo. Resposta: A teoria conexionista defende que a aquisição e o desenvolvimento da linguagem se dão exclusivamente a partir da formação de padrões de comportamento ao longo da vivência do ser humano. Assemelha-se a hipótese inatista fraca, porque assim como ela, defende que a aquisição de conhecimento, no caso a linguagem, não é algo imediatista, ou seja, o indivíduo não nasce pronto; a aquisição do conhecimento se dá pelas conexões que os neurônios fazem a partir das experiências vividas. Por outro lado, o conexionismo não acredita que haja uma predisposição biológica para a aprendizagem. 6) Analise o caso de Genie e relacione-o à hipótese do período crítico para a aquisição da linguagem. O Caso Genie Genie foi isolada do convívio social dos 20 meses de idade até os 13 anos. Nesse período, não foi exposta a nenhuma língua-E. Quando voltou a ter contato com os seres humanos, começou a aprender inglês. Genie apresentou bom desenvolvimento de habilidades lexicais e semântico-pragmáticas, mas não alcançou uma competência sintática, morfológica e fonológica normal. Veja umas frases de Genie: “Suco de maçã comprar loja”, dita para expressar o pedido “Compre suco de maçã na loja”; “Homem motocicleta ter”, dita para expressar a descrição “Aquele homem tem uma motocicleta”. Resposta: A hipótese do período crítico para aquisição da linguagem postula que a fase para que a criança adquira uma língua natural compreende os dois primeiros anos de vida até a puberdade (mais ou menos de 2 anos até 11/12 anos) e que após esse tempo é muito improvável, senão impossível, que a criança venha a adquirir uma linguagem, caso ainda não o tenha feito. Assim, a probabilidade de Genie conseguir desenvolver uma língua materna satisfatória seria muito abstruso, uma vez que nesse período não teve um contato com a língua E e, portanto, não construiu uma língua I. Outro fator a ser considerado em nossa análise é a capacidade cognitiva do indivíduo. Segundo exames feitos a época, a menina selvagem tinha uma deficiência, as partes do cérebro mais adequadas ao processamento da linguagem estavam avariadas, não se sabendo ao certo se foi consequência dos maus tratos sofridos ou um problema congênito. Se considerarmos a segunda hipótese, Genie já estava fadada a ter uma linguagem precária, pois, por mais que nosso cérebro seja uma “máquina de aprender” (visão chomskyana) é preciso que todas as engrenagens estejam em perfeito funcionamento para que o objetivo se concretize, ou seja, se aquisição do conhecimento, inclusive da linguagem, é o resultado de um processo neurológico é preciso que todas as partes envolvidas nesse processo estejam funcionando bem para que seja possível concretizar o aprendizado.