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ECONOMIA[0: NUSDEO, Fábio. Curso de economia. 4ª ed, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.] 1. CONCEITO DE ECONOMIA E FUNCIONAMENTO DO MERCADO AS NECESSIDADES HUMANAS: Não é possível estabelecer ou antever um limite para as necessidades humanas, ou seja, elas podem ser vistas como tendentes a se multiplicarem ao infinito. Vale dizer: podem ser consideradas ilimitadas. Esta tendência ao desdobramento das necessidades, muito questionável em termos éticos, parece incoercível e vem se exacerbando, como decorrência da expansão e penetração dos meios de comunicação de massa, gerando o denominado consumismo ou sociedade de consumo. Esta exacerbação da tendência ao desdobramento das necessidades existe desde a antiguidade. Contudo, a diferença reside apenas no ritmo que esta ocorre na atualidade. Nos primórdios da civilização o ritmo era secularmente lento, em face da óbvia limitação tecnológica daquele tempo. Para se ter uma idéia, no século XX o planeta foi palco das mais expressivas transformações empreendidas pela ação do homem. Em apenas cem anos (1901-2001) a população mundial quadruplicou, passando a contar no início do século XXI com seis bilhões de habitantes. O nível de apropriação de bens materiais pela humanidade cresceu proporcionalmente ao incremento do Produto Interno Bruto (PIB) global, que multiplicou-se trinta e sete vezes entre 1901 e 1995.[1: CAVALCANTI, Clóvis. 1996, p. 61, apud FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin. A propriedade no direito ambiental. 2. ed. Rio de Janeiro: Esplanada, 2005, p. 31.] Não se vislumbra um estágio final para esta tendência à multiplicação. Caso algum dia se chegue a ele, será por imposição a um fato novo, externo à mesma, como, por exemplo, um possível esgotamento dos recursos do planeta, tornando inviável fisicamente o atendimento a muitas das atuais necessidades. 1.2 A LEI DA ESCASSEZ Ao oposto do que ocorre com as necessidades humanas, os recursos com que conta a humanidade para satisfazê-las, apresentam-se finitos e severamente limitados, isto é, são escassos, em maior ou menor grau. Tal limitação é insuperável, ainda que a tecnologia consiga sempre empurrar para adiante o ponto de ruptura, quando o exaurimento dos bens disponíveis à espécie humana levaria, senão ao colapso, pelo menos à progressiva estagnação de todo o processo econômico. A lei da escassez é incontornável e atualmente a sociedade também esbarra em outro problema: o meio ambiente encontra-se saturado, limitado e impotente para absorver ou reciclar os resíduos da população mundial. A preocupação com a falta de recursos para o desenvolvimento da humanidade foi tema do conhecido Essay on The Principle of Population de Thomas Robert Malthus em 1798. Segundo tal estudo, a produção de alimentos no mundo cresceria segundo uma progressão aritmética, enquanto que o crescimento demográfico cresceria observando uma progressão geométrica, resultando no colapso da humanidade. A previsão não se confirmou em face da tecnologia na produção de alimentos, mas é fácil verificar que o espectro da fome ronda diversas partes do planeta. Outro estudo relevante foi o relatório The Limits of Growth, publicado em 1972 por cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que atraiu de imediato a atenção da comunidade internacional e despertou as preocupações de todos os segmentos sociais e empresariais para as conseqüências que o modelo de desenvolvimento adotado pela civilização ocidental imprimiria ao planeta no futuro. O documento do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que tomou a denominação de Relatório Meadows em homenagem a um de seus autores, foi solicitado à instituição científica norte-americana pelo Clube de Roma, uma entidade não-governamental fundada em 1968, que tem por objetivo a discussão de temas de interesse mundial, de ordem política social, econômica, ambiental e cultural. [2: GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p. 31.] Note-se que escassez é um conceito relativo e não absoluto. Também não é apenas quantitativo, ou seja, um produto qualquer, mesmo sem ter alterada a sua disponibilidade física, pode se tornar mais ou menos escasso em função da extensão da necessidade que lhe cabe atender, a qual poderá variar ao longo do tempo. Isso implica ser inevitável, a cada momento, uma escolha ou opção entre usos alternativos para um mesmo produto. 1.3 ECONOMIA: UM PRIMEIRO CONCEITO – ECONOMIA E DIREITO A atividade econômica é aquela aplicada na escolha de recursos para o atendimento da multiplicidade das necessidades humanas. É a administração da escassez. A economia é o estudo científico dessa atividade, qual seja, do comportamento humano e das relações e fenômenos dele decorrentes, que se estabelecem em sociedade. É uma ciência social porque pressupõe a escassez em nível social, isto é, condicionando a vida de todos os seres indistintamente, sem se preocupar com o fenômeno em sua dimensão individual. A origem etimológica da palavra economia é grega, e deriva diretamente da junção das palavras oikos (casa) e nomos (norma, dar ordem, administrar, prover). Percebe-se uma íntima relação entre Direito e Economia, uma vez que os fatos econômicos se apresentam de uma dada maneira em função direta de como se dá a sua organização ou normatização (nomos). Nomos nada mais vem a ser do que normas ou regras, estas objeto da ciência do Direito. A pressão dos fatos econômicos e dos interesses a eles ligados tenderá a moldar a legislação ou a forma de sua aplicação a fim de torná-la conveniente a tais interesses. O Direito não é um invento do legislador, mas sim uma expressão da vontade social e, assim, a legislação tende a assimilar os valores positivos que uma sociedade valoriza e vive. Portanto, Direito e Economia devem ser vistos não apenas como disciplinas relacionadas, mas como um todo indiviso, exigindo do jurista o conhecimento, pelo menos, de noções básicas de Economia. Um exemplo da vinculação do Direito e da Economia é o estudo das externalidades negativas que os processos econômicos descarregam sobre o meio ambiente, que alguns economistas afirmam ser impossível estudar sem adentrar ao campo do Direito. Outros exemplos que confirma essa estreita vinculação são as legislações antitruste, de repressão ao abuso do poder econômico e de proteção ao consumidor. Uma externalidade é uma espécie de efeito colateral da geração de riquezas: um custo ou benefício que a produção de determinado bem acarreta para terceiros e que, pelas leis do mercado, jamais se refletirá no cálculo de seu valor. Externalidades podem ser positivas ou negativas. No primeiro caso, um bom exemplo é o investimento eficiente em educação pública, que tem diversos tipos de impacto salutar na comunidade em torno da escola. A externalidade negativa mais típica é a poluição. Fórmulas legais como as relacionadas ao passivo ambiental têm se esforçado por “internalizar” tal custo, isto é, incorporá-lo à economia da produção. O passivo ambiental, em poucas palavras, é o custo associado à degradação ambiental em que incorre uma empresa. Cobre taxas e multas destinadas à recuperação de áreas poluídas, passando pela compra de equipamentos antipoluição exigidos por lei. [3: RODRIGUES, Sérgio. O léxico da língua verde. Revista Veja, Abril: São Paulo, edição 2273, ano 45, n. 24, 13 de junho de 2012.] Falta à “ciência econômica” a relação com o não-econômico. A economia é estudada e aplicada de modo descontextualizado, desconsiderando seus efeitos sociais. [4: AZEVEDO, Plauto Faraco de. Ecocivilização: ambiente e direito no limiar da vida. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 76.] 1.4 OS BENS ECONÔMICOS: ELEMENTOS E CARACTERÍSTICAS Denomina-se bem econômico todo aquele dotado de utilidade e cujo suprimento seja escasso. A utilidade do bem econômico é a capacidade de qualquer bem de suprir ou atender a uma necessidade, satisfazendo-a, no todo ou em parte. É óbvio que só poderá ser escasso aquilo que é útil eque atende a uma necessidade. Por sua vez, a utilidade marginal de um bem é a utilidade trazida por uma unidade ou dose adicional de qualquer produto (ex. um copo d’água para quem tem sede e um ou mais copos adicionais para quem já matou a sede. Os copos adicionais terão cada vez menos valor). Há produtos que têm maior ou menor utilidade marginal. Como exemplificado, a água é um bem utilíssimo e fundamental para a vida, mas tem baixa utilidade marginal. Os diamantes têm baixa utilidade total, mas têm uma elevada utilidade marginal (quanto mais diamantes melhor). Este conceito é extremamente importante em Economia, pois, na realidade, o que leva as pessoas a tomarem decisões quanto à utilização dos bens escassos é o acréscimo marginal (adicional) por eles proporcionado em termos de utilidade, no caso do consumo. No campo da produção, fala-se em produtividade marginal para significar o acréscimo de produto decorrente do emprego de uma unidade a mais de uma fator de produção (ex. o acréscimo na colheita pelo emprego de um quilo a mais de adubo, ou pela aquisição de uma colheitadeira). As decisões econômicas são tomadas sempre de acordo com o critério da margem. Cumpre agora definir alguns conceitos que giram em torno da “necessidade” e “capacidade de satisfazê-la”. Para a ciência econômica a necessidade é um desejo socialmente manifestado, ou seja, é o movimento consciente no sentido de adquirir um bem ou serviço. Portanto, uma mera aspiração do agente sem a conseqüente ação para sua aquisição será considerada inócua para a ciência econômica. Não importa se o bem ou serviço almejado pelo agente econômico seja verdadeiramente útil. Para a Economia bastará que uma única pessoa atribua-lhe esta qualidade para que o mesmo seja considerado útil no sentido econômico da palavra, ainda que o mesmo seja inservível para o fim a que se destina. A isto se chama subjetivismo. O conteúdo da necessidade não é objeto de julgamento pela Economia como ciência. Ainda que reprováveis pelo Direito, pela moral ou pelos bons costumes, a necessidade, será relevante para a Economia se provocar alguma movimentação de recursos para o seu atendimento (ex. tráfico de drogas, pornografia, etc.). O oposto de bem econômico é o bem livre, que é aquele bem que pela abundância de seu suprimento frente às necessidades a serem atendidas não entra no circuito econômico (ex. o ar, o entulho da construção, a pedra no sapato, etc.), sendo irrelevante discutir a sua utilidade. Contudo, não é preciso frisar que bens livres em determinados locais poderão ser altamente escassos em outros. Nos países pobres a água qualidade da água tem relação com 85% das doenças de sues habitantes. É o caso da água, que cada dia mais passa a ser considerado como um recurso escasso, tanto que a legislação já prevê mecanismos para a sua cobrança como produto (artigo 1°, I e II da lei n° 9.433/97)[5: PETRELLA, Riccardo, 2002, p. 88-89, apud AZEVEDO, Plauto Faraco de. Ecocivilização: ambiente e direito no limiar da vida. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 102.] Por fim, o bem supérfluo é aquele que não é essencial. Será sempre possível à Economia constatar cientificamente a existência de conjuntos de produtos tidos essências e outros vistos como supérfluos, muito embora a composição de cada uma de tais categorias possa variar em função, por exemplo, de grupos sociais, diferentes níveis de renda e cultura, etc. 1.5 A CLASSIFICAÇÃO DOS BENS ECONÔMICOS Quanto a materialidade – Dividem-se em bens propriamente ditos e serviços. São bens os alimentos, as máquinas, a terra, etc. e também alguns outros que não possuem materialidade, como a energia elétrica ou a solar e as ondas magnéticas por meio das quais se propagam as telecomunicações. Os serviços são totalmente imateriais por decorrerem de uma pura prestação humana, ainda quando são utilizadas ferramentas para produzi-los. Quanto a finalidade – Os bens econômicos podem ser divididos em bens de consumo e bens de produção. Os bens de consumo atendem de forma direta e imediata a uma dada necessidade (ex. vestuário, alimentos, canetas, etc.). Os bens de produção atendem-na de forma indireta, pois são empregados para gerarem bens de consumo (ex. máquinas, matérias primas, a terra, matérias de construção, etc.). Bens tangíveis de produção de caráter fixo são também chamados de bens de capital (ex. prédios, máquinas e equipamentos). Quanto às relações entre si – Podem ser vistos como complementares e sucedâneos. Bens complementares são aqueles cujo emprego, quer como bens de produção, quer como bens de consumo, se dá conjuntamente. É o caso da terra e da semente, do automóvel e do combustível, do café e do açúcar, etc. Bens sucedâneos são os bens passíveis de substituírem outros no atendimento das necessidades (ex. gasolina e álcool nos carros flex, alimentos de mesma categoria, etc.). Quanto ao âmbito da necessidade – Os bens podem ser exclusivos ou coletivos. Exclusivos são os bens aptos a atenderem, a cada momento à necessidade de um único indivíduo, como os alimentos e o vestuário. Os bens coletivos, contrariamente, não estão sujeitos ao princípio da exclusão, ou seja, eles podem atender concomitantemente à necessidade de um grupo mais ou menos amplo de pessoas e, até mesmo, dos cidadãos do país como um todo (ex. uma aula, um concerto musical, uma estrada, uma praça, etc.). 2 PROCURA ou DEMANDA A procura vem a ser a quantidade de um determinado bem ou serviço adquirida ou absorvida a um dado preço num dado período de tempo. Quem irá adquirir é irrelevante: pode ser um consumidor, um grupo de consumidores, os habitantes de uma cidade, de um país e até do mundo. O conceito de procura relaciona duas variáveis, dependentes entre si: a quantidade e o preço. Em um modelo de concorrência perfeita, supõe-se que a quantidade procurada é uma função do preço, ou seja, os consumidores vão moldar seu desejo de obter determinado bem ou serviço (consumo) ao preço por eles encontrado no mercado. O preço é, pois, a variável independente e, a quantidade, a variável dependente (do preço). A função da demanda (procura) é uma função decrescente, isto é, na sua representação gráfica, enquanto uma variável cresce a outra variável decresce (ex. quanto mais alto o preço mais baixa a quantidade procurada e vice-versa). As variáveis caminham inversamente, em sentidos opostos. Assim, o maior preço desestimula a aquisição de maior quantidade do bem e vice versa, o menor preço significa maior estímulo à aquisição. Este comportamento da demanda é devido às diferentes restrições orçamentárias dos consumidores, em outras palavras, cada consumidor possui um determinado nível de renda, mais elevado ou mais baixo e, portanto, seu consumo se dará de acordo com esta renda. Por isso, o consumidor que possui uma renda mais alta continuará adquirindo o produto mesmo a um preço elevado, mas aquele que possui renda mais baixa estará impossibilitado de adquirir o produto para não prejudicar o seu orçamento; ocorre uma queda da demanda. Quando o preço cai, os consumidores de baixa renda voltam a adquirir o produto e há um aumento da demanda. Exemplo: Se a carne bovina estiver com preço médio de R$10,00 o quilo, muitos consumidores não poderão consumi-la e passarão a consumir outro tipo de alimento, tais como carne de frango, peixes, ovos, etc., com isso, haverá uma queda na demanda por carne bovina devido ao preço elevado. Mas, se o preço médio da carne bovina cair para R$ 4,00 o quilo, vários consumidores voltarão a comprar carne bovina, conseqüentemente haverá um aumento na demanda por carne bovina. Figura: Curva de demanda Pergunta: Sempre a curva de demanda apresenta um perfil descendente conforme se vê na figura acima? Sim, em quase todos os casos, exceto algumas pouquíssimas exceções, tais como bens de alto luxo e bens extremamente populares. No primeiro caso, a elevação do preço de um produto destinado ao consumo de luxo (uma jóia, um vinho de alto custo, etc.) pode levar a um aumentode sua procura como forma de ostentação. No segundo caso, a redução do preço poderá levar à diminuição do consumo, pois com isso o consumidor conseguiria preservar uma parcela mais significativa de sua renda para adquirir outro tipo de alimento para enriquecer a dieta de sua família (exemplo: farinha, leite, etc.). 2.1 Elasticidade da procura Elasticidade da procura é a medida de sensibilidade da procura para as oscilações de preço, seja para mais ou para menos. Em outras palavras, a elasticidade do preço pode ser definida como a relação entre o acréscimo (ou decréscimo) percentual de quantidade e o decréscimo (ou acréscimo) percentual de preços. Exemplo: O preço de um determinado produto sobe de R$10,00 para R$15,00 (aumento de 50%), mas em razão desse aumento a quantidade demandada pelo mercado cai de 300 unidades para 250 unidades (queda de 16,6%). A elasticidade (n) desse produto será: n = variação da demanda: variação do preço n= 0,166 : 0,500 = 0,33 Obs. É sempre importante ignorar o sinal negativo quando se analisa a elasticidade de preços da demada, sendo a elasticidade sempre positiva. Esta elasticidade não será igual em toda a curva de demanda, ou seja, poderá ser maior ou menor em função do maior ou menor preço e seu reflexo na quantidade demandada pelo mercado. Normalmente, quanto maior o grau de elasticidade, mais suave tende a ser a inclinação da curva de procura e quanto menor o grau, mais acentuada tende a ser esta inclinação. A elasticidade é, no fundo, a medida da inclinação da curva. Deve ser enfatizado que as curvas de demanda não são, em toda a sua extensão, totalmente elásticas ou inelásticas, mas sim os seus pontos. Assim uma curva pode ser inelástica em certo trecho, perfeitamente elástica em outro, extra-elástica em um terceiro ponto. Pode-se estabelecer a seguinte classificação da procura quanto à sua elasticidade: a) Procuras extra-elásticas: nestas o coeficiente de elasticidade (n) é maior do que 1. São curvas que têm inclinação suave, significando que pequenas variações de preço levarão a grandes variações das quantidades procuradas: b) Procuras perfeitamente elásticas: O coeficiente de elasticidade é igual a 1. Significa que à uma dada variação percentual dos preços corresponde uma igual variação percentual da quantidade procurada. c) Procuras inelásticas ou infra-elásticas: A inclinação da curva de demanda é bastante acentuada. A quantidade procurada pouco reage às variações de preços. O coeficiente de elasticidade se situa entre 0 e 1, ou seja, é menor que 1.. d) Procuras rígidas: A elasticidade é igual a zero. Constitui um caso extremo das procuras inelásticas, talvez apenas teórico, de um bem tão essencial que a qualquer preço sua procura seria sempre a mesma. É representada por uma reta paralela ao eixo dos preços. A importância dessa classificação está em como apontar como reagirá a receita trazida pelo bem em questão frente a um aumento ou baixa de seu preço. Assim: - Se a uma baixa de preços a procura reagir com uma elevação mais do que proporcional, a receita total subirá, mesmo com a baixa de preços, caracterizando uma procura rígida; - Se o bem se caracterizar como de procura inelástica (n < 1), a redução de preço provocará um aumento da procura, mas menos do que o proporcional, insuficiente, portanto, para compensar esta redução, fazendo cair a receita. Este é o caso do café no mercado internacional, cuja elasticidade foi calculada como inelástica (0,4 a 0,5). Assim, se houver uma baixa de preços o Brasil perderá receita, já que a elevação da procura pelo produto não será suficiente para compensar a redução de preços. A baixa elasticidade da demanda por um produto está associada à essencialidade desse produto, pois para hábitos muito arraigados, os consumidores estarão propensos a cortar outras despesas antes de reduzir o consumo do bem preferido, caso este venha a ter seus preços elevados. - Para um bem com procura perfeitamente elástica (n = 1) a receita sempre será a mesma, pois a qualquer variação de preços a quantidade reagirá de maneira absolutamente proporcional, compensando a receita. - Por fim, o bem de procura extra-elástico (n > 1) apresentará uma receita proporcionalmente maior que a redução de seu preço, pois haverá um aumento na quantidade consumida. Altos coeficientes de elasticidade correspondem, geralmente, a produtos supérfluos. 2.2 Outros fatores determinantes da procura: Embora nosso foco tenha sido a quantidade procurada em função dos preços, outros fatores também influenciam a demanda. Estes fatores são o nível de renda, o preço dos bens complementares, o preço dos bens sucedâneos, os hábitos de consumo, altamente influenciados pela propaganda em suas várias formas. a) Renda - Há diversos níveis de renda em uma economia. É claro que ao estudarmos as curvas de demanda fizemos a suposição de que os níveis de renda não variavam, mas sabemos que na realidade há diferenças e, portanto, são várias as curvas de demanda coexistindo em um mesmo momento. Havendo um nível mais elevado de renda a tendência será a de uma procura maior pelo bem. A preços constantes, a variação de quantidade consumida por determinado estrato social obviamente não decorre da variação dos preços, que são iguais para todas as camadas da população, mas sim da renda. Quanto maior a renda, maior a disponibilidade de recursos dos consumidores e, portanto, a sua tendência de adquirir maiores quantidades do mesmo bem. Assim, é possível falar no conceito de elasticidade-renda, que será a relação entre o acréscimo percentual da renda e o acréscimo percentual da quantidade consumida. b) Sucedâneos – Sucedâneo é o bem substituto. Quanto maior o preço deste, maior a tendência do consumidor em não adotá-lo, ficando com o bem original. É o caso do álcool e da gasolina: subindo o preço do álcool, haverá maior procura pela gasolina. O conceito de elasticidade cruzada mede a relação da quantidade procurada de um bem em função da variação do preço de outro bem. A elasticidade preço da demanda cruzada é a medida de o quanto varia a demanda por um bem em resposta a uma variação de preço de outro bem sucedâneo. A elasticidade preço da demanda cruzada é a razão entre proporções de variação, comumente expressas em percentagem. Este conceito é muito usado na legislação antitruste, pois ainda quando haja uma grande concentração na oferta de um dado bem, se for alta a elasticidade cruzada da sua procura com relação a outro bem sucedâneo, o poder de monopólio será atenuado pela possibilidade de fuga dos consumidores para o bem sucedâneo. Assim, tendo a gasolina e o álcool se tornado sucedâneos praticamente perfeitos, o mercado relevante não será nem o da gasolina, nem o do ácool separadamente, mas sim o de combustíveis. Mercado relevante é aquele no qual se aplica o conceito de elasticidade cruzada. c) Complementares – Quanto maior o preço do bem complementar, menor a procura do bem principal. É o caso do automóvel e do seu combustível: pode-se promover uma diminuição dos veículos em circulação elevando-se o preço do combustível. O conceito de elasticidade cruzada também pode ser utilizado neste caso. Por exemplo, se um aumento de 30% no preço de combustíveis levar a uma queda de 10% na demanda por automóveis, diz-se que a elasticidade preço da demanda cruzada é igual a -10%/30%, ou seja, -1/3. A elasticidade preço da demanda cruzada caracteriza-se por ser positiva quando medida entre bens substitutos, negativa entre bens complementares, e zero entre bens independentes. d) Hábitos de consumo – Quanto mais difundido um hábito de consumo mais ele tende a deslocar a curva de procura para a direita. Isto é, aos mesmo preços, maiores quantidades serão adquiridas. 2.3 A utilidade marginal Não há como confundir o conceito de utilidade total com o conceito de utilidade marginal. Enquanto aquele mede o grau de utilidade ou satisfação de um consumidor a ele trazida por uma dada quantidade de um bem,esta mede o acréscimo de utilidade proveniente da adição de uma dose ou unidade do bem em questão. Não importa, pois, quanto o consumidor já tenha de certo produto. Importa, isso sim, o quanto mais de satisfação ele espera obter de uma nova dose ou unidade. Quando a utilidade é máxima, isto é, não pode crescer, a utilidade marginal é zero, justamente por não haver qualquer acréscimo de prazer a ser trazido pela nova unidade consumida. 3. A OFERTA A oferta pode ser definida como a quantidade de um bem que um conjunto de produtores está disposto a entregar ao mercado a um dado preço em determinado período. Sob um regime de concorrência perfeita (ausência de distorções no mercado, de monopólio, oligopólio, etc.) entende-se que quanto maior o preço de mercado maior será a quantidade que os produtores estarão dispostos a oferecer. A chamada função oferta relaciona a quantidade oferecida com o preço de mercado e será uma função crescente. Note-se que cada produtor isolado, em regime de concorrência e na ausência de economia de escala, somente poderá expandir sua produção a custos crescentes. Existe economia de escala quando a expansão da capacidade de produção de uma firma ou indústria causa um aumento dos custos totais de produção menor que, proporcionalmente, os do produto. Como resultado, os custos médios de produção caem no longo prazo. Assim, se a procura por um bem aumentar, significa que há consumidores dispostos a pagar um preço mais elevado por este bem, sinalizando ao produtor que ele poderá pagar mais pelos fatores necessários para produzi-lo. Nestas condições (regime de concorrência e na ausência de economia de escala), a curva de oferta tende a refletir a curva de custos do vendedor, pelo fato de ele somente poder elevar a quantidade oferecida ao mercado elevando seus custos totais de produção. Aplica-se à oferta tudo quanto foi mencionado sobre a elasticidade da procura. Assim, a elasticidade da oferta pode ser definida como a relação entre o acréscimo (ou decréscimo) percentual de quantidade frente ao decréscimo (ou acréscimo) percentual dos preços de uma mercadoria. n = variação do preço : variação da quantidade Obs. É sempre importante ignorar o sinal negativo quando se analisa a elasticidade de preços da oferta, sendo a elasticidade sempre positiva. Elasticidade é um conceito importante dentro da microeconomia, referindo-se ao tamanho do impacto que a alteração em uma variável exerce sobre outra variável. Recebe o nome de elasticidade-preço da oferta a alteração percentual na quantidade oferecida, que ocorre em resposta a uma variação, por exemplo, de 10% no preço de certo bem ou serviço. Ela medirá o grau de sensibilidade da quantidade oferecida perante variações no preço. A elasticidade-preço da oferta é útil para verificar o quão sensível o fornecimento de um bem se apresenta diante de uma mudança de preço. Assim, quanto maior a elasticidade-preço, os produtores e vendedores mais sensíveis estarão às mudanças de preço. Um cenário de elasticidade-preço elevado sugere que quando o preço de um determinado bem sobe, os vendedores irão fornecer uma quantidade bem menor do bem que produzem; quando o preço do mesmo bem cai, os vendedores passarão a ofertar quantidades bastantes superiores do mesmo bem. Se a elasticidade-preço for muito baixa, a situação será exatamente oposta, ou seja, que as mudanças nos preços exercem pouca influência sobre a oferta. Dependendo do comportamento das variáveis presentes no cálculo da elasticidade-preço da oferta, esta pode se apresentar de várias maneiras, a saber: - Oferta perfeitamente elástica – a elasticidade-preço da oferta unitária (n = 1) quando a uma variação de 1% no preço, corresponde a uma variação de 1% na quantidade oferecida. - Oferta inelástica – ocorre oferta inelástica quando a uma variação de 1% no preço corresponde uma variação inferior a 1% na quantidade oferecida (n < 1). Portanto, trata-se de uma oferta não-sensível a variações de preços. - Oferta extra-elástica – verifica-se uma situação de oferta extra-elástica quando a uma variação de 1% no preço correspondente a uma variação superior a 1% na quantidade oferecida (n > 1). Portanto, este tipo de oferta muito é sensível à variação de preços. Constituem casos extremos da elasticidade-preço da oferta a oferta infinitamente elástica, cujo gráfico é uma simples linha horizontal, partindo de algum ponto do eixo dos preços. O extremo a esta situação é chamado de oferta perfeitamente rígida, onde a quantidade oferecida não responde a variações de preço. Seu gráfico constituirá uma linha perpendicular, partindo de um ponto qualquer do eixo das quantidades. 4. Preços e equilíbrio de mercado A microeconomia, ou teoria de preços é a parte da economia que estuda o comportamento das famílias e das empresas e os mercados nos quais operam. Como vimos, a demanda ou procura é a quantidade de determinado bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir, num período. Por sua vez, a utilidade é a qualidade que os bens econômicos possuem de satisfazer às necessidades humanas. A utilidade total tende a aumentar quanto maior a quantidade do bem ou serviço. A utilidade marginal, que é a satisfação adicional de mais uma unidade do bem, é decrescente, pois o consumidor vai saturando-se desse bem, quanto mais o consome. Curva de indiferença é o lugar geométrico de pontos que representam diferentes combinações de bens que dão o mesmo nível de satisfação ao consumidor ou o mesmo nível de utilidade. A restrição orçamentária condicionará o conjunto possível de bens e serviços que o consumidor pode adquirir. A reta orçamentária representa os pontos que o consumidor gasta toda sua renda. A oferta é a quantidade de determinado bem ou serviço que os produtores e vendedores desejam vender em determinado período. O preço em uma economia de mercado é determinado tanto pela oferta como pela procura. O equilíbrio de mercado de um bem ou serviço é um ponto único, no qual a quantidade que os consumidores desejam comprar é exatamente igual à quantidade que os produtores desejam vender. Quando ocorre excesso de oferta, os vendedores acumularão estoques não planejados e terão que diminuir seus preços, concorrendo pelos escassos consumidores. No caso de excesso de demanda, os consumidores estarão dispostos a pagar mais pelos produtos escassos. Consumidores e empresa, sem qualquer interferência do governo ou dos desequilíbrios de mercado, tendem a encontrar sozinhos uma posição de equilíbrio, mediante o mecanismo de preços. Portanto, o equilíbrio de mercado é uma situação de mercado em que o preço e a quantidade do bem desejada pela procura e pela oferta se igualam. O preço que se verifica numa situação de equilíbrio de mercado é tal que a quantidade procurada do bem é exatamente igual à quantidade oferecida desse mesmo bem. Diz-se, por isso que estamos perante uma quantidade e um preço de equilíbrio. O termo "equilíbrio" é utilizado porque numa situação como a descrita não existem quaisquer incentivos para aumentar o descer o preço desde que todas as restantes determinantes da oferta e todas as restantes determinantes da procura se mantenham constantes. Numa representação gráfica, o equilíbrio de mercado é dado pelo ponto em que a curva da procura e a curva da oferta se cruzam. O gráfico acima representa o equilíbrio de mercado. Nesta situação há uma “harmonia” entre oferta e demanda. Teoricamente, neste ponto, o nível de preço não está nem muito alto nem muito baixo, satisfazendo tanto a consumidores quanto a produtores. Citando como exemplo a carne bovina, se o quilo do “coxão mole” estiver em R$10,00 o quilo, será um bom negócio para o produtor, mas muito ruim para o consumidor, o preço é considerado muito alto. Inversamente, se o preço cair para R$3,00 o quilo, é ótimo para o consumidor, mas ruim para o produtor. Agora se o preço ficar em R$5,00 o quilo, teoricamente seria a melhor situação para os dois lados. Num mercado em concorrênciaperfeita, caso o Governo tabele o preço num valor inferior ao de equilíbrio, ocorrerá escassez do bem (excesso de quantidade demandada sobre a oferta). Tendo em vista que a solução adequada para esta escassez – que seria a elevação do preço de mercado – não é possível, pois o preço está tabelado, não há outra alternativa a não ser a administração da escassez. 5. Fatores de produção, Produção e Custos de Produção 5.1 Fatores de produção Os fatores de produção segundo a teoria clássica são agrupados em três categorias: Natureza (ou terra) Trabalho Capital A "terra" e o "trabalho" são considerados fatores originários, já o "capital" e derivado da "terra" e do "trabalho". Segundo a clássica teoria de Adam Smith (1723 – 1790), que desenvolveu a teoria dos fisiocratas (séculos XVIII e XIX), esses fatores têm influência direta na produção. A “terra”, que indica não só as terras cultiváveis e urbanas, mas também os recursos naturais, constitui o primeiro dos fatores de produção. Durante séculos a exploração predatória e a apropriação dos recursos naturais pelo homem teve condições de oferecer os gêneros alimentícios e a matéria-prima necessária para a produção de novos bens econômicos e conduzir o progresso das civilizações. O homem é o agente da produção e o seu trabalho representa o segundo fator da produção. O trabalho, em economia, quer dizer o trabalho humano e não o desempenho das máquinas e nem o esforço dos animais. A palavra “trabalho”, que em definição mais abrangente se refere às faculdades físicas e intelectuais dos seres humanos para intervir no processo produtivo, tem origem etimológica em um antigo instrumento romano chamado tripallium, o qual era usado para castigar os escravos e exigir deles mais trabalho. A máquina industrial e os animais colocados a serviço do homem representam o terceiro fator de produção, que é o "capital". É denominado “capital”, o conjunto dos bens que não se destinam à imediata satisfação do ser humano, mas que tem a função de facilitar a produção de utilidades econômicas. O capital no ponto de vista econômico é representado pelas matérias primas, usinas, máquinas, ferramentas, edifícios industriais etc. O dinheiro ou o crédito, também é considerado capital, somente do ponto de vista comercial ou financeiro, representando a fonte do financiamento para a compra dos bens de produção: que se subdividem em bens duráveis e transitórios (insumos). O fator “capital” é diferente do fator “terra”, na medida em que deve ser produzido pelo trabalho humano antes que ele possa representar um fator de produção. Com o desenvolvimento das tecnologias, o primeiro fator de produção “terra” perdeu sua importância dentro de um novo modelo de produção, sendo substituído em valor pelo conhecimento tecnológico. O mesmo ocorreu com o “capital” em razão de sua incapacidade intrínseca de reter valor, seja frente à ação da inflação, da manipulação de seu valor pelos bancos centrais nacionais, como também de sua ociosidade ou inoperância. Acrescente-se a tais fatores de desvalorização do “capital” os excedentes de recursos financeiros no mercado mundial e os juros internacionais cada vez menores, obrigando os poupadores a buscar novas alternativas produtivas para seus recursos. Por fim, o terceiro fator de produção “trabalho” também perdeu importância em decorrência do aumento da população mundial, o que tornou sua oferta exacerbada, originada do desemprego estrutural da economia. A repercussão da globalização e das inovações tecnológicas e organizacionais sobre o trabalho produziu efeitos devastadores sobre a mão de obra. O exemplo da Microsoft é emblemático neste sentido, uma vez que em apenas 20 anos, a partir do trabalho inicial de apenas duas pessoas e de um capital de US$ 10.000,00, criou-se a maior empresa do mundo, com um patrimônio avaliado em US$500 bilhões. Portanto, identificam-se na virada do milênio os três novos fatores geradores de riqueza, que são a inovação tecnológica, a renovação organizacional e a aprendizagem permanente. Pode-se dizer que a inovação tecnológica substitui o fator de produção “terra”, identificando-se como o conhecimento inovador aplicado e não apenas como a tecnologia fisicamente representada, de forma tangível. É a capacidade de fazer algo de forma inovadora a partir de um conhecimento tecnológico inédito, representando um novo produto, serviço ou resultado. Portanto, a tecnologia pode ser definida como a aplicação do conhecimento científico a uma atividade produtiva. O grande avanço tecnológico dos nossos dias passa a considerar a tecnologia como uma variável estratégica para o desenvolvimento da empresa. Por sua vez, a renovação organizacional substitui o fator de produção “capital”. Representa os novos arranjos e novas conformações empresariais oriundas das fusões, aquisições, incorporações, parcerias, terceirização, dentre várias outras, constituindo os instrumentos poderosos de alavancagem dos velhos e novos recursos produtivos. A nova questão desafiadora está em adequar a empresa a uma nova e moderna conformação social, mais adequada para aportar e usufruir dos recursos financeiros disponíveis no mercado. Finalmente, a aprendizagem permanente coloca-se no lugar reservado ao fator de produção “trabalho”. A aprendizagem permanente é a o desafio de empreender uma nova qualificação da mão de obra, criando novas competências e, ainda, mantendo a capacidade de aprendizado constante dos trabalhadores para as novas tecnologias. 5.2 Teoria da firma A "empresa" é considerada um quarto fator de produção, pois é a organização econômica que tem a função de reunir ou combinar os fatores tradicionais da produção terra, trabalho e capital, agregando-os para produzir bens e serviços. A produção é, em essência, um processo de combinação de fatores. Esses vêm a ser qualquer bem ou serviço a entrar na composição de um produto, ou a colaborar para a sua elaboração. Assim, a semente, a terra, a máquina, o trabalho, a ferramenta, a matéria-prima são exemplos de fatores de produção. Portanto, a natureza fundamental da atividade empresarial, não importa o seu tamanho, é aglutinar, combinar, coordenar fatores de produção com vistas a transformá-los em produtos desejados pelo mercado. Todas as atividades empresariais visam ao mesmo objetivo: o lucro, uma remuneração residual e aleatória, diferença entre a receita da firma e os seus custos de toda ordem. O lucro é o que sobra entre o preço de mercado obtido pelo bem e o seu custo, isto é, a remuneração dos demais fatores. Ele remunera o fator organização e, sobretudo, o risco que essa organização envolve, pois, como resíduo, o lucro pode ser positivo, nulo ou mesmo negativo (prejuízo). É necessário distinguir empresa de empresário. A empresa é um conceito predominantemente econômico. É a atividade e o acervo de bens (instalações, maquinaria, etc.) que permite a condução da atividade produtiva. O empresário, pessoa física ou jurídica, é quem assume essa condução, ao contratar, oferecer, praticar, enfim, todos os atos de gestão empresarial, assumindo os correspondentes riscos. A definição de empresário está contida no artigo 966 do Código Civil: Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica para a produção ou circulação de bens ou de serviços. Empresa, portanto, é atividade econômica organizada, indicando movimento no sentido econômico de criação de riqueza, algo abstrato, não palpável. Por sua vez, empresário é apenas aquele indivíduo que exerce a empresa (atividade). [...] 2. O novo Código Civil Brasileiro, em que pese não ter definido expressamente a figura da empresa, conceituou no art. 966 o empresário como “quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços” e, ao assim proceder, propiciou ao interprete inferir o conceito jurídico de empresa como sendo “o exercício organizado ou profissional de atividade econômica para a produção ou a circulação de bens ou deserviços”. 3. Por exercício profissional da atividade econômica, elemento que integra o núcleo do conceito de empresa, há que se entender a exploração de atividade com finalidade lucrativa. [...] GRIFO NOSSO[6: BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. REsp 623.367/RJ, 2ª Turma, Relator Ministro João Otávio de Noronha, DJ 09.08.2004, p. 245, apud RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado. São Paulo: Método, 2010, p. 15.] O conceito de oferta leva imediatamente à chamada teoria da empresa ou teoria da firma, pois é nas unidades de produção que se geram os bens e serviços oferecidos ao mercado, pela combinação dos diversos fatores para a obtenção de lucro. A teoria da firma é a parte da microeconomia que se preocupa em estudar o comportamento da empresa. Esse tópico foi pouco abordado até agora, sendo que apresentamos apenas a curva de oferta de mercado. A teoria da firma abrange a Teoria da Produção, a Teoria dos Custos e a Análise dos Rendimentos da Firma. 5.2.1 Teoria da firma[7: PERSECHINI, Silvia Ferreira. Teoria da firma. Disponível em <http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/artigos/4442/artigos+ultimainstancia.shtml>. Acesso em 03.03.2012.] A teoria da firma é um conceito criado pelo economista britânico Ronald Coase, em seu artigo The Nature of the Firm, de 1937. Coase explica que as “firmas” são organizadas para atuarem nos mercados, com o objetivo de diminuir os custos de transação, que são aqueles incorporados por terceiros nas negociações econômicas do mercado (custos de informações, custos contratuais etc.). Em outras palavras, para o criador dessa Teoria, os agentes econômicos não atuam diretamente no mercado, as empresas são criadas e estruturadas para tanto. [8: COASE, Ronald H. The nature of the firm. 1937. Disponível em http://www.scribd.com/doc/2530438/COASEThe-Nature-of-the-Firm. Acesso em 03.3.2009.] Nesse particular, Rachel Sztajn registra que:[9: SZTAJN, Rachel. Teoria jurídica da empresa: atividade empresária e mercados. São Paulo: Atlas, 2004, p. 72.] Diferentes técnicas são empregadas pelos agentes econômicos para exercer domínio sobre a informação e o conhecimento disseminados em ambiente social que muda rapidamente. Por isso, para superar essas dificuldades, reduzir riscos e custos inerentes à produção de bens e serviços destinados a mercados, os agentes optam por criar uma outra estrutura, destinada a facilitar o tráfico negocial, organização essa que é a empresa, estrutura hierárquica em que se procura harmonizar esses diversos interesses, ao mesmo tempo em que se diminuem custo de transação. A partir dessa concepção foi construída a teoria da firma que estuda o comportamento da unidade do setor da produção. Ela procura explicar a forma de proceder da sociedade empresária quando esta desenvolve a sua atividade produtiva, para a produção de bens ou de serviços com mais eficiência. O mercado é o ambiente virtual onde acontecem as negociações contratuais, a circulação de bens, a celebração de contratos entre sociedades e entre consumidores e sociedades para a aquisição de bens. Para atuar diretamente no mercado há, obviamente, os custos de transação. Por isso, depender exclusivamente dele para realizar as trocas econômicas não é eficiente, mormente porque há momentos em que haverá escassez de alguns dos necessários fatores de produção. Por exemplo, de uma mão-de-obra para se realizar um trabalho específico ou de uma matéria-prima especial. Por isso, há necessidade de se organizar “firmas”. Nesse contexto, Ronald Coase citado por Rachel Sztajn explica que: [...] firmas, como instituição de aprovisionamento para facilitar o fornecimento de bens e serviços nos mercados, são resultado da procura de mecanismos de redução dos custos de transação, custos estes incorridos para ir ao mercado oferecer ou procurar bens e serviços, afirmando que as firmas, empresas ‘perhaps the most important adaptation to the existence of transaction costs’.[10: COASE, Ronald H. The problem of social cost. The firm, the market and the Law. Chicago, Londres: University of Chicago Press, 1990, p. 40. apud SZTAJN, Rachel. op. cit. p. 187.] Em outras palavras, Rachel Sztajn destaca que: A firma permite centralizar, organizar a produção, e com isso se reduzem os custos de ir a mercados; as firmas crescem, expandem-se, até que a economia obtida entre o custo de realizar ou organizar qualquer operação internamente seja superior ao custo de realizar a mesma operação via mercados.[11: SZTAJN, Rachel. Teoria jurídica da empresa: atividade empresária e mercados. São Paulo: Atlas, 2004, p. 187.] Assim, pode-se dizer que há duas opções de se realizar negociações econômicas: (i) diretamente no mercado e (ii) organizando sociedades empresárias. Nesse particular, Rachel Sztajn expõe claramente: Quem quer oferecer bens ou serviços no mercado, de forma eficiente e lucrativa, pode escolher entre organizar a empresa, isto é, organizar a produção, criar vínculos mais ou menos duradouros entre trabalhadores e fornecedores de matérias-primas e recursos ou recorrer pontualmente ao mercado quando houver necessidades de adquirir matérias-primas, contratar mão-de-obra ou qualquer dos outros fatores de produção. Essa segunda alternativa é mais arriscada do que a primeira, uma vez que não garante estabilidade nem regularidade de obtenção, para satisfazer às necessidades da produção, de qualquer dos fatores produtivos no mercado. Por isso, a doutrina econômica parte da produção, que se desenvolve ao longo do tempo, pode variar e resulta do trabalho de organização do empresário.[12: SZTAJN, Rachel. Teoria jurídica da empresa: atividade empresária e mercados. São Paulo: Atlas, 2004, p. 188.] Assim, de acordo com a teoria da firma, a organização de sociedades empresárias é necessária para diminuir os custos de transação que recaem sobre o empreendedor, em razão das instabilidades e imperfeições do mercado. Por meio da criação de sociedades empresárias, haverá formações de equipes organizadas (prestadores de serviços e fornecedores de recursos) sob o controle de gestão de um único empresário, o que ensejará uma produtividade mais eficiente. Isso porque as organizações econômicas estarão centradas em contratos de longo prazo, o que gera uma maior estabilidade da produção de bens ou serviços. Por exemplo, contratos de trabalho para a realização de uma tarefa bem específica eliminam a dificuldade da sociedade empresária de conseguir encontrar, no mercado, essa determinada mão-de-obra. Portanto, percebe-se que a atividade empresa, além de envolver o sistema jurídico, no sentido de ser uma atividade econômica organizada para a prestação ou circulação de bens ou serviços, está relacionada com a eficiência da produção, para atingir a redução de custos e a maximização de lucros, sendo, portanto, indispensável à análise de seu conceito econômico. 5.2.2 Teoria da produção Produção é o processo pelo qual uma firma transforma os fatores de produção adquiridos em produtos e serviços para a venda no mercado. A firma compra insumos e combina-os segundo um processo de produção escolhido e vende produtos no mercado. O processo de produção pode ser ou não mão-de-obra intensivo, ou terra intensivo, dependendo do fator de produção utilizado em maior quantidade, relativamente aos demais. Ela é condicionada em sua atividade pela manifestação dos preços relativos e por leis não apenas institucionais, como também de caráter físico, técnico ou tecnológico. Assim P = f(N, W, K) é a formulação geral da função produção, relacionando a quantidade de um produto final com a quantidade de fatores empregados na sua produção, no caso natureza (N), trabalho (W) e capital (K). A função de produção é a relação técnica entre quantidade física de fatores de produção e a quantidade física do produto em determinado período de tempo. Essa função supõe que foi atendida a eficiência técnica e não deve ser confundido com função de oferta, que é um conceito econômico, pois relacionaprodução com os preços dos fatores de produção, enquanto que a função de produção é um conceito mais físico ou tecnológico, pois se refere à relação entre quantidades físicas de produtos e fatores de produção. Temos que explicitar, inicialmente, cinco conceitos básicos da Teoria da Produção, que são: a) Empresa ou Firma - é uma unidade técnica que produz bens e/ou serviços de forma racional, procurando maximizar seus resultados relativos a produção e o lucro. Esse conceito abrange um empreendimento de modo geral, que inclui as atividades industriais e agrícolas, as atividades profissionais, técnicas e de serviços. Assim, é uma firma um mecânico de automóveis, um barbeiro, um médico, uma loja de confecções, a General Motors, etc. b) Fator de Produção - são bens ou serviços transformáveis em produção, e se dividem em: • fatores de produção primários - são os fatores naturais, que existem independentemente da ocorrência de um processo produtivo anterior. Exemplo de fator de produção primário é a terra; e • fatores de produção secundários - são aqueles que necessitam de um processo produtivo anterior para criá-los. Exemplo de um fator de produção secundário são as máquinas; c) Produção - é a transformação dos fatores de produção adquiridos pela empresa em produtos. d) Função de Produção - é a relação que mostra qual a quantidade máxima obtida do produto a partir da quantidade utilizada dos fatores de produção. e) Processo de Produção - é a técnica por meio da qual um ou mais produtos vão ser obtidos a partir da utilização de determinadas quantidades de fatores de produção. A escolha do Processo de Produção depende de sua eficiência, podendo ser avaliada pelo ponto de vista tecnológico ou pelo ponto de vista econômico. Eficiência técnica: entre dois ou mais processos de produção, é aquele que permite produzir uma mesma quantidade de produto, utilizando menor quantidade física de fatores de produção. Eficiência econômica: entre dois ou mais processos de produção, é aquele que permite produzir uma mesma quantidade de produto com menor custo de produção. O método ou Processo de Produção diz respeito a diferentes possibilidades de combinações entre os fatores de produção, para produzir uma dada quantidade de um bem ou serviço. Consideremos um exemplo para entender esses conceitos. Suponha que temos uma fazenda de 100 hectares, dos quais 80 são aptos ao plantio de soja. A fazenda é uma firma. Os 80 hectares de terra adequados ao plantio de soja, o trabalho utilizado, as sementes, os inseticidas, os corretivos de solo, etc., são os fatores de produção. Esses serão combinados, através de determinada técnica, para gerar a produção de soja. Existem várias técnicas de plantio de soja como equipamento para plantio convencional ou plantio direto, sementes por metro linear, agrotóxicos, variedades, etc. Cada uma dessas técnicas é um processo de produção. A função de produção considera o processo de produção que permite obter o máximo produto a partir de certa quantidade de fatores de produção. Portanto, a função de produção indica o máximo de produto que se pode obter com as quantidades dos fatores, uma vez escolhido determinado processo de produção mais conveniente. Aumentando a quantidade de fatores, a quantidade de produto poderá aumentar em menor ou maior proporção. Neste último caso, surge o fenômeno dos rendimentos crescentes, ou seja, um acréscimo mais do que proporcional de quantidade produzida em virtude da resposta de alguns fatores quando combinados com outros. Poderá também haver um retorno mais do que proporcional em virtude de existência de economias de escala. Rendimentos crescentes de escala ou economias de escala ocorrem quando a variação na quantidade do produto total é mais que proporcional à variação utilizada dos fatores de produção. Por exemplo, aumentando-se a utilização dos fatores em 20%, o produto cresce 30%. Entre as causas geradoras dos rendimentos crescentes de escala temos a influência das relações dimensionais e a indivisibilidade dos fatores de produção. Vejam os seguintes exemplos de indivisibilidade técnica: a) Um trator mais possante permite maior produção por HP (medida de potência do motor) e não podemos usar um trator e meio, mas apenas deixar o 2º trator ocioso; b) Numa siderúrgica, como não existe meio forno, quando se adquire mais um forno, deve ocorrer um grande aumento na produção de aço; c) Uma prensa ou um laminador tanto poderão produzir 100 peças por dia, como 1.000, sem que sejam alterados em suas características técnicas. O custo de produzir 100 peças será bem maior do que produzir 1.000 peças. Rendimentos constantes de escala ocorrem quando a variação do produto total é proporcional à variação da quantidade utilizada dos fatores de produção. Por exemplo, aumentando em 20% a utilização dos fatores, o produto também cresce de 20%. A função produção não implica serem fixos os fatores dela componentes. Apresentada na sua forma mais geral, esta premissa pode dar uma idéia de que a produção opera com extraordinária simplicidade. No entanto, é um dos temas mais complexos em microeconomia, situando-se na fronteira desta com a aplicação de tecnologia. A esta questão dá-se o nome de substituição de fatores. Dentro de determinados limites, dentre os quais está as características técnicas de cada fator de produção, estes podem ser substituídos no processo produtivo de algum bem. Assim, por exemplo, 1.000 sacas de café podem ser produzidas utilizando-se maior quantidade de terra e poucos recursos de capital ou vice-versa, restringindo-se a área plantada com o emprego de maior quantidade de máquinas, fertilizantes corretivos de solo, etc. Determinados bens podem ser produzidos com grande emprego de mão de obra e reduzida utilização de capital ou, pelo contrário, com uso abundante de maquinaria ou equipamentos e pouca utilização do fator trabalho. Chama-se isoquanta da produção a curva que indica as possíveis combinações de fatores para um dado nível de produção. No gráfico, 1.000 sacas de café podem ser produzidas com qualquer combinação de fatores (terra e capital) indicada pelo gráfico. A curva é chamada de isoquanta porque cada um dos seus pontos indica sempre a mesma quantidade produzida (1.000 sacas), variando apenas a quantidade de cada fator de produção empregado para atingir a mencionada produção. Assim, uma isoquanta significa igual quantidade e pode ser definida como sendo uma linha na qual todos os pontos representam infinitas combinações de fatores, que indicam a mesma quantidade produzida, expressando os vários métodos ou processos alternativos de produção, que proporcionam a mesma quantidade produzida. Um conjunto de isoquantas, cada qual mostrando um nível de produção, representa uma família de isoquantas ou mapa de produção. A escolha de uma particular isoquanta corresponde à escolha da quantidade que o empresário deseja produzir, dependerá dos custos de produção e da demanda pelo produto da firma. A longo prazo, analisa-se as vantagens e desvantagens de a empresa aumentar sua dimensão e seu tamanho, o que implica demandar mais fatores de produção, introduzindo o conceito de rendimentos ou economias de escala. 5.2.2.1 Lei dos rendimentos decrescentes O processo de substituição de fatores, porém, tem limites. Esses tornam-se claros pela chamada Lei dos Rendimentos Decrescentes, também conhecida como Lei das Proporções Variáveis ou Lei da Produtividade Marginal Decrescente, que descreve o comportamento da taxa de variação da produção quando é possível variar apenas um dos fatores, permanecendo constante os demais. Segundo essa lei, se a um determinado fator fixo em quantidade forem-se adicionando unidades sucessivas de um outro fator, os acréscimos de produção obtidos tenderão a crescer; porém, após um certo ponto, tal crescimento será cada vez menos que proporcional, podendo mesmo vir a se anular ou se tornar negativo. se aumentarmos a quantidade de um fator variável, permanecendoa quantidade dos demais fatores fixa, a produção, inicialmente, aumentará a taxas crescentes. Depois de certa quantidade utilizada do fator variável, a produção passaria a aumentar a taxas decrescentes. Depois de certo limite de uso do fator variável, continuando o incremento da utilização desse fator, a produção decrescerá. O exemplo seria um hectare de terra (fator fixo) ao qual se fossem aplicando doses sucessivas de um fertilizante. A princípio, os acréscimos de produção seriam palpáveis; porém, após um certo tempo, eles se tornariam cada vez mais diminutos até o ponto em que a terra não mais reagisse ou mesmo reagisse negativamente, em virtude dos efeitos perniciosos de uma excessiva concentração do fertilizante. Daí por diante a incorporação de novas terras à produção restabeleceria o equilíbrio entre os fatores. Este fenômeno é denominado produtividade marginal e corresponde no campo da produção ao da utilidade marginal já mencionado anteriormente. Três pontos devem ser ressaltados na Lei dos Rendimentos Decrescentes: a) Só ocorre quando temos apenas um fator variável e todos os demais fixos; b) Ocorre devido a uma alteração nas proporções da combinação entre os fatores c) Foi considerada pelo economista clássico David Ricardo (1772 – 1823) como válida para a agricultura e generalizada pelos economistas neoclássicos para toda a economia. Em outras palavras, os rendimentos decrescentes de escala ou deseconomias de escala ocorrem quando a variação do produto é menos do que proporcional à variação na utilização dos fatores. Por exemplo, aumentando a utilização dos fatores em 20%, o produto cresce 10%. É explicado pelo fato da capacidade do empresário ou do administrador ser fixa no longo prazo. Esse fato gera proporções variáveis nas combinações entre os fatores, ocasionando o surgimento de rendimentos decrescentes de escala. Um provável motivo para que ocorra rendimentos decrescentes de escala reside no fato de a expansão da empresa poder provar uma descentralização que pode acarretar problemas de comunicação entre a direção e as linhas de produção. 5.2.3 Custos de produção Em um regime de mercado o que irá determinar a decisão da empresa por uma ou outra maneira de produzir será o preço dos fatores que, no fundo, representam o seu custo. Não deve ser esquecido que a empresa busca a maximização de diferença residual entre preço e custo, a sua remuneração específica pela atividade empreendedora, qual seja, o lucro. Devem ser considerados os seguintes custos: Custo direto ou variável; Custo indireto ou fixo; Custo médio; Custo marginal; Custo social. Custo direto ou variável – Varia estritamente em função da quantidade produzida. Nas atividades comerciais é o valor de aquisição das mercadorias a serem revendidas. Nas atividades industriais são os valores gastos na fabricação dos produtos a serem vendidos, envolvendo matérias-primas, energia elétrica e mão-de-obra diretamente utilizada no processo de fabricação. Nas atividades de prestação de serviços são os gastos com a mão-de-obra diretamente envolvida e com os materiais utilizados na realização do serviço prestado. Custo indireto ou fixo – É aquele que não depende do volume produzido, sendo incorrido pela firma seja qual for o nível de sua produção. São custos fixos as máquinas, equipamentos, instalações, a energia consumida nos escritórios da administração da fábrica, a terra, a mão de obra não vinculada diretamente à produção ou vendas, o aluguel da fábrica, e assim por diante. São custos indiretos os referentes a todos os recursos consumidos pela empresa que não estão diretamente relacionados com o produto, porém são realizados para possibilitar a sua produção. Sua ocorrência se dá em todas as fases do processo produtivo, é de fácil percepção. Porém, sua atribuição ao produto exige uma grande habilidade e conhecimento das pessoas que trabalham na área de custos da empresa. Custo médio – Vem a ser a somatória dos custos indiretos e diretos (custo total) dividido pelo número de unidades produzidas. Se o custo fixo for muito alto, o custo médio das primeiras unidades fabricadas será elevado. Ele irá decrescendo, porém, na medida em que o número de unidades crescer, pois, como é intuitivo, neste caso, o custo fixo se diluirá por um número muito maior de unidades produzidas. O mesmo se dá com os rendimentos crescentes ou decrescentes. Enquanto os rendimentos forem crescentes, o custo médio cairá, para a seguir se elevar, quando os rendimentos forem decrescentes. O custo médio total divide-se em custo médio fixo e variável. O custo médio fixo é sempre decrescente na quantidade produzida, pois quanto mais a firma produz, mais os custos fixos são diluídos entre as várias unidades produzidas do bem final. O custo médio variável pode ser decrescente inicialmente, mas, como alguns fatores estão fixos, ele se tornará crescente quando a produção aumentar (se a produção aumentar muito vai chegar um momento onde os fatores fixos vão ser o principal empecilho à produção). Para quantidades pequenas de produção, boa parte dos custos totais são custos fixos. Para níveis altos de produção, esses custos fixos são diluídos e irão compor uma parte menor dos custos totais. Em termos de custos médios, esses são decrescentes para níveis baixos de produção, em razão da predominância dos custos fixos médios sobre custos variáveis médios quando o nível de produção é baixo, e são crescentes para níveis altos de produção, já que a relação entre custos fixos médios e custos variáveis médios se inverte para níveis de produção altos. Portanto, o formato mais comum para a curva de custo médio é um “U”. O Gráfico acima apresenta as curvas de custo fixo médio (CFMe), custo variável médio (CVMe), custo total médio (CMe) e custo marginal (CMa). A curva de custo fixo médio (CFMe) inclina-se para baixo e para a direita em toda a sua extensão não interceptando o eixo horizontal ou o vertical. É uma hipérbole retangular. A curva de custo variável médio (CVMe), geralmente tem a forma de “U”. Inicialmente, apresenta uma inclinação descendente e depois passa a ter uma inclinação ascendente. Isto se explica porque inicialmente o custo médio cai por se estar em uma fase de rendimentos crescentes. No entanto, após se chegar a um mínimo, surge a fase de rendimentos decrescentes e aí o custo médio começa a se elevar. O mesmo formato em “U” é observado nas curvas de custo total médio (CMe) e, vale ressaltar, tal forma depende da eficiência com que ambos os recursos, fixos e variáveis, são utilizados. Resumindo, a curva de custos médios é a soma da curva de custo variável médio (CVMe) mais a soma da curva de custo fixo médio (CFMe). A curva de custo fixo médio (CFMe) é sempre decrescente, e se aproxima de zero quando a produção aumenta. Ou seja, para níveis mais altos de produção, a curva de custos variáveis médios se aproxima da curva de custo médio total. Custo marginal – É o custo de produzir uma unidade a mais do bem em questão. Trata-se de uma noção das mais importantes, pois a curto prazo, e sempre em regime concorrencial, a empresa pautará as suas decisões em função de seu custo marginal, produzindo até o ponto em que este (custo marginal) for igual ao preço encontrado no mercado. Este último ponto nada mais é do que a receita marginal da empresa, isto é, a receita trazida pela venda de uma unidade adicional de seu produto ou serviço no mercado. À ausência de economias de escala ou rendimentos crescentes o custo marginal e o custo médio coincidem. O comportamento do custo marginal também apresenta a forma de “U”, sendo decrescente até um certo ponto devido ao rendimentos marginais crescentes e daí em diante torna-se crescente. No gráfico acima, a curva de custo marginal é a vermelha, que representa a evolução do custo marginal como uma parábola côncava, devido a lei dos rendimentos decrescentes. No ponto mínimo de curva, se encontra o número de bens que devem ser produzidos para que os custossejam mínimos. O custo marginal começa por ser decrescente, em seguida tem um valor mínimo, passando depois a ser representado por uma curva crescente. Este andamento, do custo marginal, é explicado por dois fatores: numa primeira fase, o custo marginal cai porque os custos fixos são progressivamente diluídos por mais unidades. A partir de determinado ponto impera a já referida lei dos rendimentos decrescentes. Ponto de equilíbrio – A proporção entre custos fixos e variáveis dá margem a um importante conceito chamado de ponto de equilíbrio. Ele corresponde àquele volume da produção no qual todos os custos (custo total) são cobertos, não deixando, porém, qualquer margem de lucro ao empresário. É o ponto no qual não há nem lucro nem prejuízo e corresponde ao mínimo necessário para a empresa apenas pagar seus custos, ou seja, sobreviver. Em um escritório de advocacia, o ponto de equilíbrio serão número de horas mensais a ser trabalhado e faturado aos clientes para deixar o escritório neutro, isto é, em condições de pagar todos os seus custos. A próxima hora trabalhada após este número mínimo de horas representará o primeiro lucro do mês a ser atribuído aos sócios do escritório ou distribuído ao conjunto de advogados. Conforme se pode observar a figura abaixo, o ponto de equilíbrio é o ponto onde a linha da receita cruza com a linha do custo total. Para se calcular o Ponto de Equilíbrio, necessário se faz é o conhecimento do conceito de margem de contribuição que é a diferença entre o preço de venda unitário do produto e os custos e despesas variáveis por unidade de produto. Portanto, o ponto de equilíbrio equivale ao lucro variável, que é a diferença entre o preço de venda unitário do produto e os custos e despesas variáveis por unidade do produto. Isto significa que, em cada unidade vendida, a empresa terá um determinado valor de lucro. Multiplicado pelo total das vendas, teremos a contribuição marginal total do produto para o lucro da empresa. Em outras palavras, o ponto de equilíbrio significa o faturamento mínimo que a empresa tem que atingir para que não tenha prejuízo, mas que também não estará conquistando lucro neste ponto. Em cada unidade vendida a empresa lucrará um determinado valor. Multiplicado pelo total vendido, teremos a contribuição marginal total do produto para a empresa. Margem de contribuição, nada mais é do que a soma dos resultados positivos, obtidos através da receita pela venda de determinado produto, menos os custos variáveis para produzi-los. Este resultado, que é denominado margem de contribuição, deverá ser igual aos custos fixos para que se chegue ao ponto de equilíbrio. 5 ESTRUTURAS DE MERCADO Muito embora não haja separações absolutas entre um regime de mercado e outro, nem compartimentos estanques, podem-se identificar quatro grandes tipos ou estruturas de mercado. São elas a concorrência perfeita, a concorrência imperfeita ou monopolística, o oligopólio (com o seu correspondente oligopsônio) e o monopólio (com seu correspondente monopsônio). 5.1 A Concorrência Perfeita É um tipo de mercado em que há um grande número de vendedores (empresas) e de compradores, de tal sorte que uma empresa, isoladamente, por ser insignificante, não afeta o nível da oferta (quantidade de bens ofertados), nem tampouco o preço de equilíbrio, que também não é alterado pelos compradores, que representam a demanda ou procura. Diz-se que é um mercado atomizado, pois é composto de um número expressivo de agentes. Assim, para se caracterizar, o regime de concorrência perfeita exige um grande numero de requisitos, dentre os quais são essenciais os seguintes: a) grande n° de compradores e vendedores em interação recíproca; b) nenhum deles suficientemente importante a ponto de exercer qualquer influência nas condições de compra ou de venda do produto em questão (atomização de mercado); c) homogeneidade do produto objeto das operações; d) plena mobilidade dos agentes operadores e de seus fatores, isto é, facilidade de acesso ao mercado e de retirada dele por parte de qualquer interessado; e) pleno acesso dos operadores a todas as informações relevantes; f) ausência de economias de escala; g) ausência de economias externas. Percebe-se a que um regime de mercado como este representa muito mais uma abstração do que uma situação encontrada na realidade. Contudo, permite elaborar um padrão de referência para análise das situações concretas. Na concorrência perfeita o preço se forma natural e objetivamente da interação recíproca dos inúmeros agentes que atuam no mercado, na mais absoluta realização da lei da oferta e da procura. Diz-se que neste mercado vigora o princípio da soberania do consumidor, já que todo o aparato produtivo do mercado se expandirá ou se contrairá em função do que ele decidir. Neste regime de mercado, toda vez que a margem de lucro do empresário sobe, outros novos empreendedores se interessariam em atuar no segmento do mercado e passariam a fabricar o mesmo produto oferecendo-o ao consumidor provocando, dessa forma, uma queda do preço do produto (e da margem de lucro do produtor) pelo aumento da oferta. A queda da margem de lucro provocaria a saída de fabricantes do mercado. Este comportamento contribuiria para o restabelecimento do preço e para a manutenção da margem de lucro do empresário, que é sempre muito pequena. Uma característica do mercado em concorrência perfeita é que, a longo prazo, não existem lucros anormais ou lucros extraordinários (isto é, a fração do lucro que está acima do lucro médio do mercado), mas apenas os chamados lucros normais, que representam a remuneração implícita do empresário (seu custo de oportunidade ou o que ele ganharia se aplicasse seu capital em outra atividade, segundo a rentabilidade média de mercado). Num regime de mercado como este não se imaginaria um processo de desenvolvimento permanente, pois não se gerariam os recursos para investimento em novas técnicas e equipamentos, dada a tendência a zero do lucro do empresário. Muito embora este regime em sua pureza constitua um modelo abstrato, alguns mercados da vida real dele se aproximam bastante quanto às suas características básicas. Assim, por exemplo, uma feira livre apresenta diversas características dentre as acima apontadas, como: a homogeneidade dos produtos ofertados, a atomização do mercado do qual nenhum comprador ou vendedor detém uma parcela suficientemente importante a ponto de lhe permitir influir sobre o preço, o acesso imediato às informações relevantes e assim por diante. 5.2 Concorrência imperfeita Este regime, como o anterior, se caracteriza pela existência de um número bastante grande de compradores e vendedores. Porém, não possui as características do regime da concorrência perfeita, particularmente o da homogeneidade dos produtos negociados no mercado e o da sua atomização. O mercado se apresenta não unificado, mas compartimentado, de forma que será possível perceber a importância ou o peso individual de um ou de alguns operadores. Como ainda é possível que tais operadores se interajam no mercado, passando de um para outro compartimento, este regime ainda é chamado de concorrencial. A compartimentalização do mercado é entendida como a possibilidade de se diferenciar o produto vendido, ou seja, de apresentá-lo sob formas e condições diversas, por isso não se aplica nesta realidade do mercado a característica da homogeneidade do bem, como visto no modelo da concorrência perfeita. A diferenciação do produto pode ser objetiva (diferenças de qualidades, acabamento ou apresentação) ou subjetiva (via propaganda o consumidor acredita que um outro produto é superior). É interessante observar que quanto mais imperfeita for a concorrência mais difícil se torna a interligação entre os compartimentos do mercado e, em cada um deles, os vendedores desfrutarão de uma posição muito próxima de um monopolista. Monopólio, oligopólio e concorrência monopolística constituem formas mais extremadas de concorrência imperfeita. Nestesentido, a intervenção governamental na economia objetiva atenuar os efeitos da concorrência imperfeita e melhorar a eficiência econômica, promover uma melhor distribuição de renda, estimular o crescimento e a estabilidade da economia através de políticas macroeconômicas. Entre as duas situações extremas da concorrência perfeita e do monopólio existe toda uma variedade de estruturas de mercado intermédias, as quais se enquadram na chamada concorrência imperfeita. As empresas que se inserem nestas estruturas de mercado têm um tipo de comportamento que, em geral, é caracterizado por algum dos seguintes aspectos: a) Os produtos são diferenciados, isto é, as empresas escolhem as características particulares do produto que produzem, diferenciando-o dos produtos similares dos concorrentes (procuram criar um “nicho de mercado”); b) Os preços dos produtos são distintos, isto é, as empresas têm a possibilidade de escolher (dentro de certa margem) o preço do seu produto, o que, em grande parte, é determinado pela característica anterior da diferenciação do produto. Neste sentido, cada empresa detém um certo poder de mercado, dizendo-se que ela é “fazedora de preço”, por contraposição a “tomadora de preço” como acontece na concorrência perfeita, e que os preços são administrados, no sentido em que não são definidos exclusivamente pelo equilíbrio das forças de mercado. 5.3 Oligopólio É o regime no qual a oferta está concentrada na mão de poucos. Do grego oligos (poucos) e polein (vender). Isso sucede não apenas quando os vendedores formam realmente um pequeno grupo, como também quando, muito embora em grande número, há profunda diferença de importância econômica entre eles. Assim, uma indústria automobilística com poucos fabricantes caracterizará um oligopólio e a entrada no mercado de algumas pequenas fábricas a mais não alteraria essa situação. No oligopólio, existem poucos concorrentes, de tal forma que cada empresa está bem consciente dos efeitos que as decisões dos rivais podem ter em si própria, assim como dos efeitos das suas ações sobre os rivais e das respostas/reações que estes últimos vão implementar. Por outras palavras, as empresas oligopolísticas estão bem inteiradas da interdependência entre as decisões tomadas por todas elas. É fácil compreender que na situação de oligopólio há uma será tendência no sentido da união dos operadores, os quais passarão a atuar como se fossem uma só unidade, caracterizando o monopólio. Porém, numa situação de crise, os oligopolistas tenderão a voltar para o regime anterior (oligopólio), preferindo praticar uma concorrência imperfeita para obter uma fatia maior de mercado. Neste sentido, as empresas oligopolísticas exibem um comportamento estratégico, por oposição às empresas em concorrência perfeita e em concorrência monopolística, as quais não têm em linha de conta as reações dos adversários (comportamento não estratégico). O dilema básico do oligopólio pode enunciar-se e resumir-se em “competir ou cooperar?”. Por um lado, as empresas oligopolísticas realizam mais lucros no seu todo (isto é, como se fossem um grupo ou uma só empresa monopolista) se cooperarem; por outro lado, individualmente consideradas, fazem mais lucro se abandonarem o grupo enquanto os outros mantêm a cooperação (isto é, quebram a ligação/acordo com o grupo e passam a competir com ele). No primeiro caso, temos um comportamento cooperativo; no segundo caso, um comportamento não cooperativo (ou competitivo). Quando os oligopolistas estão em processo competitivo, isto é, sem conluio com os demais, surgem os chamados segredos industriais (tecnológicos), cuidadosamente guardados pelas empresas e alvo muitas vezes de mirabolantes esquemas de espionagem industrial, contrafação de marcas e patentes e diversos outros expedientes aos quais o direito dedica especial atenção, mediante os conceitos de concorrência desleal, práticas abusivas de comercialização, propaganda mentirosa ou abusiva, tutela da concorrência, antitruste, defesa do consumidor e propriedade industrial. Neste tipo de mercado os preços praticados estão normalmente acima dos preços da concorrência perfeita e abaixo dos preços praticados no monopólio. A grande preocupação dos oligopolistas, bem como dos monopolistas, é manter as chamadas barreiras à entrada de novos competidores no mercado. O que eles procuram fazer é sofisticar desnecessariamente o seu produto ou capturar as agências reguladoras da sua atividade, de forma que estas exijam dos novos participantes medidas obrigatórias de segurança ou de qualidade do produto, inviabilizando sua entrada no mercado. Denomina-se mercado oligopsônico a situação inversa, qual seja, quando se verifica um oligopólio de compra, onde poucos compradores se deparam com vendedores atomizados. É o caso típico da agroindústria transformadora (óleos vegetais, usinas de açúcar e álcool, frigoríficos), que se apresentam em pequeno número em relação a um mercado de centenas de vendedores e/ou produtores. O lucro dos oligopsonistas provém do controle da procura e não da oferta, e toda a sua estratégia terá como objetivo pagar um preço menor daquele que se estabeleceria em regime de concorrência ainda que imperfeita. 5.4 Monopólio O monopólio caracteriza-se quando uma única empresa produz determinado bem, não existindo nenhum bem substituto próximo (exemplo Petrobrás). Este modelo leva a que seja quase impossível entrarem novas empresas concorrentes no mercado, pela existência de barreiras à sua entrada. O monopolista típico na teoria clássica está em condições de atuar em simultaneamente nas duas variáveis que caracterizam a compra e venda: o preço e a quantidade. Pode reduzir a quantidade oferecida no mercado, criando uma sensação de escassez e, ao mesmo tempo, fixar o preço do seu produto tão alto quanto possível. Para o monopolista, a curva de procura é a curva do mercado, já que ele concentra para si o atendimento de todo o mercado. A rigor, no monopólio deixa de existir o preço de mercado, pois ele será, em boa medida, uma decisão exclusiva do monopolista. O monopólio absoluto de mercado é caso relativamente raro, uma vez que o monopolista estará sempre limitado pela possibilidade de entrada no mercado de novos agentes econômicos, atraídos pelos altos lucros gerados pelo monopólio ou pelo surgimento de produtos sucedâneos, que podem substituir o produto monopolizado. A situação de monopólio pode ser o resultado de imposição do legislador (monopólio legal) ou devido às próprias características do mercado, que levem a que seja economicamente mais eficiente que apenas uma só empresa produza o bem em situação monopolística (monopólio natural). Outras causas podem, também, estar relacionadas com a existência de necessidade de criar economias de escala associadas à produção do bem, assim como a possibilidade de abuso de posição dominante pela empresa monopolista. É o denominado monopólio natural, que se verifica em uma atividade na qual os custos de produção fixos (maquinaria, instalações, base territorial, etc) são desproporcionalmente elevados em relação aos custos variáveis (matérias primas, mão de obra, energia, etc), exigindo uma produção em alta escala para diluí-los, e o mercado somente absorve a oferta de uma empresa naquele nível de produção. As próprias condições estruturais e tecnológicas desses setores é que impedem sua organização em regime de concorrência. As formas mais comumente utilizadas no caso do monopólio natural são a nacionalização das empresas atuantes no setor e/ou a criação de agências reguladoras governamentais, quando tais atividades forem mantidas no setor privado. Isto implica no estabelecimento de mecanismos diretos ou indiretos de preços administrados pelo governo e o controle de entrada de novos agentes no setor. Alterações nos elementos do processo de produção ou do próprio mercado podem, no entanto, vir a desclassificar determinados setores como monopólios naturais. Além do progresso técnico, a redução dos preçosdos insumos pode propiciar a fim de uma estrutura de monopólio natural. Neste caso, quando um setor monopolizado for considerado passível de se organizar por parâmetros de mercado no regime concorrencial, o farão mediante meticulosa regulamentação estatal, atenta às suas características próprias, de forma a assegurar o abastecimento da população. É caso brasileiro, notadamente no setor elétrico (ANEEL), de comunicações (ANATEL) e, de forma mais comedida, do petróleo (ANP), dentre outros. Monopsônio corresponde à recíproca do monopólio no campo da procura. A atitude do monopsonista será retardar suas compras tanto quanto possível, a fim de forçar os vendedores a lhe entregar o produto a um preço mais baixo. Exemplo seria de um abatedouro de aves, o único a operar em determinada região. Ao retardar suas compras, o abatedouro poderia levar os granjeiros a situações insustentáveis, pois é sabido que as aves têm um momento certo para serem abatidas. 5.5 Processo de concentração econômica Pelo acima exposto, verifica-se ser a concorrência uma questão de grau e intensidade. O grau máximo é o regime da concorrência perfeita, diminuindo gradativamente nos regimes intermediários e chega a ser mínimo no caso do monopólio ou do monopsônio. Para que a concorrência se apresente em alto grau é necessária a conjugação de diversos fatores, porém o mais importante será sempre a existência de um número razoavelmente elevado de agentes operadores do mercado. Quando este número tende a cair estaremos diante de um fenômeno de concentração econômica, onde há uma perda das condições concorrenciais de mercado. Quando o número em si dos concorrentes de mercado não se reduz, mas ocorre a sua união em cartel, produz-se o mesmo fenômeno, afetando o funcionamento ideal do mercado pela ausência da concorrência necessária ao seu bom funcionamento. 5.5.1 Tipos de concentração A concentração de mercado pode ser de três tipos: a) Vertical – Quando os vários estágios de produção são dominados por uma só empresa ou grupo de empresas. Assim, quando uma empresa extraia o minério, o refine, produza a folha de aço, exerça a manufatura de objetos de metal extraído desse minério e os venda no mercado praticará uma concentração vertical; b) Horizontal – Quando a concentração se verifica em um mesmo estágio do processo produtivo. Exemplo: quando vários produtores de matérias primas se reúnem, apresentando-se no mercado como um único bloco (indústrias de cimento) ou quando algumas unidades atuantes no mercado são adquiridas por outras (Perdigão e Sadia). c) Conglomeração – Quando atividades diversas e, as vezes, aparentemente desconexas, são conduzidas sob o comando de um único centro decisório. Exemplo: fábricas de produtos diversos, empresas jornalísticas, transportadoras, redes varejistas, granjas avícolas, etc. atuando com divisões de uma grande empresa ou como empresas interligadas por vínculos societários. 5.5.2 Causas das concentração a) Progresso tecnológico – Este implica numa proporção cada vez maior dos custos fixos, o que, por sua vez, torna muito pesados os investimentos para os potenciais investidores; b) Possibilidade de discriminação de mercados e de diferenciação de produtos – Quanto maior esta possibilidade, mais os consumidores estarão cativos e mais compartimentado estará o mercado, conferindo poderes quase ou totalmente monopolistas aos que nele operam. c) Estrutura favorável de custos para certas empresas – Exemplo: processo de fabricação exclusivo, acesso a fontes privilegiadas de matéria prima, em tudo dificultando o acesso de outras firmas no mercado. d) Escassez de espírito empresarial – A aversão ao risco do empreendedorismo por determinados setores da sociedade provocará a concentração da iniciativa de empreender e auferir lucros na mão de alguns poucos. 5.5.3 Modalidades de concentração a) Cartel - Um cartel consiste numa organização de empresas independentes entre si (autônomas e que mantêm a sua individualidade), que produzem o mesmo tipo de bens e que se associam para elevar os preços de venda e limitar a produção, criando assim uma situação semelhante a um monopólio (no sentido em que as empresas cartelizadas funcionam como uma única empresa). Este tipo de acordo pode concretizar-se pela fixação conjunta de políticas comuns, seja de preços de venda, pela divisão do mercado entre si ou pela fixação de quotas de produção para cada uma das empresas participantes. No seu sentido pleno, os cartéis começaram na Alemanha no século XIX e tiveram seu apogeu no período entre as guerras mundiais. Os cartéis prejudicam a economia por impedir o acesso do consumidor à livre-concorrência e beneficiar empresas não-rentáveis. Normalmente os cartéis prosperam nas fases de expansão dos mercados, quando os seus participantes percebem que há espaço para todos venderem seus produtos. Por conseguinte, as crises são as grandes destruidoras dos cartéis, pois quando ocorrem, algumas unidades se animam a descumprir o acordo por uma questão de sobrevivência. Devido às limitações que provocam na concorrência e conseqüente ineficiências de mercado, este tipo de conluios são proibidos na maioria dos países em que vigora a economia de mercado (através das leis anti-truste). O cartel de países mais conhecido é a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o qual é constituído pela maioria dos maiores produtores de petróleo. Embora a OPEP não tenha o domínio absoluto do mercado, consegue ter uma influência extremamente forte através do seu sistema de fixação de quotas de produção para cada um dos países membros. b) Truste – Corresponde a uma modalidade de integração de empresas que originalmente se utilizavam para tanto de um instituto jurídico típico do direito anglo-saxão: o trust que em inglês significa confiar. É uma espécie de oligopólio. Os trustes surgiram em 1882 nos EUA, e o temor de que adquirissem poder muito grande e impusessem monopólios muito extensos fez com que logo fossem adotadas leis antitrustes, como a Lei Sherman, aprovada pelos norte-americanos em 1890. Segundo a Lei Sherman, criada para proteger a livre concorrência, (a) todo contrato, combinação em forma de truste ou outra qualquer, ou conspiração para restringir o comércio entre os diversos estados ou com nações estrangeiras é declarada ilegal; (b) Toda a pessoa que monopolize ou tente monopolizar qualquer ramo da indústria ou do comércio entre os diversos estados ou com nações estrangeiras será considerada culpada. Por esta forma os acionistas de duas sociedades confiavam a uma terceira pessoa o exercício dos direitos relativos às ações de sua propriedade (trustee), que passa então a exercê-los como se fosse seu titular. Os acionistas das duas empresas não poderão exercer sua administração, mas tão somente receber os direitos relativos às ações (dividendos) das empresas que formam o trust. No Brasil a prática é vedada (Lei Antitruste n° 8884/94). c) Holding – É uma sociedade gestora de participações sociais (conhecida em inglês por holding) é forma de sociedade criada com o objetivo de administrar um grupo delas (conglomerado). A holding possuirá a maioria das ações ou quotas das empresas componentes de determinado grupo de empresas. Essa forma de sociedade é muito utilizada por médias e grandes corporações e normalmente visa melhorar a estrutura de capital da empresa ou como parte de alguma parceria com outras empresas. Exemplo prático de como uma holding pode ser utilizada: A empresa Acme fabrica e vende sapatos no Brasil. Ela acha que pode ganhar dinheiro se vender tênis também, mas ela não tem nenhuma experiência na fabricação de tênis. A empresa alemã Beta faz ótimos tênis e gostaria de vender seus produtos no Brasil, mas ela não tem uma rede de varejistas para distribuí-los. Acme e Beta então fecham uma parceria para distribuir seus produtos no país. Uma maneira de formalizar o acordo seria a criação da AB Importadora e Distribuidora de Calçados LTDA. Acme criaria a AcmeHolding que seria dona de 100% do capital da antiga empresa Acme Sapatos e de 51% do capital da AB. Beta seria dona dos outros 49% do capital da AB. Existem duas modalidades de Holding: a pura, quando de/do seu objetivo social conste somente a participação no capital de outras sociedades. A mista, quando além da participação, ela serve a exploração de alguma atividade empresarial. Segundo Fábio Nusdeo, holding é: "(...) sociedade cuja a totalidade ou parte de seu capital é aplicada em ações de outra sociedade gerando controle sobre a administração das mesmas. Por essa forma assegura-se uma concentração do poder decisório nas mãos da empresa mãe - holding. Note-se, porém que nem sempre a holding é usada para esse fim." 6 ECONOMIA E DIREITO[13: NUSDEO, Fábio. Curso de economia. 4ª ed, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 252.] No entanto, a lista desses quatro fatores de produção – terra ou natureza, trabalho, capital e empresa – não exaure, segundo alguns autores, todos aqueles elementos que participam direta ou indiretamente do processo produtivo ou pelo menos o asseguram. Eles consideram um outro fator – embora de ação indireta por atuar fora do âmbito da empresa – o Estado. Este, assegurando a ordem, a propriedade privada, a exigibilidade das obrigações assumidas e a responsabilidade patrimonial correspondente, cria aquelas condições indispensáveis para o tranqüilo e contínuo desenvolvimento do processo. E quando, como faz o Estado moderno, além de suas funções jurídico-políticas, ele executa tarefas na esfera econômica e social, mais ainda avulta a sua condição como fator indireto de produção. É o caso da criação de infra-estrutura (estradas, etc) e condução de programas de treinamento e educação de mão de obra, promoção da saúde, dentre as outras iniciativas reservadas ao Estado, financiado na cobrança dos tributos (impostos, taxas e contribuições) à população. Ademais disso, o Estado também atua na organização dos mercados, basicamente pela edição de leis, bem como na organização de um poder judiciário capaz de criar de aplicá-las ao caso concreto, criando, assim, as condições necessárias para dirimir os conflitos e viabilizar a realização dos princípios constitucionais econômicos vigentes na Constituição Federal de 1988. 6.1 FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO MERCADO[14: MARIANI, Antonio de Abreu. Questões ambientais no imposto territorial rural (Lei n° 9.393/1996). Dissertação de mestrado. Marília: Universidade de Marília - UNIMAR, 2010, p. 15-16. Disponível em <http://www.unimar.br/pos/trabalhos/arquivos/FFD675E543FEE232C7A21302AF88AA6F.pdf>. Acesso em 17.02.2012. ] A todo tempo e em qualquer estágio da civilização humana o governo sempre agiu como um agente político-econômico coordenador e centralizador de decisões. Contudo, a forma do exercício do poder central evoluiu durante a antiguidade até os nossos dias. Até o final do século XVIII os sistemas de governo eram constituídos por um aparato político rígido e burocratizado, marcado na sua maior parte por modelos autoritários de gestão, sob o predomínio do dirigismo e da centralização política característica do regime monárquico absolutista. Esses primeiros modelos de gestão, anteriores ao século XVIII, se orientaram pela a combinação de três princípios: o da autoridade, o da proteção e o da tradição. Os recursos eram empregados segundo formas que não se alteravam com o tempo e as relações entre os agentes econômicos também se mantinham com base em rígidos padrões. Essas características básicas – poder autocrático, conservadorismo, centralismo, restrições e regulamentações unilaterais e soberanas, com absoluto desprezo pela vontade do indivíduo, só foram superados a partir da segunda metade do século XVIII, com a formulação do pensamento liberal clássico. O final do século XVIII foi palco de uma profusão de novas idéias econômicas e políticas, fundamentadas em novos princípios. Coincidiu com a Revolução Industrial, com a guerra da independência dos Estados Unidos e com a Revolução Francesa, quando os antigos princípios da autoridade, da proteção e da tradição que eram base do exercício do poder central dos monarcas absolutistas foram postos em cheque pelos pensamentos liberais. A publicação da “A Riqueza das Nações” de Adam Smith (1723 – 1790) marcou o início do pensamento liberal. No entanto, as novas idéias que inspiraram esta obra clássica e os novos acontecimentos de então foram produtos de correntes intelectuais comuns que há muito vinham circulado na Europa e na América do norte, esta última representada pelas 13 colônias americanas recém independentes. “A Riqueza das Nações” professou uma severa condenação aos objetivos e à ineficiência dos controles exercidos sobre os indivíduos e as sociedades pelos governos mercantilistas absolutistas. As idéias liberais se baseavam na doutrina do individualismo, segundo o qual o individuo e não o governo era o objetivo principal do interesse social. Assentavam-se no conceito de “laissez-faire” (deixar fazer), segundo o qual o governo deveria restringir sua intervenção na atividade econômica, interferindo o menos possível na vida dos cidadãos, a não ser para assegurar os direitos naturais ligados à vida, à liberdade, e à propriedade. Finalmente, as idéias liberais se apoiavam na crença de que o sistema econômico poderia operar com base no interesse próprio de cada um dos agentes e não no controle de sua iniciativa por uma autoridade publica. Datam desta época os novos conceitos sobre os quais se edificaria uma nova ordem institucional: o da ordem natural e o da mão invisível do mercado, este último de autoria de Adam Smith. A Revolução Francesa ao final do século XVIII adotou os preceitos liberais, acentuando as diferenças entre o público e o privado, confirmando a família como unidade produtiva; proclamou formalmente os direitos individuais como sagrados e absolutos, dentre os quais o direito à propriedade, à liberdade, à integridade física, em meio a outros denominados de primeira geração ou dimensão; aboliu o Estado Absolutista e os favores feudais da nobreza aristocrática; finalmente, proclamou a separação entre Igreja e Estado, estabelecendo a igualdade legal dos cidadãos, relacionada à livre manifestação da vontade para o exercício de seus direitos. A necessidade de uma sólida fundamentação jurídica para consolidar as propostas liberais de mercado foi inaugurada pelo Código Civil francês de 1804. O Código Napoleônico representou um dos instrumentos legais que concretizaram legalmente as reformas defendidas pela Revolução burguesa de 1789. Surge um novo modelo de Estado constitucional, que passou a ser denominado Estado Democrático de Direito. Busca-se, então, constituir uma Nação juridicamente organizada em torno de uma Constituição e de leis, cujos representantes gozem de aprovação popular e tenham sua atuação disciplinada e limitada pelo ordenamento jurídico.[15: FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. A evolução da ordem econômica no direito constitucional brasileiro e o papel das agências reguladoras, 2009, p. 1. Disponível em: <www.buscalegis.ufsc.br>. Acesso em: 09 abr. 2010. ] O Estado liberal evolui rapidamente na direção de uma nova sociedade criada pelo progresso material da Revolução Industrial iniciada na segunda metade do século XVIII. Na Inglaterra, onde os valores burgueses e as novas tecnologias de produção se desenvolveram com maior consistência, o novo sistema de produção industrial provoca o deslocamento das atenções de uma economia essencialmente agrícola para as fábricas, onde se verificou a formação de relações de trabalho injustas, em desfavor dos trabalhadores. A esta altura, um sistema jurídico individualista e liberal baseado essencialmente nos ideais de liberdade e de propriedade nos moldes do código francês, como também em uma ordem econômica inspirada na teoria do comportamento natural das leis de mercado de Adam Smith não se encontrava mais em condições de regular as transformações socioeconômicas da moderna sociedade industrial.Cem anos depois de inaugurado o pensamento liberal, a lógica da nova organização industrial do final do século XIX e início do século XX estava alicerçada economicamente na concentração do capital e no abandono da produção familiar. Dessa realidade decorre um redimensionamento social com a estratificação de classes em função do capital, na condição de empresários e, em sua maioria, de proletários. Neste contexto é elaborada a doutrina socialista de Karl Marx e Friedrich Engels, justificada em uma proposta econômica e social alternativa frente às injustiças que a ordem econômica liberal não era capaz de solucionar. Os postulados teóricos socialistas defendiam a possibilidade da igualdade entre as classes sociais viabilizada pela intervenção do Estado. O modelo proposto pelo modo de produção socialista era totalmente centralizado pelo Estado, caracterizando-se pela existência de um único centro decisório. A intervenção do Estado é direta na promoção de um planejamento econômico vinculante e irresistível, enquanto detentor da titularidade de todos os meios de produção.[16: TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. 2. ed. São Paulo: Método, 2006, p. 39-41.] A concretização do ideário socialista na Revolução Bolchevique de 1917 resulta no recuo do individualismo e numa nova postura dos Estados ocidentais, que passaram a ser mais assistenciais. É a publicização do privado, expressão que traduz a idéia de tornar públicas aquelas questões que eram consideradas afeitas somente ao particular, ou seja, a iniciativa do Estado de intervir para restabelecer o equilíbrio e a justiça do sistema, que foi viabilizada pelo reconhecimento dos direitos sociais denominados de segunda dimensão. Assim, em face de um quadro de nítida degradação social, o Estado pós-industrial capitalista se ajustou às novas demandas sociais e teóricas com o sensível crescimento do serviço público e do controle da estrutura social. Deixou de ser um Estado meramente liberal, promovendo assistência social, inclusive com estratificação de novas normas de natureza social e econômica, voltados para o bem estar do cidadão trabalhador, tais como saúde, saneamento, habitação e educação. O Estado aprimorou seu papel como empreendedor substituto, pela intervenção nos setores considerados estratégicos para o desenvolvimento, como no energético, na mineração e no siderúrgico. A política americana do New Deal, implementada durante a década de 1930, é considerada o modelo do Welfare State (bem-estar social), cuja característica principal foi um forte intervencionismo estatal na economia, indo de encontro aos postulados clássicos do liberalismo econômico. [17: Idem, p. 59-61.] Reconhecia-se, assim, o papel complementar do Estado no plano econômico e social, cujo resultado não foi só o Estado do Bem-Estar nos países desenvolvidos, mas também o Estado Desenvolvimentista e Protecionista nos países em desenvolvimento, bem como os Estados Socialistas, seja no modelo Soviético ou no Chinês, estes um resultado da aliança dos proprietários do capital com uma classe média burocrática em expansão.[18: PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A reforma do estado nos anos 90: lógica e mecanismos de controle. Brasília: Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado, 1997, p. 10.] Sob o ponto de vista da fundamentação jurídica do mercado, a Constituição mexicana (1917) e a Constituição alemã (1919) são as primeiras do século XX a trazer uma estruturação mais ou menos sistemática da nova ordem econômica pós-liberal em um capítulo próprio, razão pela qual receberam a denominação de “Constituição Econômica”. [19: BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvolvimento. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 33.] Eros Roberto Grau ensina que a expressão “Constituição Econômica” foi empregada para designar o conjunto de normas constitucionais que instrumentalizam e conformam uma determinada ordem econômica, e que essa conformação constitucional ganhou corpo na doutrina alemã a partir do que dispôs a Constituição de Weimar (1919) sobre a vida econômica da nação.[20: GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica e a constituição de 1988. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 79.] Contudo, alerta o autor em destaque que a Lei Fundamental alemã não previu nem garantiu qualquer sistema econômico, estabelecendo somente os limites para a atuação do Estado e transferindo ao legislador uma significativa liberdade de atuação e direcionamento da política econômica sem, contudo, assumir um caráter diretivo, mas meramente estatutário.[21: Idem, p. 84-85.] André Ramos Tavares define a Constituição Econômica como aquela parcela da Constituição diretamente relacionada ao econômico: Esse designativo implica na identificação da base do sistema, identificação dos direitos que legitimam a atuação dos agentes econômicos, do conteúdo e limites desses direitos e das responsabilidades que são inerentes ao exercício da atividade econômica no país, bem como da finalidade que se pretende com determinado sistema.[22: TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. 2. ed. São Paulo: Método, 2006, p. 80.] Contudo, Gilberto Bercovici pondera que a Constituição Econômica não é uma inovação do constitucionalismo social do século XX, porque esta preocupação também esteve presente em todas as constituições liberais dos séculos XVIII e XIX. [23: BERCOVICI, Gilberto. Op. cit., p. 32.] Esclarece que a visão predominante à época do liberalismo entendia que a ordem econômica era natural, dissociada da esfera política e da jurídica e, teoricamente, não necessitava ser garantida pela Constituição. Contudo, todas as Constituições liberais preocuparam-se em elaborar disposições econômicas em seus textos, destinados a sancionar os fundamentos da ordem econômico-liberal existente, ou seja, a liberdade de comércio, de indústria, do contrato e do direito de propriedade. [24: MOREIRA, Vital, 1979, p. 95-100; GRAU, Eros Roberto, 1988, p. 60-63 apud BERCOVICI, Gilberto. Op. cit., p. 32.] Explica-se tal preocupação legislativa pelo fato do contrato liberal ser tido como instrumento de circulação de riquezas, constituindo-se em um legítimo mecanismo para que a classe burguesa em ascensão tivesse, à sua disposição, um meio legal para obter da classe aristocrática em decadência a tradição do bem jurídico mais importante para aquele sistema: o real imobiliário.[25: NALIN, Paulo. Do Contrato: Conceito Pós – Moderno em busca de sua formulação na perspectiva civil-constitucional. Curitiba: Juruá, 2001,v II, p. 109.] Portanto, resta provado que o Estado liberal nascido no ideário da Revolução Francesa também se consolidou via a promulgação de diplomas constitucionais, que buscaram fundamentar juridicamente os preceitos de mercado liberais, dentre os quais está a Constituição americana de 1787, que constitui o maior exemplo de longevidade dentre as legislações liberais editadas ao final do século XVIII.[26: BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvolvimento. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 32.] Entretanto, as constituições econômicas do início do século XX diferiram das liberais porque positivaram tarefas e políticas a serem realizadas no domínio econômico e social para atingir determinados objetivos. A ordem econômica de tais diplomas busca a configuração política do econômico, cuja concretização caberá ao Estado conduzir. [27: Idem, p. 33-34.] Assim, segundo a Teoria da Constituição Dirigente consagrada a partir do início do século XX, a Constituição não é só a garantia do existente, mas também um programa para o futuro. A Constituição Dirigente é ao mesmo tempo uma Constituição estatal e social, pois fornece linhas de atuação para a política sem substituí-la, destacando a interdependência entre Estado e Sociedade.[28: CANOTILHO, José Joaquim Gomes. p. 150-153 apud BERCOVICI, Gilberto. Op. cit., p. 35.] A introdução em nível constitucional de normas relacionadas à conformação da ordem econômica, ainda que se qualifique como intervencionista,está comprometida com a preservação do capitalismo. A feição social que lhe é atribuída não é uma mera concessão a um modismo, possuindo um conteúdo nitidamente ideológico. [29: GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica e a constituição de 1988. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 75.] Luiz Carlos Bresser Pereira ensina que a Grande Depressão da década de 1930 decorreu do mal funcionamento do mercado e a Grande Crise da década de 1980, por sua vez, do colapso do Estado Social do século XX. O esgotamento do modelo estatista de desenvolvimento na década de 1980 tem estreita relação com a crise fiscal originada da ineficiência gerencial da administração estatal, que se demonstrou incapaz de atender as demandas dos cidadãos-clientes do grande Estado Social. O Estado, antes agente do desenvolvimento, se transformava em seu obstáculo, frente à explosão do déficit público e da conseqüente perda de sua autonomia, bem como de sua capacidade de formular políticas macro econômicas em um contexto de máxima eficiência imposta pela globalização dos mercados.[30: PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A reforma do estado nos anos 90: lógica e mecanismos de controle. Brasília: Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado, 1997, p. 9-15.] Em decorrência do panorama de crises que se instalou por todo o mundo no final do século XX, se observa a mudança de parâmetros para a atuação do Estado, que se identifica no modelo denominado de neoliberal. Este modelo pode ser resumido como de cunho acentuadamente liberal, mas sem perder de vista a contextualização social. A proposta neoliberal se identifica com um ajuste estrutural da economia, que se traduz em “transitar de um Estado que promove diretamente o desenvolvimento econômico e social para um Estado que atue como regulador e facilitador ou financiador a fundo perdido desse desenvolvimento.”[31: TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. 2. ed. São Paulo: Método, 2006, p. 62-64.][32: PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. Op. cit., p. 17.] Busca-se com este modelo um retorno comedido aos ideais do liberalismo, sem abandonar a necessidade de sociabilidade dos bens essenciais, a fim de garantir a dignidade da pessoa humana.[33: FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. A evolução da ordem econômica no direito constitucional brasileiro e o papel das agências reguladoras, 2009, p. 3. Disponível em: <www.buscalegis.ufsc.br>. Acesso em: 09 abr. 2010.] Contudo, a questão central que despertou os teóricos da modernidade foi como compatibilizar numa nova ordem econômica o equilíbrio ideal entre os valores liberais e sociais com a atuação do Estado, de forma a corrigir a ineficiência endêmica do Estado Social e proporcionar um novo surto de desenvolvimento econômico, sintonizado com os ideais e valores de todas as dimensões, conforme consagradas nas constituições modernas. Com a valorização das constituições contemporâneas, e com os valores da dignidade da pessoa humana e ideais de justiça social inseridas em muitas delas como princípios fundamentais, não havia mais como o Estado pretender o seu afastamento da economia e das prestações de natureza social. No entanto, o que se busca é uma forma de equilíbrio entre elementos liberais e capitalistas, de uma parte, e de outra, elementos socialistas, cujo objetivo ético é o desenvolvimento humano e de seus direitos fundamentais, dentre eles a liberdade, a livre iniciativa e a livre concorrência. [34: TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. 2. ed. São Paulo: Método, 2006, p. 64-65.] Leonardo Vizeu Figueiredo ensina que solução encontrada pelo Estado neoliberal consistiu em um movimento de transferência das funções de utilidade pública do setor público para o setor privado, ampliando dessa forma o leque de atuação deste, por meio de um setor público não estatal e da privatização. Ao novo Estado caberia uma mudança de parâmetros de seu foco de atuação, desempenhando seu papel por meio de poderes crescentes de regulação, de fiscalização e de planejamento da atividade econômica, sem prejuízo de sua capacidade de intervir na ordem econômica quando necessário. [35: FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. A evolução da ordem econômica no direito constitucional brasileiro e o papel das agências reguladoras, 2009, p. 3. Disponível em: <www.buscalegis.ufsc.br>. Acesso em: 09 abr. 2010.] Acrescenta ainda que no Brasil, aliadas aos clássicos instrumentos de intervenção estatal oriundos dos poderes administrativos do Estado, surgem também as agências reguladoras, cujo escopo é a intervenção em mercados específicos, consoante o modelo privatista adotado inicialmente pelo direito anglo-saxão para combater as distorções de mercado na Inglaterra e nos Estados Unidos da América. O artigo 3° Constituição Federal de 1988 é a cláusula que impõe a transformação da realidade brasileira, explicitando o contraste entre a realidade social injusta e a necessidade de eliminá-la e, ainda, impedindo que a Constituição considere realizado o que ainda está por realizar. O mandamento constitucional em destaque implica na obrigação do Estado em promover a transformação da estrutura econômico-social brasileira. [36: BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvolvimento. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 36-37.] A Constituição Federal de 1988 positivou o modelo econômico neoliberal. Portanto, as forças políticas nacionais devem manter-se conscientes da missão de conciliar uma realidade de intenso conflito entre valores sociais, econômicos e ambientais com a necessidade da promoção do desenvolvimento sustentado. Resta constatar como o conteúdo do capítulo “Da Ordem Econômica e Financeira” na Constituição Federal de 1988 está organizado no sentido de promover os valores capazes de sustentar o desenvolvimento de uma economia moderna, na direção da promoção da dignidade humana e do Estado Democrático de Direito. 6.1.1 ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL[37: MARIANI, Antonio de Abreu. Questões ambientais no imposto territorial rural (Lei n° 9.393/1996). Dissertação de mestrado. Marília: Universidade de Marília - UNIMAR, 2010, p. 15-16. Disponível em <http://www.unimar.br/pos/trabalhos/arquivos/FFD675E543FEE232C7A21302AF88AA6F.pdf>. Acesso em 17.02.2012. ] O fenômeno da globalização é entendido como o movimento que deu impulso à internacionalização das relações econômicas no mundo capitalista, resultando em uma interdependência entre as nações e as diferentes regiões do planeta. O livre fluxo financeiro e de mercadorias impacta as nações também no âmbito político, cultural, social, ambiental e das relações de trabalho. A Constituição Federal de 1988 é contemporânea e está atenta a esta nova ordem econômica mundial. Na esteira dos modernos diplomas constitucionais do final do século passado o Título VII, denominado “Da Ordem Econômica e Financeira”, a Constituição Federal de 1988 vinculou nos artigos 170 a 192 os parâmetros que devem nortear o livre exercício da atividade econômica. Conforme já indicado, foram os ideais propostos pela Revolução Francesa que primeiro estabeleceram os princípios da liberdade de iniciativa econômica e da propriedade privada dos meios de produção. Tais princípios, fundadores da sociedade burguesa, conduziram à formação de um direito positivo econômico, assim definido:[38: DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 37.] Direito econômico é a normatização da política econômica como meio de dirigir, implementar, organizar e coordenar práticas econômicas, tendo em vista uma finalidade ou várias e procurando compatibilizar fins conflituosos dentro de uma orientação macroeconômica.[39: MERTENS, Hans-Joachin et al., 1978, p. 187-188 apud DERANI, Cristiane. Op. cit., p. 37.] Cristiane Derani explica que a contradição inerente ao sistema econômico capitalista é pacificada pelo direito econômico, que por meio de normas procura ordenar os comportamentos dentro de um âmbito próprio. Assim, ainda que não seja possível prever todas assituações concretas que a realidade impõe, delimita-se um campo teórico com pilares bem definidos, restringindo-se as variáveis possíveis ao atendimento de princípios e valores de uma sociedade, conforme previstos na norma jurídica. [40: DERANI, Cristiane. Op. cit., p. 38-39.] A autora em destaque adverte que deve existir necessariamente uma plasticidade nas normas jurídicas que dispõem sobre a ordem econômica, a fim de assegurar a inserção e o tratamento das tensões e divergências sociais no âmbito jurídico. Assim, a política econômica e o direito econômico relacionam-se de forma dinâmica para organizar e dirigir o processo econômico, limitados por normas que refletem os valores constitucionalmente construídos e que correspondem à estrutura do sistema econômico dominante em determinada sociedade. No entanto, vale ressaltar que expressão ordem econômica pode ter três sentidos, dentre eles o jurídico, conforme ensina Eros Roberto Grau, quando cita a lição de Vital Moreira: Em um primeiro sentido, ‘ordem econômica’ é o modo de ser empírico de uma determinada economia concreta; a expressão, aqui, é termo de um conceito de fato e não um conceito normativo ou de valor (é conceito do mundo do ser, portanto); o que o caracteriza é a circunstância de referir-se não a um conjunto de regras ou normas reguladoras de relações sociais, mas sim a uma relação entre fenômenos econômicos e materiais, ou seja, relação entre fatores econômicos concretos; conceito do mundo do ser, exprime a realidade de uma inerente articulação do econômico como fato; em um segundo sentido, a ‘ordem econômica’ é expressão que designa o conjunto de todas as normas (ou regras de conduta), qualquer que seja a sua natureza (jurídica, religiosa, moral etc.), que respeitam à regulação do comportamento dos sujeitos econômicos; é o sistema normativo (no sentido sociológico) da ação econômica; em um terceiro sentido, ‘ordem econômica’ significa ordem jurídica da economia. GRIFO NOSSO.[41: MOREIRA, Vital. 1973, p. 67-71 apud GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica e a constituição de 1988. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 66-67.] Consoante tais diferenciações semânticas, a ordem econômica sob o viés constitucional é entendida no âmbito de seu terceiro sentido, ou seja, como uma parcela da ordem jurídica. Como conseqüência, o conteúdo do artigo 170 da Constituição Federal de 1988 deverá ser entendido como uma imposição de cunho normativo por força de sua inserção na ordem jurídica. Em outras palavras, o artigo em comento deverá ser lido e compreendido como um indicativo do modo como a economia brasileira deve ser e como a mesma deve se articular em torno dos objetivos propostos na Constituição Federal de 1988.[42: GRAU, Eros Roberto. Op. cit., p. 67-68.] Assim, a ordem econômica constitucional não é um simples conceito jurídico. Indica topologicamente as disposições que, em seu conjunto, institucionalizam as relações econômicas no texto constitucional, ressaltando que várias outras disposições relacionadas ao tema também se fazem presentes ao longo da Constituição Federal de 1988.[43: GRAU, Eros Roberto. 2007, p. 49-65 e 76-80 apud BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvolvimento. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 30.] André Ramos Tavares entende que ordem econômica constitucional é o conjunto de normas que realizam uma determinada ordem econômica no sentido concreto, dispondo também acerca da forma econômica adotada. Observa ainda este mesmo autor que o conceito de ordem econômica não se confunde com o já mencionado conceito de Constituição Econômica, na medida em que esta incorpora as normas programáticas e, portanto, é mais abrangente que a primeira.[44: TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. 2. ed. São Paulo: Método, 2006, p. 83-84.] É nesse contexto jurídico que o artigo 170 da Constituição Federal de 1988 apresenta os princípios fundamentais da ordem econômica brasileira, que deverá se desenvolver fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tendo por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social (artigo 170 caput da Constituição Federal de 1988). É conveniente ressaltar que os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa também figuram como fundamentos do Estado Democrático de Direito da República brasileira (artigo 1°, IV da Constituição Federal de 1988) e, portanto, são princípios que devem necessariamente subordinar toda a ação do Estado, inclusive no que disser respeito à ordem econômica. Tão importante é a valorização do trabalho que o artigo 7° da Constituição Federal de 1988 foi totalmente consagrado a estabelecer o rol não exaustivo dos direitos dos trabalhadores. Não menos importante é o trabalho dos inventores e dos autores, cuja proteção foi estabelecida nos incisos XXVII, XXVIII e XXIX, todos do artigo 5° da Constituição Federal de 1988. A rigor, o fundamento da proteção ao trabalhador e da valorização do trabalho do homem encontra fundamento na própria dignidade da pessoa humana (artigo 1°, III da Constituição Federal de 1988). [45: BARROSO, Luís Roberto. A ordem econômica constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços. Revista Diálogo Jurídico. Salvador: CAJ - Centro de Atualização Jurídica, n° 14, jun./ago., 2002, p. 3. Disponível em: <www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 09 abr. 2010. ] Não menos relevante é o princípio da livre iniciativa, que é a manifestação no campo econômico da doutrina favorável à liberdade, consagrando o direito de iniciativa ao particular de lançar-se à atividade econômica sem se deparar com as restrições impostas pelo Estado, salvo nos casos previstos em lei, conforme a ressalva contida no parágrafo único do artigo 170 da Constituição Federal de 1988.[46: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 19.ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 451.] Por fim, é certo que a afirmação constitucional da justiça social restringe o princípio da livre iniciativa, e deve ser adotada como um dos princípios de finalidade comunitarista expressos na Constituição Federal de 1988, interferindo na ordem econômica para implementar as condições de vida e de dignidade também afeitos ao caráter social da justiça.[47: TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. 2. ed. São Paulo: Método, 2006, p. 130-131.] Em outras palavras, a produção privada de riqueza não pode ocorrer dissociada do proveito coletivo. É pelo respeito à dignidade humana que deve mover-se toda a ordem econômica, premissa esta que traz reflexos diretos na relação trabalhista, no relacionamento com o consumidor e no tratamento a ser dispensado ao meio ambiente. [48: DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 241.] Uma última referência ao princípio da livre iniciativa e dos valores a ele inerentes deve ser feita para ressaltar como ocorre a sua interação com os demais princípios e valores informadores da ordem econômica: O princípio da liberdade de iniciativa tempera-se pelo da iniciativa suplementar do Estado; o princípio da liberdade de empresa corrige-se com o da definição da função social da empresa; o princípio da liberdade de lucro, bem como o da liberdade de competição, moderam-se com o da repressão do abuso do poder econômico; o princípio da liberdade de contratação limita-se pela aplicação dos princípios de valorização do trabalho e da harmonia e solidariedade entre as categorias sociais de produção; e, finalmente, o princípio da propriedade privada restringe-se com o princípio da função social da propriedade. (grifos no original)[49: MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. 1989, p. 28 apud BARROSO, Luís Roberto. A ordem econômica constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços. Revista Diálogo Jurídico. Salvador: CAJ - Centro de Atualização Jurídica, n° 14, jun./ago., 2002, p. 6-7. Disponível em: <www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 09 abr. 2010. ] Os demais princípios da ordem econômica que compõem o artigo170 da Constituição Federal de 1988 estão listados nos incisos I a IX do referido artigo, que inclui a observância dos seguintes princípios: soberania nacional; propriedade privada; função social da propriedade; livre concorrência; defesa do consumidor; defesa do meio ambiente; redução das desigualdades regionais e sociais; busca do pleno emprego; tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Luís Roberto Barroso assinala que não há uma homogeneidade funcional entre os princípios setoriais assinalados nos incisos do artigo 170 da Constituição Federal de 1988. Enquanto parte dos princípios se referem aos parâmetros básicos que os agentes da ordem econômica deverão observar (princípios de funcionamento), outros descrevem realidades materiais que o constituinte deseja sejam alcançadas (princípios-fins). [50: BARROSO, Luís Roberto. A ordem econômica constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços. Revista Diálogo Jurídico. Salvador: CAJ - Centro de Atualização Jurídica, n° 14, jun./ago., 2002, p. 8. Disponível em: <www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 09 abr. 2010. ] Ensina que os princípios de funcionamento estão relacionados nos incisos I a VI do artigo 170 da Constituição Federal de 1988 e se referem à dinâmica das relações produtivas, às quais todos os agentes da ordem econômica deverão estar vinculados, principalmente o setor privado. O primeiro princípio de funcionamento é o da soberania (inciso I), que em seu significado clássico indica o poder de mando em última instância numa sociedade política. Este princípio foi bastante afetado pela globalização, especialmente no campo econômico, ao impor um novo modelo de preservação da capacidade de autodeterminação do Estado, respeitando simultaneamente as normas supranacionais relacionadas à atividade econômica. [51: TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. 2. ed. São Paulo: Método, 2006, p. 140-142.] Sob o ponto de vista do direito internacional o princípio da soberania expressa a igualdade e a não subordinação entre Estados soberanos. Sob o ponto de vista do direito interno proclama a supremacia da Constituição Federal e da lei, como também a superioridade jurídica do Poder Público na sua aplicação.[52: BARROSO, Luís Roberto. Op. cit., p. 8. ] A propriedade privada e dos meios de produção (inciso II) é um direito de primeira geração, ícone do liberalismo burguês e da livre iniciativa e está constitucionalmente assegurado dentre os direitos e garantias fundamentais no inciso XXII do artigo 5° da Constituição Federal de 1988, constitutivo da sociedade brasileira, fundada no modo capitalista de produção. A privação desse direito fundamental somente será possível mediante desapropriação vinculada a prévia e justa indenização, a ser promovida pelo Estado nas hipóteses configuradas no inciso XXIV do artigo 5° e nos artigos 182, § 3° e §4° e no artigo 184, todos da Constituição Federal de 1988. A expropriação sem indenização, na forma de sanção por ato ilícito, é admitida na hipótese única do artigo 243 da Constituição Federal de 1988. Segundo Cristiane Derani, “o princípio da propriedade privada é pressuposto do princípio da função social da propriedade, e o exercício do domínio só será constitucional se condisser com esta dupla característica da propriedade: domínio privado, frutos privados e sociais.”[53: DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 238.] Assim, na sua essência, o exercício do direito de propriedade é abrandado pelo serviço que esta deve prestar à sociedade, ou seja, pela sua função social (inciso III). Este conceito denota a orientação capitalista e ao mesmo tempo social da ordem econômica constitucional, ao abrigar idéias centrais da utilização da propriedade imobiliária, como o aproveitamento racional e adequado; a utilização apropriada dos recursos naturais inseridos em seu perímetro e a preservação do meio ambiente; a observância das disposições relacionadas ao trabalho e o bem estar da comunidade, conforme estabelecido no artigo 186 da Constituição Federal de 1988. No contexto do princípio da livre iniciativa também se encontra inserido o princípio da livre concorrência (inciso IV), caracterizado como a atividade concorrente e competitiva dos diversos agentes que levam à otimização dos recursos econômicos a preços justos, evitando-se lucros arbitrários ou os abusos do poder econômico. A regulamentação da concorrência não destrói a liberdade do comércio ou da indústria, promove apenas a proibição ou regulamentação dos usos e abusos que a deturpam ou a destroem.[54: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 19.ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 455.][55: GOLDMAN, Berthold. 1992, p. 98 apud DERANI, Cristiane. Op. cit., p. 240.] Por sua vez, o princípio da defesa do consumidor (inciso V) situa-se no texto constitucional como princípio da ordem econômica e não se configura exclusivamente com um conteúdo proibitivo ou limitador da autonomia privada, mas com caráter interventivo e promocional da dignidade do consumidor, de efetivação dos preceitos constitucionais que o estabelecem como direito (artigo 5°, XXXII da Constituição Federal de 1988) e como princípio, assumindo um caráter conformador da ordem econômica.[56: GRAU, Eros Roberto. 2003, p. 260 apud MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 41.] Trata-se não só de um princípio de funcionamento da ordem econômica, ao qual está vinculada a iniciativa privada, mas também de um dever do Estado em promover um Código que desse uma ampla e efetiva proteção ao consumidor (artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988), criando condições eqüitativas entre as partes naturalmente desiguais, ainda que de forma induzida, assegurando ainda as condições objetivas de boa-fé negocial. [57: BARROSO, Luís Roberto. A ordem econômica constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços. Revista Diálogo Jurídico. Salvador: CAJ - Centro de Atualização Jurídica, n° 14, jun./ago., 2002, p. 10. Disponível em: <www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 09 abr. 2010. ] Finalmente, muito embora somente tenha sido acrescentado ao artigo 170 da Constituição Federal de 1988 por meio da Emenda Constitucional n° 42 de 19.12.2003, apresenta-se como último princípio de funcionamento da ordem econômica a defesa do meio ambiente (inciso VI), condicionando seu livre exercício a uma intransigente preservação do bem ambiental, nos moldes em que este foi constitucionalizado no artigo 225 da Constituição Federal de 1988. Observe-se que a preservação do meio ambiente também condiciona a função social da propriedade rural, conforme disposição do inciso II do artigo 186 da Constituição Federal de 1988. Portanto, a preservação do meio ambiente e o exercício da atividade econômica constituem valores fundamentais que se vinculam e se equilibram na direção do desenvolvimento sustentável, na forma do estabelecido no artigo 225 da Constituição Federal de 1988, objeto de abordagem específica do segundo capítulo deste trabalho. Os princípios-fins do artigo 170 da Constituição Federal de 1988 são aqueles declinados nos incisos VII, VIII e IX. Os princípios-fins são assim denominados porque determinam a política econômica estatal.[58: BARROSO, Luís Roberto. A ordem econômica constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços. Revista Diálogo Jurídico. Salvador: CAJ - Centro de Atualização Jurídica, n° 14, jun./ago., 2002, p. 11-12. Disponível em: <www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 09 abr. 2010. ] O princípio da redução das desigualdades regionais e sociais (inciso VII) também está relacionado como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (artigo 3°, III da Constituição Federal de 1988) e tem vinculação com o disposto do §7° do artigo 165 da Constituição Federal de1988, ao estabelecer que os orçamentos fiscais e de investimentos também terão entre suas funções a redução das desigualdades regionais. Este princípio é dirigido especialmente às políticas públicas federais, estaduais e municipais, que devem buscar a redução das diferenças entre as distintas regiões brasileiras, com o objetivo de alcançar melhorias concretas de ordem social e econômica. Enfatiza-se um Estado prestacional do qual se demanda uma atuação positiva no sentido da construção das condições materiais e sociais constitucionalmente requisitadas para se atingir tais melhorias.[59: TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. 2. ed. São Paulo: Método, 2006, p. 204-205.] O princípio da busca do pleno emprego (inciso VIII) se harmoniza e caminha no sentido de concretizar o princípio da valorização do trabalho humano e da justiça social e, ainda, o compromisso com a construção de uma sociedade livre e igualitária. O compromisso com a promoção do pleno emprego não deve ser entendido como um compromisso de conduta impositiva do Estado para albergar ou assalariar toda a população ociosa, mas como um comprometimento do Estado na formulação de políticas públicas que objetivem incrementar a atividade econômica, melhorando os fundamentos da economia e fomentando, dessa forma, os níveis e a oferta de empregos particulares e públicos a toda população brasileira.[60: TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. 2. ed. São Paulo: Método, 2006, p. 209-210.] Por fim, o inciso IX do artigo 170 da Constituição Federal de 1988 estabelece o princípio do tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Segundo Ives Gandra da Silva Martins, tratamento favorecido para empresas de pequeno porte significa tratamento mais benéfico, com menos encargos, ônus e obrigações, com apoio, auxílio e suporte das autoridades, que não surgirá naturalmente das empresas concorrentes ou do setor privado. Virá do Poder Público, como exigiu o constituinte e nestes termos deverá a legislação se orientar.[61: MARTINS, Ives Gandra da Silva. 1992, p. 77 apud TAVARES, André Ramos. Op. cit., p. 219.] Como é possível perceber todos os princípios estabelecidos nos incisos do artigo 170 da Constituição Federal de 1988 são conformadores de diferentes aspectos da ordem econômica e têm individual e conjuntamente uma estreita relação com valores fundamentais de primeira, segunda e terceira dimensão constitucional, na direção da promoção da dignidade humana aliada uma sadia qualidade de vida. Gilberto Bercovici assinala que a ordem econômica da Constituição Federal de 1988 é um exemplo de Constituição Dirigente e tem uma Constituição Econômica voltada para a transformação das estruturas sociais, definindo fins e objetivos para o Estado e para a sociedade, inclusive determinando a realização de várias políticas públicas. [62: BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvolvimento. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 30-31 e 58.] Sustenta que todos os demais artigos do Título VII “Da Ordem Econômica e Financeira” da Constituição Federal de 1988 estão nitidamente comprometidos com a transformação das estruturas sociais e econômicas no espaço e no tempo, a exemplo das disposições sobre política urbana (Constituição Federal de 1988, artigos. 182 e 183) e sobre política agrícola e fundiária (Constituição Federal de 1988, artigos 184 a 191) e, ainda, bem representada no dirigismo estatal para a promoção e proteção do meio ambiente sadio em todas as suas dimensões (artigo 170,VI e artigo 225, ambos da Constituição Federal de 1988). É também neste mesmo capítulo da referida Constituição que são encontradas as normas programáticas, cuja natureza eminentemente principiológica faz com que nem sempre sejam consideradas de aplicação imediata, a exemplo da cláusula de justiça social, mas que também têm a função de nortear o desenvolvimento econômico do Estado brasileiro. No contexto das normas programáticas, o desenvolvimento econômico do Estado brasileiro previsto pela norma constitucional significa o aquecimento da atividade econômica, observando uma política de uso sustentável dos recursos naturais, cujo objetivo é o aumento da qualidade de vida, das condições materiais de bem estar, como também e equilíbrio na distribuição de renda da população. A inserção do capítulo do meio ambiente na Constituição Federal de 1988 implica que sejam considerados outros fatores na formação de políticas públicas, voltadas para a possibilidade de se usufruir de riquezas sociais e não só econômicas.[63: DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 226-227] A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal confirma o caráter dirigente e ao mesmo tempo programático da Constituição Federal de 1988: [...] 2. Mais do que simples instrumento de governo, a nossa constituição enuncia diretrizes, programas e fins a serem realizados pelo Estado e pela sociedade. Postula um plano de ação global normativo para o Estado e para a sociedade, informado pelos preceitos vinculados pelos seus artigos 1°, 3° e 170.[64: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 1.950-3 SP. Requerente: Confederação Nacional do Comércio – CNC. Requerido: Governador do Estado de São Paulo. Relator: Ministro Eros Grau. Tribunal Pleno em 03.11.2005. DJU 02.06.2006. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 21 dez. 2009.] No mesmo sentido a ADIN n° 3.512-6 ES. Portanto, a imposição estatal de rígidos padrões e valores ambientais não implicará em ofensa aos princípios da livre concorrência e da livre iniciativa, uma vez que as atividades empresariais não podem se desenvolver sem a obediência a todos os demais princípios da ordem econômica brasileira.[65: Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 21 dez. 2009.] 6.1.2 PRESSUPOSTOS DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ATIVIDADE ECONÔMICA[66: MARIANI, Antonio de Abreu. Questões ambientais no imposto territorial rural (Lei n° 9.393/1996). Dissertação de mestrado. Marília: Universidade de Marília - UNIMAR, 2010, p. 15-16. Disponível em <http://www.unimar.br/pos/trabalhos/arquivos/FFD675E543FEE232C7A21302AF88AA6F.pdf>. Acesso em 17.02.2012. ] Na forma como foram contextualizados os objetivos e princípios na ordem econômica dirigente materializada na Constituição Federal de 1988, era necessário que o constituinte possibilitasse ao Estado brasileiro as condições para fiscalizar e regular a atividade econômica dos particulares, interferindo na livre iniciativa. Os artigos 173 e 174 da Constituição Federal de 1988 delimitam nitidamente o papel de um Estado normativo e regulador, condicionador da atividade econômica, justificando a intervenção estatal por meio normativo, com o intuito de formular políticas econômicas que reflitam um mínimo planejamento e incentivo à atividade empresarial, bem como propiciem uma fiscalização efetiva das normas interventivas. As normas jurídicas de intervenção devem garantir a livre iniciativa, mas compatibilizando-a com os direitos que preservem a segurança humana. As normas de incentivo podem ser tributárias (regime jurídico da extrafiscalidade) ou de outra natureza, desde que sua finalidade também seja contribuir para a segurança humana. [67: BASSOLI, Marlene Kempfer. Intervenção do estado do domínio econômico em prol da segurança humana. In: FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser; RIBEIRO, Maria de Fátima (org). Empreendimentos econômicos e sustentabilidade. Marília: Arte e Ciência; UNIMAR, 2008, p. 130-131.] Da análise do artigo 174 da Constituição Federal de 1988 entende-se que a intervenção nas relações econômicas pode se dar das seguintes formas: [...] por intermédio da produção de normas de controle e incentivo à atividade econômica, de ações administrativas de fiscalização denominadas, em sentido estrito, de exercício de poder de polícia; de intervenção para o desenvolvimento sócio-econômico do Estado, conformeas diretrizes que constam em planejamentos econômicos, em normas reunidas sob o título de planos econômicos e em ações que compõem a política econômica.[68: BASSOLI, Marlene Kempfer. Dever de intervenção do estado na ordem econômica por meio da função normativa. In: FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser; RIBEIRO, Maria de Fátima (org). Direito empresarial contemporâneo. Marília: Arte e Ciência; UNIMAR, 2007, p. 242.] Gilberto Bercovici justifica que os diplomas constitucionais dirigentes estabelecem normas cuja principal característica é a generalidade própria das normas constitucionais, mantendo a reserva ao legislador de certa liberdade e ao governo da discricionariedade, ambas necessárias ao papel da condução das políticas econômicas estabelecidas pela Constituição dirigente. [69: BERCOVICI, Gilberto. Constituição econômica e desenvolvimento. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 58-59.] A necessidade da intervenção do Estado na economia deve ser interpretada a partir da realidade particular do sistema econômico constitucional brasileiro que, embora tenha reconhecido a prevalência dos mecanismos de mercado, entendeu também que estes não poderiam ser absolutos e soberanos frente à imposição igualmente constitucional de uma economia social de mercado.[70: ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 4.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 13.] A justificativa da intervenção estatal está na exclusividade da sua esfera de ação, uma vez que o governo assume exclusivamente as funções sociais e regulatórias, com vistas a, por exemplo, promover a concorrência, fiscalizar e corrigir desvios que contrariem o interesse social, mobilizar instrumentos de política econômica para estabilizar a economia, redistribuir a renda e promover inclusões das parcelas populacionais que vivam em pobreza absoluta, atividades que são totalmente estranhas ao empreendedorismo privado, e cuja solução jamais poderia ser creditada à lógica econômica liberal. Nesse exato sentido, Cristiane Derani justifica as estratégias de intervenção estatal para conservar a qualidade de vida da população, observando que a qualidade de vida proposta na finalidade do direito econômico deve coincidir com a qualidade de vida almejada, por exemplo, pela norma do direito ambiental, afirmando que estes dois aspectos devem se combinar no sentido de promover um nível mínimo de vida material capaz de proporcionar um bem estar físico e espiritual. [71: DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 59.] Por outro viés, também é necessário estabelecer quais os limites que estabelecem a legalidade e que podem autorizar a intervenção legítima do Estado na ordem econômica nacional. Neste sentido, Luís Roberto Barroso ensina que do exame sistemático da Constituição Federal de 1988 é possível identificar ao menos duas ordens de limitações à intervenção disciplinadora do estado sobre a ordem econômica, como também três conjuntos de fundamentos válidos que podem desencadear legitimamente essa intervenção.[72: BARROSO, Luís Roberto. A ordem econômica constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços. Revista Diálogo Jurídico. Salvador: CAJ - Centro de Atualização Jurídica, n° 14, jun./ago., 2002, p. 19-22. Disponível em: <www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 09 abr. 2010.] Esclarece que os limites à intervenção correspondem aos princípios da livre iniciativa e, no âmbito deste, do princípio da livre concorrência, combinados com a correta aplicação do princípio da razoabilidade. No que diz respeito à livre iniciativa, no modelo capitalista brasileiro o Estado pode intervir no mercado somente para discipliná-lo, ou seja, para implementar políticas públicas, corrigir distorções e, sobretudo, para assegurar a própria livre iniciativa, promovendo seu aprimoramento. O limite da intervenção legítima do Estado está em não pretender substituir o mercado em seu papel central do sistema econômico. Quanto ao princípio da razoabilidade, deve ser usado para limitar e controlar a discricionariedade legislativa e administrativa. Com base em tal princípio é possível ao judiciário invalidar os atos legislativos ou administrativos quando: (a) não haja adequação entre o fim perseguido e o meio empregado; (b) a medida não seja exigível ou necessária, havendo caminho alternativo para chegar ao mesmo resultado com menor ônus a um direito individual; (c) não haja proporcionalidade em sentido estrito, ou seja, o que se perde com a medida tem maior relevo do que aquilo que se ganha. [73: BARROSO, Luís Roberto. A ordem econômica constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços. Revista Diálogo Jurídico. Salvador: CAJ - Centro de Atualização Jurídica, n° 14, jun./ago., 2002, p. 21. Disponível em: <www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 09 abr. 2010. ] Segundo o autor, na aplicação deste princípio deve ser analisado a racionalidade e a razoabilidade entre a medida disciplinadora e o objetivo que se pretende alcançar, tendo em vista o pressuposto fático que dá fundamento à norma em análise, bem como uma preocupação com a escolha de uma solução compatível com os direitos consagrados constitucionalmente. Finaliza indicando os três fundamentos válidos que podem desencadear a intervenção estatal na economia: a reorganização da livre iniciativa e da livre concorrência, a valorização do trabalho humano e a realização dos princípios de funcionamento da ordem econômica, conforme delineados no artigo 170 da Constituição Federal de 1988. Por sua vez, Celso Antonio Bandeira de Mello assinala que a autoridade pública ao intervir na ordem econômica deverá restringir-se às normatizações dos empreendimentos econômicos que digam respeito a exigências de segurança, salubridade, higidez do meio ambiente, qualidade mínima do produto em defesa do consumidor e outros bens jurídicos de interesse coletivo. [74: MELLO, Celso Antonio Bandeira de. 1999, p. 179 e 174 apud BARROSO, Luís Roberto. A ordem econômica constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços. Revista Diálogo Jurídico. Salvador: CAJ - Centro de Atualização Jurídica, n° 14, jun./ago., 2002, p. 23. Disponível em: <www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 09 abr. 2010.] No que diz respeito às limitações ambientais impostas ao exercício da atividade econômica, este é o posicionamento do Supremo Tribunal Federal: A ATIVIDADE ECONÔMICA NÃO PODE SER EXERCIDA EM DESARMONIA COM OS PRINCÍPIOS DESTINADOS A TORNAR EFETIVA A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. – A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresarias nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a ‘defesa do meio ambiente’ (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter geral e de natureza constitucional objetivam atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável compromisso da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural.[75: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 3.540 MC/DF. Tribunal Pleno. Requerente: Procurador Geral da República. Requerido: Presidente da República. Julgamento 01.09.2005. Relator: Min. Celso de Mello. DJ 03.02.2006. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 21 dez. 2009.] 6.1.3 SISTEMA BRASILEIRO DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA A política brasileira de defesa da concorrência é disciplinada pela Lei nº 8.884, de 11 de junho de 1994, na forma como foi modificada pela Lei nº 12.529 de 30 de novembro de 2011, que entrará emvigor no mês de maio deste ano. O Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) é composto por três órgãos: a Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE) do Ministério da Fazenda, a Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça. A SDE é o órgão responsável por instruir a análise concorrencial dos atos de concentração econômica (fusões, aquisições, etc.), bem como investigar infrações à ordem econômica. A SDE também é responsável pela formulação, promoção, supervisionamento e coordenação da política de proteção da ordem econômica, nas áreas de concorrência e defesa do consumidor, entre outras atribuições. A SEAE, por sua vez, é responsável por emitir pareceres econômicos em atos de concentração, investigar condutas para oferecer representação à SDE, bem como elaborar facultativamente pareceres em investigações sobre condutas anticoncorrenciais. A SEAE tem como atribuições delinear, coordenar e executar as ações do Ministério, no tocante à gestão das políticas de regulação de mercados, de concorrência e de defesa da ordem econômica, de forma a promover a eficiência, o bem-estar do consumidor e o desenvolvimento econômico, entre outras. Após receber os pareceres da SDE e SEAE, que não são vinculativos, o CADE tem a tarefa de julgar tanto os processos administrativos que tratam de condutas anticoncorrenciais quanto as análises de atos de concentração econômica. O CADE, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, autarquia sob a supervisão do Ministério da Justiça, é a entidade encarregada da aplicação direta da Lei nº 8.884/1994, por meio da qual o governo exerce a fiscalização sobre a concorrência e o controle sobre as fusões, protegendo o consumidor de possíveis prejuízos, e promovendo uma maior eficiência na economia nacional. O CADE tem a finalidade de orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos de poder econômico, exercendo papel tutelador da prevenção e repressão do mesmo. O CADE é integrado por um Presidente e seis conselheiros, cidadãos entre 30 a 65 anos com notável saber jurídico ou econômico. As condutas vedadas pelo SBDC são as que possam produzir os seguintes efeitos: 1) limitar a livre concorrência; 2) dominar mercado relevante salvo quando for resultado de maior eficiência; 3) aumentar arbitrariamente os lucros; 4) exercer de forma abusiva posição dominante. A lei estabelece que o CADE poderá autorizar atos lesivos a concorrência desde que: 1) tenham por objetivo aumentar a qualidade, produtividade ou aumentar a eficiência; 2) os benefícios sejam distribuídos eqüitativamente entre os participantes do ato e os consumidores; 3) não implique em eliminação da concorrência de parte substancial do mercado; 4) sejam observados os limites estritamente necessários para atingir os objetivos visados. De acordo com a legislação brasileira, no âmbito administrativo uma empresa condenada por prática de cartel pelo CADE poderá pagar multa de 1 a 30% de seu faturamento bruto no ano anterior ao início do processo administrativo que apurou a prática. Por sua vez, os administradores da empresa direta ou indiretamente envolvidos com o ilícito podem ser condenados a pagar uma multa de 10 a 50% daquela aplicada à empresa. Outras penas acessórias podem ser impostas como, por exemplo, a proibição de contratar com instituições financeiras oficiais e de parcelar débitos fiscais, bem como de participar de licitações promovidas pela Administração Pública Federal, Estadual e Municipal por prazo não inferior a cinco anos. Além de infração administrativa, a prática de cartel também configura crime no Brasil, punível com multa ou prisão de 2 a 5 anos em regime de reclusão. De acordo com a Lei de Crimes Contra a Ordem Econômica (Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990), essa sanção pode ser aumentada em até 50% se o crime causar grave dano à coletividade, for cometido por um servidor público ou se relacionar a bens ou serviços essenciais para a vida ou para a saúde. A defesa da concorrência preocupa-se com o bom funcionamento do sistema competitivo dos mercados. Ao se assegurar a livre concorrência, garante-se não somente preços mais baixos, mas também produtos de maior qualidade, diversificação e inovação, aumentando, portanto, o bem-estar do consumidor e o desenvolvimento econômico. A defesa da concorrência não se presta a proteger o concorrente individual, mas sim a coletividade, que se beneficia pela manutenção da concorrência nos mercados. O consumidor, portanto, é sempre o beneficiário final das normas de defesa da concorrência. 6.1.3.1 As mudanças da Lei nº 12.529/11 A alteração introduzida pela Lei nº 12.529/11 dá maior efetividade da política de defesa da concorrência. Esta decorre, principalmente, da mudança na análise de fusões e aquisições. Agora, elas deverão ser submetidas ao CADE antes de serem consumadas, e não depois, como acontece hoje. O Brasil era um dos únicos países do mundo que adotavam essa prática. O CADE terá prazo máximo de 240 dias para analisar as fusões, prorrogáveis por mais 90 dias, em caso de operações complexas. Com a submissão posterior ao ato, durante a longa batalha judicial que pode levar anos, os ativos da empresa adquirida ficam na posse da adquirente, prejudicando a concorrência. Já com a submissão prévia, caso o órgão não aprove o ato, as empresas terão de lutar pelo direito de efetivar a aquisição ou fusão sem terem a posse dos ativos, fato que certamente preserva as condições de concorrência no mercado da operação até a decisão final da Justiça. O novo texto estabelece ainda que só serão analisadas operações em que uma das empresas tenha faturamento anual acima de R$ 400 milhões e a outra acima de R$ 30 milhões no Brasil. Assim, se a empresa A, por exemplo, tiver faturamento superior a R$ 400 milhões e a empresa B, que ela pretende comprar, faturar R$ 25 milhões/ano, a operação não precisará passar pelo CADE. As empresas ficam proibidas de concluir os negócios antes do parecer do CADE, sob pena de nulidade e multa de R$ 60 mil a R$ 60 milhões. Outra mudança importante com a nova norma é a reestruturação do CADE, que absorverá competências da Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça e da Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE) do Ministério da Fazenda. Serão suas atribuições a análise, o julgamento de fusões e aquisições e as ações de prevenção e de repressão às infrações contra a ordem econômica. A nova estrutura para o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência será composta apenas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e pela Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (SEAE). As funções de instrução e julgamento serão unificadas no novo CADE, que incorporará o Departamento de Proteção e Defesa Econômica da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça. A autarquia (CADE) será dividida em duas estruturas: Superintendência-Geral e Tribunal. A primeira investigará e instruirá processos administrativos e atos de concentração enquanto o Tribunal será responsável pelo julgamento de ambos. Além disso, será criado o Departamento de Estudos Econômicos, com o objetivo de aprimorar as análises econômicas e fornecer maior segurança sobre os efeitos das decisões do CADE. Outra mudança do projeto é a autorização para a contratação de 200 gestores para atuar no CADE. Hoje, o sistema de defesa econômica brasileiro tem apenas 60 funcionários não concursados. A lei nova também muda a base para a cobrança de multas. Em caso de condenação, as empresas deverão pagar um valor que varia de 1% a 30% do faturamento bruto do setor em que a empresa atua. Como citado, a base atual de cobrança é o faturamento bruto da empresa no ano anterior à instauração do processo. A mudança gerou críticas entre os empresários, já que o valor das multas tende a aumentar. 7 DEFESA DO CONSUMIDOR - DIREITO DO CONSUMIDOR COMO DIREITO FUNDAMENTAL a) O direitodo consumidor surge pela primeira vez como direito fundamental na Constituição Federal de 1988. b) A CF de 1988 estabeleceu de forma dirigente a obrigação do Estado brasileiro de promover a Defesa do consumidor, nos termos do que dispõe o art. 5º, inciso XXXII da CF: CF, Art. 5º, XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor c) Nos atos e disposições constitucionais (ADCT) restou estabelecido a obrigação do legislador ordinário de editar o Código de Defesa do Consumidor. Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará Código de Defesa do Consumidor. d) Assim, após prévia e devidamente constitucionalizado (art. 5º, inciso XXXII, CF e art. 48 do ADCT), em 11 de setembro de 1990 foi editado o Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8078/90), o qual foi publicado no dia 12/09/1990, tendo um prazo de 180 dias de vacatio legis. - DIREITO DO CONSUMIDOR COMO PRINCÍPIO DA ORDEM ECONÔMICA a) Ainda nesse compasso, o constituinte revolveu vincular no capítulo da Ordem Econômica o princípio da defesa do consumidor, o qual deve ser observado para o salutar desenvolvimento da ordem econômica. CF, Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] V – defesa do consumidor; [...] b) O PRINCÍPIO DA DEFESA DO CONSUMIDOR (inciso V) situa-se no texto constitucional como princípio da ordem econômica e não se configura exclusivamente com um conteúdo proibitivo ou limitador da autonomia privada, mas com caráter interventivo e promocional da dignidade do consumidor, de efetivação dos preceitos constitucionais que o estabelecem como direito (artigo 5°, XXXII da Constituição Federal de 1988) e como princípio, assumindo um caráter conformador da ordem econômica.[76: GRAU, Eros Roberto. 2003, p. 260 apud MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 41.] c) Trata-se não só de um “princípio de funcionamento” da ordem econômica (parâmetros básicos que os agentes da ordem econômica deverão observar), ao qual está vinculada a iniciativa privada, mas também de um dever do Estado em promover um Código que desse uma ampla e efetiva proteção ao consumidor, criando condições eqüitativas entre as partes naturalmente desiguais, ainda que de forma induzida, assegurando ainda as condições objetivas de boa-fé negocial.[77: BARROSO, Luís Roberto. A ordem econômica constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços. Revista Diálogo Jurídico. Salvador: CAJ - Centro de Atualização Jurídica, n° 14, jun./ago., 2002, p. 10. Disponível em: <www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 09 abr. 2010. ] - DIREITO DO CONSUMIDOR E OUTROS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS a) PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: O julgado do STF também confirma que a ordem econômica está vinculada ao princípio da dignidade humana. O capítulo “Da Ordem Econômica e Financeira” na Constituição Federal de 1988 está organizado no sentido de promover os valores capazes de sustentar o desenvolvimento de uma economia moderna (art° 3° CF), na direção da promoção da dignidade humana (art° 1° CF) e do Estado Democrático de Direito. É pelo respeito à dignidade humana que deve mover-se toda a ordem econômica, premissa esta que traz reflexos diretos na relação trabalhista, no relacionamento com o consumidor e no tratamento a ser dispensado ao meio ambiente. b) PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA ISONOMIA: Na clássica lição de Rui Barbosa, “a regra da igualdade não consiste senão em aquinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam.” [78: BARBOSA, Rui. 1949, p. 33-34 apud CAMARGOS, Luciano Dias Bicalho. O imposto territorial rural e a função social da propriedade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 183.] Assim, como no mundo fático não existe a igualdade absoluta, justifica-se a relativização do princípio da igualdade na medida em que constitui dever do Estado empreender ações que busquem minimizar as desigualdades ilegítimas, assim consideradas à luz dos enunciados constitucionais. [79: CARRAZA, Elizabeth Nazar. 1999, p. 27 apud CAMARGOS, Luciano Dias Bicalho. Op. cit., p. 181.] O valor da igualdade entre os homens foi defendido com maior vigor a partir da Revolução Francesa, quando juntamente com o princípio da legalidade procurou afirmar o acesso de todo e qualquer cidadão aos valores da liberdade e da igualdade perante a lei. Consagrado pela Declaração dos Direitos do Homem em 1948, o princípio da igualdade está inserido dentre os direitos fundamentais dos brasileiros no caput do artigo 5º, bem como no artigo 19, III, ambos da Constituição Federal de 1988. O CDC, visando dar tratamento isonômico às relações consumeristas, colocou o consumidor propositalmente numa posição privilegiada (igualdade material) em relação ao fornecedor, visando equilibrar tal relação jurídica, ou seja, tratando desiguais de forma desigual. O CDC, conforme traz o seu art. 1º, visa proteger apenas o consumidor, isso porque o fornecedor já está numa posição de auto-suficiência, sendo ele quem dita as regras do mercado. É o fornecedor que detêm o conhecimento técnico sobre o produto, mão-de-obra, tecnologia, maquinário, imóveis, etc. o fornecedor é forte, auto-suficiente. Art. 1º O presente Código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos artigos 5º, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e artigo 48 de suas Disposições Transitórias. c) PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA EFICIÊNCIA: Artigo 37, caput da CF e artigos 4º, inciso VII, 6º, inciso X, e 22, caput do CDC. Dever imposto ao Estado em promover um Código que desse uma ampla e efetiva proteção ao consumidor O princípio da eficiência tem o condão de informar a Administração Pública, visando aperfeiçoar os serviços e as atividades prestados, buscando otimizar os resultados e atender o interesse público com maiores índices de adequação, eficácia e satisfação. - OUTRAS CARACTERÍSTICAS DO CDC - O Código de Defesa do Consumidor caracteriza-se como um micro-sistema jurídico, porque dá tratamento abrangente à relação jurídica que pretende regular, estabelecendo princípios, regras de direito material e do âmbito de incidência da norma, contém ainda regras de direito processual, regras de direito administrativo e de direito penal. Portanto, pode ser dito que o Código de defesa do Consumidor representa uma sistematização característica de codificação, pois incorpora em uma só lei aspectos próprios de ramos distintos do direito, conforme citados, todos vinculados logicamente. [80: MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor. São Paulo: RT, 2008, p. 31.] - As normas do CDC, por serem de ordem pública, têm natureza cogente, motivo pelo qual podem ser conhecidas ex officio pelo juiz dentro de um processo em que se discute uma relação de consumo. - Os direitos do consumidor não estão no âmbito da disponibilidade das partes. Destarte, qualquer manifestação de vontade do consumidor no sentido de renunciar o seu direito será ineficaz. - As normas do CDC também são de interesse social, ou seja, não tutelam apenas interesses individuais. Consumidores em condições financeiras e econômicas saudáveis impulsionam a economia e geram riquezas. Havendo, portanto, interesse social, o MP será o principal protagonista na defesa dos consumidores. - O que são direitos difusos: Como direitos característicos de terceira geração, os direitos difusos têm como sujeito não o indivíduo considerado isoladamente, mas os grupos humanos, como a família, o povo, a nação e a própria humanidade.[81: LAFER, Celso, 1988, p. 131, apud SILVA, Américo Luís Martins da. Direito do meio ambiente e dos recursos naturais. São Paulo: RT, 2004, v. 1, p. 400.] Os direitos difusos de maneira genérica são aqueles inscritos na categoria dos direitos e garantiasfundamentais (ex: direito ambiental e direito do consumidor). Estão elencados em sua maior parte no artigo 5° da Constituição Federal de 1988, mas podem também ser encontrados ao longo de toda Constituição Federal de 1988, a exemplo do direito a um meio ambiente saudável. Os direitos difusos permeiam-se por toda parte, nas mínimas coisas, carregando predominantemente a já mencionada característica da transindividualidade, o que assegura a efetividade de sua proteção. - CONCEITO DE CONSUMIDOR PADRÃO: Art.2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. [...] Corrente finalista ou subjetiva: Entende ser imprescindível à conceituação de consumidor que a destinação final seja entendida como econômica, ou seja, que a aquisição de um bem ou a utilização de um serviço satisfaça uma necessidade pessoal do adquirente do bem ou serviço, pessoa física ou jurídica. Assim: Não se admite, portanto, que o consumo se faça com vistas à incrementação de atividade profissional lucrativa, ou de outra atividade negocial; O produto ou serviço não pode se destinar à revenda ou à integração do processo de transformação, beneficiamento ou montagem de outros bens ou serviços, ainda que se destine a compor o ativo fixo do estabelecimento empresarial (ex. móveis do escritório da diretoria, máquina industrial, etc.); O conceito de consumidor restringe-se às pessoas físicas ou jurídicas, não profissionais, que não visam lucro em suas atividades e que contratam com profissionais. A relação de consumo não pode ser intermediária, mas final. Consumidor por equiparação: Art. 2° [...] Parágrafo único: Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. - CONCEITO DE FORNECEDOR: Art. 3° Fornecedor é toda a pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. - O que são “entes despersonalizados”? São entidades despidas de personalidade jurídica. Ex.: massa falida de determinada empresa fornecedora de produtos ou de serviços; “Camelôs” que embora desprovidos de personalidade jurídica exercem o comércio de modo profissional, com habitualidade e finalidade econômica; Sociedades Beneficentes, sem fins lucrativos, em prestação de serviços médicos, odontológicos, hospitalares e jurídicos aos seus associados. - Ao contrário do conceito jurídico de consumidor, o conceito jurídico de fornecedor é bastante amplo. - Não apenas o fabricante ou o produtor originário, mas, também, todos os intermediários (intervenientes, transformadores, distribuidores) e, ainda, o comerciante – desde que façam disso as suas atividades principais ou profissões, serão tratados pela lei como fornecedores. - Serão fornecedores aqueles que exercem atividades profissionais habituais, com finalidades econômicas (médico, dentista, etc. Segundo o STJ o advogado não é prestador de serviço). - Não caracterizam relação de consumo aquelas atividades exercidas entre não profissionais, casual e eventualmente. - RESPONSABILIDADE CIVIL Para a viabilidade da pretensão indenizatória no sistema tradicional da RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA (regra geral do CC), devem estar presentes concomitantemente todos os pressupostos que ensejam a responsabilidade civil extracontratual, quais sejam: o ato ilícito, o dano, a culpa e o nexo de causalidade entre o dano e a obrigação de indenizar. É o que dispõe o artigo 186 do Código civil. O CDC promoveu uma mudança profunda na sistemática jurídica vigente antes de sua promulgação porque transferiu os riscos do consumo para o fornecedor (responsabilidade objetiva). Antes do CDC todo o sistema da responsabilidade civil nas relações de consumo era baseado na prova da culpa do fornecedor (responsabilidade subjetiva), cuja prova era praticamente impossível de ser realizada pelo consumidor; Como já visto, mesmo na responsabilidade objetiva do CDC é indispensável o nexo causal, sem o qual o prestador de serviço ou o fornecedor não serão responsabilizados (artigos 12, §3° e 14, §3° do CDC). - RESPONSABILIDADE DO PROFISSIONAL LIBERAL: Art. 14. [...] §4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. . Paulo Luiz Netto Lobo conceitua o profissional liberal:[82: MIRAGEM, Bruno. Direito do Consumidor. 2ª ed. São Paulo: RT, 2008, p. 298.] “a) as profissões regulamentadas ou não por lei; b) que exigem graduação universitária ou apenas formação técnica; e c) reconhecidas socialmente, mesmo sem exigência de formação escolar”. . Profissional liberal é aquele que exerce sua profissão livremente, com autonomia e sem subordinação hierárquica. . O Profissional liberal foi excluído do âmbito do CDC porque é um trabalho prestado pessoalmente, muitas vezes com base em confiança recíproca. Trata-se de um serviço negociado, não contratado por adesão. 8 PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE Tal qual o direito do consumidor, o direito ao meio ambiente saudável e equilibrado (artigo 225 da CF) surge pela primeira vez como direito fundamental na Constituição Federal de 1988. O constituinte de 1988 deixou-se influenciar pelos fatos e movimentos históricos mundiais na direção do desenvolvimento sustentável. O constituinte também revolveu vincular o meio ambiente no capítulo da Ordem Econômica, o qual deve ser observado para o salutar desenvolvimento da ordem econômica. CF, Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] VI– defesa do meio ambiente [...]; [...] O direito ambiental também é um direito difuso e coletivo. Portanto, possui as mesmas características do direito do consumidor no sistema de sua proteção e tudo que se aplica ao direito do consumidor se aplicará ao direito ambiental. O sistema legal de responsabilização ambiental também é tríplice, sendo a responsabilidade civil pela reparação do dano ambiental também objetiva, salvo se não houver o nexo de causalidade entre a ação e o dano. 8.1 Responsabilidade civil: Lei 6938/1981 (Política Nacional do meio Ambiente): Art. 14 [...] §1° Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. - A responsabilidade civil em matéria ambiental é de natureza objetiva. A abdicação do pressuposto subjetivo (culpa) decorre da tendência contemporânea de alargamento dos mecanismos de tutela ambiental, levando ao abandono, nesse campo, da clássica concepção de responsabilidade subjetiva (CC, art. 159).[83: COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e. Proteção jurídica do meio ambiente. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 265.] - A objetivação da responsabilidade tem por fundamento a idéia de justiça distributiva, ou seja, se o indivíduo desenvolve atividade perigosa para a sociedade e dela tira proveito econômico (lucro), então é justo que suporte os danos que causar, mesmo sem culpa. 8.2 Responsabilidade penal Decorre do disposto do §3° do artigo 225 da CF. Contudo, ao oposto da responsabilidade civil, a responsabilidade penal ambiental é de natureza subjetiva, uma vez que a culpa e o dolo constituem os elementos subjetivos do tipo no Código Penal (artigo 18 do CP: “salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.”). A responsabilidadepenal também decorre do artigo 3°, I da Lei 6938/81, que estabelece constituírem “crimes as condutas e atividades consideradas lesivas ao conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.” A Lei n° 9605/1998 agrupou em uma só legislação extravagante as disposições penais relativas ao meio ambiente, dedicando espaços específicos aos crimes contra a fauna, contra a flora, contra a poluição, contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural e contra a administração ambiental. Entendimento do STJ (REsp 564.960/SC): “admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou em seu benefício, uma vez que ‘não se pode compreender a responsabilização do ente moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio”. 8.3 Responsabilidade administrativa A matriz constitucional da responsabilidade administrativa ambiental também está no §3° do artigo 225 da CF. A norma infraconstitucional que regula a matéria e a Lei n° 9605/98, artigos 70 a 76 e o Decreto n°6514/08 que os regulamenta. O Decreto n° 6514/08, em seu artigo 2°, repetindo os termos da Lei n° 9605/98, define infração administrativa ambiental como: “toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.” O ônus que pesa sobre o poder público no tocante à defesa do meio ambiente põe em relevo a temática relativa ao poder de polícia em matéria ambiental. Poder de polícia constitui uma função realizada pela administração com o intuito de salvaguardar a ordem social. Não se está diante de uma faculdade, mas de um poder-dever, já que é incumbência da administração tutelar a ordem pública ambiental, mediante balizamentos às atividades individuais ou coletivas. Código Tributário Nacional: Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do poder público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. Poder de polícia ambiental é a função administrativa que tem por objetivo assegurar a preservação ou conservação do ambiente, mediante a regulação de atividades individuais ou coletivas, públicas ou particulares, impondo um fazer ou um não fazer, com vistas à promoção da ordem pública ambiental. 9. A ATIVIDADE ECONÔMICA NACIONAL 9.1 CONCEITOS BÁSICOS A preocupação central da Contabilidade da Renda Nacional é descrever o fluxo de bens e serviços finais produzidos em um país durante um determinado período, geralmente um ano. Este fluxo de bens e serviços pode ser medido sob três aspectos – como produto, como despesa e como renda. São três totais básicos a partir dos quais podemos montar um sistema de contas em que aqueles totais se relacionem com outras de tipo semelhante, visando descrever as operações econômicas efetuadas durante um determinado período. Para se ter uma noção precisa de produto, despesa e renda, e para facilitar o seu entendimento, vamos partir de um modelo de sistema econômico bastante simplificado. Suponhamos um sistema econômico onde existam apenas, de um lado, as empresas como unidades produtoras, e de outro, as famílias como fornecedores de fatores de produção e, ao mesmo tempo, unidades consumidoras. As empresas não produzem bens intermediários nem formam estoques; além disso, este sistema não mantém relações no exterior, nem o governo atua de nenhum modo na atividade econômica. Neste sistema simplificado as empresas, ao receberem os fatores de produção (trabalho, capital, recursos naturais), pagam às famílias uma remuneração (salários, juros, lucros, aluguéis) pela utilização dos mesmos, isto é, pagam uma renda. As empresas, por sua vez, combinando estes fatores, criam um conjunto de bens e serviços, o produto, que será vendido às unidades familiares. As unidades familiares, ao adquirirem este produto, realizam uma despesa. Assim, todas as despesas (ou gastos) efetuados em uma economia (D) se destinam ao consumo (C) ou ao investimento (I) em novos fatores de produção: D = C + I Este movimento de riquezas é denominado pela economia com um fluxo circular renda. Fica claro, deste modo, que a atividade econômica global deste sistema econômico simplificado, durante um determinado período de tempo, pode ser medida sob três aspectos: – Como produto bruto – isto é, a soma total dos bens e serviços finais produzidos durante o período (ex. um ano); – Como renda – isto é, remuneração paga às famílias pelo fornecimento de fatores de produção para as empresas elaborarem o produto; – Como despesa – isto é, a despesa total realizada pelas famílias ao comprarem o produto. 9.1.1 Produto Interno Bruto É o valor do conjunto de todos os bens e serviços produzidos por um sistema econômico ao longo de um dado período, normalmente de um ano. Note-se que são computados neste total somente os bens finais – não necessariamente bens de consumo – que não serão transformados ou absorvidos em outros produtos. Caso contrário, estaria havendo uma dupla contagem: o fio do algodão estaria sendo contado como fio e como tecido de algodão. O tecido estaria sendo contado como tal e como a camisa que o absorveu. Esta necessidade de evitar a dupla contagem deu origem a outro conceito, qual seja, o do valor adicionado. Este vem a ser aquele resultante de uma subtração: em cada estágio de produção subtrai-se do valor de suas vendas o valor das aquisições dos produtos que, de alguma forma, transformaram-se nos bens vendidos. No exemplo acima, do valor do tecido se subtrai o dos fios que o compuseram, e do valor das camisas o do tecido com o qual foram feitas. O conceito do valor adicionado destina-se a captar a contribuição líquida trazida pelos vários estágios de produção de um bem, desde a matéria-prima até ele sair da loja para as mãos do consumidor. No Brasil, o ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços) tem sua cobrança baseada no conceito do valor adicionado ou agregado. No conjunto das atividades produtivas de cada país distinguem-se três setores básicos: o primário, correspondente à agricultura e pecuária; o secundário, onde se dá a extração de minérios e a transformação industrial dos produtos – indústria extrativa e de transformação. Finalmente, o setor terciário abrange o setor dos serviços em suas diversas formas. 9.1.1.1 Produto Nacional e Produto Interno Esta distinção deve-se ao fato de alguns dos titulares dos fatores de produção geradores do Produto Bruto de um país serem residentes de outros países. É basicamente o investimento estrangeiro. Nessas condições, uma parte da renda correspondente ao produto (lucros, juros, royalties) não é paga aos nacionais, mas sim enviada ou creditada aos titulares de fatores de produção no exterior. Por outro lado, residentes do país podem ter investimentos fora dele e, conseqüentemente, recebem rendas provindas de fora. Daí a necessidade da distinção. A diferença entre o Produto Nacional Bruto (PNB) e o Produto Interno Bruto (PIB) é dada exatamente pelo saldo da renda enviada ao resto do mundo a título de fatores lá residentes e aquela dele recebida pela mesma razão. Em países como o Brasil o PIB é sempre maior que o PNB, pois uma parte daquele corresponde ou foi gerada com fatores externos. Logo, dele deve ser deduzido o montante de renda remetida ao exterior para remunerá-los. 9.1.1.2 Produto Bruto e Produto Líquido A produção exige, para sua realização, a existência de fatores fixos, também chamados de capital fixo, representadospor máquinas equipamentos e instalações. Como o capital fixo tende a se desgastar com o uso, é necessário separar anualmente alguns desses bens para repor aqueles que se tornaram inservíveis ou sucateados durante o processo de produção. Nessas condições, o todo produzido não significará um acréscimo líquido de bens, pois uma pequena parcela de cerca de 5%, chamada de “depreciação do capital”, destinar-se-á à futura reposição do capital e deverá ser deduzida daquele todo produzido. Assim, o que resta depois de deduzido o 5% para a reposição do capital é denominado Produto Nacional Líquido (PNL) ou Produto Interno Líquido (PIL): PNL = PNB – depreciação ou PIL = PIB – depreciação 9.1.1.3 Renda nacional Convém lembrar que o governo, ao exercer sua função de cobrança de tributos para suportar as despesas de administração do país, que estes podem ser de duas naturezas: os tributos diretos e os indiretos. Os diretos incidem diretamente sobre as rendas recebidas pelos titulares dos fatores de produção, ou sobre suas propriedades (Imposto de Renda, veículos, imóveis urbanos ou rurais, etc.). Os indiretos recaem sobre as operações que envolvem aqueles fatores ou produtos finais por eles gerados (imposto sobre vendas, sobre os produtos que saem das fábricas, sobre bens importados, etc., pedágios, taxas diversas, contribuições previdenciárias). Em razão da variada incidência de impostos indiretos sobre a produção, a renda nacional não é igual ao Produto Interno Líquido (PIL). Somente após feita a dedução dos tributos indiretos incidentes sobre a produção, poderemos concluir que a Renda Nacional será igual ao Produto Interno Líquido (PIL). Assim, a renda nacional equivale ao PIL menos os impostos indiretos. Por sua vez, se subtrairmos da renda nacional os tributos diretos, teremos a renda disponível (Y), aquela que a população como um todo poderá dispor para direcionar ao consumo de bens e serviços (C) ou à poupança (S). Por isso é que as variações da renda dão-se basicamente pelo aumento ou diminuição do nível de emprego. Assim: Y = C + S É fácil perceber que em uma economia fechada toda a renda disponível (Y) em uma economia se resume ao total das despesas (D) efetuadas nesta economia, ou seja, consumo (C) + poupança (S). 9.1.1.4 Poupança A poupança é a parcela da renda que não foi consumida na aquisição de bens e serviços, ou seja, parte da renda economizada pelos agentes econômicos. A poupança realimenta todo o processo produtivo por meio dos diversos instrumentos de intermediação do mercado de capitais, como os Bancos e a Bolsa de valores. Os intermediários financeiros captam a poupança disponível e a reconduzem ao sistema produtivo da economia mediante as mais diversas formas de créditos, contribuindo para a expansão do nível de investimento e oferta de bens e serviços. Uma baixa capacidade de poupança ou a alta propensão ao consumo limitam o crescimento da economia. São direcionados, nessa situação, menos recursos para investimentos produtivos, inibindo o crescimento do mercado. Nesses casos, os países recorrem normalmente à poupança externa como forma de financiar seu crescimento. É interessante acrescentar que a formação da poupança pela simples redução do consumo não promove, necessariamente, o crescimento da economia. É preciso que esses recursos sejam viabilizados, por meio de instrumentos financeiros adequados, para o financiamento dos investimentos produtivos. Se a poupança não for direcionada pelo sistema financeiro aos agentes deficitários de capital para investimento, não se verificará geração de riqueza na economia, somente redução de consumo e da renda nacional. (ASSAF NETO, 2006, p. 20) Assim, a poupança deve originar-se de estímulos à redução do consumo e deve ser encaminhada, por meio de intermediários financeiros, para lastrear os investimentos da economia. Estudos demonstram que, se não houver o direcionamento da poupança para investimento, o ato de poupar pode constituir-se em fator inibidor do crescimento da economia. 9.1.1.5 Investimento - Conceito: Em economia, investimento significa a aplicação de capital em meios de produção, visando o aumento da capacidade produtiva (instalações, máquinas, transporte, infraestrutura), ou seja, em bens de capital. O investimento produtivo se realiza espontaneamente quando a taxa de lucro sobre o capital supera ou é pelo menos igual à taxa de juros vigente no mercado. Os lucros também têm que ser maiores ou iguais ao capital investido. O investimento bruto corresponde à soma de todos os gastos realizados com bens de capital (máquinas e equipamentos) e formação de estoques em uma economia. O investimento líquido exclui as despesas com manutenção e reposição de peças, depreciação de equipamentos e instalações. Como está diretamente ligado à compra de bens de capital e, portanto, à ampliação da capacidade produtiva, o investimento líquido mede com mais precisão o crescimento da economia. O conceito de investimento em uma economia está relacionado à criação de riqueza, e não simplesmente à transferência de propriedade de um bem. Por exemplo, adquirir ações em Bolsas de Valores não pode ser entendido como investimento dentro do conceito econômico. Por tratar-se de mercado secundário, a aquisição de ações representa uma simples transferência de posse dos valores, sem agregar riqueza à economia. Quando a compra ocorre no lançamento da ação, ou seja, no mercado primário, admite-se a criação de riqueza, pois há a canalização direta do capital investido na empresa, caracterizando investimento no sentido econômico. - 1° caso: Economia fechada, sem governo: O caso mais simples que se pode pensar é uma economia que não realiza trocas de bens e serviços com o resto do mundo (fechada) e sem governo. Nesse caso, tudo que é produzido na economia pode ser destinado ao consumo ou ao investimento. Em outras palavras, podemos dizer que as famílias podem consumir bens de consumo, para satisfazer suas necessidades básicas e bens de investimento, para aumentar a capacidade de produção da economia. Y= C + S Onde, Y= Renda disponível C= Consumo S= Poupança Já vimos que numa economia fechada toda a renda disponível (Y) em uma economia tem que ser igual à despesa (D) dessa economia. Assim, como D = C + I e Y = C + S, forçosamente toda a poupança existente em uma economia será igual a sua capacidade de investimento (I = S); A distinção entre consumo e investimento é simples. Em uma economia, dois tipos de bens podem ser produzidos: bens de consumo e bens de investimento. O primeiro grupo (bens de consumo) diz respeito ao atendimento das necessidades dos indivíduos e pode ser dividido em bens de consumo duráveis (veículos, eletrodomésticos, etc.) e não-duráveis (alimentos, vestuário, produtos de higiene, etc.). Os bens de investimento também conhecidos como fatores de produção são utilizados na atividade produtiva e podem ser divididos em bens de capital (máquinas, equipamentos, ferramentas, instalações, etc.) e bens intermediários (ferro, aço, petróleo, etc.). Conclusão: Neste sistema econômico sem governo, todo o investimento da economia é financiado pela poupança das famílias. - 2° caso: Economia fechada, com governo: Neste caso a poupança nacional ou doméstica disponível para a realização dos investimentos é a soma das poupanças pública e privada, ou seja, o investimento da economia pode ser financiado tanto pela poupança privada como pela poupança do governo ou, ainda, pela soma desses dois. Vimos que a poupança privada é a diferença entre a renda disponível do trabalhador e aquela parcela da renda voltada para o consumo. No caso do governo o raciocínio é semelhante. Se a poupança do governo é positiva dizemos que ele tem superávit fiscal. Caso contrário, o governo tem déficit fiscal. Quanto mais é poupado num país, supondo-se um governo com as contas equilibradas, mais recursos estarão disponíveis para o investimento. Conseqüentemente, maior será o crescimento econômico.O Brasil é um país cuja população tende a poupar pouco. A poupança interna brasileira está em torno de 16% do PIB (Produto Interno Bruto, soma de tudo o que é produzido no país), dados de 2000. No Japão, como contraponto, a poupança interna é alta, estando próxima de 30%. Se a expectativa é de uma economia em crescimento, sem risco para o emprego, a tendência é que as pessoas consumam mais. Mas se a economia está em recessão, com desemprego crescente, a tendência é contrária e as pessoas ficam mais propensas a poupar. S = I + (G – T), onde G são os gastos governamentais e T os impostos totais retirados da renda da nação (indiretos e indiretos). Havendo um déficit público (G>T), ou seja, quando os gastos públicos (G) superarem a arrecadação (T), haverá uma poupança interna maior disponível para investimento. Neste caso o governo emitirá títulos públicos para financiar a dívida (déficit). Havendo um superávit público a poupança disponível decrescerá. Neste caso o governo resgatará os títulos anteriormente emitidos. - 3° caso: Economia aberta, com governo: Qualquer economia aberta para o exterior, como a do Brasil, absorve bens e serviços mediante duas formas distintas: consumo e investimento. Quando essa absorção de bens e serviços supera o que o País produz internamente, é necessário trazer o excedente do exterior. Isso constitui o déficit das contas externas. O que os economistas chamam de poupança é a diferença entre o total produzido no País (e pago como renda aos detentores dos fatores de produção) e o que é consumido, ou seja, é a renda não consumida. A poupança é contabilmente igual ao investimento (S=I). O conceito de investimento em macroeconomia, por sua vez, nada tem a ver com investimentos financeiros ou compra e venda de ativos, como a privatização. Investimento em macroeconomia é o acréscimo do estoque físico de capital (formação de capital fixo mais variação de estoque), por meio, por exemplo, da construção de novas fábricas. As fontes de poupança que financiam o investimento são três: a interna privada, a interna pública e a externa. O que ocorreu no Brasil desde os anos 70 foi justamente uma grande queda das taxas de poupança (poupança/PIB), sobretudo da poupança pública. Em geral, a poupança pública diminui quando aumenta o déficit público, ou seja, o aumento do déficit público após o Plano Real deixou um volume menor de bens e serviços para serem investidos e consumidos pelo setor privado. Assim, para se investir mais – construindo novas fábricas e gerando mais empregos –, é preciso que se importe (liquidamente) mais, pressionando o balanço comercial, como tem acontecido. Note que se fala aqui exclusivamente de bens e serviços, e não de dinheiro ou recursos investidos. Claro que os gastos de investimento das firmas são financiados de alguma forma, mediante lucros retidos, empréstimos ou lançamentos de ações. Entretanto, quando se diz que se quer elevar a taxa de investimento da economia brasileira em 3% ou 4% do PIB, o problema é de onde vão sair os bens e serviços que constituirão o investimento. 9.1.2 Distribuição da renda nacional Distribuição de renda é uma estatística, é a medida da variabilidade de rendimento entre os cidadãos. Índices como o Coeficiente de Gini traduzem esta medida em um único número. Desenvolvido pelo matemático italiano Corrado Gini em 1912, o Coeficiente de Gini é um parâmetro internacional usado para medir a desigualdade de distribuição de renda entre os países. Um Coeficiente de Gini igual a zero significaria que todos têm mesma renda; um coeficiente igual a um significaria que poucas pessoas têm toda a renda do país. No Brasil o coeficiente de Gini é de aproximadamente 0,53 (FGV 2011), identificando a existência de altos graus de desigualdade. Quanto mais este índice se aproxima de 1, mais desigual é a distribuição da renda em um país. A riqueza produzida em um país é na verdade a riqueza que cada cidadão produz. Portanto, tornar a distribuição de renda mais uniforme significa uma de duas coisas: diminuir a renda de quem produz mais ou aumentar a renda de quem produz menos. Contudo, é impossível simplesmente aumentar a renda de quem produz menos – renda presume riqueza e riqueza precisa ser produzida por alguém. É impossível também simplesmente fazer quem produz menos produzir mais por decreto – se eles fossem capazes de produzir mais já o estariam fazendo. A resposta encontrada pelos que buscam a igualdade, portanto, é a redistribuição de renda. Tira-se de quem produz mais para dar a quem produz menos. Para alguém que considera que “a sociedade” produziu a riqueza e que ela precisa ser “distribuída”, nada mais óbvio. A realidade, no entanto, é bem diferente. Cada um dos que produziram mais, dos quais se está tirando riqueza, produziu toda sua renda – incluindo a parte subtraída para redistribuição. Como sabem que aquela riqueza é fruto do seu trabalho, e não “da sociedade”, eles não abrem mão dela voluntariamente, precisam ser forçados. Como visto, os mecanismos de mercado privilegiam a eficiência, o que não garante que a sociedade está disposta a aceitar essa distribuição de renda. Nesse caso a correção da desigualdade na repartição da renda deve ser efetuada mediante intervenção do governo. Um dos processos mais utilizados consiste em utilizar os tributos e os gastos do governo para tal finalidade. De um lado aumentando a progressividade dos tributos (quem ganha mais, paga mais) e de outro aumentando os gastos governamentais com transferências que beneficiem direta ou indiretamente (mediante manutenção de serviços gratuitos: saúde, educação, ou transferência de renda direta tais como o programa bolsa família). Uma ênfase na distribuição de renda fará, provavelmente, baixar a taxa de formação de capital da sociedade, dada a alta propensão a consumir das populações mais pobres, o que não significa não se deva procurar uma melhor distribuição, mas sim fazê-la com conhecimento científico de todas as suas repercussões e envolvimentos no conjunto da economia, inclusive com a escolha de alternativas mais adequadas para esta distribuição, de forma a minimizar possíveis efeitos contraproducentes, como, por exemplo, a inflação e queda do investimento produtivo. 9.1.2.1 Características comuns do subdesenvolvimento São inúmeras e variam de uma para outro país, mas alguns traços comuns podem ser destacados: a) baixa renda per capita, correspondente a algo como um décimo ou menos da média dos países mais desenvolvidos; b) desigualdade na distribuição dessa renda, com extremos de riqueza e de pobreza; parcela considerável da renda total é detida por reduzida percentagem da população; c) altas taxas de natalidade e de mortalidade; d) alta participação do setor primário da economia na formatação da renda. O setor secundário (indústria de transformação) é atrofiado e o terciário inflado, devido ao grande contingente de serviços de reduzida ou nula produtividade, a configurar não tanto uma atividade produtiva, mas um desemprego disfarçado; e) baixa produtividade da mão de obra; f) baixos padrões médios de consumo e de qualidade de vida, tais como instrução, nível sanitário, adequação alimentar e outros da espécie; g) mau funcionamento ou inexistência de instituições políticas mais aprimoradas. Forte influência de oligarquias na legislação e na sua aplicação. Indicadores brasileiros (ano 2011): - PIB = US$ 2,367 trilhões (dados divulgados pelo IBGE em 06 de março de 2012); - 7ª economia mundial (segundo o FMI); - PIB per capita de US$ 11.000 aproximadamente (EUA US$ 48.000, Austrália US$ 65.000. Dados do FMI); - 54° PIB do mundo (dados do FMI); - Classes sociais: A/B (22%), C (52,6%), D/E (25,4%); - O IBGE identificou no censo de 2010 que aproximadamente 16 milhões de brasileiros (8% da população) vivem com uma renda per capita anual de US$ 483, equivalente a R$ 70,00 por mês (extrema pobreza). 9.1.2.2 Dilema desenvolvimento X crescimento O desenvolvimento envolve uma série infindávelde modificações de ordem qualitativa e quantitativa, de tal maneira a conduzir a uma radical mudança de estrutura da economia e da própria sociedade do país em questão. Daí surge a diferença entre desenvolvimento e crescimento. Este último seria apenas o crescimento da renda e do PIB, porém sem implicar ou trazer uma mudança estrutural mais profunda. E isso por duas razões alternativas: (i) ou porque tal transformação estrutural já se verificou e o país, portanto, já se desenvolveu, ou então (ii) o crescimento é apenas transitório e não se auto-sustentará, justamente por não conseguir alterar a estrutura produtiva e suas características sociais. A Alemanha e os EUA não se desenvolvem, mas crescem, pelo simples fato de não haver mais modificações essenciais a serem promovidas em sua estrutura produtiva e no seu aparato social. Os países pobres têm um PIB mínimo ao qual corresponde uma baixa renda de sua população. Esta renda, por ser baixa, mal permite o atendimento das necessidades básicas, pouco ou nada sobrando para ser acumulado como capital. Mesmo a pequena parcela de alta renda não terá porque acumular capital produtivo, pois a pobreza da maioria da população não lhe permitiria absorver os bens que tal capital permitisse produzir. E, assim, o excedente, além de pequeno, não tem como ser canalizado para um emprego compatível com qualquer desejo de promover atividades desenvolvimentistas. Será provavelmente gasto no consumo de alto luxo, até mesmo fora do país ou da região. 10. Objetivos e instrumentos de política econômica[84: CLETO, Carlos Ilton; DEZORDI, Lucas. Políticas econômicas. Disponível em <http://www.fae.edu/publicacoes/pdf/economia/2.pdf>. Acesso em 14.05.2012.] Entendem-se como política econômica, as ações tomadas pelo governo, que, utilizando instrumentos econômicos, buscam atingir determinados objetivos macroeconômicos. É papel do governo zelar pelos interesses e pelo bem-estar da comunidade em geral. Para esta finalidade, o setor público, enquanto um agente econômico de peso dentro do sistema, procura atuar sobre determinadas variáveis e através destas alcançar determinados fins tidos como positivos para a população. É comum encontrar no jornalismo econômico notícias a respeito da elevação ou redução da taxa de juros. Todavia, essas alterações nos juros são determinadas pela atuação do governo sobre outras variáveis (neste caso a oferta de moeda). Essas modificações nos juros buscam afetar outros objetivos maiores como crescimento econômico e/ou controle inflacionário. Políticas econômicas têm como objetivo afetar a economia como um todo, e é por isso que sua análise está no campo da macroeconomia. Entender os objetivos e instrumentos das políticas é um dos objetivos do presente capítulo. Portanto, torna-se fundamental o entendimento do encadeamento lógico entre as ações, variáveis e objetivo. Desta forma é possível uma leitura e interpretação geral do mundo macroeconômico. Os governos federais, estaduais e municipais têm importante papel na economia de uma nação. As principais funções do setor público são destacadas em quatro áreas de grande abrangência: . Reguladora: o Estado deve regular a atividade econômica mediante leis e disposições administrativas. Com isso, torna-se possível o controle de alguns preços, monopólios e ações danosas ao direito do consumidor; . Provedora de bens e serviços: o governo, também, deve prover ou facilitar o acesso a bens e serviços essenciais, principalmente àqueles que não são de interesse do setor privado, tais como, educação, saúde, defesa, segurança, transporte e justiça. O governo está preocupado primordialmente com a alocação eficiente dos recursos na economia. Muitas vezes o mecanismo de mercado (através da interação ente oferta e da demanda de um determinado bem) leva a alocações de mercado que não são as mais eficientes ou mesmo, no limite, não há alocações de recursos por parte da iniciativa privada. Em geral os casos que os mecanismos de mercado não promovem a alocação de recursos são: (i) quando existem economias externas; e (ii) problemas de satisfação de necessidades coletivas (bens públicos). O primeiro caso, economias externas, em geral está associado à intervenção do governo em atividade relacionada à expansão da infra-estrutura (rodovias, por exemplo). O segundo caso, problemas de satisfação de necessidades coletivas, refere-se à produção de bens cujas características especiais de demanda tornem o mecanismo de determinação de preços no mercado incapaz de orientar a aplicação de recursos com a finalidade mencionada. Esses seriam os chamados bens públicos (exemplos clássicos de bens públicos são a segurança nacional e a justiça). . Redistributiva: as políticas econômicas devem atingir e vir a beneficiar os mais necessitados da sociedade. Com isso, modificam a distribuição de renda e riqueza entre pessoas e/ou regiões. A igualdade social deve ser uma prioridade a ser buscada pelos órgãos públicos. Na função distributiva o governo busca a melhoria da distribuição de renda. . Estabilizadora: os formuladores de políticas econômicas devem estar preocupados em estabilizar/controlar os grandes agregados macroeconômicos, tais como, taxa de inflação, taxa de desemprego e nível de produção, com o intuito de beneficiar a população. Na função de estabilização a preocupação fundamental consiste em controlar o nível agregado de demanda, com o propósito de atenuar o impacto social e econômico das crises de inflação ou depressão. O controle da demanda agregada implica intervir sobre o crescimento das despesas privadas e governamentais de consumo ou de investimentos por meio, por exemplo, do controle dos gastos públicos, do crédito e dos níveis de tributação. Para o controle da demanda agregada o governo utiliza os instrumentos que tem a disposição: política fiscal, alterações no nível dos tributos e nos gastos do governo, e política monetária, através de alteração nos juros e no cambio. Os cidadãos e agentes informados da sociedade brasileira sabem que essas quatro funções básicas do governo são vitais para o bom funcionamento de qualquer sistema econômico. No estudo da macroeconomia cabe-nos no momento estudar, neste capítulo, esta última função do governo, ou seja, a de estabilizar/controlar os grandes agregados macroeconômicos. Dentro dessa função do setor público, os principais agregados econômicos são: taxa de juros, crescimento econômico, nível de preços, taxa de desemprego e taxa de câmbio. Entretanto, para que esses objetivos do setor público sejam alcançados de forma eficaz, o governo utiliza-se de um conjunto de políticas e instrumentos econômicos, destacados a seguir. 10. 1 Política Monetária: A política monetária tem como objetivo controlar a oferta de moeda na economia. Determinar a quantidade de moeda (dinheiro) na economia é função do Conselho Monetário Nacional (CMN), com participação do Banco Central do Brasil (BACEN). Ao determinar a quantidade de dinheiro, tem-se a formação da taxa de juros, ou seja, a taxa de juros pode ser simplificadamente interpretada como sendo o preço do dinheiro no mercado. A lógica da política monetária consiste em controlar a oferta de moeda (liquidez) para determinar a taxa de juros de referência do mercado. Nesse sentido, o Banco Central, seja qual for o país, eleva a taxa de juros (preço do dinheiro), enxugando (diminuindo) a oferta monetária, e a reduz atuando de forma inversa. Assim, quanto menores os juros (custo do dinheiro) maior será a propensão do mercado em consumir ou investir e vice versa. Cabe destacar que em um sistema econômico, moeda representa os meios de pagamento. Estes, na sua forma mais líquida, podem ser representados pelo papel-moeda e pelos depósitos à vista nos bancos comerciais. Tanto as cédulas/moedas metálicas quanto os valores existentes nas contas bancárias representam os meios de pagamento. A política monetária, ao controlar os meios de pagamento, está visando estabilizar o nível de preços geral da economia. Os governosque necessitam diminuir a taxa de inflação reduzem a oferta monetária e aumentam a taxa de juros. Esse mecanismo controla o nível de preços. Mas, se as taxas de juros permanecerem elevadas por um período longo, a economia pode deixar de elevar o crescimento econômico. A propósito, qual o motivo de a taxa de juros da economia brasileira ser tão elevada, e o que poderia ser feito para reduzir a mesma? Os juros estão altos com o intuito de controlar a estabilidade de preços da economia, e, para baixar o mesmo, o governo teria que aumentar a liquidez do sistema, ou seja, colocar mais moeda em circulação, o que provavelmente traria um efeito indesejado que é a elevação dos preços de forma generalizada, definida em economia como inflação. O BACEN pode alterar os meios de pagamento (oferta de moeda) utilizando-se de quatro instrumentos: a) Operações de mercado aberto (Open Market): As operações de mercado aberto são caracterizadas pela compra e venda de títulos públicos do BACEN no mercado. Esses títulos podem ser de emissão própria ou em geral do Tesouro Nacional. Seu impacto sobre a liquidez na economia pode ser resumido em dois simples exemplos: Exemplo 1: Banco Central compra títulos públicos do mercado, fazendo o pagamento em reais. Nesse caso, a oferta de moeda aumenta, pois o BACEN está retirando um ativo (título) que não é meio de pagamento e fornecendo ao mercado um ativo líquido (moeda), no caso, Real. Essa operação, realizada em grande quantidade, tem como objetivo aumentar a oferta de moeda e conseqüentemente diminuir a taxa de juros do mercado. Exemplo 2: Banco Central vende títulos públicos ao mercado, recebendo o pagamento em reais. Ocorre o caso inverso do exemplo anterior. O BACEN está ofertando um ativo menos líquido (títulos) e retirando do mercado (economia) um ativo mais líquido (moeda). Essa operação, realizada em grande escala, tem como finalidade diminuir a oferta monetária e conseqüentemente aumentar a taxa de juros e com isso controlar o nível de preços. b) Depósito compulsório: São depósitos sob a forma de reservas bancárias que cada banco comercial é obrigado legalmente a manter junto ao Banco Central. É calculado como um percentual sobre os depósitos à vista nos bancos comerciais. Quanto maiores os depósitos compulsórios, maior o nível de reservas obrigatórias dos bancos junto ao Banco Central (BACEN). Os recursos destinados aos empréstimos sofrerão uma diminuição e provocando com isso a criação de moeda bancária (valores depositados nos bancos). A taxa de juros sofreria um aumento, sendo o inverso também verdadeiro. Para diminuir a liquidez do sistema financeiro, o Banco Central eleva a taxa de compulsório. Com menos recursos para emprestar dos bancos comerciais, o crescimento da economia como um todo é afetado. c) Redesconto bancário: A assistência financeira de liquidez ou redesconto é o mecanismo pelo qual o BACEN socorre instituições financeiras com problemas de liquidez. O redesconto é o empréstimo que os bancos comerciais recebem do BACEN para cobrir eventuais problemas de liquidez. A taxa cobrada sobre esses empréstimos é chamada de taxa de redesconto. Um aumento da taxa de redesconto indica que os bancos sofrerão maiores custos, caso tenham problema de liquidez. Neste caso, as instituições irão aumentar suas reservas e diminuir o crédito, aumentando o custo para se obter meios de pagamento, ou seja, a taxa de juros. d) Controle e seleção de crédito: Um instrumento não muito convencional, mas às vezes utilizado pelo Banco Central, refere-se ao controle direto sobre o crédito. Este pode estar relacionado ao volume de crédito, ao prazo e destinação do crédito. Este instrumento pode gerar distorções no livre funcionamento do mercado de crédito, e até desestimular a atividade de intermediação financeira. A política fiscal visa estimular o crescimento e reduzir a taxa de desempenho por meio da elaboração do orçamento público. 10.2 Política Fiscal O principal instrumento de política econômica do setor público refere-se à política fiscal. Esta, por sua vez, consiste na elaboração e organização do orçamento do governo, o qual demonstra as fontes de arrecadação e os gastos públicos a serem efetuados em um determinado período (exercício). A política fiscal visa atingir a atividade econômica e assim alcançar dois objetivos inter-relacionados, a saber, estimular a produção, ou seja, crescimento econômico e combater, se for o caso, a elevada taxa de desemprego. O financiamento do déficit do setor público, também e um fator de preocupação da política fiscal. O governo pode alterar o volume das receitas e gastos públicos através dos instrumentos fiscais. Estes instrumentos são: a) Impostos (receita do governo): Os impostos podem ser classificados em duas categorias: - Impostos diretos: incidem diretamente sobre a renda das unidades familiares e das empresas. Ex.: IRPF (Imposto de Renda de Pessoa Física); IRPJ (Imposto de Renda de Pessoa Jurídica). - Impostos indiretos: são tributos que oneram as transações intermediárias e finais. São incorporados ao processo produtivo e, portanto, incidem indiretamente sobre o contribuinte (consumidor). Ex.: ICMS; ISS; COFINS; PIS. b) Despesas do governo (gastos): As despesas do governo podem ser divididas em: - Consumo: gastos com salários, administração pública, funcionalismo civil e militar. - Transferências: benefícios pagos pelos institutos de previdência social, sob a forma de aposentadorias, salário-escola, FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). - Subsídios: são pagamentos feitos pelo governo a algumas empresas públicas ou privadas. - Investimentos: gasto com aquisição de novas máquinas, equipamentos, construção de estradas, pontes, infra-estrutura. c) Orçamento do governo: O resultado das operações de receitas “a)” menos os gastos do setor público “b)” representam o orçamento do governo. Este saldo pode ser classificado em três esferas: - Orçamento equilibrado: ocorre quando o total das receitas em valores monetários de um determinado período for exatamente igual ao total dos gastos em valores monetários. - Orçamento superavitário: as receitas superam os gastos em valores monetários em um determinado exercício do governo. - Orçamento deficitário: as receitas são inferiores aos gastos. Quando o Tesouro Nacional, responsável pelas contas do setor público, registra um caso de déficit, o governo deve determinar como será o financiamento ou o pagamento desse excesso de gastos. Entretanto, o resultado do setor público pode se dar de duas formas, conforme apurado em duas espécies de contas: a) Superávit/déficit primário ou fiscal: é o saldo positivo/negativo alcançado quando a receita do governo federal e estadual é superior/ inferior aos seus gastos. É a diferença entre os gastos públicos e a arrecadação tributária no exercício, independente dos juros e da correção da dívida passada. b) Déficit operacional (Necessidade de Financiamento do Setor Público - NFSP): é calculado pelo resultado primário (item “a)” acima), acrescido do pagamento dos juros da dívida passada. O déficit operacional do setor público pode ser financiado por duas principais fontes de recursos: . Emissão de moeda: o BACEN, neste caso, cria moeda para financiar a dívida do Tesouro. Este procedimento é também conhecido como monetização da dívida. A monetização da dívida geralmente é descartada, pois esta teria um impacto significativo sobre a taxa de inflação.[85: Entende-se como monetização da dívida o resgate dos títulos públicos (dívida do governo) através da compra destes, utilizando-se nova moeda criada no sistema. O governo emite moeda e através desta salda a sua dívida. ] . Empréstimos: venda de títulos da dívida pública ao setor privado (interno ou externo): o governo oferta títulos em troca de moeda para financiar sua dívida atual. Esse financiamento tende a aumentar o déficit operacional devido ao pagamento dos juros. A atuação do governo através da política fiscal, da mesma forma que pela políticamonetária, busca alcançar alguns objetivos de política econômica, dentre os principais, a estabilidade e o crescimento econômico. Por exemplo, o nível de desemprego da economia brasileira pode ser entendido como resultado do baixo crescimento econômico, e este pode ser explicado em grande parte pela falta de políticas fiscais expansivas (por exemplo, aumento dos gastos públicos). Pelo lado da política monetária, uma maior oferta monetária para redução da taxa de juros poderia estimular o investimento privado, gerando desta forma novos empregos. 3. Política Cambial O mercado de câmbio (divisas) é formado pelos diversos agentes econômicos que compram e vendem moeda estrangeira, conforme suas necessidades. Empresas que vendem mercadorias ou ações no exterior estão aumentando a oferta de moeda estrangeira, em particular o Dólar, pois sua receita ocorre em moeda estrangeira. Empresas que compram bens ou ações do exterior estão demandando moeda estrangeira (Dólar), pois seus gastos ocorrem em dólares. Neste sentido, o preço da moeda estrangeira em relação à moeda nacional é determinado neste mercado. Este preço é chamado de taxa de câmbio (R$/US$). Cabe explicar que as relações econômicas, comerciais e financeiras dos agentes de determinado sistema econômico, com os agentes de outro sistema econômico (normalmente país), são registradas na Balança de Pagamentos. Eventuais déficits no Balanço de Pagamentos são decorrentes do fato de a entrada de divisas (dólares) ser inferior a saída de divisas. Este fato é resultado de dois desequilíbrios. O primeiro é que se exportam bens e serviços menos do que se conseguem importar, resultando em uma saída de divisas maior do que a entrada. O segundo desequilíbrio é causado pelo lado financeiro, onde não se conseguem atrair recursos (dólares) em quantidade suficiente para pagar as contas em dólar. As empresas brasileiras que participam do comércio internacional dependem substancialmente da taxa de câmbio. Entender o funcionamento desse mercado é fundamental. Caso o câmbio esteja a R$ 2,50, significa que são necessários R$ 2,50 reais para comprar um dólar. Se este subir para R$ 3,00 por dólar, ocorreu uma desvalorização da moeda local em relação à moeda estrangeira. O preço da moeda estrangeira elevou-se. Se o preço sobe devido a um aumento da demanda por dólares, dizemos que ocorreu uma desvalorização do Real frente ao Dólar. Precisa-se de mais reais para comprar a mesma quantidade de dólares. Se o preço desce devido a um aumento da oferta de dólares, dizemos que ocorreu uma valorização do Real frente ao Dólar. Menos reais serão necessários para comprar a mesma quantidade de dólares. As empresas brasileiras que participam do comércio internacional dependem substancialmente da taxa de câmbio. Entender o funcionamento desse mercado é fundamental. Ele pode agir de três maneiras. a) Regime de câmbio flutuante Neste caso não há intervenção do Banco Central no mercado. O preço da moeda estrangeira, ou a taxa de câmbio, é determinado exclusivamente pela interação entre oferta e demanda. O BACEN não compra e não vende dólares. Esse procedimento é adotado nos principais países desenvolvidos. Após a desvalorização do Real frente ao Dólar em 1999, o País adotou um regime híbrido de câmbio, que mais se aproxima do cambio flutuante. b) Regime de câmbio fixo Este regime representa um caso extremo de controle do mercado. O Banco Central deve estar constantemente regulando o mercado. Caso haja um excesso de procura/demanda por dólares, este deve vender dólares ao mercado para que o câmbio não se desvalorize. Caso ocorra um excesso de oferta de dólares no mercado, o Banco Central deve comprar o excesso para que o câmbio não se valorize. A Argentina adotou esse regime durante a década de 1990. Alguns países da América Latina, tais como, Equador e Uruguai, também adotam ou adotaram esse sistema. Eles buscavam uma alternativa para controlar o nível de preços internos, fortalecendo a moeda nacional, pois esta estava fixada a uma taxa determinada de câmbio. Controlar o mercado de câmbio exige do Banco Central um certo nível de reservas internacionais (cambiais). Se esse regime sofrer uma fuga significativa de capitais (dólares), o BACEN ira perder muitas reservas e conseqüentemente pode desvalorizar a moeda local. c) Formas híbridas de câmbio Formas híbridas de câmbio são maneiras de atuar sobre este; é uma mistura entre o câmbio fixo e o câmbio livre ou flutuante. Existem inúmeras maneiras intermediárias entre o câmbio fixo e o câmbio livre de se atuar sobre o câmbio. Pretende-se explicitar que as políticas econômicas, discutidas ao longo deste capítulo, são de suma importância para o entendimento dos cenários macroeconômicos. As ações de política monetária, fiscal e cambial têm como finalidade maior alcançar objetivos que tragam benefícios para a população, sendo que tanto o resultados destes objetivos como os reflexos, muitas vezes indesejados, que estas trazem acabam por afetar a vida de todos, empresas e pessoas. Porém é importante saber que o governo, antes da adoção das medidas de política econômica, procura fazer uma leitura do cenário macroeconômico, buscando verificar qual a situação em que se encontra a economia, para traçar um plano de onde espera chegar. Para isto ele utiliza-se de mecanismos de observação da atividade econômica, que são conhecidos como indicadores econômicos e que serão tratados no próximo capítulo. 11. O setor público na economia A participação do governo na economia, a sua dinâmica e a sua atuação frente aos problemas econômicos que a sociedade enfrenta, fomenta diversas discussões. Ainda mais, porque as políticas precisam ajustar as diversas classes sociais que existem e que precisam crescer juntas. O Estado é quem estipula as condições de produção e distribuição e alocação dos recursos macroeconômicos. Com isto, verifica-se que o Estado, através do governo, tem um papel muito importante numa política econômica, a qual necessita ser bem organizada, reparando as desigualdades, para conseguir o bem estar da população. A situação do Estado na economia deve ser bem entendida para não pairarem dúvidas quanto aos rumos tomados no complexo da estruturação de todos os setores da economia, como, por exemplo, a agricultura, os serviços ou o setor de transformação industrial. O governo tenta organizar a economia, com um planejamento econômico de maneira global, utilizando-se de instrumentos normativos e de políticas fiscais. Neste sentido, numa política econômica, o Governo utiliza além do Orçamento Geral da União para o custeio da máquina pública e dos investimentos públicos, as Agências de Fomento e programas específicos de infraestrutura de modo a garantir um crescimento desejado do Produto Interno Bruto, organizando todas as variáveis dentro do sistema, mesmo aquelas que possam fluir de maneira natural, isto é, dentro do sistema econômico de livre mercado, tornando-se, com isto, um dinamizador do crescimento e desenvolvimento do país. Os meios e instrumentos de que pode lançar mão o Estado na condução de sua política econômica podem ser classificados em cinco grandes categorias: a) Instrumentos de finanças públicas; b) Instrumentos monetários e creditícios; c) Instrumentos cambiais; d) Meios de controle direto; e) adaptação institucional. Os três primeiros já foram estudados no item anterior e correspondem a uma ação eminentemente indireta da política econômica, pois através de estímulos ou punições de caráter fiscal, monetário e cambial o Estado procurará influir sobre o comportamento do mercado. O Estado, com a manipulação desses instrumentos, estará deliberadamente introduzindo distorções no sistema de preços com vistas a condicionar as decisões dos particulares. Os programas creditícios, os incentivos fiscais, os depósitos compulsórios dos bancos constituem exemplos típicos, dentre tantos, dessa modalidade de política. Com efeito, o tributo, os juros (custo do dinheiro) ou a taxa cambialpodem aumentar ou diminuir o custo de produzir ou comercializar bens, tornando a atividade mais ou menos atraente e, ainda, influir sobre outras atividades a ela ligadas. Pode ainda determinar o grau de liquidez do sistema, nele injetando ou retirando recursos, o que é fundamental para a política monetária. Já o quarto tipo acima apresentado (meios de controle direto) se destina a diretamente determinar certas variáveis do sistema econômico. Enquadram-se nessa categoria a fixação de preços e salários, o contingenciamento do comércio exterior, o estabelecimento de cotas de produção, o racionamento, a determinação da taxa cambial e outras tais. A ação do governo incide diretamente sobre o próprio mercado. A adaptação institucional (quinto tipo) constitui uma ação que a rigor deve preceder a todas as demais, pois será mediante uma adequada legislação e uma oportuna criação de órgãos e de instituições que surgirá a base legal, destinada a legitimar a utilização dos demais instrumentos pelos responsáveis pela política econômica. É o caso típico das leis sobre sociedades, sobre desapropriação, reorganização de empresas, locação, concorrência, defesa do consumidor, meio ambiente, bolsas de valores e tantas outras. Eros Roberto Grau classifica em três as modalidades possíveis de intervenção do Estado na economia: intervenção por absorção ou participação, intervenção por direção e intervenção por indução. [86: GRAU, Eros Roberto. 2002, p. 174 apud AMARAL, Paulo Henrique do. Direito tributário ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 46-47.] Explica que na intervenção por absorção, o Estado intervém no domínio econômico, desenvolvendo ação direta no campo da atividade econômica como um verdadeiro agente econômico. A absorção se caracteriza quando o Estado assume o controle dos meios de produção em determinado setor da atividade econômica, atuando em regime de monopólio. Na intervenção por participação, espécie de intervenção por absorção, o Estado atua diretamente no mercado em regime de competição com empresas privadas, que permanecem operando nesse mesmo setor. Acrescenta ainda que na intervenção por direção, o Estado exerce pressão sobre a economia estabelecendo mecanismos e normas de comportamento compulsório para os sujeitos da atividade econômica. Finalmente, na intervenção por indução, o Estado manipula os instrumentos de intervenção de acordo e na conformidade das leis que regem o mercado. Segundo Diógenes Gasparini, a intervenção do Estado no domínio econômico pode ser conceituada como “todo ato ou medida legal que restringe, condiciona ou suprime a iniciativa privada em dada área econômica, em benefício do desenvolvimento nacional e da justiça social, assegurados os direitos e garantias individuais”.[87: GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 614.] 11.1 Antecedentes históricos [88: NEGREIROS, Davys Sleman. Estado e economia: uma falsa opinião. Disponível em <http://www.partes.com.br/ed35/politica.asp>.. Acesso em 21.05.2012.] No Brasil, especialmente a partir dos anos 40, o Estado (ou melhor, o governo) atuou como principal agente da industrialização capitalista, associado-dependente dos centros hegemônicos do capitalismo mundial. As causas e modalidades da intervenção do Estado na economia brasileira podem ser classificadas em três grandes fases a saber: A primeira fase, estatização da economia brasileira (anos 50-60) respondia ao interesse das elites dominantes de manter sob controle setores estratégicos, como: energia e garantir infra-estrutura básica (aço, sódio, potássio), carentes de investimentos privados por serem de alto risco e de demorado retorno. Foi uma opção por um modelo de desenvolvimento que garantisse os suprimentos necessários para uma industrialização baseada na indústria privada, em especial a estrangeira. A segunda fase, (1964-1974), implementada pela ditadura militar-tecnocrática, objetivou a transformação de repartições ou autarquias em empresas estatais fornecedoras de serviços públicos (água, esgoto, rodovias, portos, aeroportos, correios, comunicações), necessários para garantir a industrialização. E a terceira fase, o crescimento econômico dos anos 70, foi protagonizada em grande medida, pelas empresas públicas, responsáveis por uma grande parcela dos investimentos em áreas de risco e de forte intensidade de capital. A recessão econômica iniciada nos anos 80 coincidiu, e não casualmente, com a queda gradativa do investimento público e com a renúncia a um tipo de desenvolvimento nacionalmente integrador. O peso do estado na economia brasileira no início dos anos 90 pode ser ilustrado com os seguintes dados: as despesas do governo representavam, aproximadamente, 25% do PIB; somando-se a isso o valor adicionado pelas empresas estatais, chegava-se a algo próximo de 50%. As empresas estatais chegaram a dominar setores básicos da economia tais como serviços públicos (água, eletricidade, transportes e comunicações), a petroquímica, a siderurgia de aços planos e a mineração. A partir dos anos 90, a onda privatizadora neoliberal reduziu drasticamente o peso da empresa pública na economia, assim como, redirecionou a intervenção do Estado na economia, orientando-a, de modo que cada vez mais exclusivo, ao fortalecimento das grandes empresas privadas. Com o modelo econômico positivado na Constituição Federal de 1988, busca-se um retorno comedido aos ideais do liberalismo, sem abandonar a necessidade de sociabilidade dos bens essenciais, a fim de garantir a dignidade da pessoa humana.[89: FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. A evolução da ordem econômica no direito constitucional brasileiro e o papel das agências reguladoras, 2009, p. 3. Disponível em: <www.buscalegis.ufsc.br>. Acesso em: 09 abr. 2010.] Contudo, a questão central que despertou os teóricos da modernidade foi como compatibilizar numa nova ordem econômica o equilíbrio ideal entre os valores liberais e sociais com a atuação do Estado, de forma a corrigir a ineficiência endêmica do Estado Social e proporcionar um novo surto de desenvolvimento econômico, sintonizado com os ideais e valores de todas as dimensões, conforme consagradas nas constituições modernas. Com a valorização das constituições contemporâneas, e com os valores da dignidade da pessoa humana e ideais de justiça social inseridas em muitas delas como princípios fundamentais, não havia mais como o Estado pretender o seu afastamento da economia e das prestações de natureza social. No entanto, o que se busca é uma forma de equilíbrio entre elementos liberais e capitalistas, de uma parte, e de outra, elementos socialistas, cujo objetivo ético é o desenvolvimento humano e de seus direitos fundamentais, dentre eles a liberdade, a livre iniciativa e a livre concorrência. [90: TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. 2. ed. São Paulo: Método, 2006, p. 64-65.] Leonardo Vizeu Figueiredo ensina que solução encontrada pelo Estado neoliberal consistiu em um movimento de transferência das funções de utilidade pública do setor público para o setor privado, ampliando dessa forma o leque de atuação deste, por meio de um setor público não estatal e da privatização. Ao novo Estado caberia uma mudança de parâmetros de seu foco de atuação, desempenhando seu papel por meio de poderes crescentes de regulação, de fiscalização e de planejamento da atividade econômica, sem prejuízo de sua capacidade de intervir na ordem econômica quando necessário.[91: FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. A evolução da ordem econômica no direito constitucional brasileiro e o papel das agências reguladoras, 2009, p. 3. Disponível em: <www.buscalegis.ufsc.br>. Acesso em: 09 abr. 2010.] Acrescenta ainda que no Brasil, aliadas aos clássicos instrumentos de intervenção estatal oriundos dos poderes administrativos do Estado, surgem também as agências reguladoras, cujo escopo é a intervenção em mercados específicos, consoante o modelo privatista adotado inicialmente pelo direito anglo-saxão para combateras distorções de mercado na Inglaterra e nos Estados Unidos da América. Este modelo surge em face da maciça privatização de entes e empresas estatais, que não descartou a necessidade de sua substituição por mecanismos de acompanhamento e controle. A ênfase se desloca na direção da regulação por via da indução do mercado, e não mais por absorção da atividade econômica diretamente pelo governo. Pode-se também concluir que o surgimento no Brasil das Agências Reguladoras não foi obra apenas de vontade política de governo, mas decorre de expressa previsão constitucional consignada no capítulo “Da Ordem Econômica e Financeira”, mais especificamente em seus artigos 173 e 174. 11.2 A atualidade A estrutura e a evolução das contas públicas têm convertido o Brasil num caso particular entre as economias emergentes. Apesar de investir tão pouco a carga tributária é alta e os gastos são elevados. Por esses dois critérios, o tamanho do Estado brasileiro descolou da média das economias emergentes e está muito próximo das economias desenvolvidas. Traçando um comparativo com outros Estados, nos mais diversos continentes temos alguns dados em relação a carga tributária em alguns países no ano de 2004, a brasileira (36% em 2012) quase equivalente à carga dos seguintes países: Portugal (34%); Espanha (35,6%); Suíça (31,3%); Reino Unido (35,9%); Islândia (36,7%); Holanda (39,3%); Alemanha (36,2%); além das duas maiores economias do mundo, ou seja, Estados Unidos (28,9%) e Japão (27,3%). Perde o Brasil, apenas para a França (44,2%), Itália (41,1 %), Áustria (44,1%), Bélgica (46,2%), Dinamarca (49,4%), Noruega (43,1%), Suécia (50,6%) e Finlândia (45,9%), há que levar em conta que nos países citados o aparato estatal de serviços disponível aos cidadãos é geometricamente maior que o brasileiro. [92: BRAZ, Felipe Juliano. Intervenção do estado no domínio econômico. Disponível em http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=774. Acesso em 21.05.2012.] Sob uma perspectiva histórica, a questão do investimento público no Brasil quase se confunde com a identificação das funções do Estado na economia brasileira. Durante décadas, a expectativa entre diversas forças políticas por um Estado forte, condutor do processo de desenvolvimento econômico, resultou na criação de instituições de natureza estatal no campo da produção de bens e serviços – embora organizadas sob o direito privado. A crise dos anos 1980 deu lugar a dois eventos de grande impacto, considerando o modo de funcionamento da economia das décadas anteriores. De um lado, a falência da estrutura de financiamento do setor público desordenou a capacidade do Estado de ser um elemento ativo na dinâmica do processo econômico, e os setores com predominância de empresas estatais passaram a enfrentar problemas de suprimento corrente de bens e serviços, o que culminou em diversas privatizações. De outro lado, os movimentos de abertura comercial das décadas de 1980 (via exportações lastreadas na desvalorização cambial) e 1990 (redução de tarifas e barreiras institucionais) produziram a emergência de espaços para investimentos que, embora fragmentados, em comparação com o mercado interno anteriormente organizado, representavam oportunidades para diversos agentes econômicos. Com isso, a dinâmica da economia e os motores da expansão da capacidade produtiva e da produção ganharam graus de liberdade, em magnitude expressiva, comparando-se com as décadas anteriores, caracterizadas por nítida predominância da intervenção estatal no comando do ritmo do processo econômico. O início deste novo século presencia justamente o choque entre duas formas de articulação econômica. De um lado, a continuidade da dependência da ação estatal em determinados segmentos nos quais a transição para o empreendimento realizado pelo setor privado encontrou obstáculos ou não se completou adequadamente. De outro, um novo tipo de heterogeneidade da estrutura produtiva privada, mais referida ao resto do mundo, mais internacionalizada, mas nem por isso isenta da realidade de uma economia nacional, especialmente no que toca à infra-estrutura econômica. De qualquer forma, surgiu uma grande convergência nos últimos anos, entre analistas econômicos e formadores de opinião até autoridades governamentais, em torno da tese de que será difícil para a economia brasileira crescer sem que o Estado aumente seu patamar de investimentos. A Lei de Wagner (Adolph Wagner, 1835-1917) diz que o tamanho do governo aumenta à medida que o país se desenvolve, porque a atuação estatal se torna mais necessária e complexa em campos típicos da iniciativa pública, tais como regulação, fiscalização, educação, saúde, ciência, pesquisa e bem estar social. As despesas se expandem a um ritmo superior ao do crescimento do PIB. Atualmente, as despesas governamentais com pessoal, INSS, educação, saúde, transferências constitucionais e juros correspondem a 74% da arrecadação. Somadas a outras despesas obrigatórias contratadas como subvenções, a despesa do Poder Legislativo e do Judiciário, esse porcentual vai a 96%. Portanto, o espaço que o governo dispõe para fazer investimentos na economia é muito reduzido, quase inexistente. A necessidade de recursos públicos para realizar investimentos teria que ser suprida por mais dívida pública ou emissão de dinheiro, que gera queda de confiança e inflação. A reforma do Estado deve ter como referencial a urgente necessidade de fortalecê-lo e não de promover seu aniquilamento. É preciso cortar gastos, pois assim se aumentaria o espaço para mais investimentos. Um Estado forte não significa um Estado grande. Ele deve ser leve, ágil, visível, barato, capaz de dar conta com exatidão da multiplicidade de problemas que precisam se solucionados, adotando medidas consistentes e coerentes com os objetivos perseguidos. O Estado precisa recuperar sua capacidade de sinalizar e atuar na direção correta, induzir as ações necessárias, coibir as práticas contrárias ao interesse nacional e punir as infrações morais e legais. Mais planejamento e menos execução constituem uma atitude saudável a ser seguida. 12. Economia Internacional A economia internacional se preocupa com as relações econômicas entre as nações. As unidades não são os indivíduos, e sim uma análise da economia nacional, vista como um todo. Com objetivo de entender as características de cada país, uns mais ricos e industrializados outros permanecem no subdesenvolvimento. Com isso, as sociedades nacionais não são homogêneas. A economia internacional opera com o interesse nacional, supondo que interesse a todos – ricos e pobres. Um dos temas clássicos da economia internacional é a análise das relações comerciais entre países, do ponto de vista das vantagens e desvantagens proporcionadas por diferentes políticas econômicas que afetam aquelas relações. 12.1 Comércio internacional A expressão comércio internacional tem sido usada como sinônima de economia internacional. Embora o intercâmbio entre nações tenha se iniciado com a troca de mercadorias, essa característica foi gradualmente sendo substituída por outras operações, tais como os serviços, empréstimos recebidos de não residentes e remessas ao exterior na forma de juros e de devolução de capital investido no país. O fato é que um país não é auto-suficiente em tudo o que precisa. Exporta o que o que sobra e importa o que falta para atender as necessidades de produção e consumo. Os economistas clássicos (David Ricardo, 1817) forneceram a explicação teórica básica para o comércio internacional através do chamado Princípio das Vantagens Comparativas. O Princípio das Vantagens Comparativas sugere que cada país deva se especializar na produção daquela mercadoria em que é relativamente mais eficiente (ou que tenha um custo relativamente menor). Esta será, portanto, a mercadoria a ser exportada. Por outro lado, esse mesmo país deverá importar aqueles bens cuja produção implicar um custo relativamente maior (cuja produção é relativamente menos eficiente). Desse modo,explica-se a especialização dos países na produção de bens diferentes, a partir da qual se concretiza o processo de troca entre eles. Esta teoria foi contraposta na mesma época pela Teoria da Indústria Nascente. Esta foi formulada por autores alemães e americanos ainda no século XIX em resposta à Teoria das Vantagens Comparativas. Ela surge da constatação de que o país que se industrializar primeiro adquire vantagens comparativas na produção industrial do que os demais países. Foi o que aconteceu com a Alemanha e os Estados Unidos no século passado. Suas indústrias não tinham capacidade de competir em condições de igualdade, no mercado nacional, com a britânica. Para viabilizar sua industrialização, os Estados Unidos e a Alemanha passaram a proteger seus mercados internos, cobrando elevadas tarifas aduaneiras sobre produtos importados que competiam com de suas próprias indústrias. Esta prática deu início ao protecionismo alfandegário. A Teoria da Indústria nascente surgiu, de certa forma, para justificar essa prática protecionista. Segundo seus idealizadores, a vigorar ferreamente o princípio das vantagens comparativas e o seu ideário (plena liberdade do intercâmbio internacional), as economias emergentes jamais passariam da condição de meras fornecedoras de produtos primários e, como tal, ficariam relegadas a uma posição de permanente dependência frente aos grandes centros industriais. A Teoria Neoclássica do Comércio Internacional (Heckscher, 1919 – Ohlin, 1920-1930 – Samuelson, 1948) se contrapõe à teoria clássica de David Ricardo, justificando a existência do comércio internacional através da diferença de dotação de fatores de produção (capital e trabalho) entre os países. Ou seja, os países que têm abundância relativa de capital tenderiam a exportar produtos capital intensivos (máquinas e equipamentos, por exemplo) enquanto os países com abundância relativa de mão-de-obra exportariam produtos mão-de-obra intensivos (tecidos, vestuários, alimentos). Portanto, cada país exportaria os bens que usam intensivamente o fator abundante de suas economias, tornando o comércio internacional equilibrado. Esta teoria ressalva as vantagens do livre comércio em detrimento ao protecionismo. 12.2 Balanço de pagamentos Denominamos balanço de pagamentos as transações feitas entre os países, como importações, empréstimos em moedas estrangeiras e outros. Balanço de pagamentos é a sistematização contábil da entrada e saída de riqueza em termos econômicos, da fronteira de determinado Estado. Incluímos também dentro do balanço, a compra de moedas estrangeiras para importar produtos a outros países ou para pagar o trabalho de estrangeiros aqui no país etc., e também a venda de moedas feitas pelos exportadores que precisam de Real, por exemplo, já que montam filiais no Brasil. A compra de moedas estrangeira é lançada a débito e a venda lançada a crédito. A balança deve estar sempre em equilíbrio, sendo total de crédito igual ao de créditos. As informações sobre o comércio internacional são obtidas através de subdivisões da balança de pagamentos. - Balanço Comercial: registra as exportações e importações de bens do Brasil com o resto do mundo. - Balanço de Serviços: dinheiro pago ou recebido pelo Brasil por serviços prestados por estrangeiros. Não envolvem produtos materiais, mas remessas ou entradas de divisas em moeda estrangeira para pagamentos e recebimentos internacionais. Pode incluir também royaties, pagamento por marcas e patentes, licenças, viagens, aluguéis, etc. (veja o esquema abaixo). Estes dois Balanços formam o balanço de transações correntes (a economia que circula no país). - Balanço de Capitais: todas as relações que não se referem à transação corrente; empréstimos de outros governos, do FMI, capital das firmas estrangeiras. Não é obrigatório que essas subdivisões do Balanço de Pagamentos estejam em equilíbrio, basta que a soma dos débitos seja igual ao dos créditos dos três balanços (comercial, de serviço e de capital). O saldo devedor da balança de pagamentos refere-se ao saldo devedor na balança de transações correntes ou na de capitais, e não na de pagamentos como um todo. O saldo negativo no balanço de transações correntes refere-se a uma transferência de poupanças do resto do mundo. Muitos países em desenvolvimento apresentam saldo negativo na balança de transações correntes, estes saldos representam a transferência de poupanças do resto do mundo para estes países, considerando os custos desta transferência e as conseqüências disto na situação da Balança de Pagamentos nos próximos anos. Uma simples estruturação de um Balanço de Pagamentos pode ser apresentada assim : 1- TRANSAÇÕES CORRENTES 1.1 – Balança Comercial 1.1.1 – Exportações 1.1.2 – Importações 1.2 – Serviços e Rendas 1.2.1 – Fretes 1.2.2 – Viagens 1.2.3 – Seguros 1.2.4 – Financeiros 1.2.5 – Royalties e Licenças 1.2.6 – Alugueis 1.2.7 – Serviços Governamentais 1.2.8 – Outros Serviços 1.3 – Transferências Unilaterais 2- CONTA CAPITAL E FINANCEIRA 2.1 – Investimento Direto 2.2 – Investimento em Carteira 3- ERROS E OMISSÕES 4- RESULTADO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS (1+2+3) Quando o resultado de determinada conta é negativo (ao final do item 1, 2 ou 3), significa que houve maior saída de recursos naquela rubrica contábil em específico, sendo que resultados positivos acusam, conseqüentemente, entrada maior de recursos. Um resultado final positivo (superávit) do Balanço de Pagamentos (item 4) equivale a um aumento das reservas internacionais da economia, ou seja, um aumento dos dólares que entram em determinado país na forma de investimento direto, empréstimos, financiamentos e captações. Há a necessidade de se trocar estes dólares por reais nos bancos, para se fazer uso dos mesmos; os reais são injetados na economia e os dólares são retidos no Banco Central. Atualmente no Brasil temos superávits, principalmente por ocasião da exportação da safra de milho e soja. Contudo, se os resultados finais forem sempre negativos (déficit), gerarão problemas na economia e serão cobertos com financiamentos especiais concedidos por órgãos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), sendo tais financiamentos chamados de compensatórios por se destinarem a cobrir ou compensar insuficiências nos pagamentos internacionais de um país, tidas como transitórias. 12.2.1 Preços internacionais Os preços internacionais quase sempre se formam em um regime muito próximo da concorrência perfeita, pelo fato de serem várias as fontes de origem dos bens no mercado internacional. Contudo, há práticas predatórias no mercado, tais como o dumping puro, ecológico ou social e a prática de subsídios. O dumping consiste na venda ao exterior por preço abaixo daquele pelo qual o produto é oferecido no mercado doméstico de origem, naturalmente feitos os ajustes quanto às taxas e impostos incidentes sobre o mesmo, bem como das despesas de frete e seguro. O dumping ecológico ou social, que é aquele produto produzido em desacordo com as práticas ou normas internacionais relacionadas à proteção do meio ambiente ou do trabalho humano. Por não respeitarem tais normas, tais produtos acabam obtendo um preço de custo inferior àqueles praticados internacionalmente. O subsídio corresponde a recursos transferidos por governos ou entidades a ele ligadas para os exportadores, a fim de reduzir-lhes os custos, tornando seus produtos mais concorrenciais no mercado internacional. 12.2.2 Taxas de câmbio A taxa de câmbio é um dos mecanismos mais utilizados e imprescindíveis para o comércio internacional. A moeda internacional aceita normalmente pelo comércio internacional é o Dollar americano, principalmente para aqueles países que possuem uma economia não desenvolvida e, conseqüentemente, possuem uma moeda não muito confiável aos olhos do mercado. A taxa de câmbio nada mais é do que, a medida pela qual a moeda de um país qualquer pode ser convertida em moeda de outro país, ou seja, é exatamenteo preço de uma moeda em termos de outra. Então como qualquer preço, a taxa de câmbio é influenciada pela oferta e demanda, isto é, é influenciada pela oferta e demanda de moeda estrangeira num determinado país. Os ofertantes de moeda estrangeira num país são exatamente os exportadores que receberam, em troca de suas vendas ou exportações, moedas estrangeiras que não podem ser utilizadas no país e que necessitam, portanto, ser trocadas por moeda nacional junto ao Banco Central do Brasil. Já a demanda por moeda é constituída pelos importadores que necessitam de moedas estrangeiras para efetuar suas compras em outras nações e que também devem fazer esta troca junto ao Banco Central do Brasil. Nas exportações, quanto maior a taxa de câmbio (mais Reais por Dollar), maior o volume que as empresas desejam exportar; quanto menor a taxa de câmbio (menos Reais por Dollar), menor o volume que as firmas desejam exportar. Portanto, quanto maior a taxa de câmbio, maior a oferta de divisas e, quanto menor a taxa de câmbio, menor a oferta de divisas. Já no lado das importações, a situação se inverte: quanto maior a taxa de câmbio (mais Dollar por Reais), menor a quantidade que as empresas desejam importar e menor, portanto, a demanda de divisas; quanto menor a taxa de câmbio (menos Dollar por Reais), maior a quantidade que as empresas desejam importar e, portanto, maior a demanda de divisas. Tanto na oferta e demanda de divisas, ambas dependem dos gostos e preferências das populações do país importador e do exportador. A demanda de divisas depende, por outro lado, da renda do país importador, resumindo, quando a renda de um país cresce, cresce também a demanda de divisas. No caso brasileiro, o fator mais interessante na determinação da demanda e oferta de divisas é o nível geral de preços. Em outras palavras, quando cresce o nível de preços, ou seja, quando há inflação, diminui a oferta de divisas e aumenta a demanda de divisas, resultando num aumento da taxa de câmbio. 13. O papel das instituições multilaterais: FMI, Banco Mundial e OMC O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, idealizados na Conferência financeira e Monetária de Bretton Woods (EUA) em 1944, tiveram por finalidade realizar um esforço conjunto para financiar a reconstrução da Europa após a devastação da segunda guerra mundial e para criar uma nova realidade financeira destinada a livrar o mundo de depressões econômicas futuras. Neste sentido, o nome do original do Banco Mundial foi Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), traduz a sua missão original. A Inglaterra e os EUA, como grandes vencedores da segunda grande guerra lançaram a hipótese de uma organização cooperativa que monitorasse a situação monetária internacional. Sob jurisdição do FMI, do Banco Mundial e do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) – este último o precursor da atual Organização do Comércio (OMC) e criado para fomentar o comércio internacional entre as nações –, representaram as reformas propostas visando a criação de um ambiente favorável às atividades dos bancos globais e empresas multinacionais. Embora quase todas as atividades atuais do FMI e do Banco Mundial refiram-se a empréstimos ao mundo em desenvolvimento, tais atividades são conduzidas por representantes das nações industrializadas. Por acordo, o diretor do FMI é sempre europeu e o diretor do Banco Mundial norte-americano, que são escolhidos a portas fechadas e nunca é considerado um pré-requisito que este profissional tenha qualquer experiência no mundo em desenvolvimento. 13.1 O Fundo Monetário Internacional (FMI)[93: GONÇALVES, Ademar Bastos. A crise internacional e o papel do FMI. Disponível em <http://www.faete.edu.br/revista/Prof.%20Ademar%20Bastos.pdf>. Acesso em 28.05.2012.] Com a instabilidade econômica internacional, surgida no pós-guerra, os sucessivos desequilíbrios nas balanças de pagamento dos países, geraram crises internas, cujas conseqüências resultaram no crescimento do empobrecimento e a miséria. Para enfrentar esse quadro devastador, refletido no modelo econômico até então desastroso para os países, instaurou-se uma nova ordem econômica a partir da criação do Fundo Monetário Internacional, com o objetivo de fomentar uma cooperação monetária internacional. Os 45 governos fundadores do FMI, que foi instalado de fato somente no ano de 1947, queriam a cooperação mundial para ajudar os países a evitarem retrações econômicas, semelhante a que aconteceu nos Estados Unidos na Grande Depressão. Assim, o FMI surge no pós-guerra como uma instituição permanente, atuando como instrumento de consulta e colaboração nas questões monetárias internacionais, com o fim de facilitar a expansão e o crescimento equilibrado do comercio internacional, fomentar a estabilidade cambiária, auxiliando no estabelecimento de um sistema multilateral de pagamentos para as transações correntes entre países-membros. Os países-membros contribuem para o fundo, que oferece empréstimos, assistência técnica e inspeção da economia das nações. Por meio de um sistema de pagamentos e taxas de câmbio, o FMI quer prevenir e resolver a crise, promover estabilidade econômica e diminuir a pobreza em todo o mundo. O FMI possui 186 países-membros e sua influência econômica global continua crescendo à medida que mais países passam a fazer parte. Os recursos que constituem o Fundo Monetário Internacional são oriundos dos países-membros, dentre os quais o Brasil, e o poder de voto depende do volume de contribuição de cada país. A exceção da Coréia do Norte, Cuba, Liechtenstein, Andorra, Mônaco, Tuvalu e Nauru todos os demais membros da Organização das Nações Unidas, integram o Fundo Monetário Internacional. Segundo sua convenção constitutiva o FMI tem por finalidade: fomentar a cooperação monetária internacional por meio de uma instituição permanente, como mecanismo de consulta e colaboração em questões monetárias internacionais; facilitar a expansão e o crescimento equilibrado do comercio internacional; fomentar a estabilidade cambiaria, contribuindo para manter regimes de cambio ordenados evitando depreciações cambiárias competitivas; auxiliar no estabelecimento de um sistema multilateral de pagamentos para as transações correntes entre países membros, eliminando as restrições que obstaculizem a expansão do comercio mundial. O FMI tem também por fim assegurar a eliminação das restrições cambiais nos países membros e disponibilizar temporariamente recursos para evitar desequilíbrios no balanço de pagamentos. A Diretoria Executiva, composta por vinte e quatro membros, com oito assentos permanentes e dezesseis eleitos de dois em dois meses entre grupos de países, reúne-se três vezes por semana para discutir problemas financeiros das nações, apontando as possíveis soluções. A Diretoria Executiva reporta-se à Assembléia de Governadores. A Assembléia de Governadores do FMI é assessorada pelo Comitê Interino e pelo Comitê de Desenvolvimento, que se reúnem duas vezes por ano e examinam assuntos relacionados ao sistema monetário internacional e à transferência de recursos para os países em desenvolvimento. Os membros permanentes da Diretoria Executiva são: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, China, Rússia e Arábia Saudita. O Brasil integra um dos grupos não permanentes e rotativos, que é constituído também pela Colômbia, República Dominicana, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, Suriname, Trindade e Tobago. Cada país que integra o FMI detém no Fundo uma cota a ser determinada com base em seus indicadores econômicos, entre os quais o PIB (Produto Interno Bruto). Essas cotas são revistas a cada cinco anos e quanto maior for a contribuição ao FMI maior será o peso do voto nas decisões. Depreende-se, portanto, que o sistema de quotas é desigual, prevalecendo a decisão daquele que detiver maior numero de quotas. Nesse caso, figurando os Estados Unidos como maior quotista, tem este, o poder de veto na organização. A política mais comum de empréstimos do FundoMonetário Internacional é denominada de Acordo Stand-by (Stand-by agreement). É utilizada desde 1952 em países com problemas de curto prazo na balança de pagamentos. Esta política envolve financiamentos diretos de 12 a 18 meses, com prazo de pagamento de três a cinco anos. São cobrados juros de 2.22 por cento mais uma taxa variável de dois por cento. Integram o Acordo Stand-by, dois instrumentos distintos. O primeiro, a carta de intenções ou um memorando assinado pelo presidente do banco central e pelo Ministro da Fazenda do país que recorre ao Fundo. Neste, o Estado solicitante ao formular seu pedido de assistência descreve a política financeira, monetária e fiscal que pretende desenvolver. Detalhará seu programa de estabilização e as políticas de combate a inflação e ao déficit publico, taxa de emissão de moeda e de projeção do crescimento econômico. Com a carta segue um memorando de entendimento, firmado pelo Estado e os experts do FMI. O outro documento, o Stand-by Arrangement propriamente dito, trata de decisão formal da Diretoria Executiva do FMI com o objeto do credito, sua duração, o montante a ser liberado, as obrigações do Estado, as comissões a serem, pagas ao Fundo e as circunstancias que podem legitimar eventual suspensão dos direitos de saque. Recebida a solicitação o Fundo encaminha ao estado solicitante uma missão com o fim de discutir a negociação, objeto do pedido. A primeira tarefa da missão, logo na chegada ao Estado solicitante é tomar conhecimento pleno, mediante consulta às autoridades locais, da política econômica do País, tornando-se apta, assim, a explicá-la aos dirigentes do FMI e, caso este concorde com o Stand-by Arrangement, possam acompanhar todo o processo de sua execução. 13.2 O Banco Mundial[94: ROMMINGER, Alfredo Eric. O grupo banco mundial: origem, funcionamento e a influencia do desenvolvimento sustentável em suas políticas. Universitas - Relações Int., Brasília, v. 2, n.1, p. 269-288, jan./jun. 2004. ] Como já mencionado, o Banco Mundial durante a Conferência de Bretton Woods (EUA), em 1944, em resposta às necessidades de promoção da reconstrução européia no pós-guerra e o desenvolvimento das nações não desenvolvidas. Em 25 de junho de 1946, começava a funcionar o BIRD e suas primeiras ações tinham o objetivo de reconstruir a Europa. A definição do Banco Mundial é um pouco fora do convencional, já que ele não é um banco no sentido usual da palavra. Essa dificuldade conceitual foi identificada já na época dos debates em Bretton Woods (EUA). Naquela ocasião, os delegados dos 44 países não sabiam como nomear tal instituição, mas aparentemente todos achavam adequado omitir a palavra “banco”, pois o Banco tinha características mais comuns a um fundo. O Banco Mundial não é realmente um banco, faltam a ele diversas funções ordinárias que cabem a um banco cumprir, como receber depósitos dos seus associados. O que ele faz é oferecer empréstimos a governos, ou a entidades privadas garantidas pelos governos, além disso, seus empréstimos são oferecidos a juros inferiores aos de mercado e não são direcionados a países com condições de fazer empréstimos em termos razoáveis de outras fontes. Existem ocasiões em que a atuação do Banco é confundida com as do FMI, pois, em certas condições, o Banco Mundial pode oferecer Empréstimos de Ajuste, dentro de termos parecidos com os dos empréstimos do Fundo (Stand-by). O Banco Mundial é uma Instituição de Desenvolvimento que busca promover o desenvolvimento econômico nos países em desenvolvimento e só faz empréstimos a esses, que normalmente são de longo-prazo, enquanto que o FMI é uma Instituição Monetária, que faz financiamento de curto-prazo aos déficits temporários dos balanços de pagamento, emprestando a todos os seus membros. O que justificaria a ação excepcional do Banco Mundial em conceder empréstimos de ajuste é que países em desenvolvimento com problemas nos déficits de pagamento têm seu crescimento econômico estagnado. Assim, em seu desenvolvimento institucional, o Grupo Banco Mundial foi delineando suas estruturas e políticas, de modo a assumir, atualmente, o papel de promoção ao desenvolvimento dos países em desenvolvimento por meio de financiamentos a projetos que promovam o combate à pobreza e a utilização sustentável dos recursos das nações. Entre os tipos de projetos que financia, incluem-se projetos nas áreas: de educação, saúde, agricultura, infra-estrutura, bem como praticamente todos os setores considerados sensíveis para países em desenvolvimento, além dos já referidos auxílios oferecidos para ajustes no balanço de pagamentos, que criam a confusão entre as obrigações do Banco e as do FMI. Atualmente, o Grupo Banco Mundial é composto de cinco agências, são elas: o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), a Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA), a Corporação Financeira Internacional (CFI), a Agência Multilateral de Garantia de Investimentos (AMGI) e o Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos (CIADI). Para realizar seus objetivos, o Grupo utiliza-se dessas agências. Cada agência possui uma atividade específica, mas normalmente o BIRD é considerado o principal representante do Banco Mundial, por ter sido a primeira agência e por administrar praticamente todos os recursos do Grupo. As funções do BIRD, retiradas de seu Estatuto, são a de captar e oferecer empréstimos a países em desenvolvimento que sejam considerados bons pagadores. O BIRD capta seus recursos pela venda de títulos nos mercados de capitais a taxas preferenciais, de modo que possa oferecer esses recursos em empréstimos para países em desenvolvimento com taxas de juros menores que as de mercado. O Banco também atrai recursos do setor privado oferecendo co-financiamento aos países, o que aumenta a disponibilidade de crédito aos países em desenvolvimento. Das outras quatro agências que compõe o Banco Mundial, vale citar ainda, por seu papel no financiamento internacional, a CFI que foi criada em 1951 com o objetivo de promover o setor privado nos países em desenvolvimento por meio de empréstimo, e a IDA, criada em 1960 com o objetivo de conceder empréstimos de longo prazo, com juros muito baixos ou nulos, para projetos em países de baixa renda e com dificuldades em seus balanços de pagamentos. O BIRD e a IDA juntos formam o que comumente é chamado de Banco Mundial, sendo a maior fonte internacional de recursos para o financiamento do desenvolvimento mundial. 13.3 A Organização Mundial do Comércio (OMC) Denomina-se GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) o conjunto de acordos de comércio internacional que têm como fim a abolição das tarifas e das taxas aduaneiras entre os países signatários. O primeiro acordo foi estabelecido em 1947, em Genebra, sob os auspícios da Organização das Nações Unidas. Foi firmado por 23 países e tinha como fim harmonizar as políticas aduaneiras dos Estados signatários. O GATT é um acordo internacional celebrado entre Estados soberanos e, como já mencionado, resultado direto da conferência econômica realizada em território americano (Conferência de Breton Woods, EUA, 1944), fazendo parte do projeto de liberalização econômica do pós-guerra, que também criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. As rodadas (Round) de negociações mais importantes foram as chamadas "Kennedy Round" (1964-1967), "Tóquio Round" (1973-1979) e "Uruguai Round" (1986-1993). Este último acordo foi assinado por 117 países e teve como objetivo reduzir os entraves ao comércio mundial, tornando-o mais interdependente pelas sucessivas reduções das pautas aduaneiras. Pela primeira vez, este importante programa de liberalização do comércio mundial incluiu produtos agrícolas e serviços. Os acordos sucessivos permitiram baixar a média das percentagens das tarifas mundiais aplicadas às mercadorias industriais de 40% em 1947 para 5% em 1993. Estes acordos tornaram-se uma espécie de código de conduta dos governos em matéria de comércio internacional.O GATT foi incorporado à legislação brasileira pelo Decreto Legislativo n° 313 de 1948. Os países em desenvolvimento pouca voz tiveram em decorrência da criação do GATT e poucos benefícios também. A operação dos mecanismos criados pelo GATT provocou o descompasso do crescimento econômico, criando insatisfações entre seus membros. Nos anos que antecederam à criação GATT, o meio ambiente não era tema de especial preocupação para os Estados da comunidade internacional. A tônica era a recuperação do mundo pós-guerra, com a melhora dos padrões de vida, o pleno emprego, o aumento do volume da renda real, além do desenvolvimento de estratégias para o uso completo dos recursos do mundo e da expansão, tanto da produção como da troca de bens. As partes contratantes do GATT estavam preocupadas em utilizar toda a extensão dos recursos disponíveis no mundo com vistas a melhorar o padrão de vida de seus habitantes. No acordo do GATT não havia uma só cláusula voltada às questões ambientais. Somente em 1992 criou-se um subcomitê sobre Comércio e Meio Ambiente, subordinado ao comitê preparatório para a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) em 1995.[95: GATT, 1949, apud BARRAL, Welber, FERREIRA, Gustavo Assed. Direito ambiental e desenvolvimento. In: BARRAL, Welber; PIMENTEL, Luiz Otávio (org). Direito ambiental e desenvolvimento. Florianópolis: Fundação Boiteaux, 2006, p. 33-34.] Prevista na Declaração de Marrakesh (1994), foi criada a OMC (Organização Mundial de Comercio) que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1995. A OMC é uma organização, possui personalidade jurídica e é constituída por membros e não por Estados. O GATT não desaparece, seus participantes passam a pertencer aos dois acordos. Alguns países que não estavam no GATT, passaram a integrar a OMC. Os 28 acordos celebrados pelo GATT servem de acervo e constituem fonte de direito para a OMC. A Declaração de Marrakesh, da qual o Brasil é signatário e que criou a OMC, foi ratificado pelo Brasil e incorporado à legislação brasileira pelo Decreto n° 1.355 de 30 de dezembro de 1994. A OMC tem um escopo muito mais amplo que o GATT. É um sistema que conta com a participação de quase 150 membros. A preocupação com a questão do desenvolvimento sustentável ficou explicita no preâmbulo do Acordo Constitutivo da OMC, afirmando que a organização não pretendia utilizar completamente os recursos naturais do planeta, mas utilizá-los de maneira ótima, levando em conta considerações de sustentabilidade, o que implica a noção de preservação do meio ambiente natural para as gerações futuras. A elevação dos níveis de vida, o pleno emprego, a expansão da produção e do comércio de bens e serviços, a proteção do meio ambiente, o uso ótimo dos recursos naturais em níveis sustentáveis e a necessidade de realizar esforços positivos para assegurar uma participação mais efetiva dos países em desenvolvimento no comércio internacional constituem os objetivos primordiais da OMC, conforme exposto em sua carta constitutiva. A OMC tem como atribuição administrar a implantação e operação de acordos comerciais multilaterais que moldam o novo sistema de comércio internacional; servir de foro para as negociações multilaterais; administrar todo um sistema de regras e procedimentos relativos à solução de controvérsias; administrar o mecanismo de Revisão de Políticas Comerciais, o qual através de revisões periódicas das políticas de comércio exterior dos membros busca dar transparência ao sistema multilateral de comércio. Entretanto, uma de suas funções merece especial destaque: funcionar como tribunal para os conflitos do comércio internacional, por intermédio do órgão de Solução de Controvérsias. Antes da OMC, a solução de conflitos não dispunha de uma cláusula de obrigatoriedade de cumprimento, capaz de impor as decisões tomadas pelo órgão de julgamento. Esse mecanismo faz da OMC o mais eficiente tribunal entre as organizações internacionais. 14. A globalização como fenômeno multidimensional A globalização é entendida como o movimento de internacionalização das relações econômicas no mundo capitalista. Esta interdependência entre as nações e as diferentes regiões do planeta está além do fenômeno do livre fluxo financeiro e de mercadorias, impactando também no âmbito político, cultural, social e das relações de trabalho. O fenômeno iniciou-se com o ciclo das grandes navegações (século XV) e na revolução industrial (século XVII e XVIII). Foi percebido pela primeira vez no impacto causado pela quebra da bolsa de Nova Iorque sobre toda a economia mundial do início do século XX. O alastramento quase que instantâneo da crise dos mercados de 2008 sobre a economia comprova que o fenômeno da interdependência sistêmica de todo o setor produtivo do planeta é uma realidade irreversível. No pós-guerra, a Europa foi a primeira a optar pela organização das nações em blocos econômicos, integrando seus membros na busca de uma cooperação regional, econômica e social, consoante uma lógica de mercado comum. O exemplo foi seguido em todo mundo, dando ensejo à criação de inúmeros outros agrupamentos regionais com o mesmo intuito, porém sem a mesma efetividade do Mercado Comum Europeu. Atualmente, a lógica das nações é menos social e mais comercial. Está fundada na criação de áreas de livre comércio ou de uniões aduaneiras, baseada preponderantemente na isenção de tarifas de importação de produtos entre os países membros. Percebe-se também a influência paralela das mega-empresas globais sobre os processos econômicos, seja em função de sua importância econômica ou da magnitude de seus ativos. No mundo globalizado o capital financeiro não tem bandeira e transita livremente em busca de lucro, beneficiado por um sistema de difusão de informações e de conhecimento que torna as oportunidades de negócio acessíveis em tempo real, em qualquer lugar do planeta. Por outro lado, este processo de globalização é constantemente re-alimentado, na medida em que é impossível às nações não flexibilizar as barreiras ao comércio ou aos investimentos internacionais. A padronização dos produtos e dos serviços é flagrante em qualquer parte do mundo. O mesmo pode ser dito em relação à massificação dos padrões de consumo de bens e de valores culturais. Por sua vez, as forças políticas governam voltadas ao atendimento de posturas e padrões internacionais para a atração do capital necessário para proporcionar o desenvolvimento de suas nações, tornando-se verdadeiros Estados Mercados. Não há dúvida que foi a revolução da tecnologia da informação que propiciou a plena difusão da globalização dos mercados, uma vez que construiu uma nova infra-estrutura para o desenvolvimento das relações econômicas, representando um enorme potencial de criação de riqueza. Esta revolução tecnológica permanece vigorosa na via da expansão do conhecimento, conforme se observa nos constantes progressos científicos observados nas áreas da biotecnologia, da bioeletrônica e da nanotecnologia. A empresa de sucesso no mundo globalizado é aquela que percebe esta realidade e entende como aproveitar as vantagens trazidas pela globalização, consubstanciada na mobilidade e na agilidade que as inovações tecnológicas e do conhecimento humano proporcionam. Neste contexto de acirrada competição, cabe à empresa entender que a sua sobrevivência estará garantida na medida em que souber gerenciar o presente e criar a sua vantagem competitiva em relação ao mercado, seja inovando tecnologicamente seu produto ou gerenciando sua operação de forma mais eficiente, inclusive ambientalmente. Já não é mais necessário estar em todos os locais para realizar vendas ou investimentos. Tampouco há limitações em instalar uma unidade fabril em um país como a China, aproveitando os baixos custos dos impostos sobre a produção e o aviltante preço de sua abundante mão-de-obra para, então, comercializar seus produtos no mercado asiático ou em qualquer outro lugar do mundo. A seu turno, o exemplo da formação das mega-corporações globais torna possível entenderas modernas estratégias legais voltadas para a formação de capital via fusão ou aquisição de empresas, viabilizando a formação do capital financeiro e tecnológico para realizar um novo empreendimento. A crise financeira de 2008 afetou o mercado de crédito mundial, provocando uma retração dos recursos disponíveis para investimentos produtivos, a perda de parâmetros sobre o valor dos ativos financeiros e uma forte contração da demanda mundial por produtos manufaturados e, conseqüentemente, pelas commodities internacionais. Nesta conjuntura, o grande desafio microeconômico das empresas é manter a liquidez e uma atitude conservadora em relação aos seus custos, sem perder de vista as oportunidades que o mercado em breve oferecerá, seja em relação ao emprego de novas tecnologias na retomada das atividades produtivas como na aquisição estratégica de empresas concorrentes. No entanto, esta retomada do crescimento deverá ser iluminada pelos princípios de Governança Corporativa, entendida como um conjunto de valores, princípios, propósitos, papéis, regras e processos que regem o sistema de poder e os mecanismos de gestão das modernas organizações empresariais. Segundo o G8 e a OECD, a Governança Corporativa “é um dos mais novos e importantes pilares da ‘arquitetura’ global”, e “um dos instrumentos determinantes do desenvolvimento sustentável, em suas três dimensões: econômica, social e ambiental.” A capacidade de adaptação e de reinvenção sempre foi o diferencial da empresa moderna. Porém, o desafio atual é muito maior em face de um mundo mais populoso, poluído e faminto, vislumbrando a escassez de recursos antes considerados infinitos. Somente com a percepção deste cenário, contrastado com o novo conceito de gestão do capital (Governança Corporativa) e do conhecimento é que será alcançada a sustentabilidade social, corporativa e ambiental das organizações, definindo o ponto de inflexão (ruptura) da curva de ciclo de vida da empresa moderna, rumo a um novo período de crescimento mundial. - A ideologia neoliberal e a realidade capitalista globalizada[96: NEGREIROS, Davys Sleman. Estado e economia: uma falsa opinião. Disponível em <http://www.partes.com.br/ed35/politica.asp>.. Acesso em 21.05.2012.] Os Estados tentam adequar-se à nova configuração da economia globalizada, resultante do predomínio das empresas multinacionais ou transnacionais, que controlam parcelas decisivas da economia mundial; A desregulamentação modificou os mercados financeiros: ampliou a livre circulação de capitais, acelerou a concentração e centralização de empresas e também a expansão das atividades especulativas, monetárias e financeiras internacionais; A desregulamentação do mercado de trabalho, provocou uma regressão social generalizada. Em nome da competitividade da economia nacional, que exige a redução do custo do trabalho, foram introduzidas regras que facilitam as demissões e precarizam o vínculo empregatício de uma parcela crescente de trabalhadores. Assim, a "redução do Estado" significará para os trabalhadores a perda dos direitos sociais e trabalhistas, e uma situação geral de forte desemprego e trabalho "informal". A ideologia neoliberal pretende preencher o vazio de idéias produzidas pela crise das alternativas socialistas e também pelo desgaste da ilusão consumista ligada ao "american way of life". Na economia internacional, o neoliberalismo aparece como a única saída para a crise do sistema monetário internacional, em especial para a crise do dólar e para a complicada construção do sistema monetário europeu. Este fato propiciou a formação de blocos ou conglomerados de capitais "especulativos" (empresas e bancos multinacionais, cuja atividade e poder são basicamente financeiro-especulativos) que fogem ao controle das políticas monetárias dos governos (inclusive do G-7). Contudo, o setor que apresenta a maior coerência entre a doutrina e a prática neoliberal é o setor financeiro. Neste foram desregulamentados os grandes mercados de capitais que se integraram formando um sistema mundial único, com taxas liberalizadas e livre trânsito e conversibilidade de moeda-capital. O G-7 – grupo dos sete países mais ricos – encabeçados pelos EUA, exerce uma influência decisiva na economia mundial, através da coordenação das suas políticas econômicas e das instituições financeiras e comerciais internacionais comandadas por eles (FMI, Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio). Com essa concentração do poder econômico, o neoliberalismo atinge um resultado paradoxal. Os governos dos países mais ricos, campeões do liberalismo, estabelecem organismos oficiais de coordenação das suas políticas econômicas e de comando capitalista do mundo, o que equivale a atribuir novas funções econômicas supranacionais aos Estados do G-7, contrariando assim, a cartilha liberal que diz que o Estado deve se afastar da economia para deixar espaço à "virtuosa" regulação espontânea dos mercados. Como a realidade é mais forte que todos os mitos ideológicos, resulta que a oligopolização privada da economia mundial exige uma centralização do seu comando político globalizado, é disto que se encarrega o G-7, através dos organismos citados acima.