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Introdução à Logística Empresarial Introdução à Logística Empresarial Organizado pela Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2017 Attila Elod Blesz Junior Conselho Editorial EAD Andréa de Azevedo Eick Ângela da Rocha Rolla Astomiro Romais Claudiane Ramos Furtado Dóris Gedrat Honor de Almeida Neto Maria Cleidia Klein Oliveira Maria Lizete Schneider Luiz Carlos Specht Filho Vinicius Martins Flores Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. ISBN: 978-85-5639-263-3 Dados técnicos do livro Diagramação: Jonatan Souza Revisão: Ane Sefrin Arduim O objetivo principal desta etapa é proporcionar a vocês conhecimentos gerais sobre a logística empresarial. Esperamos que os objetivos propostos neste módulo sejam alcança- dos e que os assuntos aqui tratados passem a ser de domínio permanente de vocês, futuros profissionais da área de logística. Vamos iniciar entendo como surgiu a logística, seus principais conceitos, sua evolução e qual o seu papel no atual cenário de nossa economia. A seguir, nosso objetivo é apresentar as principais funções da logística, demonstrando a importância de cada uma destas para a obtenção dos níveis de eficiência e eficácia exigidos pelos clientes. Também, familiarizar a todos vocês em relação às principais ferramentas, sistemas e tecnologias atualmente disponíveis e que propiciam o suporte necessário para projetos logísticos que possibilitem agregar valor a produtos e serviços. Desejamos uma ótima leitura e que possam se inspirar nos conteúdos, vídeos, matérias e reportagens indicados nos links na disciplina. Bem-vindos à disciplina. Profª Me. Attila Elod Blesz Junior Apresentação Professor Attila Elod Blesz Junior é bacharel em Análise de Sistemas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Possui mestrado em Engenharia de Produção com ênfase em Logística pela Universidade Fe- deral do Rio Grande do Sul – UFRGS e atualmente é doutorando em En- genharia de Produção com ênfase em Sistemas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos- Unisinos. Atua como professor na Universidade Luterana do Brasil, Campus Canoas, desde 2008 nos cursos de graduação e pós- -graduação, nos formatos presencial e EAD. Sócio-proprietário da empresa Impacto Consultoria, desenvolve proje- tos de consultoria para a melhoria de processos de negócio e em projetos envolvendo tecnologia da informação e comunicação (TICs). Sobre o Autor 1 A Logística Ontem e Hoje .....................................................1 2 A Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos ...............18 3 A Importância do Processamento de Pedidos .......................39 4 Armazenagem na Logística .................................................54 5 Distribuição na Logística .....................................................65 6 Nível de Serviço ..................................................................82 7 Ferramentas Logísticas ........................................................95 8 Logística e Operações Globais ..........................................118 9 Prestadores de Serviços Logísticos .....................................134 10 Plataformas Logísticas .......................................................149 Sumário A Logística Ontem e Hoje1 1 Mestre em Engenharia de Produção, Professor nos cursos de Administração, Lo- gística, Gestão Financeira, Processos Gerenciais e Operações Industriais. Attila Elod Blesz Junior1 Capítulo 1 2 Introdução à Logística Empresarial Introdução Neste capítulo, vamos entender como surgiu a logística, com- preender seus principais conceitos e as fases de sua evolução para o cenário empresarial. Além disso, vamos conhecer as principais atividades que dão suporte à logística e os desafios que ainda precisam ser enfrentados na busca de níveis cada vez maiores de eficiência para os serviços ofertados. 1 A logística ontem e hoje A palavra logística remonta ao século XVII, quando logistique era o termo utilizado para um posto militar existente no exér- cito francês. O soldado que ocupasse tal posto era o respon- sável pelas atividades relativas ao deslocamento, alojamento e acampamento das tropas em campanha, referindo-se então à arte prática de movimentar exércitos. A partir desse mes- mo século, a logística passa a incorporar modernos conceitos das operações militares e, mais tarde, passa a ser visualizada não apenas em mecanismos de transporte, mas também em suporte, manutenção e prevenção, preparativos administrati- vos, inteligência e reconhecimento nas movimentações e na sustentação das forças militares. Com o advento da revolução industrial, surge também a preocupação com a distribuição dos produtos, pois até então a produção não era tão signifi- cativa. A partir desse momento em que as indústrias passam a ter grandes volumes de produção, também iniciam as preocu- pações com a forma de distribuir e armazenar seus produtos. Capítulo 1 A Logística Ontem e Hoje 3 Foi durante a II Guerra Mundial, em virtude das opera- ções militares, que a logística adquire maior importância, pois abrangia todas as atividades relativas à provisão e administra- ção de materiais, pessoal e instalações, bem como da orga- nização dos serviços de apoio. No início de 1991, o mundo presenciou um exemplo grandioso da importância da logística no ambiente militar, pois, para organizar a Guerra do Golfo, os Estados Unidos e seus aliados tiveram que deslocar gran- des quantidades de materiais a grandes distâncias, o que se pensava ser impossível na época. O que se viu foram milha- res de pessoas e toneladas de materiais e suprimentos sendo transportados por cerca de 12.000 quilômetros por via aérea, além de mais de 2,3 milhões de toneladas de equipamentos transportados por mar, tudo realizado em semanas. Assim, a logística proporcionou o suprimento adequado às tropas, com materiais e equipamentos que representariam fator determi- nante no sucesso da campanha militar. Também ajuda a explicar o desenvolvimento da logística, principalmente entre os anos de 1950 e 1970, as constantes alterações nos padrões de vida e consumo dos consumidores, os avanços na tecnologia, etc. A partir da década de 70, a logística ganha o status de logística empresarial, alcança sua maturida- de, pois internaliza o campo da administração em seu dia a dia onde princípios e conceitos formulados passaram a ser utilizados com grande sucesso pelas empresas (BALLOU, 1993). Para Novaes (2007), a logística vem, ao longo do tempo, agregando alguns requisitos, tais como valor de lugar, de tem- po, de qualidade e de informação à cadeia produtiva. Dessa forma, faz sentido dizermos que a logística coloca o produto 4 Introdução à Logística Empresarial certo, na quantidade pedida pelo cliente, no local, na hora e no tempo solicitados, tudo isso ao menor custo possível. Contribuem Bowersox e Closs (2001) quando afirmam que a logística envolve integração de informações, transporte, esto- que, armazenamento, manuseio de materiais e embalagem. Para os autores, a logística representa uma ampla variedade de tarefas estimulantes que, combinadas, tornam mais efetivo o gerenciamento da cadeia. Assim, com o apoio da Figura 1 abaixo, podemos entender a logística como uma estratégia que possibilita a gestão da aquisição, da movimentação e da armazenagem de produtos e peças desde uma origem até um destino, visando minimizar custose maximizar lucros, presentes e futuros, através do aten- dimento dos pedidos dos clientes. Figura 1 Estratégia Logística. Fonte: Novaes (2001, p. 36). Capítulo 1 A Logística Ontem e Hoje 5 1.1 Fases da Logística É possível perceber a evolução da logística a partir de fases bem distintas. Conforme Novaes (2007), esse processo de evolução da logística pode ser dividido em quatro fases: i) atu- ação de forma segmentada, ii) integração rígida, iii) integra- ção flexível; iv) integração estratégica. Figura 2 Fase I da Logística. Fonte: Novaes (2007, p. 42). A primeira fase da logística, conforme Figura 2, caracteri- za-se pela preocupação na formação de lotes econômicos que possam maximizar as economias que poderiam ser alcança- das com uma forma de transporte de menor custo. Ao longo de cada processo, é possível perceber uma grande quantidade de estoques com o objetivo de servir como pulmão e, assim, garantir o fornecimento. 6 Introdução à Logística Empresarial Figura 3 Fase II da Logística. Fonte: Novaes (2007, p. 45). A segunda fase, destacada acima na Figura 3, apresenta uma integração rígida, no formato de um duto. Demonstra, assim, a rigidez dos processos ao longo da operação. Nessa fase, o setor de manufatura tinha grande poder na indústria, pois as mudanças nas programações de produção (critérios e produtos) eram realizadas sem prévia consulta às demais áreas da empresa. O resultado eram estoques excessivos ao longo de toda a cadeia de suprimentos. Podemos considerar que essa fase tinha como objetivo a busca pela integração ao longo da cadeia. Entretanto, seu esquema muito rígido não permitia correções às falhas e mudanças exigidas no planeja- mento. Assim, a falta de flexibilidade muitas vezes restringia o atendimento rápido a uma solicitação. Capítulo 1 A Logística Ontem e Hoje 7 Figura 4 Fase III da Logística. Fonte: Novaes (2007, p. 46). Conforme a Figura 4, a terceira fase da logística se es- tabelece com um enfoque de integração flexível, em que o desenho da cadeia permite dobrar-se às necessidades de seus participantes. É possível perceber uma adaptação aos proces- sos ao longo da cadeia em dois níveis: i) a logística interna (Do caminho logístico do pedido dentro da empresa) e da lo- gística externa (Do caminho logístico do pedido envolvendo os fornecedores e clientes). O importante a observar é que essa integração das empresas ainda ocorre sempre entre duas em- presas (NOVAES, 2007). A terceira fase é marcada pela troca de informações entre os participantes através do intercâmbio eletrônico de dados. Nessa fase, inicia também a preocupa- ção com a satisfação do cliente, sendo que esses processos informatizados permitem uma melhor interação entre empresa e clientes. A “filosofia” de estoque zero passa a ser evidencia- da nesta fase, muito pelo foco no cliente, estabelecendo assim possibilidades de “Puxar a demanda” e, com isso, estabelecer uma melhor política de estoques. 8 Introdução à Logística Empresarial Figura 5 Fase IV da Logística. Fonte: Novaes (2007, p. 49). A quarta fase, demonstrada na Figura 5, passa a ser a inte- gração estratégica onde os elos da cadeia estão sintonizados na lógica do “Ganha-ganha”. Nessa fase, a flexibilidade e a visão sistêmica passam a ser uma realidade. A postergação (Posponement), que tem como objetivo a redução dos prazos e a minimização das incertezas ao longo da cadeia de suprimen- tos vira objetivo diário, ainda mais quando a perecibilidade e a sazonalidade impactam no planejamento de alguns produ- tos e serviços. O cenário é das manufaturas dispersas ou de “fábricas sem fumaça” e da forte pressão por agilidade entre os elos da cadeia. O conceito de Supply Chain Management (SCM) é utilizado em função da integração dos processos lo- gísticos. A tecnologia da informação passa a ser grande aliada na melhoria contínua de níveis de serviço. A descentralização de algumas atividades, repassando para quem tem expertise no fazer passa a ser uma realidade, trazendo maior foco das empresas para as suas atividades principais. Capítulo 1 A Logística Ontem e Hoje 9 A logística, portanto, foi sendo cunhada ao longo dos sécu- los e se intensificou após o pós-guerra. Cabe ressaltar que sua importância está vinculada aos pressupostos da globalização, estabilidade econômica, competitividade e de uma sociedade que tem pressa. 1.2 Principais Atividades da Logística Parcela significativa dos custos totais de uma organização é absorvida pelas atividades logísticas. Estudo realizado em 2010 pela ILOS – Instituto de Logística e Supply Chain reve- lou que as atividades logísticas absorveram cerca de 8.5 % da receita líquida obtida pelas empresas brasileiras, cerca de 390 bilhões de reais. Essas atividades podem ser classifica- das em atividades-chave ou também conhecidas como primá- rias e atividades de apoio ou suporte. As atividades primárias englobam o processamento de pedidos dos clientes, o trans- porte e a administração dos estoques, essenciais para que a empresa possa desempenhar satisfatoriamente sua proposta de trabalho. Essas atividades, por serem as principais e terem uma relação maior com o nível de serviço desejado, absorvem uma parcela maior dos custos totais da logística. Entretanto, somente as atividades primárias não são suficientes para que objetivos sejam alcançados. Atividades de apoio ou de suporte como armazenagem, manuseio de materiais, suprimentos e embalagem, atividades de retorno e sistemas de informação também precisam ser somadas, contribuindo no suporte às ati- vidades primárias. Cabe destacar que nem todas as atividades ocorrem em todo o canal logístico. Algumas podem ocorrer dentro de algum elo da cadeia específico, em uma empresa em particular. 10 Introdução à Logística Empresarial A seguir é apresentado o Quadro 1, destacando as ativida- des primárias da logística. Quadro 1 Atividades Primárias na Logística ATIVIDADE DESCRIÇÃO Transporte Pode ser considerada a mais importante atividade, pois absorve de um a dois terços dos custos logísticos totais. Além disso, essa atividade tem impacto direto no nível de atendimento dos clientes. É necessário que as empresas providenciem a movimentação de suas matérias-primas e de seus produtos acabados, caso contrário eles permaneceriam nos canais de distribuição, deteriorando-se e ficando obsoletos, sem atender ao mercado consumidor. Destaque para os modais mais utilizados: rodoviário, ferroviário, hidroviário, aeroviário e dutoviário, ou ainda a combinação de dois ou mais deles. Manutenção de estoque A previsão em relação à demanda de clientes nem sempre é tarefa fácil. Igualmente fica inviável produzir e providenciar a entrega instantânea dos produtos. Para que a disponibilidade de produtos possa atender a diferença entre oferta e demanda, é necessário a existência de estoques. No entanto, manter os estoques e sua manutenção pode comprometer os resultados da empresa, sendo essa atividade outra que muito contribui para os custos logísticos. O sucesso na administração dessa atividade é manter os níveis de estoque o mais baixo possível, sem prejudicar a disponibilidade dos produtos desejados pelos clientes. Processamento de pedidos Utilizada para atender os pedidos dos clientes, essa atividade normalmente inicia após o registro do pedido pelo cliente. Mesmo considerada uma atividade crítica em função do tempo necessário para sua execução, não absorve grandes custos logísticos se comparada com as atividades de transporte e manutenção de estoques. Fonte: Adaptado de Ballou (1993). Capítulo 1 A Logística Ontem e Hoje 11 Lembrando que para que o processo logístico atinja seus objetivos também são necessárias as atividades de apoio. Es- sas atividades, bem como suasdescrições, são apresentadas no Quadro 2 a seguir: Quadro 2 Atividades de Apoio na Logística ATIVIDADE DESCRIÇÃO Armazenagem Envolve tudo o que diz respeito à administração dos espaços necessários para manter os produtos estocados, internamente na empresa ou fora dela, mais próximos do cliente. A atividade envolve a localização, o dimensionamento, o arranjo físico, equipamentos apropriados, recuperação e estoques, projeto de docas ou baias de atracação, utilizando para isso recursos humanos e financeiros. Manuseio de materiais Muito ligado à atividade de armazenagem, envolve toda a movimentação de materiais e produtos no local onde estão estocados. Possibilita a transferência dos estoques para o processo produtivo e dele para o estoque de produtos acabados, podendo ainda transferir produtos de um depósito para outro. Embalagem de proteção A embalagem na logística auxilia na movimentação de produtos com total segurança e a um custo razoável. Projetar adequadamente a embalagem de um produto ajuda a garantir a perfeita movimentação sem desperdícios, além de proporcionar seu melhor manuseio e armazenamento. Suprimentos ou Obtenção Essa atividade permite que se mantenha a disponibilidade dos produtos, no momento exato, para ser utilizado no processo logístico. Engloba o processo de seleção e avaliação de fornecimento, da definição de quantidades, da programação das compras e da forma pela qual o produto é comprado. 12 Introdução à Logística Empresarial Planejamento e programação do produto Refere-se às quantidades agregadas que devem ser produzidas, e também como, quando, onde e por quem devem ser fabricadas. É responsável pelo fluxo de saídas dos produtos da empresa. Sistemas de informações Importantíssima no processo logístico, garante o sucesso ou não de sua organização. Proporciona informações de custo e de desempenho, essenciais para o correto planejamento e controle logístico. Através de uma base de dados íntegra, com dados acurados de clientes, volumes de vendas, padrões de entregas e níveis de entrega e possibilita enorme vantagem competitiva para seu sistema logístico. Fonte: Adaptado de Ballou (1993). 1.3 Desafios para a Logística A globalização, a concorrência acirrada, a diversidade de produtos e sua variabilidade, além dos desejos dos clientes, impõem grandes desafios para a logística de hoje. O sucesso de um processo logístico dependerá de como as empresas va- rejistas irão repensar seus processos, reestruturar e reorganizar as suas atividades logísticas. A integração existente entre for- necedor, fábrica e cliente nunca foi tão grande, e será ainda maior quando todas as tecnologias hoje já disponíveis estive- rem disseminadas e apoiando as atividades da grande maio- ria das empresas. Inclusive, novas arquiteturas informacionais revolucionarão as relações entre varejistas e fornecedores e entre varejistas e consumidores, bem como entre os varejis- tas e fontes externas de informação. Com tanta tecnologia à disposição, pessoas mais qualificadas precisarão ser contrata- das, porém, em quantidades cada vez menores. A integração suportada pelas tecnologias e pelo novo perfil funcional terá Capítulo 1 A Logística Ontem e Hoje 13 impacto direto na qualidade, nos tempos de atendimento e nos níveis de exigência do cliente. Os custos logísticos totais diminuirão com as estratégias de suprimento puxado, como reposição contínua e logística de distribuição cross-docking1 e substituirão efetivamente as for- mas convencionais de abastecimento. O número de depósitos e centros de distribuição será reduzido drasticamente. O tem- po médio de permanência dos produtos na rede logística de distribuição será reduzidos de meses, ou semanas, para dias. O aumento das vendas no comércio eletrônico fez crescer a demanda por frete, principalmente para a distribuição nos grandes centros urbanos. O aumento do fluxo de veículos nos grandes centros gera problemas, seja pelos congestionamen- tos que afetam diretamente o tempo para a entrega de mer- cadorias, seja pelo aumento dos custos com a necessidade de repensar sobre estruturas de transporte, pontos de distribuição e horários de entrega. Nesse ambiente cada vez mais restritivo, os testes para uso de Drones - veículos aéreos não tripulados - para o transporte de pequenas cargas já começam a fornecer os primeiros resul- tados, encaminhando inúmeras possibilidades de seu uso em projetos logísticos. Gigantes varejistas como Amazon e Wal- -Mart, além do próprio Google vêm acompanhando de perto a evolução dos testes e a decisão sobre aspectos legais ainda restritivos. 1 Processo em que a mercadoria é descarregada de um caminhão e já carregada em outro, evitando o armazenamento. 14 Introdução à Logística Empresarial Nessa mesma direção futurista, surge a tecnologia da dire- ção autônoma, em que veículos passam a dispensar a neces- sidade de motoristas para seus deslocamentos, diminuindo os custos com pessoal e resolvendo um grande problema atual que já assola a Europa e os Estados Unidos, que é a falta de profissionais do volante. Dirigíveis, veículos mais leves do que o ar, e que outrora já foram um meio de transporte para passageiros, agora ressur- gem em projetos ambiciosos que prometem disponibilizar um novo modal para o transporte de cargas. Todos esses avanços certamente irão contribuir para novos caminhos, novas formas de lidar e fazer melhor a logística. Recapitulando O capítulo apresenta a origem da logística, esclarece sobre sua função e importância e relata as quatro fases de sua evo- lução, mais rígida inicialmente e muito mais flexível ao final. Também fornece uma explicação detalhada sobre as principais atividades logísticas responsáveis por absorver grande parcela dos custos logísticos. Por fim, apresenta um cenário futuro para a logística, em que a integração e a tecnologias, agora mais disseminadas, passam a nortear o planejamento dos projetos logísticos. Capítulo 1 A Logística Ontem e Hoje 15 Referências BALLOU, R.H. Logística Empresarial: Transporte, Administra- ção de Materiais e Distribuição Física / Ronald H. Ballou; tradução Hugo T. Y. Yoshizaki. São Paulo: Atlas, 1993. BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. Logística empresarial: O processo de integração da cadeia de suprimentos. São Paulo: Atlas, 2001. CAMPOS, Luiz Fernando Rodrigues. Logística: teia de rela- ções. Curitiba: Intersaberes, 2013. MORAIS, Roberto Ramos de. Logística Empresarial. Curitiba, Intersaberes, 2015 NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição: estratégia, operação e avaliação. São Paulo: Campus, 2007. RAZOLIN FILHO, Edelvino. Logística Empresarial no Brasil: tópicos especiais. Curitiba: Intersaberes, 2012. SANTANA, D. (Org.). Logística: uma abordagem conceitual e prática de suprimentos, produção, distribuição e logística reversa. Canoas: Ulbra, 2013. 16 Introdução à Logística Empresarial Atividades 1) A partir dos estudos desenvolvidos neste capítulo, assinale (V) para as assertivas consideradas verdadeiras e (F) para as assertivas consideradas falsas: ( ) A logística possui como origem o ambiente militar, como suporte ao transporte e disposição de manti- mentos às tropas; ( ) A logística pode ser entendida como uma estratégia que possibilita a gestão da aquisição, da movimen- tação e da armazenagem de produtos e peças desde uma origem até um destino, visando maximizar custos e minimizar lucros; ( ) Ao longo do tempo, a logística vem agregando alguns requisitos, tais como valor de lugar, de tempo, de qua- lidade e de informação à cadeia produtiva. 2) A partir das opções apresentadas abaixo, identifique a úni- ca assertiva incorreta. 1) ( ) Na primeira fase da logística era comum a existên-cia de grandes quantidades de estoques servindo como pulmão para a garantia de fornecimento. 2) ( ) A logística representa até hoje parte pequenas dos custos totais de uma organização. Talvez por isso a aten- ção dada a ela seja menor se comparada com a manu- fatura. Capítulo 1 A Logística Ontem e Hoje 17 3) ( ) A evolução da logística ocorreu através de 4 fa- ses bem distintas: i) atuação de forma segmentada, ii) integração rígida, iii) integração flexível; iv) integração estratégica. 3) Com relação às principais atividades logísticas, assinale (V) para as assertivas consideradas verdadeiras e (F) para as assertivas consideradas falsas: ( ) As atividades logísticas dividem-se em primárias e se- cundárias; ( ) As atividades secundárias possuem relação direta com o nível de serviço desejado ao cliente; ( ) As atividades primárias englobam o processamento dos pedidos dos clientes, o transporte e a administra- ção dos estoques; 4) Procure para leituras adicionais: artigos na internet que tratem do assunto “postergação” ou postponement. 5) Procure para leituras adicionais: artigos na internet que tratem do assunto crossdocking. ?????????? Capítulo ? A Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos1 1 Mestre em Engenharia de Produção, Professor nos cursos de Administração, Lo- gística, Gestão Financeira, Processos Gerenciais e Operações Industriais. Attila Elod Blesz Junior1 Capítulo 2 Capítulo 2 A Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos 19 Introdução Neste capítulo, vamos compreender um pouco sobre a dinâ- mica das cadeias de suprimentos, possíveis diferenças em sua estrutura, o conceito da empresa focal e os principais proces- sos normalmente existentes em sua estrutura e que precisam ser gerenciados. O capítulo apresenta ainda algumas estraté- gias possíveis de ser utilizadas em diferentes configurações de cadeias de suprimento. 1 A logística e a gestão da cadeia de suprimentos O Brasil assistiu desde a metade da década de 1990 ao rápi- do crescimento do termo Supply Chain Management (SCM) ou Gestão da Cadeia de Suprimento. É possível entendê-la como a integração dos processos desde o fornecedor, passando pelo ambiente fabril até chegar ao cliente final. Ou seja, integra um conjunto de organizações que estão envolvidas a jusante (Outbound - no sentido do cliente) e a montante (Inbound - no sentido do fornecedor) nos diversos processos que produzem valor na forma de produtos e serviços. 20 Introdução à Logística Empresarial Figura 1 Representação de uma Cadeia de Suprimentos. Fonte: acervo do Autor. A estrutura de uma cadeia de suprimentos é formada por três grandes dimensões: i) Uma estrutura horizontal, definida pelo número de ní- veis (Tiers) na cadeia; ii) Uma estrutura vertical, definida pelo número de em- presas em cada nível da cadeia; iii) Posição da empresa foco/focal, definida pela sua lo- calização horizontal na cadeia; Além disso, os elos ou membros da cadeia são classifica- dos como primários e de apoio. Os membros primários são representados pelas empresas que executam atividades opera- Capítulo 2 A Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos 21 cionais ou gerenciais que agregam valor ao produto ou servi- ço produzido. Já os membros de apoio são aquelas empresas que fornecem elementos como recursos e conhecimento e que suportam os membros primários, mas que não participam di- retamente no processo de agregação de valor. Ocasionalmen- te pode ocorrer que uma empresa execute atividades primárias em um processo de negócio na cadeia e atividades de apoio em outro processo, bem como executar esses papéis em ca- deias distintas. Para que não haja nenhuma confusão, precisamos deixar bem claro a diferença de conceitos entre a logística e a gestão da cadeia de suprimentos. A logística é a parte dos processos da cadeia de supri- mentos que planeja, implementa e controla o efetivo flu- xo e estocagem de bens, serviços e informações corre- latas desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender as necessidades dos clientes. (..) A gestão da cadeia de suprimentos é a gestão dos processos de negócios chave desde o usuário final até os fornecedores primários, providenciando produtos, servi- ços e informações que adicionam valor para os clientes. O Supply chain council define os principais processos de negócio que devem ser gerenciados ao longo da cadeia. O Quadro 1 a seguir apresenta esses processos. 22 Introdução à Logística Empresarial Quadro 1 Principais Processos de Negócio em uma Cadeia de Suprimentos Processo Descrição Gerenciamento do relacionamento com o cliente Fornece a estrutura de como os relacionamentos com os clientes serão desenvolvidos e mantidos; identificar os clientes- chave e os grupos de clientes que serão orientados como parte da missão de negócios da empresa, cuja meta é segmentar os clientes baseados no seu valor ao longo do tempo; Gerenciamento do serviço ao cliente Fornece o ponto-chave de contato para a empresa administrar os contratos de serviço e produto; providencia informações em tempo real de datas de entrega e disponibilidade de produto, através de interfaces com as funções da empresa, tais como logística e produção; Atendimento dos pedidos Inclui todas as atividades necessárias para definir os requisitos dos clientes, projetar a rede e auxiliar a empresa a cumprir os pedidos dos clientes, ao mesmo tempo em que prioriza o custo total de entrega; Gerenciamento do fluxo da produção Inclui todas as atividades necessárias para movimentar os produtos através das unidades da empresa, implementando e gerenciando a flexibilidade da produção na cadeia de suprimentos; Gerenciamento do relacionamento com fornecedores Define como a empresa irá interagir com os seus fornecedores; estabelecendo, por exemplo, que a empresa terá relacionamentos muito próximos com um pequeno conjunto de fornecedores, através de contratos ganha-ganha, ou que simplesmente irá buscar sempre o melhor preço de mercado; Desenvolvimento de produtos e comercialização Fornece a estrutura para desenvolver e levar produtos aos mercados juntamente com clientes e fornecedores, atua juntamente com os processos de gerenciamento de relacionamento com clientes e fornecedores para identificar as necessidades dos clientes; seleciona materiais e fornecedores e desenvolve tecnologias de produção. Capítulo 2 A Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos 23 Gerenciamento de retorno Gerencia todas as atividades associadas aos retornos de produtos: logística reversa na empresa focal e também nas empresas dos membros-chave da cadeia de suprimentos. Esse processo auxilia, além do gerenciamento do fluxo de produtos retornados, identificar oportunidades para reduzir o retorno e controlar bens reutilizáveis como contêineres. Fonte: acervo do Autor. 1 Origens e Desdobramentos da Gestão da Cadeia de Suprimentos É possível explicar a origem da SCM a partir das vertentes i) compras, ii) logística, iii) gestão da produção e iv) marketing. Figura 2 Potenciais origens da SCM. Fonte: acervo do Autor. A SCM pode ser vista na Figura 2 como uma expansão natural da gestão da produção para além dos limites físicos da empresa. Atualmente, de forma especial nos setores indus- 24 Introdução à Logística Empresarial triais mais competitivos, diversos programas de ação já foram realizados com o intuito de se obterem melhorias contínuas e avanços no desempenho interno de suas unidades produtivas. Assim, grande parte das novas fronteiras a serem exploradas está posicionada fora dos muros da empresa e existe clara necessidadede se gerenciar a cadeia de suprimentos com uma visão do todo e não apenas dentro dos limites de suas empresas individuais. Assim, muitas empresas que terceirizam processos produtivos hoje realizam sua gestão da produção de forma altamente integrada e dependente de seu fornecedores- -chave e de provedores de serviço. Conforme já relatado anteriormente, o processo de glo- balização da economia e de expansão da TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação – trouxe um novo conjunto de desafios e de oportunidades para a logística no geral. Para responder a essas novas necessidades, muitos profis- sionais e empresas da área de logística têm expandido seu campo de atuação. Esse movimento os remete ao contexto da SCM. Esses profissionais e empresas também têm cada vez mais consciência do papel fundamental da logística no escopo da SCM e da necessidade de se conhecer melhor esse novo conceito para poder realizar os processos logísticos de forma mais efetiva. Assim, para a logística, a expansão da SCM tem trazido alguns novos desafios, mas, sobretudo, tem representado uma grande oportunidade de desenvolvimento de novos negócios. A SCM pode ser também vista como uma extensão da área de compras, pois cresceu significativamente o volume de material comprado pelas empresas. No processo de concen- Capítulo 2 A Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos 25 tração em suas atividades centrais, de transferência de custos fixos para variáveis e de abastecimento, sob uma perspecti- va global, muitas empresas mudaram significativamente seus procedimentos de compras. Vários desafios advindos de ques- tões como comércio eletrônico, parcerias de negócio, novos modelos produtivos, novos sistemas logísticos, dentre outros, forçaram a área e o profissional de compras a expandir seus horizontes para muito além dos tradicionais processos de co- tação, fechamento de contratos convencionais, realização de follow ups,1 etc. Atualmente, em empresas onde o processo de terceirização (Outsourcing) é acentuado, o trabalho da área de compras quase se confunde com o trabalho da SCM, tama- nha tem sido a abrangência do envolvimento da área. A SCM como expansão do escopo da área de marketing em sua função básica de identificação das necessidades do mercado e de posterior desdobramento e internalização des- sas demandas para suas áreas produtivas. Durante muito tem- po, esse trabalho foi tratado exclusivamente no contexto dos chamados canais de distribuição. Atualmente, entretanto, em alguns setores industriais mais dinâmicos, a área de marketing tem tido cada vez mais que interagir com a cadeia de supri- mento como um todo, tendo que se envolver também com a cadeia de abastecimento (Inbound) da empresa em questão. Para conseguir atender esses novos desafios, a área tem avan- çado no sentido montante da cadeia e, consequentemente, expandido sua atuação para toda a cadeia de suprimentos 1 Processo de verificar com o fornecedor se a ordem de compra terá seus prazos atendidos. 26 Introdução à Logística Empresarial 2 Montando as Estratégias na Gestão da Cadeia de Suprimentos Uma questão importante quando falamos na gestão da cadeia de suprimento é ter a clareza das estratégias escolhidas. Na nova competição que ocorre entre cadeias, o sucesso depende do desenvolvimento e da execução de uma estratégia clara. O elemento principal dessa estratégia é decidir como fazer o trade-off entre flexibilidade e eficiência. Se a cadeia não con- segue fabricar e entregar os produtos de uma maneira ade- quada e lucrativa, não interessa muito quanto o seu produto e preço sejam bons. Normalmente, a flexibilidade exige que as empresas elevem os seus estoques de segurança e mantenham capacidades produtivas de reserva para atender a demandas inesperadas. Já o aumento da eficiência exige que essas reser- vas sejam reduzidas ao mínimo possível. Buscar esse equilíbrio não é tarefa fácil e fica ainda muita mais complicado quando falamos de vários parceiros de negócio trabalhando de forma integrada. Para minimizar o dilema flexibilidade / eficiência passa a ser necessário um posicionamento estratégico da ca- deia levando em consideração os elementos produto, preço e serviço. Capítulo 2 A Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos 27 Figura 3 Estratégia de Posicionamento na Cadeia. Fonte: Taylor, 2005 p. 279. Se sua intenção é ser o líder nos preços baixos, a única saída viável é construir a cadeia mais eficiente e mais eco- nômica possível. Do contrário, fatalmente você irá perder o seu mercado para alguma empresa que conseguir espremer mais custos, eliminando-os de sua cadeia. Se você quiser criar reputação pela qualidade do seu serviço, precisará de uma cadeia extremamente flexível que possa distribuir os produtos de forma rápida e confiavelmente mesmo sob as condições mais incertas. Se escolher a posição intermediária e enfatizar a qualidade de seus produtos, sua escolha dependerá da na- tureza desses produtos; se forem novos, será necessária uma cadeia mais flexível para enfrentar a incerteza da demanda do que se os produtos forem maduros, com vendas mais estáveis. 28 Introdução à Logística Empresarial Outra questão importante que precisa ser levada em conside- ração dentro das estratégias de gestão da cadeia de suprimentos é o comportamento da demanda. Em função desse comporta- mento, a estratégia da cadeia pode ser a agilidade na resposta às demandas ou fazer mais com menos, de forma enxuta. Figura 4 Cadeia de Suprimentos Enxuta e Ágil. Fonte: acervo do Autor. Uma constatação interessante vista na trajetória de imple- mentação desses conceitos é que muitas empresas que adota- ram práticas da produção enxuta também se tornaram ágeis. Ocorre que, em algumas situações, o fato de produzir de for- ma enxuta favorece também a produção na forma ágil, ou Capítulo 2 A Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos 29 seja, em certas circunstâncias a produção enxuta pode ser um elemento de agilidade. A tabela a seguir esclarece um pouco mais as perspectivas ágil e enxuta, levando em consideração algumas característi- cas relevantes. Quadro 2 Perspectiva Ágil x Enxuto QUESITO SUPRIMENTO ENXUTO SUPRIMENTO ÁGIL Produtos típicos Commodities Produtos de moda Demanda Previsível Volátil Variedade de Produtos Baixa Alta Ciclo de Vida do Produto Longo Curto Critério Ganhador de Pedido Custo Disponibilidade Margem de Lucro por Unidade Baixa Alta Custos Dominantes Custos físicos Custos de marketing Alta qualidade das informações, em especial sobre demanda Altamente desejável Obrigatória Mecanismo de previsão Algorítmico Consultivo Fonte: Vivaldine e Pires, 2010 p. 25. Como visto, não é tarefa fácil definir e manter uma estra- tégia exclusiva e clara para a sua cadeia de suprimentos. Se você possui uma combinação de clientes e produtos que sim- plesmente não se ajustam a uma única estratégia e não está em condições de afastar os que não se adaptam, talvez seja necessário implementar mais de uma estratégia em sua cadeia de suprimentos. 30 Introdução à Logística Empresarial 3 Maximizando o Desempenho Definir a melhor estratégia não significa que está tudo resolvi- do. A fronteira da eficiência em uma cadeia de suprimentos é constantemente deslocada para adiante por novas técnicas e tecnologias, o que oportuniza a obtenção de vantagem com- petitiva. A seguir, veremos quatro maneiras pelas quais os lí- deres de empresas focais podem buscar ainda mais eficiência em suas cadeias. 3.1 Aumentando a Velocidade Uma das maneiras mais simples de avançar a fronteira da efi- ciência é acelerar o fluxo de produtos ao longo da cadeia. A aceleração melhora a eficiência porque o estoque não per- manece na cadeia por tanto tempo, o que reduz os custos de manutençãodesse estoque. Ao mesmo tempo, o aumento da velocidade do estoque aprimora a flexibilidade, pois reduz o tempo necessário para modificar o que está no pipeline em resposta à instabilidade da demanda. Se seu estoque demora seis semanas para passar da produção ao consumidor, então sua combinação de produtos sempre estará atrasada em rela- ção à demanda por dois meses. Por outro lado, se o estoque leva seis dias no trajeto entre produção e o consumidor, é pos- sível modificar essa combinação em uma semana. Uma forma óbvia de aumentar a velocidade é passar a adotar meios de transporte mais rápidos. No entanto, esses custos adicionais terão de ser compensados pelos benefícios financeiros oriun- dos da diminuição dos custos de manutenção, aumento nas vendas, redução de depreciações, dentre outros. Os compo- Capítulo 2 A Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos 31 nentes em estoque passam muito tempo ociosos, e o melhor método para aumentar a velocidade desses não é movê-los mais rapidamente quando estão sendo deslocados, mas sim fazer com que passem mais tempo em movimento, evitando gargalos. 3.2 Centralizando o Risco A ideia básica da centralização do risco é combinar o geren- ciamento dos estoques, que normalmente seriam controlados de forma separada e centralizada, possibilitando que a varia- bilidade na demanda possa ser administrada com um volume menor de estoque de segurança. Para entender como isso fun- ciona, vejamos a Figura 15 abaixo, que compara os níveis de estoque necessários para atender 97% do nível de estoque ao cliente com três estoques regionais ou apenas com um único, centralizado. Figura 5 Níveis de estoque. Fonte: acervo do Autor. 32 Introdução à Logística Empresarial No caso do modelo de estoque descentralizado, seriam necessárias cerca de 150 unidades de estoque em cada regio- nal, totalizando 450 unidades de estoque de segurança. Já no modelo centralizado, apenas 300 unidades de estoque seriam necessárias. A resposta para essa diferença é que as variações locais na demanda tendem a se anular. A variabilidade ale- atória pode fazer com que a demanda seja alta na primeira região, média na segunda e baixa na terceira, ou resultar em qualquer outra combinação. No entanto, é pouco provável que a demanda seja alta nas três regiões, ao mesmo tempo. Assim, se os três estoques forem reunidos, então o mesmo es- toque de segurança poderia cobrir o risco da demanda alta em qualquer uma das três regiões, reduzindo as necessidades de estoque total. É claro que a decisão de centralizar os estoques envolve mais do que apenas as necessidades de estoque de segurança e não necessariamente requer que o estoque esteja fisicamente no mesmo local. Nessa abordagem, é necessário apenas que os estoques estejam sendo gerenciados de forma integrada. Isso poderá ser realizado a partir de técnicas como estoque em níveis, fontes múltiplas de fornecedores, transbor- do e entrega direta, etc. 3.3 Projetando o Produto Projetar o produto levando em consideração as características da manufatura e dos demais elos da cadeia de suprimentos é uma abordagem nova e que vem ajudando a simplificar a produção e a redução dos custos, aprimoramento da quali- dade. Ao contrário do passado, quando engenheiros desen- volviam o produto e depois disso incumbiam a manufatura de Capítulo 2 A Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos 33 descobrir como fabricá-lo, o projeto do produto considera a sequência completa das operações e movimentos necessários para transformar matérias-primas em produtos prontos para o uso. Nesse contexto, desenvolver projetos colaborativos está se tornando cada vez mais comum nas diversas cadeias. Por exemplo, antigamente os fornecedores tinham pouca ou ne- nhuma influência no projeto ou mesmo na definição para o desenvolvimento de produtos ou de suas partes. Atualmente, o nível de colaboração está cada vez maior, com fornecedo- res sendo consultados sobre recurso, técnicas de fabricação e custeio visando a melhorar o produto final. A iniciativa de projeto de produto é significativa em inú- meros aspectos, um dos quais é a mudança implícita na im- portância relativa da manufatura e do gerenciamento da ca- deia de suprimentos. Pela tradição, as funções de transporte e logística eram subordinadas à manufatura. Basicamente, a manufatura fabricava o que queria fabricar e no momen- to que achasse oportuno, e cabia à logística supri-la com os materiais necessários e retirar os produtos acabados de suas mãos. Hoje, os papéis estão sendo invertidos e a manufatura tem sido vista como uma peça de uma máquina muito maior, ou seja, a cadeia de suprimentos. Na nova organização das atividades, as necessidades e os desejos da equipe de manu- fatura são muitas vezes subordinados às exigências da cadeia de suprimentos como um todo. Tal inversão de papéis é uma consequência natural da nova competição entre as cadeias de suprimentos, sendo uma consequência que poucas empresas internalizaram até o presente momento. 34 Introdução à Logística Empresarial 3.4 Adiando a Diferenciação A inovação mais empolgante no movimento com vistas ao pro- jeto do produto é uma técnica conhecida como adiamento ou diferenciação adiada, ou ainda mais raramente denominada freeze-point delay. A ideia básica desse movimento é fabricar produtos em formato genérico na manufatura, enviá-los aos centros de distribuição próximos aos destinos e então realizar as operações finais que resultam em um produto específico. Essa técnica desloca a fronteira de eficiência porque propor- ciona maior economia de escala na produção e no transporte, e ainda aumenta a flexibilidade da empresa para que respon- da à instabilidade da demanda. Uma história clássica de sucesso no adiamento tem como protagonista a linha de impressoras Deskjet, da Hewlett Pa- ckard. A HP se beneficiava das crescentes vendas dessas im- pressoras e a produção em sua fábrica de Vancouver aumenta- va acompanhando com exatidão o planejamento para atender a crescente demanda. O problema é que as impressoras preci- savam ser configuradas de maneira diferente para o mercado de cada país, e a empresa não raro deparou com a escassez de algumas configurações e o excesso de estoques de outras. Uma única fábrica atendia o mundo inteiro e as impressoras eram enviadas de navio; então não havia nenhuma maneira de a HP ajustar o seu mix de configurações com rapidez sufi- ciente para solucionar o problema. Em vez disso, a empresa realizou uma nova configuração para as suas impressoras per- mitindo que detalhes necessários em determinados países pos- sam ser inseridos em seus respectivos centros de distribuição. Essa modificação possibilitou que a HP fabricasse impressoras Capítulo 2 A Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos 35 genéricas em grande volume, as enviasse em grande quanti- dade e adiasse a configuração final até o momento em que elas estivessem bastante próximas de seus mercados-alvo. Cada uma das técnicas descritas neste capítulo pode repre- sentar uma vantagem expressiva em relação à concorrência, mas não devem ser vistas de forma independente. A combina- ção de uma ou mais dessas técnicas possibilita atingir níveis altos de eficiência na cadeia de suprimentos, o que certamente colocará a cadeia em posição de liderança no seu mercado. Recapitulando O capítulo apresenta a estrutura de uma cadeia de suprimento e descreve os principais processos que devem ser atendidas a partir de sua gestão. Deixa clara a importância na definição das estratégias que irão nortear a condução da gestão da ca- deia, analisando questões como características do produto e de sua manufatura, o comportamento da demanda, ciclo de vida do produto, etc. Por fim, esclarece sobre técnicas que se combinadas po- dem conduzirpara aumentos de eficiência possibilitando enor- me vantagem competitiva. 36 Introdução à Logística Empresarial Referências BALLOU, R.H. Logística Empresarial: Transporte, Administra- ção de Materiais e Distribuição Física / Ronald H. Ballou; tradução Hugo T. Y. Yoshizaki. São Paulo: Atlas, 1993. BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. Logística empresarial: O processo de integração da cadeia de suprimentos. São Paulo: Atlas, 2001. CAMPOS, Luiz Fernando Rodrigues. Logística: teia de rela- ções. Curitiba: Intersaberes, 2013. MORAIS, Roberto Ramos de. Logística Empresarial. Curitiba, Intersaberes, 2015. RAZOLIN FILHO, Edelvino. Logística Empresarial no Brasil: tópicos especiais. Curitiba: Intersaberes, 2012. SANTANA, D. (Org.). Logística: uma abordagem conceitual e prática de suprimentos, produção, distribuição e logística reversa. Canoas: Ulbra, 2013. TAYLOR, D. A. Logística de Suprimentos: uma perspectiva empresarial. São Paulo: Pearson, 2005 VIVALDINI, P. Operadores Logísticos: Gerenciamento da Ca- deia de Suprimentos. São Paulo, Atlas, 2010. Capítulo 2 A Logística e a Gestão da Cadeia de Suprimentos 37 Atividades 1) A partir dos estudos desenvolvidos nesse capítulo, assinale (V) para as assertivas consideradas verdadeiras e (F) para as assertivas consideradas falsas: ( ) A estrutura de uma cadeia de suprimentos é formada por uma estrutura horizontal e outra vertical; ( ) A posição da empresa foco ou focal é definida na es- trutura vertical da cadeia de suprimentos. ( ) A posição da empresa focal não varia na estrutura horizontal da cadeia de suprimentos. 2) A partir das opções apresentadas abaixo, identifique a úni- ca assertiva incorreta. 1 – Os membros primários em uma cadeia de suprimentos são representados pelas empresas que executam ativi- dades operacionais ou gerenciais que agregam valor ao produto ou serviço produzido. 2 – O processo de desenvolvimento de produto fornece a estrutura para desenvolver e levar produtos aos merca- dos juntamente com clientes e fornecedores, atua junta- mente com os processos. 3 – Os membros de apoio são aquelas empresas que for- necem elementos como recursos e conhecimento e que suportam os membros primários, participando também de forma direta no processo de agregação de valor. 38 Introdução à Logística Empresarial 3) Com relação às principais atividades logísticas, assinale (V) para as assertivas consideradas verdadeiras e (F) para as assertivas consideradas falsas: ( ) A SCM tem como origem as áreas de compras, marke- ting, logística e a própria manufatura; ( ) Na nova competição que ocorre entre cadeias, o su- cesso depende do desenvolvimento e da execução de uma estratégia clara. ( ) O elemento principal da estratégia em uma cadeia de suprimentos é decidir como fazer o trade-off entre flexibilidade e eficiência 4) Faça uma pesquisa na internet e identifique outros cases sobre “Adiamento de Diferenciação”. 5) Faça uma pesquisa na internet verificando cases sobre projeto de produto. A Importância do Processamento de Pedidos1 1 Mestre em Engenharia de Produção, Professor nos cursos de Administração, Lo- gística, Gestão Financeira, Processos Gerenciais e Operações Industriais. Attila Elod Blesz Junior1 Capítulo 3 40 Introdução à Logística Empresarial Introdução Neste capítulo, vamos compreender a importância do proces- so de atendimento de pedidos nos contextos da logística e da gestão eficiente das cadeias de suprimento. São apresentadas algumas questões importantes que precisam ser levadas em consideração no planejamento dessa atividade e diferentes sis- temas de separação (Picking) possíveis de serem utilizados são apresentados. O Processamento de Pedidos é uma das três atividades principais da logística. O tempo gasto nesta atividade influen- cia diretamente os custos e o nível de serviço ofertado ao clien- te. Assim, é possível perceber a importância de um sistema de Processamento de Pedidos bem planejado, em que não haja dispêndio de tempo e os colaboradores consigam selecionar e movimentar rapidamente os produtos. A principal atividade no atendimento de um pedido é a atividade de picking. Esta atividade é responsável pela coleta do mix correto de produtos, em suas quantidades definidas da área de armazenagem para satisfazer as necessidades do cliente. Com o intuito de melhorar a produtividade do picking foram desenvolvidos alguns métodos de organização do tra- balho com o objetivo de minimizar os tempos não úteis, gastos com os deslocamentos dos operadores e com a busca por produtos. Esses métodos consideram o número de operadores responsáveis pela separação de cada pedido e o número de pedidos coletados simultaneamente por um mesmo operador. Capítulo 3 A Importância do Processamento de Pedidos 41 A Figura 4 a seguir apresenta estudo que demonstra o con- sumo relativo do tempo de um operador realizando a ativi- dade de separação de pedido em uma área de estocagem. O gráfico indica que um recurso pode consumir até 50% de seu tempo apenas nos deslocamentos realizados na área de estocagem. Figura 1 Sistema A-Frame. Fonte: Lima (2002). Existem, no entanto, várias ações que podem ser realizadas objetivando diminuir o tempo gasto com o deslocamento e, por consequência, no tempo total de atendimento de um pedi- do. Entre essas ações, destacam-se:  Utilizar algoritmos para definição das rotas de coleta e que busquem minimizar a distância média percorrida na separação do pedido; 42 Introdução à Logística Empresarial  Utilizar métodos alternativos de organização possibili- tando coletar mais pedidos por cada deslocamento;  Utilizar lógicas de endereçamento que posicionem os produtos na área de estocagem usando critérios que minimizem a distância média de movimentação, consi- derando o número de expedições de cada item, o seu volume em estoque e a complementariedade entre os itens (ou seja, guardar próximos os produtos que nor- malmente são expedidos juntos). Além disso, a identificação nos endereços de coleta e a disposição clara e objetiva das informações (documentações, instruções e etiquetas), também são pontos importantes, que, se bem organizados, ajudam a minimizar os tempos nas tare- fas do operador. Mesmo considerando a utilização de todas as medidas apresentadas, a complexidade da atividade de separação de pedidos torna necessária a separação de uma área do arma- zém para ser dedicada somente à essa atividade. Para definir esta complexidade, podem ser utilizados alguns direcionadores como: i) o tamanho das unidades de separação, ii) o número de pedidos expedidos por dia, iii) a variedade de itens e, iv) o intervalo tempo disponível para a separação de um pedido. Em relação ao tamanho das unidades de separação, nor- malmente é possível encontrar:  A separação de paletes – quando a menor unidade de separação é o palete. Nesse caso, os pedidos nunca Capítulo 3 A Importância do Processamento de Pedidos 43 contêm frações de paletes de determinados produtos, apenas paletes fechados;  A separação de camadas de palete – nesse caso a me- nor unidade de separação é um conjunto de caixas, que formam uma camada do palete;  A separação de caixas – quando a menor unidade de separação são as caixas fechadas;  A separação de caixas fracionadas – é o caso em que as caixas necessitam ser abertas para manuseio de pa- cotes, que compõem a caixa;  A separação de itens – alternativa mais fracionada em que são manuseados itens individuais de determinados produtos. Quanto mais fracionada for a separação e maior o número de pedidos expedidos por dia, quanto maior for a varieda- de de itens e menor o tempo disponível, mais complexa será considerada a operação. Alémde a complexidade afetar a performance e a produtividade da atividade de separação, ela também compromete a precisão no preenchimento do pedido, tendo em vista o aumento da possibilidade de erros ou mesmo a própria dificuldade adicional do processo de conferência. A opção pela área dedicada para a atividade de separa- ção de pedidos permite que uma ampla gama de mercadorias seja disposta em uma região relativamente pequena, de modo que operador não necessite percorrer grandes distâncias no seu deslocamento. 44 Introdução à Logística Empresarial A área dedicada para a atividade de picking, no entanto, cria uma nova demanda: o ressuprimento dos itens na linha de separação. Em casos mais críticos, onde o giro de produtos na linha é muito alto, é necessária a criação de uma área de estoque intermediária entre a estocagem e o picking, deno- minada estoque reserva. Esta área tem a função de ressuprir rapidamente a linha de separação, uma vez que essa deve operar com baixo nível de estoque e sem falta de produtos para garantir a velocidade da linha e minimizar os riscos de paradas. Visando minimizar ainda mais esses tempos e buscar por uma gestão mais eficiente, a armazenagem deve ser execu- tada e controlada de forma adequada, contribuindo para a redução dos custos de transporte e produção; coordenação da oferta e demanda; suporte ao processo de produção e co- laboração com o processo de comercialização, minimizando os custos operacionais e maximizando a lucratividade da em- presa. Assim, fica claro que a otimização do processo de armaze- nagem gera reflexos positivos em diversas áreas da empresa, para a cadeia de suprimentos e para o cliente final. Porém, para que esse cenário seja real, é necessária a aplicação de tecnologia na operação. Quando se recebe um pedido, seus itens devem ser retirados do depósito, agrupados e preparados para remessa. Todas essas atividades envolvem mão de obra e transporte dos produtos. O trabalho deve ser organizado de modo a fornecer o nível exigido de atendimento aos clientes com um custo mínimo. Capítulo 3 A Importância do Processamento de Pedidos 45 1 Sistemas Utilizados na Separação dos Pedidos São três os principais sistemas utilizados na atividade de sepa- ração de pedidos. No picking por área ou discreto, o responsável por pegar os itens do pedido circula pelo depósito, tal qual quando va- mos a um supermercado fazer compras. Os itens são, então, levados à área de embarque para que sejam despachados. O pedido se organiza sozinho, no sentido de que, quando o responsável pela função termina, o pedido está completo. Esse sistema é, geralmente, utilizado em pequenos depósitos, onde os produtos são armazenados em locais fixos. No sistema conhecido como picking por zona, o depósito é dividido em zonas e as pessoas que escolhem os itens traba- lham apenas em sua própria área. Um pedido é dividido por zona e cada pessoa escolhe os itens de sua zona e os envia para a área de preparação, onde o pedido é montado para a remessa. Cada pedido é manuseado separadamente e só um pedido é atendido em uma zona a cada vez. As zonas são, geralmente, estabelecidas por agrupamentos de peças relacionadas. As peças podem ser relacionadas pelo tipo de armazenagem que exigem (por exemplo, armazenagem em congeladores), ou então pelo fato de serem, frequentemente, pedidas em conjunto. Uma variação do picking por zona é fazer com que o pedido vá para a próxima zona e não para a área de preparação. Quando deixa a última zona, o pedido está pronto para a remessa. 46 Introdução à Logística Empresarial No picking de pedidos múltiplos ou picking por lote, o pe- dido também é atendido por zona. No entanto, ao invés da se- paração atender pedidos individuais, vários pedidos são reu- nidos e todos os itens são divididos por zona. As pessoas que escolhem os itens, então, circulam por sua área, selecionando todos os itens necessários para aquele grupo de pedidos. Os itens são, depois, enviados à área de preparação, onde são separados em pedidos individuais a serem remetidos. Importante salientar que o sistema discreto pode ser facil- mente controlado e administrado, mas à medida que o proces- samento do depósito aumenta, ele passa a ter baixo rendimen- to. Os sistemas por zonas dividem o processo de atendimento de pedidos em várias pequenas áreas que podem ser mais bem administradas individualmente. O sistema de pedidos múltiplos ou lote é, provavelmente, mais adequado à situação em que existem muitos itens ou vários pequenos pedidos com poucos itens. Além dos três métodos apresentados é comum a utilização do picking por onda. Neste sistema, são realizadas diversas programações por turno, de maneira que os pedidos devem ser coletados em períodos específicos do dia. O picking por onda é utilizado em conjunto com os métodos apresentados e a sua vantagem é permitir uma maior integração do picking com a área de expedição, através da programação da hora de coleta e embarque de cada pedido. Capítulo 3 A Importância do Processamento de Pedidos 47 2 Novas Tecnologias no Processo de Picking A necessidade de maior produtividade, velocidade e precisão na atividade de separação de pedidos está levando as empre- sas a buscar por novas tecnologias que possam ser implemen- tadas e agregadas na atividade de picking. Entretanto, apenas adotar novas tecnologias não é garantia de maior eficiência. É necessário também que essas novas tecnologias atuem como um drive no desenvolvimento de novos processos e que isso proporcione a melhoria da qualidade das equipes de trabalho. Outra questão importante a considerar é que cada empre- sa possui particularidades em relação às suas necessidades de separação, seja pelo perfil dos pedidos de seus clientes, seja em função das características de seus produtos. Os sistemas de separação têm uma capacidade nominal que só pode ser alcançada caso uma serie de premissas sejam atendidas. Para facilitar que essa capacidade seja atendida, novas tecnologias podem ser implementadas. 2.1 Picking por Coletor de Dados Uma forma de obter mais velocidade e também diminuir os erros nos processos de picking é a utilização de coletores de dados. Estes equipamentos permitem a leitura de etiquetas (código de barras) que contêm informações de endereços e dos produtos armazenados. Isso proporciona maior velocida- de e segurança no processo de picking, permitindo também aos responsáveis pelo manuseio a verificação de outras in- 48 Introdução à Logística Empresarial formações como movimentações ocorridas de um produtos, endereços ainda disponíveis para armazenagem, saldos em estoque, etc. 2.2 Picking by Voice Tecnologia ainda pouco difundida na maioria das empresas o Voice Picking traduz para comandos de voz as quantidades dos produtos que precisam ser separados para o atendimento dos pedidos. A separação por comando de voz facilita a atividade de separação, pois proporciona aos operadores ficarem com as mãos livres durante todo o processo de separação, o que torna o trabalho muito mais dinâmico. A tecnologia composta por um terminal portátil, head set (fone de ouvido), baterias e um software que promove a inte- gração com o banco de dados, interage com os operadores de uma forma rápida e segura. 2.3 Picking by Light Na tecnologia de separação Picking by Light, luzes (tradicio- nalmente vermelho e verde) interagem com os operadores de- terminando os itens que necessitam ser separados, bem como suas quantidades. Por utilizar um sistema visual, a separação por luz proporciona mais eficiência do que as tecnologias de separação por comando de voz. Isso porque o usuário não precisa ouvir, processar e retornar com sua fala dando por encerrada a solicitação. Além disso, o treinamento para auti- lização da tecnologia picking by light é mais fácil do que é necessário para a tecnologia de voz. Isso torna a tecnologia Capítulo 3 A Importância do Processamento de Pedidos 49 por luz ideal para ser utilizada em ambientes onde a troca de funcionário é muito grande ou a existência de funcionários temporários seja uma prática. 2.4 Sistemas A-Frame Um dos sistemas de picking com maior eficiência em relação à velocidade de separação, o A-Frame necessita que certas restrições sejam atendidas para que sua velocidade possa ser maximizada. Nesse sistema, nenhum pedido pode ter muitas unidades de um mesmo item, e o ressuprimento da linha no sistema precisa ser rápido o suficiente para não impactar no canal interno de separação do produto. Como nem sempre é possível limitar o número de itens em um pedido, a solução nesse sistema passa a ser colocar as quantidades do produto em mais de um local de estocagem. Para agilizar o processo de ressuprimento, é comum es- tabelecer uma estrutura de flow-rack ao lado da estrutura do A-Frame, com operadores dedicados para a atividade de res- suprimento. Recapitulando O capítulo apresenta detalhes sobre a importância do proces- so de atendimento de pedidos, suas complexidades e desafios. Esclarece sobre os principais sistemas para o atendimento de pedidos, enfatizando vantagens e desvantagens de cada um desses sistemas. Por fim, faz um resumo das novas tecnologias 50 Introdução à Logística Empresarial que estão sendo disponibilizadas objetivando melhorar os ní- veis de eficiência no processo de atendimento de pedidos. Referências BALLOU, R. H. The evolution and future of logistics and supply chain management. Produção, v. 16, n. 3, p. 375-386, set/ dez. 2006. ______. Logística Empresarial: Transporte, Administração de Materiais e Distribuição Física / Ronald H. Ballou.Tradução Hugo T. Y. Yoshizaki. São Paulo: Atlas, 1993. BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. Logística empresarial: O processo de integração da cadeia de suprimentos. São Paulo: Atlas, 2001. CAMPOS, Luiz Fernando Rodrigues. Logística: teia de rela- ções. Curitiba: Intersaberes, 2013. LIMA. M. Armazenagem: Considerações sobre a Atividade de Picking. ILOS – Instituto de Logística e Supply Chain, 2002. Disponível em http://www.ilos.com.br/web/armazenagem- -consideracoes-sobre-a-atividade-de-picking/. Acesso ou- tubro de 2016. MORAIS, Roberto Ramos de. Logística Empresarial. Curitiba: Intersaberes, 2015 Capítulo 3 A Importância do Processamento de Pedidos 51 NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição: estratégia, operação e avaliação. São Paulo: Campus, 2007. RAZOLIN FILHO, Edelvino. Logística Empresarial no Brasil: tópicos especiais. Curitiba: Intersaberes, 2012. REIS, João Gilberto Mendes dos. Gestão Estratégica de ar- mazenagem. Curitiba: Intersaberes, 2015. RUSSO, Clovis Pires. Armazenagem, Controle e Distribui- ção. Curitiba: Intersaberes, 2013 SANTANA, D. (Org.). Logística: uma abordagem conceitual e prática de suprimentos, produção, distribuição e logística reversa. Canoas: Ulbra, 2013. Atividades 1) A partir dos estudos desenvolvidos nesse capítulo, assinale (V) para as assertivas consideradas verdadeiras e (F) para as assertivas consideradas falsas: ( ) O tempo gasto na atividade de picking não possui in- fluência direta nos custos logísticos, mas interfere no nível de serviço ofertado ao cliente. ( ) Os métodos propostos para a atividade de picking consideram o número de operadores responsáveis pela separação de cada pedido, bem como o número 52 Introdução à Logística Empresarial de pedidos coletados simultaneamente por um mesmo operador. ( ) Em relação à atividade de picking quanto maior for a variedade de itens e menor for o tempo disponível, mais complexa é considerada a operação. 2) A partir das opções apresentadas abaixo, identifique a úni- ca assertiva incorreta. 1 – No sistema conhecido como picking por zona, o depó- sito é dividido em zonas e as pessoas que escolhem os itens trabalham apenas em sua própria área. 2 – No picking discreto o pedido se organiza sozinho, pois quando o responsável pela função termina o trabalho o pedido já está completo. 3 – O picking por onda pode ser utilizado em conjunto com outros métodos de separação, porém apresenta desvan- tagem em função de não permitir uma maior integração com as demais áreas do armazém. 3) Com relação às novas tecnologias no processo de picking, assinale (V) para as assertivas consideradas verdadeiras e (F) para as assertivas consideradas falsas: ( ) A separação por comando de voz facilita a atividade de separação, pois proporciona aos operadores fica- rem com as mãos livres durante todo o processo de separação; ( ) A tecnologia picking by light é ideal para ser utiliza- da em ambientes onde a troca de funcionário é mui- Capítulo 3 A Importância do Processamento de Pedidos 53 to grande ou a existência de funcionários temporários seja uma prática. ( ) Os sistemas A-Frame possuem restrições em relação a pedidos com quantidades de itens muito grandes. 4) Faça uma pesquisa na internet e identifique outros cases sobre “Adiamento de Diferenciação”. 5) Faça uma pesquisa na internet verificando cases sobre projeto de produto. Armazenagem na Logística1 1 Mestre em Engenharia de Produção, Professor nos cursos de Administração, Lo- gística, Gestão Financeira, Processos Gerenciais e Operações Industriais. Attila Elod Blesz Junior1 Capítulo 4 Capítulo 4 Armazenagem na Logística 55 Introdução O capítulo apresenta um resumo do cenário da armazena- gem. Inicia detalhando as principais atividades usualmente existentes em qualquer ambiente de armazenagem e, logo a seguir, lista as principais estruturas físicas possíveis de serem utilizadas nos projetos. É possível explicar a armazenagem como a guarda tem- porária de produtos para posterior distribuição. Ballou (2003) explica que a armazenagem e o manuseio de materiais são componentes imprescindíveis do conjunto de atividades logís- ticas, e podem absorver de 12% a 40% dos custos totais das despesas logísticas. Para Moura et al. (2004), na essência, a principal função da armazenagem é gerenciar espaço e tem- po. O espaço é sempre limitado, assim, os gestores precisam utilizar com eficiência os espaços disponíveis. Em relação ao tempo e mão de obra, são substancialmente mais difíceis de gerenciar em comparação ao espaço. Os estoques são necessários para o equilíbrio entre a oferta e a demanda. Entretanto, a grande maioria das empresas opta por manter níveis baixos de estoque, pois esses geram custos elevados como i) custo de pedir; custo de manter; custos de manutenção referentes a instalações, mão de obra, equipa- mentos e custo de oportunidade associado ao emprego do capital em estoque. Conforme Banzato et al. (2003), o papel da armazena- gem é dar suporte aos objetivos da empresa, além de atender as necessidades de pico de expedição, alterações sazonais, 56 Introdução à Logística Empresarial melhorar a eficácia da manufatura estocando o excesso de produção e guardando os materiais de forma eficiente. Como ocorre com outros elementos de um sistema logístico, os obje- tivos de um armazém são maximizar o atendimento aos clien- tes aos mínimos custos possíveis. Para tanto, as operações de um armazém devem ser eficientes e desempenhar as seguintes tarefas:  Oferecer um atendimento pontual aos clientes;  Manter um controle dos itens, de modo que eles possam ser encontrados o mais breve possível;  Minimizar o esforço físico total e, consequentemente, o custo de transporte dos produtos para dentro e fora do armazém; 1 Principais Processos da Armazenagem A gestãoda armazenagem é uma das principais atividades re- alizadas pela logística. Compreende a gestão do arranjo físico necessário para manter um estoque de produtos e também o controle da operação. Dentro das principais atividades reali- zadas na armazenagem, destaque para: i) Agendamento de Entregas, ii) Gestão de Pátio, iii) Recebimento, iv) Estocagem, v) Separação de Pedidos, vi) Serviços de Valor Agregado, vii) Embalamento, viii) Unitização e Espera e ix) Expedição para Clientes. Capítulo 4 Armazenagem na Logística 57 I. Agendamento de Entregas – Também conhecida como “ja- nela de entrega” essa atividade possibilita a definição de um intervalo de tempo onde toda a estrutura do armazém irá estar organizada para receber as entregas no arma- zém, otimizando ao máximo a utilização dos recursos dis- poníveis; II. Gestão de Pátio – Possibilita a organização das entregas priorizando o recebimento de produtos mais necessários ou mesmo em função das demais restrições envolvidas no processo de recebimento; III. Recebimento (Doca) – Envolve as atividades de conferên- cia do produto, de suas quantidades e especificações, da verificação de padrões de qualidade a partir de procedi- mentos pré-estabelecidos; IV. Estocagem – Envolve as atividades necessárias para trans- ferir os produtos do ponto de recebimento até o seu local de estocagem (Rua, Coluna, Prateleira, Vão); V. Separação de Pedidos – Envolve as atividades de picking quando da efetividade de uma venda. O modelo de pi- cking a ser utilizado poderá depender do perfil do pedido, das características do produto, local de destino, etc. VI. Serviço de Valor Agregado – Envolve todas as atividades adicionais solicitadas pelo cliente durante o período em que os produtos estiverem no armazém. Essas atividades normalmente “agregam valor” ao produto e quase sempre são cobradas de forma adiciona aos custos de armazena- gem; 58 Introdução à Logística Empresarial VII. Embalamento – Espaço onde atividades necessárias para a correta embalagem dos produtos são realizadas; VIII. Unitização e Espera – Local onde os produtos podem ser desmembrados ou mesmo reorganizados em unidade de comercialização específicas; Para alguns casos, local de transição no armazém em que alguns produtos podem fi- car acondicionados por algum período específico. IX. Expedição (Doca) – Local por onde os produtos são escoa- dos até seus clientes finais. Corresponde às atividades de faturamento, emissão de romaneios de viagens, etc. O aumento contínuo do número de itens em estoque, as variações nas características físicas do produto como o tama- nho das embalagens ou ainda a diversificação de modelos, cores e sabores, são fatores que podem agregar maior com- plexidade nas atividades que compõe a armazenagem. Evi- dentemente que, quanto maior a variedade dos itens, maior será a necessidade de espaço, e melhor deverá ser a utilização e organização dos recursos disponíveis. 2 Principais Estruturas na Estocagem O processo de estocagem pode ocorrer de diversas formas, através de projetos horizontais e/ou verticais que precisam ser bem planejados para que o espaço destinado à estocagem dos produtos seja aproveitado da melhor forma possível. Os ambientes onde os produtos serão estocados são separados por corredores que possibilitarão, de forma eficiente, o acesso Capítulo 4 Armazenagem na Logística 59 às mercadorias. O número de corredores bem como a sua di- mensão são definidos em decorrência do tipo de equipamento de movimentação que será utilizado no armazém, da necessi- dade de espaço para manobras de giro desses equipamentos, considerando ainda as dimensões e características especificas dos produtos que serão armazenados. A seguir, serão detalhadas algumas das principais estrutu- ras utilizadas em projetos de armazenagem. 2.1 Porta-paletes É uma das estruturas mais utilizadas em projetos de armazena- gem e de custo relativamente baixo se comparado com as de- mais estruturas disponíveis. Apesar de utilizar muita área para corredores, possibilita grande eficiência na operação. Quanto maior for a altura, menor será a perda em função do espaço destinado aos corredores. 2.2 Drive-in Essa estrutura é normalmente utilizada quando existem gran- des volumes de um mesmo produto para serem armazenados e o sistema de inventário for do tipo LIFO (last in, First out – último a entrar, primeiro a sair). Nessa estrutura, existe apenas um corredor frontal o que limita a seletividade de produtos e a velocidade na operação. Além disso, existe risco maior de acidentes, o que também precisa ser levado e consideração no projeto. 60 Introdução à Logística Empresarial 2.3 Drive-Trough Estrutura similar ao Drive-in, possibilita acesso aos produtos também por trás havendo, portanto, dois acessos aos produ- tos. Igualmente possibilita grande aproveitamento de espaço no armazém e é indicado preferencialmente quando o sistema de inventário obrigue a adoção do tipo FIFO (First in, First out – primeiro a entrar, primeiro a sair). Nesse tipo de sistema, é comum que os corredores internos sejam mais longos, o que obriga o operador da empilhadeira a ter que voltar de ré. Isso diminui a velocidade de movimentação, além de trazer mais risco para a operação. 2.4 Cantilever Esta estrutura pode ser utilizada quando os produtos possuem comprimento longo, como trefilados, canos e barras, o que proporciona boa seletividade e velocidade na operação. Utili- zada quando as cargas necessitam ser armazenadas pela late- ral, preferencialmente por empilhadeiras. 2.5 Push-Back Semelhante à estrutura Drive-in, apresenta inúmeras vanta- gens em relação a ela, pois permite maior seletividade em função de permitir o acesso aos produtos em qualquer nível de armazenagem. Nessa forma de armazenagem, a empilha- deira “empurra” o palete sobre os trilhos, podendo ter vários níveis, possibilitando a armazenagem de até quatro paletes na profundidade. Esse tipo de estrutura é insuperável no quesito produtividade de movimentação e densidade de armazena- Capítulo 4 Armazenagem na Logística 61 gem. Essa estrutura permite o aumento da densidade de arma- zenagem sem a necessidade de investir em equipamentos para a movimentação, visto que os paletes ficam sempre posiciona- dos nos corredores com fácil acesso. 2.6 Flow-Rack Indicado para pequenos volumes e itens com grande rotativi- dade, essa estrutura facilita a separação dos materiais utilizan- do o método FIFO (First in, First out). Nesse sistema o material é colocado em um plano inclinado, deslizando por gravidade até a outra extremidade, o que facilita o processo de reabas- tecimento e a própria atividade de picking. É mais utilizado em movimentações manuais, facilitando a atividade de picking.1 Recapitulando O capítulo aborda os fundamentos da armazenagem, deta- lhando a sua importância no ambiente da logística. Eviden- cia sua influência nos custos totais da logística. Apresenta os principais processos que compõem o cenário de um ambiente de armazenagem i) Agendamento de Entregas, ii) Gestão de Pátio, iii) Recebimento, iv) Estocagem, v) Separação de Pedi- dos, vi) Serviços de Valor Agregado, vii) Embalamento, viii) Unitização e Espera e ix) Expedição para Clientes. Apresenta também as principais estruturas utilizadas para a estocagem de produtos em um ambiente de armazenagem. 1 Atividade de separação do pedido de venda. 62 Introdução à Logística Empresarial Referências BALLOU, R. H; Logística Empresarial, Transportes, Admi- nistração de Materiais, Distribuição Física. São Paulo: 1. ed. Atlas, 1993. ______. The evolution and future of logistics and supply chain management. Produção, v. 16, n. 3, Set/ Dez. 2006, p. 375-386. BANZATO, Eduardo. Atualidades na armazenagem.
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