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AO JUÍZO DA 20º VARA CRIMINAL DA COMARCA DA ILHA DE SÃO LUIS

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AO JUÍZO DA 20º VARA CRIMINAL DA COMARCA DA ILHA DE SÃO LUIS-MA
PROCESSO nº: XXXXXXXXXXXXX
Zé Inteligente, brasileiro, estado civil, agente da polícia federal, portador da cédula de identidade RG nº xxxxxxxxxx, inscrito no CPF sob nº xxxxxxxxxx, residente e domiciliado na Rua Castro, nº 170, apartamento 201, bairro..., Cep ..., São Luis-MA, vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, por seu advogado infra-assinados procuração anexa, com endereço profissional na Rua..., nº..., bairro..., Cep..., na cidade de São Luis-MA, para devidas intimações, oferecer a presente
RESPOSTA À ACUSAÇÃO
 com fulcro no arts. 396 e 396-A do Código de Processo Penal, pelos motivos de fato e de direito que abaixo passa a expor:
DOS FATOS:
A Polícia Civil do Estado do Maranhão recebe a notícia crime identificada, imputando a Maria Esperta a prática de crime, que a mesma mandaria crianças brasileiras para o estrangeiro com documentos falsos. Diante da notícia crime, a autoridade policial instaura inquérito policial e, como primeira providência, representa pela decretação da interceptação das comunicações telefônicas de Maria Esperta, dada a gravidade dos fatos noticiados e a notória dificuldade de apurar crime de tráfico de menores para o exterior por outros meios, pois o modus operandi envolve sempre atos ocultos e exige estrutura organizacional sofisticada, o que indica a existência de uma organização criminosa integrada pela investigada Maria Esperta.
O Ministério Público opina favoravelmente e o juiz defere a medida, limitando-se a adotar, como razão de decidir, “os fundamentos explicitados na representação policial. No curso do monitoramento, foram identificadas pessoas que contratavam os serviços de Maria Esperta para providenciar expedição de passaporte para viabilizar viagens de crianças para o exterior. Foi gravada conversa telefônica de Maria Esperta com um funcionário do setor de passaportes da Polícia Federal, Zé Inteligente, em que Maria Esperta consultava Zé Inteligente sobre os passaportes que ela havia solicitado, se já estavam prontos, e se poderiam ser enviados a ela. A pedido da autoridade policial, o juiz deferiu a interceptação das linhas telefônicas utilizadas por Zé Inteligente, mas nenhum diálogo relevante foi interceptado.
Ainda relatado no inquérito policial, os autos forma remetidos ao Ministério Público, que ofereceu a denúncia nos seguintes termos: o Ministério vem oferecer denúncia contra Maria Esperta e Zé Inteligente, pelos fatos a seguir descritos: Maria Esperta, com auxílio do agente da polícia federal Zé Inteligente, expediu diversos passaportes para criança e adolescentes, sem observância das formalidades legais. Zé Inteligente foi denunciado e processado pela suposta prática dos autos previstos no art. 239 da Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e nas penas do art. 317, parágrafo 1º, c/c art. 69, ambos dispostos no Código Penal.
DAS PRELIMINARES:
II.I. DA INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUÍZO;
Primeiramente verifica-se que se trata de crime supostamente praticado por funcionário público federal, pois, Zé inteligente é agente da Polícia Federal, dessa forma, o reparo a ser feito, refere-se à falta de competência da Justiça Estadual para processar este tipo de ilícito, de acordo com artigo 109, V da CF, in verbis: Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; Ainda viola o Artigo 5, LIII da CF onde afirma que ninguém será julgado por autoridade incompetente, verbis: Art. 5º (...) LIII- ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; É matéria de competência da Justiça Federal os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no Brasil, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, conforme caso em tela. Além disso, será de competência da Justiça Federal o crime cometido contra servidor público federal no exercício de suas funções. Diante do exposto, requer-se seja o presente processo penal seja anulado, pois o douto juízo é incompetente para processar e julgar essa matéria gerando nulidade absoluta, dessa forma, com base no artigo 564, inciso I, do Código de Processo Penal, em razão da incompetência de juízo.
II.II. DA NULIDADE DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA;
Para que aconteça a interceptação telefônica é necessário a fundamentação demonstrando de forma objetiva de que se esgotou todas as possibilidades de investigação, e não havendo outra alternativa, senão a ingerência neste bem de fundamental importância, portanto, não houve a devida fundamentação exige na forma da lei, conforme o art 93, IX e CF in verbis: Art 93 (...) IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; A Lei 9.296/96, Lei de interceptação telefônica, garante em seu artigo 2º, II, que a referida prova colhida através da interceptação telefônica é ilegal, pois não se deve decretar a interceptação como a primeira medida investigativa se houver outros meios para produzi-la, in verbis: Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I – (...) II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; Ainda na observância prazo dado pela mesma lei em seu artigo 5º, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez comprovado a indispensabilidade do meio de prova, in verbis : Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova. Ainda no art. 5º, porém, no inciso LVI: “são inadmissíveis, no processo, as provas colhidas, por meio ilícito”. Como se não bastasse a lei infraconstitucional, garante que a interceptação telefônica sendo colhida como foi, é prova ilícita, não sendo admitida no processo conforme seu artigo 157 CPP in verbis: Art. 157 São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. § 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo, quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. Portanto, a interceptação telefônica se deu de forma ilegal e deve ser decretada prova ilícita, dessa forma, devendo ser desentranhadas do processo.
II.III. DA NULIDADE DA BUSCA E APREENSÃO PELA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO
Foi deferida medida de busca e apreensão na casa do acusado, porém o magistrado deixou de declinar os motivos que o fundamentavam a busca e apreensão conforme artigo 243, II CPP e 93, IX CF Art. 243. O mandado de busca deverá: I – (...) II - mencionar o motivo e os fins da diligência; Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) IX- todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.
II.IV. DA NULIDADE EM RAZÃO DAS PROVAS OBTIDAS POR MEIO ILÍCITO
Em relação a apreensão realizada em local diverso do mandado de busca e apreensão, onde foi localizado emoutro apartamento de propriedade de Zé Inteligente, de número 202, a quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), portanto, o local encontrado não estava autorizado judicialmente, dessa forma, a prova se torna ilícita devendo ser inadmissível a presença no processo conforme aduz o artigo 5º, LVI in verbis: Art. 5º (...) LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
II.V. DA NULIDADE EM RAZÃO DA INÉPCIA DA DENÚNCIA
De acordo com a lei, a petição inicial acusatória deve descrever o fato criminoso, para possibilitar a defesa do acusado. O réu foi denunciado como incurso nos arts. 239, parágrafo único do Estatuto da Criança e do Adolescente e no art. 317, § 1º do Código Penal, na forma do art. 69 do Código Penal. Portanto, ao narrar os fatos criminoso na inicial, o Promotor de Justiça deixou de descreveu como se deu a participação do réu no tráfico de crianças ao exterior. Pior ainda no crime de corrupção passiva, o mesmo não especificou no que consistiu o delito de corrupção passiva, se houve solicitação ou recebimento e que ato de ofício o acusado praticou infringindo dever funcional. São Suposições Abstratas, como a apreensão do numerário na residência e em conta, são insuficientes para tornar compatível a denúncia. Não existe nenhuma prova comprovando-se o nexo entre o dinheiro depositado na conta do réu e o tráfico de crianças praticado por Maria, no qual o juiz não deveria ter recebido a denúncia conforme o artigo 395, I CPP in verbis: Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for manifestamente inepta; assim, a mesma é claramente inepta, e no caso não deveria ter sido recebida. Dessa forma, é hipótese de anulação de todos os atos praticados e por consequência decidir pelo não recebimento da denúncia.
II.VI. DA FALTA DE JUSTA CAUSA COM RELAÇÃO AO CRIME
Não existem provas matérias suficientes de que o acusado teria vantagem para confeccionar os passaportes, assim como também não foi demonstrado que o mesmo foi obtido de forma ilícita. Dessa forma requer a absolvição sumária pela falta de justa causa, conforme o artigo 395, III CPP in verbis: Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (...) III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. E ainda o fato do acusado ter simplesmente atendido um telefonema interceptado, não prova nenhum crime de corrupção passiva. E ainda o fato do mesmo ter em sua casa a quantia de dinheiro apreendida também não comprova nenhum crime. Portanto, há falta de justa causa quando inexiste elemento algum a comprovar minimamente o fato criminoso. Em razão disso, não era hipótese de recebimento da denúncia. Mas se recebida, o juiz de qualquer forma, pode absolver.
II.VII. DA QUEBRA DO SIGILO BANCÁRIO;
A conta bancária teve seu sigilo quebrado o qual foi arbitral, não poderia ter o sigilo quebrado já que não foi comprovado a participação do acusado em prática criminosa. A quebra do sigilo bancário não foi devidamente fundamentada pelo juiz, portanto, os dados obtidos pela quebra de sigilo bancário são ilícita e devem ser desentranhadas dos autos do processo. A doutrina e a jurisprudência têm compreendido o fundamento jurídico do sigilo bancário a partir dos direitos e garantias fundamentais assegurados pela Constituição. Todas as provas obtidas em desatendimento ao direito à intimidade e à privacidade não poderão ser utilizadas como meios probatórios no processo criminal, pois constituem o que se convencionou denominar de fruits of the poisonouis tree (frutos da árvore envenenada). Como se não bastasse a lei infraconstitucional, garante que a quebra de sigilo bancário sendo colhida como foi, é prova ilícita, não sendo admitida no processo conforme seu artigo 157 CPP in verbis: Art. 157 São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. § 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo, quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. Portanto, a quebra de sigilo bancário se deu de forma ilegal e deve ser decretada prova ilícita, dessa forma, devendo ser desentranhadas do processo.
DO MÉRITO;
Requer a absolvição pela atipicidade da conduta. Com efeito, não há prova da materialidade da corrupção passiva. A prova da corrupção passiva estaria calcada na busca e apreensão do numerário no apartamento do acusado. Ocorre que apesar da existência de um mandado de busca e apreensão, não havia especificação no mandado de busca e apreensão de ordem para o apartamento 203. Logo, a prova é ilícita e não se presta à comprovação da materialidade do delito de corrupção passiva. Assim, logicamente o fato é atípico, devendo se anular o processo a partir da citação e, por conseguinte, absolver o acusado com fulcro no art. 397, III do Código de Processo Penal.
DOS PEDIDOS;
Diante do exposto, é o presente para requerer a remessa à Justiça Federal. Ou se mantida a competência:
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Nestes termos,
Pede e espera deferimento.
São Luís-MA, 02 de setembro de 2019.
Advogado
OAB
Rol de Testemunhas:
1. Carlos de Tal, residente na Rua 1, n. 10, nesta capital;
2. João de tal, residente na Rua 4, n. 310, nesta capital;
3. Roberta de Tal, residente na Rua 4, n. 310, nesta Capital.

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