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Fatos e negócios resumo np1

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Teoria Geral dos Fatos Jurídicos 
1. Conceito: Em sentido amplo, fatos 
jurídicos são os acontecimentos que 
dependem ou independem da vontade 
humana, previstos na norma jurídica, em 
virtude dos quais nascem, se modificam, 
subsistem e se extinguem as relações 
jurídicas. As relações jurídicas, marcadas 
pela intersubjetividade, são relações sociais 
tuteladas pelo Direito. 
2. Classificação: 
Os fatos jurídicos em sentido amplo (lato 
sensu) podem ser naturais (independem da 
vontade humana) ou humanos (dependem 
da vontade humana). 
 2.1. Fatos naturais, também denominados 
fatos jurídicos em sentido estrito (strictu 
sensu), são os acontecimentos que 
independem da vontade humana, ou seja, 
decorrem da natureza. Os fatos jurídicos em 
sentido estrito (strictu sensu) se subdividem 
em: 
2.1.1. Fatos jurídicos em sentido estrito 
ordinários (morte, nascimento, maioridade, 
decurso de tempo - prescrição etc.). 
2.1.2. Fatos jurídicos em sentido estrito 
extraordinários (terremoto, tempestade, 
inundação, enchente etc.). 
2.2. Fatos humanos são os acontecimentos 
que dependem da vontade humana, 
abrangendo tanto os atos lícitos como os 
ilícitos. Os fatos humanos se subdividem 
em: 
2.2.1. Atos lícitos ou atos jurídicos em 
sentido amplo: são os atos humanos 
praticados em conformidade com o 
ordenamento jurídico, também 
denominados pela doutrina como 
voluntários, uma vez que produzem efeitos 
jurídicos querido pelo agente. Os atos 
jurídicos em sentido amplo se subdividem 
em: 
a) Atos jurídicos em sentido estrito (ou 
meramente lícitos). Em tais atos, os efeitos 
da manifestação da vontade estão 
predeterminados na lei. Exemplos: 
notificação, que constitui em mora o 
devedor; reconhecimento de filho; 
tradição; ocupação; uso de alguma coisa. 
Assim, os atos jurídicos meramente lícitos 
ou em sentido estrito são manifestações da 
vontade obedientes à lei, porém geradoras 
de efeitos que a própria lei determina. As 
partes não podem através de suas vontade 
modificar os efeitos jurídicos que serão 
produzidos. 
b) Negócios jurídicos. Nestes há uma 
composição de interesses mediante a 
criação de normas que objetivam regular 
tais interesses, harmonizando vontade que, 
na aparência, demonstram serem 
antagônicas. O negócio jurídico é uma 
declaração da vontade destinada à 
produção de efeitos queridos pelas partes. 
Pode haver ou não correspondência entre o 
desejado pelas partes e o determinado pela 
lei. Neste caso prevalecerá a vontade das 
partes, uma vez que a regra da norma é 
meramente supletiva, isto é, valerá 
somente na ausência da vontade. 
Exemplos: testamento (negócio jurídico 
unilateral na formação); contratos (negócio 
jurídico bilateral na formação). 
2.2.2. Atos ilícitos, também denominados 
pela doutrina de involuntários, uma vez que 
acarretam consequências jurídicas alheias à 
vontade do agente. A prática de ato ilícito 
produz efeitos previstos em norma jurídica, 
como sanção, porque viola mandamento 
normativo. O Código Civil de 2002 substitui 
a expressão genérica “ato jurídico” (art. 82, 
CC/1916) por “negócio jurídico” – art. 104, 
uma vez que somente os negócios 
justificam a pormenorizada 
regulamentação dos preceitos contidos no 
Livro III da Parte Geral. Contudo, o art. 185 
determina que se apliquem, no que couber, 
aos atos jurídicos lícitos, as disposições 
disciplinadoras do negócio jurídico. 
Da representação. 
1. Conceito 
A representação se trata de relação jurídica 
mediante a qual certa pessoa se obriga 
diretamente perante terceiro, por meio de 
ato praticado em seu nome por um 
representante ou intermediário. Desta 
forma, com exceção dos atos 
personalíssimos, os atos jurídicos podem 
ser praticados por intermédio da 
representação, uma vez, que, nos termos 
do art. 116 “A manifestação de vontade 
pelo representante, nos limites de seus 
poderes, produz efeitos em relação ao 
representado”. Reza o art. 115 que os 
poderes de representação são conferidos 
pela lei ou pelo interessado. Tal artigo 
elenca duas das espécies de representação 
existentes no ordenamento jurídico: a legal 
e a convencional. 
2. Espécies 
A representação legal é aquela na qual a 
norma jurídica confere poderes para 
administrar bens alheios, como: os pais, em 
relação aos filhos menores (art.1634, V e 
1690); os tutores, em relação aos pupilos 
(art. 1747, I) e os curadores, quanto aos 
curatelados (art. 1774). 
A representação convencional ou voluntária 
é estabelecida na Parte Especial do Código 
(Contrato de Mandato - art. 653 ao art. 
691). Art. 653. O mandato ocorre quando 
alguém recebe de outrem poderes para, em 
seu nome, praticar atos ou administrar 
interesses. A procuração é o instrumento do 
mandato. 
Ressalte-se, ainda, que a representação 
pode se dar também por via judicial. Nesta 
espécie de representação o juiz nomeia 
determinadas pessoas para exercerem 
certos cargos em determinados processos 
(o síndico como representante da massa 
falida, no processo de falência; o 
inventariante como representante do 
espólio, na abertura do inventário etc.). 
3. Prova da representação 
Conforme disposto no art. 118, o 
representante tem o dever de provar às 
pessoas, com quem vier a contratar em 
nome do representado, não só sua 
qualidade, como a extensão de seus 
poderes, sob pena de responder pelos atos 
negociais que a estes excederem. 
4 Efeitos da Representação 
A representação produz efeitos, dentre os 
quais, o principal é o fato de que uma vez 
realizado o negócio jurídico pelo 
representante, o representando adquire 
direitos e obrigações. Os direitos são 
incorporados no patrimônio do 
representado. Por sua vez, as obrigações 
assumidas em nome do representado 
devem ser cumpridas, e por elas responde o 
seu acervo patrimonial. 
5. Hipóteses de anulabilidade do negócio 
jurídico realizado via representação: 
5.1. Negócio jurídico realizado pelo 
representante consigo mesmo, no seu 
interesse ou por conta de outrem (art. 117), 
salvo se a lei ou o representado permitir. 
5.2. Substabelecimento da representação 
(art. 117, parágrafo único), salvo se o 
representado permitir. 
5.3. Celebração do negócio jurídico pelo 
representante em conflito de interesses 
com o representado, se tal fato era ou devia 
ser do conhecimento da outra parte. Caso o 
representante em conflito de interesses 
com o representado celebrar negócio 
jurídico, este poderá ser anulado no prazo 
decadencial de 180 dias, a contar da 
celebração do ato negocial ou da cessação 
da incapacidade. 
 
Negócio Jurídico 
1. Conceito: Negócio Jurídico é uma norma 
concreta estabelecida pelas partes, cujo 
objetivo é produzir direitos e deveres. Ë no 
negócio jurídico que se revela o princípio da 
autonomia da vontade, ou seja, os sujeitos 
de direto podem autorregular os seus 
interesses legais, nos limites estabelecidos 
pela lei. 
2. Origem: O negócio jurídico nasce da 
vontade humana, ou seja, pressupõe a 
presença de um elemento volitivo que se 
materializa numa declaração da vontade 
através da qual se realiza uma ação ou um 
ato, o qual está vinculado a uma intenção. 
Ressalte-se, ainda, que o princípio da 
autonomia da vontade é relativo, uma vez 
que é reduzido pela supremacia das normas 
de ordem pública (normas absolutamente 
cogentes). Nas últimas décadas verifica-se 
uma “publicização” do Direito Civil, com a 
evidência de muitas normas públicas no 
direito privado. 
3. Declaração da Vontade 
O que interessa para o Direito? A intenção 
ou a ação? Interessa para o Direito a 
vontade declarada, haja vista que somente 
a intenção não possui nenhum valor. Após a 
declaração da vontade a intenção será 
considerada. A declaração da vontade deve 
ser declarada por palavras (escritas ou não), 
gestos ou sinais. Podeser, ainda, expressa 
ou tácita, sendo que o silêncio, 
juridicamente considerado, é nada. Via de 
regra, o silêncio é nada. O silêncio só terá 
valor quando houver indicação na norma. 
Ex.: art. 539 – “O doador pode fixar prazo 
ao donatário, para declarar se aceita, ou 
não, a liberalidade. Desde que o donatário, 
ciente do prazo, não faça dentro dele, a 
declaração, entender-se-á que aceitou, se a 
doação não for sujeita a encargo”. 
 
Neste caso, o silêncio do donatário significa 
que aceitou a doação (manifestação tácita). 
Trata-se de exceção à regra de que o 
silêncio nada significa para o Direito. 
A declaração da vontade pode ser receptícia 
(endereçada) ou não receptícia (não 
endereçada). 
a) Declaração da vontade endereçada ou 
receptícia: Tal declaração é endereçada a 
pessoa determinada, seja com o propósito 
de levar-lhe o conhecimento da intenção do 
agente, seja com a finalidade de ajustar a 
declaração de vontade oposta com o 
objetivo de concretizar o negócio jurídico. 
Ex. proposta e aceitação (art. 427 e 
seguintes). 
b) Declaração de vontade não endereçada 
ou não receptícia é aquela onde basta tão 
somente a manifestação do declarante, sem 
que tal declaração tenha que ser conhecida 
pela outra parte para a produção de efeitos 
jurídicos. Ex. seguro de vida em nome de 
terceira pessoa. 
4. Classificação dos negócios jurídicos 
4.1. Quanto à manifestação da vontade: 
a) Negócio Jurídico Bilateral é aquele 
negócio jurídico que reclama para a sua 
concretização a convergência de duas ou 
mais vontades, sendo que tais vontades 
determinarão o surgimento do negócio e a 
consequente produção dos efeitos 
almejados pelas partes. Ex.: contratos 
b) Negócio Jurídico Unilateral é aquele 
negócio no qual a sua concretização 
depende tão somente de manifestação da 
vontade de somente uma das partes. Ex.: 
testamento, promessa de recompensa. 
4.2. Quanto às vantagens que produzem: 
a) Negócio Jurídico Oneroso é aquele onde 
em relação à vantagem obtida corresponde 
um sacrifício. Ex. compra e venda. 
b) Negócio Jurídico Gratuito é aquele onde 
apenas uma das partes suporta o sacrifício 
e a outra a vantagem. Ex. doação pura. 
4.3. Quanto ao tempo da produção dos 
efeitos: 
a) Negócio Jurídico Inter Vivos – os efeitos 
serão produzidos durante a vida dos 
emitentes da vontade. Ex. compra e venda. 
b) Negócio Jurídico Causa Mortis – o 
pressuposto para a produção de efeitos 
jurídicos é a morte do emitente da vontade. 
Ex. testamento. 
4.4. Quanto à solenidade: 
A forma do negócio jurídico pode 
ser ad solemnitatem (solene) e ad 
probationem tantum (não solene). Ressalte-
se que, em relação à forma dos negócios 
jurídicos, vigora a regra geral: LIBERDADE 
DE FORMA. Entretanto, à vezes, a lei exige 
forma solene (ex.: compra e venda de 
imóvel – escritura pública, salvo se o valor 
do imóvel for inferior a 30 salários mínimos, 
cf. art. 108, além de registro no Cartório de 
Registro de Imóveis, cf. art. 1227). Se o 
negócio jurídico exigir forma solene, esta 
deve ser obedecida sob pena de nulidade 
absoluta, nos termos dos art. 104, III, cc. art. 
166, IV. 
4.5. Quanto à existência 
a) Negócio Jurídico Principal – existe por si 
só. Ex. contrato de locação entre locador e 
locatário. 
b) Negócio Jurídico Acessório – depende do 
principal. Ex. contrato de fiança entre o 
locador e o fiador não existe por si só, pois 
depende do contrato principal. 
4.6. Quanto ao conteúdo 
a) Negócio Jurídico Patrimonial – o objeto 
da relação jurídica pode ser avaliado 
economicamente (direitos pessoais ou 
obrigacionais e direitos reais). 
 
 b) Negócio Jurídico Extrapatrimonial – o 
objeto da relação jurídica não pode ser 
avaliado economicamente (direitos de 
família e direitos da personalidade). 
4.7. Quantos aos efeitos 
a) Constitutivo - Ex Nunc – o negócio 
jurídico passa a ter efeitos a partir da 
conclusão. Ex. adoção, compra e venda. 
b) Declaratório - Ex Tunc – os efeitos do 
negócio jurídico retroagem à data que se 
operou o fato a que se vincula a vontade. Ex. 
reconhecimento de filho. 
4.8. Quanto ao exercício dos direitos 
a) Negócios Jurídicos de Disposição – 
exercício amplo de direitos sobre o objeto. 
Ex. doação. 
b) Negócios Jurídicos de Simples 
Administração – exercício de direitos 
restritos sobre o objeto, sem que haja 
alteração na sua substância. Ex. locação, 
mútuo. 
Interpretação e Requisitos do Negócio 
Jurídico 
1. Interpretação 
A declaração da vontade deve ser 
interpretada com a finalidade de buscar o 
sentido e o alcance das expressões. Reza o 
art.112 que nas declarações de vontade se 
atenderá mais à intenção nelas 
consubstanciadas do que o sentido literal da 
linguagem. Assim, quando se interpreta a 
vontade leva-se em conta mais à intenção 
manifestada no contrato, não o 
pensamento íntimo do contratante. 
Art. 113: Os negócios jurídicos devem ser 
interpretados conforme a boa-fé e os usos 
do lugar de sua celebração. 
A boa-fé é presumida, a má-fé deve ser 
provada. 
Art. 114: Os negócios jurídicos benéficos e a 
renúncia interpretam-se restritivamente. 
Nos contratos benéficos apenas um dos 
contratantes se obriga, enquanto o outro 
aufere um benefício (ex.: doação pura). 
Deve ter interpretação restrita pois importa 
renúncia de direitos. Na parte especial do 
Código existem outras regras de 
interpretação: art. 423, 843, 819, 1899. 
A interpretação do negócio jurídico 
pode ser: 
a) Declaratória = expressa a intenção dos 
interessados 
b) Integrativa - preenche lacunas por meio 
de normas supletivas, p.ex. costumes. 
c) Construtiva - objetiva reconstruir o 
negócio com a finalidade de salvá-lo. 
Exemplos de entendimento doutrinário e 
jurisprudencial relativo à interpretação dos 
negócios jurídicos: 
• Nos contratos com palavras que 
admitem dois sentidos, deve-se 
preferir o que mais convier a sua 
natureza. 
• Nos contratos de compra e venda, 
no que se refere à extensão do bem 
alienado, deve-se interpretar a 
favor do comprador. Nos contratos 
de compra e venda, as dúvidas são 
interpretadas contra o vendedor. 
• As estipulações obrigacionais 
devem ser interpretadas de modo 
menos oneroso ao devedor. 
• A interpretação do contrato de 
consumo será sempre a favor do 
consumidor – art. 47, CDC. 
• Nas cláusulas duvidosas, prevalece 
o entendimento de que se deve 
favorecer quem se obriga. 
2. Requisitos do Negócio Jurídico 
2.1. Segundo o Prof. Sílvio Rodrigues, o 
negócio jurídico para ter validade e possuir 
eficácia deve preencher os seguintes 
requisitos: 
Elementos essenciais = vontade humana, 
idoneidade do objeto e forma. 
Os elementos essenciais se referem à 
própria substância do negócio. Caso tais 
elementos não se apresentem ocorre a 
inexistência do negócio. Negócio jurídico 
inexistente não produz efeitos jurídicos. 
a) Manifestação da vontade humana. Esta 
deve ser límpida. Se uma pessoa pratica 
qualquer ato jurídico em virtude de coação 
física, a vontade inexiste. Se o ato é 
praticado em face de coação moral, a 
vontade é viciada. 
b) Idoneidade do objeto é diferente de 
ilicitude do objeto. Um objeto pode ser 
lícito, mas ser inidôneo para a relação 
jurídica em questão. Objeto idôneo é aquele 
que se presta para determinado fim. Por ex. 
A coisa fungível é objeto idôneo para figurar 
no contrato de mútuo (empréstimo de coisa 
fungível), mas não o é em relação ao 
contrato de comodato (empréstimo de 
coisa infungível) 
c) Forma – como regra há liberdade de 
forma para a prática do negócio jurídico. 
Porém, determinados negócios reclamam 
forma solene. Por ex. O instrumento 
adequado para a transmissão da 
propriedade imóvel decorrente de um 
contrato de compra e venda é a escritura 
pública, salvo se o valor forinferior de 30 
vezes o salário mínimo vigente (art. 108), 
que deve ser levada a registro no 
competente Cartório de Registro de Imóveis 
(art. 1227). 
Requisitos de Validade - agente capaz, 
objeto lícito e forma. 
Tais requisitos determinam se o negócio é 
válido, ou seja, indicam a maior ou menor 
possibilidade de produzir efeitos jurídicos. 
Negócio jurídico válido é ato eficaz, ou seja, 
capaz de produzir a aquisição, modificação 
ou extinção de efeitos jurídicos. 
a) Agente capaz – Relembre-se que a 
capacidade é a regra e a incapacidade, nos 
termos dos art. 3º e 4º é a exceção. Os 
absolutamente incapazes e os 
relativamente incapazes podem praticar os 
atos da vida civil, desde que devidamente 
representados, mediante o instituto da 
representação, no primeiro caso 
(absolutamente incapazes), e da 
assistência, no segundo (relativamente 
incapazes). Saliente-se que a representação 
pode ser legal (pais, tutores e curadores); 
judicial (síndico é o representante da massa 
falida) ou convencional (decorrente de um 
contrato de mandato). 
Ressalte-se que, outras vezes, para o 
negócio ter validade, necessária também a 
legitimação para a sua prática. A 
legitimação é relativa e se refere a 
determinadas pessoas, que em virtude de 
determinados vínculos, não podem praticar 
certos negócios, ou devem praticá-los sob 
certas condições impostas pela norma 
jurídica. Ex. Os ascendentes não podem 
vender aos descendentes, sem que os 
demais descendentes e o cônjuge do 
alienante expressamente consintam. Sem o 
devido consentimento a venda é anulável – 
art. 496. Há a dispensa do consentimento 
do cônjuge, se o regime de bens for o da 
separação obrigatória. – par. único do art. 
496. 
b) Objeto lícito, possível, determinado ou 
determinável – Nos termos do art. 104, II o 
objeto do negócio jurídico deve ser lícito 
(permitido pelo Direito) e possível. Saliente-
se, ainda, que o objeto deve ser física e 
juridicamente possível. Ex. Não pode ser 
objeto de compra e venda um terreno na 
Lua (impossibilidade física). Não pode se 
objeto de compra e venda herança de 
pessoa viva - pacto corvina (impossibilidade 
jurídica). O objeto deve ser determinado, ou 
pelo menos determinável (ex.: obrigação de 
dar coisa incerta, que deve ser indicada, ao 
menos, pelo gênero e pela quantidade - art. 
243). 
c) Forma – como regra há liberdade de 
forma para a prática do negócio jurídico. 
Porém, determinados negócios reclamam 
forma solene. 
2.2. Conforme entendimento da Profa. 
Maria Helena Diniz, o negócio jurídico deve 
possuir os seguintes requisitos: 
Requisitos essenciais gerais = 
consentimento, capacidade do agente e 
objeto lícito e possível. 
a) Consentimento é a anuência válida do 
sujeito a respeito do entabulamento de 
uma relação jurídica que versa sob 
determinado objeto 
b) capacidade do agente (vide acima, item a 
- requisitos de validade do Prof. Silvio 
Rodrigues). 
c) Objeto lícito, possível, determinado ou 
determinável (vide acima, item b – 
requisitos de validade do Prof. Silvio 
Rodrigues). 
·Requisitos essenciais especiais. 
No contrato de compra e venda são 
requisitos essenciais especiais a coisa, o 
preço e o consentimento (art. 481). 
Conclusão: os requisitos essenciais são 
aqueles imprescindíveis à existência do 
próprio negócio, uma vez que se referem à 
sua própria substância. A sua ausência 
determinará a inexistência ou a nulidade 
que pode ser absoluta ou relativa, quando 
será chamada de anulabilidade. 
Requisitos naturais = são as consequências 
jurídicas normais do negócio jurídico, as 
quais estão previstas na hipótese da lei, 
razão pela qual é dispensável qualquer 
menção a seu respeito no ato de vontade. 
Ex. No contrato de compra e venda as duas 
mais importantes consequências são o vício 
redibitório e a evicção. Vício redibitório é o 
defeito oculto da coisa que diminui o seu 
valor ou a torna imprópria para o uso a que 
se destina. Evicção é a perda da coisa em 
virtude de sentença judicial. A lei diz “só 
pode vender quem é dono e, mais, não se 
deve vender coisa com defeito oculto”. 
Entretanto, as partes podem, pela 
manifestação da vontade, diminuir, 
aumentar ou excluir as consequências 
naturais dos negócios jurídicos. 
·Elementos acidentais = são aqueles que 
não sendo indispensáveis para a 
constituição do negócio jurídico podem 
existir para alterar as consequências 
jurídicas que ordinariamente produzem. 
Tais elementos são inseridos no negócio 
jurídico por intermédio de cláusulas e, desta 
forma, possuem a denominação de 
cláusulas acessórias acidentais (ou 
modalidades) dos negócios jurídicos. São 
eles: condição, encargo (modo) e termo. 
Ato jurídico lícito (em sentido estrito) 
1. Introdução: O ato jurídico em sentido 
estrito é espécie de Fato Jurídico Lato Sensu 
e subespécie de Ato Jurídico Lato Sensu, 
este também denominado pela doutrina 
como Fato Humano. Desta forma, o ato 
jurídico em sentido estrito depende 
Vontade Humana. 
2. Conceito 
Conceito da Professora Maria Helena Diniz: 
“O ato jurídico em sentido estrito é o que 
gera consequências jurídicas previstas em 
lei e não pelas partes interessadas, não 
havendo regulamentação da autonomia 
privada”. 
3. Classificação dos atos jurídicos em 
sentido estrito, segundo o Professor 
Orlando Gomes: 
3.1. Atos jurídicos em sentido estrito 
materiais (ou reais) – a vontade humana 
atua e lhes dá existência imediata, sendo 
que não têm destinatários. Exemplos: a) 
ocupação (art.1263) b) fixação do domicílio 
(art. 70) 
3.2. Participações – Tratam-se de atos 
jurídicos em sentido estrito consistentes em 
declarações para ciência ou comunicação 
de intenções ou fatos, sendo que têm 
destinatários. Exemplos: a) intimação 
(alguém participa a outra pessoa a intenção 
em exigir-lhe certo comportamento); b) 
interpelação (ato judicial ou extrajudicial 
praticado pelo credor para constituir o 
devedor em mora (art. 397, 2ª parte. 
4. Semelhanças e diferenças entre ato 
jurídico em sentido estrito e negócio 
jurídico. Tanto o ato jurídico em sentido 
estrito quanto o negócio jurídico são fatos 
jurídicos lato sensu que dependem da 
vontade humana, também denominados 
pela doutrina fatos humanos ou atos 
jurídicos em sentido amplo. No ato jurídico 
estrito sensu a vontade humana não pode 
alterar os efeitos jurídicos que estão pré-
fixados na norma jurídica. Exemplo: a lei 
civil garante o reconhecimento da 
paternidade (Lei 8.560/1992). Assim, o pai 
que vai ao Cartório de Registro Civil e 
solicita o assentamento da paternidade na 
certidão de nascimento do filho que deseja 
reconhecer, utiliza-se de uma prerrogativa 
da lei, mas não pode ampliar, nem restringir 
os efeitos da norma jurídica. O citado pai 
não pode dizer: reconheço o filho, mas o 
excluo da sucessão. Por sua vez, no negócio 
jurídico vige o princípio da autonomia da 
vontade, ou seja, em regra, as partes podem 
ampliar ou restringir os efeitos da norma 
jurídica. 
O art. 441 dispõe que a coisa 
recebida em virtude de contrato 
comutativo (ex. compra e venda) pode ser 
enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que 
a tornem imprópria ao uso a que é 
destinada ou lhe diminuam o valor. Tal 
artigo e os seguintes tratam dos vícios 
redibitórios - cláusula natural do contrato 
de compra e venda. Tal cláusula pode ser 
afastada pela vontade das partes, ou seja, o 
vendedor não se responsabiliza, em comum 
acordo com o comprador, pelos vícios 
redibitórios da coisa vendida. Saliente-se 
que na relação de consumo, tutelada pelo 
Código de Defesa do Consumidor, não pode 
haver o afastamento do vício, uma vez que 
o contrato é de adesão. 
Conclusão 
O ato jurídico em sentido estrito se trata de 
manifestação da vontade obediente à lei, 
geradora de efeitos que a própria lei 
determina.Assim, no campo de ato jurídico 
em sentido estrito, as partes não podem, 
por meio de suas vontades, modificar os 
efeitos jurídicos que serão produzidos. 
Inversamente, o negócio jurídico se trata de 
manifestação da vontade destinada à 
produção de efeitos queridos pelas partes, 
podendo haver ou não correspondência 
entre o desejado pelas partes e o 
determinado pela norma. Nesse caso, 
prevalecerá a vontade das partes, uma vez 
que a regra disposta na norma jurídica é 
meramente supletiva. Lembre-se, a norma 
dispositiva, primeiramente, é permissiva (as 
partes podem dispor da vontade). Caso as 
partes não manifestem a vontade, valerá o 
disposto na regra, que é supletiva, ou seja, 
valerá somente na ausência de vontade. 
Dos defeitos dos negócios jurídicos 
Dos defeitos do negócio jurídico: Erro, Dolo, 
Coação, Estado de Perigo, Lesão (vícios de 
consentimento) e Fraude contra Credores. 
Os vícios de consentimento provocam uma 
manifestação da vontade não 
correspondente ao íntimo e verdadeiro 
querer da pessoa que a manifestou. Há 
discrepância entre a vontade manifestada e 
a real intenção. No vício social isso não 
ocorre, haja vista que a vontade 
manifestada corresponde exatamente à 
intenção do agente. Tal vontade é 
manifestada com a intenção de prejudicar 
terceiros (credores). 
IMPORTANTE: A simulação, antes tratada 
como vício social (conforme o revogado 
CC/1916), hoje é fator de nulidade absoluta, 
uma vez que objetiva iludir terceiros ou 
violar a lei. Está disciplinada no capítulo que 
trata da invalidade do negócio jurídico. Os 
defeitos podem gerar a anulabilidade 
(nulidade relativa) – art. 171, II do negócio 
jurídico, sendo de quatro anos o prazo 
decadencial para pleitear a anulação, nos 
termos do art. 178, I e II. 
Obs.: no casamento, o erro torna o negócio 
jurídico anulável no prazo decadencial de 3 
(três) anos. 
1. Erro – art. 138: É o estado da mente, que 
por defeito do conhecimento do verdadeiro 
estado das coisas impede uma real 
manifestação da vontade. 
Erro = falsa percepção da realidade. 
Ignorância = completa ausência de 
conhecimento. 
Pergunta: Qualquer erro é erro capaz de 
viciar o negócio jurídico? 
Resposta: Não, somente o erro substancial, 
escusável e real nos termos do art. 138, ou 
seja, aquele de tal importância que se fosse 
conhecida a verdade, o consentimento não 
se externaria, ou manifestar-se-ia de outra 
forma. O erro substancial é erro de fato por 
recair sobre circunstância de fato, ou seja, 
sobre qualidades essenciais da pessoa ou da 
coisa. 
a) Hipóteses de erros substanciais – art.139 
Erro que interessa à natureza do negócio 
jurídico. Ex: o negócio jurídico pode ser 
oneroso ou gratuito. Há erro quando uma 
das partes pensa que está vendendo algo e 
a outra pensa que está recebendo em 
virtude de uma doação. 
 Erro sobre o objeto todo do negócio 
jurídico. Ex: O comprador pensa que está 
comprando obra autêntica, mas é uma 
cópia. 
 Erro sobre alguma das qualidades 
essenciais do objeto. A compradora pensa 
que está comprando um candelabro de 
bronze, mas, na verdade está comprando, 
por erro, um candelabro de latão. 
Erro sobre uma qualidade essencial da 
pessoa. Ex.: O testador deixa um bem, 
equivocadamente, a uma pessoa que 
imaginou ser seu filho natural. 
Erro de direito, desde que não implique 
recusa à aplicação da lei e seja o único ou 
principal motivo do negócio jurídico. A 
ignorância da lei pode ser alegada para 
anular o contrato, sem que com isso se 
pretenda que a lei seja descumprida. 
b) Erro acidental – o erro acidental diz 
respeito à circunstância acessória do objeto 
ou da pessoa, e, desta forma, não vicia o 
negócio jurídico. Ex: alguém compra uma 
casa pensando que a mesma tem quatro 
janelas frontais e, na verdade, o imóvel 
possui apenas três janelas frontais. 
c) Falsa causa ou falso motivo – art. 140 – A 
falsa causa (ou motivo), em regra, não vicia 
o negócio jurídico, salvo se nele figurar 
expressamente, como razão essencial ou 
determinante, caso em que torna o negócio 
anulável. Ex: José, por testamento, deixa 
determinado bem para Maria Joaquina, que 
pensa ser sua filha natural. Manoel compra 
um estabelecimento comercial, tendo como 
condição primordial certo movimento que, 
posteriormente, verifica-se ser falso. 
d) Os erros podem ocorrer de forma 
pessoal ou através de outros meios de 
comunicação – rádio, carta, televisão, etc. 
Nos termos do art. 141, havendo desavença 
entre a vontade declarada e a interna, o 
erro poderá ser alegado nas mesmas 
condições em que a manifestação da 
vontade pessoal. 
e) Erro de Direito – é aquele relativo à 
existência de uma norma jurídica. Só é 
admissível, conforme art. 139, III do CC, 
sendo a causa determinante do negócio e 
não implicando em recusa de aplicar a lei. 
O art. 3º da LICC trata do Princípio da 
Obrigatoriedade da Lei a partir de sua 
publicação. Assim, a publicação da lei gera a 
presunção absoluta de seu conhecimento. 
“Ninguém se escusa de cumprir a lei, 
alegando que não a conhece”. Salvo a 
exceção do art. 139, III, o erro de direito 
NÃO é considerado como causa de anulação 
do negócio jurídico. 
f) Erro de cálculo apenas autoriza a 
retificação da declaração da vontade – art. 
143. 
g) O erro não prejudica a validade do 
negócio jurídico quando a pessoa, a quem 
a manifestação da vontade se dirige, se 
oferecer para executá-la na conformidade 
da vontade real do manifestante. Tal artigo 
protege, por exemplo, o vendedor, que não 
induziu o comprador em erro (seria caso de 
dolo) e é prejudicado com a anulação do 
negócio jurídico. Pode evitar a anulação, 
oferecendo-se para executar o contrato na 
conformidade da vontade real do 
manifestante. 
2. Dolo – art. 145: É o artifício empregado 
para induzir alguém à prática de um ato 
prejudicial ao seu autor e que aproveita o 
autor do dolo ou terceira pessoa. O erro é 
um ato espontâneo. A própria pessoa tem 
uma falsa percepção da realidade, ou seja, 
se engana. O erro é pessoal. 
O dolo, por sua, vez, é um erro provocado 
por alguém. No dolo há a interferência de 
uma 3ª pessoas que cria uma situação onde 
a pessoa é levada ao equívoco. No dolo, a 
má-fé de 3ª pessoa está implícita. 
 
a) Espécies de dolo: dolus malus e dolus 
bonus 
O dolus bonus é aquele tolerável, ou seja, 
não acarreta a anulabilidade do negócio 
jurídico. Tal espécie de dolo pode ser 
visualizada na conduta do vendedor que 
exalta as qualidades do produto. O dolus 
malus é aquele que gera ou poderá gerar a 
anulabilidade do negócio jurídico, uma vez 
que é praticado com o objetivo de 
prejudicar alguém. Esta espécie de dolo 
sempre decorre da utilização de manobras 
astuciosas com o fim primordial de 
prejudicar alguém. 
Ressalte-se que a diferença entre o dolus 
malus e o dolus bonus deve ser analisada no 
caso concreto, submetido à apreciação do 
juiz, levando-se em conta a inexperiência e 
o nível de informação da vítima. 
Dolo principal (dolus causam) e dolo 
acidental (dolus incidens) – art. 146: O dolo 
principal é aquele que se revela como sendo 
a causa determinante do ato (ex. uma 
pessoa muito pobre é induzida a vender, 
por preço baixo, seu quinhão hereditário 
valioso). Por sua vez, o dolo acidental é 
aquele, que a despeito de sua existência, o 
ato seria praticado. Ex. José é fiador de seu 
irmão João num contrato de locação de um 
estabelecimento mercantil para venda de 
discos, que na verdade é utilizado para o 
comércio de discos piratas. 
Conclusão: o dolo apto a gerar a 
anulabilidade do negócio jurídico deve ser o 
malus e principal. O dolo acidental, quando 
muito, pode gerar o dever de indenizar por 
perdas e danos. 
Dolo por ação (ou positivo) e dolo por 
omissão (ou negativo): O dolo por ação é o 
dolo positivo, qual seja,se compõe de um 
artifício astucioso que se revela por 
afirmações falsas a respeito da qualidade da 
coisa. 
 
O dolo por omissão também se compõe de 
manobras astuciosas que se revelam por 
ocultações sobre a qualidade de uma coisa, 
que uma vez conhecidas da outra parte 
impediriam que o negócio fosse concluído. 
Ex: o vendedor vende uma casa cheia de 
trincas e esconde, dolosamente, tal fato do 
comprador. 
b) Dolo de terceiro – art. 148: Mário, ao sair 
de uma joalheria, encontra-se com seu 
amigo João e lhe diz:- Vi na joalheria um 
relógio de ouro, maravilhoso, preço 
campeão... não comprei porque não tinha 
dinheiro... João vai até a joalheria e adquire 
o relógio. O dono da loja não tem 
conhecimento da conversa entre os amigos. 
Nos termos do art. 148, CC, o dolo de 
terceiro, para acarretar a anulabilidade do 
negócio jurídico, exige o conhecimento de 
uma das partes contratantes. Não sendo o 
dolo de terceiro (Mario) conhecido pelo 
beneficiado (joalheiro) dará lugar a uma 
indenização (perdas e danos), por parte da 
vítima (João), contra o terceiro (João, mui 
amigo), autor do engano intencional. 
c) Dolo do representante legal só obriga o 
representado a responder civilmente até a 
importância do proveito que teve. – art. 
149, 1ª parte. 
d) Dolo do representante convencional 
(contrato de mandato) – o representado 
responde solidariamente com o 
representante. – art. 149, parte final. 
e) Dolo bilateral – art.150: Princípio basilar 
do Direito: “A ninguém é dado alegar a 
própria torpeza para dela tirar proveito”. Se 
ambas as partes procederam com dolo, 
nenhuma delas pode alegar o dolo da outra 
para anular o ato, ou reclamar indenização. 
Ex: o vendedor induziu o comprador a 
comprar gato por lebre, sendo que o 
comprador escondeu maliciosamente o fato 
de ter 17 anos de idade. 
Conclusão= um dolo anula o outro. Se 
ambas as partes procedem com dolo, não 
há boa-fé a defender. 
3. Coação – art. 151: A coação está ligada à 
palavra violência, ou seja, alguém é 
obrigado a manifestar a vontade, sob pena 
de sofrer uma consequência danosa. Tal 
violência pode ser materializada de duas 
formas: violência física ou absoluta e 
violência moral ou relativa. A violência física 
significa ausência de vontade, ou seja, 
diante da violência física o ato inexiste. 
Assim, a coação, como vício de 
consentimento, deve ser entendida como 
toda e qualquer pressão exercida sobre um 
indivíduo para determiná-lo a concordar 
com o ato. A coação exige a presença de 
violência na sua forma relativa, ou seja, a 
chamada violência moral ou psicológica, 
haja vista que se houver violência física não 
haverá manifestação da vontade, 
inexistindo o ato. 
a) Pressupostos da Coação – art. 151 
a.1. Causa do ato – o primeiro requisito 
para a configuração da coação é a relação 
de causalidade, ou seja, deve haver ligação 
causal entre a violência psicológica e a 
vontade declarada. Desta forma, deve ser 
utilizado o raciocínio da exclusão, ou seja, 
excluindo-se a violência moral (causa) e 
assim mesmo ocorre a manifestação da 
vontade, inexiste a causalidade. 
a.2. Violência moral grave (considerável) – 
a pressão psicológica deve ser grave, isto é, 
a coação deve provocar temor que viciará a 
vontade. Assim, a ameaça de mal injusto 
deve ser revestida de gravidade suficiente. 
Se uma determinada situação será ou não 
considerada como grave, dependerá da 
análise das situações particulares da pessoa 
ameaçada, ou seja, o critério é concreto, 
analisado caso a caso, nos termos do art. 
152. 
a.3. Ameaça injusta – a ameaça deve ser 
injusta, ou seja, não se considerará como tal 
a ameaça que consiste em exercício regular 
de um direito – art. 153 (ex.: o locador 
ameaça cobrar os alugueres atrasados do 
inquilino, desde que não seja em público - 
constrangimento -, não se caracteriza como 
ameaça) 
a.4. Ameaça atual e iminente – a ameaça 
deve estar por acontecer, não podendo ser 
pretérita, nem futura. 
a.5. Justo receio de prejuízo – o prejuízo 
deve ser mais ou menos proporcional à 
manifestação da vontade. A ameaça de 
prejuízo pode se voltar contra a própria 
pessoa que manifesta a vontade, contra 
outras pessoas próximas (familiares) ou, 
ainda, em relação a determinados bens. Se 
a coação se der em relação a pessoa não 
pertencente à família do coagido, o juiz, 
com base, nas circunstâncias, decidirá se 
houve coação. 
Importante: o temor reverencial (receio de 
desgostar os pais ou obediência aos 
superiores na relação empregatícia), em 
regra, não gera a coação moral – art. 153, 
parte final. 
b) Coação de terceiro – O ato que vicia a 
vontade pode ser do próprio interessado 
em viciá-la ou por conta de terceira pessoa. 
Assim como ocorre no caso de dolo, a 
coação de terceiro só vicia o ato se a pessoa 
a quem aproveita sabe que a anuência ou 
manifestação de vontade é viciada por 
coação. 
4. Fraude contra credores – art. 158: A 
fraude contra credores ocorre quando 
devedor insolvente, ou na iminência de 
tornar-se insolvente, pratica atos 
suscetíveis de diminuir seu patrimônio, 
reduzindo desse modo a garantia que ele 
(patrimônio) representa para resgate de 
suas dívidas. A legislação brasileira exige 
para a caracterização da fraude contra 
credores, oriunda de atos de transmissão a 
título oneroso, a presença de um ato capaz 
de prejudicar o credor, quer por levar o 
devedor ao estado de insolvência, quer por 
ter sido praticado quando tal estado já 
existia. Deve, ainda, existir, a má-fé, ou seja, 
a intenção de afastar os efeitos da 
cobrança. Exemplo: a doação e a compra e 
venda são dois negócios jurídicos bilaterais 
na formação (contratos), nos quais pode ser 
dar a fraude contra credores. 
A doação pura é negócio jurídico gratuito e 
a compra e venda é negócio jurídico 
oneroso. Se o negócio jurídico é gratuito, 
não se questiona a presença de quaisquer 
requisitos, ou seja, a doação pode ser 
anulada. Em se tratando de compra e venda 
– negócio jurídico oneroso, é necessária a 
presença de dois requisitos: 
Requisito subjetivo = concilium fraudis – má 
fé – o devedor e a 3ª pessoa (comprador) 
devem ter a intenção de prejudicar os 
credores. 
Requisito objetivo = eventus damni – 
qualquer ato prejudicial ao credor por 
tornar o devedor insolvente ou por ter sido 
praticado num estado de insolvência. 
Dos defeitos dos negócios jurídicos – final. 
5. Estado de Perigo – art. 156 
Conforme disposto no art. 156, configura-se 
estado de perigo quando alguém, premido 
pela necessidade de salvar-se, ou salvar 
pessoa de sua família, de grave dano 
conhecido pela outra parte, assume 
obrigação excessivamente onerosa. O 
parágrafo único dispõe que em se tratando 
de pessoa não pertencente à família do 
declarante, o juiz decidirá segundo as 
circunstâncias. 
O negócio jurídico efetivado em estado de 
perigo pode ser anulado, conforme disposto 
no art. 171, II. O prazo decadencial para se 
pleitear a anulação do negócio jurídico, nos 
termos do art. 178, II, é de quatro anos, do 
dia em que se realizou. 
Exemplos de negócios jurídicos celebrados 
em estado de perigo: Alguém que, para 
pagar uma cirurgia urgente de pessoa da 
família, vende seu carro ou sua casa por 
preço vil; o doente que, em perigo de vida, 
paga honorários exorbitantes ao médico 
cirurgião para salvá-lo; o pai que, tendo seu 
filho sequestrado, vende joias a preço muito 
inferior ao do mercado para pagar o 
resgate, etc. 
Para que exista possibilidade do negócio 
jurídico ser anulado, a outra parte deve ter 
conhecimento do estado de perigo, 
aproveitando-se da situação. O perigo pode 
não ser real, mas o declarante deve 
acreditar que seja. Contudo, havendo 
perigo real e a pessoa o ignorar, ou 
entendê-lo como não sendo grave, não se 
configura odefeito de consentimento. 
6. Lesão – art. 157 
Nos termos do art. 157, ocorre a 
lesão quando uma pessoa assume ônus 
desproporcional, por necessidade ou 
inexperiência, ou seja, uma pessoa se obriga 
a uma prestação manifestadamente 
desproporcional ao valor da prestação 
oposta. Conforme art. 157, § 1º, a 
proporção deverá ser apreciada segundo os 
valores vigentes ao tempo em que foi 
celebrado o negócio jurídico. Dispõe o art. 
157, § 2º, que não haverá decretação da 
anulação do negócio, se for oferecido 
suplemento suficiente, ou se a parte 
favorecida concordar com a redução do 
proveito. A lesão é, pois, o prejuízo que uma 
das partes sofre na conclusão de um 
contrato comutativo, em razão da 
desproporção existente entre as prestações 
dos contraentes, sendo que uma das partes, 
abusando da premente necessidade ou 
inexperiência da outra parte, obtém lucro 
exorbitante ou desproporcional ao proveito 
da prestação. 
Exemplo: Uma pessoa encontra-se prestes a 
ser despejada do imóvel onde reside na 
qualidade de locatário. Diante de tal 
situação procura outro imóvel, cujo 
proprietário cobra um aluguel muito 
elevado. Diante da necessidade de ter onde 
morar e abrigar sua família, tal pessoa, 
perdendo a noção do justo valor da locação 
é levada a efetivar o contrato de locação 
que lhe é desfavorável. 
Saliente-se que o defeito do negócio 
jurídico decorrente da lesão dispensa a 
verificação do dolo da parte que tirou 
proveito com a lesão. A regra ordena a 
anulabilidade do ato negocial (art. 171, II) 
ou a possibilidade da parte favorecida 
concordar com a redução do proveito (art. 
157, § 2º). No exemplo acima, o locador 
pode concordar em diminuir o aluguel. O 
prazo decadencial para a anulação do 
negócio jurídico celebrado com o defeito da 
lesão é de quatro anos, conforme disposto 
no art.178, II, contados da data da 
celebração do contrato. 
Simulação - Causa de Nulidade -art.166 ao 
art.167 
No Código Civil de 2002, a simulação é 
retirada do Capítulo relativo aos defeitos 
dos negócios jurídicos, passando a ser 
considerada como causa de nulidade 
absoluta. A simulação é uma declaração 
enganosa da vontade, visando produzir 
efeitos diversos dos ostensivamente 
ostentados. A simulação requer um ajuste 
de vontade entre as partes contratantes 
visando obter efeito diverso daquele que o 
negócio aparenta conferir. 
Duas são as espécies de simulação: absoluta 
e relativa 
Na simulação absoluta, as partes não têm a 
intenção de celebrar o negócio, mas fingem 
celebrá-lo para criar uma ilusão externa. 
Exemplo: Pedro tem um patrimônio que é a 
garantia dos credores. Pedro está preste a 
separar-se judicialmente de sua esposa. 
Pedro celebra um negócio fictício (o negócio 
inexiste) com um amigo João. Devido a tal 
negócio fictício, Pedro fica com o 
patrimônio negativo, uma vez que “pagou” 
a sua dívida. Finalidade da simulação 
absoluta – prejudicar a esposa na futura 
separação judicial, subtraindo-se da 
partilha dos bens do casal. 
Na simulação relativa, ocorre a existência 
de um negócio jurídico entre as partes que, 
porém, prejudica terceira pessoa, ou viola 
imperativo legal. Assim, para despistar o 
efetivo negócio, as partes fingem celebrar 
outro negócio. Na simulação relativa 
observa-se a presença de dois negócios: o 
aparente (simulado) e o oculto 
(dissimulado). 
Exemplo: A lei proíbe a doação para 
amantes, ou seja, tal negócio jurídico pode 
ser anulado. João, casado, quer doar um 
carro para sua amante Rafaela. Devido a 
proibição legal, João faz um contrato de 
compra e venda com Rafaela e lhe transfere 
a propriedade do carro. 
Negócio simulado = compra e venda 
Negócio dissimulado = doação. 
 
Reza o art. 167, que é nulo o negócio 
jurídico simulado, mas subsistirá o que se 
dissimulou, se válido for na substância e na 
forma Assim, embora o Código Civil de 2002 
não faça distinção entre a simulação 
absoluta e a relativa, pela interpretação do 
art. 167, 2ª parte, entende-se que a 
simulação absoluta é nula, mas na relativa, 
o negócio dissimulado pode ser nulo ou 
válido (se válido for na substância e na 
forma).

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