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Trabalho Processos - Modelo (2)

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Seminário de Processos Produtivos
Indústria Aeronáutica – Produção de Aviões
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
FACULDADE DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Disciplina: EPD074 (Processos Produtivos)
Professora: Renata
Alunos:
Leonardo Rocha Vidal 
Lucas Cabral Celestino 
RuanRampinelli Ribeiro 
25 de Maio de 2017
Juiz de Fora - MG
1. Introdução
O estudo do processo de produção e suas tecnologias se desenvolveu a partir da revolução industrial com contribuições de diversos estudiosos como James Watt, responsável por melhorias significativas no motor a vapor, Adam Smith, referência para gerações e gerações de economistas e Frederik Taylor, introduzindo a divisão de tarefas. Passada essa fase, Henry Ford criou a linha de montagem para a produção de seus veículos criando uma nova e melhor forma de produzir que, posteriormente viria a ser superada pelo modelo Toyota de produção. Todos esses processos possuem em comum a preocupação dos processos produtivos, seja na melhoria do layout da empresa, organização do trabalho, entendimento econômico ou melhoria nos maquinários das manufaturas. 
As melhorias implementadas ao decorrer do tempo foram criadas devido ao crescimento dos países e corporações, estreitamento das distâncias através de meios de comunicação mais desenvolvidos e ao crescimento tecnológico acentuado. A necessidade de atualização e melhoria dos processos se intensificou bastante depois do processo de globalização devido ao aumento em escala global da concorrência onde qualquer tipo de avanço pode representar um grande ganho em mercado consumidor.
1.1 Objetivo
	O objetivo deste trabalho é a análise dos processos de produção existente no processo de fabricação da aeronave A380, atualmente o maior avião comercial do mundo, traçando um paralelo com os assuntos já ministrados na disciplina de processos produtivos.
1.2 Descrição geral da indústria e cenário do mercado.
A indústria aeronáutica tem como a característica marcante o foco na produção e comercialização de aeronaves de grande porte. Tendência que vem se mantendo, ano após ano, no cenário de vendas do setor. Como o gráfico 2 nos mostra, a comercialização de aviões de grande porte é seguida pela venda de peças e sistemas, que inclui tanto os sistemas utilizados no processo produtivo quanto as peças de reposição, por aviões de médio porte, helicópteros e aviões de pequeno porte.
Gráfico 1: Mercado aeronáutico internacional 2007. Fonte: Elaboração da UNICAMP com base nos dados da COMTRADE.
A oferta mundial de aeronaves é dominada por poucos países onde os cinco principais países dominam mais de 90% da exportação de aviões. Podemos ressaltar que o tal mercado possui uma hegemonia grande dos Estados Unidos, mas, de acordo com os dados da COMTRADE, para o biênio de 2006-2007 o Brasil figurava entre os cinco principais exportadores, estando à frente de nações consideradas tradicionais no mercado como a Itália e Reino Unido.
Tabela 1: Principais exportadores de aeronaves. Fonte: Elaboração da UNICAMP com base nos dados da COMTRADE.
1.3 Histórico e tecnologia.
Segundo Ferreira, no Estudo Setorial sobre a Indústria Aeronáutica “o padrão de concorrência da indústria aeronáutica está centrado nas inovações tecnológicas e nas condições de financiamento” (Ferreira, 2008b: 1). Em relação aos avanços tecnológicos, a indústria aeronáutica se mostra, desde os primórdios de sua existência, um berço de novas tecnologias aplicadas à segurança, conforto e confiabilidade dos aviões. Atualmente as inovações tecnológicas alcançaram novos níveis de competitividade, contudo, a maioria das empresas conseguiram se adaptar à essa nova realidade tornando a questão do financiamento o principal diferencial entre as empresas. As recentes crises financeiras levaram muitas empresas a recuarem o nível de produção e a se tornarem mais cautelosas nos investimentos realizados. Nos momentos de retomada da economia, as grandes companhias investem nas inovações tecnológicas para diferenciarem os seus produtos e ganharem mercado. Atualmente o panorama internacional não se diferencia muito os dados apresentados, mudando somente os níveis de produção, devido principalmente ao crescimento de renda e da economia de maneira global.
2. Processo produtivo
	Para iniciar a análise sobre o processo produtivo de uma aeronave, especialmente uma com a complexidade do A380, deve-se primeiro ter noção da quantidade de peças envolvidas. São aproximadamente 4 milhões de componentes formando os diversos sistemas da aeronave, entre eles elétrico, hidráulico, de combustível, pneumático, entre outros. Para a formação de todos esses sistemas, peças são compradas de diversos fornecedores e encaminhadas para a planta de montagem da aeronave. No caso do A380, essa planta é localizada em Toulouse e os fornecedores são espalhados por toda a Europa.
	A produção de uma aeronave pode ser observada através de duas grandes operações, a montagem da fuselagem e a montagem final. A montagem da fuselagem é a etapa relativa à junção da fuselagem propriamente dita, formada por centenas de painéis compostos de metais tratados com uma enorme precisão de temperatura e pressão. Após a finalização da parte estrutural, vem a etapa de montagem final, onde os diversos outros componentes são adicionados ao corpo pré-construído, como as asas, motores, pneus, freio de pouso, sistemas, entre outros. Esse processo demanda tempo, principalmente pela enorme quantidade de sistemas para se instalar quanto pelo fator de segurança que a aeronave deve possuir.
	Como ambas as operações são atividades de alta complexidade e que envolvem componentes de difícil manuseio e de grande peso, a planta para a produção de uma aeronave utiliza o layout posicional, que é uma configuração onde o produto (no caso, a aeronave) fica fixa enquanto operadores, equipamentos e peças se movimentam ao redor do produto como forma de facilitar o processo. No caso da Airbus, sua planta permite a montagem de mais de uma unidade do A380 simultaneamente, desde que sejam do mesmo “submodelo”. Para modelos menores como o A320, a fábrica consegue produzir até 4 unidades simultaneamente.
3. Características de produção
3.1 Volume
	O volume de produção do A380 é muito baixo, sua taxa de produção em 2016 foi de apenas 27 aviões no ano e passou a ser de apenas 12 por ano, enquanto no total já foram construídos 210 aviões. Este baixo volume é explicado principalmente pela complexidade do produto que necessita de um esforço elevado em sua construção.
3.2 Variedade
	O modelo de avião A380 possui variedade pequena no que tange aos modelos, já que ele é quase sempre o mesmo. As únicas variações que ocorreram no produto foram melhoramentos que resultaram nos submodelos A380-900, o A380neo e o A380F. Por outro lado, quanto às variações sofridas no que tange a personalização dos aviões a variedade pode ser considerada alta devido à customização exigida pelas companhias aéreas que são consumidoras do modelo.
3.3 Variação de demanda
	A demanda apresenta alta variação, pois o modelo do avião ainda é recente e não se firmou completamente no mercado, além de ser direcionado às grandes companhias por seu preço elevado. A tabela abaixo representa as ordens e entregas dos aviões:
Tabela 2. Pedidos e entregas do A380. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Airbus_A380
3.4 Contato com consumidor
	O contato com o consumidor é baixo, os consumidores aceitam esperar por um período de tempo longo até a entrega do avião, apesar de existir um certo contato devido à personalização. Ainda que a Airbus mantenha uma equipe de vendas, sua gama de clientes é restrita às grandes companhias que operam essa aeronave.
3.5 Custo
	O custo do produto é muito elevado, analisando todos os pontos, o custo com funcionários é alto, pois necessita-se de funcionários extremamente capacitados para realizar as operações, além de uma movimentação grande de pessoas, também, as instalações requerem equipamentosde alta tecnologia o que implica num custo maior, e por último, o custo de materiais também é alto, uma vez que o avião é muito grande e, portanto, suas peças também são. Por isso, esses materiais são mais caros que de aviões tradicionais.
	O ponto de equilíbrio inicial foi estimulado em 270 unidades, mas devido aos atrasos e a queda da taxa de cambio do dólar, aumentou para 420 unidades. Acreditava-se que seria possível atingir esse ponto em 2015, porém atualmente só foram entregues 210 unidades. Em 2015 a Airbus anunciou que o custo de produção seria menor que o preço de venda. O custo unitário atualmente do A380 é de 436,9 milhões de dólares, descontos foram negociados e fizeram o preço atual ser muito menor, fazendo especialistas duvidarem se o projeto paga por si mesmo.
	A Airbus afirma que não perde mais dinheiro em cada aeronave vendida, porém admite que a companhia nunca irá recuperar o investimento de 25 bilhões de dólares feito no projeto.
3.6 Velocidade
	A velocidade de produção é bem lenta, mesmo após a Airbus aumentar as instalações, a empresa consegue produzir a uma taxa de quatro A380s por mês. Essa taxa de velocidade baixa é devido a alta complexidade de produção do avião que requer um tempo maior para sua construção.
3.7 Confiabilidade
	A confiabilidade de entrega do avião é baixa, o A380 é marcado como um modelo que sempre atrasou nas entregas desde o início de sua produção.
	Por exemplo, a produção inicial do A380 foi atrapalhada por atrasos atribuídos aos 530 km de fiação em cada aeronave. A Airbus cita como causa a complexidade da cablagem da cabine (98.000 fios e 40.000 conectores), seu design e produção concorrentes, o alto grau de personalização para cada companhia aérea e falhas de gerenciamento de configuração e controle de mudanças. 
	Abaixo uma tabela relacionando as ordens entregas acumuladas ao longo do tempo:
Gráfico 2: Relação entre pedidos e entregas do A380.Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Airbus_A380
3.8 Qualidade
	Quanto a qualidade, o A380 apresenta qualidade alta, analisando o produto em si, ele atende muito bem as necessidades dos clientes, o avião apresenta o maior número de cabines e um conforto extremamente elevado. Avaliando o lado dos processos, o modelo também possui qualidade alta, estando envolvido em apenas uma ocorrência aérea em 2010 por uma falha de motor que resultou em um pouso de emergência com nenhum passagem ferido.
3.9 Flexibilidade
	O processo no aspecto de flexibilidade se sai bem, a aeronave apresenta algumas variações de modelos e, também, um alto grau de personalização para cada companhia aérea a qual o avião é entregue. Além disso, a mesma planta consegue se adaptar para a montagem de outros modelos que não o A380, demonstrando flexibilidade no processo. 
4. Classificação do Processo
	Analisando do ponto de vista dos processos, o processo de montagem do avião A380 mais se enquadra como intermitente por lotes, uma vez que o processo envolve baixo volume com o estabelecimento de pequenos lotes. Existe a utilização de ferramentas de uso geral e equipamentos flexíveis, os operadores manuseiam equipamentos de alta tecnologia ou realizam trabalhos manuais com ferramentas simples. A produção é realizada por encomenda, normalmente, as companhias aéreas realizam pedidos elevados e então inicia-se a produção daquele pedido que é entregue aos poucos em lotes ao cliente, podendo variar a produção pelo tamanho ou frequência desses lotes. Ela é intensiva em operários, uma vez que a quantidade necessária para a construção do avião é bem elevada. Normalmente, a falha em algum equipamento é bem crítico para os processos, fazendo com que aumente relativamente o lead time. Entre os centros de trabalho não é notado ligação física.
	Porém, o processo apresenta algumas características de um sistema de grande projeto, como o layout posicional, mão-de-obra intensiva, qualificada e multifuncional, equipamentos flexíveis/multifuncionais e baixo volume de produção.
	Quanto ao atendimento da demanda, o processo de montagem do A380 é classificado como RTO (resources to order - recursos por encomenda), uma vez que não há estoque de componentes, eles chegam via as outras fábricas que produzem os componentes, e não existe confecção de um projeto, já que o mesmo já está estruturado. 
5. Enquadramento na Matriz produto vs processo
A matriz produto-processo foi proposta por Hayes e Wheelwright (1979) visando relacionar as estruturas de processos de produção com as características dos produtos. Na matriz são propostos quatro tipos básicos de processos: Produção por tarefas, produção em lotes; produção em massa e produção contínua. A classificação introduzida mantém uma coerência com outros estudos como a matriz volume-variedade proposta por Hill (1994). 
O uso da matriz pode contribuir muito na escolha do processo produtivo e no posicionamento estratégico da empresa em um sistema de produção e por isso permanece como assunto de vários estudos acadêmicos e em estudos para abertura de novos negócios. A figura 1 retrata a matriz processo produto.
Figura 1: Matriz processo produto. Fonte: Hayes e Wheelwright (1979)
Como podemos ver, a indústria da aviação se enquadra no tipo de processo de fluxo linear descontínuo (lotes). Conforme a matriz de processo-produto nos mostra, a produção em lotes é utilizada de forma eficiente quando a empresa possui multiplos produtos com baixo volume, se encaixando nos processos de produção das empresas do ramo (considerando grandes fábricas de aeronaves).
Cada tipo de produto tem o seu processo tendo variações importantes como por exemplo o tipo de fuselagem e de componentes internos, variando de acordo com a utilização do avião. Há famílias de produtos com pouca variação nos portfólios das empresas proporcionando uma ampliação no poder de escolha dos clientes. As empresas aeronáuticas possuem desenvolvimento de produtos próprios, mas em grande parte são concebidos e projetados em conjuntos dos clientes que geralmente são empresas aéreas.
6. Considerações finais
	A partir da ótica da disciplina podemos concluir que o processo em questão, devido a sua alta complexidade, é de difícil análise e enquadramento em apenas um conceito. Por esse mesmo motivo, a aplicação dos conceitos de processos produtivos é fundamental para que exista compreensão das peculiaridades e dificuldades desse processo de forma a utilizar esse conhecimento para desenvolver estratégias e modelos de operação que possam obter vantagem competitiva. Tal vantagem pode ocorrer através da redução de custos com materiais, transporte, redução ou simplificação da operação ou outros meios. Porém, tais melhorias só serão possíveis com o entendimento e estudo sobre as características do processo em questão, papel fundamental do Engenheiro de Produção em uma indústria como essa.
7. Bibliografia
	Ferreira, M.J.B. (2008a). Estudo Setorial sobre a Indústria Aeronáutica. In: Uma Agenda de Competitividade para a Indústria Paulista. São Paulo: UNESP/UNICAMP/USP/SD-SP, 2008a.Mimeo
KRAJEWSKY, L.; RITZMAN, L.; MALHOTRA, M. Administração de produção e operações. 8.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2009.
WIKIPEDIA, Airbus A380. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Airbus_A380>. Acesso em 20 de Maio de 2017.
AIRBUS, In Manufacturing. Disponível em:<http://www.airbus.com/innovation/proven-concepts/in-manufacturing/>. Acesso em 20 de Maio de 2017.
YOUTUBE, Obras incríveis, Mega construção - Airbus A380 O Gigante do Céu . Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wt5_x_j7Cw4>. Acesso em 20 de Maio de 2017.
AVIAÇÃO E MERCADO, Airbus A380, o maior avião de passageiros. Disponível em: <http://www.aviacaoemercado.com.br/airbus-a380-o-maior-aviao-de-passageiros/>. Acesso em 20 de Maio de 2017.

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