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Medicina Veterinária Embriologia Roteiro de aula Aula 02 – Fecundação Fecundação é a fusão de duas células gaméticas, células haplóides (n) com a função de transferir os genes de cada indivíduo para as próximas gerações. O objetivo da fecundação é o restabelecimento da diploidia (2n) e ativação do desenvolvimento do oócito, assim a segunda divisão meiótica se completa e ocorre a fusão dos pró-nucleos (masculino e feminino) dando início a formação de um novo ser. A fecundação pode ser divida em quatro fases, são elas: 1. Aproximação dos gametas; 2. Penetração dos envoltórios do oócito; 3. Fusão dos pró-núcleos; 4. Ativação metabólica do oócito. Antes de estudarmos a fecundação é observarmos algumas estruturas e funções do espermatozóide e do oócito. O espermatozóide é uma célula gamética, haplóide, especializada, com uma única função: reprodutiva, ou seja, conduzir o material genético do macho ao interior do oócito da fêmea e ativá-lo para prosseguir a meiose e poder formar um nova célua haplóide. Está divido em: Cabeça: possui um núcleo bastante condensado, uma vesícula que reveste a cabeça chamada de acrossoma ou vesícula acrossomática que guarda em seu interior diversas enzimas hidrolíticas e é derivada do complexo de Golgi. Na membrana plasmática existem proteínas que são receptores (giclosiltransferase, sp96, p95) e enquanto os espermatozóides estão no epidídimo, no testículo do macho, esses receptores permanecem bloqueados por glicoproteínas; Os espermatozóides adquirem a capacidade de se movimentarem no epidídimo, no entanto eles não se movimentam com todo seu potencial, pois seria um desperdício de energia a movimentação total ainda no trato reprodutivo do macho, além disso, não são capazes de se ligar ao oócito, pois as proteínas de membrana responsáveis pelo reconhecimento estão bloqueadas, os espermatozóides estão descapacitados; Peça intermediária: possui um conjunto de mitocôndrias arranjadas ao redor das estruturas que compõe a cauda com a função principal de fornecimento de energia para movimentação da cauda; Cauda: ou flagelo é uma estrutura complexa formada pro microtúbulos compostos principalmente por uma proteína, a tubulina. É a estrutura responsável pela movimentação do espermatozóide. A capacitação é o estágio final de maturação do espermatozóide e só ocorre após a ejaculação, no interior do trato reprodutivo da fêmea. Após a deposição do ejaculado com os espermatozóides no interior do trato reprodutivo da fêmea, essas células sofrem uma série de alterações na membrana e no acrossoma para que possam adquirir maior capacidade de movimentação, os receptores na membrana são desbloqueados e o acrossoma está pronto para ser liberado (exocitado) no momento adequado. O oócito também é uma célula especializada, com função reprodutiva, no entanto, diferente do espermatozóide, é uma célula grande, sem estruturas que permitam movimentação e acumula grande quantidade de organelas e citoplasma (proteínas, glico-proteínas, RNA-t, RNA-m), pois é responsável pela manutenção inicial do novo ser formado. O núcleo não está envolvido por membrana, mas encontra-se organizado marginalmente no oócito. Posicionadas próximas à membrana plasmática do oócito existem pequenas vesículas chamadas de grânulos corticais, são análogas ao acrossoma, pois são preenchidas por enzimas, mucopolissacarídeos, glicoproteínas e proteínas adesivas. Após ser ovulado, ou seja, após o rompimento do folículo pré-ovulatório, o oócito ovulado encontra-se na fase de oócito II (metáfase II), e está envolvido por algumas camadas, os envoltórios do oócito são: • Células do cumulus: camada mais externa, composta pelas células da granulosa que envolviam e sustentavam o oócito dentro da estrutura folicular, essas células, também, podem ser chamadas de corona radiata; • Zona pelúcida: camada mais interna, composta por uma matriz extracelular glicoprotéica que possuem proteínas específicas (ZP1, ZP2, ZP3) responsáveis pelo reconhecimento pelos espermatozóides, essas proteínas (e a dos espermatozóides) são espécies-específicas, não permitem a fecundação de espermatozóides de outras espécies, pois não são capazes de realizar o reconhecimento. A zona pelúcida é formada durante a foliculogênese, produzida pelas células da granulosa, acumula- se ao redor do oócito. 1. Aproximação dos gametas Após a ejaculação, os espermatozóides precisam encontrar o oócito e esse processo não é simples, existem mecanismos que guiam os espermatozóides até o oócito. O líquido folicular liberado na ovulação e secreções do oviduto contém substancias quimiotáticas que são responsáveis pela “atração” do espermatozóide para perto do oócito (quimiotaxia), além disso, sabe-se que o trato reprodutivo da fêmea realiza movimentos rítmicos que guiam esses espermatozóides no sentido do óvulo. Existe, também, a teoria da termotaxia que descreve a movimentação dos espermatozóides no sentido da temperatura mais elevada, que é o caso da região onde o oócito se encontra, porém os dois primeiros mecanismos são os mais aceitos. 2. Penetração dos envoltórios do oócito A primeira barreira a ser ultrapassada pelo espermatozóide são as células do cumulus, os espermatozóides possuem na membrana na região da cabeça uma enzima chamada hialuronidase que degrada ácido hialurônico responsável pela adesão das células da granulosa. Após atravessar a camada de células ao redor do oócito, o espermatozóide chega à zona pelúcida e os receptores da membrana ligam-se às proteínas da zona pelúcida (principalmente ZP3), esse reconhecimento desencadeia um influxo de íons (principalmente Ca2+) e efluxo de outros íons na célula espermática que sinalizam para o espermatozóide liberar a vesícula acrossômica (reação acrossómica). Com a liberação das enzimas contidas na vesícula ocorre a degradação da zona pelúcida em uma região suficiente para penetração do espermatozóide, o espermatozóide atravessa a zona pelúcida e funde sua membrana à membrana do oócito e libera o seu material genético (pró-núcleo) no citoplasma do oócito. 3. Fusão dos pró-núcleos O pró-núcleo do macho, no interior do citoplasma, tem sua membrana degradada e seu material é descondensado para que possa fundir-se ao pró-núcleo da fêmea. As demais estruturas do espermatozóide que entram no oócito são degradadas. 4. Ativação metabólica do oócito A ativação metabólica do oócito ocorre momentos antes da fusão das membranas dos gametas. Quando o espermatozóide reconhece as proteínas da zona pelúcida e consegue penetrá-la ocorre, também, uma sinalização para que o oócito complete a segunda divisão meiótica e esteja pronto para receber o pró-núcleo do espermatozóide. Após a fusão dos pró-núcleos ocorre ativação metabólica para início de uma série de divisões mitóticas a partir da nova célula diplóide formada, o zigoto. Polispermia é penetração de mais de um espermatozóide no oócito, a possibilidade da fusão do pró-núcleo de mais de um espermatozóide ao pró-núcleo feminino gera uma célula com um número maior de cromossomos, o que não é viável e gera um embrião que provavelmente não atingirá estágios posteriores de desenvolvimento. Por esse motivo existem mecanismos de bloqueio à polispermia que ocorrem em duas etapas: Etapa rápida: Ocorre pela despolarização da membrana. O oócito em repouso possui a membrana polarizada, no qual o lado interno é mais negativo que o lado externo (-70 mV), essa positividade exterior é importante para que o espermatozóide fecunde o oócito. No momento em que a membrana plasmática do espermatozóide entra em contato com a membrana plasmática do oócito, ocorre a entrada de Na2+ e a saída de K2+. Esse fenômeno é chamado de despolarização e o oócito fica com o lado interno mais positivo (+ 20 mV) por umintervalo de tempo limitado (cerca de 1 minuto) os espermatozóides não são capazes de penetrar o oócito ou fundir sua membrana a do oócito. Etapa lenta: Após algum tempo a membrana retorna ao estado de repouso e torna-se vulnerável à penetração de outros espermatozóides, então, enquanto as membranas fundem-se ocorre o aumento na concentração de Ca2+ intracelular do oócito, que é a sinalização para liberação do conteúdo dos grânulos corticais no exterior celular. As enzimas liberadas promovem alterações nas proteínas da zona pelúcida alterando suas conformações e impedindo o reconhecimento por outros espermatozóides, além de provocar o enrijecimento da zona pelúcida e impedir de forma definitiva a penetração de outros gametas. Em mamíferos, o número reduzido de espermatozóides que chegam ao oócito pode contribuir para que não ocorra a polispermia, em ramsters, as modificações mais importantes que bloqueiam a polispermia ocorrem na zona pelúcida, já em coelhos acontecem na membrana plasmática. A polispermia pode ocorrer em aves, no entanto, somente um pró-núcleo funde-se ao material genético da fêmea, os mecanismos que impedem a fusão de outros pró-núcleos e a função deles ainda não são bem esclarecidos.
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