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TERAPIA EM GRUPO Para o tratamento da Dependência Química ORGANIZADOR: ANDRÉ LUIZ CHAVES YANG SOROCABA 2014 [2] TERAPIA EM GRUPO Para o tratamento da Dependência Química [3] Introdução Nessa apostila nós iremos estudar a dependência química naquilo que interessa ao indivíduo que está tentando parar o consumo de substância psicoativas. Existe real escolha quando não se tem informação? Quando são veiculados muito mais preconceitos e mitos sobre determinados assuntos do que fatos científicos e estatísticas bem feitas? Ou será que nesse caso trata -se de manipulação, travestida de escolha? São várias as informações que podem ajudar. As decisões tendem a ter mais força quando são fundamentadas, quando existem motivos claros e consistentes para sustentar a mudança e, esse estudo tem como função principal trazer informações científicas, tornando conhecido os efeitos do álcool e outras drogas no corpo, mente e comportamento, para que o indivíduo obtenha as informações necessárias para tomar sua decisão. O objetivo é fornecer informações científicas sobre uma área dominada po r crenças e preconceitos. Dentro dessa perspectiva fica minha sugestão: aproveite suas reuniões. Fique atento, aprenda, escute e pergunte, afinal é a sua vida que está em jogo e você tem o dever de decidir, conscientemente, como quer conduzi- la. Atenciosamente André Luiz Chaves Yang [4] Um olhar para a Dependência Química A Dependência Química é a manifestação de um sintoma e, desta forma é apenas consequência das causas bastante peculiares para cada um. Os aspectos individuais são determinantes na instalação do problema, no entanto, não podemos deixar de considerar o papel social em que o álcool e outras drogas estão inseridos. A humanidade cria suas próprias armadilhas, incentiva a criação de subterfúgios para lidar com: angustia, a impotência, o limite, a falta de identidade, entre outros, oferecendo produtos sedutores com promessas de resultados imediatos, na fantasia de outra condição de vida. “Nas práticas do consumo contínuo e substitutivo, tudo há que se esperar do objeto, nada do sujeito, nem sequer a memória, menos ainda a crítica; o sujeito do consumo desaparece por trás do objeto que satisfaz e que, a partir de então, o constitui”. A dependência se configura numa condição física, psicológica e social, muitas vezes fruto da tentativa do indivíduo de lidar com seus conflitos. “Onde quer que a droga apareça, ela sempre busca apresentar-se como a questão essencial; contudo, quanto mais profundamente a encaramos, perceberemos a configuração de um sintoma, na tentativa de calar aspectos fundamentais da vida e da subjetividade nos nossos dias”. A mudança se constitui na capacidade mínima de o indivíduo lidar com as perdas, sejam estas da sensação de um refúgio imediato ou mesmo da perda de uma ideia de “companheira de todas as horas”, encontrada no álcool, no tabaco e outras drogas¹. [5] INTRODUÇÃO 3 UM OLHAR PARA A DEPENDÊNCIA QUÍMICA 4 PARTE 1 – SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA 6 PARTE 2 – O QUE É A DEPENDÊNCIA QUÍMICA 9 PARTE 3 – FARMACOLOGIA 13 PARTE 5 – TERAPIA COGNITIVA E COMPORTAMENTAL 28 MATRIZ DECISÓRIA 29 SITUAÇÕES DE ALTO RISCO 30 ASSERTIVIDADE 33 HABILIDADE DE INICIAR CONVERSAÇÕES 36 HABILIDADE DE FAZER E RECEBER CRÍTICAS. 39 HABILIDADES DE RECUSA 46 OUVIR E FALAR SOBRE SENTIMENTOS E OPINIÕES 48 DAI - DECISÕES APARENTEMENTE IRRELEVANTES 52 HABILIDADE DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS 55 AUMENTO DE ATIVIDADES AGRADÁVEIS 58 MANEJO DO PENSAMENTO DISFUNCIONAL 60 MANEJO DA RAIVA 64 VERGONHA 67 PLANEJAMENTO PARA EMERGÊNCIAS 78 CONTATO: 81 [6] Parte 1 – Síndrome de abstinência Iniciamos nosso estudo pelo tema síndrome de abstinência e isto não é por acaso. A grande maioria dos indivíduos que desenvolveram alguma dependência, quando cessam o uso, irão sentir os sintomas da ausência da substância. No decorrer dos anos de trabalho percebi que é de grande valor falar sobre a síndrome de abstinência para que quando o indivíduo sinta qualquer um desses sintomas possa agir de forma coerente. O processo de retirada das drogas é desagradável. Alguns podem sentir intensamente os sintomas, outros podem passar com menos perturbação, dependendo do tipo de droga, o nível de dependência e a reação de seu organismo à retirada e ao medicamento disponível. O mais importante é saber que essa fase é inevitável, mas que com o tempo os sintomas irão diminuir e, eventualmente, desaparecer, então vamos enfrentá-los agora, não podemos mais adiar essa atitude. Afinal o que é síndrome de abstinência A palavra síndrome quer dizer: conjunto de sinais e sintomas e, abstinência quer dizer: deixar de fazer algum comportamento, logo, uma interpretação válida para síndrome de abstinência, na dependência química, é: um conjunto de sinais e sintomas que aparece quando paramos de usar. Síndrome de abstinência do Álcool A síndrome de abstinência inicia-se horas após a interrupção ou diminuição do consumo. Tremores nas extremidades e nos lábios são sintomas mais comuns, além de náuseas, vômitos, sudorese, ansiedade e irritabilidade. Casos mais graves podem evoluir para convulsões, Alucinose alcoólica e delirium tremens. Convulsões A retirada ou diminuição da ingestão de álcool abrupta do organismo pode ocasionar convulsões. Das convulsões resultantes da cessação ou redução do consumo de álcool 90% ocorrem até 48h após a interrupção do uso Delirium Tremens [7] Delirium Tremens é uma forma grave de abstinência, geralmente iniciando-se entre um e quatro dias após a interrupção do uso de álcool, com duração de até três ou quatro dias. É caracterizado pelo rebaixamento do nível de consciência, com desorientação, alterações senso perceptivas, tremores e sintomas autonômicos (taquicardia, elevação da pressão arterial e da temperatura corporal). Alucinose alcoólica Alucinação mais tipicamente auditiva que ocorre após um período de pesado consumo alcoólico. É uma complicação da abstinência alcoólica. As alucinações são vívidas, e costumam ocorrer num cenário de clara consciência. Incluem som de tiques, rugidos, baladas de sinos, cânticos e vozes que normalmente ocorrem 48 horas após a cessação ou redução do consumo. Os paciente expressam medo, ansiedade e agitação decorrentes dessas experiências. Síndrome de abstinência da Maconha Estudos demonstraram que sujeitos que haviam cessado o consumo diário de maconha relataram esses sintomas algumas horas após a última ingestão “Desassossego interno” Irritabilidade Calores repentinos Insônia Suores Inquietude Coriza Soluços Diminuição do apetite Náuseas Dores musculares Ansiedade Sensação de frio Diarreia Sensibilidade aumentada à luz Vontade intensa de usar a droga Depressão Perda de peso Tremores discretos. Síndrome de abstinência da Cocaína/Crack A síndrome de abstinência da cocaína pode ser dividida em três fases: 1. Crash Ocorre uma drástica redução do humor e da energia, 15 a 30 mim após o último uso. Experimentam craving “fissura”, depressão, ansiedade e paranoia. O craving diminui [8] de 1 a 4 horas depois e é substituído por um forte desejo de dormir, consiste em hipersonolência, que dura de 8 horas a 4 dias e normaliza o humor. 2. AbstinênciaEssa fase começa de 12 a 96 horas após o crash e pode durar de 2 a 12 semanas. Decorre do aumento do número e da sensibilidade dos receptores de dopamina. A anedonia (perda da capacidade de sentir prazer) é importante nesse período e contrasta com as memórias eufóricas do uso. A presença de fatores e situações desencadeadoras de craving normalmente supera o desejo de se manter a abstinência e as recaídas são comuns nessa fase. Ansiedade, hiper/hipossonia, hiperfadiga e alterações psicomotoras (tremores, dores musculares, movimentos involuntários) são outros sintomas típicos dessa fase. 3. Extinção Nessa fase, ocorre a resolução completa dos sinais e sintomas físicos. O craving é sintoma residual que aparece eventualmente, condicionado a lembranças do uso e seus efeitos. Seu desaparecimento é gradual e podem durar meses ou anos. Síndrome de abstinência da nicotina Em um período que pode ser de poucos minutos alguns fumantes já começam a apresentar os primeiros sintomas da síndrome de abstinência. Seus sintomas e a intensidade destes podem persistir por meses, e, dependendo da gravidade, são pouco tolerados. Os sintomas psicológicos relacionados à falta de nicotina são humor disfóricos ou deprimido, insônia, irritabilidade, frustração, raiva, ansiedade e dificuldade de concentração. Já os sinais físicos são taquicardia, hipertensão tremores e sudorese. [9] Parte 2 – O que é a dependência química Fundamentos “... Toda a nossa vida e nossos pensamentos estavam centrados em drogas, de uma forma ou de outra – obtendo, usando e encontrando maneiras e meios de conseguir mais. Um adicto¹ é simplesmente um homem ou uma mulher cuja vida é controlada pelas drogas. Estamos nas garras de uma doença progressiva, que termina sempre da mesma maneira: prisões, instituições e morte.” (Narcóticos Anônimos, 2006) O texto, retirado do texto básico de Narcóticos Anônimos, ilustra o contexto no qual se encontra o indivíduo que desenvolveu a dependência química. Esse indivíduo encontra-se gravemente perturbado pelos efeitos que o uso contínuo do álcool e outras drogas pode causar. Esclarecer sobre o que é a dependência química pode ajudar o indivíduo que tem problemas devido ao abuso de substâncias. O que são drogas? Drogas são substâncias que produzem mudanças nas sensações, no grau de consciência e no estado emocional das pessoas. As alterações causadas por essas substâncias variam de acordo com as características de quem as usa. Da drogas escolhida, da quantidade, frequência, expectativas e circunstâncias em que é consumida. Essa definição inclui produtor ilegais (cocaína, maconha, ecstasy, heroína...) e também produtos como bebidas alcoólicas, cigarros, remédios, que são legais, apesar de haver restrições em sua comercialização. Por exemplo: é proibida a venda de bebidas alcoólicas para menores de idade. Áreas afetadas pelo consumo de drogas BIO: biológica. Sabemos que as drogas causam uma série de danos à saúde do indivíduo, isso inclui, principalmente, danos ao coração, pulmão, rins, estômago, fígado e cérebro. Apesar do grande prejuízo, normalmente, quando não há danos irreversíveis, a parte física é a mais rápida de se recuperar. É a primeira parte a ser tratada através, principalmente, da cessação da ingestão da substância, de uma alimentação nutritiva, atividade física, o sono regular e todos os cuidados médicos necessários. Em cerca de dois a três meses já não se percebe que o indivíduo fazia o uso de álcool eou outras drogas. PSICO: Psicológica. Baixa autoestima, descontrole emocional, pensamento distorcido, depressão e ansiedade são alguns dos danos que a droga e o estilo de vida do dependente químico causam na mente. [10] SOCIAL: a vida social, ou seja, trabalho, escola, família, relacionamentos, etc. Com a progressão da doença o indivíduo começa, naturalmente, a selecionar ambientes que aprovam seu consumo, se afastando de ambiente saudáveis. Com o aumento do tempo necessário para uso, decorrente do desenvolvimento de tolerância, ele prejudica sua capacidade de trabalhar, estudar ou manter qualquer atividade que exija pontualidade e disciplina. O relacionamento familiar piora no mesmo padrão em que a doença progride, a família às vezes se torna um inimigo, um obstáculo entre o dependente e a droga. Características comuns em pacientes que desenvolveram a dependência química. O Quadro abaixo mostra algumas características comuns, mas não regras, em pessoas que desenvolveram a dependência química. A presença ou não desses fatores na vida de um dependente pode variar em quantidade e intensidade. Abuso na infância, doenças psiquiátricas associadas (comorbidades), consumo como forma de resolução de conflito, apreço pelos efeitos vivenciados. Predisposição genética, sistema de recompensa cerebral do SNC, resistência aos efeitos da substância Baixa escolaridade, Exclusão Social, Família desestruturada, Ambientes permissivos, Estimulo ao consumo. [11] Uso, Abuso e Dependência. Não existe uma fronteira clara entre uso, abuso e dependência. Podemos definir uso como qualquer consumo de substâncias, seja para experimentar, seja esporádico ou episódico; uso nocivo é definido como consumo de substância já associado a algum tipo de prejuízo (biológico psicológico ou social); e, por fim dependência como consumo sem controle, geralmente associado a sérios danos para o usuário. Uma coisa é a pessoa intoxicar-se. Outra coisa é, por estar intoxicada ou intoxicar-se frequentemente, sofrer um acidente, desenvolver uma cirrose, brigar com o patrão ou com os familiares, ser detida por policiais, etc. a figura a seguir mostra essas diferenças e dimensões. No eixo horizontal temos a dimensão “Dependência”. No eixo vertical, está representada a ampla variedade de problemas associados ao uso de drogas, incluindo os de natureza física, psicológica, familiar e social. A figura abaixo nos dá uma boa ideia sobre uso abuso e dependência: Quadrante A: neste quadrante, localizamos os indivíduos que, independentemente de seus padrões de uso, não apresentam indicação alguma de dependência, nem problemas associados ao uso. Pensando no álcool, seriam os chamados bebedores sociais. Quadrante B: aqui encontramos os indivíduos cujo padrão de uso já lhes traz algum tipo de dano, prejuízo, complicação, ou problema que afeta seu funcionamento físico, psíquico, familiar, ou social. No entanto, não evidenciam o menor grau de dependência. Seriam os usuários nocivos Quadrante C: representa os indivíduos cujos padrões de ingestão acham-se evidentemente, associados a danos, prejuízos, complicações, ou problemas e que apresentam, inequivocamente, algum grau de dependência. Esses indivíduos são os dependentes propriamente ditos. Quadrante B: é uma possibilidade inexistente, uma vez que é inconcebível um indivíduo com algum grau de dependência, mesmo que mínimo, sem que ao menos o próprio diagnóstico de dependência não seja considerado um problema. B C D A [12] Veja quais são os critérios para diagnosticar uma pessoa como dependente químico ou usuário nocivo: Critérios da Classificação Internacional de Doenças – Décima edição (CID-10) para dependência de substâncias CID-10 – Critérios para dependência de substâncias O diagnóstico de dependência deve ser feito se três ou mais dos seguintes critérios são experiência dos ou manifestos durante os últimos 12 meses: Um desejo forte ou senso de compulsão para consumir a substância Dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de início, términoe níveis de consumo. Estado de abstinência fisiológica, quando o uso da substância cessou ou foi reduzido, como evidenciado por: síndrome de abstinência característica para substancia, ou o uso da mesma substância (ou de uma intimamente relacionada) com a intenção de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. Evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas Abandono Progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso da substância psicoativa: aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou tomar a substância ou recuperar-se de seus efeitos Persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara de consequências manifestamente nocivas, tais como danos ao fígado por consumo excessivo de bebidas alcoólicas, estados de humor depressivos como consequência do consumo excessivo da substância, ou comprometimento do funcionamento cognitivo relacionado com a droga: deve-se procurar determinar se o usuário estava realmente consciente da natureza e extensão do dano Critérios da classificação estatística internacional de doenças – décima edição (CID-10) para uso nocivo de substâncias CID – 10 – Critérios para o uso nocivo de substâncias O diagnóstico requer que um dano real tenha sido causado à saúde física e mental do usuário Padrões nocivos de uso são frequentemente criticados por outras pessoas e estão associados a consequências sociais adversas de vários tipos A intoxicação aguda ou a “ressaca” não é por si mesma evidência suficiente do dano à saúde requerido para codificar o uso nocivo Uso nocivo não deve ser diagnosticado se a síndrome de dependência, um distúrbio psicótico ou outra forma específica de distúrbio relacionado com álcool ou drogas estiver presente. [13] Parte 3 – Farmacologia Conceito Farmacologia é a ciência que estuda como as substâncias químicas interagem com os sistemas biológicos. Farmacologia da Cocaína/Crack O uso da cocaína começou nos países andinos (Peru, Bolívia, Equador e Colômbia) há mais de 2.000 anos. Seu isolamento químico foi feito por um alemão, chamado Albert Niemann. Koller, médico oftalmologista austríaco, descreveu as propriedades anestésicas da cocaína e introduziu seu uso em cirurgias oftalmológicas O uso de cocaína apresentou vários danos à saúde, e tal fato levou a proibição e ela quase desapareceu no começo do século XX. Seu reaparecimento foi em 1960, como droga de elites econômicas. Formas de Consumo A cocaína pode ser injetada, inalada ou fumada (crack). Assim, o crack não é uma droga nova: é uma forma de cocaína que pode ser administrada via pulmonar. A diferença é que a absorção é mais rápida e produz, aparentemente, um efeito mais intenso. Na farmacologia ela tem três efeitos principais: 1. Anestésico local 2. Vasoconstritor 3. Um poderoso psicoestimulante Principais efeitos cardiovasculares: 1. Taquicardia 2. Aumento da pressão arterial Ao mesmo tempo em que o coração está sendo estimulado, a vasoconstrição privam o músculo cardíaco do sangue necessário. Essa combinação pode causar grave arritmia ou ataque cardíaco (mesmo em jovens usuários). Além disso a vasoconstrição pode causar danos a outros órgãos: aos pulmões de indivíduos que fumam cocaína; destruição da cartilagem nasal de quem inala e danos ao trato gastrointestinal Efeitos sobre o SNC [14] Com o uso continuado, esses sistema passa a necessitar da droga para exercer suas funções e os estímulos naturais para ativá-lo tornam-se insuficientes. O uso crônico de estimulantes resulta no esvaziamento dos neurotransmissores que produzem a sensação de prazer. As sinapses operam usando um sistema de feedback negativo. Logo, mudanças compensatórias ocorrem pra permitir que os neurônios se adaptem às alterações causadas (tolerância). Além da dependência, a intoxicação do SNC pode causar dores de cabeça, perda de consciência temporária, convulsões e morte; Alguns desses efeitos são decorrentes do aumento da temperatura corporal. Efeitos Psicoativos que favorecem a Dependência Os efeitos estimulantes da cocaína parecem aumentar as habilidades física e mentais dos usuários. Experimentam euforia, exaltação da energia e da libido, diminuição do apetite, exacerbação do estado de alerta e aumento da autoconfiança. Altas doses da cocaína intensificam a euforia, a agilidade, a verbosidade e os comportamentos estereotipados e alteram o comportamento sexual. Esses efeitos positivos encorajam o uso e a dependência dessa droga. Esses sentimentos de alegria e confiança causados pela cocaína podem transformar-se facilmente em irritabilidade, inquietude e confusão. O uso da cocaína aumenta o risco de suicídio, traumas maiores e crimes violentos. [15] Os diversos efeitos do uso agudo são descritos no quadro a seguir; Sistema Efeitos do uso agudo Geral: Psicológicos • Euforia • Sensação de bem-estar • Estimulação mental e motora (ficar “Ligado”) • Aumento da autoestima • Agressividade • Irritabilidade • Inquietação • Sensação de anestesia Geral: Físico • Aumento do tamanho das pupilas • Sudorese • Diminuição do apetite • Diminuição da irrigação sanguínea dos órgãos Neurológico • Tiques (coordenação motora diminuída) • Derrame cerebral • Convulsão • Dor de cabeça • Desmaio • Tontura • Tremores • Tinido no ouvido • Visão embaçada Psíquico • Depressão (efeito rebote da intensa excitação) • Desconfiança e sentimento de perseguição (Noia) Cardiovascular • Aumento dos batimentos cardíacos • Batimento cardíaco irregular • Aumento da pressão arterial • Ataque cardíaco Respiratório • Parada respiratória • Tosse Social • Isolamento • Falar muito • Desinibição [16] Efeitos do uso Crônico O uso prolongado da cocaína faz com que o SNC promova algumas modificações para adaptar-se à nova situação. Tolerância É a necessidade de doses cada vez maiores para se obter o efeito esperado. No caso da cocaína, a tolerância aparece para os efeitos euforizantes e cardiovasculares. A sensação de EUFORIA desaparece completamente com o uso de doses regulares. A TOLERÂNCIA CARDIACA é parcial: com o uso repetido, há a diminuição da frequência cardíaca, apesar de ainda manter-se acima da média. Sensibilização É a exacerbação da atividade motora e dos comportamentos fixos após a exposição a doses repetidas de cocaína. A depleção dopaminérgica, resultado do uso crônico de cocaína, provoca alterações anatômicas e funcionais nos receptores neurais: há um aumento do número e da sensibilidade dos receptores pós-sinápticos de dopamina. Com a administração de cocaína, a dopamina liberada na fenda, além de permanecer mais tempo por ali, encontrará um número maior de receptores mais sensíveis para estimular. Kindling O processo de sensibilização pode levar ao aparecimento de convulsões. Neurônios de determinadas regiões do cérebro expostos intermitentemente às propriedades anestésicas da cocaína tornam-se mais sensíveis aos seus efeitos e disparam com maior rapidez a cada exposição. Com o uso crônico, a resposta neural é intensa, mesmo perante baixas doses da substância. O sistema límbico tem seu funcionamento elétrico alterado e essa disfunção pode se espalhar, causando convulsões generalizadas. Overdose Uma dose suficientemente alta pode levar a falência de um ou mais órgãos do corpo, provocando overdose, que pode acometer qualquer tipo de usuário (crônico,eventual ou iniciante). Os principais sistemas envolvidos na overdose são o circulatório, o nervoso central, o renal e o térmico. A overdose acontece em duas fases: A excitação inicial é seguida por fortes dores de cabeça, vômitos e convulsões graves. [17] Perda de consciência, depressão respiratória e falha cardíaca, levando à morte. Complicações Psiquiátricas Altas doses podem provocar alterações graves de comportamento devido ao prejuízo na capacidade de julgamento, da memória e do controle do pensamento. A sensação intensa de medo e paranoia pode levar o indivíduo a recorrer de violência. Formigamento e sensação de insetos rastejando sob a pele podem levar a escoriações na pele. Ansiedade, insônia e depressão são exacerbadas com o uso. Entre uma ingestão e outra os usuários ficam irritáveis e disfóricos. Complicações sociais Nas décadas de 1960 e 1970 pensava-se que os estimulantes promoviam o convívio e eram utilizados como “drogas de festas”. As pessoas os usavam inicialmente para reduzir a inibição social e promover a comunicação interpessoal. No entanto, o uso continuado provoca paranoia. Logo, os usuários passam a evitar aqueles que julgam poder “prejudicá-los”. Consequências sociais • Menor participação social • Menor capacidade de julgamento, resultando em dificuldades profissionais, familiares, sociais e comportamentos de risco. • Prejuízo da capacidade para o trabalho • Comportamento violento – é a principal causa de morte entre usuários (acidentes, suicídio, homicídio). • Atividade criminosa – Roubo para manutenção do uso • Prostituição – como moeda de troca. • Comportamento sexual de risco – sexo desprotegido e com múltiplos parceiros. • Disseminação de doenças e infecções (HIV – Seringas e sexo) • Efeitos sobre as crianças – maus tratos, maus cuidados, abuso, prejuízos no desenvolvimento... • Rompimento de vínculos familiares. • Custos econômicos: internações, tratamento do usuário e familiares. [18] Farmacologia – Álcool Introdução O uso do álcool é detectado desde os tempos pré-bíblicos, mas somente na virada do século XVIII para o século XIX, após a revolução industrial inglesa, é que aparece, na literatura, o conceito do beber nocivo. A produção do álcool até o século XVIII era artesanal. Com a revolução industrial inglesa, passou-se a produzi-las em larga escala, reduzindo o seu custo. Soma-se a isso o fato de que, com a urbanização, o perfil das relações sociais foi modificado e o álcool tem um importante papel nessas relações. Todas essas mudanças permitiram que um número muito maior de pessoas passassem a consumir o álcool com maior frequência. Foi a partir daí que alguns médicos começaram a observar uma série de complicações físicas e mentais, decorrentes desse uso excessivo. Frases da época “Beber começa com um ato de liberdade, caminha para o habito e, finalmente, afunda na necessidade” Benjamim Rush médico 1790 “O hábito da embriaguez é uma doença da mente”. Thomas Trotter, médico, séc. XIX Transtornos físicos • Transtornos Gastroenterológicos • Transtornos Musculoesqueléticos • Transtornos Endócrinos • Câncer • Doenças cardiovasculares • Doenças respiratórias • Transtornos metabólicos • Transtornos hematológicos • Transtornos do SNC e periféricos Doenças hepáticas Os danos ao fígado constituem as consequências mais sérias do consumo excessivo do álcool. Mudanças irreversíveis tanto na estrutura quanto no funcionamento do fígado são comuns. A maioria das mortes (75%) atribuídas ao alcoolismo é causada por cirrose. São elas: [19] • Fígado gorduroso • Hepatite alcoólica • Cirrose alcoólica • Transtornos Psiquiátricos • Intoxicação alcoólica aguda • Convulsões • Delirium tremens • Alucinose alcoólica • Intoxicação patológica • Blackouts alcoólicos • Depressão • Suicídio • Hipomaníaca • Ansiedade • Ciúme patológico • Transtornos de personalidade • Transtornos alimentares • Esquizofrenia • Complicações sociais • Intoxicação Aguda A intoxicação aguda é quando o indivíduo ingere uma grande quantidade da substância. As alterações de comportamento decorrentes da intoxicação alcoólica aguda incluem comportamento sexual inadequado, agressividade, diminuição do julgamento crítico e funcionamento social e ocupacional prejudicados. Intoxicação Patológica Início súbito de comportamento agressivo e frequentemente violento, não típico do indivíduo quando sóbrio, que ocorre logo após a ingestão do álcool. Existe classicamente uma amnésia para o evento e o que se alega é que o agressor estava em um estado de transe ou automatismo. O episódio é normalmente seguido por um longo período de sono. Blackouts alcoólicos Referem-se a perda de memória induzida pela intoxicação. Essas ocorrências são relatadas em 1/3 dos indivíduos dependentes e, também, são relativamente comuns em usuários sociais, após um episódio de uso pesado. Podem ser em bloco (densa e total) ou fragmentária (fragmentos de amnésia). Durante um blackout, uma pessoa pode realizar qualquer tipo de atividade sem parecer estar num estado mental alterado. Complicações sociais Uma complicação social implica no fracasso em cumprir adequadamente um papel social desejado, ser pai/mãe, marido/esposa, filho/filha, profissional, estudante, motorista, etc. e que resulta em prejuízos para si mesmo e, quase que inevitavelmente, para outras pessoas. O indivíduo alcoolista geralmente perde sua reputação e a maneira como as outras pessoas pensam ou regem em relação a ele acaba reforçando seu novo papel como alcoolista Áreas mais afetadas: • Funcionamento familiar [20] • Problemas no trabalho • Habitação • Dificuldades financeiras • Crimes • Dirigir alcoolizado • Vitimização • Funcionamento familiar e violência domestica O uso abusivo do álcool (e outras drogas) está frequentemente associado a mau funcionamento familiar, violência doméstica e abuso físico e sexual de crianças. • Problemas no trabalho São muitas as influências adversas que o uso abusivo do álcool pode ter sobre o trabalho acometem desde a presidência ao chão da fábrica. Os perigos e prejuízos variam de acordo com a profissão. • Habitação Nas áreas urbanas, os problemas de habitação e os problemas com uso abusivo de álcool geralmente caminham juntos. São eles: • Má manutenção da casa • Problemas com os vizinhos • Falta de pagamento de aluguéis e taxas • Muitas mudanças de endereço • Dificuldades financeiras Beber excessivamente é um ato dispendioso. Além das despesas com si próprios, muitos usuários gastam dinheiro com amigos, taxis para voltar pra casa, almoços fora de casa, consumo aumentado de cigarros, jogos uma demissão de emprego, etc. • Crimes Com muita frequência o álcool parece ser o responsável pela desinibição e liberação de comportamentos violentos ou sexualmente agressivos, mas isso não prova que o álcool causou o comportamento criminoso, apesar de estar cada vez mais comprovada essa ligação genuína. • Dirigir alcoolizado Apesar da legislação atual o índice de pessoas que dirigem alcoolizadas é de 16% • Vitimização Uma pessoa embriagada torna-se alvo fácil de ladrões e pessoas violentas. [21] Farmacologia – Tabaco Introdução A organização mundial da saúde (OMS) estima que um terço da população mundial seja fumante. 1.200.000.000 pessoas fumantes. No Brasil, segundo pesquisa do centro brasileiro de informações sobre drogas psicotrópicas (CEBRID) o número de pessoas que já experimentaramtabaco é de 44%, sendo que 10,1% são dependentes da nicotina O Tabagismo é uma pandemia (epidemia que atinge proporções mundiais) responsável pela segunda causa principal de morte. Atualmente é, responsável pela morte de 1 a cada 10 adultos no mundo (aproximadamente 5 milhões de mortes a cada ano). Acredita-se que metade das pessoas que fumam hoje morrerá eventualmente em decorrência de doenças relacionadas ao tabaco. Farmacologia A nicotina é uma droga vasoconstritora (reduz o tamanho das veias/ artérias), é hipertensora e agregante plaquetária (acumula placas de gordura). O tabagismo é fator de risco para mais de 50 doenças. Entre elas podemos citar: Doenças cardiovasculares • Angina • Infarto agudo do miocárdio • Acidente vascular cerebral • Tromboangiite obliterante Cânceres • Pulmão • Boca • Laringe • Esôfago • Rim • Bexiga • Útero • Fígado • Faringe • Pâncreas Doenças pulmonar obstrutiva crônica: • Bronquite/ enfisema Citam-se ainda: • Hipertensão arterial • Leucemia • Catarata • Menopausa precoce • Úlcera péptica • Disfunção erétil • Impotência sexual 22 Farmacologia – Maconha Introdução O primeiro registro do uso de Cannabis Aparece no Book os Drugs, escrito em 2737 a.C. pelo imperador chinês Shen Nung: prescrevia Cannabis para tratamento de gota, malária, dores reumáticas e doenças femininas. Aparentemente os chineses tinham muito respeito pela planta. Durante milhares de anos, utilizavam-na medicinalmente e dela extraíam fibras para fabricação de tecido. Porém, foi somente no início do século XX que o uso da Cannabis como medicamento praticamente desapareceu no mundo ocidental, em razão da descoberta de drogas sintéticas. Recentemente voltou-se a discutir o uso terapêutico da maconha, gerando considerável controvérsia a respeito. Por um lado, estudos já demonstraram que o princípio ativo puro da maconha [delta-9-tetra-hidrocanabinol (THC)] é útil no alívio de náuseas e vômitos e na estimulação do apetite. Os efeitos analgésicos, antiespasmódicos, anticonvulsivantes, de bronco dilatação em casos de alívio da pressão intraocular em casos de glaucoma requerem mais pesquisas. Porém, por outro lado, existem medicamentos sintetizados, para essas finalidades, mais seguros e eficazes, não justificando a utilização de uma droga que pode gerar dependência e cujos efeitos nocivos ainda não são completamente conhecidos. A maconha é a droga ilícita mais consumida no mundo. Em, 2006, o United Nations Office on Drugs na Crime (UNODC) estimou que 166 milhões de pessoas ou 3,9% da população mundial, de idades entre 15 e 64 anos, consumiram maconha. 23 Efeitos do uso agudo Gerais Relaxamento Euforia Aumento do prazer sexual Pupilas dilatadas/ conjuntivas vermelhas Boca seca Aumento do apetite Alívio da dor Dores de cabeça Tontura Náusea reduzida Risco maior de acidentes Cansaço Psíquicos Ansiedade, leve à grave Ataques de pânico Risco aumentado de sintomas psicóticos “Pensamentos profundos” / mudanças de nível de consciência Sentidos mais aguçados Neurológios Atenção e memória alteradas Lentidão Coordenação motora alterada Respiratórios Rinite/faringite Tosse, asma, etc. Cardiovasculares Palpitação, agitação/tensão Aumento da pressão arterial Efeitos do uso crônico Dependência Fadiga crônica e letargia (moleza) Dor de cabeça Irritabilidade Dor de garganta crônica Problemas respiratórios (bronquite, piora da asma, tosse, etc.) Diminuição a coordenação motora Alterações da atenção, concentração e memória Depressão Ansiedade Mudanças rápidas de humor Isolamento social Afastamento das atividades escolares e de trabalho, lazer e outras atividade sociais Síndrome amotivacional Ataques de pânico Mudanças de personalidade 24 Problemas Associados ao Uso de Maconha 1. Uso precoce Estudos recentes mostram evidências que o uso precoce da maconha é um preditor de uso nos anos subsequentes: um estudo com jovens australianos mostra que de cada 5 indivíduos que fizeram o uso de maconha em algum momento da vida quatro continuarão depois. Além disso, quanto mais precoce for o início maiores os prejuízos da droga no organismo. 2. Dependência A dependência da maconha é diagnosticada, há algum tempo, nos mesmos padrões que outras substâncias. Muitos estudos comprovam que estes critérios de dependência aplicam-se tão bem à dependência da maconha quanto a outras drogas. Comparada à outras drogas, um entre dez indivíduos que usaram maconha na vida se torna dependente num período de quatro a cinco anos de consumo pesado. Este risco é comparável ao risco de dependência do álcool (15%) do que de outras drogas (tabaco 32% e opióides 23%). 3. Síndrome de abstinência Verificar parte 1, síndrome de abstinência de maconha. 4. Alteração das funções cognitivas O uso prolongado de maconha pode acarretar alterações sutis na memória, atenção, organização e interação de informações complexas. Apesar de sutis, essas alterações podem afetar o funcionamento do dia-a-dia. Chegou-se a observar que usuários de maconha tendem a obter resultados inferiores a não usuários em testes que medem a capacidade intelectual (QI). Não se sabe ainda se os danos podem ser completamente revertidos após a cessação do uso de maconha, mas os principais sintomas tendem a desaparecer com a continuidade da abstinência. 5. Prejuízo das vias respiratórias O uso crônico da maconha está associado à bronquite crônica, provocando danos a longo prazo às vias respiratórias, o que pode levar, em última instância, ao câncer de pulmão e destas vias. 6. Síndrome amotivacional Dentre os efeitos negativos do uso da maconha mais mencionados na prática clínica e em estudos, a síndrome amotivacional, que é a perda de vontade, energia e motivação 25 para realizar as atividades rotineiras, é a amais evidente. Os usuários de maconha não abandonam suas ocupações, compromissos sociais e familiares, mas se sentem muito estagnados e paralisados para perseguir outros objetivos ou mesmo modificar algo que, nesta situação, os incomoda. Mitos e verdades MITO: A maconha pode deixar o usuário louco VERDADE: A maconha pode induzir a uma psicose aguda (desorganização mental grave), com os seguintes sintomas: confusão mental, perda da memória, delírio, alucinações, ansiedade, agitação. Este quadro está muito associado ao período de intoxicação. A maconha pode precipitar quadros psicóticos como a esquizofrenia em pessoas vulneráveis. Pode também exacerbar sintomas naquelas pessoas que já apresentaram alguma doença mental, como esquizofrenia e depressão. MITO: Fumar maconha durante a gravidez não é tão perigoso VERDADE: Estudos sugerem que o uso da maconha durante a gravidez, principalmente no primeiro semestre, gera dificuldades de desenvolvimento fetal e nascimento de bebês abaixo do peso, pois esta droga estimula parto prematuro, aumenta a possibilidades de defeitos no nascimento, os bebês podem apresentar distúrbios de comportamento e desenvolvimento durante as primeira semanas após o nascimento e mais tarde dos 4 aos 12 anos. MITO: A maconha não gera dependência VERDADE: A maioria das pessoas que experimenta esta droga não se torna usuário regular e, destes, poucos se tornam dependentes. Um estudo recente nos Estados Unidos mostrou que 10% dos que experimentam maconha se tornam dependentes, 15% dos que experimentam álcoolse tornam dependentes e 17% dos que experimentam cocaína se tornam dependentes, ela possui síndrome de abstinência (ver parte 1 síndrome de abstinência de maconha) e evidência de tolerância. Hoje em dia, a dependência de maconha é vista da mesma forma que a de outras drogas. MITO: Fumar maconha faz menos mal que cigarro VERDADE: Não é porque o cigarro é uma droga considerada legal que faça menos mal que a maconha. O cigarro de maconha possui também o alcatrão, entre outra substâncias, que é um dos mais nocivos componentes que o cigarro possui. Mas a maconha e o cigarro compartilham alguns efeitos tanto agudos como crônicos, dentre eles os efeitos irritativos nos pulmões e efeitos estimulantes, tanto na nicotina como no THC, no coração, principalmente para indivíduos com algum problema prévio neste órgão. No que se refere aos efeitos crônicos, tanto cigarro quanto a maconha geram distúrbios respiratórios crônicos, tipo bronquite, câncer de pulmão, boca, esôfago e 26 estômago. A quantidade de cigarros de tabaco fumadas é maior que a média dos que fumam maconha, mas o tempo que o usuário de maconha retém a fumaça nos pulmões e o fato de fumarem sem filtro, o que faz com que sua fumaça tenha 50% mais substâncias cancerígenas que o tabaco, facilita ainda mais o aparecimento de irritação e câncer nas vias respiratórias. MITO: Fumar maconha faz menos mal que álcool. VERDADE: O uso agudo da maconha traz pelo menos os mesmo riscos do que a intoxicação pelo álcool. As duas drogas produzem: 1. Dependência. 2. Alterações mentais significativas. 3. Comprometimento do desempenho profissional. 4. Aumento da mortalidade por acidentes, suicídio e violência. 27 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS - FLIGIE, Neliana Buzi; Bordin, Selma; LARANJEIRA, Ronaldo. Aconselhamento em dependência química. Segunda edição. São Paulo: Roca, 2010. - ZANELATTO, Neide A.; LARANJEIRA, Ronaldo. O tratamento da dependência química e as terapias cognitivo-comportamentais. Terapia Cognitivo- Comportamental em Grupos. Porto Alegre: Artmed, 2013. - Bieling, Peter J.; McCABE, Randi E.; ANTONY, Martin M.; Terapia Cognitivo- Comportamental em Grupos. Tradução Ivo Haun de Oliveira – Porto Alegre: Artmed, 2008. - BECK, Judith S.; Terapia Cognitiva: teoria e prática. Tradutora Sandra Costa. Porto Alegre: Artmed, 1997. - JUNGERMAN, Flávia S.; SILVA, Neide A. Zanelatto da. Tratamento psicológico do usuário de maconha e seus familiares: uma manual para terapeutas – São Paulo: Roca, 2007. - BRASIL. Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Drogas: cartilha sobre tabaco. Brasília: Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2010. - BRASIL. Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Drogas: cartilha sobre maconha, cocaína e inalantes. Brasília: Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2010. 28 Parte 5 – Terapia Cognitiva e Comportamental Introdução Esse capítulo foi elaborado para treinar os indivíduos que tentam deixar o uso de drogas com técnicas eficientes no tratamento da dependência química. As técnicas utilizadas são baseadas na terapia cognitivo-comportamental (TCC) em grupos. A TCC tem uma enorme quantidade de estudos atestando sua eficácia, o que a levou ao status de mais importante e mais bem validadas entre as abordagens psicoterápicas. A TCC em grupo é uma abordagem respeitosa e colaborativa que fomenta a auto eficácia do paciente. É compatível com os tratamentos mais amplamente disponíveis como os 12 passos. Em virtude de seu forte foco em habilidades, a TCC grupal é ideal para pessoas que carecem de habilidades específicas de manejo tanto na relação direta com o uso da droga (por exemplo, capacidade de recusar bebidas e outras drogas, manejo emocional) quanto ao ato de lidar com as circunstâncias de vida que podem desencadear o uso. Uma sessão após a outra, o indivíduo irá conhecer as técnicas necessárias para conquistar e manter a abstinência. O Desenvolvimento dessas habilidades não é adquirido como mágica e muitas vezes pode não ocorrer naturalmente. É algo que precisa ser praticado com persistência. Por tanto, existe a necessidade de comprometimento, paciência e muito treino. 29 Matriz Decisória Nesta reunião iremos discutir sobre os prós e contras de alterar o comportamento de uso da droga. Para isso iremos utilizar um instrumento que ajuda a tomar decisões chamado “matriz decisória”. Este instrumento pode ser usado para outras finalidades como mudar ou não de um emprego, afastar-se ou não de um amigo... Instruções: 1- Preencher no primeiro espaço os prós de continuar usando 2- Preencher no segundo quadro os contras de continuar usando 3- Preencher no primeiro espaço os prós de manter a abstinência 4- Preencher no segundo quadro os contras de manter a abstinência Prós de continuar usando Contras de continuar usando De que você gosta na droga? De que você não gosta na droga? De que você gosta em si mesmo quando usa? De que você não gosta em si mesmo Consequência na família, trabalho, saúde... Consequência na família, trabalho, saúde... Prós de manter a abstinência Contras de manter abstinência De que você gosta em si mesmo De que você não gosta em si mesmo Quando não usa? Quando não usa? Consequência na família, trabalho, saúde... Consequência na família, trabalho, saúde... 30 Situações de Alto Risco Fundamentos Uma análise de 311 episódios de recaída, Cummins, Gordon e Marlett identificaram três situações primárias de alto risco associadas a 75% de todas as recaídas: I. Estados emocionais negativos = 35% II. Pressão social = 20% III. Conflito interpessoais = 16% Sendo assim fica evidente a importância de identificarmos as situações que podem oferecer risco à nossa meta de manter a abstinência. Nessa sessão iremos aprender somente a identifica-las e na próxima sessão iremos conhecer algumas técnicas para lidar com essas situações. Mas afinal o que é uma situação de alto risco (SAR)? Uma SAR é aquela que impõe uma ameaça ao indivíduo e o impede de se controlar. Exemplos de situações de alto risco Estados emocionais negativos (35%): Frustração Raiva Depressão Medo Solidão... Estados físicos e fisiológicos negativos: Abstinência Dor Contusão Estados emocionais positivos: Teste de controle pessoal: expor-se a situações de alto risco para testar sua habilidade de controlar-se Conflito com companheiro, família ou amigos que gera (16%): 31 Frustração ou Raiva; Outros sentimentos (ansiedade, apreensão, etc.). Pressão social (20%): Direta: Ex. quando amigos insistem para que entre na roda de maconha. Indireta: Ex. quando cede ao uso ao pensar no pai, que é seu modelo e tem o habito de beber. Técnicas para identificar situações de alto risco As situações de alto risco são diferentes para cada pessoa, por isso cada um deve aplicar as técnicas aqui apresentadas para definir com maior clareza quais são as suas própria situações de alto risco. 1º Técnicas do auto monitoramento Método: Registro da compulsão, e desejos de uso. Anotar também as habilidades usada para evitá-los e se foram bem sucedidas ou não. 2º Avaliações de auto eficácia Método: fazer uma lista de situações de alto risco. 1. Numerar de 0 a 10 o grau de tentação que sentirá; 2. Numerar de 0 a 10 o grau de segurança paralidar com a situação. 3. O que você realmente faria nessa situação? Objetivo: verificar as quais as habilidades de enfrentamento eu preciso para manter a abstinência e o quanto eu estou preparado para lidar com ela. 3º Descrições de episódios anteriores ou fantasias de recaída Método: Analisar as recaídas pelas quais passou, ou teme passar, pode ser uma fonte de informação e aprendizado. Para conduzir sua reflexão nessa técnica, você pode responder as perguntas que seguem, como um roteiro: 1. Quais foram as circunstancia que culminaram ou culminariam com o uso inicial? 2. Que habilidades seriam necessárias para enfrentar essa situação? 3. De que maneira o uso inicial evolui para uma recaída? 4. O que pensou a respeito do uso inicial? 32 | P á g i n a Tarefa 1. Identifique duas situações que representam alto risco para sua recuperação e diga qual foi o método utilizado para identificá-las. 33 | P á g i n a Assertividade Fundamento Assertividade é a habilidade social de fazer afirmação dos próprios direitos e expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira direta, clara, honesta e apropriada ao contexto, de modo a não violar o direito das outras pessoas. A postura assertiva é uma virtude, pois se mantém no justo meio-termo entre dois extremos inadequados, um por excesso (agressão), outro por falta (submissão). Ser assertivo é dizer "sim" e "não" quando for preciso Direitos significam: - Expressar sua opinião - Falar sobre seus sentimentos - Pedir que outros mudem o comportamento que o afeta - Aceitar ou recusar qualquer coisa que peçam Há quatro estilos de comportamento ou resposta: passivo, agressivo, passivo- agressivo e assertivo. Passivo: pessoas que tendem a abrir mão de seus direitos, quando acreditam na possibilidade de que para defendê-los precisam entrar em conflito com alguém. Normalmente não deixam os outros saberem o que pensam ou sentem, escondendo seus sentimentos, mesmo quando isso não é necessário. Consequentemente estão sempre se sentindo ansiosas ou com raiva. Às vezes ficam deprimidas com sua falta de efetividade, ou magoadas com os outros. As pessoas não têm como saber o que esse indivíduo pensa ou deseja e acabam fazendo as coisas do jeito que querem. Além disso, podem ficar ressentidas por não dizerem o que desejam. Agressivo: são aquelas que agem para proteger os seus direitos, mas ao fazerem isso acabam subestimando o direito dos outros. Apesar de terem suas necessidades imediatas satisfeitas, os resultados da agressividade são frequentemente negativos em longo prazo. Como desconsideram as necessidades alheias para conseguirem o que querem, acabam por entrar em suas “listas negras” e poderão sofrer retaliações no futuro. Passivo-agressivo: são pessoas cujo comportamento exteriorizado não corresponde exatamente àquilo a que pensam ou sentem. Podem indicar o que querem, fazendo comentários sarcásticos ou murmurando coisas, sem dizer diretamente o que está em suas mentes. Ou, então, podem “dizer” o que sentem batendo portas, agindo com indiferença com relação à pessoa, atrasando-se... Às vezes, podem conseguir o que querem sem negociar diretamente. No entanto, as pessoas ao redor normalmente não 34 | P á g i n a intendem a mensagem e se sentem confusas ou com raiva e o passivo-agressivo acaba se sentindo frustrado e vítima da situação. Assertivo: a pessoa assertiva decide o que quer, planeja uma forma de conseguir e age. Normalmente, o plano mais eficaz é deixar claro suas opiniões e sentimentos e solicitar ao outros as mudanças que gostaria que fizesse, diretamente, evitando ameaças e declarações negativas. No entanto uma pessoa assertiva pode decidir que uma resposta passiva é a melhor (com um chefe insensível), ou que uma resposta agressiva é necessária (com pessoas que inúmeras solicitações feitas de maneira assertiva não tenham funcionado). É típico da pessoa assertiva que adapte seu comportamento à situação. Geralmente, sentem-se satisfeitas e são bem vistas. A assertividade é o modo mais efetivo de fazer com que as pessoas saibam o que se passa com você ou que efeito o comportamento dele tem sobre você. Ao se expressar assertivamente você pode resolver sentimentos desconfortáveis que, de outra maneira, permaneceriam e cresceriam e geralmente resulta na solução de problemas e em sentir o controle da própria vida. A pessoa assertiva não se sente vítima das circunstâncias. No entanto, é importante deixar claro que suas metas não podem ser atingidas em todas as situações, uma vez que nunca se pode controlar a resposta dos outros. Técnicas de manejo Pensar antes de falar. Identifique aquilo a que você está reagindo. O que a outra pessoa lhe fez? Tente não tirar conclusões sobre as intenções dela. Não assume que ela deve saber o que se passa em sua mente. Planeje melhor o jeito de falar. Seja direto e específico naquilo que disser. Evite misturar outros assuntos. Seja positivo, sem pedir desculpas ou fazer apologias. Não deixe a outra pessoa mal. Culpa-la somente irá provocar uma reação defensiva e diminuirá probabilidade de que ela o ouça. Preste atenção à sua linguagem corporal. Contato visual, gestos, postura, expressões faciais e tom de voz. Suas palavras e expressões devem levar a mesma mensagem. Fale firmemente. Mostre vontade de ser compreensivo. As pessoas ouvirão se souberem que você trabalhará para resolver a situação. Ninguém quer sair com a sensação de fracasso. Tente achar um jeito para que ambos ganhem. Tente compreender seu ponto de vista e peça esclarecimentos, se forem necessários. Se discordar de algo, fale sobre isso. Não domine, nem submeta. Busque um senso de igualdade no relacionamento. 35 | P á g i n a Insista. Se você achar que não está sendo ouvido, precisará agir novamente. Em algumas circunstâncias, persistência e consistência serão necessárias à assertividade. Mudar uma forma habitual de responder requer esforços conscientes e o desejo de conviver com o não natural por certo período. Alguém não assertivo terá que se esforçar inicialmente, já que a resposta não assertiva ocorrerá quase automaticamente. O primeiro passo é ficar atento à sua forma habitual de responder e fazer um esforço consciente de mudança Lembre-se tenha sempre em mente ao praticar a assertividade: Pense um pouco antes de falar. Seja específico e direto naquilo que disser. Preste atenção à sua linguagem corporal. Esteja disposto a se comprometer. Repita novamente, se achar que não foi ouvido. Exercício prático Este exercício tem a finalidade de ajudá-lo a identificar o estilo que você tem usado nas várias situações sociais. Eleja três situações sociais diferentes antes da próxima reunião, descreva-as e a forma como você respondeu. Exemplo: Situação Um: _______________________________________________________________________ Sua Resposta: _______________________________________________________________________ Qual foi o estilo utilizado? ( ) Passivo ( ) Agressivo ( ) Passivo-Agressivo ( ) Assertivo Como você poderia ter respondido assertivamente a cada uma dessas três situações (caso não tenha sido)? 36 | P á g i n a Habilidade de Iniciar Conversações Fundamentos Conversar é o primeiro passo para estabelecer contatos casuais ou íntimos com outras pessoas. É uma habilidade de comunicação básica. Algumas pessoas têm mais facilidade e outras, mais dificuldade. De qualquer forma sempre podemos melhorar. As pessoas, de uma maneira geral, sentem-se mal quando uma conversa é vazia e bem quandoé agradável e interessante. Há uma grande relação entre habilidade e conforto em estabelecer conversações e problemas com álcool/drogas: Algumas pessoas usam álcool/drogas porque acreditam que isso as ajuda a conversar com as pessoas em festas e encontros e se sentem desconfortáveis ou incapazes sem o uso. Algumas pessoas evitam se socializar ou encontrar pessoas em virtude dessa dificuldade, o que contribui para solidão, tédio e isolamento (situação de risco). Frequentemente pessoas que usam drogas têm amigos que também usam drogas. As pessoas que decidem parar de usar podem se sentir solitárias e é muito importante começar a conhecer novas pessoas e construir novas amizades, como alternativa para reduzir a tentação de retornar aos lugares e amizades anteriores. Técnicas de manejo Falsas percepções que podem ser obstáculo no início de conversações: Que se deva apenas falar de assuntos importantes, sérios e de grande relevância. Não é necessário iniciar uma conversa sobre a fome do mundo ou sobre as políticas nacionais. Não precisamos resolver os problemas do mundo na primeira conversa com alguém. A conversa deve ser divertida, uma forma de compartilhar ideias, ou de conhecer pessoas de uma maneira confortável. Logo, não há problema em começar uma conversa com assuntos pequenos e menos relevantes. Esportes, o clima, as pessoas conhecidas em comum são boas e simples portas de acesso a conversas. Que você é totalmente responsável por manter uma conversa. Conversar é um processo de duas vias, em que cada pessoa contribui igualmente. Assim, comece com um assusto que proporciona que a outra pessoa possa responder fácil e confortavelmente. 37 | P á g i n a Que você nunca deve falar de você mesmo. Alguns aprendem que falar sobre si mesmo não é polido e geralmente se sentem desconfortáveis nessas situações. Alguns estudos de psicologia social mostra que pessoas gostam de pessoas que tem interesses e atitudes semelhantes. A única maneira de conseguir saber quais são as ideias e os gostos que compartilhamos é falar sobre isso, de forma a estimular que o outro fale também. Falando de nós abrimos a porta para que o outro fale sobre ele. Dê o exemplo. É bom falar sobre nós mesmos. Você pode falar sobre si mesmo enquanto conversa sobre coisas simples. Se a conversa tiver como tema automóveis, você pode dizer, por exemplo, por que gosta de determinado modelo. O nível das revelações varia de situação a situação, de pessoa a pessoa. Aqui estão algumas sugestões que ajudam no início de uma conversa. Ouça e observe. As pessoas dão pistas que podem ajudá-lo a decidir sobre o assunto que da conversa. Essas pistas estão nas conversas que estão tendo com outras pessoas ou nas coisas em que estão interessadas. Como você percebe se as pessoas estão interessadas ou aborrecidas? Aproxime-se de alguém quando este não em alguma atividade, com pressa, ou no meio de uma conversa. Se essa pessoa estiver em meio a um grupo, espere até que haja uma “brecha” no assunto. Não hesite nem interrompa. Deixe que a pessoa saiba que você quer falar. Estabeleça contato visual e dizendo algo primeiro, em vez de permanecer ali e esperar que ele fale. Perceba se sua xícara de café está vazia e sugira que completem sua xícara juntos. Pergunte se conhece alguém ali. Lembre-se a conversa não tem que ser de “peso”. Use questões de final aberto. Essa é uma técnica simples e muito efetiva em manter uma conversação. Uma pergunta de final aberto encoraja uma discussão, enquanto uma fecha pode ser respondida com um simples sim ou não. Por exemplo: “o que você achou do filme?” versus “você gostou do filme?”. Perguntas abertas sinalizam que você quer conversar. Checar se a conversa está sendo bem recebida. Como o outro está respondendo? As respostas às suas perguntas estão sendo curtas? A pessoa está devolvendo perguntas e comentários? Está olhando para o relógio, olhando para outros pontos, ou por trás de você? Ou está mantendo contato visual posicionado à sua frente? Se parecer que a pessoa não está interessada, termine a conversa. Você não tem de dizer tudo na primeira conversa. Lembre-se que a conversa deve ser divertida e fácil. Se alguma das partes não tiver aproveitando, termine a conversa de maneira delicada. As conversas podem ser longas ou breves. É preciso ter cuidado para não sobrecarregar o interlocutor. Se achar que o assunto não está interessante ou está desconfortável para o outro, mude-o. Termine a conversa delicadamente. Quando a conversa tiver chagando a um final ou alguém tiver que ir embora, você pode terminar a conversa de maneira educada, 38 | P á g i n a dizendo algo agradável a respeito do quanto aproveitou ou gostou da conversa. Você pode mencionar que tem de sair ou que percebe que ela tem de ir embora e talvez se encontrem mais tarde. Basicamente, o apropriado aqui é deixar seu convite com a sensação de que você gostou da conversa e que seu sentimento é sincero. Terminar de forma agradável aumenta a probabilidade de que a pessoa queira voltar a falar com você. 39 | P á g i n a Habilidade de fazer e receber críticas. 1- Fazer críticas: Fundamentos Às vezes desaprovamos ou achamos desagradáveis algumas coisa que outras pessoas fazem. É importante saber dizer-lhes isso e pedir-lhes que mudem, sem, no entanto, magoá-las ou causar discussões. Fazer isso pode ser muito difícil. Muitas pessoas falham por diversas razões - Acham que fazer isso é feio. - Querem evitar magoar a outra pessoa. - Têm medo de “perder” a pessoa ou de serem rejeitadas. - Têm medo de começar uma briga. Essa relutância é normalmente, resultado de anos de experiência com a crítica “destrutiva”. As habilidades a serem praticadas aqui se referem a como fazer uma crítica “construtiva”. Há muitas razões para aprender a fazer críticas construtivas: - Muitas vezes, as pessoas fazem coisas que irritam as pessoas à sua volta e nem mesmo percebe e isso pode limitar sua habilidade de interagir com sucesso. Ao dizermos que seu comportamentos é desagradável (interromper quem fala estar sempre muito atrasado, não cumprir o que promete, etc.) estaremos ajudando- as. - Se ficarmos durante muito tempo evitando fazer uma crítica necessária, provavelmente acabaremos nos sentindo estressados e desconfortáveis com o relacionamento. Depois de algum tempo, sentiremos raiva, frustração ou ressentimento e esses sentimentos se refletirão no dia a dia no nosso comportamento com essa pessoa. - Além de mudanças positivas, nossa habilidade em fazer críticas construtivas nos ajudará (e ao outro) a nos sentirmos bem sobre nossas capacidades de discutir e resolver nossas dificuldades. - Uma crítica destrutiva não traz resultados positivos, pois é percebida como “ataque pessoal”. Diante de um ataque a pessoa tem duas opções, fugir (ressentida) ou atacar (defender-se). O resultado é um distanciamento ou uma séria discussão. 40 | P á g i n a Muitos usuários relatam que fazem o uso de drogas quando se sentem frustrados ou com raiva de outras pessoas por causa de conflitos interpessoais. Esses conflitos podem ser gerados por críticas colocadas de maneira destrutiva. Técnicas de manejo Acalme-se. Se estiver com raiva ou a ponto de explodir, espere alguns minutos até sentir-se calmo, antes de falar. Ao fazer uma crítica, fale sobre seu sentimento e não sobre o comportamento do outro. Por exemplo, imagine que seu filho não telefonou como disse que faria. Ao invés de lhe dizer “você nunca cumpre o que promete, você não se importa com ninguém”, diga-lhe” senti-me ignorada, desprezadae muito aflita por você não ter telefonado como disse que faria”. Isso tem menos probabilidade de gerar um comportamento de defesa e de provocar uma discussão. Uma boa forma de lembrar- se disso é usar o seguinte tipo de frase: “quando você faz X, eu me sinto Y”. Perceba como isso é diferente de “X é uma coisa rui de se fazer”. Faça uma crítica com um tom de voz firme e claro, mas não raivoso. Se a crítica for recebida em um contexto de explosão emocional, será menor a probabilidade de ser internalizada. O sarcasmo, a raiva e a ironia podem ser efetivos para punir e esse não é o objetivo da crítica construtiva. Dirija sua crítica ao comportamento da pessoa e não a pessoa como um todo. Todos nós aceitamos o fato de que, às vezes, fazemos coisas que aborrecem as outra pessoas. No entanto, é muito provável que nos tornemos defensivos e argumentativos se nos fizerem uma crítica pessoal ou nos ofenderem. Um comportamento que aborrece não faz de ninguém uma má pessoa. Por exemplo: imagine que tenha usado a calculadora de uma pessoa e que tenha se esquecido de colocá-la no lugar. Ao chegar, lhe diz ele: “como você é burro, não sabe que não é para deixar minhas coisas por aí?”. Como você se sentiria? Como reagiria? E se a crítica fosse colocada dessa maneira: “você não guardou minha calculadora e isso me incomoda”. Como você se sentiria? Como reagiria? Solicite uma mudança de comportamento específica. Às vezes, presumimos que o outro sabe o que deve ser feito para nos agradar. Mas, geralmente, não sabe. Aquilo que pode ser completamente obvio para uma pessoa pode não ser para outra. Assim, ao fazer uma crítica sobre determinado comportamento, diga, especificamente, o que você gostaria que tivesse sido feito. No exemplo do segundo item, devemos acrescentar à crítica formulada “senti-me ignorada, desprezada e muito aflita por você 41 | P á g i n a não ter telefonado como disse que faria. Gostaria que tivesse cumprido o combinado”. O exemplo do quarto item ficaria assim: “você não guardou minha calculadora e isso me incomoda. Eu gostaria de encontrá-la no lugar quando precisar dela”. Esteja disposto a firmar um compromisso com a pessoa. A meta não é ganhar uma batalha, mas alcançar uma solução mutuamente satisfatória. Por exemplo, você pode estar insatisfeito com seu irmão por que este frequentemente traz amigos para fazer festa em casa, que geralmente termina muito mais tarde que o combinado. Ao contrário de ficar insistindo para que ele termine no horário permitido, ou brigar para não ter mais festas, você pode fazer um compromisso de concordar com longas festas, mas num intervalo de dois meses e num dia que lhe seja adequado. Inicie a conversa com comentário positivos. A melhor crítica é aquela que contém um elogio. Podemos reforçar um ponto forte da pessoa que poderá ajudar a reforçar um ponto fraco. Por exemplo: “filho você sempre respeitou a privacidade minha e de seu pai, consultando-nos sobre as pessoas que pretendia traze a nossa casa. No entanto, hoje de manhã, surpreendi-me quando dei de cara com uma garota em nosso banheiro. Fiquei assustada, a princípio, e depois zangada. Gostaria de ter sido consultada antes. Estou certa de que uma pessoa tão zelosa, como você, tomará essa precaução da próxima vez.” 2- Receber críticas Fundamentos As críticas são frequentes na vida de todas as pessoas, todos os dias, e recebe-las de forma educada é uma das coisas mais difíceis em nossa interação com os demais. As críticas, quando feitas e recebidas apropriadamente, nos fornecem uma chance valiosa de aprender sobre nós mesmos e sobre a forma como afetamos as outra pessoas. Sempre há o que ser melhorado e o feedback construtivo de outras pessoas nos ajuda a melhorar. Outra razão para praticar a habilidade de receber uma crítica educadamente é que isso nos ajuda a evitar argumentos desnecessários e permite às outras pessoas saber que estamos abertos a ouvir seu ponto de vista. A pessoa que responde agressivamente a uma crítica desencoraja o outro a voltar a falar numa próxima vez, o que pode levar a uma consequência mais danosa (um empregado que não sabe receber uma crítica educadamente pode perder o emprego ou uma oportunidade de crescer profissionalmente; um marido que não pode aceitar uma crítica de maneira apropriada prejudica uma conversação que pode contribuir para um relacionamento satisfatório). As críticas podem ser feitas de duas formas distintas: construtivas (assertivas) ou destrutivas (passivas e agressivas): 42 | P á g i n a - As críticas construtivas são dirigidas ao comportamento e não as pessoas. Nesse caso a pessoa descreve os sentimentos que se relacionam a algo que você fez e solicita a mudança. - As críticas destrutivas ocorrem quando alguém nos crítica como pessoas, ai invés de criticar nosso comportamento. Este tipo de crítica está mais frequentemente relacionado ao estado emocional do outro ou a uma provocação para a discussão do que para o seu comportamento. Tanto para o caso da crítica construtiva quanto da crítica destrutiva, vale a pena estar atento à reação emocional que a sucede. Brigas e discussões, de um modo geral, não conduzem a qualquer caminho positivo. Relação entre essa habilidade e o problema com álcool e drogas: - Conflitos interpessoais e a raiva ou outros sentimentos negativos resultantes deles são situações de alto risco para recaídas. Falhar em responde efetivamente às críticas pode levar a sérios conflitos interpessoais, ao passo que responder de uma maneira efetiva pode reduzir os conflitos e a probabilidade de fazer o uso das substâncias. - O problema com álcool e drogas provoca rupturas no funcionamento da pessoa de várias maneiras (com os pais, cônjuge, colegas de trabalho, etc.) e torna o usuário suscetível a uma variedade de críticas a respeito de seu comportamento. Esse aumento da probabilidade de receber críticas torna essa habilidade especialmente importante. Receber críticas a respeito do beber/usar Em função do contexto em que é feita, a crítica do beber/uso pode tomar a forma de acusação ou interrogatório (“você está atrasado e sei que você estava usando de novo”), ainda que a pessoa que receba a crítica esteja comprometida com a decisão de parar de usar e aderida ao tratamento. A confiança perdida demora para ser restabelecida e a vigilância reduzida. O excesso de vigilância poderá gerar uma percepção distorcida da situação, levando a críticas infundadas, no entanto, em determinadas situações a crítica será pertinente. Em ambos os casos, é importante ser capaz de responder às críticas de modo a permitir uma comunicação produtiva, ao invés de iniciar uma relação agressiva. A crítica sobre beber pode se focar no passado e tanto poderá ser destrutiva (“você foi horrível durante os anos em que bebia, arruinou nosso lar e a nossa família”) quanto construtiva (“estou feliz com suas mudanças, mas algumas vezes fico frustrada com tudo o que sofremos no passado. Penso que me sentiria melhor e mais esperançosa sobre nós se você voltasse a jantar conosco 43 | P á g i n a novamente e ouvisse das crianças como foi seu dia na escola”). Nem sempre quem faz críticas consegue manter-se focado no aqui e agora. Durante a fase inicial da abstinência, é possível que as críticas sobre o beber sejam ocasionadas por outros comportamentos associados ao uso e que incomodam outras pessoas, como por exemplo, uma esposa que se ressente com o isolamento ou o comportamento instável do marido e, ao invés de manifestar este sentimento, pode focar-se no passado ou no risco presente de voltar a usar. Essa crítica mal dirigidapode ocorrer porque o comportamento de beber esteve associado a esses outros comportamentos no passado e talvez por ser mais fácil ou automático criticar o uso do que abordar outro problema. Uma postura aberta não defensiva, com perguntas esclarecedoras sobre o conteúdo da crítica, permitirá uma melhor compreensão da percepção e do sentimento de quem lhe dirige a crítica. Técnicas de manejo O principal objetivo do treino da habilidade em receber críticas (sejam construtivas ou não) é manter uma postura assertiva. Sempre que possível, uma segunda meta poderia ser tentada: a de mudar a natureza da crítica e ajudar a outra pessoa a se comunicar de maneira mais produtiva. Mesmo um crítica destrutiva, colocada da pior maneira possível, pode conter alguma informação útil. Não fique na defensiva, não entre numa discussão e não contra-ataque. Fazer isso só aumentará a argumentação e diminuirá a chance de uma comunicação efetiva entre você e o outro. Considere a seguinte situação: um marido que está indo pescar e recebe críticas da esposa a respeito do seu ato de pescar. O marido replica: “Quem é você para dizer se pescar é bom ou não? Você não entende nada de pescaria”. Esse tipo de colocação é absolutamente ofensivo e agrava os sentimentos entre o marido e a sua esposa, levando a esse tipo de argumentação. Faça pergunta à outra pessoa para tentar, sinceramente, esclarecer e especificar melhor a crítica para que você perceba seu conteúdo e propósito. Fazendo mais perguntas sobre a colocação da crítica, você encoraja o outro a formulá-la de uma forma mais provável de melhorar a comunicação mútua. Continuando com o exemplo anterior, uma resposta não defensiva e que ajudaria a esclarecer a crítica poderia ser: “percebo que o fato de eu ir pescar está te incomodando, mas não sei como. Poderia me dizer?”. Encontra algo na crítica com o que você concorde e apresente ao seu interlocutor de forma mais direta. Isso é particularmente importante quando a crítica está 100% correta. Ao invés de responder com culpa ou hostilidade, aceite-a de modo assertivo e admita se for negativo. Voltando ao exemplo anterior: “Você está certa. Estou deixando-a sozinha com muita frequência nas 44 | P á g i n a últimas semanas”. Essa abordagem retira grande parte do impacto negativo da crítica e ajuda a quem faz a crítica a ser mais objetivo em seus feedbacks. Proponha um compromisso que você possa assumir. Isso significa propor alguma mudança de comportamento adequada à crítica. No exemplo anterior, essa proposta poderia ser, por exemplo, ir pescar essa semana e ir ao cinema com a esposa (ou alternativa que a agradasse) na outra semana. Rejeite uma crítica injusta. Muitas vezes, uma crítica não tem justificativa. Nessas situações, é importante rejeitá-la de maneira polida, porém firme. Por exemplo, o marido chega em casa e diz agressivamente para a esposa: “parece que um ciclone passou por esta casa e as crianças ainda não jantaram. Às vezes acho que a única coisa que você faz é ficar sentada dentro de casa, enquanto estou trabalhando”. Uma resposta apropriada da esposa seria dizer, de maneira firme e não raivosa: “de fato, a casa hoje está uma bagunça e eu estou atrasada com o jantar das crianças. Mas hoje eu não me senti bem durante o dia todo e não gosto da maneira como está falando comigo”. Exercícios prático - Habilidade de fazer críticas Lembre-se Primeiro: acalme-se. Coloque a crítica em termos de seus sentimentos, não em termos de fatos absolutos. Critique comportamento, não a pessoa. Solicite uma mudança de comportamento específica. Esteja aberto a negociar um compromisso. Inicie e comece de maneira positiva. Use um tom de voz claro e firme e não raivoso. Exercício prático Aproxime-se de uma pessoa a qual tenha a intensão de dizer algo negativo. Faça críticas construtivas. Tente seguir as recomendações aqui apresentadas. Antes de terminar a reunião responda: I. Identifique o problema: II. Qual sua meta nessa situação? Depois de ter conversado com a pessoa registre o que aconteceu: I. O que disse a ele/ela? II. Como ele/ela respondeu? III. Quais sugestões anteriores você utilizou? Exercício prático - Habilidade de receber críticas 45 | P á g i n a Lembre-se - Não fique na defensiva, não discuta não contra-ataque. - Encontre algo com que concordar. - Faça perguntas para esclarecimentos. - Proponha um compromisso realizável. Exercício prático Fique atento, até nossa próxima reunião, a qualquer crítica que venha a receber e tente responder a ela de acordo com os parâmetros discutidos aqui e depois faça suas anotações: Descreva a situação: Descreva sua resposta: Verifique: - Você se comportou como se a crítica não valesse a pena? ( ) SIM ( ) NÃO - Você encontrou algo com o que concordar? ( ) SIM ( ) NÃO - Você fez perguntas para esclarecer a crítica? ( ) SIM ( ) NÃO - Você propôs um compromisso? ( ) SIM ( ) NÃO 46 | P á g i n a Habilidades de recusa Fundamentos Receber convite ou pressão para beber/usar é uma situação de alto risco comum. Ser capaz de recusar um convite para o uso requer muito mais do que uma sincera decisão de parar de beber. Requer assertividade específica para agir de acordo com essa decisão. O uso social do álcool é muito comum em nossa cultura e podemos encontra-lo em uma grande variedade de lugares e situações. Assim, mesmo aquela pessoa que evita todos os bares se encontrará em situações em que outras pessoas estarão bebendo ou fazendo planos para beber em encontros familiares, festas no escritório, restaurantes, jantares na casa de amigos etc. Muitas pessoas poderão oferecer-lhe um drinque (parentes, amigos, encontros de negócios etc.) e esses convites poderão ser casuais ou até mesmo repetitivos ou argumentativos. Diferentes situações serão mais ou menos difíceis para diferentes pessoas. Praticar a recusa é uma habilidade que permite responder mais rápida e efetivamente quando essas situações reais ocorrem. Técnicas de manejo A natureza específica de uma resposta assertiva a um convite para beber é variável, dependendo de quem o está oferecendo e de como a oferta é feita. Muitas vezes, um simples “não, obrigado” será o suficiente. Compartilhar um problema com outras pessoas poderá ser útil em alguns momentos e em outros não. Comportamentos não verbais Fale de maneira clara, firme e com voz não hesitante. Caso contrário, deixará a pessoa em dúvida sobre o que você realmente quer dizer. Olhe nos olhos da pessoa. Isso aumenta a efetividade de sua mensagem. Não se sinta culpado. Você não magoa ninguém por não querer beber/usar e, em muitas situações as pessoas nem vão saber se você bebeu ou não. Você tem o direito de não beber. Comportamentos Verbais “Não” deveria ser a sua primeira palavra, pois termina logo com o assunto. Se você hesitar em dizer não, as pessoas ficarão em dúvida sobre o que realmente quer dizer. Você pode sugerir uma alternativa: um café, um sorvete, um suco, um lanche, uma caminhada, uma volta de carro, etc. 47 | P á g i n a Solicite uma mudança de comportamento. Se a pessoa estiver repetidamente insistindo, peça-lhe que não mais lhe ofereça um drinque/dose. Por exemplo se a pessoa disser “vamos lá só essa pela nossa amizade”, uma resposta apropriada seria “se você quiser ser meu amigo, não me ofereça mais isso”. Depois de dizer não, mude de assunto para algo que evite entrar em uma longa discussão sobre o uso. Por exemplo “não, obrigado, eu não bebo. Estou feliz por ter vindo a esta festa.
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