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Introdução ao Direito COSTUME COMO FONTE DO DIREITO 1 Sumário Introdução .................................................................................................................................... 2 Objetivos ....................................................................................................................................... 2 1. Costume como fonte do Direito ............................................................................................... 2 1.1. Conceito e classificação ............................................................................................... 2 1.2. Exemplos de costumes de acordo com o seu tipo ...................................................... 4 Exercícios ...................................................................................................................................... 5 Gabarito ........................................................................................................................................ 7 Resumo ......................................................................................................................................... 7 2 Introdução Agora, vamos contextualizar outras fontes formais mediatas, começando pelos costumes, para conceituar, classificar e exemplificar. Diferentemente das leis, os costumes tendem a não ser escritos, também são chamados de fontes informais, pois não exige formalidade específica, podendo ter um caráter temporário, porque podem desaparecer ao longo do tempo. Nesta apostila, veremos o que são costumes e como eles podem ser utilizados como para o Direito, assim como principais classificações, que são bastante cobradas em concursos públicos e que também ajudam a distinguir quais costumes servem ou não de base jurídica. Como a Lei é a nossa principal fonte de referência para o Direito, também os costumes se baseiam nela para definir sua classificação, de forma que eles podem ser contrários ao que define uma lei, de acordo com o que ela estabelece ou, simplesmente, não se encaixarem em norma alguma. E essas distinções dessa fonte do Direito podem impactar diretamente no caso concreto, podendo inclusive arquivar um crime, por exemplo. Para facilitar o seu entendimento, também vamos estudar casos práticos, através de exemplos que vão auxiliar a contextualizar e diferenciar cada costume e quando usar ou não como fonte do Direito. Objetivos • Entender como os costumes servem de fonte do direito, conceituando e classificando; • Exemplificar situações de costumes como fonte do direito, para contextualizar o aprendizado. 1. Costume como fonte do Direito 1.1. Conceito e classificação Uma das fontes mais antigas do Direito, o costume pressupõe a repetição de hábitos duradouros, que surgem naturalmente e que são praticados de forma espontânea pela sociedade, derivando da tradição como sua autoridade social (Figura 01). Logo, para ser assim considerado, ele precisa ser constante e notório, eis que é um comportamento que se repete no tempo e que as pessoas precisam o perceber como permitido, obrigatório ou proibido. Por depender dos hábitos coletivos, eles podem se enfraquecer e até entrar em desuso, se assim as pessoas passarem a questioná-lo, diferentemente da lei, que vale até que outra lei lhe revogue ou que seja declarada sua inconstitucionalidade. 3 Uma das fontes mais antigas do Direito, os costumes são como o espelho da sociedade, que se adapta junto dela. Sua força regulamentadora varia de acordo com cada sociedade. Quanto mais tradicionalista ela for, mais arraigada a costumes será. Na Índia e no Marrocos, por exemplo, tem-se o sistema estamentário, que traz a divisão da sociedade por castas e classes religiosas, eis que valorizam a imutabilidade social, baseada em seus costumes, trazendo-os para dentro de suas leis e estabelecendo punições severas para aqueles que os desrespeitam. No caso de sociedades mais contemporâneas, por sua vez, tanto pela sua flexibilidade de mudanças entre classes sociais quanto pelo seu dinamismo, costumam não atribuir tanta autoridade aos costumes. Mesmo porque, estes mudam com maior frequência nessa coletividade. Dessa forma, atribuem maior força às leis, transferindo a autoridade social para o controle estatal, que modificará suas normas conforme padrão descrito na Constituição e, certamente, mais complexo que o adotado para alteração constitucional. É que, dentre outros fatores, a priorização da lei traz maior segurança jurídica, sentimento de justiça e paz social. Nesse caso, os costumes serão utilizados como fonte do direito somente em situações excepcionais. CAI NA PROVA! Costumes secundum legem, ou segundo a lei, como o próprio nome já diz, A classificação dos costumes costuma ser muito cobrada em provas de concursos públicos. Seus termos são utilizados em latim e distinguem os costumes de acordo com sua relação em face da lei vigente, sendo eles: a) secundum legem (segundo a lei); b) praeter legem (fora da lei) e c) contra legem (contra a lei), como veremos a seguir. 4 são aqueles cujos hábitos são buscados por determinação de uma legislação específica. Ou seja, são casos em que a própria lei vai abrir espaço para que se busque a prática costumeira, eis que esta pode variar em cada região brasileira e não seria possível estabelecer uma regra geral para toda a coletividade. Já os costumes praeter legem, ou fora da lei, são situações que inclusive já estudamos nesta apostila, porque são hábitos que, embora não previstos em lei, podem ser utilizados, vindo a complementar a norma escrita, como seu instrumento de integração, ou seja, de supressão de lacunas. Mesmo porque, já vimos que a lei não obriga ninguém a fazer algo que não queira, senão em virtude dela mesma assim definir. No que toca aos costumes contra legem, são aqueles hábitos que a lei definiu como proibidos, expressamente. Nesse caso, podemos distinguir situações fáticas e doutrinárias. É que uma prática que contraria a lei tanto pode se referir a uma situação proibida que entrou em desuso, mas ainda não foi revogada no ordenamento jurídico, como também pode ser uma situação de engano sobre qual hábito está sendo praticado. Para contextualizar melhor, vamos estudar os exemplos de cada um desses tipos de costumes no tópico a seguir. 1.2. Exemplos de costumes de acordo com o seu tipo Como visto no tópico anterior, podemos ter situações em que a lei expressamente pede que o operador do direito busque no costume soluções para o caso concreto. Por exemplo, ao alugar um automóvel, inexistente relação de consumo, locador e locatário podem ter esquecido de definir a duração da permanência. Assim, o artigo 569, inciso II, do Código Civil, definiu expressamente que valerá como período mínimo o tempo que é praticado pelos costumes do local. Logo, se você escolher utilizar o carro para serviço de transporte privado de pessoas e o costume local for de locação mínima de seis meses, este será o prazo mínimo para utilizá-lo, sem pagar multa por sair antes do prazo. Este é um exemplo de costume secundum legem. Existem situações, por outro lado, que não são proibidas, mas também não existe previsão de sua permissão na Lei. Podemos mencionar a situação da União Estável. Durante anos, estando ambos enamorados, livres e desimpedidos,“juntar as escovinhas”, sem realizar o casamento civil (seja por falta de dinheiro ou por convicção), não era proibido em lei, mas também não havia qualquer previsão legal sobre como seria caso se separassem ou alguém viesse a falecer, gerando várias dúvidas por ser um costume praeter legem. Por costume, durante muitos anos, ao se separarem, costumava-se dividir aquilo que construíram juntos (equivalente ao casamento com regime de comunhão parcial de bens). Nesse caso, se houvesse disputa ou desacerto, era preciso buscar outra fonte 5 do direito para resolver o problema (a jurisprudência, que era a análise de juízes em casos semelhantes), até que fosse criada uma lei, definindo seus critérios e reproduzindo o que já era aplicado: o casamento com regime de comunhão parcial de bens e a união estável são, hoje, equivalentes. No caso de costumes proibidos pela lei, ou contra legem, vale mencionar duas situações, para distinguir a sua natureza, como já mencionado. É proibido ao pedestre atravessar a rua sem ser na faixa ou passarela próprias para tal (artigo 254, inciso V, do Código de Trânsito Brasileiro), podendo ser multado, caso o faça, segundo a lei. Entretanto, por uma questão de adequação social, eis que é costumeiro e socialmente aceito que os brasileiros atravessem fora da faixa, esse costume contra legem não é punido. SAIBA MAIS! Mas isso nem sempre é aceito, eis que um costume pode ser contra lei e mesmo assim ser punido, como fumar dentro de uma festa fechada. Mesmo porque, a lei surge como resposta ao anseio da sociedade que pretende mudar um costume nocivo para a sua coletividade. Agora, também existem situações em que o costume contra legem pode gerar dúvidas, como no caso de um senhor que sonha com um determinado animal e no dia seguinte, entra em um estabelecimento parecido com uma lotérica e aposta no jogo do bicho (que é proibido, segundo o artigo 58 da Lei das Contravenções Penais). Aqui, temos um costume socialmente aceito (apostar no jogo do bicho no dia seguinte ao seu sonho com um animal), mas ainda proibido em lei (jogo de azar) e que dependerá da interpretação do juiz que analisar o caso, para saber se adequa socialmente a lei ao caso, ou prossegue com a condenação contra apenas o dono do estabelecimento comercial ou contra este e todos os apostadores encontrados no local. Exercícios No caso de costumes contra legem, existe ainda uma segunda fonte do direito que pode dar suporte a um costume proibido, mas tolerado pela sociedade, que é o princípio da adequação social criado por Hans Welzel. São condutas que, embora formalmente proibidas pela lei, são consideradas como socialmente aceitas, eis que todos a praticam, como atravessar fora da faixa de pedestre. 6 1. (MPE-SC - 2016 - MPE-SC - Promotor de Justiça - Matutina) De acordo com o Decreto-lei n. 4657/42 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro) são formas de integração jurídica a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Quanto aos costumes, a legislação refere-se à espécie praeter legem, ou seja, aquele que intervém na falta ou omissão da lei, apresentando caráter supletivo. a) Errado b) Certo 2. (ADAPTADO CESPE - 2013 - TJ-PB - Juiz Leigo) Com relação às formas de integração da norma jurídica, assinale a opção correta. a) O costume é instituto típico do sistema civil law. b) Entende-se por analogia a aplicação, a determinado caso concreto, de uma norma próxima ou de um conjunto de normas próximas, a despeito da existência de norma prevista para o referido caso. c) A lacuna ontológica não pressupõe a existência de norma para regular o caso concreto, sem, entretanto, eficácia social. d) O costume praeter legem é forma de integração da norma jurídica. e) Em caso de lacuna ou obscuridade da lei, o juiz deve recorrer, primeiramente, aos princípios gerais do direito, uma vez que são esses princípios que orientam todo o ordenamento jurídico. 3. (FCC - 2011 - TCM-BA - Procurador Especial de Contas) Desempenhando diferentes funções, classifica-se o costume, conforme seu conteúdo, do seguinte modo: I. praeter legem II. secundum legem. III. contra legem. Sobre eles, é correto afirmar que o primeiro: a) exerce função supletiva; o segundo é interpretativo; e o terceiro não é admitido pelo sistema, embora possa induzir o legislador a modificar leis anacrônicas ou injustas. b) não é admitido pelo sistema, embora possa induzir o legislador a modificar leis anacrônicas ou injustas; o segundo é interpretativo; e o terceiro exerce função supletiva. c) é interpretativo; o segundo exerce função supletiva; e o terceiro não é admitido pelo sistema, todavia pode induzir o legislador a modificar leis anacrônicas ou injustas. d) não é admitido pelo sistema, embora possa induzir o legislador a modificar leis anacrônicas ou injustas; o segundo exerce função supletiva; e o terceiro é 7 interpretativo. e) é interpretativo; o segundo não é admitido pelo sistema, embora possa induzir o legislador a modificar leis anacrônicas ou injustas; e o terceiro exerce função supletiva. Gabarito 1. A alternativa (b) mostra que o enunciado está correto, porque, costume praeter legem, também chamado de fora da lei, são situações que inclusive já estudamos nesta apostila, porque são hábitos que, embora não previstos em lei, nada impede de serem realizados, vindo a complementar a norma escrita, como seu instrumento de integração. Mesmo porque, já vimos que a lei não obriga ninguém a fazer algo que não queira, senão em virtude dela mesma assim definir. 2. A resposta (d) está correta, porque o costume prater legem, ou fora da lei, são situações que inclusive já estudamos nesta apostila, porque são hábitos que, embora não previstos em lei, nada impede de serem realizados, vindo a complementar a norma escrita, como seu instrumento de integração. Mesmo porque, já vimos que a lei não obriga ninguém a fazer algo que não queira, senão em virtude dela mesma assim definir. 3. A assertiva (a) está correta, pela ordem adequada de explicação de cada um dos institutos, ao passo que as demais estão erradas, porque invertem os conceitos. Desse modo, tem-se que o costume fora da lei (ou praeter legem) exerce função supletiva, ao passo que o costume segundo a lei (ou secundum legem) é interpretativo, restando ao costume contra a lei (ou contra legem), como o próprio nome já induz, não é admitido pelo sistema, embora possa induzir o legislador a modificar leis anacrônicas ou injustas, como visto nos exemplos abordados em aula. Resumo Vimos que os costumes são uma das fontes mais antigas do Direito, porque é a repetição de hábitos duradouros, que surgem naturalmente e que são praticados de forma espontânea pela sociedade, pela tradição. Logo, para ser assim considerado, ele precisa ser constante e notório, eis que é um comportamento que se repete no tempo e que as pessoas precisam o perceber como permitido, obrigatório ou proibido. Por depender da consciência coletiva, eles podem se enfraquecer e até entrar em desuso, se assim as pessoas passarem a questioná-lo, diferentemente da lei. Em razão disso, é que se considera que os costumes são uma fonte do Direito mediata, informal (não escrita), temporária (podendo desaparecer ao longo do tempo, 8 mediante desuso). Ademais, ele serve como fonte do direito, podendo ser classificado como costume segundo a lei (secundum legem), no qual a própria norma jurídica define que se deve consultar os hábitos locais; costume fora da lei(praeter legem), quando não há previsão e nem proibição de sua existência, servindo como complementação supletiva da norma escrita e costume contra a lei (contra legem), que não é admitido pelo sistema, embora possa induzir o legislador a modificar leis anacrônicas ou injustas. Essa classificação é bastante cobrada em concursos e merece atenção redobrada nas distinções, porque os exercícios costumam roubar a atenção do leitor, trocando a ordem dos conceitos de cada um dos três tipos de costumes. Bons estudos! 9 Referências bibliográficas BARROZO, Jamisson Mendonça. As fontes do direito e a sua aplicabilidade na ausência da norma: tem por objetivo explicar as fontes... In: DireitoNet: 2 jun. 2010. Disponível em: <https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5763/As-fontes-do-direito-e-a-sua-aplicabilidade-na-ausencia-de- norma>. Acesso em: 17/02/2019, às 12h10min. BORGES, Vinicius Maranhao Coelho. Fontes do Direito. 2016. Elaborado em 2013. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/48588/fontes-do-direito>. Acesso em: 17/02/2019, às 11h52min. CERA, Denise Cristina Mantovani. O que se entende pelo princípio da adequação social? In: Rede de Ensino Luiz Flavio Gomes. 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