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1 – O Costume Jurídico Torna-se indispensável o esclarecimento e apresentação do tema central que será analisado para a melhor compreensão do estudo e pesquisa por parte do leitor. Ao buscar no dicionário Aurélio o significado de Costume é encontrado a definição que remete à uma conduta habitual, feita de forma reiterada pela sociedade ou uma prática comum dos membros de um grupo. Portanto, a designação alude ao costume em sentido amplo, aquele que não é valorizado por nenhuma qualificação especial, como por exemplo, o simples hábito de cumprimentar as pessoas com um aperto de mão. Para que o costume passe a ser reputado como jurídico, deve ser aceito socialmente como obrigatório, tem que ser praticado de forma reiterada pela sociedade e que venha a produzir efeitos jurídicos. Entretanto, o fator notável que diferencia o mero hábito do costume jurídico é a coercitividade que este apresenta. Essa obrigatoriedade deve ser aceita pela maioria da população, por boa parte dela ou por um grupo específico, para que haja a convicção de obediência mesmo que não sejam claras as consequências para quem os infringe. O costume apresenta três funções essenciais ao ordenamento jurídico: de suprir as lacunas derivadas por omissão legislativa quando não há lei que regule o comportamento, deixando a matéria sem regulamentação, na diretriz para elaboração das normas, atentando-se às necessidades sociais e, também, como instrumento notável na interpretação da lei. A doutrina classifica o costume jurídico em três espécies: segundo a lei, na falta da lei e contra a lei. O costume segundo a lei (secundum legem) é o que tem sua forma expressamente referida em lei ou que autoriza a sua prática. Como é o caso do art. 615 do CC/02: Concluída a obra de acordo com o ajuste, ou o costume do lugar, o dono é obrigado a recebê-la. Poderá, porém, rejeitá-la, se o empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das regras técnicas em trabalhos de tal natureza. Como já é descrito em sua nomenclatura, o costume na falta da lei (praeter legem) é utilizado quando não há uma norma legal que regule a conduta. Ou seja, o costume surge pela carência de regulamentação legislativa para uma determinada matéria, como é estabelecido pelo artigo 4° do LINDB: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. Por fim, o costume contra a lei (contra legem) é aquele contrário à disposição feita pela norma legal, logo, sua prática está infringindo a disposição regulamentadora. Em regra, esse tipo de costume não é aceito pelo ordenamento jurídico, como também não tem força para revogar lei, já que consoante o art. 2° da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, uma lei só poderá ser revogada por outra lei. Existem dois tipos de costume contra legem: O “ab-rogatório”, que cria uma nova regra mesmo com a existência da lei que regule a matéria ainda estando vigente, e o desuetudo, onde é criado uma nova disposição porque a lei que institui o tema não tem mais aplicação porque não atende de forma geral as necessidades locais ou à realidade. Há controvérsias sobre a admissão do costume contra legem como fonte interpretativa do Direito. A Doutrina Majoritária define que o uso dessa modalidade é inadmissível ao Direito Brasileiro, tendo em vista que aceitar a sua utilização seria contrariar as disposições do artigo segundo do LINDB ao permitir que o costume revogue a lei. Entretanto, os adeptos da Escola Histórica do Direito admitem a aplicação desse tipo de costume ao reconhecerem que o verdadeiro direito não é apenas o material e posto pelo Estado, como também é aquele vivido e estipulado diariamente por aqueles que devem segui-lo. Diante disto, não há propriamente a ilicitude da utilização do costume contrário à lei, desde que esta já esteja carente de atualização e tenha virado letra morta. Ademais, existem sentenças proferidas por juízes a favor do costume contra legem, e com a reiterada decisão nos tribunais em casos semelhantes a Jurisprudência confirma sua legitimidade, o que é ponderado pelo Professor Haroldo Valladão com sua obra Anteprojeto de Lei Geral de Aplicação das Normas Jurídicas ao expor: “[...] a sua revogação por força de costume ou desuso, geral e contínuo, confirmado pela jurisprudência, permitindo participação direta do povo no progresso jurídico [...].” BIBLIOGRAFIA BRASIL. Drecreto-Lei Nº 4.657, de 14 de setembro de 1942. Lei de introdução às normas do Direito Brasileiro. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657.htm>. Acesso em: 10 de abril de 2018. BRASIL. Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. 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