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Introdução ao Direito HERMENÊUTICA JURÍDICA 1 Sumário Introdução .................................................................................................................................... 2 Objetivos ....................................................................................................................................... 2 1. Métodos de interpretação da lei......................................................................................2 1.1. Interpretação jurídica.......................................................................................................2 1.2. Hermenêutica....................................................................................................................4 Exercícios ...................................................................................................................................... 6 Gabarito ........................................................................................................................................ 6 Resumo ......................................................................................................................................... 7 2 Introdução Quando estamos diante de normas jurídicas, de certo que mais de uma delas poderá ser a correta para a aplicação em um caso concreto. Como decidir qual a regra mais apropriada? Interpretar a norma é relevar seu significado, seu verdadeiro sentido. Através da interpretação damos vida à lei. Pela interpretação, o operador do direito estabelece o exato sentido da norma, o seu alcance, as suas consequências jurídicas e os elementos constitutivos do caso típico previsto na norma, aqui já no caso do juiz. Nessa apostila iremos conhecer a técnica de interpretação jurídica de regras e princípios, chamada hermenêutica, afinal, já sabemos que ocorrências de conflitos, existem, verdade? Objetivos • Introduzir o conceito de técnicas interpretativas da lei; • Aprender sobre hermenêutica. 1. Métodos de interpretação da lei 1.1. Interpretação jurídica Interpretada a norma é que se verificará se o caso concreto corresponde ao caso típico disciplinado pelo direito. Se corresponder, serão aplicadas ao mesmo as consequências jurídicas previstas na norma. Assim, denomina-se silogismo jurídico ou judicial a atividade mental de aplicação do direito. No silogismo temos como premissa maior a norma jurídica; premissa menor, o caso concreto a ser decidido, e conclusão ou corolário, a sentença, que imputa a uma das partes ou a ambas as consequências previstas na norma jurídica. Se a interpretação visa fixar o sentido objetivo de um texto jurídico, geralmente esse sentido será o da vontade legislativa, mas podem existir ainda outros meios interpretativos que dão sentido à norma. Senão vejamos as fases ou momentos de interpretação: 1.1.1. Quanto aos meios ou técnicas interpretativas • Interpretação literal ou gramatical – busca-se o sentido das palavras usadas pelo legislador. É uma interpretação técnica; 3 • Interpretação teleológica – busca-se com a interpretação o fim pretendido com a lei, a sua razão. É o método de interpretação mais utilizado pelos Tribunais brasileiros, pois se prende ao objetivo da lei, ao que ela realmente se propõe a fazer ou exigir; • Interpretação sistemática- nesta categoria, busca-se uma interpretação da norma que seja compatível como o ordenamento jurídico como todo, adaptando-o ao espirito do sistema; • Interpretação histórica - leva em conta o momento histórico e social em que é interpretada a norma; Modernamente, destacamos a interpretação teleológica ou sociológica que analisa a finalidade da norma, o fim que a mesma pretende alcançar. Este é senão o ensinamento do art. 5º da LINDB: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. 1.1.2. Quanto aos resultados ou efeitos • Interpretação extensiva – quando o intérprete entende por necessário estender o sentido da lei, pois o legislador falou menos do que efetivamente queria dizer, ampliando a incompleta formula legislativa; • Interpretação restritiva- contrário da interpretação extensiva, quando a interpretação tem que restringir a lei, de modo a manter a sua correspondência com o seu sentido real; • Interpretação declarativa – quando a lei escrita corresponde exatamente ao resultado que dela se esperava. 1.1.3. Quanto às fontes • Interpretação autêntica – é aquela realizada pelo próprio legislador, através da lei; • Interpretação jurisprudencial – é aquela realizada pelos juízes, através das decisões judiciais, sentenças, acórdãos, etc.; • Interpretação administrativa – é a interpretação realizada pelos órgãos administrativos, através de seus despachos, portarias, regimentos, instruções normativas, etc.; • Interpretação doutrinária – é a proveniente dos estudiosos do direito, da doutrina, com certo grau de espirito científico. 4 Temos ainda a interpretação conforme a Constituição, decorrente da supremacia hierárquica de suas normas (caso das constituições rígidas, cuja alteração depende de complexo sistema legislativo), bem como da presunção da constitucionalidade das leis. Assim, emendas e leis cuja interpretação está em harmonia com a Constituição não devem ser declaradas inconstitucionais. De mais a mais, isso também significa que caso uma lei apresente diversas possibilidades interpretativas, deve-se adotar a que esteja em consonância com a Constituição. Ainda no que tange à interpretação constitucional, devemos destacar o conceito de mutação constitucional. Trata-se de uma forma de interpretação realizada pelo poder constituinte difuso, que altera o sentido do texto constitucional sem alterar, entretanto, a letra da lei. Desta forma, é possível adaptar o texto constitucional a realidade, considerando a sociedade e a realidade que a Constituição está inserida. 1.2. Hermenêutica Como vimos até agora, interpretar a lei é determinar o seu sentido objetivo, fixando as suas consequências, afinal a ciência do Direito depende da interpretação das leis segundo um processo lógico adequado. É necessário que toda lei seja interpretada, mesmo quando clara, afinal o objetivo da interpretação é fixar o sentido do texto legal. Ou seja, interpretar é ajustar-se à realidade social. De tudo o quanto vimos acerca da interpretação e de suas ferramentas, podemos concluir que se chama hermenêutica a teoria científica de interpretação de princípios e regras. A hermenêutica possui extrema importância para o mundo jurídico, pois ela pode ser categórica para impedir discriminações e assim impactar no mundo real. Algumas disposições referentes à forma de interpretação no ordenamento jurídico brasileiro: • CÓDIGO CIVIL o Art. 112 – Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. o Art. 113 – Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. 5 o Art. 114 – Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. • CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR o Art. 47 - As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. Vejamos uma notícia recente no qual a hermenêutica foi crucial para o desfecho da questão: EXEMPLO [...] Em ata de audiência no dia 15 desetembro de 2017, o juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho não considerou como inconstitucional a norma do Conselho que proíbe a cura gay, mas disse entender que os profissionais não poderiam se ser censurados por fornecer o atendimento. Segundo o magistrado, "apenas alguns de seus dispositivos, quando e se mal interpretados, podem levar à equivocada hermenêutica no sentido de se considerar vedado ao psicólogo realizar qualquer estudo ou atendimento relacionados à orientação ou reorientação sexual". "Digo isso porque a Constituição, por meio dos já citados princípios constitucionais, garante a liberdade científica bem como a plena realização da dignidade da pessoa humana, inclusive sob o aspecto de sua sexualidade, valores esses que não podem ser desrespeitados por um ato normativo infraconstitucional, no caso, uma resolução editada pelo C.F.P.", justificou o juiz. "A fim de interpretar a citada regra em conformidade com a Constituição, a melhor hermenêutica a ser conferida àquela resolução deve ser aquela no sentido de não provar o psicólogo de estudar ou atender àqueles que, voluntariamente, venham em busca de orientação acerca de sua sexualidade, sem qualquer forma de censura preconceito ou discriminação. Até porque o tema é complexo e exige aprofundamento científico necessário." (Notícia do dia 24/04/2019). 6 Exercícios 1. (OAB X – FGV – 2013) A hermenêutica aplicada ao direito formula diversos modos de interpretação das leis. A interpretação que leva em consideração principalmente os objetivos para os quais um diploma legal foi criado é chamada de: a) Interpretação restritiva, por levar em conta apenas os objetivos da lei, ignorando sua estrutura gramatical. b) Interpretação extensiva, por aumentar o conteúdo de significado das sentenças com seus objetivos historicamente determinados. c) Interpretação autêntica, pois apenas as finalidades da lei podem dar autenticidade à interpretação. d) Interpretação teleológica, pois o sentido da lei deve ser considerado à luz de seus objetivos. 2. ANALISTA DE CONTROLE – TCE/PR – FCC – 2011) Quando a interpretação de uma Constituição estrita se altera em decorrência da mudança dos valores e do modo de compreensão de uma sociedade, mesmo sem qualquer alteração formalmente realizada, no texto constitucional, pelo Poder Constituinte Derivado Reformador, está-se diante de uma: a) Interpretação histórica. b) Interpretação normativa. c) Desconstitucionalização. d) Mutação constitucional. e) Hermenêutica geracional. Gabarito 1. Resposta correta: d). Pois a interpretação teleológica é a que busca a análise do fim da norma. Temos como exemplo, uma norma que garanta concessão de medicamentos importados. A interpretação teleológica vai se preocupar em cumprir este propósito. 2. Resposta correta: d). A sociedade muda seus conceitos de tempos em tempos. É muito comum perceber os fatos sociais de maneira diversa com o passar dos anos. Podemos notar essa mudança de conceitos através da união estável entre pessoas do mesmo sexo que hoje é vista com extrema normalidade, diferente de 25 anos atrás, por exemplo. Com isso, a própria lei também sofre um processo de releitura e reinterpretação mesmo que seu texto não tenha sofrido alteração. 7 Resumo Nesta apostila, fizemos o estudo da hermenêutica. Começamos ao falar sobre o ato de interpretar, quando vimos que interpretar é dar vida à lei, pois interpretar a norma é relevar seu significado. Entendemos que pela interpretação, o operador do direito estabelece o exato sentido da norma e as suas consequências jurídicas. Vimos que a norma jurídica deve ser interpretada e que existem meios para isso. Por fim, aprendemos que a técnica especifica de interpretação jurídica é chamada hermenêutica. Dentre as técnicas interpretativas, estudamos a interpretação literal ou gramatical, que busca o sentido das palavras usadas pelo legislador; a interpretação lógica, que busca o fim pretendido com a lei, a sua razão; a interpretação sistemática, que busca uma interpretação compatível com o ordenamento jurídico como todo, adaptando-o ao espirito do sistema; a interpretação histórica, que leva em conta o momento histórico e social em que é interpretada a norma; e a interpretação teleológica ou sociológica que analisa a finalidade da norma, o fim que a mesma pretende alcançar. Ao levar em conta os resultados ou efeitos da norma jurídica, a interpretação pode ser extensiva, quando o intérprete estende o sentido da lei; restritiva, quando a interpretação tem que restringir a lei; e declarativa, quando a lei escrita corresponde exatamente ao resultado que dela se esperava. Vimos ainda a interpretação quanto às fontes, divididas em: autêntica, a realizada pelo próprio legislador, através da lei; a jurisprudencial, realizada pelos juízes, através das decisões judiciais, sentenças, acórdãos, etc.; a administrativa, realizada pelos órgãos administrativos, através de seus despachos, portarias, regimentos, instruções normativas, etc.; a doutrinária, proveniente dos estudiosos do direito, da doutrina, com certo grau de espirito científico; e por fim, a interpretação conforme a Constituição. 8 Referências bibliográficas AFFONSO, Julia. Cármen Lucia suspende ação e barra `cura gay`. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2019/04/24/carmen-lucia-suspende-acao-e-barra- cura-gay.htm>. Acesso em: 06.05.2019 às 20h45min. FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Coleção Concursos: técnico e analista: questões comentadas – São Paulo: Saraiva, 2014. Disponível em: <www.lelivros.love>. Acesso em: 12/02/2019 às 15h42min. GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à ciência do direito. 6ª ed. reestruturada. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1973. REALE, Miguel. Lições preliminares do Direito. 27ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2002. Disponível em: <www.lelivros.love>. Acesso em: 11/02/2019 às 08h00.
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