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INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE O direito de propriedade consiste em um direito individual que assegura a seu titular uma série de poderes de cunho privado, civilista, dentre os quais estão os poderes de usar, gozar, usufruir, dispor e reaver um bem, de modo absoluto, exclusivo e perpétuo, com fundamento no art. 5º, XXII e XXIII, da CF/88. O caráter absoluto da propriedade garante ao proprietário o direito de dispor da coisa como bem entender, sujeito apenas a determinadas limitações impostas pelo direito público e pelo direito de propriedade de outros indivíduos. Caráter exclusivo significa exercer sozinho o direito (sem interferência de outros), portanto um mesmo bem não pode pertencer com exclusividade e simultaneamente a duas pessoas, já que o direito de um exclui o de outro. Intervenção na Propriedade A intervenção na propriedade pode ser conceituada como toda e qualquer atividade estatal que, amparada em lei, tenha por objetivo ajustá-la à função social à qual está condicionada ou condicioná-la ao cumprimento de uma finalidade de interesse público. Em regra, o Poder Público não intervirá na propriedade do particular, só sendo isso possível excepcionalmente, nas hipóteses autorizadas pelo ordenamento jurídico. Modalidades de Intervenção Intervenção restritiva » hipótese em que o Estado impõe restrições e condiciona o uso da propriedade, sem, no entanto, retirá-la de seu dono. O proprietário, apesar de conservar a propriedade, não poderá utilizá-la a seu exclusivo critério, devendo subordina-se às imposições emanadas do Poder Público. Enquadram-se nesse conceito as seguintes modalidades: limitação administrativa, servidão administrativa, requisição, ocupação temporária e tombamento. Intervenção Supressiva » Hipótese em que o Estado transfere coercitivamente para si a propriedade de terceiro, em virtude de um dos fundamentos previstos em nosso ordenamento jurídico. Enquadra-se nesse conceito a desapropriação. Vale lembrar que, nas inúmeras formas de intervenção, o Poder Público vai atingir elementos diferentes do direito de propriedade, o que significa dizer que a restrição ora atinge o caráter absoluto, restringindo a liberdade do proprietário em face do bem, ora atinge a exclusividade, deixando o proprietário de ter o seu uso exclusivo. Por fim, na hipótese mais extrema, a intervenção estatal poderá atingir a perpetuidade, no qual o Estado transfere para si a propriedade de terceiro. Intervenções Restritivas: Limitações administrativas Limitações administrativas correspondem a intervenções gerais, incidentes sobre bens móveis ou imóveis, sem identificação do particular afetado. Como se trata de intervenção de caráter geral, as limitações administrativas não dão direito à indenização; atinge toda uma coletividade de particulares; traduz o exercício do poder de polícia do Estado. Atenção! Essa modalidade de intervenção impõe obrigações negativas, positivas e permissivas. » obrigações negativas, ex: altura máxima de prédios junto a orla da cidade (gabarito), rodízio de veículos (idéia da supremacia do interesse público sobre o direito privado). » obrigações positivas, ex: dever do proprietário de aparar o mato e cuidar da vegetação as margens das rodovias, parcelamento e a edificação compulsórios. » obrigações de suportar (permissivas), ex: suportar uma fiscalização, estudo de impacto de vizinhança. Art. 182, parágrafo 4º da CF/88. Art. 25, da lei 10.257/01. Art. 36, da lei 10.250/01. Obs* - Em virtude do seu caráter de generalidade, normalmente, a limitação administrativa produz efeitos ex nunc. Requisições Requisição é uma modalidade de intervenção do estado sobre bens móveis, imóveis e também sobre serviços particulares, em situação emergencial e de perigo público iminente; ex: enchentes, desastres, calamidade pública; se não há caráter emergencial, não que se falar em requisição; a propriedade é garantida e deve cumprir a sua função social, mas a medida interventiva pode ocorrer em virtude da supremacia do interesse público; A requisição dá direito a indenização posterior, em caso de dano. Art. 5º, XXV, CF/88 Art. 1.228, parágrafo 3º, CC A questão do direito à indenização Aplicando o Art. 10, § único do Decreto lei 3365/41, estabelece que a ação de reparação (indenizatória) nessas hipóteses de dano, prescreve no prazo de 05 anos, contados do início da restrição sofrida pelo particular. Art. 1º do Decreto 20.910/32 Ocupação temporária Ocupação temporária corresponde a espécie de intervenção do Estado, incidente sobre imóveis vizinhos a obra públicas, buscando viabilizar a sua execução; incide também para viabilizar a realização de certos serviços públicos; o art. 36 do decreto-lei 3365/41 traz uma sede legal à ocupação temporária; ex: escolas públicas utilizadas para as eleições. Obs*- Para efeito de ocupação temporária, são considerados de forma ampla o conceito de “vizinho” e o conceito de obra pública; o conceito de obra também é amplo; ex: considera-se como obra pública perfuração de poços e escavações arqueológicas. Art. 36, Decreto-lei 3.365/41. A questão do direito à indenização A semelhança do que ocorre com a requisição, a ocupação temporária dá direito a indenização posterior em caso de dano. Prescrição: o prazo prescricional é de 05 anos. A ocupação temporária nesse contexto submete-se aos mesmos artigos 10, § único do decreto-lei 3.365/41 e art. 1º do decreto 20.910/32, ou seja, a prescrição se dá no prazo de 05 anos. Servidão administrativa Servidão corresponde à modalidade de intervenção do Estado, que se configura como um direito real público, através da qual se viabiliza a execução de obra e serviços públicos de interesse coletivo, bem como, também se proporciona o seu uso; ex: servidão de energia elétrica, dutos. Na servidão administrativa, em regra, a coisa dominante é sempre um serviço público e os bens e obras necessários à execução desses serviços. E, a coisa serviente é a propriedade imóvel do particular. Incide sobre bens imóveis determinados (determinando = dá direito a indenização) e tem caráter perpétuo. Caso interessante! Segundo boa parte da doutrina, o limite de altura de prédios próximos a pistas de pousos se caracteriza não como limitação administrativa, mas como servidão administrativa, tendo em vista que a causa, o motivo da restrição imposta ao particular decorre do serviço de tráfego aéreo; próximo as pistas de pouso proibi-se também a instalação de rádio amador (interfere na comunicação), luzes de neon, cores em prédios que dificultem a visibilidade da pista (ex: prédios espelhados também são proibidos); é uma servidão porque não tem caráter geral. Art. 40, Decreto-lei 3.365/41. Formas de instituição e a questão do direito à indenização. As servidões não têm natureza auto-executória. A propósito, podem ser instituídas através de acordo (transação), sentença judicial ou lei (alguns doutrinadores não admitem servidão instituída por lei – corrente minoritária). Quando imposta mediante sentença ou acordo dará direito a indenização, quando decorrente de lei não daria direito a indenização (segundo corrente majoritária). Atenção! Servidão é uma espécie de intervenção restritiva, de modo que a utilização do bem pelo particular deve ser resguardada, caso contrário, se a restrição acabar por impedir o uso do bem, nós teremos na verdade uma supressão da propriedade, o que caracterizaria uma “desapropriação indireta”. Extinção A servidão é um direito real, que incide sobre a coisa e tem caráter perpétuo; a extinção da servidão se dará quando se tornar desnecessário o serviço público. Obs* - As servidões devem ser inscritas (registradas) junto à matrícula do imóvel (no cartório de imóveis / ciência à terceiros). Tombamento Espécie de intervenção do Estado sobre a propriedade privada, que visa à proteção do patrimônio estético, histórico, cultural e artístico nacional; ex: Cristo Redentor. Tombamentoincide sobre bens moveis ou imóveis, corpóreos ou incorpóreos; O tombamento é efetivado através de órgãos ou entidades públicas. No plano federal a competência é do IPHAN. Diferentemente das espécies até aqui estudadas, o tombamento tem uma sede constitucional e uma legislação própria. Art. 216, §1º e §5º da CF/88 e Art. 215 da CF/88; Decreto-lei 25/37 Efeitos (arts. 11 a 22, do DL 25/37) O tombamento opera efeitos quanto: aos proprietários, ao órgão ou entidade responsável pelo tombamento, aos vizinhos ao bem tombado. Quanto aos proprietários - têm o dever de conservação da coisa; não pode alterar a coisa; em caso de retirada do bem do país, o proprietário deve buscar primeiro a autorização da entidade tombadora. Ademais, o proprietário, em caso de alienação onerosa do bem tombado, deveria assegurar o direito de preferência ao Poder Público. No entanto, com o advento do novo CPC de 2015, o referido direito de preferência deixou de existir. Art. 22, do Decreto-Lei 25/37. Quanto ao órgão ou entidade “tombadora”- o órgão ou entidade responsável pelo tombamento tem o dever de fiscalização e também o dever de conservação, quando o proprietário não tiver condições materiais de realizar a conservação. Uma vez tornando-se “público” o bem tombado, ficará inalienável (casa com valor histórico e cultural que é transformada em museu). Art. 11 do Decreto-Lei 25/37. Quanto aos vizinhos - os vizinhos aos bens tombados podem sofrer uma espécie de servidão administrativa, dentro da denominada área de entorno; essa servidão impede construções, colocação de placas, de cores que prejudiquem a visibilidade do bem tombado. Art. 18, do Decreto-Lei 25/37. Tombamento Geral x Tombamento Individual Tombamento individual é quando atinge um bem determinando, ex: Casa de Santos Dumont; tombamento geral quando atinge uma coletividade de bens, ex: Pelourinho, Centro Histórico de Olinda. Atenção! O tombamento definitivo de bens imóveis deve ser inscrito junto ao cartório de registro de imóveis; para dar ciência à terceiros. O tombamento de ofício é aquele que atinge os bens públicos; tombamento mediante processo atinge bem privado, que pode ser voluntário ou compulsório; voluntário quando o particular pede ou aceita o tombamento (não é muito comum); compulsório quando o proprietário não aceita, resiste ao tombamento (deve-se garantir a ampla defesa e o contraditório, bem como, o do devido processo legal). Atenção! O bem tombado pode ser objeto de destombamento. Arts. 5º, 7º e 8º, do Decreto-Lei 25/37. Em regra, o tombamento não gera direito a indenização, entretanto, quando o tombamento diminui excessivamente o valor da coisa, poderá dar direito a indenização (prazo prescricional de 05 anos).
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