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Aula 02 ADM II - Novo Intervenção do Estado na Propriedade

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INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE
O direito de propriedade consiste em um direito individual que assegura a seu titular uma série de poderes de cunho privado, civilista, dentre os quais estão os poderes de usar, gozar, usufruir, dispor e reaver um bem, de modo absoluto, exclusivo e perpétuo, com fundamento no art. 5º, XXII e XXIII, da CF/88.
O caráter absoluto da propriedade garante ao proprietário o direito de dispor da coisa como bem entender, sujeito apenas a determinadas limitações impostas pelo direito público e pelo direito de propriedade de outros indivíduos. Caráter exclusivo significa exercer sozinho o direito (sem interferência de outros), portanto um mesmo bem não pode pertencer com exclusividade e simultaneamente a duas pessoas, já que o direito de um exclui o de outro.
Intervenção na Propriedade
A intervenção na propriedade pode ser conceituada como toda e qualquer atividade estatal que, amparada em lei, tenha por objetivo ajustá-la à função social à qual está condicionada ou condicioná-la ao cumprimento de uma finalidade de interesse público. Em regra, o Poder Público não intervirá na propriedade do particular, só sendo isso possível excepcionalmente, nas hipóteses autorizadas pelo ordenamento jurídico.
Modalidades de Intervenção 
Intervenção restritiva » hipótese em que o Estado impõe restrições e condiciona o uso da propriedade, sem, no entanto, retirá-la de seu dono. O proprietário, apesar de conservar a propriedade, não poderá utilizá-la a seu exclusivo critério, devendo subordina-se às imposições emanadas do Poder Público. Enquadram-se nesse conceito as seguintes modalidades: limitação administrativa, servidão administrativa, requisição, ocupação temporária e tombamento.
Intervenção Supressiva » Hipótese em que o Estado transfere coercitivamente para si a propriedade de terceiro, em virtude de um dos fundamentos previstos em nosso ordenamento jurídico. Enquadra-se nesse conceito a desapropriação. 
	
Vale lembrar que, nas inúmeras formas de intervenção, o Poder Público vai atingir elementos diferentes do direito de propriedade, o que significa dizer que a restrição ora atinge o caráter absoluto, restringindo a liberdade do proprietário em face do bem, ora atinge a exclusividade, deixando o proprietário de ter o seu uso exclusivo. Por fim, na hipótese mais extrema, a intervenção estatal poderá atingir a perpetuidade, no qual o Estado transfere para si a propriedade de terceiro.
Intervenções Restritivas:
Limitações administrativas 
Limitações administrativas correspondem a intervenções gerais, incidentes sobre bens móveis ou imóveis, sem identificação do particular afetado. Como se trata de intervenção de caráter geral, as limitações administrativas não dão direito à indenização; atinge toda uma coletividade de particulares; traduz o exercício do poder de polícia do Estado. 
Atenção! Essa modalidade de intervenção impõe obrigações negativas, positivas e permissivas. 
» obrigações negativas, ex: altura máxima de prédios junto a orla da cidade (gabarito), rodízio de veículos (idéia da supremacia do interesse público sobre o direito privado). 
» obrigações positivas, ex: dever do proprietário de aparar o mato e cuidar da vegetação as margens das rodovias, parcelamento e a edificação compulsórios. 
» obrigações de suportar (permissivas), ex: suportar uma fiscalização, estudo de impacto de vizinhança. 
Art. 182, parágrafo 4º da CF/88. 
Art. 25, da lei 10.257/01.
Art. 36, da lei 10.250/01.
Obs* - Em virtude do seu caráter de generalidade, normalmente, a limitação administrativa produz efeitos ex nunc.
Requisições 
Requisição é uma modalidade de intervenção do estado sobre bens móveis, imóveis e também sobre serviços particulares, em situação emergencial e de perigo público iminente; ex: enchentes, desastres, calamidade pública; se não há caráter emergencial, não que se falar em requisição; a propriedade é garantida e deve cumprir a sua função social, mas a medida interventiva pode ocorrer em virtude da supremacia do interesse público; 
A requisição dá direito a indenização posterior, em caso de dano. 
Art. 5º, XXV, CF/88 
Art. 1.228, parágrafo 3º, CC 
A questão do direito à indenização 
Aplicando o Art. 10, § único do Decreto lei 3365/41, estabelece que a ação de reparação (indenizatória) nessas hipóteses de dano, prescreve no prazo de 05 anos, contados do início da restrição sofrida pelo particular.
Art. 1º do Decreto 20.910/32
Ocupação temporária 
Ocupação temporária corresponde a espécie de intervenção do Estado, incidente sobre imóveis vizinhos a obra públicas, buscando viabilizar a sua execução; incide também para viabilizar a realização de certos serviços públicos; o art. 36 do decreto-lei 3365/41 traz uma sede legal à ocupação temporária; ex: escolas públicas utilizadas para as eleições. 
Obs*- Para efeito de ocupação temporária, são considerados de forma ampla o conceito de “vizinho” e o conceito de obra pública; o conceito de obra também é amplo; ex: considera-se como obra pública perfuração de poços e escavações arqueológicas. 
Art. 36, Decreto-lei 3.365/41. 
A questão do direito à indenização 
A semelhança do que ocorre com a requisição, a ocupação temporária dá direito a indenização posterior em caso de dano. 
Prescrição: o prazo prescricional é de 05 anos. 
A ocupação temporária nesse contexto submete-se aos mesmos artigos 10, § único do decreto-lei 3.365/41 e art. 1º do decreto 20.910/32, ou seja, a prescrição se dá no prazo de 05 anos.
Servidão administrativa 
Servidão corresponde à modalidade de intervenção do Estado, que se configura como um direito real público, através da qual se viabiliza a execução de obra e serviços públicos de interesse coletivo, bem como, também se proporciona o seu uso; ex: servidão de energia elétrica, dutos. 
Na servidão administrativa, em regra, a coisa dominante é sempre um serviço público e os bens e obras necessários à execução desses serviços. E, a coisa serviente é a propriedade imóvel do particular. Incide sobre bens imóveis determinados (determinando = dá direito a indenização) e tem caráter perpétuo.
Caso interessante!
Segundo boa parte da doutrina, o limite de altura de prédios próximos a pistas de pousos se caracteriza não como limitação administrativa, mas como servidão administrativa, tendo em vista que a causa, o motivo da restrição imposta ao particular decorre do serviço de tráfego aéreo; próximo as pistas de pouso proibi-se também a instalação de rádio amador (interfere na comunicação), luzes de neon, cores em prédios que dificultem a visibilidade da pista (ex: prédios espelhados também são proibidos); é uma servidão porque não tem caráter geral. 
Art. 40, Decreto-lei 3.365/41. 
Formas de instituição e a questão do direito à indenização. 
As servidões não têm natureza auto-executória. A propósito, podem ser instituídas através de acordo (transação), sentença judicial ou lei (alguns doutrinadores não admitem servidão instituída por lei – corrente minoritária). Quando imposta mediante sentença ou acordo dará direito a indenização, quando decorrente de lei não daria direito a indenização (segundo corrente majoritária).
Atenção! Servidão é uma espécie de intervenção restritiva, de modo que a utilização do bem pelo particular deve ser resguardada, caso contrário, se a restrição acabar por impedir o uso do bem, nós teremos na verdade uma supressão da propriedade, o que caracterizaria uma “desapropriação indireta”. 
Extinção
A servidão é um direito real, que incide sobre a coisa e tem caráter perpétuo; a extinção da servidão se dará quando se tornar desnecessário o serviço público. 
Obs* - As servidões devem ser inscritas (registradas) junto à matrícula do imóvel (no cartório de imóveis / ciência à terceiros). 
Tombamento 
Espécie de intervenção do Estado sobre a propriedade privada, que visa à proteção do patrimônio estético, histórico, cultural e artístico nacional; ex: Cristo Redentor. 
Tombamentoincide sobre bens moveis ou imóveis, corpóreos ou incorpóreos; 
O tombamento é efetivado através de órgãos ou entidades públicas. No plano federal a competência é do IPHAN. 
Diferentemente das espécies até aqui estudadas, o tombamento tem uma sede constitucional e uma legislação própria.
Art. 216, §1º e §5º da CF/88 e Art. 215 da CF/88; 
Decreto-lei 25/37 
Efeitos (arts. 11 a 22, do DL 25/37) 
O tombamento opera efeitos quanto: aos proprietários, ao órgão ou entidade responsável pelo tombamento, aos vizinhos ao bem tombado. 
Quanto aos proprietários - têm o dever de conservação da coisa; não pode alterar a coisa; em caso de retirada do bem do país, o proprietário deve buscar primeiro a autorização da entidade tombadora.
Ademais, o proprietário, em caso de alienação onerosa do bem tombado, deveria assegurar o direito de preferência ao Poder Público. No entanto, com o advento do novo CPC de 2015, o referido direito de preferência deixou de existir. 
Art. 22, do Decreto-Lei 25/37. 
Quanto ao órgão ou entidade “tombadora”- o órgão ou entidade responsável pelo tombamento tem o dever de fiscalização e também o dever de conservação, quando o proprietário não tiver condições materiais de realizar a conservação. 
Uma vez tornando-se “público” o bem tombado, ficará inalienável (casa com valor histórico e cultural que é transformada em museu).
Art. 11 do Decreto-Lei 25/37. 
Quanto aos vizinhos - os vizinhos aos bens tombados podem sofrer uma espécie de servidão administrativa, dentro da denominada área de entorno; essa servidão impede construções, colocação de placas, de cores que prejudiquem a visibilidade do bem tombado. 
Art. 18, do Decreto-Lei 25/37. 
Tombamento Geral x Tombamento Individual
Tombamento individual é quando atinge um bem determinando, ex: Casa de Santos Dumont; tombamento geral quando atinge uma coletividade de bens, ex: Pelourinho, Centro Histórico de Olinda. 
Atenção! O tombamento definitivo de bens imóveis deve ser inscrito junto ao cartório de registro de imóveis; para dar ciência à terceiros. 
O tombamento de ofício é aquele que atinge os bens públicos; tombamento mediante processo atinge bem privado, que pode ser voluntário ou compulsório; voluntário quando o particular pede ou aceita o tombamento (não é muito comum); compulsório quando o proprietário não aceita, resiste ao tombamento (deve-se garantir a ampla defesa e o contraditório, bem como, o do devido processo legal). 
Atenção! O bem tombado pode ser objeto de destombamento. 
Arts. 5º, 7º e 8º, do Decreto-Lei 25/37.
Em regra, o tombamento não gera direito a indenização, entretanto, quando o tombamento diminui excessivamente o valor da coisa, poderá dar direito a indenização (prazo prescricional de 05 anos).

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