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Uma família desmantelada

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Uma família desmantelada 
 
Colaboração: Pr. Caramuru Afonso Francisco 
Texto bíblico - Jz.17 
Considerado um dos livros históricos, porque tem por finalidade a narrativa dos fatos ocorridos na 
história de Israel desde a instalação na Terra Prometida até os dias de Sansão, o antepenúltimo juiz 
de Israel, o livro de Juízes tem uma peculiaridade que o singulariza em relação aos demais livros 
históricos. Embora seja um livro histórico, em Juízes não há uma preocupação cronológica, como 
era de se esperar de uma obra com estes propósitos, tanto que, após ter narrado o trágico fim de 
Sansão, o seu autor passa a contar alguns episódios que não guardam qualquer correspondência 
cronológica com o período de Sansão, inclusive nem sequer se referindo à subida de Eli à função de 
juiz de Israel, do que ficamos sabendo somente no primeiro livro de Samuel. 
Com efeito, a partir do capítulo 17, o livro de Juízes narra episódios que estão desconectados 
cronologicamente da seqüência vivida até o capítulo 16 e tudo leva a crer que os fatos ali narrados 
se deram no início do período dos juízes, ou seja, durante o período que havia sido narrado no 
início do livro. 
São episódios que têm, entretanto, um alto significado para o propósito do autor do livro, que outro 
não é, como vemos estampado no capítulo 2 desta obra, que o de revelar a inconstância e a 
infidelidade de Israel a Deus no seu cotidiano, a despeito da fidelidade sempre presente e da 
constância do seu Deus. 
O primeiro dos episódios deste final cronologicamente desconectado do livro dos Juizes é o que nos 
chama a atenção neste instante e sobre o qual refletiremos um pouco. 
Diz o historiador que, na montanha de Efraim, havia um homem chamado Mica. 
É este o primeiro personagem a ser tratado neste capítulo, que se caracterizará por uma narrativa 
doméstica, destinada a nos mostrar o estado espiritual das famílias de Israel neste instante de sua 
história. 
De pronto, já vemos que a perspectiva do escritor sagrado é das mais elogiáveis e das mais 
avançadas em termos sociológicos, para nos utilizarmos de uma expressão do nosso tempo. 
Ao lado das peripécias e tormentas políticas vividas pelo povo de Israel, que denunciavam a 
fragilidade e inconstância espirituais do povo escolhido de Deus, o escritor sagrado não deixa de 
também vislumbrar a origem de todo este estado de coisas, voltando-se para a sociedade e , na 
sociedade, para a sua célula-mater, que outra não é senão a família. 
Todos nós já ouvimos e é fato notório que a família é a base de toda a sociedade (aliás, nossa 
Constituição o diz explicitamente no seu artigo 226), mas, apesar disto, comportamo-nos como se 
disso não soubéssemos. 
Embora seja dito e proclamado por todos que a família é a base da sociedade, dela não estamos 
cuidando, com ela não estamos nos preocupando e, lamentavelmente, tem ela alcançado níveis 
mínimos de prioridade na vida de milhões e milhões de seres humanos, inclusive os que servem a 
Deus. 
O resultado desta postura é a desgraça vivida pelos lares na atualidade, desgraça esta que tem sido 
a fonte principal dos principais problemas existentes no mundo hoje em dia. 
Deus foi o criador da família, como bem sabemos. Ao decidir criar a mulher para que o homem não 
estivesse só (Gn.2:18), Deus atestou, como autor daquela obra-prima, que era o homem, que este ser 
era um ser social e, como tal, para que alcançasse a sua plenitude, deveria viver em grupo, em 
sociedade, pois só assim, inclusive, poderia dedicar-se à sua maior tarefa, que era a de adorar a 
Deus e demonstrar, ao universo, o Seu grande amor. 
Sendo, pois, uma instituição criada por Deus e que serviria de garantia de cumprimento da 
finalidade maior do ser humano, certamente a família seria um dos principais alvos do inimigo do 
homem, do adversário, cujo trabalho não é senão matar, roubar e destruir (Jo.10:10). 
Por este motivo, desde os primórdios da história humana, buscou desmoronar as estruturas 
familiares, pois, derrubada esta verdadeira parede de proteção criada por Deus para garantia da 
comunhão do homem com seu Criador, seu trabalho de destruição e morte fica sobremodo 
facilitado. 
Assim, que, já desde o início, quando da queda do primeiro casal, passou a haver uma desarmonia e 
uma desigualdade nas relações familiares, que foram se ampliando muitíssimo ao longo dos séculos. 
A sociedade corrupta e violenta dos dias de Noé tinha como uma de suas principais causas a 
desagregação familiar. O próprio Jesus nos diz que, naqueles dias, as pessoas "casavam-se e 
davam-se em casamento" (Mt.24:38), numa clara demonstração de que não havia respeito para 
com a instituição do matrimônio, como é a vontade de Deus (Cf. Hb.13:4), bem como havia uma 
liberalização excessiva dos costumes, a permitir esta triste situação. 
Aliás, já naquela época, a começar pela descendência de Caim, havia um total descuido com relação 
ao estabelecimento de padrões familiares aceitáveis diante de Deus, tanto que se adotara a 
poligamia, como nos dá conta Lameque (Gn.4:19) e da prostituição, pois, segundo a tradição 
judaica, este foi o caminho tomado por Naamá (Gn.4:22). 
Percebe-se, a partir desta civilização antediluviana, que o primeiro passo para a destruição das 
grandes civilizações na história humana, foi a derrocada dos laços familiares, pois a destruição da 
família faz com que toda a sociedade, não muito tempo depois, sucumba de forma irremediável. 
Este sucumbir, aliás, não é meramente material, mas, e principalmente, espiritual, pois privado o 
homem desta rede de segurança e proteção que é a família, estará privado de qualquer educação 
espiritual e, portanto, será um alvo muito mais fácil dos ardis do adversário, que o levarão, 
inexoravelmente, ao mundo da iniqüidade e da perdição. 
A desagregação familiar é o fator mais poderoso e condição necessária para que se tenha a 
derrocada de uma sociedade e a própria desestruturação tanto do indivíduo quanto do tecido 
social. 
O próprio Deus, através de Moisés, não deixou de registrar que o fator que permitiria a 
continuidade do povo de Israel como um reino sacerdotal e uma propriedade peculiar de Deus 
dentre os povos (Cf.Ex.19:5,6) seria a vida familiar, onde seria possível a transmissão, a todo 
tempo, dos mandamentos do Senhor (Dt.6:7-9), não tendo a sensibilidade do salmista deixado 
escapar que a fonte da destruição seria, exatamente, a falha nesta transmissão (Sl.78:1-8). 
Muitos estudiosos dos problemas sociais vêem, com razão, a má distribuição de renda, as 
desigualdades sociais, a pobreza, a má qualidade da educação de grande parte da população, entre 
outros, como importantes fatores para as mazelas sociais que vivenciamos, mas a desintegração 
familiar é, de todos, o fator mais importante e o que propicia, inclusive, o desenvolvimento de 
outros que levam às circunstâncias particularmente adversas que presenciamos. 
Este capítulo 17 do livro dos Juízes é uma verdadeira ilustração do que estamos a dizer. 
Mica morava na montanha de Efraim, lugar dos melhores da Terra Prometida, recentemente 
ocupada pelos hebreus. 
Era um local extremamente fortificado, cujos moradores se notabilizavam pela qualidade de seus 
carros de guerra (Cf.Js.17:17,18), sendo um lugar de exuberante vegetação, chamada de bosque, 
isto em meio a uma terra desértica, como é a Palestina. 
Era, também, uma região de clima mais ameno, diante da altitude e que, portanto, combinava 
elementos plenamente favoráveis para uma vida material próspera e agradável. 
Mas Mica não só morava num lugar próspero, como também era de uma família próspera, pois é 
dito que sua mãe havia perdido mil e cem moedas de prata, uma das maiores quantias mencionadas 
na Bíblia que estivessem em poder de uma famíliacomum, como era a família de Mica. 
Lembremo-nos de que um bom escravo valia trinta moedas de prata (Ex.21:32) e, portanto, a mãe 
de Mica perdeu uma quantia que permitia comprar trinta e oito escravos ! 
Vejam, ainda, que isto foi o que a mãe de Mica pensou ter perdido, ou seja, a fortuna da família era 
bem maior do que isto. 
Vê-se, portanto, que a família morava num lugar bom e possuía uma condição econômico-
financeira muito boa, mas, nem por isso, era uma família que pudesse ser tomada como exemplo 
para o país. Muito pelo contrário, ela é inserida nas Escrituras Sagradas exatamente para nos 
mostrar como uma família pode desencadear um mal eterno e perpétuo para um povo, mesmo um 
povo escolhido por Deus, como era Israel, precisamente por não se estruturar debaixo da Palavra 
de Deus. 
A família de Mica será a ilustração do escritor sagrado do livro dos Juízes de que não basta uma 
boa situação econômico-financeira, uma boa posição social, uma boa educação para que uma 
família seja bem estruturada e possa contribuir para a melhoria das condições de vida da 
sociedade, mas que o fundamento de uma família deve ser, sempre, a submissão à Palavra de Deus. 
Pois bem, percebe-se, de pronto, que, apesar de toda a situação econômico-financeira favorável, 
Mica era um ladrão. 
Com efeito, as mil e cem moedas de prata que haviam se perdido, na verdade, diz-nos o texto 
sagrado (Jz.17:17), haviam sido furtadas por Mica. Mica era, pois, um ladrão e não poupava sequer 
a sua mãe ! 
Para Mica chegar a esta situação, a de ser um ladrão apesar de toda a sua boa condição econômico-
financeira, havia de existir uma razão, um motivo determinante, pois isto não se dá à toa, sem 
qualquer motivo ou razão. Aliás, ensinam os estudiosos do direito penal, que não há crime sem 
motivo. 
O principal motivo de Mica ter se tornado ladrão foi a má perfomance de sua mãe no seu papel de 
educadora. 
Como podemos demonstrar que a mãe de Mica falhou na formação espiritual e moral de seu filho ? 
Em primeiro lugar, vemos que a mãe de Mica, o segundo personagem que surge neste texto que 
estamos estudando, era uma mulher que não dava exemplo de serva de Deus. 
Com efeito, diz a Bíblia que, quando perdeu as moedas, não cansava de "deitar maldições" por esta 
perda (Jz.17:2). 
Ora, a Palavra nos ensina que a boca fala do que o coração está cheio (Mc.7:20-23) e, deste modo, se 
aquela mãe amaldiçoava incessantemente, a ponto de seu filho dizer que era o que ouvia de sua mãe 
constantemente (Jz.17;2), vemos que o coração daquele mulher estava cheio de maldade e de 
avareza. 
Triste é a família em que os pais, que são os sacerdotes do lar (aliás, a palavra lar é latina e 
designava, exatamente, o lugar de adoração na casa, bem como os próprios antepassados que eram 
adorados neste culto doméstico, os denominados "deuses lares", ou seja, é palavra que tinha como 
significado primeiro o de ser o aspecto espiritual da família), são os primeiros a ter seus corações 
cheios de maldade e de pecado, são os primeiros a indicarem, aos filhos, o caminho largo e espaçoso 
da perdição. 
Aquela mulher, em primeiro lugar, tinha seu coração cheio de maldade e de pecado, de forma que 
seu filho somente ouvia de sua boca maldições. Era isto que aprendia com sua mãe: a amaldiçoar, a 
desejar o mal para o próximo, a colocar seus bens materiais acima de todas as preocupações da 
vida. 
Lamentavelmente, este é quadro da esmagadora maioria das famílias em nossa sociedade, nos dias 
de hoje. Muitos não têm qualquer temor de Deus e demonstram isto aos seus filhos que, 
naturalmente, tendem a imitá-los e apreender o "modus vivendi" daqueles que são seus exemplos. 
Se os pais se conscientizassem quanto representam seus gestos e atitudes para seus filhos, 
certamente tomariam muito mais cuidado no seu cotidiano, no seu dia-a-dia, pois estas ações são 
captadas pelos filhos, ainda que de tenra idade (aliás, quanto mais tenra a idade, maior a captação 
destes exemplos, pois o juízo crítico estará menos desenvolvido e a imitação será mais automática), 
não havendo como, posteriormente, tentar-se incutir um outro "modus vivendi", pois o exemplo 
falará muito mais forte do que qualquer preceito ou ensinamento em contrário, ensinamento 
contrário este que ficará desmoralizado e que comprometerá a autoridade dos pais se não 
acompanhado do exemplo de vida do ensinador. 
A mãe de Mica era uma pessoa costumada a amaldiçoar, a maldizer, a desejar o mal dos outros, 
preocupando-se com a vida alheia e nem sequer sabendo o que se passava na sua própria casa. 
Outra característica que percebemos na vida desta mulher é que, além de ter um coração cheio de 
maldade, era uma mulher muito preocupada com as coisas materiais e com a vida alheia, mas 
totalmente ausente na sua própria casa. 
Podemos afirmar isto porque a mulher resolveu amaldiçoar a tudo e a todos pelo desaparecimento 
de suas mil e cem moedas de prata mas não se deu conta de que o ladrão era o seu próprio filho. 
Aliás, só o soube porque Mica, cansado de ouvir tantas maldições, resolveu confessar o crime para 
a sua mãe. 
Isto demonstra que a mãe de Mica estava completamente alheia ao que se desenvolvia na sua casa e 
que nem sequer desconfiava de que seu filho era um ladrão. 
Um dos graves problemas que a família tem enfrentado nos nossos dias é, precisamente, a falta de 
comunicação entre pais e filhos. A vida corrida dos dias de hoje, a necessidade de a mulher 
ingressar no mercado de trabalho e a absorção do tempo restante pelos meios de comunicação (em 
especial, a televisão), fazem com que não haja sequer diálogo entre pais e filhos nos nossos dias, de 
modo que os pais são verdadeiros estranhos no acompanhamento do desenvolvimento das crianças 
e adolescentes. 
Esta dura realidade faz com que tenhamos muitas mães de Mica, pessoas que têm suas atenções 
voltadas para tantas e tantas coisas no dia-a-dia de nossa vida agitada, mas que não têm tempo 
para sequer travar uma conversa ou fazer uma brincadeira com seus filhos. 
O resultado é que os filhos se sentem sós e carentes de afeição e de carinho, não sentem o amor, a 
companhia que, como já dissemos supra, é essencial para o ser humano, que foi feito não para se 
sentir só, mas para ter companhia, não só a divina, mas também a do semelhante. 
Este vazio que começa a ser criado é uma brecha gigantesca que se abre ao inimigo das nossas 
almas e que será preenchido pela idolatria incentivada e estimulada pelos meios de comunicação e 
pela indústria do entretenimento; pelo consumismo desenfreado, em que a carência e a própria 
omissão dos pais busca ser compensada pela posse de bens materiais e pelas mensagens satanistas 
de erotização (o despertamento precoce do desejo sexual, onde se buscará a afeição perdida), de 
banalização da violência e de disseminação das drogas. 
Urge que os pais, notadamente os que são servos de Deus, acordem, o quanto antes, para esta triste 
realidade, que tem sido um fator preponderante para a destruição das famílias e, por conseguinte, 
da nossa sociedade, de que a família é a principal célula. 
A Bíblia ordena aos pais que instruam seus filhos, que os ensinem no caminho que devam andar, 
que sejam seus companheiros e amigos. Não é por outro motivo que Deus Se identifica como Pai no 
Seu relacionamento com os homens. Por que Deus Se identifica como Pai ? Porque é um ser que 
pretende estar sempre ao lado do homem, em comunhão com ele, na sua comapnhia para sempre. É 
este o propósito de Deus para o homem (Ap.21:3) e por isso Se identifica como Pai (ou como mãe, 
como se vê em Is.49:15). 
Cabe, então, aqui, uma incômoda questão para cada um dos pais que acompanha esta meditação ? 
Temos sido um pai na acepçãobíblica do termo ou temos nos comportado como a "mãe" de Mica ? 
Mica havia crescido num ambiente avesso à realidade da Palavra de Deus. Sua mãe, ao invés de 
edificar a casa e de dirigir seus filhos no caminho da retidão, tinha seu coração cheio de maldade e 
de avareza, de forma que seu filho acabou apreendendo este péssimo exemplo e se enveredou pelo 
caminho da cobiça material, diríamos hoje, do consumismo desenfreado, passando a desprezar os 
mais elementares princípios morais, a ponto de furtar a sua própria mãe. 
Porém, cansado das imprecações e das "pragas" irrogadas por sua mãe, acabou confessando o 
delito e devolvendo as mil e cem moedas de prata para sua mãe. 
E aí vemos outra característica lamentável desta senhora, qual seja, diante da constatação nua e 
crua de que seu filho era um ladrão, a mãe de Mica nem sequer repreendeu seu filho, mas, bem ao 
contrário, diz-nos o texto sagrado, quis devolver o dinheiro ao filho (Jz.17:3). 
Vemos aqui a que ponto chega alguém destituído de qualquer autoridade moral como era a mãe de 
Mica. Diante da confissão do delito por parte de seu filho, a mãe não só não o disciplinou como 
ainda ratificou o gesto errôneo de seu filho, decidindo devolver o dinheiro a ele. 
Um dos graves erros a que temos assistido nos últimos dias é, precisamente, a falta de disciplina nos 
lares, erro, aliás, que, perigosamente, já está se espraiando dentro das igrejas locais, como, de resto, 
em toda a sociedade. 
A disciplina, ou seja, a correção dos erros, exige, em primeiro lugar, que se tenha um disciplinador, 
ou seja, alguém que tenha autoridade tal que seja capaz de corrigir o próximo. 
A autoridade não vem apenas da posição ou da convenção de um determinado grupo social, mas 
exige, sobretudo, o que os cientistas sociais denominam de legitimidade, ou seja, do consentimento 
do grupo, do reconhecimento do grupo de que aquela pessoa está autorizada a utilizar do poder que 
decorre de sua posição. 
A legitimidade advém de uma prática que sustenta a posição ocupada, de uma vida exemplar, de 
atitudes que confirmem a investidura ocorrida em uma determinada posição. É a legitimidade que 
dá força e autenticidade ao exercício do poder de quem ocupa um determinado lugar. 
Foi a legitimidade que causou a admiração da multidão ao término do sermão do monte 
(Mt.7:28,29), porque Jesus, ao contrário dos escribas e dos fariseus (Cf.Mt.23:2-4), vivia aquilo que 
ensinava, demonstrava com sua própria vivência a excelência da Palavra de Deus. 
Reside aqui a grande dificuldade em se falar em disciplina nos dias de hoje, porquanto, cada vez 
mais, faltam entre os ocupantes das funções disciplinadoras, quem tenha legitimidade, quem tenha 
autoridade para disciplinar. 
Não se está aqui, como alguns, querendo justificar a falta de disciplina pelo episódio da mulher 
adúltera, onde Jesus impediu a execução exatamente porque não havia ali quem não tivesse pecado, 
a não ser o próprio Jesus. Ali se tratava de uma condenação à morte e esta, mesmo, é algo que está 
além da capacidade humana, mas de disciplina, ou seja, de correção. 
Sim, a disciplina, ao contrário do que muitos têm entendido, não é uma ação senão de correção, não 
tem outro objetivo senão a restauração do errado. Trata-se de medida que tem como propósito 
apontar o erro mas com o objetivo de que o seu autor não volte mais a errar. 
Entretanto, quase não mais existem aqueles que têm legitimidade para corrigir, pois, para que 
possamos corrigir, devemos dar o exemplo e são raros aqueles que podem fazê-lo. 
É na tolerância com as mínimas coisas erradas que praticamos e consentimos que seja praticado 
que solapamos a nossa legitimidade, a nossa autoridade e, por isso, não temos mais condições de 
disciplinar o próximo, notadamente aqueles que são colocados sob nossa responsabilidade (os filhos, 
os membros da igreja local sob nossa responsabilidade etc.), o que gera o atual estado de desordem 
e de destruição do tecido social dos nossos dias. 
A mãe de Mica não tinha como disciplinar seu filho, que se revelara tão avarento quanto a mãe. A 
mãe de Mica não tinha como dar um conselho ao seu filho, de dizer que queria o seu bem, já que 
tanto o amaldiçoara. A mãe de Mica não tinha como dizer que sempre se preocupara com seu filho, 
já que nem sequer percebera que tinha sido ele o ladrão. 
Em suma: a mãe de Mica não tinha qualquer autoridade e, portanto, não havia naquele lar espaço 
para qualquer disciplina. 
Sem disciplina, não se tem a plenitude do amor na família. Sem disciplina, não se sente a filiação. 
Sem disciplina, a destruição e a morte são certas. 
Dirão alguns que a disciplina não resolve, pois os índices de violência doméstica estão aí a 
demonstrar que a busca da disciplina só gera revolta, trauma e que é mister um diálogo, uma 
convivência "de igual para igual" entre pais e filhos, uma real "democracia familiar". 
Entretanto, este ensinamento, baseado no adversário de nossas almas, é completamente errôneo e 
antibíblico. 
Quando se está a falar de disciplina, como já dissemos, estamos falando, antes de tudo, em 
autoridade legítima. 
Alguns, por não terem legitimidade, partem para a violência, para a força bruta, sendo tão 
errôneos quanto os que nada fazem, como a mãe de Mica. Não é o castigo, não é a violência que 
resolvem o problema, mas a legitimidade, é ela quem confere autoridade. 
Destarte, a violência doméstica é também fruto da falta de autoridade, sendo tão somente a outra 
reação da autoridade ilegítima, mas o erro é o mesmo. 
Dentro das igrejas locais, aliás, temos também observado estes dois extremos lamentáveis no 
tratamento dos erros cometidos pelos irmãos. Ou se estabelece a permissividade ampla, com a total 
mistura dos membros com a iniqüidade, ou, então, parte-se para a ignorância crassa, com o uso de 
mecanismos de violência, inclusive a humilhação e o desrespeito. 
Por que isto ocorre ? Porque falta, hoje, legitimidade a muitos líderes, líderes que estão 
comprometidos com tudo, menos com Deus e com Sua Palavra. Que Deus nos guarde destas mães 
de Mica que estão, indevidamente, ocupando púlpitos e cargos nas igrejas locais ! 
Pois bem, a mãe de Mica não tinha qualquer condição de disciplinar seu filho e, por isso, acabou 
querendo compensar esta falta de autoridade e de amor com a entrega das mil e cem moedas de 
prata. 
Que incoerência ! Amaldiçoou tanto pela perda da sua "fortuna" e agora resolve dá-las todas para 
o filho, o próprio ladrão ! Mais um péssimo exemplo, mais uma demonstração de falta de 
autoridade ! 
Mica, que não podia ser senão desobediente, simplesmente não aceitou a "compensação" de sua 
mãe, que, então, ficou com as moedas mas perdeu, ainda mais, a sua autoridade. 
Não ajamos como a mãe de Mica, procurando compensar com dinheiro, com bens, com qualquer 
outra coisa, o amor que devemos dar a nossos filhos. Não há o que compre na terra o nosso amor 
para com os pais e, portanto, devemos, sempre, cumprir com o papel que a Bíblia reserva aos pais: 
amemos nossos filhos e, neste amor, ousemos discipliná-los, quando preciso. 
Mas temos, ainda, ainda um triste defeito da mãe de Mica: a vida dupla. 
Recusada a doação por Mica, sua mãe revela uma outra faceta de sua personalidade corrompida. 
Diz-nos o texto sagrado que a mãe resolveu dedicar integralmente as moedas para o Senhor e, 
assim, mandou que um ourives fizesse uma imagem de escultura e fundição (Jz.17:4) . 
Esta afirmação da mãe de Mica bem demonstra que aquela mulher, como tantas outras nos seus 
dias (e nos nossos dias), tinha uma vida dupla diante de Deus. Falou em dedicação integral ao 
Senhor das moedas, mas usa apenas duzentas delas (eram mil e cem, lembram-se ?) e para que ? 
Para a elaboração de um ídolo, de uma imagemde escultura e fundição ! 
Evidentemente, quando vemos uma afirmação desta natureza, observamos como se tratava de um 
rotundo absurdo, pois aquele gesto contrariava totalmente o segundo mandamento do Decálogo, 
que era, exatamente, o de não se ter imagens de escultura representativas de qualquer ser ou objeto 
existente nos céus e na terra (Ex.20:4-6). 
Entretanto, para o "modus vivendi" daquela mulher, era algo extremamente natural, visto até 
como uma forma de se agradar a Deus, tamanha era a sua cegueira espiritual. 
Como é triste quando nos desviamos da presença de Deus e passamos a querer servi-lO segundo o 
nosso parecer e segundo os nossos conceitos. Rapidamente, afrontamos os mais elementares 
princípios divinos, precisamente porque O deixamos e passamos a satisfazer a nossa vontade. 
A mãe de Mica pensou estar fazendo uma dedicação integral a Deus quando ofereceu apenas parte 
da quantia e, ainda por cima, para a elaboração de uma imagem de escultura e fundição. 
Muitos, nos nossos dias, têm o mesmo procedimento. Dizem estar integralmente dedicados a Deus, 
mas mantêm parte de sua vida longe do senhorio de Cristo. Dizem ser integralmente dedicados a 
Deus, mas ousam selecionar o que devem, ou não, seguir, das Escrituras. Dizem ser integralmente 
dedicados a Deus, mas querem fazer o que desejam, quando desejam e como desejam. 
São estes, assim como a mãe de Mica, nada mais, nada menos que idólatras! Podem até não ter 
mandado fazer uma imagem de escultura e fundição, mas por que não o mandaram fazer ? 
Exatamente, porque já o fizeram, eles mesmos, em seus corações. E quem são estes ídolos ? Eles 
próprios. O famoso "EU" , que se constitui no maior adversário de nós mesmos, tanto que o autor 
de conhecido cântico da Harpa Cristã diz que temos de vencer a nós mesmos nesta batalha contra o 
mal. 
A "dedicação integral" da mãe de Mica, na realidade, é dedicação nenhuma. Quanto daquelas mil e 
cem moedas de prata foram dedicadas ao Senhor ? Nenhuma ! Portanto, a chamada "dedicação 
integral" não existia senão na autojustificação e na religiosidade vazia e hipócrita daquela mulher. 
Sem um coração voltado para Deus, sem disciplina, sem amor, aquele lar não poderia senão ser um 
lugar de idolatria, senão um lugar dedicado aos ídolos e ao culto de falsos deuses. 
Percebemos que aquele lar não se tornou um centro de idolatria quando o ourives entregou a 
encomenda para a mãe de Mica, mas já bem antes disto, havia ali se dedicado aquele lugar para o 
culto a falsos deuses. 
Bem antes da entrega da imagem de escultura e fundição, já se tinha o dinheiro como deus desta 
casa, como se percebeu, como já dissemos, pela própria conduta daquela mulher ao perder aquela 
quantia, como pela própria ganância e cobiça de Mica que o levaram ao furto daquelas mil e cem 
moedas de prata. 
Bem antes da entrega da imagem de escultura e fundição, já se tinha a egolatria naquela casa, em 
que cada um agia conforme o seu parecer e a sua vontade, em total desatenção aos mandamentos 
do Senhor e de Sua Palavra. 
Ah, como há diversas casas em que o Senhor é apenas citado nominalmente, talvez em orações 
mecânicas e automáticas (que são verdadeiras rezas), nas horas de refeição ou pouco antes das 
horas de dormir, mas onde, há muito, outros têm sido os verdadeiros deuses da casa ! Ah, quantos 
lares ditos cristãos em que, na verdade, há muito o Senhor deixou de ser o Rei ! 
Certa feita, ouvi um testemunho extremamente elucidativo, contado pelo saudoso pastor Vicente 
Guedes Duarte, um dos patriarcas das Assembléias de Deus no Brasil e pioneiro na missão desta 
denominação no Paraguai. Disse ele que, certa vez, tendo ido pregar em uma igreja, foi acolhido 
por uma família, onde se hospedou. Ao ali chegar, pôde ver, com grande destaque, na parede da 
sala, um quadro em que estava escrito: "Esta casa pertence ao Senhor". 
Após o jantar, o saudoso ministro do Evangelho se recolheu para um merecido descanso, mas, para 
sua surpresa, não pôde dormir diante das inúmeras discussões e agressões verbais entre os 
membros daquela casa durante toda a noite, onde não faltaram insultos e até palavras obscenas. 
Logo ao amanhecer, o pastor fez sua mala e já foi saindo, quando, então, foi interpelado pelo chefe 
da família: 
_ Pastor, já está indo embora tão cedo ? Não vai nem esperar o café da manhã ? 
O servo de Deus respondeu-lhe: 
_ Não, não posso esperar. Ao aqui chegar, vi na parede uma bonita inscrição, em que se dizia que 
esta casa era do Senhor, mas os irmãos não haviam me dito que a tinham alugado para o diabo. Até 
logo ! 
Assim tem sido a triste realidade de muitos lares que se dizem cristãos. Têm afirmado que suas 
residências são locais de adoração a Deus, mas nelas não se fazem mais cultos domésticos. Têm 
afirmado que seus lares são pedacinhos do céu, mas neles só tem havido iniqüidade, porfias e 
demonstração de todo tipo de pecado. Têm dito que seus lares são verdadeiras igrejas, mas têm 
sido, lamentavelmente, vigorosas sinagogas de Satanás. 
Quantos não têm até se recusado a entrar em algumas residências de pessoas incrédulas única e 
exclusivamente porque ali há ídolos, quando, em verdade, ídolos maiores, que não se podem 
destruir fisicamente, estão a povoar as suas próprias casas ! 
Não foi no dia em que o ourives trouxe a encomenda para a mãe de Mica que aquele lar se tornou 
idólatra. Foi a partir daí que a idolatria se fez visível e palpável, mas, bem antes, o pecado e o 
maligno já haviam dominado aquela família. 
Era uma família desmantelada, totalmente divorciada da Palavra de Deus e do genuíno culto a 
Deus. Era uma família totalmente alheia à vontade do Senhor, uma família visceralmente 
dominada pelo mal e escravizada pelo pecado. 
Uma família desta natureza é uma chaga, é um mal não só para si e para seus membros, mas para 
toda uma sociedade. 
É sintomático que o escritor do livro dos Juizes comece a relatar o lamentável estado espiritual do 
povo naquele período da história de Israel a partir de uma família, uma família que causaria, 
posteriormente, como mostra a seqüência do texto, a apostasia de um levita e de toda uma tribo de 
Israel, a tribo de Dã. 
É a partir da família que o trabalho do inimigo de nossas almas, que é roubar, matar e destruir, 
tem tido grande sucesso. A partir da família, ele não só destrói os seus indivíduos, como penetra 
seja na igreja local, seja na escola, seja na sociedade como um todo. 
Não nos esqueçamos que as igrejas locais nada mais são que a reunião das famílias dos seus 
membros. Entrar na igreja local através da família é uma grande arma satânica nestes dias, 
mormente quando falta autoridade espiritual aos chefes de família. 
A mãe de Mica exterioriza toda a sua cegueira espiritual, toda a sua apostasia quando põe dentro 
de sua casa uma imagem de escultura e fundição, mera representação, não do Senhor, como 
afirmava, mas a representação de sua avareza, de sua maldade, de seu desamor, de sua falta de 
autoridade. 
Como um abismo chama outro abismo (Sl.42:7), vemos que logo Mica progride este pecado de sua 
mãe e surge, como conseqüência disto, uma casa de deuses (Jz.17:5). Como afirma conhecido ditado 
popular, onde passa um boi, passa uma boiada. Feita a primeira imagem, logo se encarregou Mica, 
o desobediente filho, de construir uma casa de deuses. Agora, não era mais uma a imagem, mas 
havia várias imagens e, ainda por cima, fez Mica um éfode, ou seja, uma vestimenta sacerdotal. 
Percebamos que a egolatria continuava solta naquela casa. Apesar de todo o pecado, diante até da 
própria cultura religiosa israelita, era preciso, de qualquer modo, saciar aquele sentimento de 
ausência de Deus que existe em cada ser humano. 
Conhecedores da Palavra de Deus e da própria necessidadede servir e adorar a Deus, a família de 
Mica, ainda que desmantelada e apóstata, tinha de, alguma forma, fazer com que a religião 
estivesse presente naquela casa. Lógico, da forma e do modo queridos por eles. Era preciso saciar o 
"eu", o ego , que sentia falta de Deus mas queria que Deus Se adaptasse a esses anseios e vontades 
advindos da auto-suficiência. 
O adversário de nossas almas, sabedor da necessidade que o homem tem de encontrar Deus, busca, 
de todas as formas, impedir que haja o correto preenchimento desta necessidade e, portanto, tenta 
fazer com que o homem supra esta necessidade segundo os ditames da vontade do indivíduo. Assim, 
já que há um vazio que somente é preenchido por Deus, que este preenchimento se faça segundo 
ditames e regras estabelecidos pelo homem, pela sua vontade. 
Entretanto, Deus não age assim, pois é Ele o Soberano e o Senhor de toda a terra. Tem interesse, 
por Seu grande amor, e salvar o homem e com Ele viver para todo o sempre, mas isto deve ser feito 
conforme a Sua vontade. Jesus diz que quem se sentir cansado e oprimido deve ir até Ele que Ele o 
aliviará (Mt.11:28), ou seja, o alívio será dado por Deus e somente por Ele, segundo as Suas 
próprias condições. 
Querendo ter alívio segundo os seus parâmetros, querendo ter paz, bênção, prosperidade e 
comunhão com Deus, mas segundo seu pensamento, Mica e sua família constroem uma casa de 
deuses. Agora havia um compartimento especial da causa dedicado ao culto das mais diversas 
divindades e até uma vestimenta sacerdotal. 
É sempre assim: o engano, a mentira, a farsa tenta se parecer o mais possível com a verdade. O 
culto apóstata estabelecido na casa de Mica tinha até a aparência de um culto a Deus, mas não o 
era. Não nos esqueçamos que tudo aquilo que ali estava sendo criado tinha como justificativa uma 
"dedicação integral" ao Senhor. 
Hoje em dia, muitos falsos cristos, muitos falsos mestres, muitos falsos profetas têm se levantado no 
mundo e atraído a muitos. Na aparência, assemelham-se muitíssimo aos verdadeiros e genuínos 
ministros do Evangelho. Suas prédicas e ensinamentos, sutis como as serpentes, muito se parecem 
com o verdadeiro e genuíno anúncio do evangelho. Entretanto, são falsificações ! Tenhamos 
cuidado e não deixemos que a mentira nos engane, que os prodígios e as aparências tenham o 
condão de nos levar à falsidade e à perdição. 
Como se não bastasse a idolatria desenfreada daquela família, a maldição chegava à terceira 
geração. Mica, diz o texto, consagrou um de seus filhos como sacerdote. Era a inclusão de mais uma 
geração na apostasia e no desvio espiritual. 
Deve-se, aqui, por oportuno, verificar que não se estava diante de qualquer "maldição hereditária", 
como alguns destes falsificadores da Palavra de Deus têm propalado nos últimos tempos. A 
salvação de Deus é individual e decorre do exercício do livre-arbítrio de cada um, não respondendo 
os pais pelos pecados dos filhos nem os filhos pelos pecados dos pais (Cf. Ez.18:18-20). 
Entretanto, o que se observa aqui é que, quando os pais não cumprem com o seu dever de ensinar a 
Palavra de Deus aos seus filhos, transformam-se em poderosos agentes do adversário de nossas 
almas, ensinando o errado aos seus filhos que, por esta influência, acabam sendo, igualmente, 
induzidos ao erro. 
O ambiente daquela família desmantelada era francamente favorável ao pecado e ao erro e, diante 
deste ensinamento pecaminoso, tanto Mica quanto seu filho acabaram sofrendo um perverso 
processo de má formação moral e espiritual e, por causa deste processo, sem se falar na própria 
natureza pecaminosa de todo ser humano, acabaram se tornando idólatras inveterados. Era o 
resultado da péssima educação recebida. 
Depois da vestimenta, o sacerdote. Vemos como havia um interesse precípuo de fazer com que o 
culto apóstata se assemelhasse a um genuíno culto a Deus ! Que esforço inútil ! Que desperdício de 
tempo ! 
Entretanto, o mal continuava a se irradiar através daquela família, já um poderoso instrumento de 
disseminação do pecado e da iniqüidade. Chegaria, mesmo, a provocar a queda de um genuíno e 
escolhido homem de Deus. 
Como já dissemos, a família é o alvo predileto do inimigo de nossas almas, porque, através dela, o 
adversário atinge, a um só tempo, tanto os indivíduos que a compõem como a sociedade como um 
todo, pois, como se costuma dizer, é a família a “célula mater” do corpo social, a base da sociedade, 
para, aqui, nos utilizarmos de expressão adotada pela Constituição brasileira. 
A partir do momento que a família se deixa envolver pelos laços do adversário de nossas almas, 
passa a ser um vigoroso instrumento para o trabalho do diabo, que outro não é senão roubar, 
matar e destruir (Jo.10:10). 
A família de Mica já havia cedido aos encantos do adversário e se tornara um centro de idolatria e, 
agora, seria um instrumento poderoso para a queda de um levita. 
Narra-nos o texto sagrado que, certa feita, um mancebo de Belém de Judá, da tribo de Judá, que 
era levita, peregrinava pela montanha de Efraim e, o que é importante para o nosso estudo em 
questão, diz-nos o texto que sua peregrinação tinha a ver com a busca de comodidade, ou, como nos 
diz a NVI, um lugar para morar. 
Vemos, logo de início, que este jovem também era uma vítima de uma má estrutura familiar. O 
texto nos diz que se tratava de um levita de Belém de Judá. Ora, em primeiro lugar, podemos 
observar que o jovem habitava numa cidade que não era destinada aos levitas. Como podemos 
verificar em Nm.21:13-16, Belém não era uma das cidades da tribo de Judá que haviam sido 
entregues aos levitas. Percebemos, portanto, que o jovem fazia parte de uma família que estava fora 
do lugar determinado para eles. 
Levando-se em conta que os levitas tinham atribuições específicas relacionadas com o culto ao 
Senhor (Cf.Dt.10:8,9), atribuições estas estabelecidas pelo próprio Deus, que havia escolhido a tribo 
de Levi em lugar dos primogênitos de Israel que lhe pertenciam desde o momento em que foram 
poupados na primeira páscoa (Nm.8:14-18), vemos que o jovem era proveniente de uma família que 
estava desobedecendo à Palavra do Senhor, que não fazia aquilo que o Senhor lhe havia ordenado, 
que era “fazerem o serviço da tenda da congregação” (Nm.8:15). 
Os pais do jovem levita, com certeza, haviam trocado a vida em alguma das cidades destinadas aos 
levitas, onde cuidavam de atividades relacionadas ao serviço da tenda da congregação, para algum 
serviço secular, muito provavelmente mais rendoso e que trouxesse um maior conforto e condição 
para a família, esquecendo-se, entretanto, que haviam sido separados por Deus para uma tarefa 
muito mais importante e relevante. 
É muito triste quando uma família santa, ou seja, que é separada por Deus do meio deste mundo 
tão tenebroso, resolve sair do lugar que lhe foi destinado e estabelecido pelo Senhor e passa a ter 
outras prioridades que não a de atender à vontade de Deus. Ela, simplesmente, se desmantela, se 
desfaz, não alcançando nem a tão sonhada prosperidade material, nem, muito menos, o que é muito 
mais importante, o agrado do Senhor. 
Vemos que este jovem, ainda moço, saiu de sua casa, sem destino, sem rumo, certamente porque os 
sonhos e os projetos de seus pais haviam falhado. Em busca de uma melhor condição material, 
econômico-financeira, a família saíra dos planos divinos e, agora, assim que pôde caminhar com 
suas próprias pernas, o jovem abandona seus pais e tenta aventurar-se pela Palestina, certamente 
porque haviam fracassado os intentos e os desígnios estabelecidos pelos seus pais. 
Nós, como servos de Deus, como pessoas por Ele separadas para atender ao Seu chamado (e todos 
os cristãos são chamados a ser luzes do mundo e sal da terra,indistintamente, exerçam, ou não, 
funções de governo na igreja), jamais nutramos a falsa ilusão de que podemos escolher, ao nosso 
talante, o que, onde e como devemos servir a Deus. É imperioso que nos limitemos a obedecer ao 
Senhor, permanecendo no lugar que Ele nos determinou, que Ele estabeleceu, se é que queremos ter 
uma vida familiar exitosa e abençoada. 
Belém de Judá, que viria a ser o próprio local de nascimento do nosso Senhor e Salvador séculos 
depois, não era o lugar em que os levitas deveriam estar e, por isso mesmo, o jovem não viu sequer 
uma esperança, sequer uma possibilidade de continuar ali. Neste aspecto, aliás, o jovem tinha mais 
visão que seus pais, lembrando-nos até uma canção da música popular brasileira, onde o 
compositor afirma que os mais velhos não querem, muitas vezes, enxergar o novo que está vindo 
com a evolução dos acontecimentos. 
O jovem levita entendeu que Belém de Judá não era o lugar de um levita e de lá saiu, agindo, neste 
ponto, sabiamente, como alguém que se apresentava como um homem separado por Deus para a 
Sua obra que estava disposto a tudo recomeçar. 
No entanto, por falha decorrente da sua própria formação deficiente e errônea, ao sair de Belém de 
Judá, o jovem estava animado por um sentimento que não deve ser o sentimento nutrido por 
alguém que é separado do mundo e escolhido de Deus. Diz-nos o texto sagrado que o jovem passou 
a peregrinar, a buscar um lugar onde tivesse comodidade, ou seja, onde pudesse satisfazer as suas 
necessidades materiais, onde tivesse conforto e riquezas. 
Embora tivesse percebido que Belém de Judá não era um local apropriado e adequado para ficar, o 
jovem, certamente influenciado pela educação recebida de seus pais, não pôde perceber que o mal 
de se estar em Belém de Judá não era a falta de recursos materiais, a dificuldade de emprego, o 
problema do sustento, mas, sobretudo, a inobservância da Palavra de Deus, o descumprimento dos 
mandamentos divinos, o desatendimento à vontade do Senhor. 
O jovem estava animado pelo mesmo propósito que fizera com que seus pais desobedecessem a 
Deus e deixassem uma cidade de levitas para tentar a sorte onde os levitas não haviam sido 
chamados. Assim como seus pais, passou a procurar um local onde pudesse garantir a sua 
sobrevivência, reduzindo a esta vida terrena, a posse de riquezas e recursos materiais a própria 
razão de ser da sua existência. 
Muitos têm agido desta forma nos nossos dias, dias de materialismo, de consumismo e de total 
menosprezo aos valores espirituais, dias onde o ter prevalece sobre o ser. Há muitos que, a exemplo 
deste jovem levita, passam a peregrinar nesta terra buscando tão somente alguém ou algo que lhes 
permita viver regaladamente, que lhes permita ter uma vida de opulência material e de benesses. 
Quantos não têm buscado Jesus única e exclusivamente porque querem ter prosperidade material, 
porque querem deixar uma vida de falências, miséria e dificuldades econômico-financeiras, para 
serem empresários bem-sucedidos, magnatas e pessoas ricas ? 
A chamada “teologia da prosperidade” tem em vista, precisamente, este intento prevalecente na 
nossa sociedade, intento que não diferencia o seguidor desta prosperidade de qualquer outro 
indivíduo imerso no pecado e no mundo sem Deus. Afinal de contas, quem pode me dizer qual é a 
diferença entre alguém que passa a ser crente para enriquecer e outrem, que é um narcotraficante 
? Alguém poderá dizer: 
__ Não tem comparação, isto é um absurdo ! Alguém que passa a servir a Jesus com intenção de 
enriquecer não desgraça a vida de ninguém, não causa mal a pessoa alguma, apenas aprende a 
exercer a sua fé e alcança as bênçãos já prometidas por Deus, enquanto que o narcotraficante 
enriquece à custa de vidas humanas, da destruição de famílias, de comunidades inteiras. 
No entanto, se bem observarmos ambos os comportamentos, veremos, claramente, que o que anima 
tanto um quanto o outro é o amor do dinheiro que, como Paulo disse bem claramente a Timóteo, é 
a raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10). E quem garante que o “crente em busca da 
prosperidade” não destrói famílias, vidas e comunidades com seus gestos ? Porventura, os 
escândalos que têm acompanhado esta pregação de prosperidade, as conseqüências que têm sido 
geradas pela conduta decorrente desta pregação não têm gerado angústias, decepções e descrédito 
para muitos e, o que é mais grave, sentimentos e emoções que têm gerado obstáculos praticamente 
intransponíveis à conversão de almas que, por causa disto, vão estar eternamente separadas do 
Senhor na eternidade ? 
A intenção materialista do jovem redundou na sua transformação em um sacerdote idólatra e isto 
continua ocorrendo até os nossos dias, pois as Escrituras dizem, claramente, que a avareza nada 
mais é do que idolatria (Cl.3:5). 
Devemos servir a Deus com a intenção de agradá-lO, de fazer a Sua vontade. Assim nos ensinou o 
Senhor quando nos deu a lição da oração: “Seja feita a Tua vontade assim na terra como no céu”. 
Devemos, sempre, fazer aquilo que agrada a Deus, que seja a Sua vontade. Nosso objetivo nesta 
vida deve ser sempre o de estar no centro da vontade do Senhor. 
Nunca devemos fazer como o jovem levita, que vivia atrás da comodidade, atrás do regalo, das 
vantagens materiais, do bom salário, das benesses, do “bem-bom”. Quais têm sido as nossas 
prioridades ? Como temos vivido sobre a face desta terra ? 
Este assunto da comodidade é vasto e comportaria um estudo específico, razão pela qual nele não 
nos deteremos, mas fica aqui o convite para que reflitamos se não estamos, em nossa peregrinação 
nesta terra, agindo com os mesmos propósitos daquele mancebo levita. 
O certo, para o tema que estamos desenvolvendo, é verificar que o jovem estava animado por um 
intento reprovável, mas que havia sido incutido em sua mente e coração pelos seus próprios pais. Se 
o jovem não viesse de uma família de levitas que havia desobedecido a Deus e ido morar numa 
cidade que não havia sido reservada para a tribo de Levi, como era Belém de Judá, se o jovem não 
tivesse nascido num lar onde o mais importante é a própria satisfação e não a obediência à lei do 
Senhor, certamente que não teria elegido a comodidade como valor a ser buscado, a qualquer 
preço, a qualquer custo, na sua vida. 
Os pais têm de estar conscientes de que serão eles os indutores de comportamentos, de condutas em 
seus filhos. A Bíblia, ao falar sobre a influência dos pais sobre os filhos, usa de uma expressão que, 
já no meio do povo de Israel era um provérbio de amplo conhecimento popular. Em Ez.16:44, 
afirma que “qual a mãe, tal é a sua filha”. Sem dúvida alguma, a influência que os pais exercem 
sobre os filhos é imensa e predetermina boa parte da conduta dos filhos no futuro, a ponto de o 
sábio Salomão ter dito que, se instruirmos nossos filhos no caminho do Senhor, ainda quando 
velhos eles jamais se esquecerão dos ensinamentos que receberem. 
O fato é que, como diz o vulgo, “quem procura, acha”. O mancebo tanto buscou comodidade que, 
num belo dia, chegou à casa de Mica, à casa dos deuses e ali parou. 
Ao chegar à casa de Mica, o jovem, já deturpado em seus intentos pela má educação recebida, passa 
a receber influência da igualmente péssima educação que havia na casa daquele homem, como já 
vimos neste estudo. 
O jovem, diz-nos o texto sagrado, seguia o “seu” caminho (Jz.17:8), ou seja, mais uma vez notamos, 
aqui, a influência deletéria da educação de seus pais que, num gesto de inobservância da Palavra de 
Deus, haviam deixado de seguir o caminho do Senhor, deixado de morar no lugar designado por 
Deus e resolvido, por sua própria conta e risco, morarem em Belém de Judá, fazendo o “seu” 
caminho. O jovem também havia aprendido assim e estavaele, nas montanhas de Efraim, buscando 
o “seu” próprio caminho, tomando conta da “sua” vida, sendo dono do “seu” próprio nariz. 
Vivemos um tempo em que se propala aos quatro ventos a mensagem de que os jovens devem 
buscar os “seus” próprios caminhos, que não podem, de forma alguma, seguir os conselhos, 
recomendações e orientações de seus pais, tachados pela mídia e por esta linha de pensamento como 
“atrasados”, “quadrados”, “caretas”, “retrógrados”, bem como responsáveis por todas as mazelas, 
maldades e injustiças que existem sobre a face da terra. 
Até mesmo dentro das igrejas locais, este pensamento, que tem origem no próprio adversário de 
nossas almas, que foi aquele que primeiro convenceu o homem a tentar se desprender de Deus, lá 
no jardim do Éden, trazendo a mensagem da auto-suficiência e da independência em relação a 
Deus, a mais antiga mentira que é contada pela antiga serpente à humanidade. 
Esta era a situação deste jovem que, mal formado, mal educado, passa a buscar algo que não é o 
que Deus requer de nós, muito menos para aqueles que Ele escolhera para o Seu serviço, como era 
o caso do levita, que, agora, fazendo o “seu” caminho, chegava ao último lugar onde deveria estar 
um servo de Deus: numa casa de ídolos. 
Ao chegar à casa de Mica, o jovem recebeu uma oferta daquele idólatra, a fim de que se fizesse pai 
e sacerdote da sua casa, mediante um salário anual de dez moedas de prata (a versão NVI traduz 
esta medida por cento e vinte gramas de prata por ano), além de suporte de todas as despesas com 
vestuário e alimentação. 
Ora, era tudo o que o jovem queria: comodidade ! Um bom salário, roupa e cama lavada e comida 
à vontade ! Quem recusaria uma oferta destas nos nossos dias ? Certamente que muitos jovens, 
mormente num ambiente de desemprego como o que vivemos e que só tende a se intensificar 
conforme as tendências observadas na economia mundial, não hesitariam em fazer o que fez aquele 
jovem, que, prontamente, aceitou a oferta e passou a ser “pai e sacerdote” da casa de Mica. 
Este é o principal problema de termos intenções desvirtuadas e não condizentes com o que nos 
ensina a Palavra de Deus. 
O jovem era movido, em sua peregrinação, pela comodidade, pelo bem-estar material e disto tinha 
pleno conhecimento o adversário de nossas almas que, embora não seja onisciente, tem a seu 
serviço, como bem retratou um escritor evangélico, o “mais eficiente serviço de espionagem” do 
mundo. Com efeito, se os mais poderosos governos do mundo têm acesso a uma gama enorme de 
informações, praticamente sabendo tudo o que se passa no mundo (basta ver que, no episódio dos 
atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, as investigações apontam que 
não houve falta de informações por parte das agências de inteligência norte-americanas, mas, pelo 
contrário, falhas na apreciação das informações obtidas), por que o diabo, que têm a seu serviço 
milhares e milhares de anjos caídos, não teria condições de saber quase tudo o que se passa na 
humanidade ? 
Como dizíamos, sabendo das intenções do jovem, não foi difícil ao adversário dar o laço final na 
vida do incauto, mediante a oferta para que se tornasse “pai e sacerdote” da casa de Mica. 
Observemos que todo levita alimentava o sonho de ser sacerdote, porquanto, embora pertencesse à 
tribo de Levi e cuidasse de todo o serviço da tenda da congregação, se o levita não fosse da família 
de Arão, de forma alguma poderia ministrar, poderia ser separado para o sacerdote. Assim, todo 
levita ficava muito próximo ao sacerdócio, mas dele não poderia tomar parte. Esta frustração, aliás, 
foi o móvel da mais dura rebelião enfrentada por Moisés no deserto, a rebelião de Coré, que 
encontrou guarida, precisamente, nesta frustração da tribo de Levi, bem como da frustração da 
tribo de Rúben, que, afinal de contas, era o filho primogênito de Jacó mas que havia sido alijado 
das benesses da primogenitura. 
O jovem foi convidado para ser aquilo que todo e qualquer levita almejava ser, mas que Deus não 
havia determinado que fosse. Um dos grandes ensinamentos que devemos dar em nossas famílias 
diz respeito, precisamente, aos limites que temos como seres humanos. 
É indispensável que ensinemos aos nossos filhos que não somos os donos do mundo nem que a nossa 
vontade prevalece em todas as situações da nossa vida. Muito pelo contrário, devemos, em primeiro 
lugar, fazer a vontade de Deus, esta, sim, a única vontade soberana, a única vontade que sempre 
prevalecerá e, depois de estarmos no centro da vontade de Deus, sabermos que temos a liberdade 
para agir naquelas coisas e que Deus aprova ou deixa à nossa escolha. 
A Bíblia registra-nos o triste caso que envolveu Adonias, o filho de Davi, que se tornara o seu 
primogênito após a morte de Amnom. O príncipe israelita, diz-nos as Escrituras Sagradas, nunca 
soube o que era um “não” de seu pai (I Rs.1:6). Adonias viveu sem qualquer limite, sem qualquer 
orientação, achando que sua vontade deveria sempre prevalecer, o que era um desastre para 
alguém que, pelas regras normais de sucessão, deveria suceder ao pai no trono de Israel. O 
resultado disto foi que, num belo dia, resolveu Adonias tomar conta do trono, ainda antes da morte 
de seu pai, que já se encontrava enfermo e próximo à morte. Sem limites, sem respeito e 
consideração para com seu pai, acabou, por causa disto, não só perdendo o trono como também a 
sua própria vida, pois, assim que Salomão assumiu o trono, uma vez mais manifestou a sua 
impertinência e ousadia irresponsável, o que lhe custou a própria morte. 
Temos ensinado limites aos nossos filhos ? Têm eles sido ensinados que nem tudo é como queremos 
nesta vida ? Têm eles visto em nós uma submissão à vontade de Deus ? Aquele pobre jovem levita 
não sabia o que era isto e, ao lhe ser dada uma oferta de algo que, pela vontade divina, jamais 
poderia alcançar, qual seja, o sacerdócio, o jovem levita não hesitou e quis ser aquilo que jamais 
Deus lhe havia destinado a ser. 
Muitos querem ser aquilo que Deus não quer que sejam e, muitas vezes, Deus, dentro de Sua 
vontade permissiva, não intervém, não impede que sejam alcançados tais funções ou posições. 
Assim foi, por exemplo, no caso do sacerdócio instituído por Jeroboão. Ao invés de separar os 
levitas para a função sacerdotal, Jeroboão resolveu estabelecer o seu próprio culto, à sua maneira, 
fazendo sacerdotes dos mais baixos do povo (I Rs.12:31). Observemos a psicologia usada por 
Jeroboão: pegou dos mais incapazes, dos mais incompetentes, dos mais desqualificados e os tornou 
sacerdotes. Todos estes aceitaram a incumbência porque, obviamente, também sabiam que jamais 
poderiam alcançar, segundo os ditames da lei divina, esta honraria, mas o que lhes importava não 
era seguir a Palavra de Deus, mas, sim, ter comodidade, ter posição, “status” e desfrutar das 
benesses da função que passariam a exercer. 
Lamentavelmente, muitos Jeroboões têm surgido no meio do povo de Deus, também constituindo 
ministros entre os mais baixos, os mais desqualificados, pois seu único objetivo é dominar, não ter 
“concorrentes”, “competidores”, pessoas que, movidas pelo poder e pelas benesses que este poder 
lhes confere, esquecem-se do chamado divino, menosprezam o objetivo do Senhor nas suas vidas. 
Não nos deixemos levar pela vaidade, pelas ilusões das riquezas, da posição social, dos benefícios 
materiais, mas que nosso intento seja o de agradar a Deus, de buscar primeiramente o Seu reino e a 
sua justiça, sabendo que tudo o mais nos será acrescentado ! 
Mas ao jovem não foi oferecido apenas o sacerdócio, mas também lhe foi ofertada a posição de 
“pai” (Jz.17:10). 
Ora, como temos dito seguidamente neste estudo, o jovem levita era proveniente de uma família que 
estava forada direção divina, de uma família que, certamente, não oferecia qualquer vantagem ou 
comodidade ao jovem, a ponto de ele ter saído do lar e iniciado uma peregrinação em busca de 
bem-estar. Não é desarrazoado dizer, portanto, que o jovem não tinha, a esta altura, uma boa 
imagem de seu pai e, certamente, vivia um conflito psicológico típico da juventude e da 
adolescência, a chamada “crise dos pais imperfeitos”, resultante da circunstância de os filhos 
descobrirem que seus pais não são aqueles seres humanos perfeitos que eles, ao longo da infância, 
acreditaram eles ser. 
Como afirma Stephen Kanitz, “…a maioria dos jovens sonha em ter pais perfeitos para sempre, um 
governo perfeito a cada eleição, em criar um mundo perfeito sem injustiças, onde até os grandes 
planos de governo funcionam porque serão sempre perfeitos. Essa crise traz também uma enorme 
insegurança pessoal. A redoma de vidro do pai herói e da mãe heroína se desfaz. Uma crise dessas 
mal resolvida pode se agravar e se transformar em desilusão, desânimo, o que pode levar à exclusão 
social e à perda de ambição.…” (A crise dos pais imperfeitos. Veja, ano 37, nº 13, edição 1847, 31 
mar.2004, p.20). 
Este jovem, assim pensando, decepcionado com a figura paterna, é convidado por alguém que tinha 
a idade de ser seu pai, para ser “pai” da sua casa, ou seja, para exercer uma posição de mando, 
para ser tudo aquilo que seu pai não tinha sido para ele. Autoridade, poder, posição, em suma era o 
que se oferecia ao jovem levita, em troca, naturalmente, do total menosprezo à Palavra de Deus, 
porquanto passaria a ministrar culto a ídolos, algo abominável aos olhos de Deus. 
Porém, os valores incutidos na mente do jovem não tinham qualquer compromisso com Deus e o 
jovem, prontamente, aceitou a oferta. 
É interessante observar que, embora lhe tenha sido prometido ser “pai” da casa, o texto bíblico diz-
nos que o jovem passou a ser tratado como um dos filhos de Mica (Jz.17:11), o que revela, portanto, 
como era enganosa a oferta feita por Mica. Ademais, como já vimos neste estudo, o tratamento 
dado por Mica a seus filhos não era dos melhores, sendo que, do ponto-de-vista espiritual ou moral, 
era, mesmo, um tratamento desastroso. É sempre assim que acontece quando alguém aceita a oferta 
do maligno: é enganado e sua condição jamais será a prometida pelo pai da mentira que, quando 
mente, faz o que lhe é próprio e natural (Jo.8:44). 
O jovem foi consagrado sacerdote por Mica e ali esteve na sua casa como um ministro ilegítimo de 
um culto espúrio. 
A família de Mica estendia, assim, os seus tentáculos malévolos e, agora, não atingira apenas a 
condição espiritual de seus integrantes, mas já trazia prejuízo espiritual a um levita, a um escolhido 
de Deus que, por falta de orientação, educação e vigilância, fora atraído por este verdadeiro cancro 
que se instalara no meio do povo de Deus. 
Percebamos, portanto, que uma família desmantelada não prejudica apenas os seus membros, mas, 
como uma verdadeira célula cancerosa, vai formando um tumor no meio social, atingindo aqueles 
que estão à sua volta, bem como aqueles que com ela entram em contacto. Uma família 
desmantelada é um verdadeiro instrumento destruidor nas mãos do adversário, um veículo de 
desvirtuamento e de perdição para tantos quantos dela se aproximam e por ela se deixam 
influenciar. 
Mas os efeitos funestos da família de Mica não se limitariam a este jovem levita, agora sacerdote na 
casa de Mica. 
Na seqüência do texto bíblico, no capítulo 18, veremos que este sacerdote, movido sempre pela 
ganância das coisas materiais, tornar-se-ia sacerdote da tribo de Dã, a primeira tribo a adotar, 
coletivamente, a idolatria (Jz.18:30,31), algo que talvez até explique porque a tribo de Dã não é 
mencionada na relação dos 144.000 judeus que pregarão o Evangelho na Grande Tribulação 
(Ap.7:4-8). 
Como vemos, portanto, a má educação e a inobservância da Palavra de Deus não se circunscreve à 
família, mas seus efeitos se fazem sentir na sociedade como um todo. 
A desintegração familiar hoje promovida pelo adversário de nossas almas é a causa mais 
importante para o clima de desordem, de violência, de criminalidade, de desgoverno que vivemos, 
atualmente, na face da Terra. As famílias não conseguem, mais, porque saíram da direção de Deus, 
incutir valores e princípios de convivência, solidariedade e harmonia aos seus filhos e as novas 
gerações crescem e atingem a idade adulta sem quaisquer referências, como presas fáceis das 
ofertas e facilidades apresentadas pelo deus deste século, cujo objetivo é, tão somente, matar, 
roubar e destruir. 
É um verdadeiro perigo haver uma família desmantelada no meio do povo de Deus, como era a 
família de Mica que, do monte de Efraim, não deixou de promover um grave prejuízo a Israel, 
trazendo a idolatria e a apostasia para toda uma tribo, a tribo de Dã, que, aliás, nem sequer era a 
tribo de Mica e sua família, sem se falar na rutura que fez na tribo de Levi, através daquele jovem 
que acabou se tornando o primeiro de uma linhagem sacerdotal espúria e ilegítima que perdurou, 
dfiz-nos a Bíblia, até a destruição do primeiro templo (Jz.18:30). 
Não permitamos que nossa família seja uma erva daninha, seja o início de um tumor canceroso no 
meio do povo de Deus, mas sigamos o modelo bíblico e, assim, certamente, seremos ricamente 
abençoados pelo Senhor.

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