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Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem W BA 00 33 _V 1. 0 2/138 Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem Autora: Tatiane Oliveira Zanfelici Como citar este documento: ZANFELICI, Tatiane Oliveira. . Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Valinhos: 2014. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento 04 Assista a suas aulas 29 Unidade 2: Marcos da Primeira Infância 39 Assista a suas aulas 65 Unidade 3: Marcos da Segunda Infância 74 Assista a suas aulas 99 Unidade 4: O olhar para o Desenvolvimento Psicomotor 109 Assista a suas aulas 130 2/138 3/138 Apresentação da Disciplina O desenvolvimento humano compreende as evoluções que os indivíduos alcançam à medida que avançam em idade e ganhos comportamentais, físicos, de socialização, experiências e conhecimentos. Embora seja comum imaginar o desenvolvimento humano a partir do nascimento do bebê, a verdade é que ele se inicia ainda na concepção, pois desde esse momento os atributos principais dos seres já se encontram em origem e evolução, consolidando-se após o nascimento e apenas se encerrando quando acontece a morte do indivíduo. Nesta disciplina, você tomará contato com informações que visam discutir o surgimento desses potenciais e habilidades: a origem dos sistemas físicos, a evolução e os fenômenos relevantes ao desenvolvimento cognitivo, os marcos da infância, as principais teorias de desenvolvimento e aprendizagem, os ganhos e mudanças nos campos das relações sociais e das emoções, os fatores de risco e proteção, a influência de instituições significativas e o olhar para o desenvolvimento psicomotor. Além de manuais consagrados e artigos científicos de qualidade, este material foi produzido também sob consulta de documentos de agências brasileiras que prezam pelo desenvolvimento e saúde dos indivíduos, com o objetivo de retratar os referidos aspectos da infância contextualizados à realidade brasileira. Atividades adicionais, sugestões de sites e leituras e questões para reflexão são oferecidas ao término de cada leitura. 4/138 Unidade 1 Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento Objetivos O corpo humano é uma “máquina” maravilhosa e programada para desenvolver-se e aprimorar-se ao longo do tempo em suas potencialidades. Atividades como ler ou digitar este texto, trabalhar, interagir com as pessoas e até mesmo a posição em que você está sentado, só são possíveis por meio do aperfeiçoamento de atributos que têm evoluído desde quando você era uma célula. Sim, desde que você era uma célula. Parece difícil de imaginar, mas esse é o marco inicial do desenvolvimento: a concepção, e não o nascimento, como é comum de se pensar. Para chegar a este momento, durante um processo que pode levar de cinco a 45 minutos, milhares de espermatozoides acessaram a vagina, porém apenas entre 300 e 500 conseguiram chegar ao local da fecundação. Dessas centenas de espermatozoides, apenas um conseguiu penetrar o óvulo e originar uma nova vida (RIBEIRO; CERQUEIRA; CERQUEIRA; SILVA, 2013). Nesta aula, serão abordados tópicos de relevância ao desenvolvimento pré-natal dos seres humanos, desde a concepção em todas as suas etapas, até o nascimento por meio de diferentes tipos de parto. Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento5/138 Introdução Desde a concepção, a herança genética interage com as influências ambientais a fim de caracterizar o bebê em desenvolvimento. O conjunto de características geneticamente herdadas é denominado genótipo, o qual se manifesta de maneira observável (fenótipo) (SHAFFER, 2005). Assim, essa compreensão de desenvolvimento humano admite que não só as qualidades biológicas, mas também as inerentes ao contexto em que ocorre o desenvolvimento humano cooperam para que esse processo esteja em evolução. O período referente ao momento da concepção até o nascimento do bebê é denominado pré-natal e é sobre este período que a sua primeira aula enfocará suas discussões. 1. Etapas do Desenvolvimento Pré-natal 1.1 Período Germinativo Durante essa fase, da fecundação até as duas primeiras semanas de idade gestacional, o zigoto divide-se, torna-se mais complexo e implanta-se nas paredes do útero. Além da divisão celular, serão formadas a placenta e as estruturas fundamentais para que a gestação ocorra. Durante esta etapa, estão em formação as bases dos órgãos corporais mais Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento6/138 básicos para a sobrevivência, tais como o coração, os pulmões e o cérebro. O zigoto unicelular transforma-se em um embrião e, posteriormente, será um feto (Papalia; Olds; Feldman, 2006). 1.2 Período Embrionário Esta etapa perdura das duas às oito primeiras semanas gestacionais e contempla a organogênese do embrião (BEE, 2011). Os órgãos e os sistemas corporais mais importantes – respiratório, digestivo e nervoso – evoluem rapidamente. Este é um momento sensível do desenvolvimento humano e a vulnerabilidade ambiental é bastante alta. Por esse motivo, são comuns as recomendações de cuidados ao primeiro trimestre da gestação, já que muitos embriões que passaram por problemas em sua formação não sobrevivem a este período (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). 1.3 Período Fetal A fase fetal inicia-se aproximadamente às oito semanas de gestação e encerra- se no momento do nascimento. O feto crescerá até vinte vezes o tamanho que possuía anteriormente e seus sistemas tornam-se cada vez mais complexos. Como a vulnerabilidade ao ambiente continua bastante alta, o feto ouve e responde a estímulos sensoriais, tais como a voz da mãe. Habilidades sensoriais de tato e Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento7/138 audição já se desenvolvem desde o período fetal e o potencial para aprender e lembrar já estão presentes durante este período (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Durante o período pré-natal, o desenvolvimento acontece seguindo dois princípios: o céfalo-caudal e o próximo-distal. O princípio céfalo- caudal corresponde à sequência de desenvolvimento da cabeça para a parte inferior do tronco. A cabeça, o encéfalo e os olhos do embrião desenvolvem-se antes e são maiores em proporção que outros órgãos do corpo. O princípio próximo- distal determina que o desenvolvimento ocorre da região central do corpo para as periféricas (Papalia; Olds; Feldman, 2006). 2. Fatores de Risco e Diagnósticos no Desenvolvimento Pré-natal Alguns agentes podem causar efeitos negativos ao desenvolvimento pré-natal e ao nascimento. São eles: Teratogênicos – são perigosos durante toda a gestação, mas especialmente durante o primeiro trimestre, trazendo problemas ao desenvolvimento e ocasionando defeitos congênitos. Alguns exemplos podem ser doenças (rubéola, toxoplasmose, sífilis, herpes genital e AIDS), drogas (talidomida, dietilestibestrol, álcool, nicotina e tabaco, maconha, cocaína e opiáceos) e perigos ambientais (radiação, chumbo e outras substâncias tóxicas) (BEE, Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento8/138 2011; SHAFFER, 2005). Nutrição – a má nutrição materna durante o período embrionário está relacionada ao nascimento prematuro do bebê. Bebês mal nutridos frequentemente são irritáveis e menos responsivos a estímulos (BEE, 2011; SHAFFER, 2005). A obesidade da mãe está relacionada a problemas na gestação e também a riscos ao momento do nascimento do bebê (Papalia; Olds; Feldman, 2006). Estado emocional materno – mães emocionalmente estressadas apresentam mais possibilidades de riscos durante a gestação (SHAFFER, 2005). Ademais, segundo Papalia, Olds e Feldman (2006, p.131),“condições de trabalho exaustivas, fadiga ocupacional e horas de trabalho prolongadas podem estar associadas com maior risco de nascimento prematuro”. Fenilalanina – o consumo da substância fenilalanina, presente em alimentos e produtos como os adoçantes sintéticos, deve ser desencorajado. A intoxicação pela fenilalanina pode favorecer o aparecimento de aborto espontâneo, microcefalia, baixo peso e doenças cardíacas, bem como atrasos no desenvolvimento infantil decorrentes da fenilcetonúria (BEE, 1995). Idade – adolescentes e mulheres acima de 35 anos também podem apresentar mais riscos na gravidez quando não contam com acompanhamento adequado (BEE, 2011; SHAFFER, 2005). Gestantes mais velhas parecem mais propensas a complicações do parto e morte por diabetes, Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento9/138 hipertensão ou hemorragia grave, contudo, pesquisas indicam que a gestação pode ser menos arriscada às mães mais velhas do que às muito jovens (Papalia; Olds: Feldman, 2006). Doenças maternas – o diabetes, a tuberculose e a sífilis podem causar problemas no desenvolvimento fetal, e a hipertensão, a gonorreia e o herpes genital podem influenciar negativamente o bebê ao nascer (Papalia; Olds; Feldman, 2006). Atividade física – a atividade física moderada parece não oferecer riscos às gestantes, porém as atividades mais intensas devem requerer mais cuidado, fazendo-se importante o acompanhamento médico (Papalia: Olds; Feldman, 2006). Alguns tipos de exames clínicos podem contribuir para o diagnóstico e o tratamento de possíveis problemas que aconteçam ainda durante o desenvolvimento pré-natal. Os mais comuns são as análises de amostras de sangue, ultrassonografias e amniocentese. Os exames de sangue são rotineiros e podem ser utilizados para a detecção de anomalias fetais (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006), bem como problemas de saúde maternos, dos quais é possível citar: níveis de ferro, hepatite, AIDS, toxoplasmose, citomegalovírus, sífilis, rubéola e vírus do herpes. Também podem ser solicitadas aferições de hormônios da gestação e exames de fator RH sanguíneo. A ultrassonografia, ultrassom ou ecografia, Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento10/138 é um exame que usa ondas de som para criar uma imagem do bebê, bem como do útero, feto e placenta. Pode ser utilizado pra verificar o crescimento ou sexo do feto, bem como aferir anomalias (Papalia; Olds; Feldman, 2006). Os ultrassons em três ou quatro dimensões (3 e 4D) podem ser utilizados para a verificação de más- formações nas extremidades e rosto. A amniocentese é um exame no qual se retiram amostras do líquido amniótico que envolve o feto. É realizado mais frequentemente entre a 15ª e a 18ª semana gestacional e em mulheres acima de 35 anos. Por ser invasiva, é mais comum ser indicada em casos específicos, além de conseguir detectar o sexo do bebê e maturidade de seus pulmões. Alguns exemplos desses casos são: detecção de síndromes cromossômicas, espinha bífida, doenças relacionadas ao fator RH sanguíneo e a distrofia muscular (Papalia; Olds; Feldman, 2006). Outros exames menos comuns são: a amostragem das vilosidades coriônicas, exame em que porções de tecido das vilosidades da membrana que envolve o feto são analisadas para detectar más- formações congênitas; embrioscopia, um procedimento em que um visor é introduzido no abdome da mulher para visualizar o embrião; diagnóstico genético de pré-implantação, no qual células embrionárias são analisadas in vitro para detectar defeitos genéticos antes da implantação uterina; exame de Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento11/138 sangue fetal, no qual se extraem amostras de sangue do feto para sua avaliação (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Também é importante que se realize a assistência pré-natal para que as mães e seus bebês possam contar com uma gestação saudável e que os riscos possam ser prevenidos ou remediados. No Brasil, toda mulher tem direito a acompanhamento ginecológico e obstetrício por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) desde o momento da confirmação de sua gestação até o nascimento do bebê, atenção que inclui as visitas domiciliares pelos agentes de saúde e procedimentos humanizados no momento do parto (BRASIL, 2013). Desde a criação da Rede Cegonha, em 2011, um projeto de ampliação dos serviços de atenção à saúde da gestante, o SUS tem se proposto a aumentar o custeio dos exames da gestante em 100%. A partir de então, o programa Rede Cegonha se propõe a disponibilizar vale-transporte para viabilizar o comparecimento das gestantes às consultas do pré-natal, sendo que aquelas que realizam o acompanhamento completo ganham um vale táxi para a maternidade. A Rede Cegonha também propõem novos exames, como o teste rápido de gravidez e sífilis, o aumento de número de ultrassonografias. Para gestações de alto risco, o programa prevê novos exames, como a cardiotocografia, para aferir a frequência cardíaca do bebê, e eletrocardiograma, que Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento12/138 indica alterações cardíacas na gestante (BRASIL, 2013). Além do acompanhamento da saúde física da mãe e de seu bebê, a experiência da gestação traz mudanças socioemocionais que precisam ser consideradas dentro das particularidades de cada mãe e seu contexto de desenvolvimento. A maneira como a gestante vive estas mudanças repercute na constituição da maternidade (relação mãe-bebê, relações sociais familiares, de trabalho) (Piccinini; Gomes; De Nardi; Lopes, 2008). Embora a literatura didaticamente generalize algumas características relativas a mães e bebês, dentro de um âmbito mais comum, é importante ratificar que as experiências de gestação são muito particulares, mesmo quando se discutem as diversas gestações de uma mesma mãe. Isto é, “não se trata de uma futura mãe, nem de um feto, mas de uma mãe e do seu bebê, e assim deve ser tratada a gestação” (Piccinini; Gomes; De Nardi; Lopes, 2008, p. 71). As vivências são individuais e contemplam desde as mudanças físicas até as relativas a sentimentos, expectativas e novos papéis sociais assumidos com a maternidade. Essas expectativas, pensamentos e sentimentos com relação ao bebê ajudam a construir o vínculo entre pais e criança. Da mesma forma que a espera de um filho demanda preparativos materiais (como a aquisição de móveis e enxoval do bebê) e sociais (como a acomodação do filho Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento13/138 à rotina da família), os preparativos do espaço psíquico da criança na dinâmica da vida de sua mãe e familiares é condição indispensável de ser meditada (Piccinini; Gomes; De Nardi; Lopes, 2008). 3. O Nascimento da Criança Após os nove meses de gestação, é chegada a tão esperada hora do parto. Geralmente este momento acontece cerca de 266 dias após a concepção, quando o nascimento ocorre a termo. Há anos os pesquisadores têm discutido os diferentes tipos de parto e a influência da abordagem obstetrícia dos profissionais envolvidos no processo gestacional para o momento do nascimento do bebê. Brazelton (1994) foi um autor que argumentou a favor do adiamento ou minimização do uso da medicação indutora ao parto, discutindo que o ideal é reduzir a indicação dessas substâncias apenas à quantia estritamente necessária. O autor ainda posicionou-se a favor da presença das pessoas significativas para a mãe no momento do nascimento, como o pai da criança, bem como a assistência das doulas, que podem orientar e apoiar a mãe de forma instrumental e prática na hora do parto. 3.1 Partos Parto NormalO parto normal é mais indicado que Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento14/138 a cesariana, pois se trata de um procedimento mais seguro e que oferece menos riscos de infecção, hemorragia e prematuridade ao bebê. Nesse tipo de parto, o organismo da mãe consegue se preparar para o nascimento. A prolactina e ocitocina, hormônios fabricados durante o trabalho de parto, são muito importantes para ajudar a produção de leite (BRASIL, 2013). Mas para que realmente seja seguro, recomenda-se que o parto seja o mais natural possível. Isso significa promover um ambiente fisicamente confortante, manter a privacidade e a autonomia da gestante, e permitir que, dentro do possível, a mãe caminhe, ingira líquidos e sente-se em posições que se sinta bem (BRASIL, 2013). O parto normal pode ser realizado em hospitais, maternidade ou na casa da gestante, se a gestação for de baixo risco. O importante é que envolva uma equipe capacitada, que pode abarcar médicos- obstetras, obstetrizes, enfermeiros e doulas. Em muitas regiões brasileiras, as parteiras ainda são as pessoas que mais auxiliam as gestantes no momento do nascimento de seus bebês (BRASIL, 2013). Uso fórceps ou vácuo-extrator Ambos são empregados nos momentos finais do parto normal quando acontecem situações de sofrimento ao bebê ou emergências, cada um com sua utilização específica (BRASIL, 2013). Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento15/138 Partos na água É utilizada uma banheira de água morna no parto, a fim de oferecer mais conforto. Esse processo não dispensa o apoio da equipe especializada, e não é recomendável caso o bebê seja prematuro ou pese mais que quatro quilos, ou caso a mãe tenha problemas de saúde como hipertensão, diabetes, HIV positivo, hepatite B e herpes genital (BRASIL, 2013). Partos de cócoras A mulher fica de cócoras em um móvel específico ou em uma cadeira. Considera- se que essa posição alivia as contrações e colabora para a saída do bebê, além de ser recomendável a qualquer gestante durante o parto (BRASIL, 2013). Preparação para o parto São programas desenvolvidos para minimizar o uso de drogas e promover o envolvimento ativo dos pais na hora do nascimento. Educam-se as gestantes sobre anatomia e fisiologia da reprodução, treinamento de boa forma física, respiração mais adequada para controlar as tensões do parto, técnicas de respiração e arquejar em sintonia com as contrações, concentrar-se em outras sensações além da dor, relaxar os músculos em resposta ao treinador (pai ou outro). O pai ou acompanhante também participa, sendo treinada e esclarecida sua participação no momento do parto. Conseguinte às informações sobre gestação e parto, a mulher assume um forte papel de decisão Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento16/138 sobre qual a melhor maneira de organizar o nascimento dos filhos. Tabela 1.1 — Etapas do Parto. Etapa do Parto Tempo Médio de Duração Características Primeira 12 a 24 horas Chamado também de período de obliteração. Ocorre a dilatação do colo do útero (cérvix), por meio das contrações, que podem ocorrer em períodos entre oito e dez minutos e durar 30 segundos, a fim de possibilitar a passagem do bebê para o meio externo. Ao final, elas ficam mais frequentes e longas, podendo surgir a cada dois minutos e durar até 90 segundos. Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento17/138 Segunda Uma hora e meia Inicia-se desde quando a cabeça do bebê começa a se deslocar pelo cérvix e passa pelo canal do parto, terminando quando a criança desloca-se da região abdominal materna e deixa totalmente o corpo da mãe. Terceira Cinco a 30 minutos. Contempla a saída da placenta e do restante do cordão umbilical. Quarta Primeiras horas pós- parto Atenção ao recém-nascido – limpeza do sangue e vérnix, testes e exames, aleitamento. Repouso e recuperação da mãe. Fonte: Baseada nos textos de Bee (1995) e Papalia, Olds & Feldman (2006). Cesárea O parto cesariano é um procedimento cirúrgico (corte abdominal) indicado quando o Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento18/138 parto oferece riscos à criança ou à mãe, ou quando o bebê precisa nascer emergencialmente. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2011a), dados do relatório publicado apontam que o Brasil registrou em 2010 mais cesarianas do que partos normais. Em 2009 alcançava-se uma um percentual de 50% de cesarianas entre os partos, ao passo que, em 2010, esta taxa subiu para 52%. Os números são bastante superiores aos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a qual indica que os percentuais permaneçam em cerca de 15% de partos cesarianos. Na rede privada, o índice de cesarianas chega a 82% e na rede pública, 37%. Ainda, há relatos de hospitais cujas taxas de cesarianas se aproximam de 100% (BRASIL, 2013). Para saber mais OMS — órgão filiado à Organização das Nações Unidas (ONU) que envida esforços para o desenvolvimento da saúde em todos os países e povos do mundo. Ademais, os partos cesarianos necessariamente são medicados, uma prática que parece negativa também para o bebê que está nascendo. Segundo Brazelton (1984), bebês de partos medicados podem ser mais sonolentos, menos responsivos a estímulos humanos e mais difíceis de estimular. Sabe-se que esse tipo de parto pode Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento19/138 ser indispensável para assegurar a vida da mãe e do bebê em alguns casos, portanto, as muitas discussões acerca do parto cesariano no Brasil e ao redor do mundo relacionam-se à sua utilização indiscriminada. Parto Humanizado Mais do que mudanças no tratamento pessoal à gestante e no ambiente físico do nascimento da criança, o parto humanizado é um movimento alicerçado em recomendações da OMS visando ao protagonismo e à autonomia das decisões da gestante durante a gravidez (BENATTI, s/d). O site Amigas do Parto contém a versão nacional das referidas recomendações da OMS, que além de encorajar condutas importantes no atendimento ao parto, objetivam também a redução de iniciativas inadequadas e até violentas às gestantes, parturientes e bebês: • Apoio emocional à gestação e parto, além do físico. • Aguardo do trabalho de parto espontâneo, evitando sua indução farmacológica ou o parto cesariano. • Aguardo da ruptura da bolsa. • Respeito ao ritmo natural do trabalho de parto, evitando utilização de ocitocina sintética. • Liberdade para a escolha de uma Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento20/138 posição mais confortável para o parto. • Substituição da anestesia por outros métodos de alívio da dor, podendo ser empregada a analgesia. • Realização do parto na casa da gestante ou em casas de parto (gestantes de baixo risco), ou em salas adequadas do hospital. • Episiotomia (cortes no períneo) são feitas apenas se indispensáveis. • Não utilização de lavagens uterinas, raspagens de pelos púbicos, exame retal ou exames vaginais frequentes. • Os cuidados ao recém-nascido são humanizados, sendo realizadas apenas as intervenções necessárias e priorizando o maior tempo possível de contato com a mãe. Link <www.amigasdoparto.com.br> Amigas do Parto é um site mantido por profissionais autônomas que há anos é referência para pessoas e profissionais interessados em assistência ao parto. Ressalta-se que os partos humanizados não são sinônimos do parto normal, e sim um conjunto de novas condutas em torno deste tipo de parto e até das cesarianas,se as mesmas forem a única via recomendável Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento21/138 de nascimento da criança. 4. O Bebê Neonato Após o parto, alguns cuidados são necessários para o recém-nascido saudável. Acontece a limpeza do sangue e da vérnix caseosa, a desobstrução das vias aéreas e as primeiras avaliações do bebê: batimentos cardíacos, respiração, tônus muscular, cor e irritabilidade reflexa. A escala APGAR, que pontua a responsividade do bebê para a avaliação desses indicadores, pode variar de zero a 10, sendo 10 a melhor avaliação de vitalidade do recém-nascido. Também são aferidos o peso, o tamanho e a idade gestacional da criança (BRASIL, 2011b). Outros exames realizados com o bebê neonato são: Teste do pezinho – realizado por meio da coleta de uma amostra de sangue do pé ou de uma veia, após alimentação do bebê e 48 horas de vida; este exame é obrigatório e pode indicar a presença de doenças como a fenilcetonúria, o hipotireoidismo congênito, a fibrose cística e doenças sanguíneas, tais como a anemia falciforme. Análise de tipagem sanguínea e fator RH – é realizada com base na amostra coletada para o teste do pezinho e é obrigatória. Triagem auditiva (ou teste da orelhinha) – obrigatório em hospitais públicos e normalmente oferecido nas instituições privadas, pode indicar a presença de Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento22/138 deficiência auditiva precocemente. Reflexo Vermelho (teste do olhinho) – este último não é obrigatório, mas recomenda-se sua solicitação, pois é muito simples e pode prever a ocorrência de catarata nos bebês. 4.1 Problemas no Nascimento Nascimento a pré-termo Alguns bebês podem nascer a pré-termo ou pequenos para idade. A OMS considera prematuro o parto ocorrente antes da 37ª semana de gestação. Antes das 34 semanas, muitos de seus órgãos não estão desenvolvidos, sendo necessários muitos cuidados. Algumas causas para tanto seriam: gestação adolescente, ruptura prematura da bolsa, gravidez de gêmeos, problemas de saúde da mãe, cesariana marcada com antecipação. Quando o nascimento acontece entre 34 e 37 semanas de gestação, os maiores cuidados são para garantir que o bebê respire sem dificuldades (BRASIL, 2013). Os bebês prematuros são mais vulneráveis a dificuldades e complicações no desenvolvimento. Sendo assim, é importante observar se o nascimento precoce pode favorecer a ocorrência de problemas, tais como baixo peso natal, sistema imunológico não desenvolvido por completo (deixa o bebê vulnerável a infecções), reflexos pouco maduros para desempenhar funções como mamar, demandando alimentação intravenosa e Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento23/138 manter o bebê aquecido. Costuma ser necessário que esses bebês permaneçam mais tempo que o normal no hospital e que demandem tratamentos específicos baseados em suplementos de ferro e glicose, utilização de incubadoras, bem como a estimulação precoce e o contato frequente com os pais (BRASIL, 2013). Hipermaturação ou Nascimento a Pós-termo Cerca de 7% das mulheres grávidas dão à luz entre duas a cinco semanas após o previsto para o nascimento. Este fato pode conduzir a riscos de danos cerebrais devido à anóxia e morte da criança, pois o bebê hipermaduro pode aspirar mecônio. Ao nascimento, a higiene da boca e da traqueia deve ser feita de maneira cuidadosa, a fim de evitar que o bebê aspire os fluidos mesmo após o parto (BRASIL, 2011b). Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento24/138 Glossário A termo: parto ocorrente entre 37 e 42 semanas, tempo regular de manutenção de uma gestação. (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Questão reflexão ? para 25/138 Se você precisasse dar três recomendações a uma amiga gestante, quais seriam estas e por quê? 26/138 Considerações Finais » O desenvolvimento pré-natal acontece em três etapas. » Existem fatores que podem oferecer riscos a uma gestação segura e podem estar relacionados ao ambiente, ao contexto de desenvolvimento materno, aos comportamentos e à saúde da mãe. » O pré-natal, o suporte informacional, os exames diagnósticos e os cuidados para escolha e execução do parto são formas de tentar assegurar uma gestação segura. » Os bebês que nascem a termo ou pós-termo requisitam ainda mais cuidados do que o neonato sadio. Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento27/138 Referências AMIGAS do parto. Recomendações da Organização Mundial da Saúde no Atendimento ao Parto Normal. Disponível em: <http://www.amigasdoparto.com.br/oms.html>. Acesso em: 27 mar. 2013. BEE, H. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 2011. BENATTI, L. Parto normal x humanizado: você sabe a diferença? Disponível em: <http://casamoara. com.br/normal-x-humanizado-voce-sabe-mesmo-a-diferenca/#more-2588>. Acesso em: 27 mar. 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. As cesarianas no Brasil: situação no ano de 2010, tendências e perspectivas. Relatório Saúde Brasil – 16. Brasília: Ministério da Saúde, 2011a. BRASIL. Ministério da Saúde: Secretaria de Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do Recém-Nascido: Guia para os Profissionais da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2011b. BRASIL. Maternidade. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/sobre/saude/maternidade/ parto>. Acesso em: 26 mar. 2013. BRAZELTON, T.B. Momentos decisivos do desenvolvimento infantil. São Paulo: Martins Fontes, 1994. (Originalmente publicado em 1992). Papalia, D. E.; Olds, S. W.; Feldman, R. D. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artmed, 2006. Unidade 1 • Desenvolvimento da Criança da Concepção ao Nascimento28/138 Piccinini, C. A.; Gomes, A. G.; De Nardi, T.; Lopes, R. S. Gestação e constituição da maternidade. Psicologia em Estudo. 13 (1), 63-72, 2008. Ribeiro, K. H.; Cerqueira, M. H. R.; Cerqueira e Silva, G. Fecundação. SHAFFER, D. Psicologia do Desenvolvimento: Infância e Adolescência. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. Referências 29/138 Aula 1 - Tema: Da Concepção ao Nascimento – Bloco I Disponível em: <//fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/ embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/2b7f- c67b050ff8e660384788cf329ff9>. Aula 1 - Tema: Fatores de Risco e Diagnósticos no Desenvolvimento Pré-Natal – Bloco II Disponível em: <//fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/ embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/8ffe- 256b0a702af9fd7a291f9dc3a103>. Assista a suas aulas 30/138 Aula 1 - Tema: O Nascimento da Criança – Bloco III Disponível em: <//fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/ embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/a7f2b7f- c18ba043630ea48a9de3aede0>. Aula 1 - Tema: O Bebê Neonato – Bloco IV Disponível em: <//fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/ embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/e3a- 16667601a57a7a4d5a08c7faa3056>. Assista a suas aulas 31/138 1. Quais dos fatores a seguir não parece ser um fator de risco às gestações, segundo o texto? Questão 1 a) Idade materna. b) Nutrição materna. c) Exposição ou consumo de teratogênicos. d) Estado emocional da mãe. e) Idade paterna. 32/138 2. Há diferenças entre os partos normal e humanizado? Questão 2 a) Sim, o parto normal é o tipo de parto recomendado pela OMS e pelo movimento favorável ao parto humanizado, mas o conceito de humanização é mais abrangente. b) Sim, o parto normal é o recomendado pela OMS, mas se ele for realizado em um ambiente mais aconchegante que o comum, pode ser chamado de humanizado. c) Não, todos os partos normais podem ser chamados humanizados. d) Não, contudo, o parto humanizado costuma sair mais caro.e) Dependerá da abordagem obstetrícia do profissional que acompanhará o parto. 33/138 Questão 3 3. Qual exame pode identificar no recém-nascido a presença de doenças como: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, fibrose cística e anemia falciforme? a) Reflexo Vermelho. b) Orelhinha. c) Pezinho. d) Urina. e) Ultrassonografia. 34/138 4. Robson é uma criança de dois anos que ainda não fala nada. Pertence a uma família de seis filhos e seus pais sempre trabalharam em turnos de revezamento em uma fábrica de baterias automotivas. Sua mãe é dia- bética há muitos anos. Quem cuida de Robson é Laura, sua irmã de 16 anos, que comentou com um agente de saúde que acha seu irmão dis- traído demais. Embora nesse momento esteja abstêmia, durante a gestação a mãe de Robson fez uso de álcool. Sabe-se que a criança nasceu a termo, com peso visto como normal, porém demorou a chorar após o parto e de- mandou uso de oxigênio. Diante do caso apresentado, assinale qual item não corresponde a um fator de risco ao quadro de desenvolvimento de Robson: Questão 4 35/138 Questão 4 a) Consumo de álcool durante a gestação. b) Exposição a possíveis componentes da fábrica de baterias (exemplo, chumbo). c) Diabetes materna. d) Cuidados da irmã adolescente. e) Possível anóxia ao nascimento. 36/138 5)_____________, _____________, ________________ e _________________ são exemplos de _____________________ e de- vem ser evitados na gestação. Questão 5 a) Café, refrigerantes à base de cola, nicotina, álcool; drogas. b) Chá, carne vermelha, açúcar, derivados do leite; má nutrição. c) Sexo, drogas, nicotina, álcool, teratogênicos. d) Drogas, nicotina, álcool, radiação; teratogênicos. e) Drogas, nicotina, álcool, radiação; fenilanina. 37/138 Gabarito 1. Resposta: E Não foram encontradas evidências registradas em literatura que a idade dos pais esteja associada a algum fator de risco às gestações. 2. Resposta: A O movimento ligado à humanização incluiu outros fatores, como a adequação do ambiente, que não precisa estar restrito aos hospitais, a informação e autonomia das mães para o acompanhamento e escolha do parto, a não adoção de procedimentos desrespeitosos ou irrelevantes aos momentos do parto, entre outros. 3. Resposta: C A coleta de sangue realizada no teste do pezinho é suficiente para analisar a existência das doenças citadas. 4. Resposta: D Vistos de forma isolada, os cuidados dispensados pela irmã adolescente não necessariamente indicam uma situação de risco. Todos os demais fornecem sugestões de questões associadas a riscos em diferentes momentos do desenvolvimento de Robson. 38/138 Gabarito 5. Resposta: D Teratogênicos são agentes ambientais ou substanciais que podem afetar negativamente o desenvolvimento do feto. Alguns exemplos mais comuns são as drogas, a nicotina, o álcool e a radiação. 39/138 Unidade 2 Marcos da Primeira Infância Objetivos O crescimento da criança amplia suas capacidades, comportamentos, atributos e oportunidades. Os primeiros anos de vida da criança fornecem importantes alicerces para seu desenvolvimento posterior. Nesta aula, serão apresentados conceitos de relevância para esta etapa do desenvolvimento das crianças, como os relativos à sua alimentação, estimulação, vínculos afetivos e primeiros aprendizados, bem como as conexões desses fatores com os progressos obtidos nos âmbitos de desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial. Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância40/138 Introdução Muitas são as discussões sobre a etapa cronológica correspondente ao período humano da primeira infância. Segundo Aguiar, Nascimento e Baker (2007, p. 3): “(...) no Brasil, a primeira infância é geralmente definida como o período até os seis anos de idade. Porém, a Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU) [...] propõe que a Primeira Infância seja caracterizada como o período abaixo dos oito anos, para que sejam abrangidas todas as crianças até o período de transição da pré-escola.” Outros pesquisadores atuais da Psicologia do Desenvolvimento, inclusive os autores de manuais populares da área, tais como Papalia, Olds e Feldman (2006), definem a primeira infância como o período do nascimento até os três anos de idade, possivelmente pela relação dessa primeira etapa da vida com um desenvolvimento mais basal para as posteriores evoluções e aprendizagens humanas. Com fins de organização do material para este curso, esta será a definição de “primeira infância” adotada. Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância41/138 Seidl-de-Moura e Ribas (2012, p. 32) apontam que “são características únicas da infância humana: o longo período gestacional e a maturação lenta”, tanto no período pré-natal quanto posteriormente. O cérebro precisa continuar crescendo e se desenvolvendo até consolidar-se. Assim, “a gestação continua externamente, e um ambiente de cuidados é necessário” (SEIDL-DE-MOURA; RIBAS, 2012, p. 32). Complementando esta ideia, Aguiar, Nascimento e Baker (2007) declaram que, durante os primeiros 12 meses de idade, as crianças necessitam de cuidados, proteção, afeto e estimulação; até os primeiros três anos de vida seus marcos seriam o desenvolvimento motor, cognitivo e de autocontrole; dos três aos seis anos existe o aprimoramento da coordenação motora fina, desenvolvimento da sociabilidade e das funções de leitura e escrita, estabelecendo assim seu potencial intelectual. Assim, colocando as discussões de fases do desenvolvimento e idade cronológica à margem, o que parece certo é a importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento físico, cognitivo e socioemocional de todos os seres humanos. 1. Desenvolvimento Físico Inicial 1.1 O Neonato O período correspondente às quatro Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância42/138 primeiras semanas de vida do bebê é chamado de neonatal (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Estes são os primeiros momentos de contato do bebê com o meio externo e relacionam-se a novas mudanças no desenvolvimento do bebê nos campos biológico, cognitivo e socioemocional. Segundo Papalia, Olds e Feldman (2006), as experiências da criança nesses primeiros meses de vida são de extrema relevância, pois existem indícios científicos de que elas podem “moldar” o cérebro, uma vez que nesse período o córtex cerebral está crescendo e se organizando mais rapidamente. Este fenômeno é chamado de plasticidade. Muitos bebês nascem pesando em média 3,400 kg e medindo cerca de 50 centímetros. No Brasil, compreende-se que bebês que nascem com peso inferior a 2,500 kg são característicos de baixo peso, demandando cuidados pré-natais específicos. Do período pós-natal até os Para saber mais Córtex cerebral é a “Parte exterior do cérebro envolvida nos movimentos corporais voluntários, na percepção e nas funções intelectuais superiores, tais como aprendizagem, pensamento e fala.” (SHAFFER, 2005, p. 633). Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância43/138 dois primeiros anos de idade, a velocidade do crescimento é elevada, declinando- se lentamente entre dois e cinco anos de idade e tornando-se constante (em média, cinco a seis centímetros ao ano) até o estirão da puberdade (BRASIL, 2002). Papalia, Olds e Feldman (2006) apontam que logo nos primeiros dias os recém- nascidos perdem mais ou menos 10% do seu peso natal e passam a recuperá- lo entre o quinto e o 14º dia de vida. Do nascimento aos cinco meses, o peso de um bebê dobra e, no primeiro ano, pode triplicar em relação ao peso natal (SHAFFER, 2005). Logo após o nascimento, a lanugem (pelos pré-natais) e a camada protetora de vérnix (ou verniz) caseosa se desprendem (PAPALIA;OLDS; FELDMAN, 2006). Essa camada tem a função de proteger o bebê de macerações ainda dentro do útero e, após o parto, contribuiria para a regulação térmica do neonato. Ao nascer, a cabeça do neonato corresponde a cerca de um quarto do comprimento do corpo, e os ossos cranianos passam por um processo de modelamento temporário. Dessa forma, a cartilagem do nariz e as fontanelas (moleiras) começam a se fechar no primeiro mês de vida (SHAFFER, 2005), podendo demorar até cerca de 18 meses para completar esse processo. Os sistemas orgânicos circulatório, respiratório, gastrintestinal, termorregulador e nervoso central tendem a evoluir continuamente, pois já são independentes dos maternos Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância44/138 (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). 1.2 Comportamentos Reflexos Segundo Papalia, Olds e Feldman (2006), os comportamentos reflexos são controlados pelos mesmos atributos cerebrais responsáveis por processos involuntários como a respiração e a frequência cardíaca. Alguns surgem ainda na gestação, outros aparecem nos primeiros meses pós-natais. Os primeiros comportamentos reflexos possuem uma importante função na estimulação do desenvolvimento do sistema nervoso central e muscular logo no início da vida. Por exemplo: os reflexos adaptativos, como o de sucção e o de Moro, relacionam-se aos instintos de sobrevivência e proteção. Os reflexos posturais costumam aparecer quando os centros cerebrais já se tornam ativos, manifestando posturas de equilíbrio e reações a modificações na posição. Os reflexos locomotores, como os de marcha e natação, assemelham-se a comportamentos voluntários posteriores de andar e nadar (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Ademais, as capacidades motoras de tipo reflexo, além de trazerem indícios sobre a integridade física do bebê, também intermediam seus cuidados e sua relação materna, pois estão envolvidas em processos como os do toque, da amamentação, da estimulação (BRASIL, 2002). Os reflexos primitivos normalmente Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância45/138 desaparecem em torno do primeiro ano de vida. “As respostas a estímulos evoluem dos reflexos generalizados, que envolvem todo o corpo, para ações voluntárias determinadas pelo córtex” (BRASIL, 2002, p. 83). Esse desaparecimento indica que o córtex cerebral está amadurecendo e se desenvolvendo normalmente, permitindo uma mudança do comportamento reflexo para o voluntário. Os reflexos podem ser divididos em três grupos, sintetizados na Tabela 2.1. Tabela 2.1 — Reflexos humanos. Grupo Reflexo Idade média em que desaparecem Manifestações que desaparecem com a evolução, reaparecendo em condições patológicas. Tônico cervical, reflexo de retificação corporal. Um a dois meses. Moro (reações com a cabeça, corpo e membros em respostas a estampidos ou sustos). Quatro a seis meses. Babinski (retorção das plantas dos pés do bebê quando tocadas). Pode estar presente normalmente até os 18 meses. Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância46/138 Reflexos que com a evolução tornam-se atividades voluntárias. Preensão palmar (Darwiniano). Quatro meses. Sucção. Nove meses. Marcha. Quatro meses. Natação. Quatro meses. Manifestações que persistem por toda a vida. Piscar, bocejar, tossir, ânsia de vômito, espirrar e reflexo pupilar (têm função protetora). Não desaparecem. Reflexos cutâneos abdominais. Fonte: baseada nos escritos de Papalia, Olds e Feldman (2006) e no documento da Secretaria de Saúde brasileira (BRASIL, 2002). 1.3 Habilidades Sensoriais Iniciais De acordo com Bee (2011), algumas capacidades sensoriais estão presentes desde antes do nascimento, ainda que rudimentarmente, enquanto outras seriam desenvolvidas logo após esse marco. Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância47/138 O tato é o sistema sensório mais maduro nos primeiros meses de vida. Com 32 semanas de gestação, todo o corpo é sensível ao toque e esta sensibilidade tende a aumentar nos cinco primeiros dias após o nascimento (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Já a visão, embora presente desde o nascimento, inclusive associada à capacidade de reconhecer cores, só será aprimorada em termos de acuidade visual após alguns meses de vida (BEE, 2011). Sobre a capacidade olfativa e a distinção de odores, Seidl-de-Moura e Ribas (2012) discutem que bebês com cerca de três dias de vida já reconhecem as mães com base no cheiro delas. A gustação aponta a preferência inicial das crianças por sabores adocicados e a rejeição por alimentos com gosto ruim (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Quando se oferece água com ou sem açúcar para um bebê, percebe-se que eles sugam os líquidos de formas diferentes, discriminando os sabores (Seidl-de-Moura; Ribas, 2012). A audição começa no quinto mês de gestação, indicando a capacidade do reconhecimento de vozes. A literatura científica evidencia que bebês com menos de três dias são capazes de reconhecer a voz materna, sendo a sensibilidade às diferenças auditivas um possível primeiro indicador de habilidades cognitivas (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Devido à sensibilidade do bebê aos sons internos e externos ao corpo da mãe na gestação, Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância48/138 autores afirmam que o bebê possivelmente já nasce habituado a alguns sons, como por exemplo, mães que residem próximas a aeroportos, cujos bebês não estranham os barulhos dos aviões ao nascer (Seidl-de- Moura; Ribas, 2012). As mesmas autoras apresentam também argumentações que apontam a preferência do bebê pela fala humana em comparação a outros sons. 1.4 Sono O padrão de sono de cada bebê é diferente. Quando recém-nascidos, podem dormir cerca de 16 horas diárias a princípio, ficando um pouco mais despertos por volta dos três meses. Após o primeiro ano de idade, mais da metade do seu sono pode ocorrer à noite (BEE, 2011). Ao se tornarem mais despertas, as crianças se desenvolvem de acordo com seus próprios padrões individuais, suscitando reações nos adultos que gerarão novas respostas nas crianças. Dessa maneira, as rotinas de sono e vigília poderão ser adaptadas de acordo com as rotinas da vida cotidiana dos pais ou cuidadores. 1.5 Nutrição Até os seis meses, aproximadamente, o leite materno deve ser alimento exclusivo do bebê. A UNICEF argumenta que o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida pode evitar, anualmente, 1,3 milhão de mortes de crianças menores Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância49/138 de cinco anos. Os bebês até os seis meses não precisam nem mesmo de água. Após esta idade e até os dois anos de idade, recomenda-se que a amamentação seja mantida (BRASIL, 2007). Porém, é possível que sejam inseridos novos alimentos na sua rotina, como papinhas de legumes e frutas. Há indicadores de que a amamentação exclusiva pode contribuir para um melhor desenvolvimento de dentição e maxilar; bem como proteger contra diarreias, alergias, infecções respiratórias e otite. Além disso, bebês que se alimentam apenas de leite materno nos primeiros meses de vida podem apresentar melhor acuidade visual e desenvolvimento neurológico. A amamentação é instrumento poderoso para o fortalecimento do vínculo emocional entre mãe e bebê (BRASIL, 2007). A UNICEF (BRASIL, 2007) aponta ainda que alguns outros benefícios podem ser obtidos pelas nutrizes, tais como o favorecimento da regeneração do tamanho do útero ao normal. Algumas mães não podem Link A UNICEF <www.unicef.org.br> tem bons materiais informativos, bem como cartilhas sobre aspectos importantes do desenvolvimento infantil. Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância50/138amamentar os filhos temporariamente, como as que se encontram com doenças infecciosas ou lesões mamárias, ou definitivamente, como as que possuem doenças graves ou debilitantes, usuárias de álcool ou drogas (tóxicas ou medicamentosas), mulheres infectadas pela AIDS (PORTUGAL, 2008). Outras podem necessitar de avaliação médica para amamentar, como as mulheres que utilizam certos medicamentos, e em alguns casos, portadoras de implantes de silicone ou mulheres que passaram por algum tratamento ou cirurgia plástica mamária. Em outros casos, o bebê pode estar muito doente (por exemplo, crianças com fenilcetonúria ou galactosemia) (PORTUGAL, 2008), sendo possível em algumas situações que se retire o leite materno com acessórios específicos (bombas de ordenha) para que o bebê se alimente. Para saber mais Galactosemia é uma doença metabólica que se caracteriza por dificuldades de conversão da galactose, um componente encontrado no leite, em glicose. 2. Desenvolvimento Cognitivo Fazem parte do Desenvolvimento Cognitivo dos indivíduos as questões relativas ao desenvolvimento dos comportamentos inteligentes: a memória, a linguagem e Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância51/138 a comunicação, ao aprendizado de leis e lógica, aos números, padrões e formas, aos potenciais e habilidades, o processamento das habilidades sensoriais. Para ser considerado inteligente, o comportamento deve ser orientado para a meta, isto é, consciente e não acidental, e adaptativo em relação às circunstâncias (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). São três as teorias mais tradicionais responsáveis pela grande parte de estudos sobre desenvolvimento cognitivo: abordagem behaviorista (aprendizagem), psicométrica (inteligência quantitativa) e piagetiana (ou sociocognitiva) (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Para a abordagem behaviorista, os comportamentos mudam em resposta à experiência. A maturação neurológica, sensória e motora é indispensável para esse processo, o qual Papalia, Olds e Feldman (2006) conceituam como mecânica da aprendizagem, bem como o ambiente e a estimulação recebidas pelas crianças. Para esta abordagem de inteligência, existem dois conceitos importantes, o condicionamento clássico e o condicionamento operante (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). A abordagem psicométrica está relacionada ao estudo da inteligência e outros processos cognitivos, como constructos que podem ser acessíveis por meio de instrumentos de medida. A inteligência seria um traço ou um conjunto deles, nos quais os indivíduos se Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância52/138 diferenciam (SHAFFER, 2005). Um exemplo são as avaliações de inteligência humana, como as comparações de faixas etárias (quociente de inteligência – QI), análises do processamento de informações envolvido nos processos inteligentes e diferentes tipos de talentos e inteligências (SHAFFER, 2005). A abordagem piagetiana, proposta por Jean Piaget (1896-1980), interessou- se particularmente por estudar como as crianças estruturavam seus processos de pensamento. Piaget argumentava que as crianças são agentes ativos no processo de desenvolvimento e gradualmente construíam esquemas cognitivos, padrões mentais ou físicos que estão constantemente mudando à medida que interagem com o mundo (RODRIGUES; SILVA; PARIZ; TRICHES, 2003). Entre outros teóricos do desenvolvimento humano, também remonta Piaget a divisão do desenvolvimento por estágios. Os estágios seriam um conjunto estruturado em equilíbrio, invariantes e universais, influenciado por aprendizados prévios e fornecendo preparação para os próximos. Os estágios são divididos e denominados em períodos de idade, quais sejam: Sensório-motor (zero a dois anos), Pré-operatório (dois a sete anos), Operações Concretas (sete a 12 anos) e Operações Formais (a partir dos 12 anos) (RODRIGUES; SILVA; PARIZ; TRICHES, 2003). Especificamente quanto ao período sensório-motor, o mais contemplado Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância53/138 em termos de anos da primeira infância, os autores relatam que esta etapa se caracterizaria pela inteligência prática, não lógica e as ações reflexas. Os bebês aprendem sobre si mesmos e seus mundos por meio do desenvolvimento de sua própria aprendizagem de sentidos (sensório) e movimento (motor). Assim, de bebês respondentes a reflexos tornam-se crianças orientadas a metas. Piaget propôs que a constituição dos estágios do desenvolvimento humano se dividiria em diferentes momentos: Adaptação (ajustamento a novas realidades e informações), Assimilação (incorporação de informações a uma estrutura cognitiva já disponível), Acomodação (mudanças em uma estrutura cognitiva para incluir novas informações) e Equilibração (tentativa de equilibrar os elementos cognitivos em suas características interiores e exteriores) (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Outro autor que contribuiu para os avanços dos estudos na área do desenvolvimento cognitivo foi Lev Vygotsky. Algumas de suas principais contribuições dizem respeito ao contexto sociocultural e histórico que definiria e modelaria as crianças e suas experiências (RODRIGUES; SILVA; PARIZ; TRICHES, 2003). A relação entre homem e mundo externo é mediada por sistemas simbólicos de linguagem, sistemas numéricos e escrita, os quais só fazem sentido dentro do contexto social, histórico e cultural local. Segundo Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância54/138 os autores, Vygostsky estimulou o interesse dos pesquisadores por práticas culturais específicas, sendo que pesquisas posteriores baseadas em sua obra revelaram o papel de diferenças culturais no desenvolvimento infantil. Faz-se importante este tipo de consideração, visto que algumas das críticas à obra de Piaget abordam a limitação de suas pesquisas como realizadas predominantemente em seu país, a Suíça. Também foi parte da abordagem teórica de Vygostsky o desenvolvimento de crianças com deficiências, constituindo parte de um tópico deste teórico denominado defectologia. Outra contribuição de Vygostsky está relacionada à educação das crianças e refere-se aos conceitos de Zona de Desenvolvimento Potencial, Zona de Desenvolvimento Real e Zona de Desenvolvimento Proximal. A Zona de Desenvolvimento Potencial é constituída por atividades ou conhecimentos que a criança ainda não domina, mas que se espera que possa saber ou realizar, independentemente da sua cultura. A Zona de Desenvolvimento Real, por sua vez, caracteriza-se pelos conceitos e atividades que a criança já é capaz de dominar, mesmo sem auxílio. A Zona de Desenvolvimento Proximal é a intermediária entre as outras duas áreas, constituindo a distância entre as ideias e atividades que a criança já domina sozinha e aquelas que podem se desenvolver com Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância55/138 a ajuda de alguém – o adulto mediador, que pode ser um professor, pai ou cuidador (RODRIGUES; SILVA; PARIZ; TRICHES, 2003). 2.1 Linguagem Os sons iniciais emitidos pelos bebês já são bases para sua oralização – é a fala pré-linguística. Uma característica da fala pré-linguística é sua relação com a idade cronológica dos indivíduos, isto é, ela acontece exclusivamente nos primeiros meses de vida da criança, precedendo o surgimento das primeiras palavras. Os neonatos já conseguem distinguir os sons da fala e, posteriormente, agregar gestos para sua comunicação. Aos seis meses, já aprenderam os sons básicos da sua língua e, entre nove e dez meses, começam a compreender a fala e seu significado. Entre 16 e 24 meses, muitos saltos qualitativos de linguagem vão acontecendo (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). O desenvolvimento da falaé entornado por teorias clássicas e antagônicas de desenvolvimento de linguagem, as quais ressaltam ora o inatismo deste atributo cognitivo como próprio à constituição humana, ora sustentam o desenvolvimento da linguagem como aprendido. Atualmente, sustenta-se uma teoria socioconstrutivista, que recebe influências da genética, temperamento e interação social (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância56/138 2.2 Memória Se não existisse, pelo menos em curto prazo, os bebês possivelmente não seriam capazes de aprender. A literatura (BEE, 2011) aponta que os bebês realmente se lembram de objetos e situações, mas suas memórias seriam altamente específicas. Todas as lembranças precoces do bebê estariam relacionadas especificamente à experiência original (BEE, 2011). Bebês de dois a seis meses são capazes de se lembrar de situações ligadas ao prazer (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Alguns especialistas discutem que o processamento da memória, entre outras informações, se torna melhor em correlação positiva à idade, incluindo o aumento de estratégias de memorização (BEE, 2011). 3. Desenvolvimento Psicossocial Embora os bebês compartilhem muitos padrões comuns de desenvolvimento, desde o início eles demonstram também personalidades distintas, as quais refletem influências inatas e ambientais (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). A partir do nascimento, os autores afirmam que o desenvolvimento da personalidade estaria interligado com os relacionamentos sociais significativos vivenciados pelas crianças. As origens da personalidade foram descritas primeiramente por três abordagens teóricas: biológica, Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância57/138 psicanalítica e de aprendizagem. A abordagem biológica retrata que as crianças já nascem com traços de temperamento que determinam padrões de reação, os quais se adaptam às interações das crianças ao mundo e afetam as respostas de outras pessoas à criança. Os teóricos psicanalíticos propõem a existência de processos inconscientes que motivam as ações, bem como a evolução da personalidade em estágios e a importância das relações com adultos significativos. Os teóricos da aprendizagem apoiam o papel de processos básicos de aprendizagem, tais como padrões de reforçamento, na modelagem de padrões de comportamentos desde a infância, bem como os estilos de interações interpessoais e com o ambiente (BEE, 2011). 3.1 Emoções Emoções são reações sentimentais básicas em todos os seres humanos que motivam os comportamentos. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2006, p. 265), “o desenvolvimento e a expressão de diferentes emoções parecem estar atrelados à maturação cerebral e ao desenvolvimento cognitivo”. Os primeiros indicadores emocionais na vida dos seres humanos parecem ser chorar, sorrir e rir, sendo inseridas gradualmente ao repertório da criança expressões faciais, atividades motoras, linguagem corporal e mudanças fisiológicas associadas à Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância58/138 expressão das emoções (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). A literatura (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006) divide os tipos de emoção em dois grupos: básicas (ou primárias) e complexas (ou secundárias e de autoconsciência). Alguns exemplos de emoções básicas são a alegria, zanga, surpresa, medo, tristeza e reserva. São determinadas pela maturação biológica e meio ambiente. Embora sejam básicas, a forma como são expressas é afetada por cada cultura. Por sua vez, as emoções de autoconsciência (vergonha, culpa, empatia, embaraço, orgulho e ciúme, por exemplo) seriam desenvolvidas após o segundo ano de vida, pois é a partir desta idade que a criança já poderia se compreender diferente do outro nas suas interações (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). A autorregulação emocional e a socialização das emoções iniciam-se precocemente, à medida que os pais modelam as emoções de seus bebês. Contudo, esta habilidade se desenvolverá gradualmente, relacionando-se também com as regras emocionais impostas pelo contexto cultural em que a criança se desenvolve (SHAFFER, 2005). Segundo o autor, pouco a pouco os bebês se tornam cada vez mais capazes de reconhecer as emoções alheias durante o primeiro ano de vida, habilidade que progride em relação às suas referências sociais, suas interações familiares e seu desenvolvimento cognitivo. Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância59/138 3.2 Apego e Relações com o Outro Embora ainda existam discussões, parece não haver um momento crítico para formação dos laços entre mãe e bebê (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Contudo, os bebês têm necessidades de cuidado e afeto e a satisfação destes tende a contribuir para o estabelecimento de vínculos emocionais com pais ou seus cuidadores. De acordo com Seidl-de- Moura e Ribas (2012), o apego é um tipo de vínculo emocional em que os sentimentos de segurança e conforto são fundamentais, portanto, bebês apegados a outras pessoas com as quais mantêm laços emocionais se sentiriam confortáveis perto dessas pessoas. Nesse sentido, sinais de emoções como o choro, o sorriso, a fala, os toques e carícias, o olhar, são expressões que promovem a proximidade entre o bebê e sua mãe, pais ou cuidador (SEIDL-DE- MOURA; RIBAS, 2012). Segundo Papalia, Olds e Feldman (2006), o contato com os irmãos e outras crianças tende a afetar o desenvolvimento cognitivo e psicossocial dos bebês, principalmente após o primeiro ano de vida. Os autores discutem ainda que o contato da criança com os irmãos afeta as ações parentais, provocando novas ações, ao mesmo tempo em que a forma que os pais se posicionam com relação aos filhos afetaria o relacionamento entre os irmãos. Shaffer (2005) aponta que crianças abusadas Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância60/138 ou privadas socialmente tendem a ser mais retraídas, apáticas, possivelmente apresentando mais dificuldades intelectuais, bem como problemas de comportamento e de desenvolvimento de apego. O autor alega que estes problemas parecem se referir mais especificamente à falta de estimulação social do que à ausência de uma figura materna, sendo que em alguns casos de adversidades ou provações prolongadas ou graves podem ser necessárias intervenções mais específicas para auxiliar o indivíduo em seu desenvolvimento. Questão reflexão ? para 61/138 Juquinha é um menino de dois anos. Olhando o álbum de fotografias do parto, a mãe do garoto comenta para sua amiga o quanto Juquinha já se desenvolveu e aprendeu desde o seu nascimento. Ele já anda com certa firmeza, tenta comer sozinho, fala diversas palavras, canta, brinca sozinho e com colegas, manipula objetos e reconhece pessoas. De acordo com o que foi estudado, como se explicaria a diversidade de aprendizado de Juquinha nestes dois primeiros anos de sua vida? 62/138 Considerações Finais » A primeira infância possui marcos em termos de desenvolvimento físico, cognitivo e socioemocional. » Quanto ao desenvolvimento físico, aponta-se a evolução da criança já fora do útero materno: o surto de crescimento, o desenvolvimento psicomotor, a mudança gradual de alimentação, o desenvolvimento de habilidades sensoriais e reflexas, e a consolidação de padrões de sono e vigília. » Quanto ao desenvolvimento cognitivo, referem-se às questões relativas ao desenvolvimento dos comportamentos inteligentes: a memória, a linguagem e a comunicação, ao aprendizado de leis e lógica; aos números, padrões e formas; aos potenciais e habilidades, o processamento das habilidades sensoriais. Destacam-se aqui as contribuições de dois teóricos: Piaget e Vygotsky. » Em relação ao desenvolvimento socioemocional, esta etapa da vidaé o importante início do aprendizado de estilos de apego, de personalidade, de interações com pares e pessoas significativas e da expressão e da modulação das emoções. Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância63/138 Referências Aguiar, G.A.; Nascimento, M.; Baker, G. Breve panorama sobre a primeira infância no Brasil. Rio de Janeiro: Promundo, 2007. BEE, H.; A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da Criança: Acompanhamento do Crescimento e do Desenvolvimento Infantil. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Promovendo o Aleitamento Materno. Brasília: UNICEF, 2007. Papalia, D. E.; Olds, S. W.; Feldman, R. D. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artmed, 2006. PORTUGAL. Manual de Aleitamento Materno. Lisboa: Comitê português para a UNICEF/Comissão Nacional, 2008. RODRIGUES, A. S.; SILVA, A. T. R.; PARIZ, J. D. B.; TRICHES, N. Teorias da Aprendizagem. Curitiba: IESDE Brasil, 2003. SEIDL-DE-MOURA, M. L; RIBAS, A. F. P. Bebês recém-nascidos: Ciência para conhecer e afeto para cuidar. Curitiba: Juruá, 2012. Unidade 2 • Marcos da Primeira Infância64/138 Referências SHAFFER, D. Psicologia do Desenvolvimento: Infância e Adolescência. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. 65/138 Aula 2 - Tema: Desenvolvimento do Cérebro - Bloco I Disponível em: <//fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/ embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/7e- d574e4931607d8ab1099b969bc5daf>. Aula 2 - Tema: Desenvolvimento Físico Inicial - Bloco II Disponível em: <//fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/ embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/c2afe- 42fb28c241cbf4001d472bc3305>. Assista a suas aulas 66/138 Aula 2 - Tema: Desenvolvimento Cognitivo - Bloco III Disponível em: <//fast.player.liquidplatform.com/pA- piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 08960f2aa951b273185786bbcd8eb2c4>. Aula 2 - Tema: Desenvolvimento Psicossocial - Bloco IV Disponível em: <//fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/ embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/b022d- 04cfe561c6a601a58f5f92b6ca2>. Assista a suas aulas 67/138 1. Diz-se que as experiências dos primeiros meses de vida humana são mui- to importantes, pois existem indícios científicos de que estas podem “mol- dar” o cérebro, uma vez que neste período o córtex cerebral está crescen- do e se organizando mais rapidamente. Este fenômeno é denominado: Questão 1 a) Mudança. b) Plasticidade. c) Modelagem. d) Modelação. e) Formação. 68/138 2. Alguns reflexos estão presentes nos primeiros meses do neonato, desa- parecendo até mesmo antes do primeiro ano de idade e tornando-se ativi- dades voluntárias posteriormente. Dentre os exemplos, assinale o reflexo que não tende a reaparecer, salvo em condições patológicas: Questão 2 a) Preensão palmar. b) Sucção. c) Tônico Cervical. d) Marcha. e) Natação. 69/138 3. Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas a seguir: Entre outros teóricos do desenvolvimento humano, também se refere a ________ a divisão do desenvolvimento por ________. Os _______ se- riam um conjunto estruturado em equilíbrio, _____________, universais, influenciado por _____________ e fornecendo preparação para os próxi- mos. Questão 3 a) Piaget, reflexos, reflexos, variantes, aprendizados prévios. b) Piaget, estágios, estágios, invariantes, aprendizados prévios. c) Vygotsky, símbolos, símbolos, socioculturais, aprendizados prévios. d) Vygotsky, estágios, estágios, variantes, cultura. e) Bee, momentos críticos, momentos críticos, socioculturais, aprendizados prévios. 70/138 4. As origens da personalidade foram descritas primeiramente por três abordagens teóricas, que são: Questão 4 a) Patológica, psicológica, psicanalítica. b) Real, proximal e potencial. c) Genética, fisiológica, psicológica. d) Ecológica, etológica, biológica. e) Biológica, aprendizagem, psicanalítica. 71/138 5. Por que as teorias afirmam que as emoções de autoconsciência só serão desenvolvidas com mais intensidade no segundo ano de vida da criança? Questão 5 a) Porque é nesta época que a criança já conseguiria se compreender diferente do outro na relação. b) Porque o desenvolvimento físico só permite o desenvolvimento dessas emoções nesta etapa. c) Pois as emoções de autoconsciência são desenvolvidas antes das básicas. d) Pois nesta idade a linguagem se desenvolve significativamente, inclusive aumentando a numerosidade de palavras que uma criança pode emitir. e) Porque nesta idade o período sensório-motor já está superado, possibilitando o início do pensamento simbólico (autoconsciência) nas crianças. 72/138 Gabarito 1. Resposta: B O fenômeno característico dos primeiros meses de vida das crianças, ligado aos atributos de adaptação cerebral, é denominado “plasticidade”. 2. Resposta: C Com exceção do reflexo tônico-cervical (retificação corporal), todos os demais evoluem para comportamentos voluntários. 3. Resposta: B A noção dos estágios enquanto estruturas equilibradas, universais, básicas para o desenvolvimento de novos comportamentos, se refere a um conceito piagetiano. 4. Resposta: E As teorias se referem à herança genética de traços de personalidade (temperamento), biológica, às influências do ambiente e da aprendizagem, e das relações com pais e pessoas significativas durante a infância pela função simbólica – psicanálise. 5. Resposta: A A literatura indica que as emoções básicas são desenvolvidas antes das de autoconsciência, as quais estariam presentes no segundo ano de vida da criança, etapa quando o bebê já 73/138 conseguiria se diferenciar do outro nas relações. 74/138 Unidade 3 Marcos da Segunda Infância Objetivos Se a primeira infância é caracterizada pela formação básica dos indivíduos, quais são os progressos esperados durante os anos em que ainda se é considerado criança, mas não se teve acesso à puberdade, à passagem para a idade adulta? Esta aula visa fornecer algumas informações que esclareçam sobre os ganhos físicos, cognitivos e psicossociais na segunda infância e como o desenvolvimento nesses âmbitos se articula com o contexto de desenvolvimento dos indivíduos. Nota-se a ampliação das evoluções sociais e simbólicas das crianças, e as associações destes progressos a situações como as de jogos e brincadeiras infantis. Unidade 3 • Marcos da Segunda Infância75/138 Introdução Segundo Papalia, Olds e Feldman (2006),compreende-se por segunda infância (ou infância, ou período pré-escolar) a etapa aproximada de desenvolvimento que se inicia aos três anos de idade e perdura até os sete anos. Nessa época, os corpos das crianças “tornam-se mais delgados, suas capacidades motoras e mentais mais aguçadas e suas personalidades e relacionamentos mais complexos” (p. 260). Essas capacidades mais aprimoradas alicerçam marcos comuns a muitas crianças nessa etapa da vida, relacionados à inserção definitiva da criança na instituição escolar, aos novos aprendizados, como a alfabetização, e à ampliação de sua rede social, que agora inclui cada vez mais pessoas externas à família. Palacios, Cubero, Luque e Mora (2004) afirmam que, embora em termos físicos essa etapa seja menos notável do que a posterior puberdade,é um momento de extrema relevância sob o ponto de vista do desenvolvimento psicomotor, visto que as transformações no campo das ações e representações simbólicas é muito significativa. 1. Desenvolvimento Físico Bee (2011) ressalta a importância de se conhecer o desenvolvimento físico da criança, pois as Unidade 3 • Marcos da SegundaInfância76/138 mudanças físicas apoiam o desenvolvimento de novos comportamentos, bem como afetam as experiências vividas pela criança, as respostas das outras pessoas e seu autoconceito (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Após os dois anos de idade, o crescimento tende a ser regular até a puberdade, quando normalmente ocorre o estirão do desenvolvimento e também o pronunciamento da diferenciação sexual das crianças, com posterior maturação reprodutiva. O desenvolvimento físico da criança engloba a evolução da mesma em ossos, músculos, gordura, sistema nervoso central, hormônios, possibilitando a emergência de várias habilidades motoras, muitas das quais já estão presentes desde os seis anos de idade (BEE, 2011). A estrutura corporal interna está amadurecendo e os dentes de leite já estão presentes (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Os ossos aumentam em quantidade, e gradualmente endurecerão, o tecido muscular torna- se mais denso e extenso em fibras, especialmente nos meninos, e as células adiposas são depositadas mais rapidamente nas meninas (BEE, 2011). Quanto ao peso, embora o apetite costume diminuir nesta etapa da vida,são comuns os relatos de questões ligadas à obesidade (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Bee (2011) afirma ainda que os hormônios, embora influenciem o desenvolvimento de forma mais particular na puberdade, estão presentes no crescimento durante todo o período anterior a esta etapa. As mudanças puberais iniciam-se em média aos oito anos de idade nas meninas Unidade 3 • Marcos da Segunda Infância77/138 e podem começar um pouco mais tarde nos meninos, encerrando-se por volta dos 16 anos de idade (BEE, 2011). Contudo, as discussões consultadas ressaltam que embora a maturação seja um processo importante do desenvolvimento físico dos seres humanos, não explica sozinha os padrões que são observados neste processo, pois o ambiente, a hereditariedade, os fatores pré-natais, a alimentação, enfim, todo o contexto de vida da criança afetará seu padrão de desenvolvimento (BEE, 2011). Outras mudanças biológicas comuns às crianças na primeira infância estão relacionadas ao sono. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2006), embora não seja possível falar em padrões de sono, seja em qualquer época da vida, sem pensar em expectativas culturais para estes padrões, parece comum que as crianças na segunda infância adiem os horários para dormir e apeguem-se a certos objetos e rituais para conciliar o sono. A enurese noturna também é comum nessa época e nem sempre demanda intervenções específicas para sua resolução (PAPALIA, OLDS e FELDMAN, 2006). Quanto aos principais riscos à saúde das crianças em idade escolar, Papalia, Olds e Feldman (2006) argumentam que as taxas de mortalidade têm diminuído nos países industrializados devido às campanhas de imunização ocorrentes. Os autores ainda apontam a ocorrência comum de doenças menos graves, como os resfriados, como sendo importantes para a construção da imunidade das crianças. Contudo, fatores ambientais, tais como a exposição a Unidade 3 • Marcos da Segunda Infância78/138 estresse, falta de moradia e saneamento, de alimentação adequada, a miséria e o fumo são relatados como os principais elementos causadores de riscos de doenças ou danos às crianças. No Brasil, a principal causa de mortalidade e incidentes infantis na atualidade são os acidentes, tanto os de trânsito como os de afogamento, sufocação, queimaduras, quedas, intoxicação e armas de fogo (BRASIL, 2010). Os altos índices têm mobilizado diversas campanhas, capacitações e formação de organizações não governamentais, buscando conscientizar toda a sociedade sobre as formas de prevenir esses acidentes, pois muitos acontecem na residência da criança. 2. Desenvolvimento Cognitivo De acordo com a perspectiva teórica de Piaget, a segunda infância corresponderia em sua maior parte ao estágio pré- operatório de desenvolvimento, o qual estaria presente na idade entre dois e sete anos, aproximadamente. Nesta etapa, a criança ainda seria egocêntrica, pois ainda não conseguiria colocar-se no lugar do outro e enxergaria o mundo de acordo com seu próprio ponto de vista (RODRIGUES; SILVA; PARIZ; TRICHES, 2003), de acordo com o princípio de centração. Os experimentos desenvolvidos por Piaget com as crianças nesta idade estão relacionados à teoria da conservação de massas (número, quantidade, Unidade 3 • Marcos da Segunda Infância79/138 comprimento, massa, peso, volume), ao animismo (categorização de coisas vivas e não vivas), e às dificuldades de as crianças pensarem em reversão de acontecimentos (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Rodrigues, Silva, Pariz e Triches (2003) relatam que as situações de brincadeira continuam presentes durante a segunda infância, sendo que teóricos como Vygotsky e Piaget atribuíram grande importância a atividades de jogar e brincar como contributivas de desenvolvimento cognitivo, psicossocial e aprendizado nesta etapa. Refere-se que durante a segunda infância a criança estaria vivenciando uma relação com a brincadeira caracterizada como brincar sociodramático (Rodrigues; Silva; Pariz; Triches, 2003). De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2006), surgem nesta etapa as primeiras evidências da brincadeira simbólica, refletidas no faz de conta, na simulação e imaginação de pessoas, coisas e situações. Crianças incorporam situações cotidianas, como a imitação de pessoas com quem elas têm relações, bem como as fantasiosas, como a personificação dos super-heróis. Essas últimas, Papalia, Olds e Feldman (2006) discutem estarem associadas a influências como as da televisão, por exemplo. Os autores relatam também que nesta época as brincadeiras infantis se modificam, tornando-se mais interativas e cooperativas, envolvendo colegas nas situações de brincar, antes individuais, e oferecendo mais oportunidades de Unidade 3 • Marcos da Segunda Infância80/138 exercícios de habilidades interpessoais, linguísticas, bem como a exploração de papéis como os de gênero e convenções sociais (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). 2.1 Teoria da Mente Outro atributo apontado pela literatura como normativo nas crianças de cerca de quatro anos de idade é o processo de compreensão de sistemas de pensamento próprios da criança e sua capacidade de distinguir aparência e realidade (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Ademais, elas já possuem capacidades de entender os enganos, bem como a impossibilidade de predizer os pensamentos e atitudes do outro apenas pela observação, desenvolvendo uma teoria da mente. Este marco desenvolvimental seria mais semelhante aos conceitos adultos sobre o funcionamento mental e seria alcançado e estimulado por meio do faz de conta e das conversas sobre os estados mentais de adultos e irmãos, além de poder contribuir na percepção da criança sobre si mesma de forma pública e privativa (SHAFFER, 2005). 2.2 Linguagem As primeiras palavras normalmente estão ligadas a um contexto específico, como por exemplo, objetos que despertam interesse nas crianças (SHAFFER, 2005). Durante a segunda infância, as crianças conseguem gradualmente ampliar o significado das Unidade 3 • Marcos da Segunda Infância81/138 parte importante do desenvolvimento das habilidades de linguagem da criança (SHAFFER, 2005). Por sua vez, a fala privada é um evento normal na segunda infância e que costuma desaparecer em média aos 10 anos de idade (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). As pesquisas sobre linguagem também podem auxiliar no entendimento do desenvolvimento da leitura. Tudo indica que os atributos envolvidos em um processo são importantes no outro (BEE, 2011). Além disso, ainda estão sendo discutidas as possíveis causas de atrasos na linguagem, os quais podem ter sérias
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