Buscar

Apostila-Luciana-Gonçalves

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
MINICURSO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL 
PARA ASSISTENTES SOCIAIS E GRADUANDOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Instrumentalidade, estratégias e táticas 
no âmbito do SUAS 
 
Luciana Gonçalves Pereira de Paula 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cuiabá 
2015 
 
2 
 
A Descentralização de Políticas Públicas no Brasil e o Sistema Único de 
Assistência Social 
 
A Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, fincou 
um novo marco na formulação e implementação das políticas públicas, haja 
vista que conferiu autonomia político-administrativa aos municípios. Estes 
passaram a ser entes da federação e ter capacidade e autonomia em formular 
e implementar políticas. Esta situação trouxe consigo o desafio da coordenação 
intergovernamental na gestão pública. A descentralização está inserida no 
contexto da redemocratização, sendo um processo, sobretudo político, e não 
meramente técnico-administrativo. 
Uma das soluções propostas para enfrentar o desafio da coordenação, 
provindas desta centralização, é a criação de sistemas nacionais de políticas, 
tal como foi o caso do SUS, Sistema Único de Saúde, que reúne os três entes 
da federação – União, estados e municípios – no financiamento e gestão do 
sistema, evitando assim possíveis sobreposições no oferecimento de políticas. 
Outras políticas setoriais estão aderindo ao modelo de sistemas, como é o 
caso da política de Assistência com a criação, em 2005, do SUAS – Sistema 
Único de Assistência Social . 
O Sistema Único de Assistência Social é um desenho de política 
nacional formulado para garantir que os direitos sociais previstos pela 
Constituição sejam garantidos. Este sistema é resultado de quase vinte anos 
de debates e operacionaliza elementos postos na Carta Magna de 1988, 
integrando definitivamente a Assistência Social, como pilar, juntamente com 
saúde e previdência social, da seguridade social. O SUAS consolida a visão de 
que a Assistência Social é um direito que deve ser efetivado por meio de 
políticas públicas e não uma ação voluntarista do Estado para com os pobres. 
Ponto de extrema relevância considerando a problemática da pobreza, herança 
histórica que perpassa a construção social do Brasil. 
As ações e serviços de Assistência Social são divididos em duas 
categorias de atenção ao cidadão: Proteção Social Básica e Proteção Social 
Especial de Média e Alta Complexidade. Este modelo foi elaborado e definido 
em 2004, na Política Nacional de Assistência Social, que organiza programas, 
serviços, projetos e benefícios sócio-assistenciais de acordo com a 
complexidade do atendimento. 
3 
 
 Proteção social básica: ações de caráter preventivo, tendo por objetivo o 
fortalecimento dos laços familiares e comunitários. 
 Proteção social especial de média complexidade: ações destinadas a 
situações nas quais os direitos do indivíduo e da família já foram 
violados, mas ainda há vinculo familiar e comunitário. 
 Proteção social especial de alta complexidade: atende casos em que os 
direitos do indivíduo ou da família já foram violados, e também quando o 
vínculo familiar é rompido. É garantida proteção integral – moradia, 
alimentação, trabalho – para quem está em situação de ameaça, 
necessitando deixar o núcleo familiar ou comunitário. 
 
 
 O Serviço Social e o Sistema Único de Assistência Social: desafios ao 
trabalho profissional 
 
Passada mais de uma década de avanços e retrocessos na política de 
assistência social, em um contexto de‚ contra reforma do Estado — onde as 
relações estabelecidas pelas políticas econômicas de recorte teórico neoliberal 
buscaram a privatização das políticas sociais públicas —, o Brasil constitui um 
dos poucos países da América Latina que possui uma Política Nacional de 
Assistência Social (PNAS), subsidiada pela Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988, pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), 
de 1993. Consubstancialmente, possui uma Norma Operacional Básica do 
Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS), de 2005, que se constitui 
por uma gestão amparada por Planos e Fundos de Assistência Social. 
Na NOB-RH/SUAS, estão previstas as equipes de referência que são 
constituídas por servidores efetivos responsáveis pela organização e pela 
oferta de serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e 
especial, levando-se, em consideração, o número de famílias e indivíduos 
referenciados, o tipo de atendimento e as aquisições que devem ser garantidas 
aos usuários. 
A Norma prevê a participação de profissionais, que são distribuídos 
segundo o porte dos municípios. A composição da equipe de referência dos 
Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), no âmbito da Proteção 
4 
 
Social Básica nos municípios, a partir do porte, se conforma da seguinte 
maneira: 
 Pequeno Porte I - dois técnicos de nível superior (um profissional 
assistente social e outro, preferencialmente, psicólogo); 
 Pequeno Porte II - três técnicos de nível superior (dois profissionais 
assistentes sociais e, preferencialmente, um psicólogo); 
 Médio, Grande Porte Metrópole e DF - quatro técnicos de nível superior 
(dois profissionais assistentes sociais; um psicólogo; e um profissional 
que componha o SUAS). 
Em âmbito de Proteção Social Especial, a equipe de referência para a 
prestação de serviços e de execução das ações, no âmbito da Proteção Social 
Especial de Média e Alta Complexidade, alocada nos Centros de Referência 
Especializados (CREAS), nos municípios em Gestão Inicial e Básica - um 
assistente social; municípios em Gestão Plena e Estados com Serviços 
Regionais - dois. 
Portanto, abre-se um espaço profissional importante para os 
Assistentes Sociais que devem estar atentos para que seus trabalhos possam 
incidir na mudança da cultura tuteladora, tão tradicional na área, e criem 
condições objetivas para que esses trabalhos traduzam, não só os princípios 
éticos enunciados na NOB/RH/SUAS, como também os que informam a 
formação profissional. 
Está previsto na NOB-RH, que a Assistência Social deve ofertar seus 
serviços com o conhecimento e compromisso ético e político de profissionais 
que operam técnicas e procedimentos impulsionadores das potencialidades e 
da emancipação de seus usuários. Esse enunciado apresenta-se em 
convergência com o projeto ético-político da profissão, e as competências a 
serem efetivadas nesse espaço sócio-ocupacional, devem reafirmá-los. É 
preciso lembrar que princípios éticos das profissões são considerados ao se 
elaborarem, implantarem e implementarem padrões, rotinas e protocolos 
específicos, para normatizar e regulamentar a atuação profissional. 
Implica em compreender o desafio de desvendar as formas de vida das 
populações usuárias, identificando a desigualdade como fenômeno constitutivo 
dessa sociedade, assim como suas formas de resistência a tudo que os 
aniquila, para construir um trabalho na perspectiva da garantia de uma vida 
5 
 
digna, pautada no reconhecimento de seu protagonismo na construção de uma 
sociedade mais justa. 
 
O Exercício Profissional do Assistente Social 
 
 
 O Serviço Social se constitui em uma profissão eminentemente 
interventiva e a prática profissional é condição essencial para que o 
Serviço Social seja reconhecido enquanto profissão e para que ocupe 
um lugar na divisão social e técnica do trabalho. 
 É por meio do desvelamento das relações sociais que se pode 
desvendar o Serviço Social enquanto atividade socialmente necessária 
que possui efeitos na vida social, ao mesmo tempo em que sofre suas 
influências. Assim, a prática profissional é mediatizada pela correlação 
de forças entre as classessociais, estabelecendo limites e 
possibilidades onde pode se mover o assistente social. 
 Essa intervenção profissional do assistente social, enquanto uma prática 
socialmente útil que contribui no processo de reprodução social, se 
constitui a partir de três dimensões fundamentais: teórico-metodológica 
– a justificativa que responde ao “por que fazer” –; ético-política – a 
finalidade que se refere ao “para que fazer” –; técnico-operativa – 
operacionalidade que remete-se ao “como fazer”. Estas dimensões se 
articulam e constituem uma unidade que se expressa no momento da 
intervenção profissional. 
 Quando o assistente social desempenha qualquer ação profissional, 
estão presentes, neste ato, as suas referências teóricas e 
metodológicas; os seus valores éticos e a sua concepção política; e todo 
o aparato técnico-operativo necessário à realização de tal intervenção. 
Não há como separar estes três componentes porque eles encontram-se 
absolutamente interligados. No processo de efetivação técnico-operativa 
da intervenção profissional estão automaticamente embutidas as 
referências, os valores e os objetivos do assistente social – tenha o 
profissional consciência ou não desse processo. 
 
A dimensão técnico-operativa no exercício profissional 
 
 O debate sobre a dimensão técnico-operativa da intervenção profissional 
do assistente social, muitas vezes desprezado por causa de estigmas 
praticistas, acaba relegado a um segundo plano no processo de 
formação dos assistentes sociais. Segundo Santos (2007: 82), “(...) a 
questão relativa ao ensino dos instrumentos e técnicas ainda se 
expressa muito mais pelo ‘receio’ de ser ‘tecnicista’ do que pela ousadia 
6 
 
de criar alternativas/experiências explícitas e detalhadas para enfrentar 
o desafio de ensinar o ‘como fazer’ sem ser ‘tecnicista’”. 
Década de 1980 
 Amadurecimento teórico-metodológico. 
 Um marco deste debate foi a produção teórica de Marilda Villela 
Iamamoto e Raul de Carvalho – Relações Sociais e Serviço Social no 
Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica – publicada 
em 1982. 
 Muitos autores, dentro da literatura especializada, contribuíram com este 
debate, publicando elaborações teóricas cujo amadurecimento se 
mostra capaz de desvendar elementos extremamente ricos para a 
compreensão do Serviço Social. 
Década de 1990 
 Amadurecimento ético-político. 
 Até a década de 1990 a ética permaneceu implícita no debate. Apenas 
entre os anos de 1992 e 1993 a questão ética se apresenta como um 
tema emergente no debate realizado pela categoria profissional. 
 Deste modo, o debate sobre a dimensão ético-política da profissão 
ampliou-se no decorrer da década de 1990, expressando-se nos marcos 
do novo Código de Ética Profissional – 1993 –, na Lei de 
Regulamentação da Profissão – 1993 – e nas Diretrizes Curriculares – 
1996. 
Década de 2000 
 Amadurecimento técnico-operativo. 
 Verificamos, nos últimos, anos um aumento na publicação de reflexões 
acerca da dimensão técnico-operativa do Serviço Social, mas ainda é 
pouca a produção de conhecimento sobre esse tema dentro de uma 
perspectiva histórica, crítica e dialética, tendo como referencial teórico-
metodológico o pensamento marxista. 
 Faz-se necessário destacar que, o aumento da produção de 
conhecimento sobre a dimensão técnico-operativa do Serviço Social, 
tem se realizado com mais intensidade na abordagem da temática dos 
instrumentos e técnicas profissionais do assistente social. Não são todos 
os elementos constitutivos dessa dimensão que vem sendo devidamente 
estudados pela categoria profissional. Com isso, estamos afirmando que 
a dimensão técnico-operativa possui como seus elementos os 
instrumentos e as técnicas que o assistente social utiliza no momento de 
sua intervenção profissional. Mas, essa dimensão não se restringe a 
esses dois elementos, ela engloba uma série de outros componentes 
que demandam conhecimento específico. 
7 
 
 O instrumental não diz nada por si próprio, podendo apenas ser 
compreendido como um “aparato em movimento, como o caminho que 
cruza a dinâmica das relações entre o que se tem e aonde se quer 
chegar”. Desse modo, a dimensão técnico-operativa só se realiza em 
articulação com as demais, acionando a dimensão teórico-metodológica, 
no momento da análise da situação real para o desvelamento das 
demandas e a sua compreensão, e a dimensão ético-política, no 
posicionamento do profissional frente às suas escolhas no processo da 
sua intervenção. 
 
AÇÕES PROFISSIONAIS: 
 
 As ações profissionais teriam uma abrangência maior e expressariam o 
fazer profissional: atender, orientar, encaminhar, avaliar, estudar, 
planejar e outras ações previstas como competências e atribuições na 
legislação profissional, que é desenvolvido em um serviço prestado pela 
instituição que pode ter variadas formas (como o plantão, por exemplo). 
 Dessa forma, compõem as ações profissionais as atribuições que 
viabilizam as respostas dos profissionais às requisições colocadas pelas 
demandas institucionais, como parte da prestação de serviços sociais. 
Tais ações materializam o caráter interventivo do Serviço Social, sendo 
direcionadas pelas escolhas teórico-metodológicas e ético-políticas dos 
profissionais. 
 A realização das ações profissionais do assistente social envolve, ainda, 
a escolha do tipo de abordagem. Nesse sentido, as possibilidades de 
abordagens são essencialmente individuais, grupais e coletivas. 
Percebemos, assim, que o exercício profissional do assistente social se 
constrói a partir das conformações que vão moldando a sua própria ação 
no momento da intervenção profissional. 
 É para o desenvolvimento das ações profissionais que o assistente 
social lança mão dos instrumentos, escolhendo o que melhor lhe cabe 
na ação a ser realizada. 
 
OS INSTRUMENTOS: 
 
 Os instrumentos são, dessa forma, os meios que preenchem a ação 
profissional do assistente social. São elementos que contribuem na 
passagem do objetivo profissional – a finalidade ideal – para a 
materialização da ação – a concretização do real. 
 Os instrumentos utilizados pelos assistentes sociais cumprem um papel 
de ferramenta, de mediação para “a concretização das ações 
profissionais e estão presentes na execução das habilidades chamadas 
aqui de procedimentos”. Todos os instrumentos técnico-operativos, no 
campo do Serviço Social, são perpassados pela linguagem, seja ela 
escrita ou falada. 
 O instrumento é considerado um elemento potencializador da ação; ele 
consiste no conjunto de recursos ou meios que permitem a 
operacionalização da ação profissional. Os instrumentos são elementos 
necessários à atuação técnica, através dos quais os assistentes sociais 
podem efetivamente objetivar suas finalidades. 
8 
 
 Os instrumentos não são elementos estáticos imutáveis, ao contrário 
são passíveis de serem criados e recriados pelos profissionais que deles 
se utilizam. Existe um conjunto de instrumentos e técnicas histórica e 
tradicionalmente utilizados pelo Serviço Social, o que não significa negar 
a existência de outros ainda não captados ou que não venham a ser 
criados no desenvolvimento do exercício profissional. 
 Os instrumentos são meios pelos quais podem se efetivar escolhas 
profissionais. E, se os instrumentos são, por natureza, neutros, as 
escolhas dos assistentes sociais não são. Os instrumentos são 
elementos imprescindíveis à ação dos profissionais e não são em si 
conservadores, progressistas ou revolucionários, mas, comportam, 
traduzem diferentes e até antagônicos vieses do pensamento e projetos 
profissionais. 
 Portanto, os instrumentos não carregam em si uma tendência própria a 
serem críticos ou conservadores. Quem imprime essa tendência ao 
instrumento é a ação profissional, pois essa sim serásempre dotada de 
determinada concepção teórico-metodológica e de escolhas ético-
políticas. Com base nisso, o processo de escolha dos instrumentos não 
é neutro. 
 
AS TÉCNICAS: 
 
 O assistente social para realizar seu trabalho e para que sua ação seja 
efetiva, faz uso de um conjunto articulado de instrumentos e técnicas. 
Os instrumentos são compreendidos como mediadores e 
potencializadores do trabalho, enquanto as técnicas são as habilidades 
para o “trato” dos instrumentos. As técnicas, assim, irão se aprimorar a 
partir da utilização dos instrumentos e das finalidades que se pretende 
alcançar. 
 A técnica está associada à habilidade no uso do instrumento; é como 
uma qualidade atribuída aos instrumentos. Os instrumentos não podem 
ser tomados isoladamente, eles encontram-se sempre articulados à 
técnica – o conhecimento que permite o seu manuseio. Eles são 
elementos relacionais: o instrumento está sempre relacionado à técnica 
e vice-versa. 
 A técnica é um conhecimento empírico, elaborado, desenvolvido pela 
capacidade humana como prolongamento de sua racionalidade para 
realizar coisas. Por isso, a técnica não é neutra, ela comporta em si 
mesma uma intencionalidade, pois ela é a manifestação de um 
determinado saber e nenhum saber é neutro. 
 O conhecimento técnico é sempre produzido a partir de determinado 
processo sócio-histórico que imprime a ele uma direção. Toda técnica é 
formulada a partir de determinada concepção de mundo e expressa 
intenção sociais. Dessa forma, a técnica não encontra-se isenta das 
escolhas políticas, ao contrário, ao escolhermos uma técnica já estamos 
exercitando uma certa concepção política. 
 A compreensão de técnica é o que vai indicar o tipo de abordagem que 
se faz dela, uma vez que ela permite uma pauta de intervenção: pensar 
um ‘como?’ a partir de um ‘para que?’, articulando-o com um ‘quando?’ e 
com um ‘onde?’. Desse modo, a técnica não pode ser compreendida 
9 
 
como uma forma pré-estabelecidas de atuação, ou um modelo 
regulatório a ser seguido, indicando previamente uma determinada 
forma de agir. 
 A um mesmo instrumento podem se associar diferentes técnicas, ou 
seja, um mesmo instrumento pode ser utilizado de diferentes formas. 
Tomando a entrevista como um instrumento de trabalho do assistente 
social, ela pode ser realizada de forma aberta, fechada, semi-
estruturada etc. A entrevista – bem como qualquer instrumento – pode 
ser usada por meio de diferentes técnicas. 
 O conhecimento técnico é um componente importante do arsenal de 
saberes que o profissional deve acumular em seu constante processo de 
formação. Para poder escolher, inclusive, qual a técnica que melhor se 
adequa a cada situação. No entanto, apenas o conhecimento da técnica 
não garante ao assistente social a realização de procedimentos 
qualificados que expressem competência profissional. Ao conhecimento 
técnico, necessariamente devem se somar outros tipos de saberes – 
essencialmente, o teórico-metodológico e o ético-político. 
 
O Debate das Estratégias e Táticas no Serviço Social 
ESTRATÉGIA 
Segundo o dicionário da língua portuguesa, a palavra estratégia possui o 
seguinte significado: arte de planejar operações de guerra; arte de combinar a 
ação das forças militares, políticas, morais, econômicas, implicadas na 
condução de uma guerra ou na preparação da defesa de um Estado; arte de 
dirigir um conjunto de disposições. 
TÁTICA 
Revisitando o dicionário em busca do significado da palavra tática 
encontramos: arte de combinar a ação de tropas, ou os recursos característicos 
das diferentes armas, a fim de obter o máximo de eficácia no combate; 
conjunto de meios ou recursos empregados para alcançar um resultado 
favorável. 
CONCEITOS ORIGINALMENTE MILITARES 
 Nesse campo, a tática refere-se à coordenação das forças armadas nos 
momentos de batalha e a estratégia à coordenação das batalhas no 
processo da guerra. 
 A guerra é apresentada como um fenômeno autônomo, muitas vezes, 
desvinculado do contexto histórico que a produz. Entretanto, todos os 
fenômenos sociais produzidos ao longo da história da humanidade são 
inegavelmente históricos. Portanto, cada guerra é uma guerra porque 
cada guerra pertence a uma determinada época distinta de uma 
sociedade específica. 
 Nesse campo, a tática é concebida enquanto forma planejada de 
utilização das forças armadas no momento do combate bélico. É, 
10 
 
portanto, a tentativa de ordenar e dirigir cada um dos inúmeros choques 
que podem ocorrer no decorrer de uma guerra. A estratégia, por sua 
vez, diz respeito ao planejamento de todo o processo de combate bélico, 
ou seja, é a tentativa de coordenar todos os choques bélicos que 
venham a acontecer em função de uma guerra. 
NA TRADIÇÃO MARXISTA 
 A noção que predomina no senso comum é a de que as estratégias 
visam objetivos mais distantes e as táticas os mais imediatos. Nesse 
caso, a diferença entre a estratégia e a tática seria uma questão de 
distância, ou de tempo. E poderíamos, ainda, concluir que o acúmulo de 
táticas bem sucedidas encontra-se automaticamente vinculado a uma 
estratégia vitoriosa. 
 No campo da tradição marxista, táticas e estratégias só se constroem a 
partir de determinados objetivos e devem permanecer a eles vinculados. 
Esses objetivos, dentro de uma sociedade classista, estarão sempre 
articulados aos interesses de determinadas classes sociais. 
 Sendo, portanto, as estratégias os caminhos construídos na tentativa de 
alcançar determinados objetivos classistas, as táticas constituem os 
procedimentos cotidianos capazes de nos aproximar desses objetivos. 
Deste modo, compreendendo as táticas como “métodos diários” que 
intencionam modificar ou manter determinadas situações ou 
conjunturas, podemos perceber que elas devem estar sempre em 
acordo com os objetivos e as estratégias. 
 Outra questão importante é perceber que sendo as táticas construções 
cotidianas, absolutamente vinculadas a determinadas situações muito 
específicas, objetivos e estratégias similares podem exigir a elaboração 
de táticas diferenciadas. Portanto, embora as estratégias possam ser 
pensadas de maneira mais ampla, englobando diferentes realidades, as 
táticas não podem ser automaticamente transplantadas de uma situação 
para outra. Elas precisam ser elaboradas em total sintonia com a 
realidade onde vão se desenvolver. 
 Por isso, os autores do campo marxista nos ajudam a pensar sobre 
estratégias e táticas, pois o que eles nos oferecem são leituras e 
interpretações acerca da realidade que vivenciaram. Eles elaboram um 
conjunto de operações táticas e direcionamentos estratégicos 
relacionadas ao seu contexto histórico e, assim, nos ensinam que não 
podemos pensar em estratégias e táticas como manuais previamente 
elaborados, pois é a conjuntura que vai indicar as estratégias e táticas 
cabíveis àquela momento. 
ELEMENTOS FUNDAMENTAIS 
1) Construção do objetivo; 
2) Análise da realidade; 
3) Conhecimento teórico. 
11 
 
 
A CONSTRUÇÃO DO OBJETIVO 
 Nesse sentido, o primeiro elemento que destacamos refere-se a 
necessária articulação entre tática e estratégia com uma finalidade 
previamente definida que podemos chamar de objetivo. Com isso, 
estamos afirmando que toda estratégia e toda tática devem ser 
elaboradas a partir de um objetivo claramente estabelecido. Portanto, a 
formulação do objetivo que se quer alcançar precede a construção das 
estratégias e das táticas, pois é ele que vai informar a direção a ser 
seguida e orientar a própria condução das ações. 
 A delimitação de um objetivo é necessariamente um processo que 
envolve escolhas éticas e políticas perpassadas por interesses 
divergentes que, em nossa sociedade capitalista, configuram-se 
enquanto interesses de classe. Assim, objetivos estabelecidos, sejamprofissionais, administrativos, partidários, entre outros, definidos nesse 
modelo de sociabilidade, possuem necessariamente um caráter ídeo-
político que vai incidir no próprio processo de elaboração das táticas e 
das estratégias. 
A ANÁLISE DA REALIDADE 
 Um segundo elemento fundamental à elaboração de estratégias e 
táticas é a análise objetiva da realidade. Ou seja, identificar as 
condições reais – os limites, as dificuldades, as possibilidades, as 
potencialidades de determinada realidade – onde serão desenvolvidas 
as ações. Pois as condições reais e objetivas do contexto em questão 
irão incidir no processo. 
 A análise das condições reais pode revelar o momento mais propício 
para se avançar e a necessidade de se recuar. Pode, até mesmo, nos 
revelar as estratégias e as táticas do “inimigo”, uma vez que permite o 
desvelamento das correlações de forças. No entanto, um estudo da 
realidade capaz de detectar todos esses elementos e auxiliar 
efetivamente na construção das táticas e das estratégias necessita de 
suporte teórico-metodológico. 
O CONHECIMENTO TEÓRICO 
 Entra em cena, nesse momento, um terceiro elemento crucial para a 
construção das táticas e das estratégias: o conhecimento teórico. O 
estudo, a preparação, a apreensão de conteúdos teóricos, a 
investigação da história, podem, e muito, auxiliar na realização de uma 
boa análise da realidade e, consequentemente, na construção de táticas 
e estratégias mais eficientes. 
 Desse modo, partindo-se de um determinado conhecimento teórico, as 
táticas e as estratégias precisam ser elaboradas – em articulação com o 
objetivo definido e com base na análise da realidade posta – de maneira 
específica, a partir das determinadas realidades particulares. Pois cada 
12 
 
situação é singular e exige a formulação de estratégias e táticas que 
sejam exclusivamente pensadas para ela. 
Mas, enfim, o que poderíamos chamar de estratégia? De que forma se 
constituem as táticas? E de que maneira esses elementos se articulam? 
A estratégia é a responsável pela elaboração de um plano. Deve ser 
aquela que, guiada por um objetivo maior, determina uma série de ações 
táticas no intuito de alcançar objetivo. Nesse sentido, a estratégia seria a 
maneira de combinar os diferentes passos táticos com a finalidade de 
alcançar o objetivo. 
 As estratégias, portanto, tendo articulação com um objetivo final 
claramente definido, podem nos auxiliar na construção de ações 
cotidianas que venham possibilitar a condução de um processo que 
intencione atingir esse objetivo final. A construção dessas ações 
cotidianas, por sua vez, podemos chamar de formulação tática. Portanto, 
a tática faz a mediação entre as estratégias elaboradas e o nosso 
cotidiano, tornando possível a construção de ações que venham efetivar, 
senão completamente, pelo menos em parte as estratégias formuladas 
na intenção de se atingir o objetivo final. 
 As táticas e as estratégias são mediações que podem permitir uma 
maior aproximação com o objetivo intencionado, onde táticas são as 
ações imediatas estruturadas em articulação com um plano mais global, 
que configura-se na estratégia. No entanto, nem mesmo a formulação 
de estratégias e táticas em completo alinhamento com um objetivo pré-
estabelecido garantem a realização desse objetivo. O que elas podem 
fazer é melhor direcionar nossas ações rumo ao alcance do objetivo 
final. Mas elas não asseguram, de modo algum, a conquista de tal 
objetivo. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
COUTO, B. R. O Serviço Social e o Sistema Único de Assistência Social 
(SUAS): desafios éticos ao trabalho profissional. Disponível em: 
http://periodicos.ufes.br/argumentum/article/view/15/17. Acesso em: 
05/05/2015. 
FORTI, V; GUERRA, Y. Serviço Social: temas, textos e contextos. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2010. 
GUERRA, Y. A dimensão técnico-operativa do exercício profissional. In: 
SANTOS, C. M.; BACKX, S.; GUERRA, Y. (org). A dimensão técnico-operativa 
no Serviço Social: desafios contemporâneos. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2012. 
______. As dimensões da prática profissional e a possibilidade de reconstrução 
crítica das demandas contemporâneas. Revista Libertas. Juiz de Fora: Editora 
UFJF, 2002. 
13 
 
IAMAMOTO, M. V. O debate contemporâneo do Serviço Social e a ética 
profissional. In: BONETTI, D. A. (org). Serviço Social e Ética: convite a uma 
nova práxis. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2001a. 
PAULA, L. G. P. de. Dimensão ídeo-política da intervenção profissional do 
assistente social: o debate teórico sobre sua conformação. Dissertação de 
Mestrado. Faculdade de Serviço Social/UFJF, 2009. 
__________. Um debate sobre estratégias e táticas – problematizações no 
campo do Serviço Social. Tese de Doutorado. Escola de Serviço Social/UFRJ, 
2014. 
SANTOS, C. M. Na prática a teoria é outra? Mitos e dilemas na relação entre 
teoria, prática, instrumentos e técnicas no Serviço Social. Rio de Janeiro: 
Lumen Juris, 2010. 
SANTOS, J. S. Neoconservadorismo pós-moderno e Serviço Social brasileiro. 
Coleção questões da nossa época. São Paulo: Cortez, 2007. 
SILVEIRA, H. R.; COSTA, R. E.; OLIVEIRA, V. S. A Descentralização de 
Políticas Públicas no Brasil e o Sistema Único de Assistência Social. Disponível 
em: http://www.cchla.ufrn.br/cnpp/pgs/anais/Artigos. Acesso em: 05/05/2015.

Continue navegando