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Análise da evolução do sistema eleitoral brasileiro e seus princípios constitucionais O processo histórico de ampliação dos direitos políticos no Brasil ocorreu de maneira bem gradual. Ele teve início quando, em 1822, houve a proclamação da independência do Brasil. Em 1824, o Imperador D. Pedro I outorgou a Constituição que daria início ao sistema eleitoral. No entanto, essa Constituição excluía a maioria da população brasileira, pois não era permitida a participação de mulheres, escravos, índios, homens menores de 25 anos, e, além disso, foi instituído o voto censitário. A República Velha, período entre 1889 e 1930, trouxe algumas alterações dos direitos políticos dos cidadãos. Os eleitores deveriam ser maiores de 21 anos, mas não havia mais necessidade de comprovação de renda. Foram excluídos mendigos, mulheres, dentre outras mudanças. Com a Revolução de 1930, novas mudanças aconteceram. Nos governos passados, a administração das eleições era confiada às pessoas mais importantes e próximas aos chefes políticos. Mas, em 1932, foi criado o Código Eleitoral, que, além de reduzir a idade de votar para 18 anos, tornou o alistamento obrigatório, possibilitou que as mulheres passassem votar, também instituiu o voto secreto e criou a Justiça Eleitoral. Esta seria composta pelo Tribunal Superior Eleitoral e Tribunais Regionais Eleitorais. Com isso, houve a centralização do processo eleitoral nesses órgãos do governo. O Estado Novo (1937-1945) com Getúlio Vargas, iniciava um governo ditatorial, que extinguiu os partidos políticos, as eleições democráticas e todas as formas de participação democrática. Com a queda de Getúlio, os direitos políticos foram restaurados e poucas mudanças foram instituídas. No entanto, mais uma vez, os direitos conquistados foram suprimidos, com o advento do golpe de 1964. Em 1964, os militares assumiram o poder. O controle político do governo foi ocupado por generais que, através de Atos Institucionais, restringiram as instituições democráticas, provocando o limite e a abolição da participação política. A economia brasileira esteve imersa numa grave crise econômica no período em que foi governada pelos militares. A sociedade, totalmente insatisfeita com a situação, foi às ruas pedindo melhorias. Um dos clamores do povo se referia ao desejo de se ter eleições diretas para Presidente da República. A partir daí era iminente o fim da ditadura e o Brasil passava por um processo de redemocratização. Com o fim do regime militar e, posteriormente, com o advento da Constituição Federal de 1988, foram definitivamente conquistados os direitos políticos que atualmente vigoram no país. Os princípios constitucionais do direito eleitoral O princípio da proporcionalidade ou razoabilidade Cabe a análise da adequação e necessidade do meio escolhido para a resolução de algum problema. Se este atinge sua finalidade e se é o mais suave e suficiente para proteger a norma constitucional. Analisa-se as vantagens e desvantagens que a medida trará e se o beneficio alcançado com a adoção da medida sacrificar direitos fundamentais mais importantes que os que a medida buscou preservar, trata-se de uma ação inconstitucional. Estado democrático de direito A democracia cujo nascimento é creditado a Atenas traduz a ideia de que as diretrizes políticas do Estado estão sob o comando da população, que influencia desde a edição da legislação até tomada das decisões, havendo, portanto um elo entre os órgãos de poder e a sociedade. Entretanto, é imperioso observar outras características importantes da democracia, entre elas o respeito aos direitos fundamentais do povo. Direitos esses que na seara eleitoral garante aos cidadãos um processo eletivo e representação justos, transparentes e dignos. Soberania Popular Manifesta-se no Artigo 1º da CF/88: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Manifesta-se no Artigo 2º do Codigo Eleitoral brasileiro: Art. 2º Todo poder emana do povo e será exercido em seu nome, por mandatários escolhidos, direta e secretamente, dentre candidatos indicados por partidos políticos nacionais, ressalvada a eleição indireta nos casos previstos na Constituição e leis específicas Será exercida de acordo com o artigo 14º: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. [...] Rebublicano O princípio republicano é considerado um princípio constitucional fundamental, uma vez estar expresso no artigo 1º da Carta Magna de 1988 representando a forma de governo adotada no país: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos [...] Federativo Declarada a independência do Brasil, a Constituição de 1824 tratou de eleger a forma de Estado unitário, dando continuidade no império ao poder centralizado da elite vigente desde a época colonial. O Brasil apenas conheceu a forma de Federação quando da proclamação da República em 15 de novembro de 1889. A constituição de 1988 então vem consagrar o princípio Federativo em seu artigo primeiro, afirmando a forma de Estado escolhida pelo país. O Estado Federal caracteriza-se pela descentralização política do poder que se apresenta repartido entre diferentes entes (União, estados, municípios e Distrito Federal) que possuem personalidades jurídicas próprias. A natureza da descentralização corroborava com outros institutos que buscavam a reorganização democrática de um Estado em transição. Assim, mesmo em completa integração de natureza indissolúvel, cada ente possui autonomia para criar suas leis, administrar seus interesses e tomar decisões políticas, sempre dentro da competência que a Carta Maior lhe atribui. A concepção do princípio federativo é de tamanha pertinência que o constituinte concedeu natureza imutável, considerando a forma de Estado cláusula pétrea, conforme vemos no art. 60 da CF: § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. [...] Legitimidade A legitimidade significa, na acepção mais larga, uma garantia contra a arbitrariedade e a desordem no governo, uma vez que busca assegurar a validade e a coerência no processo eleitoral. Em algumas doutrinas, é conhecido por “princípio do impedimento de falseamento da vontade popular”. O próprio voto enquanto direto, secreto e universal, tem como escopo asseverar a legitimidade da eleição enquanto escolha livre e consciente. Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. §1º O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a)os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. §2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. §3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: I - a nacionalidade brasileira; II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; Regulamento VI - a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d) dezoito anos para Vereador. §4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. §5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente. §6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. §7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. §8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. §9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. §10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. §11. A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé. Moralidade O princípio da moralidade, assim como o da legitimidade, já mencionado, e o da probidade estão normatizados no parágrafo 9º do art. 14 da Constituição Federal: §9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. Proibidade O princípio da probidade, assim como o da boa-fé, está relacionado com a convivência em sociedade, uma vez estar na própria essência da coexistência humana. Assim, nada mais justo que o referido princípio seja bastante considerado nos estudos do Direito Eleitoral, sendo este, um direito social e coletivo por excelência. Nessa medida, cabe destacar que as eleições representam um dos pilares da democracia, um instrumento de cidadania e um direito fundamental do cidadão, portanto é de extrema importância que este, na hora de votar, esteja consciente das razões do seu voto e do candidato que deseja eleger. A probidade do candidato consiste na sua honradez, na sua conduta consistente, nas ações éticas, no sentimento de respeito com o povo. Estando o presente princípio em consonância com os princípios da moralidade e da legalidade, também se apresenta expressamente na Carta Maior no artigo 14, §9°, bem como nos artigos 15, inciso V, e 37, § 4°: Art. 15 É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: [...] V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4°. Art. 37 [...] §4° Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. [...] Igualdade ou isonomia O princípio da igualdade ou isonomia é um dos pilares do regime democrático e está consagrado na Constituição Federal no caput¬ do artigo 5° quando afirma que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Por sua vez, o art. XXI, item 1, da Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece que: Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.